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LINGUÍSTICA APLICADA AO ENSINO CAPÍTULO 2 - QUE PRINCÍPIOS PRAGMÁTICOS E ASPECTOS DISCURSIVOS REGEM A LINGUAGEM? Rosimeire Reis Ribeiro da Costa INICIAR Introdução No início do século XX, o suíço Ferdinand Saussure, considerado o pai da Linguística, definiu a língua como "sistema de signos". Os estudos de Saussure, pautados na tradição gramatical, repercutem ainda hoje, especialmente por tratar a língua, objeto da Linguística, como a interface da linguagem, excluída desta, a concepção da fala. A fala no conceito de Saussure é o uso concreto da linguagem. Em meados do mesmo século, Chomsky atribui à língua, na esteira da concepção saussuriana, a definição de código, instrumento de comunicação por meio do qual o emissor comunica mensagens ao receptor. No contexto dos estudos de Chomsky, consolida- se a Teoria da Comunicação, cujo referencial é de que a língua, enquanto código, é um sistema de regras que precisa ser dominado e respeitado pelos emissores e receptores para a efetivação da comunicação. Nos anos 1930, na antiga União Soviética, Bakhtin propõe que "a substância da língua é o fenômeno social da interação verbal". Os estudos de Bakhtin são reconhecidos tardiamente no continente ocidental, porém, os linguistas veem a necessidade de estudar a língua, tal como ela se planifica socialmente e não mais somente como um sistema abstrato de signos, da tradição gramatical saussuriana, ou com um conjunto de regras a serem seguidas, como concebida na Teoria da Comunicação. Neste capítulo, vamos compreender a linguagem enquanto ato concreto de comunicação. Vamos refletir sobre os quesitos que nos conduzem a responder algumas questões. Quais dispositivos sociais dão efetivo significado nas interações discursivas? Que aspectos discursivos regem a linguagem em situações concretas de atos de comunicação? Como identificar os aspectos organizacionais do discurso? A Linguística Aplicada se interessa aos usos que os falantes fazem e como os sujeitos de uma sociedade estabelecem os modos de manifestar sua cultura interagindo com a linguagem. Esta abordagem é realizada por meio do que se define como pragmática. Assim, o tema do capítulo será abordado no panorama da linguagem nos seus aspectos formais, cognitivos e funcionais a partir de seus aspectos pragmáticos e discursivos. Vamos lá? Acompanhe a leitura com muita atenção! 2.1 Linguagem e cooperação A Pragmática, ramo da Linguística que estuda como os enunciados incorporam significados em um contexto, contribui para se ponderar acerca de aspectos discursivos que regem a linguagem em situações concretas de atos de comunicação. Fiorin (2010) assevera que no sistema linguístico temos oposições fônicas e semânticas e regras combinatórias dos elementos linguísticos, entretanto essas oposições e regras não dão conta de estudar o uso da linguagem. O autor reporta à teoria saussuriana que concebe a Linguística como a ciência da língua, não levando em conta a fala, o uso concreto da linguagem. Enquanto a Pragmática vem ser a ciência que tem como objeto de estudo a linguagem em uso, portanto da prática linguística, de modo a explicar o uso da linguagem no seu contexto. Fiorin (2010) aponta os trabalhos dos filósofos da linguagem John Austin e Paul Grice como o ponto de partida da Pragmática. O filósofo Jonh Langshaw Austin (1911-1960) precursor da Teoria da Fala defendeu a seguinte ideia, conforme transcrito em Fiorin (2010, p. 167), “a linguagem não tem uma função descritiva, mas uma função de agir”. E o homem, ao falar, realiza atos. Por exemplo: Garanto que até amanhã cumpro o cronograma. O "garanto", tendo implícita a primeira pessoa (eu), é o ato de garantia realizado. Fiorin (2010, p. 167) nos traz que Grice “mostra que a linguagem natural comunica mais do que aquilo que se significa num enunciado, pois, quando se fala, comunicam-se também conteúdos implícitos”. Figura 1 - A linguagem verbal é regida pelo princípio da cooperação manifestado pelos interlocutores para manter o fluxo da interação Fonte: g-stockstudio, Shutterstock, 2018. Uma gama de estudiosos comunga com o entendimento de que a pragmática, propriamente dita, é orientada pelo Princípio da Cooperação. A regra geral da comunicação consolida a razão da Pragmática: para cada enunciado há, consequentemente, uma finalidade. Face a essa premissa, os atos de fala não são de todo manifestados explicitamente, ao contrário, são feitos de muitos implícitos. Em conseguinte, só se põe reparo aos fins de um enunciado se se compreendem os implícitos. José Luiz Fiorin é um renomado professor e linguista brasileiro, mestre e doutor em Linguística pela Universidade de São Paulo. Suas publicações sobre Pragmática, Semiótica e Análise do Discurso são de grande relevância para a ciência e o tornam um dos maiores especialistas brasileiros nessas áreas. A seguir, vamos abordar o que na Pragmática se estabelece como uma forma diferente de conceber a comunicação. Trata-se da contribuição de Grice (apud FIORIN, 2010) com a noção de implicatura e o estabelecimento do princípio geral da comunicação: o Princípio da Cooperação. 2.1.1 Princípio da Cooperação O comportamento linguístico mobilizado pelos falantes de modo a reconhecer os implícitos nos enunciados é o de realizar inferências pragmáticas. Reconhecer os implícitos nos enunciados são para os estudiosos da Pragmática determinados por regras de natureza racional. Grice, conforme discorre Fiorin (2010), iniciou o estudo destas regras, ou destes princípios gerais, em 1975, quando estabelece a noção de implicatura e o princípio geral da comunicação – o Princípio da Cooperação. A divergência entre o sentido literal da sintaxe das frases e o efeito de sentido gerado no enunciado moveu Grice a estudar os efeitos dos enunciados que comunicavam mais do que os elementos que o compunham sintaticamente. Grice (apud, FIORIN, 2010) então formula a noção de implicatura, cujo termo nomeia as inferências extraídas das expressões linguísticas e do contexto que subjazem os enunciados, ativadas pelos conhecimentos prévios do falante. Veja, por exemplo, como é recorrente nos atos de comunicação essas premissas de efeitos: um jornal VOCÊ O CONHECE? de grande circulação tem na chamada da capa que é “inédita a decisão do governo de nomear militar à frente da Defesa”. Com tal enunciado, a edição conta com os conhecimentos prévios do leitor de que o ineditismo se refere ao dado da interrupção do regime republicano, golpeado por uma ditadura de 20 anos nas rédeas dos militares das Forças Armadas do Exército. E leva o leitor a inferir que desde a reconquista da democracia, não se nomeou para pastas do governo federal nenhum militar. Outro elemento do enunciado que extrapola a função somente de comunicar é a de atentar-se para recuperar no tempo os horrores do período da ditadura: o texto tem suprimido o Ministério da Defesa, mantendo apenas “Defesa”, provocando mais efeitos de sentidos aos leitores, do que os efeitos de sintaxe poderiam provocar. Eis então um exemplo clássico de cooperação entre enunciado e enunciatário para que se consolide o ato comunicativo, ou para que o enunciador atinja o seu objeto de significação e sentido. A eficiência da competência discursiva, portanto, não se restringe às condições da situação textual que contribuem para a consolidação de produção de sentidos, mas tendem a ser cooperativas no sentido de garantir a compreensão mútua dos interlocutores. Grice (apud FIORIN, 2010, p. 176) distingue dois tipos de implicaturas: “as desencadeadas por uma expressão linguística, as implicaturas convencionais, e as provocadas por princípios gerais ligados à comunicação, as implicaturas conversacionais”. As implicaturas conversacionais se subdividem em implicaturas conversacionais generalizadas e implicaturas conversacionais particulares. No exemplo dado, tratando-se de um contexto histórico do Brasil, reconhecido nas mídias nacionais e internacionais, a expressão linguística “inédita decisão” e os termos “militar” e “Defesa”, desencadeiamo que Grice (apud FIORIN, 2010) formulou: implicaturas. Aqui, no caso, implicaturas conversacionais generalizadas, pois são desencadeadas por elementos linguísticos e de contexto. 2.1.2 As máximas conversacionais As máximas conversacionais são os princípios que descrevem o comportamento linguístico dos sujeitos em interação e se caracterizam como normas específicas de conduta linguística. O Princípio da Cooperação se concretiza a partir de máximas conversacionais. Segundo Grice (apud FIORIN, 2010), são as máximas conversacionais: Máxima da quantidade Faça com que a sua contribuição seja tão informativa quanto o necessário. Não faça a sua contribuição mais informativa que o necessário. Exemplo: - Qual a sua profissão? - Professora. Enunciado que viola a máxima de quantidade: - Professora de escola pública localizada em área de vulnerabilidade social. Máxima da qualidade Tente fazer com que a sua contribuição seja verdadeira. Não diga aquilo que acredita ser falso. Não diga aquilo para o que não possui evidência suficiente. Exemplo: - Qual a sua profissão? - Professora. Enunciados que violam a máxima de qualidade. - Dava aulas. - Sofredora. Máxima da Relação Faça com que sua contribuição seja relevante. Exemplo: - Conseguimos fechar com a coordenação a reunião do conselho de classe para as 18 horas, ok? - Ainda não lancei as notas. Enunciado que viola a máxima da relação: - Vai ser desgastante. Máxima de modo Seja claro. Evite obscuridade de expressão. Evite a ambiguidade. Seja breve. Seja organizado. Exemplo: - A reunião está marcada para acontecer das 18 às 20 horas? - Sim. Enunciado que viola a máxima de modo. - Sim. Vai terminar mais ou menos em 2 horas. O Princípio da Cooperação se define, por assim dizer, como o mecanismo na interação que permite trocar informações com eficiência, que propicia a condução do ato conversacional como é requerida, no momento que ela ocorre, de acordo com o objetivo ou da interação em que os sujeitos estão. Portanto, para Grice (apud FIORIN, 2010), o que permite que o falante comunique os conteúdos de forma implícita é a habilidade de jogar com essas máximas, quando as implicaturas são geradas, na violação de uma dessas máximas. Ou seja, o Princípio da Cooperação se mantém, mas o que se define como violação das máximas são as informações adicionais que os sujeitos, nos seus turnos de falas, creem necessárias. Veja o exemplo da Figura a seguir. Temos que o interlocutor faz a observação de uma provável planta residencial e anuncia que o plano arquitetônico atenderá os prováveis clientes, os compradores. A sua interlocutora acrescenta, cooperando com a observação do seu interlocutor: a dependência de empregada fora otimizada para “office”, o que na linguagem da construção de prédios residenciais define como home office, o espaço de escritório. Ou seja, o termo “otimizar” qualifica o sucesso do projeto, mencionado de modo explícito pelo interlocutor. A implicatura gerada detém-se nas condições de contexto que são compartilhadas entre os interlocutores, entendidos de projetos de construção residencial. E também do conhecimento compartilhado dos interlocutores acerca do desuso da dependência de empregada para tal finalidade. Entre os empreendedores de construção de prédios residenciais atualmente, veem- se indispensável a inclusão do quarto de empregada no projeto, devido a mudança cultural das famílias em relação à auxiliar de serviços domésticos pernoitar no trabalho. As construtoras, ainda transitando com a necessidade e a desnecessidade Figura 2 - A violação das máximas conversacionais conta com os conhecimentos compartilhados pelos interlocutores e com o contexto, gerando implicatura. Fonte: Shutterstock, 2018. da dependência de empregada nos projetos, costumam até, a título de aprovação da planta do imóvel, nomear o espaço como depósito e anunciá-lo para venda como dependência de empregada. No vídeo Fala e Escrita (CEEL UFPE, 2011), você pode acompanhar uma entrevista entre os professores Luiz Antônio Marcuschi e Ângela Paiva Dionísio, do Centro de Estudos Linguísticos da Universidade Federal de Pernambuco. Eles explicitam as noções teóricas centrais de fala, escrita, língua, gênero, texto, multimodalidade, interação e diálogo. Assista em: <https://www.youtube.com/watch? v=UqSfGyR1ERA&t=289s (https://www.youtube.com/watch?v=UqSfGyR1ERA&t=289s)>. Salientamos, porém, que o contexto é determinante para uma situação de interação. A relevância do contexto é fundamental para que sejam notadas as circunstâncias de violação e consequentes implicaturas que inferem nas máximas conversacionais. Outra observação: quando o que é dito no enunciado não é o bastante para consolidar o sentido, o enunciatário complementa por si próprio com informações para compreender o que o enunciador quis emitir. Esses complementos a mais, ditas implicaturas, são demandadas e legitimadas pelo contexto de interação. Nosso próximo tópico de estudo irá focar nos aspectos do discurso. VOCÊ QUER VER? 2.2 Aspectos explícitos e implícitos do discurso As máximas conversacionais concebidas por Grice (apud FIORIN, p. 181) “procuram mostrar como o falante, na troca verbal, resolve o problema do que deve dizer e do que não deve dizer”. De acordo com Fiorin (2010), conforme a situação de enunciação, há assuntos autorizados e proibidos e atos de linguagem que se impõem. Os atos conversacionais se constroem entre os falantes na esteira da dimensão gramatical e na dimensão semântica-cognitiva. A semântica, campo de estudo dos significados potenciais das palavras, tem no ramo da Linguística a finalidade de https://www.youtube.com/watch?v=UqSfGyR1ERA&t=289s compreender o significado não só no que nele se contém, mas qual sentido que possa remeter resultante da interação em que estão inseridos o enunciado, os enunciadores, enunciatários e o contexto da enunciação. 2.2.1 Conteúdos explícitos e implícitos do discurso: postos, pressupostos e subentendidos As máximas conversacionais exploradas tentam explicar o problema dos conteúdos implícitos, como demonstra Fiorin (2010). O conteúdo explícito no discurso constitui-se de enunciados passíveis de identificação com o dito, com o que está posto. Enquanto que o conteúdo implícito do discurso se constitui de pressuposições ou subentendidos. “Linguagem e ideologia” (FIORIN, 1998) aborda a linguística de duas maneiras: mostra que a linguagem pode apresentar certa autonomia em relação às formações sociais e também sofrer as determinações ideológicas. Na dimensão semântica, a literatura da Análise do Discurso investe na identificação dos indícios que evidenciam a produção de sentido nas composições discursivas e consolidam a interação sociocomunicativa. No conteúdo implícito do discurso, a pressuposição é um dos aspectos que o define. A dificuldade de estabelecer uma distinção nítida entre implicaturas generalizadas e implicaturas particulares leva Orecchioni, inspirada no linguista francês Oswald Ducrot, a dizer que os conteúdos transmitidos pelos atos de fala podem ser explícitos e implícitos. Estes são as inferências e dividem-se em pressupostos e subentendidos. Para que alguém perceba os conteúdos implícitos, eles precisam estar marcados, seja no enunciado, seja na situação de comunicação (FIORIN, 2010, p. 181). Para Fiorin (2010), o que é dito explicitamente pode ser questionado. E quanto aos pressupostos, estes devem ser verdadeiros e acrescenta que os explícitos são construídos sobre os pressupostos. Sendo assim, "se um pressuposto for falso, ou VOCÊ QUER LER? considerado como tal, os conteúdos explícitos não têm o menor sentido, não podem sequer ser considerados falsos" (FIORIN, 2010, p. 182). Ainda segundo o autor, os adjetivos e verbos que indicam permanência ou mudança de estado, os verbos que revelam um ponto de vista a respeito do que é expresso por seu complemento, os adjetivos, certos advérbios, as orações adjetivas e certas conjunções são os principais marcadoreslinguísticos da pressuposição. CASO Em uma gerência de Recursos Humanos de um órgão de Secretaria de Administração Municipal, o diretor dá bom dia a sua assessora e pergunta: "- O jornal de hoje? Não chegou?" Em que a assessora responde: " - Já é o terceiro dia. A distribuição deve ter sido afetada pelos protestos." A suposição, de acordo com Müller e Viotti (2003), é pano de fundo de uma asserção. É o que move o interlocutor a deduzir o que não está dito. No caso, o diretor possivelmente "reclama" que há uns dias o jornal não tem chegado à sala ou ao ambiente de seu expediente. A interlocutora "justifica" a não emissão do jornal ao diretor: "Já é o terceiro dia". E alimenta a justificativa compartilhando uma suposição que faz parte do contexto de ambos: "A distribuição deve ter sido afetada pelos protestos". A pressuposição tem em seu conteúdo discursivo uma proposição, cujo valor de verdade vai depender da verdade ou da falsidade de uma outra proposição - "Já é o terceiro dia"- que depende da veracidade da outra proposição: "A distribuição deve ter sido afetada pelos protestos". Na interlocução, entre pressuposições, os subentendidos vão sendo explicitados. Já um subentendido é quando as informações contidas em um dado enunciado dependem da situação de comunicação. Assim, o subentendido é um meio de o falante proteger-se, porque, com ele, diz o que se quer, sem se comprometer. "Com os subentendidos, diz sem dizer, sugere-se, mas não se diz. O grau de evidência de um subentendido depende do grau de notoriedade dos fatos extralinguísticos a que remetem" (FIORIN, 2010, p. 184). Dito isso, enquanto o pressuposto pode ser contestado, o subentendido, ao sê-lo por tomar ao pé da letra, ou seja, no sentido literal, pode ser negado por quem o profere. Exemplos de subentendidos clássicos são as morais das fábulas e provérbios populares. Considere que em um desacordo entre os interlocutores, no inflar da discussão, um deles pode dizer: - A porta é a serventia da casa! Esta reação enunciativa virá, na nossa cultura linguística, ofender o(s) enunciatário(s) que pode(m) vir a bater em retirada. Só mesmo não compartilhando da cultura discursiva que alguém possa perguntar: - O que você quer dizer com isso? A maneira pode ser irônica ou ofendida, pois os atos valorizadores da face e o enunciado performativo contribuem para "entender" o subentendido. O enunciado remete as intenções do enunciador constituído de recursos da língua de composição lexical e gramatical e de composição semântico-cognitivo. Partindo do princípio que todo enunciado se instala em uma instância de interação, nela se realiza o processo de convergência entre o que está explícito e implícito na produção e interpretação do enunciador e o enunciatário, sujeitos do ato conversacional. O componente semântico-cognitivo é constituído de conjunto de representações da realidade, expressa através da língua. É o conjunto de conhecimento cultural dos sujeitos da enunciação que o remete a reorganizar os significados das palavras, reconhecer as variações de sentido, fazer inferências no contexto que a situação discursiva se insere. VOCÊ SABIA? Os elementos implícitos, em uma situação de interação, são recursos que garantem o ato de linguagem. As informações implícitas são identificadas pela competência discursiva de inferência do enunciatário. Significa dizer o que popularmente se diz: “saber ler o que está escrito nas entrelinhas”. Fica, portanto, basicamente compreendido que o dito e o não explicitamente dito constituem-se em uma composição discursiva organizada sintaticamente por asserções (afirmações negativas ou positivas), interrogações e suposições. Conclui-se que os sujeitos enunciador e enunciatário se convergem no processo de produção e interpretação, pondo em ação as competências gramático-morfológica, semântica-cognitiva e discursiva no ato conversacional. A seguir, vamos conhecer a multiplicidade de usos da linguagem. Figura 3 - Competência linguística também significa produzir sentido a partir do texto escrito em um contexto concreto de comunicação. Fonte: michaeljung, Shutterstock, 2018. 2.3 Linguagem e usos linguísticos No ensino de Língua Portuguesa, o caráter múltiplo de linguagem motiva a estudar ora um ora outro dentre os diferentes enfoques que a caracteriza. Conforme Geraldi (2006), há três concepções que podem ser apontadas à Linguagem: “(1) a linguagem é a expressão do pensamento; (2) a linguagem é instrumento de comunicação; (3) a linguagem é uma forma de interação” (GERALDI, 2006, p. 41). São três concepções que correspondem às três correntes dos estudos linguísticos. A primeira, à gramática tradicional, a segunda, ao estruturalismo e o transformacionalismo e a terceira, à linguística da enunciação. Como podemos inferir, o interesse pelo estudo da linguagem remonta desde a Antiguidade. E indiscutivelmente, uma corrente não exclui a outra, uma vez que os estudos da linguagem se constituem dessas correntes de pensamentos. Como já citamos, Fiorin (2010) alude que os trabalhos dos filósofos John Austin e Paul Grice deram à Pragmática o seu ponto de partida. Enquanto Grice (apud FIORIN, 2010) mostra que quando se fala comunica-se além do que está explicito em um enunciado, Austin (apud FIORIN, 2010) postula que ao falar, o homem realiza atos, sendo assim, a função da linguagem não é descritiva, mas sim de ação. Não se pode negligenciar a visão interacionista austiniana e griceriana, que no seu desdobramento vem sendo o berçário da concepção de linguagem como forma de interação. “A presença do texto na sala de aula” (GERALDI, 2006), artigo do professor João Wanderley Geraldi, é um convite à reflexão sobre o comportamento enunciativo de professores e estudantes. O autor põe em xeque o trabalho escolar com a linguagem relativo às funções que o texto pode exercer em sala de aula. A Pragmática tem em um dos seus domínios de estudo dos fatos linguísticos a enunciação, isto é, as realizações linguísticas concretas. A enunciação dá-se em um espaço de interlocução, cujos interlocutores interpretam o texto, oral ou escrito. Conforme traz Benveniste (1974, apud FIORIN, 2003), a enunciação é a colocação em funcionamento da língua por um falante para produzir enunciados – espaço de interlocução. O espaço de interlocução, portanto, constitui da presença dos interlocutores “eu” e “tu”, o que produz o texto e o que o interpreta, respectivamente, em um determinado espaço. A esta situação de interlocução Benveniste (1974, apud FIORIN, 2003) conceituou de instância da enunciação. Refletindo acerca da concepção da instância constituída do enunciado, conclui que é ela “a instância linguística logicamente pressuposta pela própria existência do enunciado" (FIORIN, 2003, p.162). VOCÊ QUER LER? Os atos concretos dos enunciados produzidos conferem fatos linguísticos que só são entendidos em uma instância enunciativa. Fiorin (2010) enumera elementos linguísticos que norteiam a enunciação. São eles, os dêiticos, que indicam o tempo, o lugar e os participantes da enunciação; os enunciados performativos que realizam a ação que eles nomeiam; os conectores; negações; advérbios; inferência. Figura 4 - A relação espaço e tempo instaura a diversidade de enunciados entre o universo de interlocuções. Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018. Resumindo, o contexto de interação, constituído de seus elementos essenciais, o “eu” e o “tu”, se estabelece em um dado tempo e espaço. A relação espaço e tempo instaura a diversidade de enunciados. Veja como essas dimensões nas instâncias enunciativas remetem a inserção de outras instâncias, no desenrolar das interações de seus interlocutores. (Enunciador) – Até ontem estava tudo muito claro para o grupo. Concordamos que ninguém aceitaria a imposição de voltar atrás até a próxima assembleia. (Enunciatário) – Claro, sem dúvida! Estamos juntos! (Enunciador) – É, mas a situação agora muda. Rosana. Me ligou à noite. (Enunciatário) – E aí? O que ela disse: Nesse recorte da interlocução,uma nova instância enunciativa se instala, o que dará lugar a um novo espaço de interlocução, cujo enunciador é Rosana. As instâncias enunciativas então desencadeiam em outras instâncias enunciativas que, por sua vez, dão voz a enunciadores mencionados no contexto da situação discursiva. O contexto de interação cujos interlocutores são dotados de competência discursiva contam com recursos linguísticos que cooperam na situação de enunciação. Tais recursos têm como modalizadores o tempo – o momento e o lugar – o aqui, que se servem dos elementos linguísticos que os determinam. Saiba que na perspectiva pragmática os elementos linguísticos - pronomes, tempos verbais, advérbios - são a base da sustentação da situação discursiva. Na análise pragmática esses elementos são analisados como dêiticos, o primeiro entre os elementos linguísticos que norteiam a enunciação, enumerados por Fiorin (2010). VOCÊ SABIA? Dêiticos são elementos linguísticos - pronomes pessoais, demonstrativos, artigos definidos e indefinidos, tempos verbais, locuções adverbiais de tempo como, por exemplo, daqui a pouco, logo agora, há tempos - que indicam o tempo e o lugar dos interlocutores. Só são entendidos em uma situação de comunicação. Na observância dos dêiticos que é possível analisar em que ponto se instalam os variados enunciados: o jurídico, policial, acadêmico, teatral, novelesco, dramático, jornalístico, humorístico, histórico, científicos e outros mais. Os enunciados performativos, elemento linguístico da enunciação, são os que realizam a ação que eles nomeiam. Fiorin (2010) exemplifica o caso da enunciação de comprometimento: ordem, promessa, juramento, desejo, agradecimento, pedido de desculpas etc. Os conectores conectam os atos de enunciação - mas, porque, ou - explicitando modos, causas, alternâncias. E advérbios de enunciação que realçam, qualificam os modos de dizer: particularmente, especialmente, sinceramente. Algumas negações, que no ato da fala não têm o sentido gramático-morfológico, mas reforçam o que é dito: - Não quero! Exijo!!! Figura 5 - Em cada contexto concreto de comunicação, um gênero textual entra em atividade para a instauração de instâncias enunciativas. Fonte: JNT Visual, Shutterstock, 2018. Outro elemento linguístico da enunciação é a inferência. Nas situações de interlocução muitas vezes os interlocutores precisam inferir sobre o que está sendo enunciado, pois a comunicação muito raramente é literal e, geralmente, só pode ser entendida dentro do contexto. Muito bem, continuando com nosso estudo, vamos agora abordar conceitos relativos à Análise do Discurso e apresentar pontos importantes dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa. 2.4 Aspectos discursivos Quais aspectos determinam o(s) discurso(s)? Enquanto tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN, 2000), como se organizam nas esferas da atividade humana? Nesta perspectiva, vamos remontar a Bakhtin, que há 40 anos, propusera que a substância da língua é o fenômeno social de interação verbal. A linguagem, como forma de interação, dá-se em um espaço e contexto social. Os diferentes enunciados, por sua vez, incorporam significados em um contexto social de comunicação verbal. No filme O Discurso do Rei (SEIDLER, 2010), acompanhamos a história do futuro rei do Reino Unido, George VI, gago desde os quatro anos de idade e, ao assumir o posto de monarca, contrata o terapeuta de fala Lionel Logue para ajudar a superar a gagueira. Observe a importância da comunicação para o rei que tem relação com sua posição de liderança. A visão da língua como atividade social, histórica e cognitiva trata os seus aspectos discursivos e enunciativos nas perspectivas funcional e interativa. Na pluralidade de usos da língua, nos variados contextos e diversidade de funções, dão-se, em cada situação discursiva, um tipo de texto que a sustente. Ou seja, para cada instância enunciativa demanda-se o que vem convencionando a denominar gênero textual. Tanto na língua falada quanto na escrita predominam-se gêneros de textos adequados às interações sociocomunicativas. VOCÊ QUER VER? Os Parâmetros Curriculares Nacionais da Língua Portuguesa (BRASIL, 1997) já objetivavam a revisão do Ensino da Língua Portuguesa nos ciclos da Educação Básica, enfatizando a importância e o valor dos usos da linguagem segundo as demandas sociais de cada momento. E reiteram que “toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem” (BRASIL, 1997, p. 20). Acerca da eficácia, os PCN apontam para que o uso da linguagem satisfaça as necessidades pessoais relacionando-as em ações efetivas do cotidiano. Esta perspectiva é pensada na atividade de natureza reflexiva da língua que se dá na observância dos aspectos discursivos. Figura 6 - A reflexão sobre a língua começa nos primeiros anos escolares de modo que a criança desenvolva capacidade de relacionar os diferentes usos da linguagem com contextos do cotidiano. Fonte: michaeljung, Shutterstock, 2018. VOCÊ O CONHECE? Os Parâmetros Curriculares Nacionais respeitam as diversidades regionais, culturais, políticas no país e são referência nacional comum para as discussões curriculares da área no Brasil. O PCN da Língua Portuguesa contribui com o professor para a seleção dos conteúdos e o tratamento didático na sala de aula. Você pode saber mais sobre os PCN em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf (http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf)>. As peculiaridades de cada gênero textual, os recursos de coerência e coesão, os conectivos e expressões temporais e causais, as substituições lexicais, a manutenção do tempo verbal, a regência verbal e concordâncias verbal e nominal empregadas são o que se denominam aspectos discursivos da linguagem em uso. Conforme o PCN da Língua Portuguesa reforça, a atividade de análise e reflexão sobre a língua significa imprimir maior qualidade ao uso da linguagem e, por conseguinte: as situações didáticas devem, principalmente nos primeiros ciclos, centrar-se na atividade epilinguística, na reflexão sobre a língua em situações de produção e interpretação, como caminho para tomar consciência e aprimorar o controle sobre a própria produção linguística (BRASIL, 1997, p. 26). Dado este trato à língua, como forma de ação social e histórica, cabe ao ensino da Língua Portuguesa dar ênfase à reflexão da atividade linguística em que essa se realiza. 2.4.1 Domínio Discursivo Na esteira da definição de discurso, tipo e gênero textual, Marcuschi (2005) salienta a necessidade de definir domínio discursivo, cuja noção vinha sendo usada de maneira um tanto vaga. O autor cita que “usamos a expressão domínio discursivo para designar uma esfera ou instância de produção discursiva ou de atividade humana” (MARCUSCHI, 2005, p. 23). Segundo ele, tais domínios não são textos nem discursos, mas propiciam o surgimento de discursos específicos. Exemplificando, Marcuschi (2005) diz que dos domínios, falamos o discurso jurídico, discurso jornalístico e discurso religioso. E adverte que cada atividade - jurídica, jornalística, religiosa - não abrange um único gênero em particular, mas constituem práticas discursivas nas quais podem-se identificar um conjunto de gêneros que lhes são próprios nas rotinas comunicativas. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf O livro “Gêneros Textuais & Ensino” (DIONÍSIO; MACHADO; BEZERRA, 2005) reúne textos que discutem gêneros contribuindo para o estudo do professor de português, do estudioso da língua e também dos comunicadores. Obra que compila variada análise de gêneros atuais, em novas funções e situações comunicativas. Um gênero pode pertencer a mais de um domínio, mas o que o distinguirá será a instância enunciativa de cada um deles. O Quadro abaixo ilustra a noção de domínios discursivos. Interessa também reportar o que Marcuschi (2005) enfatiza quando orienta para que texto e discurso não sejam consideradoscomo sendo a mesma coisa. Para o autor, denomina-se e distingue-se texto como uma entidade concreta que se realiza em VOCÊ QUER LER? Figura 7 - Visão geral dos gêneros e domínios que categorizam os textos escritos. Fonte: CAFIEIRO, 2005, p. 26. situações de fala ou escrita e se organiza em um gênero textual. Já o discurso é o resultado que um texto falado ou escrito produz em uma dada instância discursiva. 2.4.2 Contexto de produção/ideologia O discurso pertence a diferentes domínios. Sendo assim, qual a relação que o dicurso mantém com a ideologia? Qual é o lugar das determinações ideológicas no discurso? Como o discurso veicula a ideologia? O que é ideologizado na linguagem? Conforme nos traz Fiorin (1998), ao mesmo tempo que a linguagem é individual é também social, física, fisiológica e psíquica. Significa que ao mesmo tempo que a linguagem é determinada por fenômenos sociais, conserva uma autonomia em relação às formações sociais. Nos atos da fala realiza-se concretamente o sistema virtual e abstrato da língua, seja qualquer língua de domínio de falantes. E o discurso é o modo dos falantes, através dos atos de fala, de externar os propósitos e expressar os pensamentos acerca do mundo e do seu mundo interior. O discurso é uma cadeia de regras estruturada da linguagem e esta estrutura compõe-se de sintaxe discursiva e semântica discursiva. Fiorin (1998) elenca na sintaxe discursiva os processos de estruturação do discurso: a subjetividade, a objetividade, o mecanismo do discurso direto e indireto. A introdução da primeira pessoa no discurso, cria-se, consequentemente, o efeito de sentido de subjetividade. Veja o exemplo. (1) Eu tenho convicção que a greve dos caminhoneiros tem um viés político. (2) A greve dos caminhoneiros tem um viés político. A introdução do “eu” no exemplo (1) pode ser entendida como uma exposição do ponto de vista pessoal do fato, causando o efeito de subjetividade, enquanto a não utilização do “eu”, em (2), produz efeito de objetividade. Quanto ao mecanismo do discurso direto, como exemplifica Fiorin (1998), caracteriza pela conservação integral do discurso relatado. Por exemplo: Ouvindo aquilo, uma raposa que ia fugindo com os outros parou, virou-se e se aproximou do burro rindo: – Se você tivesse ficado quieto, talvez eu também tivesse levado um susto. Mas aquele zurro bobo estragou sua brincadeira! (LA FONTAINE, 1998, p. 21). O narrador dá voz ao personagem, cita o discurso alheio, produzindo um efeito de verdade. Repetir o discurso do outro, palavra por palavra, passa a sensação que a própria personagem estivesse falando. VOCÊ SABIA? No discurso direto, a fala de outrem é anunciada por um verbo de dizer, separada da fala do narrador por aspas ou travessão. O discurso indireto é uma oração subordinada objetiva direta, separada da fala do narrador. É a forma predileta de textos de natureza filosófica, científica e política. Enquanto a sintaxe discursiva aborda as formações sociais nos moldes sintáticos abstratos do discurso, a semântica discursiva aborda os conteúdos que nesses moldes estão inseridos. A semântica discursiva acusa a manipulação consciente e a determinação inconsciente, na medida que na sintaxe discursiva, os falantes optam por lançar mão de mecanismos que convençam o seu interlocutor. Um destes mecanismos é a inclusão do discurso direto na argumentação. A sintaxe discursiva é o campo da manipulação consciente. Você pode notar que são atos de ofício da dimensão discursiva, pois, em virtude dos hábitos adquiridos ao longo da aprendizagem linguística, acabamos por usar esses procedimentos de manipulação de maneira inconsciente, como Fiorin (1998) assevera: O campo das determinações inconscientes é a semântica discursiva, pois o conjunto de elementos semânticos habitualmente usado nos discursos de uma dada época constitui a maneira de ver o mundo numa dada formação social. Esses elementos surgem a partir de outros discursos já construídos, cristalizados e cujas condições de produção foram apagadas. Esses elementos semânticos, assimilados por cada homem ao longo de sua educação, constituem a consciência e, por conseguinte, sua maneira de pensar o mundo. Por isso, certos temas são recorrentes na maioria dos discursos: os homens são desiguais por natureza; na vida, vencem os mais fortes; o dinheiro não traz a felicidade, etc (FIORIN, 1998, p.18). O discurso ideológico reside, portanto, na semântica discursiva, que busca captar os significados nas suas versões particulares da lógica formal. Publicado na Rússia, em 1929, o livro “Marxismo e Filosofia da linguagem” (BAKTHIN; VOLOCHÍNOV, 1929) trata de temas como a natureza ideológica do signo linguístico, o dinamismo próprio de suas significações, o signo como arena da luta de classes e as críticas a Saussure. As questões suscitadas acerca da linguagem, que remontam desde a Antiguidade, foram abordadas pela primeira vez na perspectiva marxista, por Bakthin e Volochínov (1929). Tal como Saussure, os autores tratam a língua como fato social, instrumento de comunicação. Ao contrário do conceito saussuriano, que concebe a língua como objeto abstrato, Bakthin e Volochínov (1929) percebem a língua em um sistema dialético anacrônico. A crítica discorre na concepção de que Saussure aloca a língua em um sistema sincrônico e questiona a exclusão da sua manifestação concreta, a fala. Bakthin realça o valor da fala e discorre sobre sua natureza social, contrariamente como a individual concebida por Saussure. O mais relevante na concepção de língua bakhtiniana é tratar a natureza social da língua instada em situações de comunicação relacionadas a estruturas sociais. Na última década do século atual vimos, conforme atualiza Marcuschi (2005), o desmembramento das dicotomias do final do século XX, caracterizando-se da seguinte forma: a identificação do objeto da linguística representada pelo sistema, constituindo um conjunto de dicotomias; a guinada da Pragmática oferecendo novos paradigmas de análise da língua; o surgimento da sociolinguística, em parte mantendo-se no contexto dos estudos formais; a visão dos estudos de natureza discursiva e as condições de enunciação e a afirmação do compromisso cognitivista, trazendo a preocupação com a natureza da linguagem sob o ponto de vista de seu estatuto cognitivo. Importante reiterar aqui a relevância desta síntese sócio-histórica da Linguística nos PCN para uma formação integradora do leitor em formação. E reportando a Marcuschi (2005), seja o texto – falado e escrito – a fonte de aprendizagem e redenção de todos que passam pela escola. VOCÊ QUER LER? Fizemos, então, até aqui, um exame da linguagem enquanto discurso no seu nível organizacional. Percorremos sobre o estudo da linguagem e usos linguísticos na perspectiva do conceito de enunciado com base nos aspectos pragmáticos do contexto. E tratamos do conceito de discurso em uma abordagem da Análise do Discurso no contexto de sua produção e seus aspectos ideológicos. Apresentamos os aspectos teóricos acompanhados de exemplos, de modo que seja possível fazer a análise, a distinção, a identificação e a interpretação dos conceitos propostos nos tópicos do capítulo. Certamente, o propósito de garantir a apreensão de conhecimento e da apropriação de habilidades de aplicação metodológica de ensino e aprendizagem da Linguística Aplicada foi em boa parte contemplada. Os estudos não param por aqui. A linguagem é dinâmica, viva, sujeita a transformações e provocadora da continuidade das pesquisas e conjeturas na sua praxe social. Figura 8 - A língua é de natureza social e é ativada em situações de comunicação caracterizada pelas estruturas sociais. Fonte: Bizi88, Shutterstock, 2018. Síntese Finalizamos o segundo capítulo do estudo de Linguística Aplicada que trata da influência dos aspectos pragmáticos e discursivos na linguagem. Agora você conhece os princípios pragmáticos e os aspectos discursivos que regem a linguagem e está em condições de ler, analisar, interpretar e produzir textosde variados gêneros, considerando suas especificidades estilísticas e discursivo-pragmáticas. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: identificar o Princípio da Cooperação, reconhecendo-o como um dos princípios gerais assentados em inferências pragmáticas; distinguir as máximas de quantidade, qualidade, relação e modo, a partir da compreensão que são princípios descritivos do comportamento linguístico dos sujeitos em interação; aplicar os conceitos na elaboração de exemplos para as máximas conversacionais, reconhecendo que estas caracterizam-se como normas específicas de conduta linguística; distinguir conteúdos implícitos e explícitos que são explicados pelas máximas conversacionais exploradas nos estudos de Grice; inferir pressupostos e subentendidos, reconhecendo que devem ser verdadeiros de modo que os conteúdos explícitos tenham sentido; interpretar enunciados sabendo que a base de sustentação é a sintaxe pragmática dos elementos linguísticos; identificar o que é discurso, o que é domínio discursivo, contexto de produção e ideologia na concepção da Análise do Discurso; interpretar diferentes discursos nas variadas instâncias enunciativas nas esferas sociais. Bibliografia BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. ______.; VOLOCHÍNOV, V. N. Marxisimo e filosofia da linguagem: Problemas fundamentais do Método Sociológico na Ciência da Linguagem. São Paulo: Hucitec, 1981. BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, DF, 1997. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf (http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro02.pdf)>. Acesso em: 5/06/2018. CAFIEIRO, D. Leitura como processo: caderno do professor. Belo Horizonte: Ceale/Fae/UFMG, 2005. CAGLIARI, L. C. Alfabetização e linguística. São Paulo: Scipione, 2010. CEEL UFPE. Fala e Escrita - Parte 03. Direção: Alessandra Barbosa; Alan Mendes de Farias. Produção: D7 filmes. Brasil, 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=UqSfGyR1ERA&t=289s (https://www.youtube.com/watch?v=UqSfGyR1ERA&t=289s)>. Acesso em: 5/06/2018. DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. 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