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História antiga
A Índia antiga
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Ms. Marcelo dos Reis Tavares
Revisão Textual:
Profa. Esp.Vera Lídia de Sá Cicarone
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• Introdução
• As antigas civilizações e os grandes rios: uma questão de necessidade
• Proto-história indiana: Mohenjo-Daro e Harappa
A atividade de aprofundamento desta unidade será um fórum cujo tema é a sociedade de 
castas na Índia.
Leia, atentamente o material didático, realize com empenho todas as atividades propostas, 
cite corretamente as fontes de pesquisa e atenção aos prazos. Não se esqueça esclarecer suas 
dúvidas com o seu tutor.
Bom trabalho!
 · Nesta unidade, iremos tratar da civilização indiana em seus 
aspectos históricos, políticos, sociais e culturais.
A Índia antiga
• A Índia antiga e as suas várias formas de dominação política
• Índia: entre o domínio Persa e de Alexandre, o Grande
• Sociedade, economia, religião e arte na antiguidade indiana
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Unidade: A Índia antiga
Contextualização
Gandhi, Madre Teresa de Calcutá, meditação, budismo, Hare Krishna, hinduísmo, rio Ganges, 
Taj Mahal, vaca sagrada, sociedade de castas – essas são palavras que, sem dúvida, nos remetem 
à realidade da Índia, mas que não explicam nada por si mesmas. É por essa razão que se torna 
necessário um aprofundamento, fruto de leituras e reflexões, capaz de nos situar no contexto 
que envolve toda a riqueza e complexidade presentes na sociedade indiana.
Com uma população de mais 1,2 bilhão de pessoas, 
várias etnias e línguas, uma religião com mais de 300 mil 
deuses e cerca de 6 mil anos de história, a Índia fascina 
e instiga a nossa curiosidade. Atualmente é a décima 
economia mundial, possuindo três das dez maiores 
megalópoles mundiais (Délhi, Mumbai e Calcutá) e 
faz parte do BRICS, grupo de cooperação econômica 
formado por países de economia emergente: Brasil, 
Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa).
Retratada em novelas ou nos filmes de “Hollywood”, é 
o cenário do filme indicado abaixo. Que tal conhecermos 
esta fantástica história? 
 Vamos lá!
Capa do filme premiado Quem quer ser um milionário?, 
do diretor britânico Danny Boyle. Europa Filmes/Warner Bros., 2008.
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Introdução
Figura 1: A Índia e suas fronteiras.
Thinkstock/Getty Images
Após buscarmos compreender melhor a história da China, outra nação do oriente destaca-se 
e passa a ser o tema de nossos estudos: a civilização indiana. 
Mas quais os motivos que nos levam a nos interessar pela Índia? 
Em primeiro lugar, a Índia passa a ter um destaque econômico cada vez maior na 
sociedade contemporânea. Além disso, trata-se de um importante parceiro comercial do Brasil, 
principalmente através do BRICS (associação que liga as economias do Brasil, Rússia, Índia, 
China e África do Sul), o que já gera uma necessidade de melhor conhecermos o país, suas 
culturas e tradições. Outro importante aspecto a ser considerado é a sociedade globalizada que 
faz com que tenhamos cada vez mais contato com culturas variadas. Nos dias de hoje, não se 
pode mais desprezar países ou localidades que sejam tidas como exóticas ou estranhas, uma 
vez que mudanças ou ações econômicas nesses países podem ter consequências em nosso dia 
a dia, fruto de uma sociedade mais conectada. Cada dia mais se destaca a necessidade de um 
cidadão global, que precisa conhecer tanto os problemas e características do seu país como 
também os dos outros.
Com essa premissa, outra pergunta se faz importante: por que a história antiga da Índia? 
Todo país tem que ser interpretado segundo as suas origens. Entender os fundamentos e 
raízes de seus costumes e culturas é de fundamental importância para compreender a forma 
como as pessoas agem e se portam naquela sociedade (para que se possa entender o Brasil, 
é de suma importância entender a influência portuguesa desde a colonização, por exemplo). 
E para a Índia, essa afirmação toma mais força ainda, já que se trata de uma cultura milenar 
que mantém muito dos seus traços. Religiões e costumes que tiveram origem antes mesmo 
do nascimento de Cristo ainda têm muita força naquela nação. O sistema de castas, que é 
de grande importância para a compreensão da sociedade indiana até os dias hoje, tem a sua 
origem ainda no tempo dos vedas, o que remonta a mais de mil anos antes de Cristo. 
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Unidade: A Índia antiga
As antigas civilizações e os grandes rios: uma questão de necessidade
Antes de discutirmos a importância dos rios para a proliferação das antigas civilizações, é 
importante falarmos sobre a arqueologia e sua grande contribuição para a história e também 
para o conhecimento das civilizações antigas. 
A história é feita de documentos, fontes com informações e registros que nos permitem pesquisar 
e entender sociedades antigas. Apesar de uma grande variedade de fontes que vêm sendo utilizadas 
nos dias de hoje, inclusive audiovisuais, a maioria delas ainda consistem em fontes escritas, em suas 
mais variadas formas, desde documentos governamentais até diários e memórias. 
Assim sendo, como se dá a compreensão das antigas civilizações que ainda não tinham 
desenvolvido a escrita ou a tinham de forma bastante complexa para a nossa compreensão? E 
também, como isso se dá levando em consideração que, devido à grande distância de tempo, 
muitos desses registros acabaram se perdendo ou mesmo desaparecendo? É neste ponto que 
passamos a compreender melhor a função da arqueologia e de suas técnicas.
A arqueologia, com suas técnicas e características, tem condições de melhor entender 
essas civilizações. Através dos objetos, da arquitetura e de símbolos encontrados, arqueólogos 
conseguem avaliar e traçar um bom perfil das sociedades que eles buscam descortinar. Claro 
que, devido à distância temporal e à falta de informações, é comum que algumas lacunas ou 
perguntas sem respostas venham a surgir, mas não se pode culpar esse profissional, que é de 
total importância para a história e para a compreensão de uma série de civilizações.
Várias civilizações antigas tinham suas origens nas proximidades de grandes rios. A água é 
fonte de energia e vida; é por meio dela que se pode manter o plantio de alimentos e estabelecer 
a estruturação da agricultura, como também ela é de suma importância para a criação de 
animais e o pastoreio. 
As primeiras civilizações que ocuparam a região da Índia tinham uma relação essencial com os 
rios do vale do Indo, em especial o Rio Ganges, que também tem uma importante função religiosa. 
O rio Ganges tem grande importância para a população da Índia já que é considerado sagrado, e o 
banho em suas águas, a despeito de sua atual poluição, ainda atrai milhares de peregrinos anualmente.
Proto-história indiana: Mohenjo-Daro e Harappa
A história indiana tem como marco inicial a chegada dos povos árias no segundo milênio 
antes de Cristo. Existiram, no entanto, povos que viveram na região antes dos árias, que deram 
origem às cidades de Mohenjo-Daro e Harappa. Segundo Mário Giordani:
A civilização do Indo era assaz poderosa para influenciar, por sua vez, as 
civilizações da Mesopotâmia, do Elam, da Ásia Menor, de Creta e também, 
provavelmente, a do Egito, e seus produtos eram aceitos e apreciados em 
diversos mercados mediterrâneos (GIORDANI, p. 299).
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Essa civilização tomou lugar na região de Amri (Sind), que era uma zona fértil e irrigada. 
Apesar da dificuldade de se precisar o momento em que essa civilização floresceu, pode-se 
dizer que foi por volta de 2500 a 1500 a.C. Não se pode pensar que se tratava de uma Índia 
em miniatura e que todas as características da Índia lá estariam; pode-se afirmar que algumas 
características são parecidas, mas há uma série de diferenças, pois, afinal de contas, estamos 
falando de outro povo e outro momento. 
A civilização que habitou as cidades de Mojeho-Daro e Harappa pode ser definida como 
pertencente a uma sociedade urbana. Uma questão interessante e também bastante misteriosa 
relaciona-se à origem e ao fim dessa civilização, jáque não há informações precisas sobre isso. 
Provavelmente eram povos malaio-polinésios, vindos da Oceania, mas não se pode comprovar 
essa afirmação. As pesquisas arqueológicas desenvolvidas por Sir Mostimer Wheeler conduziram 
às principais descobertas na região.
De acordo com as descobertas, é possível dizer que era uma série de cidades-estados, 
com relativa independência entre elas. Havia uma declarada preocupação com a segurança, 
já que todas eram cercadas por fortes muralhas. Outra característica bastante interessante 
dessas cidades é que elas tinham um sistema de irrigação e canalização sofisticado. Nas 
casas, de forma geral, havia banheiros e outros espaços em que se podia utilizar a água 
que passava por esse sistema. Essa característica remete a uma preocupação com o bem-
estar e a higiene, o que demonstra uma ação pública para desenvolvimento desse sistema 
hidráulico existente. Isso nos leva a refletir sobre o arranjo urbano dessa civilização, que 
se mostra muito superior à maioria das outras civilizações daquele momento histórico. Já 
havia uma noção de urbanismo e de organização dessas casas. As casas eram feitas de 
tijolos e tinham uma estrutura bastante sólida. 
Já havia uma organização econômica organizada e, para as trocas, havia uma medida de 
cereal que era tida como valor. Assim, todas as coisas tinham seu “preço” baseado nessa medida 
de cereal, que era pré-estabelecida pelos dirigentes das cidades. Essa característica econômica 
nos possibilita concluir que, em termos produtivos, havia uma intensa atividade agrícola e o 
ambiente urbano aparecia como suplementar para essa produção.
Outra característica que também chama bastante a atenção dos arqueólogos é a ausência de 
construções ou locais que indiquem cerimônias religiosas. Havia alguns símbolos, normalmente 
ligados a algum animal, que podem representar um certo tipo de culto ou mesmo algumas 
divindades. É interessante notar que alguns desses símbolos têm semelhança com divindades 
indianas de outras temporalidades.
Com relação à arte, pode-se dizer que havia duas formas de manifestação artística: uma 
cujo estilo era parecido com o estilo grego e que se preocupava com uma modelagem mais 
acurada e com as formas; e um segundo estilo que apresentava formas mais ligadas a questões 
religiosas, possivelmente. 
Outra importante característica é a ausência de túmulos reais, ou mesmo túmulos comuns, o 
que nos leva a concluir que era uma sociedade que cremava os seus mortos em vez de enterrá-
los. Não há nenhum sinal de campo público ou construções que possa remeter a algum tipo de 
cemitério ou a locais tidos como sagrados para que os mortos fossem enterrados.
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Unidade: A Índia antiga
Sobre rituais ou algo que remeta à religião e, ainda, a algum tipo de prática pública, pode 
se afirmar que foi encontrada uma série de prédios públicos com os tradicionais sistemas 
de canalização, mas com a característica interessante de estarem ligados a vários banheiros 
e uma espécie de piscina central. Ora, não se pode pensar a piscina como um objeto de 
lazer, tal como nos dias de hoje, mas pode-se pensar em algum tipo de ritual do banho em 
água sagrada. Como dito anteriormente, a água cumpre um papel fundamental dentro da 
trajetória da história da Índia; trata-se de um dos símbolos de maior apelo popular e que 
mexe, e muito, com a fé daquelas pessoas. Assim, é interessante pensar que, apesar de essa 
civilização estar bastante distante de ter fundado algum tipo de hinduísmo embrionário, ela 
mantinha esse culto à água sagrada e a possíveis características da mesma. Assim, esses 
banhos teriam uma caráter bem mais ritual do que cultural; em outras palavras, a religião 
desses povos não seria algo que se podia perceber no dia a dia e que estaria presente em 
todas as ações e momentos, mas, sim, seria um modelo religioso mais individualista, com 
momentos específicos para demonstrar a fé.
Outro achado importante foi um conjunto de selos que foram conservados por terem sido 
feitos em pequenas planas de barro, com a mesma técnica utilizada para a fabricação de tijolos, 
que era muito comum naquela sociedade. Foram encontrados mais de 1200 desses selos e, 
novamente, deparamo-nos com a dificuldade de analisar e compreender as razões ou as formas 
de uso desses selos. A maior parte deles simboliza animais, a fauna daquele local e tempo, o que 
já auxilia a entender os tipos de animais com que os povos tinham contato naquela sociedade. 
Mas, além disso, o mais provável é que esses selos cumprissem alguma função religiosa, servindo 
como símbolos divinos ou mesmo como algum tipo de proteção para as pessoas e os seus 
afazeres. Além da imagem de animais, há também outras formas que foram exploradas por 
aquela civilização, tal como a de um ser com três cabeças, o que pode até remeter a deuses 
hindus que também têm essa característica. Mas não há ligação direta concreta entre essas 
questões. Há também seres fantásticos nesses selos, como o unicórnio, que foi representado 
em frente a árvores sagradas, mas novamente faltam maiores informações para que se possa 
precisar, com certeza, a relação desse suposto panteão com algum tipo de prática religiosa 
efetiva daquela população.
Tal como a origem desses povos, que é desconhecida, o seu fim, que ocorreu por volta do 
ano de 1500 a.C. também tem os seus mistérios. Não há informações sobre o que aconteceu 
de fato. No momento em que a cidade foi descoberta, encontraram-se alguns esqueletos de 
pessoas que estariam jogadas em meio às ruas daquela cidade, e alguns com sinais de agressão. 
Essa hipótese ganha força não apenas pelas marcas de violência, mas também pela prática de 
cremação. Como não havia sido encontrado nenhum corpo em toda a cidade, o fato de, depois, 
alguns serem encontrados pelas ruas mostra que não houve tempo de fazer os devidos rituais 
fúnebres para essas pessoas, muito provavelmente por se tratar de um momento de crise em 
que a cidade estava sendo atacada por outros povos.
Assim, pode-se dizer que havia a essência indiana nessas cidades devido à genialidade de 
seu povo, mas não se pode criar muitas ligações entre um povo mais antigo e as práticas que 
aconteceriam com outras civilizações, uma vez que não há condições ou informações para 
tal. Mas é importante destacar a força e a diversidade dos povos que primeiro habitaram 
aquela região.
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A Índia antiga e as suas várias formas de dominação política
Figura 2: fragmento dos Vedas, escrituras sagradas do hinduísmo.
Wikimedia Commons
Os povos tidos como indianos históricos 
eram conhecidos como Árias, que não são 
autóctones da região da Índia, mas não se tem 
informações precisas de onde vieram. Sabe-se 
que eram povos estrangeiros que dominaram 
a região de forma violenta, dominando a 
planície indo-gangética e também os povos 
locais que lá viviam: os tamuls, tégulus, 
kanard e os munda. Todos eles foram 
dominados, mas não eliminados; muitos 
tentaram sobreviver ao lado dos ocupantes e 
foram transformados em escravos.
Essa época ficou conhecida como a Índia Rig-
Védica, Védicas ou veda (todos os três termos 
são corretos para a designação do período). Na 
verdade, vedas são textos antigos da civilização 
indiana, o rig-vedica (o mais antigo). Acredita-se que tenham sido escritos por volta de 1500 
a.C. É através deles que se tem as principais informações sobre os árias ou a época védica. 
Esses são os primeiros povos indianos que deixaram registros escritos, os quais, apesar das 
dificuldades para a sua compreensão, facilitaram bastante o trabalho dos historiadores.
Através de estudos, pode-se concluir que arianos invasores fixaram morada na região da Índia 
e já passaram a impor o seu modo de vida aos habitantes locais, dominando-os e escravizando-
os. Esses eventos aconteceram por volta de 1500 a.C.
A nova organização política desses povos contava com nobres e um soberano, o qual 
passou a governar toda a região com grandes poderes, porém não totais, já que havia 
uma assembleia dopovo que podia interferir nas ações desse governante. O seu principal 
papel era proteger todos os seus súditos e também manter o corpo de sacerdotes. Essa 
característica ligada aos sacerdotes já demonstra bastante a índole desses novos habitantes 
e dominadores: davam uma grande atenção à religiosidade. Aliás, os sacerdotes tinham 
tratamento diferenciado e eram tratados como referência dentro dessa sociedade, tal como 
guias; eram de fundamental importância para o funcionamento da sociedade e os próprios 
vedas foram escritos por eles.
Dentro dessa sociedade, então, havia a seguinte organização política: em primeiro lugar 
estava o rei, grande mandatário e líder político; junto dele, estavam os seus auxiliares 
imediatos: chefe do exército, chefe das aldeias e também o purohita, que seria o líder 
religioso. Havia a nobreza (râjanya), que também tinha o seu local de destaque na sociedade, 
e o sacerdócio (brâhmana), responsável por todos os assuntos religiosos daquele povo. Os 
homens livres (vaiçya) ocupavam-se dos afazeres mais comuns dentro dessa sociedade e, 
por fim, os escravos (sudra), que eram os antigos povos primitivos que vivam naquela 
região e que faziam o trabalho mais pesado. 
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Unidade: A Índia antiga
Ainda trataremos, de forma mais aprofundada, do assunto, mas esse já é um embrião da 
divisão da sociedade em castas. Um dos motivos da criação das castas e de uma divisão tão 
acentuada está no medo de que a população ária se misturasse com os povos locais; foi uma 
forma de manter uma certa pureza étnica do invasor.
Na economia, sabe-se que havia a agricultura, com a produção de cevada, arroz, algodão e 
trigo, e também a criação de animais. Em um primeiro momento, os animais também serviam 
para a alimentação, mas, com o passar do tempo e por uma decisão dos sacerdotes, foi abolido 
o uso de carne. Alguns animais já tinham grande prestígio nessa sociedade, tal como os cavalos, 
que eram tidos como animais nobres e somente poderiam ser utilizados para o esporte ou para 
a guerra. Havia também a produção de um riquíssimo artesanato.
Como um movimento de expansão natural, os vedas foram mais para o leste, para os 
campos do Kuru, que ficavam entre o Ganges e o Sarasvati. Esse deslocamento para o leste foi 
importante, pois houve o contato com o povos aquemênidas, que podem ser considerados como 
pertencentes ao primeiro grande Império persa, que foi criado por Ciro I. Mas a importância 
desse deslocamento não está apenas pelo contato entre esses povos, mas, sim, no fato de 
que muitas informações que temos sobre os povos que viviam na Índia chegaram até nós, 
justamente, através dos aquemênidas, que deixaram registros e informações. Também destaca-
se pelo fato de esses povos terem dominado os indianos por um determinado período de tempo. 
Essas foram as consequências dessa expansão para o leste.
Nesse momento, também, ocorreu algo de fundamental importância para a cultura e 
sociedade indiana: o aparecimento, de fato, do sistema de castas. Claro que houve mudanças 
com o passar do tempo, mas a estrutura que iria subsistir passou a funcionar nesse período. 
Basicamente, havia a casta dos sacerdotes, dos nobres, dos homens livres e os servos, que 
não formavam bem uma casta, mas existiam na estrutura social indiana. Com o passar do 
tempo, também houve divisões de castas ligadas a ofícios desempenhados por determinados 
grupos. Isto vai se dar, principalmente, na casta dos homens livres, a qual sofreu uma espécie 
de subdivisão interna. 
As informações sobre esse período permitem dizer que já existia a constituição do 
bramanismo, que seria o embrião do hinduísmo, ou seja, uma versão mais antiga da atual 
religião da Índia. O Bramanismo foi criado pelos sacerdotes dos vedas e, justamente nesses 
livros sagrados, encontra-se a descrição dos principais elementos da religiosidade (este aspecto 
será discutido mais adiante, pois uma parte deste texto é dedicada somente para a análise das 
religiões mais antigas da Índia).
E foi nesse momento também que se deu a criação de duas diversificações do bramanismo, 
que tiveram, e ainda têm, uma grande importância para a sociedade indiana: a criação de duas 
doutrinas heterodoxas, o jainismo e o budismo. Ambas foram criadas no mesmo momento e 
questionavam o formalismo bramânico, buscando uma religiosidade mais livre. O jainismo foi 
criado por Vardhâmana (Jina – o vitorioso), que viveu de 528 a.C. até 468 a.C. Já o budismo 
foi criado por Sajyamuni, o Budha (o iluminado) ou Siddhartha (o que atingiu o seu fim). Não 
há dados concretos sobre o ano do seu nascimento, mas acredita-se que faleceu no ano de 483 
a.C. Essas manifestações religiosas são tão importantes para a história da Índia, com destaque 
para o budismo, que alguns tratam o “início” da história indiana justamente no século V a.C. 
por ter sido o momento de criação dessas religiões.
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Índia: entre o domínio Persa e de Alexandre, o Grande
Logo após o contato com os aquemênidas, houve um processo de dominação desempenhado 
por esse povo na bacia do Indo. Novamente o povo indiano sofreu a invasão de povos 
estrangeiros. Sob o comando de Dário, houve a anexação de todo o vale do Indo e a Índia 
chegou a ser tratada como uma satrapia de Dário. Outro importante nome da história persa 
também esteve envolvido no domínio da Índia. Xerxes chegou a dominar o noroeste da Índia, 
mas a derrota para a Grécia fez com que seus planos de expansão para essa região fossem 
cancelados. O domínio persa, na região, influenciou um pouco a escrita, a arte, arquitetura e a 
própria ideia de realeza dos indianos. Mas é interessante notar que, mesmo sob a influência 
desses povos, a Índia manteve-se bastante fiel às suas bases culturais já desenvolvidas.
Glossário
Satrapia: nome dado às províncias 
do império persa
Porém, após a dominação dos persas, a 
Índia também passou um tempo sob o domínio 
de Alexandre, o Grande. Aliás, Alexandre, 
o Grande, foi responsável por levar a cultura 
helenística a algumas regiões do oriente durante 
o processo de expansão que promovia, o que também aconteceu no caso da Índia. Mas, embora 
tenha ocorrido a expedição à região e a domínio sobre o povo indiano, sabe-se que esse domínio 
não teve grande influência para a história da Índia. Também não há muitos documentos que 
tratam desse período específico e do domínio de Alexandre, o Grande, sobre aquele povo. 
Os máurias
É interessante lembrar que a dominação exercida por vários povos sobre a Índia não, 
necessariamente, representa um domínio total, ou seja, de toda a região. Às vezes, conquistava-
se apenas parte do território; as regiões mais ao norte sofreram mais com esse tipo de situação, 
por exemplo. Isso ajuda a explicar a formação multicultural existente, até os dias de hoje, na 
Índia, fruto de um local com muitos povos e tradições. O próprio domínio de Alexandre, o 
Grande, sobre a Índia atingiu apenas parte da região, justamente mais ao norte. 
Mas por que essa explicação? Concomitante ao processo de dominação dos gregos, houve o 
desenvolvimento do reino de Magadha, ainda na bacia gangética, cujo povo conseguiu expulsar 
os gregos e realizar uma tarefa complicada para a época: realmente dominar toda a Índia e 
não somente alguma de suas regiões. Isso foi obra de um jovem general desse reino chamado 
Chandragupta, no ano de 313 a.C., que realizou uma grande coligação que expulsou os gregos 
e tornou-se uma espécie de comandante daquelas regiões. O segundo a reinar os Máurias, 
forma como ficaram conhecidos, foi Bindussara (298 a.C.), que manteve uma boa relação com 
os gregos e reinou por volta de 28 anos. 
Mas, o grande nome do reino dos Máurias foi Açoka (273 a.C.), filho de Bindussara, 
que reinou durante 24 anos e realizou uma série de obras que ficaram marcadas 
naquele tempo. Em primeiro lugar, foi dele o êxito de ter conseguido expandir 
o reino para quase toda a Índia, fazendo uma espécie de unificação na época. 
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Unidade: A Índia antiga
Acabou por construir uma Índia bastanterica e próspera, e o mais interessante é que, para 
governar, soube identificar e respeitar as várias diferenças e idiossincrasias de cada povo 
que compunha a Índia naquele momento. Assim, criou uma série de vice-reinos, tais como 
Pendjab, Malva, Kalinhga e Decão e também proporcionou um maior respeito e autonomia 
local, tornando as cidades e aldeias as verdadeiras unidades administrativas da época.
Outra característica importante é que Açoka também se tornou chefe temporal e espiritual e, 
unindo essas duas características, acabou por se converter ao budismo. Devido aos horrores da 
guerra, que presenciou em toda a sua vida, cansou-se e buscou uma alternativa mais pacífica 
para si, o que o levou à decisão de se converter para o budismo. Assim, seu objetivo era dedicar-
se à segurança, paz, alegria e moderação da alma.
Continuou com as obras de irrigação do avô; aliás, buscou uma melhoria para as condições 
de vida da população ao criar locais semelhantes a hospitais e também auxiliar médicos e 
farmacêuticos da época. Em seu governo, a Ilha de Ceilão tornou-se quase um grande santuário 
budista, com a criação de mais de 500 mosteiros. O fim do Reino dos Máurias deu-se logo após 
a morte de Açoka, uma vez que o reino teve de ser dividido entre seus filhos, o que diminuiu o 
poder e fez com que o reino se desmantelasse.
Citas e kuchanes: os novos invasores.
Novamente parte da região da Índia viu-se ameaçada por povos estrangeiros guerreiros que 
se interessaram por suas terras. Assim, no século I a.C., houve uma enorme pressão dos povos 
Sakas (Citas iranizados) na região noroeste da Índia, que acabaram tendo êxito e passaram 
a dominar essa parte da Índia. Durante a fase de dominação dos Sakas, houve o reinado de 
Maués, que foi o primeiro grande rei dessa nova fase. Depois foi substituído por Gondofares 
(19 a.C. até 45 d.C.), que expandiu o reino e reinou sobre o Seislão (Irã) até Pendjab (Índia). 
A dominação desses espaços é justificada pelo fato de que as regiões, naquela época, tinham 
limites de difícil precisão e fronteiras não bem delimitadas. Durante a fase de dominação dos 
Sakas, pode-se dizer que houve dois grandes períodos ou fases culturais. A primeira diz respeito 
a um momento mais ligado à cultura grega, como um processo de helenização, de continuação 
da obra que os gregos haviam começado naquela região. Mas, com o passar do tempo, em um 
segundo momento, houve uma certa inversão do processo e os invasores passaram a assimilar 
a cultura dos invadidos, ou seja, passou a ocorrer um processo de indianização do invasor. Isso 
demonstra a força e o poder sedutor que a cultura indiana já tinha naquele momento, o que é 
ratificado pelo fato de que, mesmo com uma série de invasões e o contato com várias outras 
culturas, muitas das suas tradições, costumes e práticas foram mantidos. 
Logo após a invasão dos Sakas, houve a invasão dos povos Kuchanes. O grande soberano 
desses novos invasores foi Kaniska, que dilatou as fronteiras da Índia e soube conduzir o seu 
reino mesmo com o ecletismo religioso, que era o traço marcante da Índia. Pode-se dizer que 
soube conduzir os problemas e as situações críticas com sabedoria, mantendo o seu poder 
e suas prioridades. Não se sabe, ao certo, o que levou ao fim do domínio dos kuchanes; há 
pouquíssimas informações e nenhum tipo de hipótese ainda foi levantada para o seu final. 
Apenas se sabe que houve uma grande divisão da região do Indo e dos Ganges e que a Índia 
voltou a ficar dividida durante esse tempo.
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Os guptas
Após o reinado e dominação dos Kuchanes, há um hiato na história da Índia. Na verdade, 
do século I ao século III, praticamente não há informações ou documentos que possam atestar 
como se deu o processo de dominação na região, quais foram os povos envolvidos ou mesmo 
que tipos de governo passaram por lá. Os documentos aos quais se tem acesso revelam que a 
próxima dinastia, ou povo, que dominou a região foi a dos guptas, que dominaram por quase 
dois séculos toda a região, tendo o mérito de unificar todas as regiões da Índia novamente. 
Os guptas são originários de Magadha e seriam uma dinastia autóctone que se desenvolveu ali 
e não mais um povo estrangeiro que chegou via invasões beligerantes. O grande desenvolvimento 
dessa dinastia deu-se no século IV d.C. Os guptas começaram um grande processo de expansão 
até conseguirem dominar toda a região da Índia. O primeiro grande rei foi Chandragupta, que 
pode ser, inclusive, de linhagem Máurya e que começou o grande processo de dominação. Em 
seu lugar, após a sua morte, assumiu o seu filho Samudragupta, no ano de 335 d.C. Com grande 
índole guerreira, ele chegou a dominar do sopé do Himalaia até Narbadâ e de Bramaputra até 
Chambal. O seu filho e sucessor Chandragupta II completou todas as conquistas do pai. A 
capital de todo esse reino foi Ujjain.
Já no século V d.C., os guptas tiveram grandes problemas com povos invasores. Para ser mais 
exato, a ameaça eram os Hunos brancos, povos beligerantes que, de longa data, incomodavam os 
mais variados reinos e regiões por onde passavam. Os Hunos chegaram a dominar uma porção 
da bacia do Indo e lá fixaram residência por um certo tempo. Só foram expulsos da região quando 
houve uma aliança entre os povos sassânidas e turcos, já no final do século V. O fim da dinastia 
dos guptas deu-se por perda de prestígio e poder, pois as sucessões foram desmantelando o poder.
Após o domínio dos guptas, ainda outros povos exerceram o domínio na região, com destaque 
também para a presença do islamismo, que passou a fazer parte da história da Índia e a fundar 
sultanatos. De maneira geral, esses podem ser considerados os principais povos, entre os que 
ficaram conhecidos, que formaram a era antiga da Índia. Assim, pode-se compreender melhor 
as suas funções e também o papel que desempenharam em toda a história indiana.
Sociedade, economia, religião e arte na antiguidade indiana
Figura 3: Asceta hindu em postura contemplativa.
Thinkstock/Getty Images
Muito mais do que pelos diversos governos e aspectos 
políticos, a Índia é formada por uma série de características 
que a definem como única dentro da sociedade mundial. 
Aliás, o grande interesse que essa nação desperta em 
estudiosos das ciências humanas deve-se à forma 
como a sociedade indiana consegue se desenvolver 
e acompanhar o ritmo do mundo contemporâneo 
mantendo, ainda, algumas dessas características, 
como, por exemplo, a divisão social em castas, as quais 
dificultam ou tornam bem mais difícil esse processo. 
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Unidade: A Índia antiga
Trata-se de um caso clássico de sociedade com costumes e tradições tão arraigados que não há 
a possibilidade de, simplesmente, serem abolidos, mas que, ainda assim, consegue se manter 
competitiva. Portanto, para compreender a sociedade indiana é preciso compreender todas essas 
idiossincrasias. E o mais importante disso é que esses traços sociais e culturais não pertencem à 
história recente da Índia, mas vêm de longa data. 
 
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Documentário: As religiões do Mundo 
http://www.youtube.com/watch?v=JfYiJ7OvWWg
Estrutura Social: a sociedade de castas
A sociedade dividida em castas, um dos maiores símbolos de identificação da Índia, 
começou a surgir na sociedade védica, a partir do momento em que a religiosidade passou a 
desempenhar um papel mais relevante naquela sociedade. Os motivos para a existência das 
castas podem ser variados. Em primeiro lugar, há um interesse em manter o status e o poder 
de determinados grupos sociais; toda e qualquer tradição que prega que não há a possibilidade 
de mobilidade social ou de mudança e relação entre os grupos tem em vista a manutenção de 
uma determinada estrutura de poder. Interessante apontar que os grupos em destaque na época 
dos vedas não são os mesmos de hoje, mas, ainda assim, mantém-se a separação por castas. 
Outro importante elemento para explicar o início da sociedade de castas é a separação étnica, 
já que, no momento em que os árias fizeram contato com a populaçãolocal, não se queira que 
houvesse nenhum tipo de miscigenação ou de contato entre eles. Assim, houve a escravização 
daquele povo e também a criação das castas para aumentar o distanciamento entre os povos, 
dando a esse processo um tipo de legitimação religiosa, que tem grande força não apenas na 
sociedade indiana, mas em várias outras sociedades nos mais variados momentos históricos. 
Com o passar do tempo, as castas também serviram para diferenciar determinadas atividades 
profissionais, o que também funcionava como um tipo de exclusividade de ofício e também 
conferia um determinado status. Esse tipo de separação passou a funcionar no momento em 
que essas especializações foram surgindo.
Na sociedade dos vedas, as castas correspondiam às seguintes definições:
• Bramanes: sacerdotes, que eram considerados quase como seres divinos;
• Kshátriyas: nobreza, os bem nascidos de famílias poderosas;
• Vaicyas: homens-livres, cujas principais ocupações eram a agricultura e o comércio;
• Sudras: escravos, que não constituíam exatamente de uma casta, pois eram tratados como 
seres inferiores.
Fora do sistema de castas, havia os párias ou dálits, os “intocáveis”, considerados 
impuros, “a poeira sob os pés de Brahma”, responsáveis pela realização das tarefas mais 
pesadas e degradantes.
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Com o passar do tempo, essas castas foram se tornando mais complexas e houve uma 
maior diferenciação, com destaque para a separação de alguns ofícios que também passaram 
a ganhar status de castas.
 
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Vídeo: o sistema de castas na Índia
http://mais.uol.com.br/view/87wy04aj5nh5/o-sistema-de-castas-da-india-os-
intocaveis--irenita-2011-04020C193172C8C11326
 
Sob o ponto de vista político, a Índia teve diferentes tipos de organização governamental, 
mas pode-se indicar um modelo geral a ser aplicado a todos. De forma geral, não se pode dizer 
que foi uma sociedade teocrática, mas também não se pode negar que a religiosidade sempre 
cumpriu um importante papel para a manutenção da ordem e do status quo. Basta lembrar 
que o modelo de castas continuou funcionando mesmo com a mudança de dominadores e de 
mandatários. Também sempre houve uma forte influência das famílias mais poderosas, como 
em uma aristocracia. De forma que sempre houve famílias com maior destaque; novamente o 
sistema de castas, que faz a diferenciação dos nobres, respalda essa afirmação. O modelo de 
governo, invariavelmente, era a monarquia, independentemente de quem fossem os mandatários 
e do momento histórico analisado no período compreendido como antiguidade.
A vida econômica
As atividades econômicas mais praticadas na Índia antiga estavam ligadas à agricultura, ao 
artesanato têxtil e ao comércio. Em relação à agricultura, havia predileção pela produção de uma 
série de cereais e também de legumes, que compunha os principais elementos da alimentação 
da população indiana. Havia também uma intensa prática do pastoreio e da criação de animais, 
os quais, no princípio da história da Índia, eram utilizados como alimento, mas, com o passar 
do tempo, muitos desses animais foram considerados sagrados e não mais consumidos. Apesar 
de relatos apontarem uma abundância de alimentos, a população daquela região sempre se 
viu com problemas de alimentação devido à falta de conhecimento sobre armazenamento, a 
questões climáticas e outros fatores de difícil enfrentamento naqueles tempos.
Desenvolvia-se, também, a produção de tecidos, a metalurgia e a marcenaria, cada qual 
contribuindo, à sua forma, para o desenvolvimento daquele período. Tanto a metalurgia (que 
se destacava na produção de cobre, bronze e ferro) quanto a marcenaria eram trabalhos 
mais voltados para o uso das populações locais; já a fabricação de tecidos era voltada para 
o comércio com os povos vizinhos. Interessante lembrar que o grande desenvolvimento na 
produção de tecidos é algo que não ficou apenas na antiguidade, pois a Índia sempre se 
destacou nesse tipo de produção. Outra característica importante do processo de produção é a 
sua organização. Na antiguidade, muitas organizações pareciam com as corporações de ofício 
europeias, com a diferença de que se tratava de algo hereditário, o que até é compreensível 
se pensarmos no sistema de castas.
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Unidade: A Índia antiga
Glossário
Corporações de ofício: associações 
de artesãos da Europa medieval.
O comércio era realizado com as nações 
vizinhas e até usando algumas rotas marítimas. 
Mas o mais importante a se destacar é o intenso 
intercâmbio cultural que era realizado através 
desse processo comercial.
Literatura na antiguidade indiana
A literatura foi um importante elemento para a história indiana. Sua tradição de contar grandes 
histórias levou à produção de textos que se tornaram registros históricos, uma vez que muitas 
das informações que nós temos sobre esse povo, nos dias de hoje, chegaram até nós através de 
textos literários. Assim, a importância desses textos vai além da literatura, pois eles se tornaram 
um importante elemento para a compreensão do próprio povo indiano da antiguidade. 
É possível observar um tipo de escrita que era utilizada por aquele povo já na época das cidades 
de Harappa e Mohenjo-Daro. Essa escrita, que pode ser tratada como escrita protoindiana, era 
baseada na representação de figuras humanas, partes do corpo, animais e outras representações. 
Até os dias de hoje, ainda não se obteve sucesso com algum tipo de tradução ou compreensão 
mais aprofundada dessa escrita.
Outra característica muito importante da civilização indiana e que influenciou bastante a sua 
literatura foi a tradição oral existente naquela sociedade. A princípio, as grandes histórias, tradições e 
costumes eram passados de geração para geração por meio de conversas. A memória foi o principal 
depósito de muitas tradições, durante muito tempo, para aqueles povos. De certa forma, a tradição 
oral existiu em muitos povos; não se trata de uma característica apenas dos povos da Índia.
Mas os primeiros relatos escritos sobre a história da Índia com os quais se teve contato são, 
justamente, os Vedas. Desses relatos foi retirada uma série de informações que permitiram um 
melhor conhecimento a respeito dos tempos mais antigos da vida daqueles povos. Os vedas, termo 
que significa saber, consistem em um conjunto de textos sagrados que incluem desde testemunhos 
até modelos de rituais religiosos. Os vedas podem ser divididos em 4 grandes conjuntos:
• Rig-Veda: são lendas antigas, cantos épicos; muito do que foi escrito pode ser interpretado 
como para fins religiosos. Grande fonte histórica.
• Sama-veda: não há muita inovação em relação ao Rig-Veda; apenas comenta-se mais 
sobre a importância dos sacrifícios para a religião de forma geral.
• Yajur-Veda: em sua maioria, são fórmulas litúrgicas para os sacerdotes; também discute-
se um pouco sobre a organização e divisão social.
• Atharva-Veda: trata-se de antigas superstições e crenças dos povos antigos. Em seus 
relatos, já há referências à supremacia dos brâmanes em relação a outros grupos sociais.
Outro conjunto de escritos importantes são os Brâmana, que constituem uma série de relatos 
redigidos em prosa, o que facilitou a interpretação e o entendimento de suas mensagens. É de 
grande valor histórico, uma vez que traz uma série informações sobre a sociedade indiana da época.
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Outros textos antigos que chegaram até os dias atuais e possibilitaram uma maior compreensão 
da sociedade indiana foram os Aranyakas e Upanixadas, que podem ser entendidos como 
reflexões dos sábios. O primeiro, que pode ser traduzido como reflexões feitas nas florestas, 
fala sobre um estilo de vida mais isolado e as virtudes desse tipo de vivência. Já o segundo, 
conhecido como ensinamentosecreto, são especulações feitas sobre aspectos religiosos, mas 
por pessoas que não eram sacerdotes. 
Além desses, outro conjunto de relatos que se destacam é composto pelos Sutras, que podem 
ser definidos como um conjunto de modelos e regras, como uma coleção de preceitos, para os 
mais variados assuntos: religião, sacrifícios, vida doméstica, etc.
Como pode ser visto, a maioria da produção literária e dos textos que se mantiveram no 
tempo são relativos à religião e à formação da cultura indiana. Mas também havia outros textos. 
Em relação à poesia épica, pode-se destacar os textos de Maabárata, Ramáiana e os Puranos. 
Em relação ao drama, há dois textos bastante populares que vêm desde a antiguidade: o 
Mrcchakática e o Abhijinana-Xacúntala. 
Ainda existe um conjunto de textos, não necessariamente literários, mas que se referem 
a algum tipo de código de leis, que ficou conhecido como Código de Manu (trata-se de um 
personagem lendário para quem as leis foram entregues). Esse conjunto de leis, que abrange 
desde o século II a.C. até o II d.C., pode ser considerado um interessante tratado sobre 
a ordem naquela época. Destaca-se o fato de que os brâmanes já eram colocados como 
superiores a todas as criaturas também nesses textos. Assim, percebe-se que a construção da 
superioridade desse grupo social não se deu somente no campo religioso e é, sempre que 
possível, novamente reforçada.
Religiosidade na Índia Antiga
Um dos temas mais complexos a serem tratados sobre a Índia antiga e, de certa forma, 
também sobre a atual é a religiosidade. São várias religiões e uma imensa pluralidade 
cultural, o que dificulta uma compreensão global de toda essa complexidade. A melhor 
definição para a Índia nessa questão seria o caos, que tentaremos simplificar para um 
melhor entendimento do tema. 
Um traço muito importante da característica religiosa indiana é que os povos de lá 
conservavam os elementos em vez de assimilá-los. Assim, em vez de um processo de mistura 
e de criação de novas identidades e religiosidades, o que se pode perceber é a criação de 
uma série de camadas e a agregação de novos elementos que passariam a fazer parte da 
realidade daqueles povos.
Sobre a religiosidade nas cidades de Harappa e Mohenjo-Daro, que também pode ser tratada 
como uma religião protoindiana, não há muitas informações. Sabe-se, apenas, que não havia 
templos e observa-se a existência da religiosidade muito mais por meio de pequenos detalhes do 
que, especificamente, através de grandes estruturas. Assim, percebe-se certo culto aos animais 
e a outros símbolos.
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Unidade: A Índia antiga
A primeira religião a ser abordada por nós é o vedismo, prática religiosa que antecedeu o 
bramanismo e que continha muitas características que foram incorporadas por outras religiões; 
seria como um processo de evolução dessas religiosidades. O culto consistia na veneração a uma 
série de deuses que eram cultuados sempre em troca de alguma coisa. Assim, havia rituais e 
sacrifícios para um determinado deus em troca de boa colheita ou de um clima mais agradável; 
enfim, era como um processo de troca: a dádiva em troca do culto. Sendo assim, a prática dos 
sacrifícios e das oferendas foi constituindo o centro dessa religiosidade, e elas mudavam de acordo 
com as dádivas esperadas. Logo, podia-se oferecer desde leite até o cavalo de batalha dos reis, 
considerado uma das maiores oferendas. Com as práticas dos rituais de sacrifício, os sacerdotes 
passaram a ter cada vez mais importância, uma vez que eram eles que coordenavam essas ações, 
tornando-se, assim, o elemento central dessas religiões, o que já era um traço do bramanismo.
 Os principais deuses eram: Varuna, o rei do universo, dos deuses e dos homens; Agni, deus 
do fogo, aquele que aquece, cozinha e realiza os sacrifícios e que seria o mais próximo dos 
homens; Indra, deus guerreiro, que também se responsabilizaria pela fecundidade e pela chuva. 
Havia uma grande variedade de deuses dentro dessa prática religiosa.
O bramanismo pode ser considerado a principal religião daquele povo naquela época pelo 
fato de ter claras repercussões sociais, tal como a divisão da sociedade em castas e da formação 
de uma ordem geral e também pelo fato de que ele inspirou muitas outras religiões. Seria como 
uma matriz que auxiliou a criação e proliferação de outras formas de práticas religiosas. O nome 
bramanismo deve-se ao que ficou conhecido como Brama ou espírito universal. Trata-se de um 
nome de difícil conceituação, mas, basicamente, traduz-se na essência de todo o universo, como 
um espírito universal que estaria em toda a realidade. E o princípio básico do bramanismo é que 
todos deveriam retornar ao Brama e fazerem-se unos novamente.
Logo, o grande desafio das pessoas que acreditam e professam o bramanismo é a superação 
do samsara, que seria como um castigo do espírito (parte desgarrada do Brama). Todos os 
espíritos estariam presos em um eterno ciclo de nascimento e morte, condenados a sempre 
voltar para a realidade e nunca para o Brama. Assim, através de um processo de evolução do 
espírito, que pode levar várias reencarnações, deve-se superar esse ciclo, o samsara, e voltar para 
o Brama. A forma como se estabeleceria a evolução ou não do espírito é o que ficou conhecida 
como Karma, que seria uma soma dos méritos e deméritos que aquele espírito carregaria em 
suas vidas. Logo, de acordo com o Karma, um determinado espírito pode reencarnar em uma 
casta superior ou inferior à da sua vida passada. Trata-se de um longo processo de evolução. O 
bramanismo passou a ter um caráter mais elitista como a religião dos grandes brâmanes, daí a 
criação do hinduísmo.
O hinduísmo é uma religião que tem no bramanismo a sua principal fonte de influência. 
Aliás, pode-se dizer que o hinduísmo é um tipo de religião mais simples e popular do que o 
bramanismo, mas que mantém os mesmos princípios básicos dele: a questão da liberdade do 
espírito e da volta para o princípio universal do mundo. O destaque maior do hinduísmo são as 
suas divindades principais: Shiva e Vixnu. Aliás, pode-se dizer que há um culto maior em torno 
dessas duas divindades, uma vez que há uma ala que cultua mais Shiva e outra que tem no 
culto a Vixnu a sua principal referência. 
No culto a Shiva - que tem uma representação humana, mas com quatro braços - acredita-se 
na alma como distinta da matéria, como uma energia divina que seria operada pelo meio. Da 
mesma forma, acredita-se que se deve preservar e evoluir a alma. 
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Já, nas duas representações comuns de Vixnu, ele aparece flutuando sobre ondas, em cima 
das costas de um deus-serpente, ou flutuando sobre as ondas com seus quatro braços. Uma 
característica interessante do culto a Vixnu é que ele teria 10 avatares, o que facilitaria, e muito, 
a identificação das pessoas com essa divindade, uma vez que cada um de seus avatares seria 
uma representação de um deus menor. Ou seja, era um deus que poderia ser representado sob 
10 facetas diferentes. Uma curiosidade é que o Buda seria uma dessas dez facetas. 
Ainda no hinduísmo, há personificação do que ficou chamado da tríade dessa religião, o 
Trimurti, que seria a manifestação dos três principais deuses do hinduísmo: Brama, Vixnu e 
Shiva. Cada qual representaria uma parte essencial da criação: Brama seria o princípio criador; 
Shiva, o destruidor (há a necessidade de destruição para a renovação; assim, não se trata de 
uma característica negativa); e Vixnu, o conservador. Desse modo, a união dos três garantiria o 
equilíbrio em toda a sociedade.
Outra religião da Índia antiga, mas que já não tem força é o jainismo, que seria influenciado 
pelo bramanismo, mas justamente o criticava pela sua imposição de modelos. O jainismo era 
muito mais uma doutrina com modelos de como levar uma vida mais pura do que especificamente 
uma grande religião. Assim, as principais prédicas eram não matar, não roubar, dizer somente a 
verdade, guardar a castidade. Também previa a total abstenção de qualquer tipode propriedade 
pessoal e a proibição de prejudicar qualquer forma de vida. Como símbolos, tinham a vassoura, 
o coador e o véu, que representavam o não pisar, não engolir ou respirar nada vivo.
Por último, temos uma prática que permanece relativamente forte até os dias de hoje: o 
budismo, que representa uma grande busca pela pureza do espírito. O budismo nasceu de 
uma revolta contra os brâmanes e como uma possibilidade de libertar a humanidade da dor. 
O grande objetivo seria atingir o nirvana, que seria um estado de pureza total, em que os 
elementos terrenos não mais atrapalhariam ou seduziriam a pessoa. Não há uma divindade 
específica, a não ser o próprio Buda; é uma grande busca para se atingir esse modo de vida 
ideal. Uma frase que define bem o budismo é a seguinte: “Para matar o sofrimento, matar em si 
o desejo e o sofrimento” (GIORDANI, p. 321).
 
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Documentário: a vida de Buda - http://www.youtube.com/watch?v=0ZE67-_g1rE
Documentário produzido pela BBC de Londres e pelo canal Discovery Channel sobre 
a vida e o legado de Sidarta Gautama, o Buda.
http://www.youtube.com/watch?v=0ZE67-_g1rE
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Unidade: A Índia antiga
Material Complementar
O pequeno Buda
Filme que narra a saga de dois monges budistas nepaleses nos Estados 
Unidos em busca daquele que pode ser a próxima encarnação do 
Buda, tornando-se o próximo Dalai Lama. O filme narra também a 
história de Buda em belíssimas imagens.
Kundun
Filme dirigido por Martin Scorsese, Kundun conta a história de Tenzin 
Gyatso, o 14ª Dalai Lama, líder espiritual e político do Tibet.
Miramax Films, 1993.
Touchstone Pictures, 1997.
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Referências
AYMARD, André & AUBOYER, Jeannine. História Geral das civilizações: o oriente e a 
Grécia antiga. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972
COURTILLIER, Gaston. As antigas civilizações da Índia. Rio de Janeiro: Edições Ferni, 
1978.
GIORDANI, Mário Curtis. História da Antiguidade Oriental. Petrópolis: Vozes, 1969.
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Unidade: A Índia antiga
Anotações
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