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VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Puerpério Normal e Patológico Período do ciclo gravídico-puerperal em que as modificações locais e sistêmicas retornam às condições pré-gravídicas. O puerpério ou pós-parto é o período que sucede o parto e, do ponto de vista fisiológico, é caracterizado por uma série de processos involutivos e de recuperação do organismo materno. Ele se inicia após a dequitação e se estende por um período cuja duração ainda é bastante discutida na literatura. Alterações anatômicas e fisiológicas do puerpério imediato Diversas alterações especialmente nas primeiras 2 semanas pós-parto: Sistema cardiovascular: Imediato: aumento de cerca de 10% do débito cardíaco e do volume plasmático, aumento (PA) e da frequência cardíaca. Sistema urinário: Retenção urinária em virtude de edema e/ou traumatismos na região uretral decorrentes do parto. Sistema digestivo: A diminuição da motilidade intestinal, influência da progesterona. Alterações psicológicas: Primeiros dias do puerpério observam-se labilidade do humor, fragilidade, hiperemotividade e sentimentos de incapacidade com tendência à depressão, são os blues puerperal. Sistema hematológico: Após o parto, aumento dos leucócitos até 25.000 (granulócitos neutrófilos), flutuações da hemoglobina e do hematócrito (perdas sanguíneas durante o parto), aumento da tendência a fenômenos trombóticos em virtude das alterações dos fatores de coagulação (hipercoagulabilidade). Involução uterina: Imediatamente após o parto o fundo uterino, nível da cicatriz umbilical, na primeira semana regride cerca de 1cm por dia, quinto ao sétimo dia será palpável entre a cicatriz umbilical e a sínfise púbica, ao final das primeiras 2 semanas intrapélvico e final de 6 semanas próximo ao pré-gestacionais. Em cesariana, a involução uterina costuma ocorrer de modo mais lento. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Colo uterino: Nas primeiras 24 horas readquire seu formato, pérvio 2 a 3 dias, em 7 dias pérvio à polpa digital. O orifício externo não retorna à pré-gestacional (obs.: mulheres que tiverem atividade de parto tem fenda do colo uterina transversa, mas isso não indica que o parto foi vaginal). Loquiação: Conteúdo uterino eliminado no puerpério é constituído, sobretudo, por decídua remanescente, eritrócitos, células epiteliais, bactérias e seu aspecto muda ao longo dos dias. Vagina e vulva: Cicatrização de lacerações e eventuais suturas, em 5 a 7 dias. Ovários: o retorno à função variável (em torno de 30 a 40 dias) está relacionado com a amamentação. Apesar de se caracterizar por um período de baixa fertilidade, pode ocorrer ovulação ainda durante a lactação. Obs.: Para mulheres amamentando, pode ser dado anticoncepcional apenas de progesterona. Se a mulher teve aborto, pode ser dado estrogênio para evitar a produção de leite. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Mulheres lactantes tem a fertilidade inibida pela ação direta da sucção do mamilo sobre o hipotálamo por via neuro-endócrina, que eleva a PRL e inibe o LH e FSH. O PRL, por sua vez, inibe a liberação pulsátil do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo. Contrações uterinas no puerpério Expulsão fetal. O útero continua a apresentar contrações rítmicas, para propiciar a dequitação fisiológica. As contrações são indolores e, após duas ou três contrações, a placenta é impelida para o canal de parto. Chamado tempo corpóreo e dura entre 6 e 10 minutos. Principal função auxiliar a dequitação e a hemostasia. Miotamponamento determina a “laqueadura viva” dos vasos uterinos e faz com que o útero fique devidamente contraído. Denominado globo de segurança por Pinard. As primeiras 12 horas após o parto, uma contração em 10 minutos. Dias sub-sequentes sua intensidade e sua frequência reduzem-se. Mamadas: liberação de ocitocina, aumento na frequência das contrações e ocasionalmente pode provocar desconforto na puérpera (dor de tortos). Mamas 1ª metade da gestação: fase “proliferativa” – proliferação de células alveolares, ↑ ductos e desenvolvimento da arquitetura lobular. Final da gestação: fase “secretora” – aumento das glândulas, hipertrofia das células mioepiteliais e do tecido conjuntivo, depósito de gordura e retenção de água e eletrólitos. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C PÓS-PARTO IMEDIATO (1 a 2 horas após o parto) MANIFESTAÇÕES GERAIS: alteração do estado geral (torporosa), calafrio, pulso (fino e acelerado) e temperatura (aumentada ou diminuída). MODIFICAÇÕES LOCAIS: - ABDOME - ÚTERO: CORPO 20 cm sínfise púbica, consistência firme, indolor, involução diária (intra-pélvico) - COLO - LÓQUIOS (“lochia rubra, fusca, flava e alba”) - VAGINA, VULVA E PERÍNEO - MAMAS - flácido (colostro) / “apojadura” ( secreção láctea) MANIFESTAÇÕES LOCAIS: - Contração uterina (trombotamponamento e miotamponamento) - Hemorragia (“tônus”, “trauma”, “tecido”, “trombina”) - Retenção urinária MANIFESTAÇÕES SISTÊMICAS: - Choque - Convulsão (Eclâmpsia) - Modificações hemodinâmicas: cardio-vasculares – DC, PA, - Complicações Anestésicas PUERPÉRIO MEDIATO (1º ao 10º dia) CUIDADOS GERAIS: PA, FC, Temp axilar, dieta, levantar precoce (prevenir fenômenos tromboembólicos), função vesical (edema, retenção urinária, morfina usada na anestesia aumenta a necessidade de sonda) e intestinal (lentificada). CUIDADOS LOCAIS: - MAMAS - inspeção, palpação, expressão - ABDOME- palpação útero, “dores tortos” - LÓQUIOS- inspeção diária - EXAME DO PERÍNEO ( lacerações, hemorróidas) - INCISÃO CIRÚRGICA- episiorrafia, abdominal - EXAME DOS MMII- trombose, edema, flebite Anamnese - Verificar o cartão da gestante ou perguntar à mulher sobre: Condições da gestação. Condições do atendimento ao parto e ao RN. Dados do parto (data; tipo de parto; se cesárea, qual a indicação). Se houve alguma intercorrência na gestação, no parto ou no pós parto (febre, hemorragia, hipertensão, diabetes, convulsões, sensibilização Rh). Se recebeu aconselhamento e realizou testagem para sífilis ou HIV durante a gestação e/ou parto. Uso de medicamentos (ex. ferro). Exame físico imediato Avaliação do estado geral e aferição de sinais vitais. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Ausculta cardiorrespiratória. Exame das mamas: flácidas ou túrgidas, características das papilas (protrusas, invertidas ou planas), presença ou não de fissuras, intensidade da descarga papilar. Palpação e ausculta abdominal. Palpação uterina: observar a consistência e a altura do fundo uterino, bem como a presença (ou não) de dor quando de sua mobilização. Inspeção da incisão cirúrgica (cesariana). Inspeção do períneo e de eventuais lacerações e suturas (parto vaginal). Característica e quantidade dos lóquios (aspecto, coloração e odor). Exame dos membros inferiores: avaliar edema e sinais de trombose venosa profunda. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Pós-parto tardio (10º ao 45º dia) ÚTERO: - Continua a regredir - Intra-pélvico 14 dias - Pré-gravídico 6-8 semanas - Endométrio epitelizado 25 dias. VAGINA: Regenera 25 dias. LOQUIAÇÃO EPISIORRAFIA Cicatriza 21 dias. PAREDE ABDOMINAL (incisão cirúrgica). APARELHO RENAL VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C MÉTODO LAM (LACTAÇÃO-AMENORRÉIA) O estado de hiperprolactinemia, faz com que o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH) mantenham-se em níveis inferiores à normalidade. Para garantir a eficácia do método é fundamental obedecer a 3 regras básicas: - O bebê deve ter até 6 meses; - O aleitamento deve ser exclusivo ou quase exclusivo; - A nutriz deve estar em amenorréia. Nas nutrizes amenorreicas, a eficácia é cerca de 98% e nas nutrizes com menstruaçõespresentes, o índice de falha é de 27,2 gravidezes em 100 mulheres/ano. Puerpério Patológico Complicações: - HEMORRAGIA Hipo/atonia e restos placentários. - INFECÇÃO PUERPERAL (ex: rotura de membrana é a mais comum). - MASTITE - PROBLEMAS DA CONTRAÇÃO UTERINA - CHOQUE - CONVULSÃO - RETENÇÃO URINÁRIA - COMPLICAÇÕES ANESTÉSICAS VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 1) HEMORRAGIA PÓS PARTO (HPP) HPP: perda sanguínea acima de 500 mL em parto normal e 1.000 mL em parto cesárea no período de 24h, ou qualquer perda de sangue pelo trato genital capaz de causar instabilidade hemodinâmica. Massagem uterina bimanual: Deve ser a primeira manobra durante um quadro de atonia uterina, enquanto se aguarda a realização e o início de ação das drogas uterotônicas. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 2) INFECÇÃO PUERPERAL a) ENDOMETRITE Fatores de risco RPMO (rotura prematura de membrana obstétrica), Anemia, Fórcipe, Trabalho de parto prolongado, Manipulação excessiva durante o trabalho de parto, Placentação baixa, Atividade sexual, Retenção de restos ovulares, Circlagem (dar um ponto no colo do útero), Gemelaridade, Cesariana. 1. Dor pélvica; 2. Secreção vaginal anormal; 3. Odor anormal dos lóquios; 4. Atraso na redução do tamanho do útero. VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C Se a endometrite ficar restrita ao útero após o parto vaginal, o tratamento com um agente antimicrobiano oral geralmente é suficiente. A amamentação ajuda no tratamento da endometrite pela estimulação do útero. Para infecções moderadas a graves, no entanto, a terapia intravenosa com um regime antimicrobiano de amplo espectro é indicada. b) TROMBOFLEBITE PÉLVICA Incidência: 0,05% a 0,18%. Diagnóstico: TC/ RNM. Tratmento: Heparinização e antibióticoterapia. c) SÍTIO CIRÚRGICO VITÓRIA CORREIA MOURA – T4C 3) Mastite aguda puerperal A mastite pode ser categorizada como infecciosa ou não infecciosa. A não infecciosa resulta da estase do leite devido ao esvaziamento incompleto ou à má pega do recém-nascido do mamilo. Já a infecciosa vai desde a inflamação focal até o acometimento total da mama e pode incluir sintomas sistêmicos como febre, mal-estar geral, astenia, calafrios e prostração, podendo chegar à formação de abcesso e provocar septicemia. A mastite geralmente começa com uma lesão da pele, para baixo do mamilo e aréola, permitindo a entrada de bactérias que provêm da flora da pele. O germe mais frequente é o Staphylococcus aureus, seguido de Staphylococcus coagulase negativo e, mais raramente, E. coli ou estreptococos. Se houver suspeita de abscesso, o ultrassom estabelece o diagnóstico definitivo. O tratamento é múltiplo e inclui antibiótico, esvaziamento regular da mama, orientação sobre a amamentação e drenagem de abcesso, se presente. Se a mastite for unilateral, deve-se iniciar a amamentação pela mama afetada, pois isso acarretará maior drenagem do leite e facilitará a cura. Os antibióticos mais empregados são doxiciclina ou cefalosporina por 7 a 14 dias, dependendo da resposta da paciente. Se bem orientada, realizando esvaziamento, o curso é de sete dias.
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