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47 FARMACOLOGIA Unidade II 5 FÁRMACOS QUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO O sistema nervoso autônomo (SNA) é uma divisão do sistema nervoso periférico que controla a musculatura lisa e as glândulas e, portanto, influencia a função dos órgãos internos. Trata-se de um sistema de controle que atua inconscientemente e regula funções corporais em geral, como a frequência cardíaca, a digestão, a frequência respiratória, a resposta pupilar, a micção e a excitação sexual. No sistema nervoso central é o hipotálamo que coordena o SNA. O SNA é dividido em dois subsistemas: o sistema nervoso simpático e o sistema nervoso parassimpático. O sistema nervoso simpático é muitas vezes considerado o sistema de “luta ou fuga”, enquanto o sistema nervoso parassimpático, nesse caso, pode ser considerado o sistema de “descanso e digestão” (ou vegetativo). Em muitas circunstâncias, os sistemas têm ações “opostas”: enquanto um ativa uma resposta fisiológica, o outro a inibe. Uma simplificação antiga, tachando os sistemas nervoso simpático e parassimpático de “excitório” e “inibitório”, respectivamente, foi derrubada devido às muitas exceções encontradas. Uma caracterização mais moderna retrata o sistema nervoso simpático como um “sistema de mobilização de resposta rápida” e o parassimpático como um “sistema de amortecimento mais lentamente ativado”. Recentemente, um terceiro subsistema do SNA foi descoberto, recebendo a denominação de entérico (por controlar, particularmente, o intestino). Em geral, o SNA simpático e o SNA parassimpático devem ser vistos como moduladores das funções vitais, geralmente de forma antagônica, para conseguir a homeostase. Algumas ações típicas dos sistemas simpático e parasimpático estão ilustradas e são listadas a seguir. • Sistema nervoso simpático: promove uma resposta de luta ou fuga e está relacionado à excitação, à geração de energia e à inibição da digestão. A seguir estão algumas das funções desempenhadas pelo sistema nervoso simpático. — Desvia o fluxo sanguíneo do trato gastrointestinal (TGI) e da pele através da vasoconstrição (o fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos é aumentado em até 1.200%). — Dilata os bronquíolos do pulmão através da adrenalina circulante, o que permite maior troca de oxigênio alveolar. — Aumenta a frequência cardíaca e a contratilidade das células cardíacas (miócitos), proporcionando, assim, um mecanismo para o aumento do fluxo sanguíneo para os músculos esqueléticos. 48 Unidade II — Dilata as pupilas e relaxa o músculo ciliar nos olhos, permitindo que mais luz entre no olho e melhorando a visão distante. — Fornece vasodilatação para os vasos coronários do coração. — Contrai todos os esfíncteres intestinais e o esfíncter urinário. — Inibe o peristaltismo. — Estimula o orgasmo. • Sistema nervoso parassimpático: promove tanto a resposta vegetativa “descanso” quanto as respostas regulares do organismo, além de melhorar a digestão. A seguir estão algumas das funções desempenhadas pelo sistema nervoso parassimpático. — Dilatação dos vasos sanguíneos que levam ao TGI, aumentando o fluxo sanguíneo (isso é importante após o consumo de alimentos, devido à maior exigência metabólica). — Contração dos bronquíolos pulmonares (pois a necessidade de oxigênio está reduzida). — Diminuição da frequência cardíaca por estimulação do nervo vago. — Constrição da pupila e contração dos músculos ciliares, facilitando a acomodação visual e permitindo uma visão mais próxima. — Estimulação da secreção das glândulas salivares e aceleração do peristaltismo, mediando a digestão dos alimentos e, indiretamente, a absorção de nutrientes. — Estimulação sexual (promovendo a ereção). 49 FARMACOLOGIA Parassimpático Simpático Contrai a pupila Estimula a salivação Reduz os batimentos cardíacos Contrai os brônquios Estimula a atividade do estômago e do pâncreas Estimula a vesícula biliar Contrai a bexiga Promove a ereção Gânglios simpáticos Dilata a pupila Inibe a salivação Relaxa os brônquios Acelera os batimentos cardíacos Inibe a atividade do estômago e do pâncreas Estimula a liberação de glicose pelo fígado Estimula a produção de adrenalina e noradrenalina Relaxa a bexiga Promove a ejaculação Figura 11 – As principais funções do sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático 5.1 Fármacos colinérgicos e anticolinérgicos Os fármacos que afetam o sistema nervoso autônomo parassimpático são chamados de colinérgicos ou anticolinérgicos, pois agem em receptores de acetilcolina. A acetilcolina é um neurotransmissor que é liberado quando ocorre a estimulação dos neurônios parassimpáticos e também é usada na junção neuromuscular - em outras palavras, é a substância química que os neurônios motores do sistema nervoso liberam para ativar os músculos. Essa propriedade significa que os fármacos que agem sobre os sistemas colinérgicos podem ter efeitos muito perigosos, desde paralisia até convulsões. No cérebro, a acetilcolina funciona como neurotransmissor e como neuromodulador: o cérebro contém várias áreas colinérgicas, cada uma com funções distintas e desempenhando um papel importante na excitação, atenção, memória e motivação. Em parte em razão de sua função de ativação muscular e em parte em razão de suas funções no sistema nervoso autônomo e no cérebro, um grande número de fármacos importantes exerce os seus efeitos alterando a transmissão colinérgica. Inúmeros venenos e toxinas produzidos por plantas, animais e bactérias, bem como agentes químicos nervosos como o sarin, causam dano ao inativar ou hiperativar os músculos através de suas influências na junção neuromuscular. Drogas que agem sobre receptores de acetilcolina muscarínicos, como atropina, podem ser venenosas em grandes quantidades, mas, em doses menores, podem ser usadas para tratar certas condições cardíacas e problemas oculares. A escopolamina, que atua principalmente nos receptores muscarínicos no cérebro, pode causar delírio e amnésia. As qualidades viciantes da nicotina derivam de seus efeitos sobre os receptores nicotínicos de acetilcolina no cérebro. 50 Unidade II Nos órgãos-alvo, ou seja, no local em que a acetilcolina terá efeito, é necessário que haja receptores específicos para esse neurotransmissor. Duas famílias de receptores colinérgicos foram descobertas e designadas como receptores muscarínicos e receptores nicotínicos. 5.1.1 Receptores muscarínicos Os receptores de acetilcolina muscarínicos possuem um mecanismo de sinalização complexo e afetam as céulas-alvo ao longo de um período de tempo mais longo. Em mamíferos, foram identificados cinco subtipos de receptores muscarínicos, chamados de M1 a M5. Todos eles funcionam como receptores acoplados à proteína G, o que significa que eles exercem seus efeitos através de segundos mensageiros intracelulares. Somente os receptores M1, M2 e M3 têm importância clínica e já foram funcionalmente caracterizados; eles se localizam em gânglios do sistema nervoso periférico e nos órgãos efetores do sistema nervoso autônomo parassimpático (como coração, músculos lisos, cérebro e glândulas exócrinas). Os receptores M1 são encontrados nas células parietais gástricas, os receptores M2 são encontrados nas células cardíacas e no músculo liso, e os receptores M3 estão presentes na bexiga, nas glândulas exócrinas e no músculo liso. 5.1.2 Receptores nicotínicos Esses receptores são canais iônicos capazes de se ligar à acetilcolina e à nicotina. A ligação de duas moléculas de acetilcolina promove sua abertura, permitindo a entrada de Na+ e resultando na despolarização da célula efetora. Os receptores nicotínicos estão localizados no sistema nervoso central, na glândula suprarrenal, nos gânglios do sistema nervoso autônomo e na junção neuromuscular. Os receptores nícotínicos encontrados na junção neuromuscular são designados como Nm, e os outros nicotínicos, de Nn. Os receptores nicotínicos ganglionares são diferentes dos receptores nicotínicosda junção neuromuscular: os receptores nicotínicos ganglionares, por exemplo, apresentam cinco subunidades proteicas, enquanto os receptores nicotínicos da junção neuromuscular apresentam quatro dessas subunidades. 5.1.3 Fármacos colinérgicos Os fármacos colinérgicos são divididos em três classes terapêuticas: os agonistas de ação direta, os agonistas de ação indireta reversíveis e os agonistas de ação indireta irreversíveis. Agonistas colinérgicos de ação direta Esses fármacos são também conhecidos como parassimpatomiméticos, pois seus efeitos mimetizam (se assemelham) os causados pela acetilcolina, sendo, porém, mais prolongados. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Betanecol: 1 – Mecanismo de ação: agonista muscarínico; 2 – Indicação: por atuar como agonista muscarínico, age no relaxamento dos esfíncteres da bexiga, aumentando a pressão de micção e causando a expulsão da urina. É indicado nos casos de retenção urinária não obstrutiva no pós-parto ou pós-operatório; 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica 51 FARMACOLOGIA generalizada (diaforese, salivação, rubor, diminuição da pressão arterial, náuseas, dor abdominal, diarreia e broncoespasmos). • Pilocarpina: 1 – Mecanismo de ação: agonista muscarínico; 2 – Indicação: a pilocarpina, quando administrada nos olhos, promove rápida miose e contração do músculo ciliar, sendo, portanto, indicada para tratamento de glaucomas; 3 – Efeitos adversos: por ter efeito central, pode causar distúrbios cerebrais. Agonistas colinérgicos de ação indireta reversíveis A enzima acetilcolinesterase é responsável por degradar a acetilcolina quando esta é liberada nas fendas sinápticas. Dessa forma, fármacos que inibem ou bloqueiam essa enzima aumentarão a sobrevida da acetilcolina nas sinapses, prolongando ou potencializando os efeitos colinérgicos. Os fármacos inibidores de acetilcolina são também chamados de agonistas colinérgicos de ação indireta, já que indiretamente aumentam os níveis desse neurotransmissor. O fato de o fármaco se ligar reversivelmente a acetilcolinesterase o torna relativamente mais seguro do que os fármacos que se ligam irreversivelmente a essa enzima. Os efeitos colinérgicos são sentidos em todos os receptores de acetilcolina (muscarínicos e nicotínicos). A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Neostigmina: 1 – Mecanismo de ação: inibidor de acetilcolinesterase; 2 – Indicação: miastenia grave, estimulante da bexiga e do TGI; 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica generalizada (diaforese, salivação, rubor, diminuição da pressão arterial, náuseas, dor abdominal, diarreia e broncoespasmos). • Tacrina, donepezila, rivastigmina e galantamina: 1 – Mecanismo de ação: inibidores de acetilcolinesterase de ação central; 2 – Indicação: esses fármacos são indicados para tratamento da doença de Alzheimer, pois nessa patologia há perda de neurônios colinérgicos no sistema nervoso central; 3 – Efeitos adversos: distúrbios do TGI, entre outros. Agonistas colinérgicos de ação indireta irreversível Esses fármacos são também conhecidos como organofosforados e apresentam a propriedade de se ligar irreversivelmente à acetilcolinesterase. Muitos deles são extremamente tóxicos: o paration, por exemplo, é usado como inseticida. • Ecotiofato: 1 – Mecanismo de ação: inibidor irreversível da acetilcolinesterase; 2 – Indicação: tratamento do glaucoma (por estimular intensa miose); 3 – Efeitos adversos: estimulação colinérgica generalizada, paralisia da função motora e convulsões. 5.1.4 Fármacos anticolinérgicos Os antagonistas colinérgicos (ou bloqueadores colinérgicos ou, ainda, parassimpatolíticos) ligam-se aos receptores colinérgicos bloqueando-os e impedindo a ligação da acetilcolina. Os efeitos da estimulação parassimpática são interrompidos e as ações da estimulação simpática 52 Unidade II ficam sem oposição. Esses fármacos podem ser seletivos para os receptores nicotínicos ou seletivos para os receptores muscarínicos. Fármacos antimuscarínicos São fármacos capazes de bloquear seletivamente os receptores muscarínicos, causando a inibição de todas as funções muscarínicas, incluindo os receptores que estão nas glândulas salivares e sudoríparas. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Atropina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico; 2 – Indicação: antiespasmódico do TGI (hiosciamina), antissecretor para cirurgias (saliva e suor) e para causar midríase (pupila dilatada) em exames oftalmológicos; 3 – Efeitos adversos: xerostomia, visão borrada, taquicardia e constipação. • Escopolamina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico; 2 – Indicação: anticinestósico (bloqueia as doenças do movimento, como a cólica), bloqueio da memória de curta duração; 3 – Efeitos adversos: semelhantes aos da atropina. • Ipratrópio e tiotrópio: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico inalado; 2 – Indicação: tratamento de manutenção do broncoespasmo associado com a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bronquites crônicas, enfisema e asma; 3 – Efeitos adversos: esses fármacos são pouco absorvidos e causam poucas reações adversas. • Oxibutinina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista muscarínico M3; 2 – Indicação: doença da bexiga superativa (diminui a pressão intravesicular e aumenta a capacidade vesical, enfraquecendo a frequência de contração da bexiga; 3 – Efeitos adversos: xerostomia, visão borrada e constipação. Observação A atropina é obtida a partir da Atropa belladonna (beladona), antigamente usada para dilatar a pupila e aliviar a asma. 5.2 Fármacos que atuam na junção neuromuscular Os fármacos que atuam na junção neuromuscular geralmente são bloqueadores dessa transmissão colinérgica. São análogos à acetilcolina e atuam como antagonistas nicotínicos (não despolarizantes) ou agonistas nicotínicos (despolarizantes) na placa motora da junção neuromuscular. Esses fármacos são bastante utilizados para se obter uma paralisia muscular durante um procedimento cirúrgico ou para facilitar a intubação na traqueia. A tubocurarina foi o primeiro fármaco capaz de bloquear a junção neuromuscular e foi isolada do curare (componente do veneno da pele de sapos da região amazônica). A seguir estão listados os principais fármacos desta classe. 53 FARMACOLOGIA • Pancurônio, atracúrio, vecurônio, rocurônio, cisatracúrio: 1 – Mecanismo de ação: bloqueadores neuromusculares não despolarizantes antagonistas de receptores nicotínicos; 2 – Indicação: são utilizados como adjuvantes de anestesia durante a cirurgia para relaxar os músculos esqueléticos e em cirurgias ortopédicas; 3 – Efeitos adversos: em geral apresentam boa segurança, mas eventualmente podem aumentar a frequência cardíaca. • Succinilcolina: 1 – Mecanismo de ação: bloqueador neuromuscular despolarizante agonista de receptores nicotínicos (isso se deve ao fato de esse fármaco ter efeito semelhante ao da acetilcolina porém não ser degradado pela acetilcolinesterase, permanecendo, portanto, na junção neuromuscular); 2 – Indicação: intubação endotraqueal rápida; 3 – Efeitos adversos: hipertermia, apneia e hiperpotassemia. 5.3 Fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos Os fármacos adrenérgicos e antiadrenérgicos atuam em receptores que são estimulados pela noradrenalina (norepinefrina) ou pela adrenalina (epinefrina). Os neurônios adrenérgicos liberam noradrenalina como neurotransmissor primário. Esses neurônios são encontrados no sistema nervoso central e no sistema nervoso simpático, onde servem de ligação entre os gânglios e os órgãos efetores. 5.3.1 Receptores adrenérgicos Os receptores adrenérgicos (ou adrenoceptores) são uma classe de receptores acoplados a proteínas G que são alvos das catecolaminas, especialmente a norepinefrina (noradrenalina) e a epinefrina (adrenalina). Muitas células possuem esses receptores, e a ligação de uma catecolamina ao receptor irá geralmente estimular o sistema nervoso simpático. Como vimos anteriormente,o sistema nervoso simpático é responsável pela resposta de luta ou fuga, que inclui dilatação das pupilas, aumento da frequência cardíaca, mobilização de energia e desvio do fluxo sanguíneo de órgãos não essenciais para o músculo esquelético. São divididos em dois grupos principais de receptores: α (alfa) e β (beta), com vários subtipos. Os receptores alfa têm os subtipos alfa-1 (um receptor acoplado Gq) e alfa-2 (um receptor acoplado Gi). Os receptores beta têm os subtipos beta-1, beta-2 e beta-3. Todos três estão ligados a proteínas G, que, por sua vez, estão ligadas à adenilato ciclase. A ligação agonista origina, assim, um aumento na concentração intracelular do segundo cAMP de mensageiro. Os efetores a jusante de AMPc incluem a proteína quinase dependente de AMPc (PKA), que medeia alguns dos eventos intracelulares após a ligação hormonal. Receptor alfa-1-adrenérgico Os receptores alfa-1-adrenérgicos são membros da superfamília do receptor acoplado à proteína Gq. Após a ativação, há o aumento do conteúdo de cálcio numa célula. As ações específicas do alfa-1 envolvem principalmente a contração do músculo liso. Esse receptor causa vasoconstrição em muitos vasos sanguíneos, incluindo os da pele, do sistema gastrointestinal, do rim (artéria renal) e do cérebro. Outras áreas de contração do músculo liso são: ureter, vasos deferentes, cabelo (músculo eretor dos 54 Unidade II pelos), útero (quando grávida), esfíncter uretral, bronquíolos (embora menores em relação ao efeito relaxante do receptor beta-2 nos bronquíolos), vasos sanguíneos do corpo ciliar (a estimulação causa midríase). Os efeitos sobre o metabolismo incluem glicogenólise e gliconeogênese do tecido adiposo e do fígado, bem como secreção de glândulas sudoríparas e reabsorção de Na+ nos rins. Receptor alfa-2-adrenérgico O receptor alfa-2-adrenérgico é acoplado à proteína Gi. É um receptor pré-sináptico, causando feedback negativo sobre, por exemplo, a liberação de noradrenalina (NA). Quando a NA é liberada na sinapse, age no receptor alfa-2, diminuindo a liberação de NA do neurônio pré-sináptico, o que reduz o efeito de NA. Existem também receptores alfa-2 na membrana terminal nervosa do neurônio adrenérgico pós-sináptico. As ações específicas do receptor alfa-2 incluem: inibição da liberação de insulina no pâncreas, indução da liberação de glucagon do pâncreas, contração de esfíncteres do trato gastrointestinal, feedback negativo nas sinapses neuronais (inibição pré-sináptica da liberação da NA no sistema nervoso central, aumento da agregação de trombócitos). Receptor beta-1-adrenérgico As ações específicas do receptor beta-1 incluem: ampliar o débito cardíaco aumentando a frequência cardíaca (efeito cronotrópico positivo), a velocidade de condução (efeito cromotrópico positivo) e o volume sistólico (aumentando o efeito inotrópico positivo da contratilidade), ampliar a secreção de renina de células justaglomerulares do rim e aumentar a secreção de grelina do estômago. Receptor beta-2-adrenérgico Os receptores beta-2-adrenérgicos estimulam as células a aumentar a produção de energia, além de promover a utilização dessa energia. As ações específicas do receptor beta- 2 incluem: o relaxamento do músculo liso causando também relaxamento nos brônquios; no trato gastrointestinal, a diminuição da motilidade e a vasodilatação dos vasos sanguíneos, especialmente no músculo esquelético; a lipólise no tecido adiposo; anabolismo no músculo esquelético; relaxamento uterino; relaxamento do músculo urinário e do detrusor da parede da bexiga; dilatação das artérias do músculo esquelético, glicogenólise e gliconeogênese; estimulação da secreção de insulina; secreção das glândulas salivares; inibição da liberação de histamina dos mastócitos; aumento da secreção de renina do rim; e relaxamento de bronquíolos. 5.3.2 Agonistas adrenérgicos Os fármacos agonistas adrenérgicos são divididos em três categorias: agonistas de ação direta, agonistas de ação indireta e agonistas de ação mista. Agonistas adrenérgicos de ação direta Esses fármacos se ligam aos receptores adrenérgicos sem interagir com o neurônio pré-sináptico. A seguir estão listados os principais fármacos desta classe. 55 FARMACOLOGIA • Epinefrina: 1 – Mecanismo de ação: é um neurotransmissor natural do organismo e age diretamente em todos os receptores adrenérgicos; 2 – Indicação: emergência envolvendo asma aguda (broncodilatadora), choque anafilático, parada cardíaca (cronotropismo positivo), coadjuvante em anestesias locais (aumenta o tempo do anestésico por promover vasoconstrição); 3 – Efeitos adversos: os principais efeitos adversos incluem distúrbios no sistema nervoso central, hemorragia, arritmias cardíacas e edema pulmonar. • Norepinefrina: 1 – Mecanismo de ação: é um neurotransmissor dos nervos adrenérgicos e, teoricamente, deveria estimular todos os receptores adrenérgicos; contudo, em doses terapêuticas, a noradrenalina/norepinefrina age preferencialmente nos receptores alfa- adrenérgicos; 2 – Indicação: choques; 3 – Efeitos adversos: são similares aos efeitos adversos da epinefrina. • Dopamina: 1 – Mecanismo de ação: é estimulante do sistema simpático; exerce efeito inotrópico positivo em doses baixas e promove vasodilatação cerebral, renal e mesentérica, com aumento do débito urinário. Em doses altas promove aumento do tônus vascular e da pressão venosa central, semelhante ao efeito da noradrenalina (melhora a pressão arterial e aumenta o trabalho do miocárdio). 2 – Indicação: casos de hipotensão aguda, choque, descompensação cardíaca, como a encontrada na insuficiência cardíaca congestiva crônica ou insuficiência cardíaca aguda. 3 – Efeitos adversos: estão descritos distúrbios no sistema nervoso central, hemorragia, arritmias cardíacas e edema pulmonar. • Dobutamina: 1 – Mecanismo de ação: agonista beta-1 seletivo; 2 – Indicação: insuficiência cardíaca congestiva (amplia o débito cardíaco); 3 – Efeitos adversos: aumenta a condução atrioventricular. • Fenilefrina: 1 – Mecanismo de ação: agonista alfa-1 seletivo; 2 – Indicação: congestão nasal (produz vasoconstrição prolongada); 3 – Efeitos adversos: cefaleia hipertensiva e irregularidades cardíacas. • Clonidina: 1 – Mecanismo de ação: agonista alfa-2 seletivo; 2 – Indicação: hipertensão essencial (inibe centros vasomotores simpáticos, diminuindo a estimulação simpática periférica); 3 – Efeitos adversos: letargia, sedação, constipação e xerostomia. • Terbutalina: 1 – Mecanismo de ação: agonista beta-2 seletivo de ação curta; 2 – Indicação: broncodilatadores e relaxante uterino para evitar partos prematuros; 3 – Efeitos adversos: tremores nas mãos, intranquilidade, apreensão e ansiedade. • Salmeterol e formoterol: 1 – Mecanismo de ação: agonista beta-2 seletivos de ação prolongada; 2 – Indicação: broncodilatador, agindo melhor em monoterapia (sem concomitância de glicocorticoides); 3 – Efeitos adversos: esses fármacos não devem ser usados em excesso, pois há relatos de mortes por conta do uso exagerado. 56 Unidade II Quadro 3 – Principais agonistas adrenérgicos Fármaco Receptor Uso terapêutico Fenilefrina Alfa-1 Descongestionante nasal Metoxamina Alfa-1 Taquicardia Clonidina Alfa-2 Taquicardia Metaprotenerol Beta-1 Hipertensão Terbutalina Beta-2 Broncoespasmos Ritodrina Beta-2 Parto prematuro Albuterol Beta-2 Broncoespasmos Anfetamina Alfa e beta Hiperatividade Efedrina Alfa e beta Descongestionante nasal Agonistas adrenérgicos de ação indireta Esses fármacos promovem a liberação de noradrenalina dos terminais pré-sinápticos ou inibem a captação de noradrenalina. Agem potencializando os efeitos da noradrenalina endógena, mas não diretamente sobre os receptores adrenérgicos. Entre os exemplos de fármacos agonistas de ação indireta temos: as anfetaminas (recentemente proibidas no Brasil), a tiramina e a cocaína (droga ilícita). Agonistas adrenérgicos de ação mista Os agonistas adrenérgicos de ação mista induzem a liberaçãode noradrenalina dos terminais pré-sinápticos, agindo também diretamente sobre os receptores adrenérgicos. Entre os fármacos dessa categoria, podem-se citar as efedrinas e a pseudoefedrina, sendo a utilização de ambas bem restrita no país. 5.3.3 Antagonistas adrenérgicos Os fármacos antagonistas adrenérgicos (bloqueadores adrenérgicos ou simpatolíticos) ligam-se aos receptores adrenérgicos, mas não produzem efeitos, porém evitam a ativação desses receptores pela noradrenalina endógena. Assim como os agonistas, os antagonistas adrenérgicos são classificados de acordo com suas afinidades pelos receptores alfa e beta no sistema nervoso periférico. Numerosos fármacos desse tipo são utilizados na clínica, principalmente devido aos seus efeitos sobre o sistema cardiovascular. Bloqueadores alfa-adrenérgicos Os fármacos que bloqueiam os receptores alfa interferem drasticamente na pressão arterial, uma vez que o controle do tônus vascular é feito pelo sistema simpático em receptores alfa. Porém, esse bloqueio leva à redução do tônus, o que resulta em menor resistência vascular periférica com taquicardia reflexa. Tais efeitos são sentidos principalmente com usuários em pé, sendo menos frequentes quando o paciente se encontra sentado ou deitado. A seguir estão listados os principais fármacos desta classe. 57 FARMACOLOGIA • Fenoxibenzamina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista alfa não seletivo (bloqueio do alfa-1 e do alfa-2); 2 – Indicação: tratamento do feocromocitoma (tumor na glândula suprarrenal); 3 – Efeitos adversos: hipotensão postural, congestão nasal, taquicardia reflexa, náuseas e êmese. • Prazosina, terazosina, doxazosina, tansulosina: 1 – Mecanismo de ação: são bloqueadores competitivos dos receptores alfa-1; 2 – Indicação: esses fármacos podem ser indicados para hipertensão arterial e hipertrofia prostática benigna; 3 – Efeitos adversos: para tratamento de hipertensão, a primeira dose do fármaco pode levar à hipotensão ortostática e à síncope (desmaio), tontura, falta de energia, congestão nasal, cefaleia ou sonolência. Bloqueadores beta-adrenérgicos Os betabloqueadores, também escrito como β-bloqueadores, são antagonistas competitivos que bloqueiam os locais receptores das catecolaminas endógenas epinefrina (adrenalina) e norepinefrina (noradrenalina) nos receptores beta-adrenérgicos do sistema nervoso simpático. Alguns bloqueiam a ativação de todos os tipos de receptores β-adrenérgicos e outros são seletivos para um dos três tipos conhecidos de receptores beta (designados receptores β1, β2 e β3). Os receptores β1-adrenérgicos estão localizados principalmente no coração; os receptores β2-adrenérgicos estão presentes principalmente nos pulmões, no trato gastrointestinal, no fígado, no útero, no músculo liso vascular e no músculo esquelético; por fim, os receptores β3-adrenérgicos estão localizados em células adiposas. Os bloqueadores beta representam uma classe de medicamentos que particularmente utilizada para controlar arritmias cardíacas e proteger o coração de um segundo ataque cardíaco (infarto do miocárdio) após um primeiro ataque cardíaco (prevenção secundária). Eles também são amplamente utilizados para tratar a hipertensão, embora já não sejam a primeira escolha para o tratamento inicial da maioria dos pacientes. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Propranolol: 1 – Mecanismo de ação: betabloqueador não seletivo (beta-1 e beta-2) que promove diminuição do débito cardíaco, vasocontrição periférica, broncoconstrição, aumento na retenção de Na+ e distúrbios no metabolismo da glicose; 2 – Indicação: é indicado principalmente para hipertensão arterial sistêmica (redução do débito cardíaco), enxaqueca, hipertireoidismo (principalmente, no hipertireoidismo agudo, na prevenção dos efeitos da tempestade tireóidea), angina pectoris (diminui a necessidade de oxigênio no coração) e infarto do miocárdio; 3 – Efeitos adversos: broncoconstrição (contraindicado para asmáticos), arritmias, comprometimento sexual, distúrbios metabólicos, depressão, tonturas, letargia, fadiga e fraqueza. • Timolol: 1 – Mecanismo de ação: betabloqueador não seletivo (beta-1 e beta-2) mais potente que o propranolol; 2 – Indicação: tratamento de glaucoma (diminui a pressão intraocular e a produção de humor aquoso nos olhos); 3 – Efeitos adversos: como a administração é tópica, os efeitos adversos são reduzidos. 58 Unidade II • Atenolol, metoprolol, bisoprolol, betaxolol, nebivolol: 1 – Mecanismo de ação: são betabloqueadores beta-1 seletivos, agem na redução da pressão arterial em hipertensos e aumentam a tolerância ao exercício na angina; 2 – Indicação: hipertensão arterial sistêmica, inclusive para pacientes com função respiratória comprometida ou pacientes diabéticos que usam insulina ou hipoglicemiantes orais; 3 – Efeitos adversos: frio nas extremidades, entre outros. • Labetalol e carvedilol: 1 – Mecanismo de ação: são betabloqueadores seletivos beta-1 e antagonistas de receptores alfa-1 concomitantemente, promovem vasodilatação periférica, reduzindo a pressão arterial e diminuindo o espessamento da parede vascular; 2 – Indicação: hipertensão arterial sistêmica quando se deseja promover concomitantemente vasodilatação periférica (os demais betabloqueadores induzem vasoconstrição periférica como efeito indesejado); também para insuficiência cardíaca e pré-eclâmpsia (labetalol); 3 – Efeitos adversos: hipotensão ortostática e tonturas. Quadro 4 – Principais betabloqueadores Fármaco Ação principal Uso/Funções Fenoxibenzamida Antagonista alfa Feocromocitoma Fentatomina Antagonista alfa Raramente utilizada Prazosina Antagonista alfa-1 Hipertensão Ioimbina Antagonista alfa-2 Não utilizada Propranolol Antagonista beta Angina, hipertensão, arritmias, glaucoma Alprenolol Antagonista beta Idem ao propranolol Practolol Antagonista beta-1 Hipertensão, angina, arritmias Metoprolol Antagonista beta-1 Hipertensão, angina, arritmias Butonamina Antagonista beta-2 Não utilizada Labetalol Antagonista alfa/beta Pré-eclâmpsia Observação Em 1964, James Black sintetizou o primeiro betabloqueador (propranolol). Com isso, ele revolucionou o tratamento da angina, e sua descoberta até hoje é considerada uma das contribuições mais importantes para a Medicina Clínica e a Farmacologia do século XX. Saiba mais O livro Manual de Farmacoterapia, de Wells, é uma sugestão de referência para seus estudos: WELLS, B. G. et al. Manual de Farmacoterapia. 9. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. 59 FARMACOLOGIA 6 FÁRMACOS QUE ATUAM NOS SISTEMAS CARDIOVASCULAR E RENAL As doenças cardiovasculares são uma classe de doenças que envolvem o coração ou vasos sanguíneos. Entre essas patologias se incluem doenças da artéria coronária, como angina e infarto do miocárdio (comumente conhecido como ataque cardíaco). Outras doenças cardiovasculares incluem acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença cardíaca hipertensiva, cardiopatia reumática, cardiomiopatia, arritmia cardíaca, cardiopatia congênita, doença cardíaca valvar, cardite, aneurismas da aorta, doença arterial periférica, doença tromboembólica e trombose venosa. Os mecanismos subjacentes variam dependendo da doença em questão. A doença da artéria coronária, o acidente vascular cerebral e a doença arterial periférica, por exemplo, envolvem a aterosclerose. Tal quadro pode ser causado por pressão alta, tabagismo, diabetes, falta de exercício, obesidade, colesterol elevado no sangue, má alimentação e consumo excessivo de álcool, entre outros. A pressão arterial elevada resulta em 13% das mortes por doenças cardiovasculares; já o tabaco resulta em 9%, a diabetes em 6%, a falta de exercício em 6% e a obesidade em 5%. 6.1 Fármacos anti-hipertensivos A hipertensão arterial, também conhecida como pressão arterial elevada, é uma condição médica de longo prazo em que a pressão nas artérias é persistentemente elevada. A pressão arterial elevada geralmente não causa sintomas,mas, a longo prazo, torna-se um importante fator de risco para: doença arterial coronariana, acidente vascular cerebral, insuficiência cardíaca, doença vascular periférica, perda de visão e doença renal crônica. A hipertensão pode ser classificada como primária (essencial) ou secundária. Cerca de 90%-95% dos casos são primários, definidos como hipertensão devido ao estilo de vida e a fatores genéticos. Os hábitos de vida que aumentam o risco incluem consumo desmedido de sal, excesso de peso corporal, tabagismo e álcool. Já a hipertensão secundária é definida como pressão arterial elevada diretamente relacionada a uma causa identificável, como doença renal crônica, estreitamento das artérias renais, doença endócrina ou uso de pílulas anticoncepcionais. A pressão arterial é expressa por duas medidas, as pressões sistólica e diastólica (que são as pressões máxima e mínima, respectivamente). A pressão arterial normal em repouso está dentro da faixa de 100-140 milímetros de mercúrio (mmHg) sistólica e 60-90 mmHg diastólica. A hipertensão será diagnosticada se a pressão arterial em repouso for persistentemente igual ou superior a 140/90 mmHg em adultos em repouso, e o monitoramento ambulatorial da pressão arterial durante um período de 24 horas é mais preciso para o diagnóstico definitivo. Alterações de estilo de vida e medicamentos podem diminuir a pressão arterial e diminuir o risco de complicações de saúde. Mudanças no estilo de vida incluem perda de peso, diminuição da ingestão de sal, exercício físico e uma dieta saudável. Se as mudanças de estilo de vida não forem suficientes, então os medicamentos serão recomendados. Muitas vezes, apenas um fármaco é insuficiente para controlar a hipertensão, tornando-se, portanto, necessária a introdução concomitante de vários fármacos. 60 Unidade II Quadro 5 – Classificação da pressão arterial com base nas Diretrizes Nacionais de Hipertensão Classificação Pressão sistólica (mmHg) Pressão diastólica (mmHg) Ótima <120 <80 Normal <130 <85 Limítrofe 130-139 85-89 Hipertensão estágio 1 140-159 90-99 Hipertensão estágio 2 160-179 100-109 Hipertensão estágio 3 >180 >110 Hipertensão sistólica isolada >140 <90 6.1.1 Mecanismos de controle da pressão arterial A regulação endógena da pressão arterial ainda não é completamente compreendida, mas alguns mecanismos foram bem-caracterizados. Observe-os a seguir. • Reflexo barorreceptor: os barorreceptores nas zonas receptoras de alta pressão detectam alterações na pressão arterial, enviando sinais, em última análise, para a medula do tronco cerebral, mais especificamente para a medula rosilar ventrolateral (RVLM). A medula, por meio do sistema nervoso autônomo, ajusta a pressão arterial média, alterando a força e a velocidade das contrações do coração, bem como a resistência vascular sistêmica. Os barorreceptores arteriais mais importantes estão localizados nos seios carotídeos esquerdo e direito e no arco aórtico. • Sistema renina-angiotensina (RAS): esse sistema é geralmente conhecido por seu ajuste de longo prazo da pressão arterial, permitindo que o rim a adapte à volemia, ativando um vasoconstritor endógeno conhecido como angiotensina II. • Liberação de aldosterona: esse hormônio esteroide é liberado do córtex adrenal em resposta à angiotensina II ou a níveis elevados de potássio sérico. A aldosterona estimula a retenção de sódio e a excreção de potássio pelos rins. Uma vez que o sódio é o principal íon que determina a quantidade de líquido nos vasos sanguíneos por osmose, a aldosterona aumentará a retenção de líquidos e, indiretamente, a pressão arterial. • Barorreceptores em zonas receptoras de baixa pressão (principalmente nas veias cava e nas veias pulmonares e nos átrios): resultam em uma regulação por feedback e promovem a secreção de hormônio antidiurético (ADH/vasopressina), renina e aldosterona. O aumento resultante no volume sanguíneo ocasiona um aumento do débito cardíaco pela Lei Frank-Starling, aumentando a pressão arterial. Esses diferentes mecanismos não são necessariamente independentes uns dos outros, como indicado pela ligação entre o RAS e a liberação de aldosterona. Quando a pressão arterial cai, muitos mecanismos fisiológicos são ativados a fim de restituir um nível mais adequado. A queda da pressão arterial é detectada por uma diminuição no fluxo sanguíneo e, portanto, uma diminuição da taxa de filtração 61 FARMACOLOGIA glomerular (TFG). Essa diminuição é sentida como uma redução dos níveis de Na+ pela mácula densa, que, por sua vez, causa um aumento na reabsorção de Na+; isso faz a água ser reabsorvida por osmose e leva a um aumento final no volume plasmático. Além disso, a mácula densa libera adenosina, composto que promove a constrição das arteríolas aferentes. Ao mesmo tempo, as células justaglomerulares sentem a diminuição da pressão arterial e liberam renina, que converte angiotensinogênio (forma inativa) em angiotensina I (forma ativa). A angiotensina I flui na corrente sanguínea até atingir os capilares dos pulmões, onde a enzima de conversão da angiotensina (ECA) age sobre ela para convertê- la em angiotensina II. Esta é um vasoconstritor que irá aumentar o fluxo sanguíneo para o coração e, subsequentemente, a pré-carga, ampliando o débito cardíaco. Angiotensina II também provoca um aumento na liberação de aldosterona das glândulas suprarrenais, a qual estimula ainda mais a reabsorção de Na+ e H2O no túbulo contorcido distal do néfron. 6.1.2 Estratégias de tratamento O objetivo do tratamento para hipertensão é reduzir a morbidade cardiovascular e renal e a mortalidade. A relação entre pressão arterial e risco cardiovascular é muito evidente. As recomendações atuais são de iniciar o tratamento com um diurético, a menos que haja razão que determine o emprego de outra classe de fármaco. Caso a pressão arterial não seja controlada adequadamente, deve-se acrescentar um segundo fármaco, selecionado de acordo com os mínimos efeitos adversos possíveis. Um vasodilatador pode ser acrescentado como um terceiro fármaco para aqueles usuários que continuam sem alcançar uma pressão arterial adequada. A falta de adesão do paciente é a causa mais comum de falha no tratamento da hipertensão. O paciente geralmente é assintomático e o diagnóstico se dá por triagem de rotina, antes da lesão de um órgão-alvo. Dessa forma, o objetivo do tratamento é prevenir complicações da doença, e não aliviar sintomas. Porém, os efeitos adversos podem influenciar a decisão do paciente de se tratar ou não; por exemplo, os betabloqueadores podem inibir a libido e ocasionar disfunção erétil. 6.1.3 Fármacos anti-hipertensivos Os fármacos anti-hipertensivos são uma classe de medicamentos variados utilizados para tratar a hipertensão por diferentes meios. Entre os fármacos mais importantes e mais amplamente usados estão os diuréticos tiazídicos, os bloqueadores dos canais de cálcio, os inibidores da ECA, os antagonistas dos receptores da angiotensina II e os betabloqueadores. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Hidroclorotiazida e clortalidona: 1 – Mecanismo de ação: são diuréticos tiazídicos que agem no túbulo contorcido distal dos néfrons (o mecanismo detalhado será abordado mais adiante); 2 – Indicação: os diuréticos tiazídicos diminuem a pressão arterial tanto com o corpo deitado como em pé, portanto são indicados para tratamento da hipertensão e devem ser associados a outros agentes anti-hipertensivos; 3 – Efeitos adversos: induzem hipopotassemia (às vezes é necessário associar um diurético poupador de K+ na terapia), hiperuricemia, hiperglicemia e hipomagnesemia. 62 Unidade II • Betabloqueadores: essa classe já foi estudada na unidade anterior e inclui os fármacos propranolol, atenolol, metoprolol e nebivolol. 1 – Mecanismo de ação: são antagonistas de receptores beta-adrenérgicos podendo ser seletivos para o receptor beta-1 ou não seletivos (beta-1 e beta-2); 2 – Indicação: os betabloqueadoressão mais eficazes na população branca que na negra, sendo também mais eficazes em pacientes jovens que em idosos. São úteis no tratamento de condições que possam coexistir com a hipertensão, como taquicardia supraventricular, infarto do miocárdio, angina pectoris e insuficiência cardíaca crônica; 3 – Efeitos adversos: os efeitos adversos causados já foram discutidos. • Inibidores da ECA: essa classe inclui os fármacos captopril, enalapril, lisinopril, ramipril. 1 – Mecanismo de ação: inibição da enzima conversora da angiotensina, o que promove a diminuição do vasoconstritor angiotensina II; 2 – Indicação: tratamento da hipertensão; mais eficazes quando associados aos diuréticos, diminuem a nefropatia diabética, pós-infartos do miocárdio e insuficiência cardíaca; 3 – Efeitos adversos: tosse seca, exantema, febre, alteração no paladar, hipotensão, hiperpotassemia (melhora com a associação com diuréticos tiazídicos). • Bloqueadores de receptor de angiotensina II: essa classe terapêutica inclui a losartana, a valsartana, a olmeosartana, a candesartana, entre outras. 1 – Mecanismo de ação: bloqueiam os receptores AT1 diminuindo sua ativação pela angiotensina II (seus efeitos farmacológicos são semelhantes aos dos inibidores da ECA); 2 – Indicação: tratamento da hipertensão, da nefrotoxicidade em diabéticos, sendo o tratamento ideal se o paciente for hipertenso e diabético; 3 – Efeitos adversos: causam menos efeitos adversos que os inibidores da ECA, mas são fetotóxicos. • Bloqueadores de canais de cálcio: essa classe de medicamentos inclui o dialtiazem, o verapamil, o nifedipino, o anlodipino e o felodipino. 1 – Mecanismo de ação: a concentração de cálcio tem um papel importante na manutenção do tônus da musculatura lisa do vaso e na contração do miocárdio; os antagonistas de canais de cálcio bloqueiam a entrada de cálcio, causando o relaxamento do músculo liso vascular e dilatando as arteríolas. 2 – Indicação: pacientes hipertensos que também tenham asma, diabetes, angina (não requer a adição de diuréticos); 3 – Efeitos adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga. • Bloqueadores alfa-adrenérgicos: prazosina, doxazosina e terazosina. 1 – Mecanismo de ação: antagonistas seletivos para os receptores alfa-1-adrenérgicos; 2 – Indicação: tratamento de hipertensão leve a moderada; 3 – Efeitos adversos: taquicardia reflexa e síncope na primeira dose. • Adrenérgicos de ação central: clonidina e metildopa: 1 – Mecanismo de ação: funcionam como agonistas do receptor alfa-2-adrenérgico, diminuindo a liberação de noradrenalina nos centros vasomotores centrais; 2 – Indicação: a clonidina é indicada para tratamento de hipertensão de leve a moderada, e a metildopa é indicada para pacientes com hipertensão e insuficiência renal, bem como para pré-eclâmpsia; 3 – Efeitos adversos: sedação, xerostomia e constipação. 63 FARMACOLOGIA • Vasodilatadores: são exemplos dessa classe os fármacos hidralazina e minoxidil. 1 – Mecanismo de ação: relaxantes de músculo liso de ação direta, o que diminui a resistência periférica e a pressão arterial; 2 – Indicação: para tratamento de hipertensão e pré-eclâmpsia (hidralazina); 3 – Efeitos adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga. Lembrete A hipertensão arterial, também conhecida como pressão arterial elevada, é uma condição médica de longo prazo em que a pressão nas artérias é persistentemente elevada. 6.2 Fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca A insuficiência cardíaca, frequentemente referida como insuficiência cardíaca congestiva (ICC), ocorre quando o coração é incapaz de bombear de forma adequada a manter o fluxo sanguíneo apropriado para atender às necessidades do corpo. Dentre os sinais e sintomas, são comuns falta de ar, cansaço excessivo e inchaço das pernas (a falta de ar geralmente se faz mais intensa com o exercício físico). As causas mais comuns de insuficiência cardíaca incluem a doença arterial coronariana, incluindo infarto do miocárdio anterior (ataque cardíaco), pressão arterial elevada, fibrilação atrial, doença cardíaca valvar, excesso de álcool, infecção e cardiomiopatia de causa desconhecida. Essas causas levam à insuficiência cardíaca, alterando a estrutura ou o funcionamento do coração. Existem dois tipos principais de insuficiência cardíaca: um causado pela disfunção ventricular esquerda e outro relacionado à fração de ejeção normal (dependendo da capacidade afetada: a do ventrículo esquerdo de se contrair ou a do coração de relaxar). A gravidade da doença é geralmente classificada pelo grau de problemas com o exercício físico. Insuficiência cardíaca não é o mesmo que infarto do miocárdio (em que parte do músculo cardíaco morre) ou parada cardíaca (em que o fluxo sanguíneo para completamente). Outras doenças que podem ter sintomas semelhantes aos da insuficiência cardíaca incluem obesidade, insuficiência renal, problemas hepáticos, anemia e doença da tireoide. A insuficiência cardíaca é uma condição comum, dispendiosa e potencialmente fatal. Nos países desenvolvidos, cerca de 2% dos adultos têm insuficiência cardíaca, e entre aqueles com mais de 65 anos, essa taxa sobe para o intervalo 6%-10%. A insuficiência é diagnosticada com base no histórico de sintomas e em um exame físico (teste ergonométrico) com confirmação por ecocardiografia. Exames de sangue, eletrocardiografia e radiografia de tórax podem ser úteis para determinar a causa subjacente. O tratamento depende da gravidade e da causa da doença. Em pessoas com insuficiência cardíaca crônica leve estável, o tratamento geralmente consiste em modificações no estilo de vida, como parar de fumar, inserir exercício físico na rotina e fazer algumas mudanças na dieta, bem como lançar mão do uso de alguns medicamentos. No caso de pacientes com insuficiência cardíaca relacionada à disfunção ventricular esquerda, são recomendados os inibidores da enzima de conversão da angiotensina ou os bloqueadores dos receptores da angiotensina juntamente com os betabloqueadores. Para aqueles com um quadro grave, podem ser utilizados antagonistas da aldosterona ou hidralazina com um nitrato. Os diuréticos são úteis para 64 Unidade II prevenir a retenção de líquidos, e, às vezes, dependendo da causa, um dispositivo implantado, como um marca-passo ou um desfibrilador cardíaco, pode ser recomendado. Em alguns casos moderados ou graves, a terapia de ressincronização cardíaca (TRC) pode ser sugerida ou a modulação da contratilidade cardíaca pode ser benéfica. Um dispositivo de assistência ventricular ou, ocasionalmente, um transplante cardíaco pode ser recomendado para aqueles com doença grave. 6.2.1 Categorização da insuficiência cardíaca Existem muitas maneiras diferentes de categorizar a insuficiência cardíaca; observe a seguir. • O lado do coração envolvido (insuficiência cardíaca esquerda versus insuficiência cardíaca direita). A insuficiência cardíaca direita compromete o fluxo pulmonar para os pulmões. A insuficiência cardíaca esquerda compromete o fluxo aórtico para o corpo e o cérebro. As duas categorias podem apresentar-se concomitantemente e são comuns. Insuficiência cardíaca esquerda muitas vezes leva à insuficiência cardíaca direita a longo prazo. • Se a anomalia é devido a contração cardíaca insuficiente (disfunção sistólica), relaxamento insuficiente do coração (disfunção diastólica) ou a ambos. • Se o problema é principalmente aumento da pressão de retorno venosa (pré-carga) ou falta de fornecimento de perfusão arterial adequada (pós-carga). • Se a anormalidade se relaciona ao baixo débito cardíaco com alta resistência vascular sistêmica ou ao alto débito cardíaco com baixa resistência vascular (insuficiência cardíaca de baixo débito versus insuficiência cardíaca de alto débito). • O grau de doença coexistente, isto é, insuficiência cardíaca/hipertensão sistêmica, insuficiência cardíaca/hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca/diabetes, insuficiência cardíaca/insuficiência renaletc. A classificação funcional geralmente depende da catalogação feita pela New York Heart Association. As classes (I-IV) são: • classe I: nenhuma limitação é sentida em qualquer atividade, não há sintomas durante atividades comuns; • classe II: ligeira limitação de atividade, o paciente está confortável em repouso ou com esforço leve; • classe III: a limitação está presente em qualquer atividade, o paciente se sente confortável apenas em repouso; • classe IV: durante qualquer atividade física, o desconforto aparece, e os sintomas se manifestam também em repouso. 65 FARMACOLOGIA 6.2.2 Principais fármacos usados no tratamento da insuficiência cardíaca (IC) A IC é tratada normalmente com redução da atividade física, dieta com baixa ingestão de sódio, tratamento das condições mórbidas coexistentes e uso criterioso de diuréticos, inibidores de ECA e fármacos inotrópicos. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Inibidores da ECA: enalapril. 1 – Mecanismo de ação: os inibidores da ECA diminuem a resistência vascular, o tônus venoso e a pressão arterial, bem como a pré-carga e a pós-carga, resultando em aumento do débito cardíaco; 2 – Indicação: são indicados para pacientes com insuficiência cardíaca e podem ser associados com diuréticos de alça (furosemida) e a digoxina, reduzindo as arritmias fatais na IC; 3 – Efeitos adversos: hipotensão postural, insuficiência renal, hiperpotassemia, angioedema e tosse seca. • Bloqueadores do receptor de angiotensina II: losartana. 1 – Mecanismo de ação: antagonista de receptores AT1 da angiotensina II; 2 – Indicação: são agentes anti-hipertensivos, porém podem ser indicados na IC em substituição aos inibidores da ECA, pois apresentam vantagens nos efeitos adversos. 3 – Efeitos adversos: hipotensão postural, insuficiência renal, hiperpotassemia, porém não causam tosse seca nem angioedema. • Betabloqueadores: carvedilol e metoprolol. 1 – Mecanismo de ação: antagonistas seletivos para os receptores beta-1-adrenérgicos, causam reversão do remodelamento cardíaco, hipertrofia e morte celular; 2 – Indicação: hipertensão arterial sistêmica e IC; 3 – Efeitos adversos: os efeitos adversos causados já foram discutidos na unidade anterior. • Diuréticos: furosemida. 1 – Mecanismo de ação: atuam na alça de Henle dos néfrons impedindo a reabsorção de sódio (a descrição do mecanismo será estudada mais adiante); 2 – Indicação: evitar congestão pulmonar e edema periférico associado a IC; 3 – Efeitos adversos: hipovolemia profunda, hipopotassemia, entre outros. • Vasodilatadores diretos: hidralazina e isossorbida. 1 – Mecanismo de ação: agem diretamente nos vasos promovendo relaxamento da musculatura lisa e, consequente, diminuição da resistência vascular periférica; 2 – Indicação: IC congestiva; 3 – Efeitos adversos: constipação, tonturas, sensação de fadiga (os demais vasodilatadores devem ser evitados em pacientes com IC). • Fármacos inotrópicos: glicosídeos digitálicos (digoxina). 1 – Mecanismo de ação: aumentam os níveis de cálcio livre no citoplasma das células cardíacas promovendo um aumento na força de contração e na contratilidade do músculo cardíaco; 2 – Indicação: o tratamento com digoxina é indicado para pacientes com disfunção sistólica ventricular esquerda grave depois de iniciado o tratamento com inibidor de ECA e diurético; também é indicada na IC com fibrilação atrial; 3 – Efeitos adversos: arritmias, anorexia, náuseas, êmese, cefaleia, fadiga, confusão, visão borrada, alteração na percepção de cores e distúrbios eletrolíticos. 66 Unidade II IC descompensada Congestão (+) Extremidades quentes PAS > 105 mmHg Vasodilatadores IV ou levosimendana + Otimização terapêutica: • Oxigênio • Diuréticos IV • Ajustar ECA • Vasodilatadores orais • Reavaliar em 24 horas IC descompensada Congestão (+) Extremidades quentes PAS 90 ≤ 105 mmHg Levosimendana ou dobutamina ou milrinona (+ otimização) + vasopressor para manter PAS > 100 Reposta inadequada após 24 horas: • Aumento de BUN • Congestão persistente • Dispneia persistente Se necessário (para desmame da dobutamina), acrescentar levosimendana Dobutamina ou dopamina ou norepinefrina IC descompensada Congestão (+) ou (-) Extremidades frias PAS 90 ≤ 105 mmHg IC descompensada Congestão (+) ou (-) Extremidades frias AS < 90 mmHg Correção volêmica? Figura 12 – Esquema de tratamento para IC 6.3 Antianginosos A angina pectoris, comumente conhecida como angina, é a sensação de dor no peito, pressão ou aperto, muitas vezes relacionada ao fluxo sanguíneo insuficiente para o músculo cardíaco como resultado da obstrução (ou espasmo) das artérias coronárias. Embora a angina de peito possa ocorrer em razão de anemia, ritmos cardíacos anormais e insuficiência cardíaca, sua principal causa é a doença arterial coronariana, um processo aterosclerótico que afeta as artérias que alimentam o coração. O termo deriva do latim angere (“estrangular”) e pectus (“peito”) e pode, portanto, ser traduzido como “uma sensação de estrangulamento no peito”. Existe uma relação sutil entre a gravidade da dor e o grau de privação de oxigênio no músculo cardíaco (pode haver dor grave com pouco ou nenhum risco de infarto do miocárdio e um ataque cardíaco sem dor). Em alguns casos, a angina pode ser bastante grave e, no início do século XX, ela era conhecida por ser um sinal de morte iminente. No entanto, dadas as atuais terapias médicas, as perspectivas melhoraram substancialmente: as pessoas com idade média de 62 anos, com grau moderado a grave de angina (classificando-se pelas classes II, III e IV), têm uma taxa de sobrevida de 5 anos de aproximadamente 92%. O agravamento dos ataques de angina, a angina de repouso e a angina com duração superior a 15 minutos são sintomas de angina instável (geralmente agrupados com condições semelhantes 67 FARMACOLOGIA à síndrome coronária aguda). Como podem preceder um ataque cardíaco, exigem atenção médica urgente e são, em geral, tratados de forma semelhante ao infarto do miocárdio. 6.3.1 Classificação da angina pectoris A angina pectoris pode ser classificada em estável ou instável. • Angina estável: também conhecida como angina de esforço, refere-se ao tipo clássico de angina, relacionada com a isquemia miocárdica. Uma apresentação típica é a de desconforto no peito e sintomas associados precipitados por alguma atividade física (corrida, andando, etc.), com sintomas mínimos ou inexistentes em repouso ou após administração de nitroglicerina sublingual. Os sintomas geralmente diminuem alguns minutos após o fim do exercício e retornam quando a atividade é retomada. • Angina instável: definida como angina pectoris que evoluiu de estável para instável (piora). Possui pelo menos uma destas três características: ocorre em repouso (ou com esforço mínimo), geralmente durando mais de 10 minutos; é grave e se repete (isto é, dentro de 4 a 6 semanas); ocorre com um padrão crescente de intensidade (isto é, distintamente mais grave, prolongada ou frequente do que antes). A angina instável pode ocorrer imprevisivelmente em repouso, o que pode ser um indicador grave de um ataque cardíaco iminente. O que diferencia a angina estável da angina instável (à exceção dos sintomas) é a fisiopatologia da aterosclerose. A fisiopatologia da angina instável é a redução do fluxo coronariano devido à agregação plaquetária transitória em endotélio aparentemente normal, espasmos das artérias coronárias ou trombose coronariana. O processo começa com aterosclerose, progride através da inflamação para produzir uma placa instável ativa, que sofre trombose, e resulta em isquemia miocárdica aguda, que, se não controlada, ocasiona necrose celular (infarto). Estudos mostram que 64% das anginas instáveis ocorrem entre 22h00 e 08h00, quando os pacientes estão em repouso. Na angina estável, o ateroma em desenvolvimento é protegido com um tampão fibroso; essa tampa pode se romper e estabelecer a angina instável,permitindo que coágulos de sangue diminuam ainda mais a área do lúmen do vaso coronariano. Isso explica por que, em muitos casos, a angina instável se desenvolve independentemente da atividade física. 6.3.2 Principais fármacos utilizados no tratamento da angina pectoris Os fármacos mais indicados para o tratamento da angina pectoris estão listados a seguir. • Nitratos orgânicos: isossorbida e nitroglicerina. 1 – Mecanismo de ação: esses fármacos são ésteres de ácido nítrico e nitroso com glicerol e inibem vasoconstrição ou espasmos coronarianos aumentando a perfusão do miocárdio e, assim, aliviando os sintomas da angina; além disso, relaxam as veias diminuindo a pré-carga e o consumo de oxigênio pelo coração; 2 – Indicação: são eficazes nos sintomas da angina (para alívio imediato de um ataque de angina provocado por exercícios ou estresse emocional, o fármaco de escolha deve ser a nitroglicerina sublingual); 68 Unidade II 3 – Efeitos adversos: cefaleia (deve-se evitar a associação com outros vasodilatadores como a sildenafila, pois causam severa hipotensão). • Betabloqueadores: metoprolol e atenolol. 1 – Mecanismo de ação: os betabloqueadores diminuem a demanda de oxigênio do miocárdio, diminuindo a frequência e a força de contração do coração; eles também suprimem a ativação do coração bloqueando seletivamente os receptores beta-1- adrenérgicos; 2 – Indicação: são agentes anti-hipertensivos, indicados também na insuficiência cardíaca e na angina pectoris; 3 – Efeitos adversos: os efeitos adversos dessa classe estão listados na seção de fármacos anti-hipertensivos. • Bloqueadores de canal de cálcio: nifedipino, verapamil e diltiazem. 1 – Mecanismo de ação: o cálcio é essencial para a contração muscular e seu influxo aumenta a isquemia devido à despolarização da membrana provocada pela hipóxia; os bloqueadores de canal de cálcio agem inibindo sua entrada nas células cardíacas e musculares lisas dos leitos arteriais coronarianos e sistêmicos; 2 – Indicação: na angina, pois promovem o relaxamento das artérias coronárias; 3 – Efeitos adversos: taquicardia reflexa, rubor, cefaleia, hipotensão, edema periférico e constipação. 6.4 Antiarrítmicos A arritmia cardíaca, também conhecida como batimento cardíaco irregular, é um grupo de condições em que o batimento cardíaco é irregular, muito rápido ou muito lento. A frequência cardíaca considerada muito rápida (acima de 100 batimentos por minuto em adultos) é chamada de taquicardia, e uma frequência cardíaca considerada muito lenta (abaixo de 60 batimentos por minuto) é chamada de bradicardia. Muitos tipos de arritmia não apresentam sintomas, mas, quando estão presentes, podem incluir palpitações ou a sensação de pausa entre os batimentos cardíacos. Mais seriamente pode haver tontura, desmaio, falta de ar ou dor no peito. Embora a maioria dos tipos de arritmia não seja grave, alguns predispõem uma pessoa a complicações como acidente vascular cerebral ou insuficiência cardíaca; outros podem resultar em parada cardíaca. A maioria das arritmias pode ser efetivamente tratada, e os tratamentos podem incluir medicamentos, procedimentos médicos e cirurgia. Medicamentos para controlar uma frequência cardíaca rápida podem incluir betabloqueadores ou agentes que tentam restaurar um ritmo cardíaco normal, como procainamida. No entanto, este último grupo pode ter efeitos colaterais mais significativos, especialmente se ingerido por um longo período de tempo. Os marca-passos são frequentemente usados para situações de bradicardia, e aqueles com batimentos cardíacos irregulares são muitas vezes tratados com diluentes de sangue para reduzir o risco de complicações. Pacientes apresentando sintomas graves de arritmia podem receber tratamento urgente com uma carga de eletricidade sob a forma de cardioversão ou desfibrilação. 69 FARMACOLOGIA 6.4.1 Classificação das arritmias A arritmia pode ser classificada pela frequência cardíaca (taquicardia, bradicardia), pelos mecanismos cardíacos afetados (automaticidade, reentrada, desencadeada) ou duração (batimentos prematuros isolados, dísticos, corridas, ou seja, 3 ou mais batimentos, não sustentados – menos de 30 segundos – ou sustentados – mais de 30 segundos). Também pode ser classificada pelo local de origem, como se observa a seguir. • Atrial: as mais comuns são bradicardia sinusal, contrações atriais prematuras, marca-passo atrial errante, taquicardia atrial, taquicardia atrial multifocal, taquicardia supraventricular, flutter atrial, fibrilação atrial. • Arritmias juncionais: taquicardia atrioventricular, ritmo juncional, taquicardia juncional, contração juncional prematura. • Ventricular: contrações ventriculares prematuras que são às vezes denominadas batimentos extraventriculares; os batimentos ventriculares prematuros que ocorrem após cada batimento normal podem ser denominados bigêminos ventriculares. São observados: ritmo idioventricular acelerado, taquicardia ventricular monomórfica, taquicardia ventricular polimórfica, fibrilação ventricular e torsades de pointes. • Blocos do coração (também conhecidos como blocos atrioventriculares, porque, em sua maioria, surgem de patologia no nodo atrioventricular): as causas mais comuns de bradicardia são bloqueio cardíaco de primeiro grau (que se manifesta como prolongamento das ondas P e R do eletrocardiograma), bloqueio cardíaco de segundo grau, bloqueio cardíaco de segundo grau tipo 1 (também conhecido como Mobitz I ou Wenckebach), bloqueio cardíaco de segundo grau tipo 2 (também conhecido como Mobitz II) e bloqueio cardíaco completo. • Síndrome de morte arrítmica súbita (SADS): é uma expressão usada como parte da síndrome de morte inesperada súbita para descrever morte súbita devido a parada cardíaca provocada por uma arritmia na presença ou na ausência de qualquer doença cardíaca estrutural na autópsia. A causa mais comum de morte súbita nos Estados Unidos é a doença arterial coronariana, especificamente por causa da má oxigenação do músculo cardíaco (ou seja, isquemia miocárdica ou ataque cardíaco). Aproximadamente de 180 mil a 250 mil pessoas morrem em decorrência dessa síndrome a cada ano nos EUA. As causas de SADS em jovens incluem miocardite viral, síndrome de QT longo, síndrome de Brugada, taquicardia ventricular polimórfica catecolinérgica, cardiomiopatia hipertrófica e displasia arritmogênica ventricular direita. 70 Unidade II 6.4.2 Fármacos utilizados como antiarrítmicos Os fármacos antiarrítmicos podem ser classificados de acordo com seu efeito predominante sobre o potencial de ação. Sua classificação se dá conforme o quadro a seguir. Quadro 6 – Ação dos fármacos antiarrítmicos Classificação dos antiarrítmicos Classe I – Bloqueadores dos canais de sódio A (ação moderada) – quinidina, procainamida, disopiramida B (ação discreta) – lidocaína, hidantoína, mexiletina, tocainida C (ação atenuada) – propafenona, flecainida, encainida Classe II – betabloqueadores Propranolol e similares Classe III – Inibidores da repolarização Amiodarona, bretiílio, soltalol Classe IV – Bloqueadores de canais de cálcio Verapamil • Classe I: esses fármacos atuam bloqueando canais de Na+ sensíveis à voltagem, pelos mesmos mecanismos dos anestésicos locais. A diminuição da velocidade de entrada de sódio reduz a velocidade inicial do potencial de ação, causando diminuição na excitabilidade e na velocidade de condução elétrica cardíaca. Entre os principais fármacos dessa classe estão a quinidina, a procainamida, a disopiramida, a lidocaína, a tocainida, a propafenona e a flecainida. Os principais efeitos adversos são: taquicardia, arritmias, sonolência, fala enrolada, parestesia, agitação, confusão mental, xerostomia, retenção urinária, constipação, cefaleia, náuseas e visão borrada. • Classe II: esses fármacos são os betabloqueadores clássicos estudados anteriormente, sendo os mais utilizados o propranolol, o metoprolol e o esmolol. Eles restringem a despolarização do finaldo potencial de ação, reduzindo, assim, a automaticidade e prolongando a condução atrioventricular; também diminuem a frequência cardíaca e a contratilidade. Os efeitos adversos dessa classe foram estudados anteriormente. • Classe III: esses fármacos bloqueiam canais de K+ e, assim, diminuem o fluxo de potássio durante a repolarização das células cardíacas. Também prolongam a duração do potencial de ação sem alterar a fase inicial do potencial ou o potencial de repouso da membrana; prolongam ainda o período refratário efetivo aumentando a refratariedade. Dentre os principais fármacos dessa classe temos a amiodarona, a dronedarona e o sotalol. Os efeitos adversos causados são: arritmias, intolerância gastrointestinal, fraqueza muscular, coloração azulada da pele e fotossensibilidade. • Classe IV: esses fármacos são bloqueadores de canais de cálcio. Eles restringem a corrente de entrada do cálcio, resultando na diminuição da velocidade de despolarização espontânea. Os 71 FARMACOLOGIA principais fármacos utilizados dessa classe são o verapamil e o diltiazem. Ambos foram estudados no tópico destinado a agentes anti-hipertensivos. Lembrete Arritmia é um distúrbio do batimento ou ritmo cardíaco, como batimento muito rápido, muito lento ou irregular. 6.5 Fármacos que atuam no sangue Agora trataremos de fármacos bastante úteis no tratamento de importantes disfunções do sangue, como trombose, sangramentos, problemas de circulação e anemias. Trombose é a formação de um coágulo sanguíneo dentro de um vaso, obstruindo o fluxo de sangue através do sistema circulatório. Quando um vaso sanguíneo é rompido, o corpo usa plaquetas (trombócitos) e fibrina para formar um coágulo sanguíneo a fim de evitar a perda de sangue. Mesmo quando um vaso sanguíneo não é rompido, coágulos de sangue podem se formar no corpo sob certas condições (um coágulo, ou um pedaço do coágulo, que se liberta e começa a correr dentro do vaso sanguíneo é conhecido como um êmbolo). A trombose pode ocorrer em veias (trombose venosa) ou em artérias. A trombose venosa leva ao congestionamento da parte afetada do corpo, enquanto a trombose arterial (e raramente a trombose venosa grave) afeta o suprimento sanguíneo e provoca danos ao tecido abastecido por essa artéria (isquemia e necrose). Um pedaço de um trombo arterial ou venoso pode se soltar como um êmbolo, viajando através da circulação e se alojando em algum outro lugar, causando uma embolia; esse tipo de embolismo é conhecido como tromboembolismo. Complicações podem surgir quando um tromboembolismo venoso (comumente chamado de TEV) se aloja no pulmão causando uma embolia pulmonar. O sangramento, também conhecido como hemorragia, é o sangue que escapa do sistema circulatório. Pode ocorrer internamente, quando o sangue escapa de vasos sanguíneos dentro do corpo, ou externamente, através de uma abertura natural, como boca, nariz, orelha, uretra, vagina ou ânus (ou através de uma ruptura da pele). Fala-se em hipovolemia quando há uma diminuição maciça no volume de sangue, e a morte por perda excessiva de sangue é chamada de exsanguinação. Normalmente, uma pessoa saudável pode suportar uma perda de 10%-15% do volume total de sangue sem dificuldades médicas graves (por comparação, a doação de sangue normalmente leva 8%-10% do volume de sangue do doador). A interrupção dessa perda ou controle de sangramento é chamada de hemostasia e é um procedimento de extrema importância para primeiros socorros e cirurgia. A anemia é geralmente definida como uma diminuição da quantidade total de glóbulos vermelhos ou hemoglobina no sangue; também pode ser definida como uma capacidade reduzida do sangue para transportar oxigênio. Quando a anemia surge lentamente, os sintomas são frequentemente vagos 72 Unidade II e podem incluir cansaço, fraqueza, falta de ar ou má capacidade durante um exercício físico. Já a anemia que surge rapidamente tem muitas vezes sintomas mais evidentes, como confusão mental, perda de consciência ou aumento da sede. A anemia deve ser significativa antes que uma pessoa se torne visivelmente pálida. Os três principais tipos de anemia se devem à perda de sangue, à diminuição da produção de glóbulos vermelhos ou ao aumento da decomposição de glóbulos vermelhos. As causas de perda de sangue incluem trauma e sangramento gastrointestinal, entre outros. Já as causas de diminuição da produção englobam deficiência de ferro, falta de vitamina B12, talassemia e neoplasias da medula óssea. As causas de maior incidência incluem uma série de condições genéticas, como anemia falciforme, infecções como a malária e certas doenças autoimunes. A anemia pode, ainda, ser classificada com base no tamanho dos glóbulos vermelhos e na quantidade de hemoglobina em cada célula: se as células são pequenas, tem-se anemia microcítica; se são grandes, trata-se de anemia macrocítica; por fim, se são de tamanho normal, é a anemia normocítica. 6.5.1 Coagulação sanguínea e fibrinólise A coagulação é o processo pelo qual o sangue muda de sua forma líquida para uma forma de gel. O mecanismo de coagulação envolve a ativação, a adesão e a agregação de plaquetas com deposição e maturação de fibrina. Os distúrbios da coagulação são estados patológicos que podem resultar em sangramento (hemorragia ou contusões) ou obstrução (trombose). A coagulação começa quase instantaneamente depois que uma lesão no vaso sanguíneo danifica o endotélio que reveste este vaso. O vazamento de sangue através do endotélio dá origem a dois processos: alterações nas plaquetas e exposição do fator de tecido subendotelial ao fator de plasma VII, o que leva, em última instância, à formação de fibrina. As plaquetas formam imediatamente um tampão no local da lesão; isso é chamado de hemostasia primária. Mas a hemostasia secundária ocorre simultaneamente: fatores de coagulação além do fator VII são ativados numa cascata proteica complexa para formar estruturas de fibrina, que reforçam o tampão plaquetário. A fibrinólise é um processo que impede coágulos de terem um crescimento exagerado. Esse processo ocorre de duas formas: fibrinólise primária e fibrinólise secundária. O tipo primário é um processo normal do corpo, enquanto a fibrinólise secundária é a quebra de coágulos causada por um medicamento, um distúrbio médico ou outra causa semelhante. Na fibrinólise, um coágulo de fibrina, o produto da coagulação, é quebrado. Sua enzima principal, plasmina, corta a malha de fibrina em vários locais, levando à produção de fragmentos circulantes que são eliminados por outras proteases ou pelo rim e pelo fígado. 6.5.2 Fármacos anticoagulantes Os fármacos anticoagulantes inibem a ação dos fatores de coagulação ou interferem na síntese desses fatores. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Heparina (enoxaparina): 1 – Mecanismo de ação: é um anticoagulante injetável de ação rápida que inibe a trombina (enzima responsável pela última etapa da formação da fibrina) 73 FARMACOLOGIA e o fator de coagulação Xa (ativado); 2 – Indicação: a heparina limita a expansão dos trombos evitando a formação de fibrina, sendo o principal fármaco utilizado no tratamento da trombose aguda de veias profundas e do embolismo pulmonar; também é indicada de forma profilática para evitar trombos venosos em pacientes pós-cirúrgicos e pacientes que estão em processo de infarto do miocárdio; 3 – Efeitos adversos: hemorragias, reações de hipersensibilidade, trombose, trombocitopenia e osteoporose. • Dabigatrana: 1 – Mecanismo de ação: inibidor direto da trombina; 2 – Indicação: usado para prevenir derrames e embolismos sistêmicos em pacientes com fibrilação atrial; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e distúrbios gastrointestinais (esse fármaco não requer monitorização terapêutica constante quando comparado a outros fármacos anticoagulantes). • Lepirudina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista direto e altamente específico da trombina (relacionado à hirudina encontradana saliva de sanguessugas); 2 – Indicação: tratamento de trombocitopenia induzida por heparina e de outros distúrbios tromboembólicos; 3 – Efeitos adversos: é importante monitorar o tempo de tromboplastina parcialmente ativada (TTPa) e a função renal quando o paciente está recebendo lepirudina. • Varfarina: 1 – Mecanismo de ação: antagonista da vitamina K (vários dos fatores de coagulação, como II, VII, IX e X, precisam de vitamina K como um cofator para suas produções); 2 – Indicação: a varfarina é usada para prevenir a progressão ou a recorrência de trombose aguda de veias profundas ou de embolia pulmonar, após o tratamento inicial com heparina; também é indicada para prevenção de tromboembolismo venoso durante cirurgias ortopédicas ou ginecológicas e, profilaticamente, é indicada para evitar infartos agudos do miocárdio, válvulas cardíacas prostéticas e fibrilação arterial crônica; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e doenças hepáticas podem levar à exacerbação do efeito hemorrágico da varfarina, além de poder causar teratogenicidade ou aborto; apresenta muitas interações medicamentosas, sendo necessário monitorizar a terapêutica. Observação A varfarina (ou warfarina) é um fármaco do grupo dos anticoagulantes que é usado na prevenção das tromboses. É usada também em altas doses como veneno para roedores. 6.5.3 Fármacos trombolíticos As doenças tromboembólicas agudas podem ser tratadas com a administração de fármacos que ativam a conversão do plasminogênio em plasmina. O tratamento trombolítico é malsucedido em cerca de 20% dos casos de artérias infartadas e em cerca de 15% das ocorrências em que artérias são desobstruídas e voltam a se fechar. Nos casos de infartos do miocárdio, os fármacos trombolíticos são utilizados para as situações nas quais a angioplastia não é uma opção ou até que o paciente possa ser levado ao local que tenha condições de realizar intervenções coronarianas percutâneas. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. 74 Unidade II • Alteplase: 1 – Mecanismo de ação: atua ativando o plasminogênio que está ligado à fibrina em um trombo ou em um tampão hemostático (assim é considerada fibrina seletiva); 2 – Indicação: está aprovada para tratamento de infarto agudo do miocárdio, embolismo pulmonar massivo e choque isquêmico agudo; tem capacidade efetiva maior de dissolver os coágulos que os demais trombolíticos; 3 – Efeitos adversos: hemorragias gastrointestinais e cerebrais. • Estreptoquinase: 1 – Mecanismo de ação: não apresenta atividade proteolítica específica, porém auxilia a transformação do plasminogênio em plasmina, não sendo seletiva apenas para o plasminogênio ligado ao coágulo; 2 – Indicação: utilizada para embolia pulmonar, trombose de veias profundas, infarto agudo do miocárdio, trombose arterial e oclusão de acesso de anastomoses; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e hipersensibilidade (é altamente imunogênica). • Uroquinase: 1 – Mecanismo de ação: funciona como enzima proteolítica, convertendo o plasminogênio em plasmina; 2 – Indicação: usada para hidrolisar êmbolos pulmonares, para infarto agudo do miocárdio, tromboembolismo arterial, trombose na artéria coronária e trombose de veias profundas; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e reações anafiláticas. 6.5.4 Fármacos antiagregantes plaquetários Os fármacos dessa classe promovem a inibição da agregação plaquetária e diminuem a formação ou ação dos sinais químicos promotores dessa aglutinação. A estimulação das plaquetas pela trombina, pelo colágeno e pelo ADP resulta na sua ativação, gerando a tromboxana A2, que é liberada e pode, então, desencadear a ativação de novas plaquetas, e consequente agregação. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Ácido acetilsalicílico: 1 – Mecanismo de ação: possui a capacidade de inibir a síntese de tromboxana A2 a partir do ácido araquidônico nas plaquetas, tendo um efeito rápido e persistente; a administração de repetidas doses tem efeito acumulativo; 2 – Indicação: é indicado de forma profilática para a isquemia cerebral, na redução da incidência de infartos do miocárdio recorrentes e para diminuir a mortalidade nos pacientes pré-infartados e nos pós-infartados, podendo ser associado a fármacos anticoagulantes; 3 – Efeitos adversos: choque hemorrágico e sangramento gastrointestinal. • Clopidogrel: 1 – Mecanismo de ação: inibe de forma irreversível a ligação do ADP aos seus receptores nas plaquetas (coíbe a ativação dos receptores responsáveis pela ligação das plaquetas ao fibrinogênio e umas às outras); 2 – Indicação: prevenção de eventos ateroscleróticos que se seguem ao infarto agudo do miocárdio, derrame e doença arterial periférica; também pode ser usado para prevenir eventos trombóticos na síndrome coronariana aguda, associados com a intervenção coronária percutânea com ou sem stent; 3 – Efeitos adversos: hemorragias e derrames. • Abciximabe: 1 – Mecanismo de ação: é um anticorpo monoclonal que é capaz de bloquear os receptores que fazem a ligação entre o fibrinogênio e o fator de von Willebrand impedindo a agregação plaquetária; 2 – Indicação: auxilia nas intervenções coronarianas percutâneas para prevenção das complicações isquêmicas cardíacas; também pode ser utilizado na angina instável 75 FARMACOLOGIA e, com fins profiláticos, no infarto agudo do miocárdio; 3 – Efeitos adversos: sangramentos (principalmente quando associado a anticoagulantes). • Tirofibana: 1 – Mecanismo de ação: similar ao do abciximabe; 2 – Indicação: pode diminuir a incidência de complicações trombóticas associadas a síndromes coronarianas agudas; 3 – Efeito adverso: sangramento. • Dipiridamol: 1 – Mecanismo de ação: vasodilatador coronariano capaz de diminuir a síntese de tromboxana A2 e, consequentemente, reduzir a aderência das plaquetas às superfícies trombogênicas; 2 – Indicação: é recomendado associá-lo à varfarina para se obter um efeito na inibição da embolia das válvulas cardíacas prostéticas; 3 – Efeitos adversos: não deve ser utilizado em idosos, pois, nesses pacientes, causam ortostasia e problemas gastrointestinais. • Cilostazol: 1 – Mecanismo de ação: antiplaquetário com atividade vasodilatadora; 2 – Indicação: diminuição dos sintomas da claudicação intermitente, tratamento da esclerose vascular e da isquemia cerebral crônica; 3 – Efeitos adversos: cefaleia, diarreia, fezes anormais, dispepsia e dor abdominal. 6.5.5 Fármacos que atuam no sistema hematopoiético: antianêmicos Como vimos anteriormente, a anemia é definida como uma diminuição da quantidade total de glóbulos vermelhos (hemácias) ou hemoglobina no sangue. As causas de diminuição da produção incluem deficiência de ferro, falta de vitamina B12, talassemia e neoplasias da medula óssea. As hemácias são produzidas na medula óssea e, depois de diferenciadas, atigem a circulação sanguínea, permanecendo de 90 a 120 dias no sangue. Após esse período, são removidas e degradadas, principalmente pelo baço. A seguir estão listados os principais fármacos dessa classe. • Ferro: 1 – Mecanismo de ação: o ferro é armazenado nas células intestinais como ferritina e, quando necessário, é incorporado às hemoglobinas; 2 – Indicação: anemia microcítica hipocrômica (hemácias pequenas e com pouco ferro) ou ferropriva; 3 – Efeitos adversos: distúrbios gastrointestinais. • Ácido fólico: 1 – Mecanismo de ação: é utilizado na produção de ácidos nucleicos pela medula óssea; 2 – Indicação: anemia megaloblástica (grande tamanho) que é causada pela diminuição na síntese de purinas e pirimidinas, levando a uma incapacidade de o tecido hematopoiético produzir DNA e proliferar-se; 3 – Efeitos adversos: hipersensibilidade. • Cianocobalamina (vitamina B12): 1 – Mecanismo de ação: é importante como cofator na produção de proteínas nas hemácias; 2 – Indicação: anemia megaloblástica e anemia perniciosa; 3 – Efeitos adversos: não é tóxica. • Eritropoietina: 1 – Mecanismo de ação: estimular a proliferação das células produtoras
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