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FACULDADE FAHESP I IESVAP @KATIELLEMASC I MEDICINA 5°P OBJETIVOS REVISAR A FUNÇÃO HORMONAL DA GLÂNDULA ADRENAL As glândulas suprarrenais são divididas em duas partes: medula adrenal e córtex adrenal, elas funcionam de maneira independente secretando hormônios distintos e se localizam nos polos superiores dos rins. As glândulas suprarrenais também podem ser chamadas de adrenais. O córtex adrenal é subdividido em 3 zonas, cada uma com características anatômicas específicas. A zona glomerulosa, mais externa, secreta um hormônio mineralocorticóide conhecido como aldosterona. A zona fasciculada vem logo a seguir e produz o glicocorticóide cortisol e, por fim A zona reticular que produz os hormônios sexuais ou esteróides androgênicos. A medula adrenal é a região central da glândula e secreta os hormônios chamados de catecolaminas. Os mineralocorticoides regulam o balanço dos eletrólitos no organismo, sendo a aldosterona o principal hormônio responsável pela reabsorção dos eletrólitos nos rins. A aldosterona é um mineralocorticoide, o excesso deste hormônio poderá provocar retenção de eletrólitos e água, como consequência ocorrerá o aumento da pressão sanguínea e inchaço. O cortisol ou hidrocortisona é o principal hormônio endógeno que afeta o metabolismo dos carboidratos e das proteínas, este hormônio é da classe dos glicocorticoides. Os glicocorticoides, em geral, possuem atividades anti- inflamatória e imunossupressora, e, é em função destas ações, que são mais comumente utilizados em terapêutica. Córtex adrenal O córtex adrenal é de origem mesodérmica e subdividido em três zonas concêntricas conforme a disposição e aspecto de suas células. Os hormônios do córtex adrenal são sintetizados a partir do mesmo precursor, o colesterol. São compostos esteroides que têm ação sobre o metabolismo de proteínas, glicídios, lipídios e minerais. Mineralocorticoides - Zona glomerulosa A zona glomerulosa é a mais externa, estreita e imediatamente abaixo da cápsula, composta por células cubóides e colunares, com núcleo denso e citoplasma escasso com poucos lipídios, dispostas em agrupamentos aciformes de ninhos compactos. Esta seção sintetiza os mineralocorticoides: a aldosterona e desoxicorticosterona. A aldosterona (Figura 5) é o principal, agindo na regulação da homeostase dos eletrólitos no líquido extracelular, principalmente sódio (Na) e potássio (K). Exerce o seu efeito nos túbulos contorcidos distais e ducto coletor do néfron. A produção da aldosterona encontra-se sob o controle dos níveis séricos de renina, angiotensina e K. No caso do ACTH, somente níveis elevados do mesmo induzem liberação de aldosterona. Glicocorticoides – Zona fasciculada A zona fasciculada é uma camada espessa composta por cordões radiais de espongiócitos, que são células poliédricas de citoplasma claro com delicados vacúolos contendo lipídios (colesterol e ésteres de colesterol). É responsável pela produção dos glicocorticoides. O principal glicocorticoide é o cortisol. A síntese dos glicocorticoides é estimulada pelo ACTH (hormônio adrenocorticotrópico) hipofisário, que se encontra regulado pelo CRH hipotalâmico, estando relacionados por retroalimentação negativa com Síndrome de Cushing S4P1 FACULDADE FAHESP I IESVAP @KATIELLEMASC I MEDICINA 5°P glicocorticoides. Os primeiros 23 dos 39 aminoácidos que compõe o ACTH são essenciais e têm a mesma sequência em todos os mamíferos, enquanto os outros 16 variam conforme a espécie. A duração de horas-luz, ciclo de alimentação, horas de sono e o estresse determinam o ritmo circadiano que envolve a liberação do CRH. Em geral a produção de glicocorticoides é maior pela manhã e menor à tarde e à noite, elevando-se novamente durante o sono. Ocorre a ativação dos centros hipotalâmicos por estresse inespecífico, como temperatura ambiente extrema, febre, hipoglicemia, inflamação, jejum, dor, trauma, medo, levando a um aumento e liberação de ACTH e consequente atividade adrenocortical, principalmente da zona fasciculada. Andrógenos – Zona reticular A zona reticular é uma camada estreita no limite com a medular, composta por agregados irregulares de células não-vacuolizadas. Produz os esteroides sexuais. São eles os andrógenos, como a dehidro-epiandrosterona (DHEA) e a androstenediona, os estrógenos e a progesterona. A síntese de androgênios (Figura 6) começa com a hidroxilação da progesterona no C17. A cadeia lateral é clivada para fornecer androstenediona. A testosterona é formada pela redução do grupamento C-17- ceto da androstenediona. Os estrogênios são formados a partir dos androgênios pela perda da metila C-19 e a formação de um anel aromático. Os androgênios têm efeito sobre o anabolismo protéico, pela ação de retenção de nitrogênio. Também promovem retenção de P, K, Na e Cl. Medula adrenal A medula adrenal tem origem da crista neural e é composta por células especializadas neuroendócrinas produtoras das catecolaminas. As células cromafínicas são células ovais ricas em grânulos de secreção, arranjadas em ninhos ou trabéculas, sustentadas por um estroma escasso, porém intensamente vascularizado. Representa 10% da glândula. As catecolaminas são a dopamina, adrenalina e noradrenalina (epinefrina e norepinefrina). Também existe um sistema extra-adrenal, de grupos de células neuroendócrinas amplamente distribuídas: células do coração, fígado, rins, gônadas e neurônios adrenérgicos do sistema nervoso simpático pósganglionar e sistema nervoso central. Em conjunto com a medula constituem o sistema paraganglionar. COMPREENDER A FISIOPATOLOGIA DA SÍNDROME DE CUSHING A estimulação de neurônios hipotalâmicos induz a liberação de hormônio CRH (corticotrófico) na hipófise que libera na corrente sanguínea ACTH. O ACTH age nos receptores acoplados à proteína G estimulando a síntese e liberação de cortisol e pequenas quantidades de andrógenos. O cortisol vai atuar sobre o hipotálamo e hipófise anterior (adenohipofise) inibindo a liberação de ACTH. Fazendo a retroalimentação negativa ou feedback negativo. OU SEJA: quando tem muito cortisol é passado a informação para produzir menos. Quando essa informação não é passada, ou seja, perde o controle do feedback ocorre a patologia. Relembrando a fisiologia do cortisol: O CRF (fator de liberação de corticotrofina) é liberado pelo hipotálamo e atua como liberador de ACTH e betaendorfina. Lá na zona fasciculada da adrenal o cortisol é liberado por ação do ACTH. Portanto, a administração de altas concentrações de medicamentos que contêm cortisol leva a uma inibição da função adrenal. Esse é o processo de retroalimentação negativa. E quando o indivíduo está sob estresse? A secreção do cortisol vai ser regulada pelo ciclo circadiano. Ao longo do dia, o cortisol apresenta concentrações elevadas pela manhã, com pico 30s após acordar, seguido com queda progressiva no restante do dia e concentrações mais baixas no começo da noite Síndrome de Cushing (SC) pode ser definida como um grupo de sinais e sintomas que são causados pela exposição crônica a glicocorticoides, sejam artificiais ou não. A principal causa do aparecimento dessa síndrome é iatrogênica, ou seja, pelo uso de glicocorticoides exógenos, que estão contidos em medicamentos orais ou esteroides tópicos, e, algumas vezes, de forma oculta em suplementos nutricionais ou medicamentos naturopáticos. Esse último dificulta o raciocínio clínico e abordagem diagnóstica do caso, e podem ser utilizados de forma inocente e indiscriminada com finalidades de ganho nutricional ou controle das dores articulares. A classificação da SC pode ser feita em primária e secundária, sendo a primária uma causa endógena caracterizada pela hipersecreção de ACTH e CRH no eixo hipotálamo-hipofisário e a secundária, que ocorre mais frequentemente, por causas exógenas devido ao uso crônico de medicamentos com glicocorticoides,seja ele subreptício, desconhecido ou prescrito. Diante disso, é necessário que sejam diferenciadas precocemente as formas endógenas das exógenas para evitar a realização de testes diagnósticos e tratamentos inadequados. FACULDADE FAHESP I IESVAP @KATIELLEMASC I MEDICINA 5°P A causa mais frequente da Síndrome de Cushing (SC) endógena é subdividida em dependente de ACTH e independente de ACTH. A dependente está relacionada a adenoma hipofisário secretor de ACTH, e a independente a causa normalmente é um adenoma benigno que produz cortisol de forma autônoma e suprime a liberação de ACTH por feedback negativo, levando a atrofia das células adrenais. DESCREVER FATORES DE RISCO, MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E COMPLICAÇÕES DA SC FATOR DE RISCO Obesidade Diabetes tipo 2 Glicemia mal controlada (níveis altos de açúcar no sangue) Pressão arterial elevada O tempo de uso de determinado medicamento corticoide está diretamente relacionado à ocorrência da síndrome de Cushing. pessoa pode vir a ter a doença, embora ela seja mais comum em mulheres (que são, em média, três vezes mais propensas a desenvolvê-la do que homens) dos 20 aos 50 anos de idade. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Facie em lua cheia (aparência pletôrica)→ facie bem avermelhada por conta da vasodilatação na pele Alterações na pele, são bem mais frágeis que o normal e por conta disso o paciente tende a ter mais estrias, e essas estrias tendem a ser violáceas por conta da vasodilatação da pele. Acnes- é decorrente do aumento do androgênio nos pacientes Hirsutismo- bigodinho em grande quantidade principalmente nas mulheres DM2 porque o paciente fica resistente a insulina, causado porque o cortisol tem efeito de aumentar o nível de glicogênio no sangue. Debilidade muscular Osteoporose (cortisol em contato com o osso diminui a mineralização óssea) Alterações mentais FACULDADE FAHESP I IESVAP @KATIELLEMASC I MEDICINA 5°P COMPLICAÇÕES Obesidade centrípeta Atrofia da musculatura, o que causa fraqueza muscular Miopatia (cortisol degrada o músculo) DISCUTIR O DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA SÍNDROME DE CUSHING DIAGNÓSTICO 1º Passo: Avaliar histórico de ingestão de glicocorticoides exógenos. Em caso prolongado, é determinado hipercortisolismo exógeno, desde que as manifestações clínicas sejam compatíveis. 2º Passo: Solicitar métodos de primeira linha: FACULDADE FAHESP I IESVAP @KATIELLEMASC I MEDICINA 5°P 1. Teste de supressão com dexametasona em dose baixa - Adm 1, 1,5 ou 2mg de dexametasona, VO, entre 23 e 00h, e o cortisol plasmático é medido das 8h às 9h da manhã seguinte. - Esse fármaco diminui o cortisol sério matinal para 1,8 u/dl após a dose. 2. Cortisol livre na urina de 24h - É elevado (>120ug/24h e >331nmol/24h) em quase todos os pacientes com síndrome de Cushing. - Duas a três coletas normais excluem o diagnóstico. Pacientes com obesidade, depressão ou síndrome de ovários policísticos apresentam entre 100 e 150 ug/24h (276 e 415 nmol/24h). 3. Cortisol salivar noturno - SE os resultados das medições de cortisol urinário livre e do teste de supressão com dexa são indeterminados, o paciente é hospitalizado para a medição de cortisol sérico à meia-noite, que provavelmente é a conclusiva. - Cortisol normal com limites entre 5 e 25 ug/dl (138 a 690 nmol/L) no início da manhã (6h a 8h) e diminui gradualmente para < 1,8 ug/dl (<50 nmol/L) à meia noite. 3º PASSO: Solicitar dosagem de ACTH Confirmado o hipercortisolismo endógeno, é necessário determinar se a síndrome é dependente ou independente de ACTH, que se faz pela medida de duas amostras de ACTH plasmático. A doença de Cushing deve ser avaliada com TC ou RNM de hipófise. Tomografia computadorizada: sensibilidade de 47% e especificidade 74% para microadenomas hipofisários. Os microadenomas se apresentam como lesão hipodensa, usualmente sem realce após a adm do contraste. TC é considerada o método de escolha para a avaliação adrenal. Ressonância nuclear magnética: sensibilidade de 50 a 70% e especificidade de 87%. A maioria dos microadenomas apresenta sinal hipointenso, sem realce após a adm do gadolínio. Exame Padrão Ouro: cateterismo do seio petroso inferior. - É a maneira mais direta de demonstrar a hipersecreção de ACTH na hipófise, principalmente se exames de imagem são negativos. - O seio venoso petroso drena a hipófise através do seio cavernoso. - A técnica envolve a coleta simultânea de sangue dos dois seios petrosos inferiores, coleta de sangue periférica, para dosagem do ACTH. A razão basal dos valores de ACTH obtidos das amostras centrais e periférica maior ou igual a 2 é indicativa de doença de Cushing. Sensibilidade de 96% e especificidade de 100%. TRATAMENTO 1. Cirurgia A cirurgia (adenomectomia hipofisária via transesfenoidal na doença de Cushing, exérese tumoral da SACTHE e adrenalectomia nos tumores adrenais) é o tratamento de escolha na síndrome de Cushing. 2. Radioterapia Radioterapia não é recomendada como tratamento primário, mas é reservada para pacientes que: - Não responde à microcirurgia hipofisária - Aqueles submetidos a adrenalectomia bilateral - Aqueles com síndrome de Nelson estabelecida. 3. Terapia Medicamentosa Utiliza-se inibidores da esteroidogênese (mitotano, metirapona, cetoconazol), neuromoduladores da liberação de ACTH, bloqueadores de receptor glicocorticóide. É utilizada enquanto se realiza a investigação etiológica da síndrome de Cushing, enquanto se aguarda o resultado da radioterapia para se atingir remissão clínica e bioquímica em pacientes com pouca chance de cura pela cirurgia transesfenoidal. OBS: Adrenalectomia total bilateral com terapia diária de reposição de glicocorticóides e mineralocorticoides por toda a vida é a cura definitiva final e pode ser preferida por alguns pacientes ao invés da radioterapia. OBS: Alguns pacientes têm tumores indolentes e uma expectativa de vida longa, mas não podem ser curados cirurgicamente. Esses podem ser tratados com mitotano para obter uma adrenalectomia. ENTENDER COMO SE DÁ A PREVENÇÃO DA SC Não há formas conhecidas de prevenção da síndrome de Cushing. O único modo eficaz que se tem conhecimento é não tomar medicamentos à base de corticoides – isto é, caso a doença tenha causa medicamentosa. FACULDADE FAHESP I IESVAP @KATIELLEMASC I MEDICINA 5°P REFERÊNCIAS: CRESPO, Letícia Rodrigues et al. Síndrome de Cushing: uma revisão narrativa. Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos, v. 16, n. 1, p. 74-78, 2021. HAYASHI, Fernando Yukio Machado; PESCADOR, Marise Vilas Boas. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA DOENÇA DE CUSHING: UM RELATO DE CASO. Revista Thêma et Scientia, v. 9, n. 1E, p. 77-82, 2019. DE CARVALHO, Lucas Azevedo Nogueira et al. Síndrome de cushing e hipercortisolismo associado: uma revisão literária Cushing’s syndrome and hypercortisolism associated: review of literature. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 6, p. 61473-61484, 2021. DE LAS MERCEDES FUENTES-SALOMÓN, Shirley et al. Nivel de conhecimento de estudantes de medicina sobre a síndrome de Cushing. 16 de abril , v. 60, n. 282, pág. 1401, 2021.
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