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AN02FREV001/REV 4.0 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FIBROMIALGIA Aluno: EaD - Educação a DistânciaPortal Educação AN02FREV001/REV 4.0 CURSO DE FIBROMIALGIA MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada.É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nasReferências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 30 MÓDULO II 5 DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DA FIBROMIALGIA Dor crônica e fadiga estão presentes em muitas enfermidades reumáticas e não reumáticas essas condições médicas devem ser inicialmente consideradas, no diagnóstico diferencial da fibromialgia. Certas doenças como artrite reumatoide, o lúpus eritematoso sistêmico, a síndrome de Sjogren ou as espondiloartropatias podem apresentar inicialmente dor difusa e fadiga (ALAMBERT, 2003, apud GAZIRE, 2005). Outras patologias que devem ser consideradas para o diagnóstico diferencial da fibromialgia são:polimialgia reumática, hipotireoidismo, as neuropatias periféricas e as doenças neurológicas (MOREIRA, 1992, apud GAZIRE, 2005). A fibromialgia e a síndrome miofascial geralmente não são claramente definidas na literatura, mas são agora reconhecidas como duas entidades diferentes (MIKKELSON, 1999, apud GAZIRE, 2005). O Tratamento da fibromialgia não é específico e esta é raramente curada. A síndrome miofascial corresponde bem à terapia específica local e é curada (GABRIEL, 2001, apud GAZIRE, 2005). FIGURA 12 FONTE: Tajra (2009). AN02FREV001/REV 4.0 31 5.1 SÍNDROME DA FADIGA CRÔNICA E FIBROMIALGIA Ambas são desordens crônicas, sem causa conhecida, sem terapia altamente efetiva e com característica clínicas e demográficas semelhantes. Estudos de anormalidades fisiopatológicas potenciais tem sido semelhantes, inclusive estudos de função muscular e imune, sono, tanto quanto alterações neuro- hormonais (CHAITOW, 2002). A fadiga extrema experimentada em pacientes com fibromialgia e síndrome da fadiga crônica não é uma resposta normal à atividade que logo se esvai.Afadiga e a dor muscular sentidas por essas pessoas depois de atividade moderada, com frequência aumenta,pode durar vários dias após a atividade, apesar do repouso. A fadiga crônica é o sintoma principal da maioria das pessoas com fibromialgia e não é fácil distinguir entre as pessoas com SFC e SFM, exceto pelo fato de que, na primeira, o elemento da fadiga é provavelmente o mais dominante entre os sintomas, enquanto as pessoas candidatas a terem SFM têm a dor muscular como o seu sintoma principal. Ambos os grupos de pacientes sofrem perturbações de sono, fadiga e são sensíveis a mudanças no tempo, e a dor muscular é uma característica comum a ambos (CHAITOW, 2002). AN02FREV001/REV 4.0 32 TABELA 2 - SEMELHANÇAS ENTRE SÍNDROME DE FIBROMIALGIAE SÍNDROME DA FADIGA CRÔNICA SFM SFC Idade Adulto jovem Adulto jovem Sexo Feminino Feminino Prevalência Comum Comum Causa Não conhecida Não conhecida Crônico Sim Sim Estudos de Laboratório Normal Normal Descobertas patológicas Nenhum Nenhum Incapacitado Sim Sim FONTE: Tajra (2011). 5.2 PROGNÓSTICO O prognóstico da Fibromialgia depende de cada paciente (MALYAK, 2001, apud ZANINI, 2004). Segundo Bennett (1993, apud ZANINI, 2004), 50% das pessoas com diagnóstico confirmado melhoram após as intervenções disponíveis, e cerca de 25% dos casos têm remissão completa e um adicional de 25% melhoram substancialmente após a terapia convencional. Conforme Wolfeet al. (1990, apud ZANINI, 2004), o prognóstico a longo prazo com a tomada das medidas terapêuticas adequadas costuma ser bom, mas remissão completa e permanente é rara.A maioria das provas aponta para o fato de que pacientes com fibromialgia a terão por um longo período, e possivelmente por toda vida. Ainda não se tem a cura para essa patologia, apenas a administração dos sintomas (CHAITOW, 2002, apud ZANINI, 2004). AN02FREV001/REV 4.0 33 6 IDENTIFICANDO A FIBROMIALGIA Apesar de um grande número de tender points ter sido descrito por vários autores, somente aqueles definidos pelos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia que, para tentar uniformizar a população de pacientes, foram testados e validados em 1991 e definidos para os critérios diagnósticos e classificação da fibromialgia (WOLFE et al., 1990, apud ZANINI, 2004): a) dor difusa pelo corpo – entendida como acima e abaixo da cintura, à esquerda e àdireita além de dor no esqueleto axial; b) dor à palpação de, pelo menos, onze dos dezoito pontos dolorosos. Ambos os critérios devem estar presentes por, pelo menos, três meses; sendo que a coexistência de outra patologia não altera o diagnóstico da fibromialgia WOLFE et al., 1990, apud ZANINI, 2004). Apesar dos critérios terem sido desenvolvidos com finalidade de classificação, têm sido cada vez mais empregados com propósitos diagnósticos pela grande maioria dos reumatologistas (ANTÔNIO, 2001, apud ZANINI, 2004). Um conjunto de sintomas acompanhante não específico ocorre com frequência suficientemente grande para permitir sua utilização no auxílio diagnóstico desta síndrome. Os sintomas mais comumente relatados são a rigidez matinal, fadiga e distúrbios do sono, ocorrendo em mais de 75% dos casos (YUNUS et al., 1981, apud ZANINI, 2004). Os distúrbios do sono geralmente se apresentam sob a forma de sono não restaurador, sendo que o paciente acorda sentindo-se cansado, como se não houvesse dormido por uma noite inteira (ANTÔNIO, 2001, CHAITOW, 2002, apud ZANINI, 2004). Tais alterações não são específicas da fibromialgia, podendo ocorrer em outras doenças reumatológicas, mais notadamente na artrite reumatoide, sendo, porém, de frequência mais baixa quando comparados a fibromialgia. Algumas outras queixas também aparecem mais comumente em pacientes com fibromialgia, porém não com frequência suficiente para que possam ser considerados como essenciais para o diagnóstico. Fibromialgia primária e secundária, ou concomitante a outra doença, se apresentam de modo indistinguível. AN02FREV001/REV 4.0 34 Portanto, os critérios propostos devem ser utilizados sem distinção tanto para a fibromialgia primária quanto para a fibromialgia secundária. 7 FIBROMIALGIA JUVENIL A fibromialgia é uma síndrome crônica caracterizada por queixa dolorosa musculoesquelética difusa e pela presença de pontos dolorosos em regiões anatomicamente determinadas. Outras manifestações que podem acompanhar o quadro são fadiga crônica, distúrbio do sono, rigidez muscular, parestesias, cefaleia, síndrome do cólon irritável, fenômeno de Raynaud, assim como a presença de distúrbios psicológicos como ansiedade e depressão. As dores musculoesqueléticas na infância e adolescência constituem uma entidade complexa, com múltiplas etiologias. Acometem 4,2 a 15,5% das crianças (NAISH, 1951, apud ROIZENBLATT, 1997) e correspondem a 7% dos casos atendidos no ambulatório de pediatria geral, frequência esta semelhante à verificada para as dores abdominais recorrentes e cefaleia (HUSSEIN, 1990, apud ROIZENBLATT, 1997). Nos serviços de reumatologia pediátrica 26% dos casos atendidos são referentes a dores musculares (ROSENBERG, 1990, apud ROIZENBLATT, 1997).O diagnóstico de fibromialgia é possível de ser feito em 55 a 88% das crianças que apresentem dores musculoesqueléticas difusas (YUNUS, 1985, apud ROIZENBLATT, 1997). As manifestações dolorosas, de forma geral, podemapresentar um padrão de distribuição familiar. Em 1989, foi descrito um padrão hereditário autossômico dominante com predomínio do sexo feminino, em dezessete pacientes fibromiálgicose suas famílias. Nessa casuística de cinquenta indivíduos com idades entre seis e 67 anos, 52% deles preenchiam os critérios diagnósticos para fibromialgia adotados na época. Foi observado ainda que 12% dos adultos apresentavam filhos sintomáticos e 25% das crianças, pais sintomáticos. Esses dados foram confirmados por outros estudos; a probabilidade de uma criança com AN02FREV001/REV 4.0 35 diagnóstico confirmado de fibromialgia apresentar mãe fibromiálgica é de 71% (ROIZENBLATT, 1997). FIGURA 14 FONTE: Disponível em: <http://www.luzimarteixeira.com.br/2009/09/fibromialgia-juvenil/>. Acesso em: 9 jun. 2011. 7.1 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA FIBROMIALGIA JUVENIL As manifestações da fibromialgia tendem a ter início insidioso na vida adulta; no entanto, 25% dos casos podem apresentar os sintomas dolorosos desde a infância (YUNUS, 1981, apud ROIZENBLATT, 1997). A fibromialgia na forma juvenil tem seu diagnóstico dificultado pela natureza subjetiva das queixas; no entanto, seu reconhecimento é importante em função da abrangência dos fatores envolvidos, do ponto de vista clínico e psicossocial (YUNUS, 1985, apud ROIZENBLATT, 1997). Em 1958, foram descritos os primeiros casos de dores miofasciais em 62 pacientes com idades entre três e dezoito anos, nos quais o quadro clínico esteve associado a processos infecciosos ou traumáticos (BATES, 1958, apud ROIZENBLATT, 1997). AN02FREV001/REV 4.0 36 Até a década de 1980,foram consideradas sob a denominação de reumatismo extra-articular da infância condições clínicas como fibromialgia juvenil, hipermobilidade articular, tenossinovites e distrofia simpática reflexa. Dentre os fatores estressantes que se associam à fibromialgia, destacam-se separação familiar, história de abuso sexual ou dificuldade de aprendizado. Além disso, observa-se em adolescentes fibromiálgicos exacerbada atividade do sistema nervoso simpático, influenciando a resposta cardiovascular e neurovegetativa a diversos estímulos.Os estudos consideraram como critérios menores a ansiedade, fadiga, sono precário, cefaleia crônica, cólon irritável, edema subjetivo de partes moles, amortecimento de extremidades, fatores agravantes para a dor, tais como a atividade física, temperatura e ansiedade. A pesquisa dos pontos dolorosos à digitopressão foi realizada empregando-se menor pressão que a utilizada em adultos. Obtiveram no grupo com fibromialgia decinco a 31 pontos (média de 13 pontos). Baseando-se nos critérios atualmente aceitos, os estudos sobre fibromialgia juvenil indicam a positividade de doze a dezessete pontos (ROIZENBLATT, 1997). As crianças apresentam redução no limiar de dor não só nos pontos padronizados como também nos pontos controles. Os pontos dolorosos mais frequentes são os pontos occipitais, trapézios, cervicais e joelhos e o limiar médio é significantemente menor que os adultos com fibromialgia. 7.2 DISTÚRBIOS DO SONO NA FIBROMIALGIA JUVENIL Queixas relacionadas com distúrbios do sono ocorrem em 62 a 75% dos pacientes com fibromialgia, em comparação com 9% dos indivíduos saudáveis e até 38% nas artrites crônicas (WOLFE, 1990, apud ROIZENBLATT, 1997). Na população pediátrica, 67 a 73% das crianças fibromiálgicas referem dormir mal e 100% referem fadiga ao despertar, indicando padrão de sono não restaurador (YUNUS, 1985, apud ROIZENBLATT, 1997). Crianças com fibromialgia apresentam maior quantidade de despertares breves, redução do sono REM e aumento do sono de ondas lentas. AN02FREV001/REV 4.0 37 FIGURA 15 FONTE: Disponível em: <http://dicasdocatimba.blogspot.com/2009_01_15_archive.html>. Acesso em: 9 jun. 2011. Após infecção viral, crianças que evoluíram com manifestações fibromiálgicas apresentam maior quantidade de movimentos de pernas e mais importante queixa de fadiga ao despertar (MOLDOFSKY, 1993, apud ROIZENBLATT, 1997). Em estudo controlado, de crianças e mães fibromiálgicas, ambos os grupos apresentam menor eficiência do sono e maior número de despertares breves que na população-controle. As crianças fibromiálgicas apresentam também aumento de intrusão de ondas rápidas no sono de ondas lentas. A intrusão de ondas alfa nos estágios três e quatro do sono relaciona-se com queixa de sono não restaurador e tem repercussão clínica sobre as manifestações fibromiálgicas, correlacionando-se com o número de pontos dolorosos adigitopressão e com o limiar médio de dor tanto em adultos como em crianças (ROIZENBLATT, 1997). Pode-se concluir que a fibromialgia juvenil apresenta semelhanças em relação à forma adulta quanto às queixas clínicas e distribuição dos pontos dolorosos. Existe uma tendência para a agregação familiar das manifestações dolorosas crônicas; muitos pacientes com fibromialgia referem queixas dolorosas AN02FREV001/REV 4.0 38 desde a infância. O limiar médio de dor nos tender points em crianças com fibromialgia é maior que o observado, por exemplo, em mães fibromiálgicas. Ressalta-se ainda que as crianças fibromiálgicas também apresentam diminuição do limiar de dor nos pontos-controles. Quanto às queixas do sono, nas crianças estes são menos proeminentes que nos adultos fibromiálgicos; o índice alfa-delta no sono de ondas lentas apresenta-se aumentado também na população pediátrica. Esse índice apresenta correlação com as manifestações clínicas da fibromialgia tanto na forma juvenil como na do adulto. Devem ser lembrados ainda os distúrbios psicológicos que, embora frequentes na fibromialgia, não constituem um fator causal dessa condição dolorosa crônica. 8 O TERRITÓRIO MUSCULOESQUELÉTICO DA FIBROMIALGIA Nas condições dolorosas crônicas musculoesqueléticas, a investigação de possíveis alterações estruturais e funcionais das fibras musculares data do início do séculoXX. Em pesquisas realizadas com microscopia óptica e eletrônica, foram descritas alterações indicando edema focal, atrofia das fibras musculares tipo II e variações nos conteúdos de lipídios e glicogênio, além de alterações mitocondriais em pontos dolorosos de pacientes com fibromialgia. FIGURA 16 FONTE: Disponível em: <http://vanessa-ps.blogspot.com/2010/09/contracao-muscular.html>. Acesso em: 9 jun. 2011. http://vanessa-ps.blogspot.com/2010/09/contracao-muscular.html� AN02FREV001/REV 4.0 39 Em estudo controlado da pressão de oxigênio nos músculos trapézio e braquiorradial, observou-se que pacientes com fibromialgia apresentavam deficiência na oxigenação tecidual no local dos pontos dolorosos (LUND et al., 1986 (apud MINHOTO, 1999, apud ZANINI, 2004). Distúrbios metabólicos decorrentes da insuficiência de oxigenação dos tecidos musculares e conjuntivo levariam à redução no potencial energético do tecido muscular (BENGTSSON et al., 1986, apud ZANINI, 2004), o que poderia explicar a fadiga diante de esforços físicos na fibromialgia. Assim, a fadiga seria em razão da menor capacidade de esforço, decorrente do fato de as fibras musculares estarem submetidas à hipóxia, acarretando espasmos musculares, dificuldade de relaxamento das fibras e dor (BENGTSSON & HENRIKSSON, 1989, apud ZANINI, 2004). No entanto, não foram observadas alterações ao exame eletromiográfico como perda de unidades motoras, degeneração de fibras ou aumento da atividade elétrica, que seriam relacionadas ao aumento do tônus muscular (ZIDAR et al., 1990, apud ZANINI, 2004). As investigações, portanto, não comprovam a participação de alterações metabólicas ou circulatórias das fibras musculares como um fator biofisiológico ligado às manifestações dolorosas musculoesqueléticas presentes na fibromialgia. 8.1 MECANISMOS NEUROFISIOLÓGICOSFibras mielínicas primárias aferentes (A-beta, ou grupo dois) transmitem informações sensitivas normais de toque ou leve pressão a vias excitatórias da medula espinhal, que são processadas no cérebro. A estimulação dos receptores nociceptivos presentes na pele e músculos resulta em potenciais de ação que são conduzidos para o corno posterior da medula espinhal, por fibras tipo amielínicas C e mielínicas A-delta. No corno posterior da medula, localizam-se circuitos de comporta, onde ocorre o primeiro processamento das informações veiculadas pelos potenciais de ação provenientes da ativação dos nociceptores (MINHOTO, 1999, apud ZANINI, 2004). AN02FREV001/REV 4.0 40 Após esse processamento, as informações resultantes são transmitidas ao tálamo utilizando-se, em especial, as vias espinotalâmicas ascendentes com relés na formação reticular ativadora ascendente. Nesses centros (formação reticular ascendente e tálamo) ocorre um novo processamento das informações. Essas informações resultantes são enviadas ao córtex somatossensorial e ao sistema límbico (giro do cíngulo e hipotálamo) dando origem à percepção consciente de dor e aos sintomas característicos a ela associados. As informações que atingem os centros hipotalâmicos são responsáveis pela ativação do contingente simpático do sistema nervoso autônomo, resultando em hiper-reatividade neurovegetativa simpática (MINHOTO, 1999, apud ZANINI, 2004). FIGURA 17 FONTE: Disponível em: <http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/dor/o_que_eh_dor.htm>. Acesso em: 9 jun. 2011. http://www.qmc.ufsc.br/qmcweb/artigos/dor/o_que_eh_dor.htm� AN02FREV001/REV 4.0 41 8.2 DISFUNÇÃO AUTONÔMICA O sistema nervoso autônomo é dividido em simpático e parassimpático. Esse sistema é responsável pela regulação do tônus muscular e vascular, o qual, por sua vez, afetará o pulso (frequência cardíaca), a pressão arterial, as funções do intestino e da bexiga urinária. A atividade adrenérgica central e periférica, que está aumentada na fibromialgia, é potencializada por estímulos ambientais e comportamentais (TRAVELL & SIMONS, 1983, apud ZANINI, 2004). Em estudos com radioisótopos, detectou-se redução do fluxo sanguíneo nos tecidos muscular e conjuntivo (BENNETT et al. 1989, apud MINHOTO, 1999, apud ZANINI, 2004, p.16).O espasmo vascular decorrente da estimulação adrenérgica (simpática) parece ser um fator importante na fibromialgia, tendo sido descrita a melhora da sintomatologia após o bloqueio simpático regional em locais de dor (BENGTSSON & HENRIKSSON, 1989, apud ZANINI, 2004). Pacientes de fibromialgia apresentam com maior frequência o fenômeno de Raynaud e maior sensibilidade ao frio, o que poderia ser explicado pela elevação do nível de receptores alfa-2 adrenérgicos observados na superfície das plaquetas, à semelhança do que é descrito na síndrome de Raynaud primária e no transtorno depressivo (BENNETT et al., 1992 apud MINHOTO, 1999, apud ZANINI, 2004).Vasoespasmo cutâneo e muscular estão presentes em pacientes com fibromialgia submetidos a condições de estresse ambiental, comportamental ou ao exercício físico. AN02FREV001/REV 4.0 42 FIGURA 18 - VASOESPASMO FONTE: Disponível em: <http://www.afh.bio.br/cardio/cardio4.asp>. Acesso em: 9 jun. 2011. Alterações presentes na microcirculaçãosão fatores predisponentes à geração e manutenção da dor presente na fibromialgia(BENNETT et al., 1992 apud MINHOTO, 1999, apud ZANINI, 2004). Esses pacientes, quando submetidos a condições de microtrauma em musculatura esquelética ou a distúrbios do sono, apresentaram resposta dolorosa musculoesquelética persistente, fadiga e inatividade física. Essa sintomatologia acarreta o descondicionamento muscular o que aumenta a propensão do paciente a microtraumas e a potencialização dos distúrbios biomecânicos acima mencionados. Essas alterações podem ser, em parte, definidas geneticamente. Além disso, diante de estímulos dolorosos, existem evidências de aumento da atividade neurogênica e excesso de liberação de histamina na pele e músculo de pacientes com fibromialgia, em comparação com indivíduos normais (GOLDENBERG, 1987, apud ZANINI, 2004). As neurocininas relacionadas com a condução de estímulos dolorosos que coexistem em fibras aferentes tipo C são a substância P, a neurocinina A e osaminoácidos excitatórios (glutamina e aspartato). Os aminoácidos excitatórios estão diminuídos no liquor dos pacientes com fibromialgia (RUSSEL et al., 1992, apud ZANINI, 2004). Fibras tipo C são ativadas por estímulos nocivos, promovendo a liberação de aminoácidos como o ácido aspártico, que ativam os receptores NMDA, produzindo AN02FREV001/REV 4.0 43 dor. A quetamina, um antagonista não competitivo dos receptores NMDA, diminui a dor em pacientes com fibromialgia de forma mais potente que a lidocaína ou os opioides (SORENSEN et al., 1995, apud ZANINI, 2004). Além das neurocininas, outras substâncias inflamatórias e mediadores importantes para a dor incluem: prostaglandinas E2, D2 e I2, que ativam fibras sensoriais A-delta e C; bradicininas, que ativam grupo três (A -delta) e quatro (fibras C). Por outro lado, a atividade simpática também pode atuar estimulando as fibras sensoriais e, em contrapartida, a dor pode ser diminuída por opioides centrais e periféricos(SORENSEN et al., 1995, apud ZANINI, 2004). A substância P é um neuropeptídeo encontrado em elevadas concentrações nas lâminas um e dois dos cornos dorsais da medula espinhal. A ativação dos receptores mecânicos libera substância P e a dos receptores térmicos, somatostatina. Na fibromialgia a substância P apresenta-se em níveis elevados no liquor (RUSSEL et al., 1995, apud ZANINI, 2004),assim como no corno dorsal da medula. FIGURA 19 - SUBSTÂNCIA P FONTE: Disponível em: <http://www.lookfordiagnosis.com>. Acesso em: 9 jun. 2011. Tendo em vista que os opioides inibem a substância P e esta é degradada por endopeptases, como a enzima de conversão de angiotensina, a substância P pode estar artificialmente aumentada no sistema nervoso central, onde as endopeptases não estão presentes (WALLACE, 1997, apud ZANINI, 2004). Segundo Russel(1995, apud ZANINI, 2004), a deficiência relativa da serotonina AN02FREV001/REV 4.0 44 pode acarretar depressão, distúrbios do sono e amplificação da dor presentes nessa entidade. Quando ocorre diminuição da serotonina, observa-se redução do sono de ondas lentas e aumento das queixas dolorosas, psicossomáticas e depressivas (RUSSEL, 1995, apud ZANINI, 2004, p.19). Além disso, a redução dos níveis de serotonina na musculatura lisa pode estar relacionada com o aumento da prevalência na fibromialgia, de manifestações semelhantes às da síndrome de Raynaud e da síndrome do cólon irritável (JACOBSEN etal., 1990, apud ZANINI, 2004). O triptofano é o precursor da serotonina, a qual está envolvida nos mecanismos neurais que originam o estágio quatro do sono, assim como nos mecanismos moduladores da dor que são executados pelas fibras dos tratos descendentes, relacionados com os circuitos processadores das informações (JACOBSEN et al., 1990, apud ZANINI, 2004). Em sua maior parte, o L-triptofano é metabolizado em 5-hidroxitroptofano e este, em serotonina, que é excretada na urina sob a forma de ácido 5-hidroxindol acético. Otriptofano, entre outros nove aminoácidos, apresenta sua concentração reduzida na fibromialgia. A deficiência da serotonina também pode ser detectada em outras condições dolorosas crônicas como na osteoartrose (WALLACE, 1997, apud ZANINI, 2004). Os níveis de endorfinas e encefalinas estão normais tanto no liquor como no soro na fibromialgia. Entretanto, os opioides interagem com a serotonina acarretando diminuição na percepção de dor. A administração de opioidesepidurais aumenta o limiarde dor (BENGTSSON et al., 1986, apud ZANINI, 2004). Sugere-se que um dos mecanismos pelos quais os antidepressivos tricíclicos diminuem a sensação de dor seria sua atuação promovendo a liberação de endorfinas (WALLACE, 1997, apud ZANINI, 2004). AN02FREV001/REV 4.0 45 8.3 ALTERAÇÕES NO SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO Anormalidades Bioquímicas: Pacientes com fibromialgia apresentam baixas concentrações de Trifosfato de Adenosina (ATP), Difosfato de Adenosina (ADP) e Fosfato de Creatinina que regulam o fluxo de cálcio responsável pela habilidade de contração e relaxamento muscular. Se os níveis do ATP forem baixos, o cálcio não será introduzido na célula e o músculo permanecerá contraído. Anormalidades Estruturais e do Fluxo Sanguíneo: Alguns pesquisadores observaram minúsculos vasos sanguíneos nos músculos dos pacientes com fibromialgia, que poderiam reduzir o fluxo de sangue rico em oxigênio nestes tecidos, causando fadiga e falta de tônus. Anormalidades Funcionais: Microtraumas musculares causados por hipóxia ou isquemia, a dor e o estresse da SFM, poderiam danificar a função muscular. AN02FREV001/REV 4.0 46 FIGURA 20 FONTE: Disponível em: <http://adoratual.wordpress.com/2009/04/>. Acesso em: 9 jun. 2011. Estruturas neutras podem tornar-se hiper-reativas tanto em tecidos espinhais quanto paraespinhais ou em quase qualquer outro tecido mole. Quando são encontradas próximas à coluna, são conhecidas como áreas de facilitação segmentares. Quando ocorrem em ligamentos, tendões ou tecidos periostais, são chamadas pontos-gatilho; se situadas em músculos ou fáscias, são denominadas pontos-gatilho miofasciais. A excitação emocional também é capaz de afetar a suscetibilidade dos caminhos neurais para a sensibilização. O aumento de influências derivadas de uma pessoa emocionalmente excitada resultaria no aumento nas excitações tóxicas sobre as vias neurais e permitiria que impulsos adicionais produzam sensibilização em intensidades menores. Isto implica que pessoas emotivas, ou aquelas em situação de excitação emocional, apresentariam uma alta incidência de facilitação das vias neurais ou áreas localizadas de tensão miofascial. Isso tem uma relevância particular para a fibromialgia, na qual uma excitação aumentada, em acréscimo a possíveis disfunções do sistema límbico, leva a maiores influências provenientes dos centros cerebrais mais altos. Uma vez que os centros cerebrais mais altos influenciam os níveis tônicos das vias espinhais, deve-se esperar também que o treinamento físico e as atitudes mentais possam tender a alterar a excitabilidade tônica, reduzindo a suscetlbilidade da pessoa à sensibilização do estresse diário. AN02FREV001/REV 4.0 47 Além dos tecidos paraespinhais, onde se manifesta a facilitação segmental, podem ocorrer áreas localizadas de facilitação neural em quase todos os tecidos moles: estes são chamados pontos-gatilho miofasciais.A implicação para o paciente com fibromialgia é a possibilidade de que sua dor tenha como parte de sua composição o envolvimento de pontos-gatilho miofasciais, que são em si áreas de facilitação. Como tais, estas, e portanto as dores (formigamento, entorpecimento, etc) que produzem, serão aumentadas por todas as formas de estresse que influenciam aquele paciente. Entretanto, pontos-gatilho miofasciais não são a causa da fibromialgia, e a síndrome da dor miofascial não é SFM, ainda que elas possam estar presentes ao mesmo tempo em uma pessoa. Não há dúvidas de que os pontos-gatilho miofasciais contribuem para o aspecto doloroso da SFM e, como tais, são merecedores de atenção. FIGURA 21 FONTE: Disponível em: <http://conhecasuacoluna.blogspot.com/09/06/11>. Acesso em: 9 jun. 2011. AN02FREV001/REV 4.0 48 FIGURA 22 FONTE: SIMONS, D; JANET, G; TRAVELL, J. (2000). FIM DO MÓDULO II
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