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Hepatologia Thomás R. Campos HEPATITES VIRAIS ▪ Hepatite aguda: < 6 meses. ▪ Hepatite crônica: > 6 meses. – As duas hepatites virais que cronificam são “B” e “C” (a que mais cronifica é a “C”). – Ocorre inflamação/dano persistente ao fígado, gerando um processo de fibrose (i.e.: cirrose). ▪ Hepatite fulminante: qualquer situação em que o paciente evolui muito rapidamente para falência hepática. Por definição, um quadro de encefalopatia hepática que se desenvolve em < 8 semanas, somado a alterações de coagulação (↑TAP, ↑INR). – Pode ocorrer em diversas doenças hepáticas (ex.: Wilson, Hemocromatose, autoimune, inclusive as hepatites virais). – Das hepatites virais, a que pode ter evolução fulminante é a hepatite B (algo muito raro). A cronificação da doença depende da competência imunológica do indivíduo (ex.: um RN que contrai o HBV tem 95% de chance de cronificar, já um adulto hígido que contrai o HBV tem 5%). Por outro lado, a evolução fulminante tem como explicação uma resposta imunológica exagerada (na verdade, quem agride o hepatócito não é o vírus, mas sim o sistema imunológico na tentativa de eliminá-lo). HISTÓRIA NATURAL DAS HEPATITES VIRAIS ▪ Incubação (4-12 semanas): desde a entrada do vírus no organismo, até que ele comece a se replicar e finalmente causar doença. ▪ Fase clínica: quando o indivíduo começa a ter manifestações da doença. Nessa fase o paciente já tem anticorpos contra o vírus. – Prodrômica: sintomas iniciais, mais frustros (ex.: febre, astenia + ↑transaminases – TGP é mais específica porque TGO também tem em células musculares). – Ictérica: quando a agressão fica mais evidente (icterícia com predomínio de Bb Direta, colúria e acolia fecal + ↑↑transaminases >10x LSN). – Convalescência: fase em que ocorre melhora progressiva e cura ou pode cronificação. Hepatologia Thomás R. Campos HEPATITE A TRANSMISSÃO: ▪ Fecal-oral → a pessoa infectada elimina o HAV nas fezes e, em condições precárias de saneamento, pode haver a transmissão. – No Brasil houve uma melhora nos últimos 30 anos nas condições sanitárias, o que se traduziu numa redução muito importante dos casos de Hepatite A, mas muito ainda há a ser feito... – Além disso, existe vacina. CLÍNICA: ▪ Maioria assintomática; ▪ 10% apresentam sintomas (ex.: icterícia); ▪ Raramente fulminante. ▪ Não cronifica → ou a pessoa se cura (maioria dos casos) ou morre de uma hepatite fulminante (mutíssimo raro de acontecer). DIAGNÓSTICO: ▪ Sorológico: Anti-HAV - IgM (4-6 meses) / IgG (cicatriz sorológica). – Se um paciente em investigação de icterícia tiver anti-HAV IgG+, o vírus A não é a causa! Pois quem teve contato com o HAV vai ter IgG para o resto da vida. TRATAMENTO: ▪ Sintomático; ▪ Afastar das atividades por 2 semanas (pois é o momento de maior transmissibilidade). PROFILAXIA: ▪ Vacina – dose única aos 15 meses de vida (Ministério da Saúde). ▪ Profilaxia pós-exposição: dentro de 14 dias da exposição, é possível realizar a vacina (nesse caso, a resposta da vacina será mais rápida do que o desenvolvimento da doença) – em casos de indivíduos imunodeprimidos ou crianças < 1 ano, deve ser feita imunoglobulina específica. *A Hepatite E é muito semelhante à hepatite A (forma de transmissão, clínica, não cronifica...) a diferença é que a hepatite E pode fulminar em gestantes (em até 20% dos casos). Hepatologia Thomás R. Campos HEPATITE B O vírus da hepatite B é o único vírus da hepatite que o material genético é DNA (e às vezes o DNA do vírus pode se integrar ao DNA do hepatócito). Existem proteínas que são antígenos e tem importância do ponto de vista diagnóstico: HBsAg (superfície), HBcAg (no core/centro viral), HBeAg (o vírus só libera esse antígeno quando ele está se replicando). Os respectivos anticorpos são: ▪ Anti-HBs: é o anticorpo da cura, da proteção, da imunidade. ▪ Anti-HBc: mostra que a pessoa tem ou teve contato com o vírus. ▪ Anti-HBeAg: mostra que o vírus não está se replicando. Na fase de incubação apenas o HBsAg está positivo, mostrando que a pessoa tem a infecção pelo vírus. A partir do início dos sintomas (fase prodrômica), os anticorpos começam a ser produzidos, o primeiro que aparece é o anti-HBc (IgM e IgG). Durante o curso da infecção o HBeAg e anti-HBe são marcadores da replicação viral: HBeAg mostra que o vírus está se replicando, o anti-HBe mostra que o vírus não está se replicando. Na fase de convalescência é que aparece o anti-HBs (enquanto houver doença em curso o anti- HBs não aparece). Resumindo: HBsAg → Presença do vírus Anti-HBc → Contato com o vírus (IgM = recente) Anti-HBs → Cura ou vacinação prévia HBeAg → Replicação viral Anti-HBe → Fase não replicativa Mutante pré-core: existe a possibilidade dos vírus, ao longo do tempo, sofrerem mutações. O vírus da hepatite-B também sobre mutações, a mais importante é a mutação pré-core → é um vírus de hepatite B que tem dificuldade de produzir HBeAg (ou seja, ele se replica sem dar sinais). Você deve suspeitar que a infecção é por um mutante pré-core quando HBsAg positivo, HBeAg negativo e aumento de transaminases (pois se o vírus está se replicando, existe muita agressão aos hepatócitos). Para confirmar que se trata do mutante pré-core, é preciso solicitar a carga viral, que neste caso estará elevadíssima. A importância médica é que o mutante pré-core é mais agressivo, evolui mais para formas fulminantes, cirrose e câncer. TRANSMISSÃO: ▪ Sexual é a forma mais comum; ▪ Vertical; ▪ Percutânea; Hepatologia Thomás R. Campos CLÍNICA: Hepatite B aguda: - 1% fulminante (hepatite B, dentre as hepatites é a que mais fulmina, mesmo assim fulmina pouco); - 5% cronificação (nos adultos) ou 95% (RNs). ▪ Hepatite B crônica: - 20-30% cirrose hepática (pela agressão crônica ao fígado e cicatrização/fibrose). - 10% dos que desenvolvem cirrose podem desenvolver carcinoma hepatocelular. - Em alguns casos, a hepatite B crônica pode evoluir direto para carcinoma hepatocelular sem passar pelo estágio da cirrose (isso porque o DNA do vírus pode se misturar com o DNA do hepatócito – chamado de cccDNA). TRATAMENTO: Quando indicado, o tratamento tem por objetivo a melhora clínica e do perfil sorológico (desaparecimento do HBsAg, por exemplo; redução de carga viral...). Em geral em monoterapia por tempo indeterminado... Indicações principais de tratamento: ▪ Hepatite B aguda: se manifestações graves (ex.: coagulopatia – que pode ser um indício de fulminante); ▪ Crônica: – Agressão: aumento de transaminases (>2x LSN) + Carga viral alta; – Fibrose: biópsia (score METAVIR ≥ A2F2) ou elastografia (>7 kPa); – Coinfecção com HIV ou HCV; – Prevenção de reativação: imunossupressão / QT (em algumas situações, mesmo depois da cura – isto é anti-HBs positivo – o DNA viral pode ter se integrado ao hepatócito, e em alguma situação de imunossupressão o vírus pode se reativar). Esquemas: ▪ 1ª linha:TENOFOVIR clássico (TDF) – Existe ainda o Tenofovir Alafenamida (TAF), usado em países mais desenvolvidos, que tem menos efeitos colaterais que o TDF (renal e ósseo) – foi aprovada no BR pela Anvisa em 2019, e incorporada no SUS em junho de 2021. ▪ Opção: Entecavir (quando a pessoa tem contraindicação ao tenofovir, e nas situações de prevenção da reativação em pessoas com imunossupressão) Hepatologia Thomás R. Campos HEPATITE C O vírus da hepatite C é um vírus de RNA, com vários genótipos diferentes (os mais prevalentes são o 1 e 3), no Brasil o genótipo 1 é o mais prevalente. TRANSMISSÃO: ▪ 40% das pessoas não sabem como foram infectadas; ▪ Principal forma de contágio → DROGAS INJETÁVEIS; ▪ Compartilhamento de materiais: barbeador, manicure, tatuagem... DIAGNÓSTICO: Na fase de incubação é possível detectar a carga viral – isto é, o HCV-RNA. Com a evolução da doença, começa a ser produzido anticorpos anti-HCV (a presença do anti-HCV pode indicar hepatite C em atividade, pode indicar cura, pode indicar um falso positivo...) → ter anti-HCV positivo não indica que a pessoa tem hepatite C, é preciso quantificar o HCV-RNA. O diagnóstico é feito quando há Anti-HCV positivo e HCV-RNA positivo. CLÍNICA: Hepatite C aguda: - Oligossintomática (tanto é que a maioria das pessoas não é diagnosticada com HepC aguda); - Risco praticamente nulo de evolução fulminante. ▪ Hepatite C crônica: - 80% dos casos cronificam → Hepatite C é a que Cronifica mais. - Dos que cronificam, 30% evoluem para Cirrose. - Dos que evoluem para cirrose, 10% desenvolve Carcinoma Hepatocelular → diferente da hepatite B, na hepatite C não tem como virar câncer sem passar pelo estágio de cirrose antes. TRATAMENTO: O objetivo do tratamento é tornar a carga viral indetectável → “Resposta Viral Sustentada”. Ao contrário do HBV, o tratamento não é por tempo indeterminado, tem duração de 12-24 semanas. Vale lembrar que ter tido uma infecção pelo HCV e ter tratado adequadamente não confere imunidade definitiva (a pessoa tem risco de reinfecção) Indicação: Todos os pacientes diagnosticados com hepatite C, aguda ou crônica. Esquema: ▪ Antiviral guiado por genótipo (ao diagnosticar a infecção pelo HCV, através da carga viral, o próximo passo é solicitar a genotipagem): – Genótipo 1: Ledipasvir + Sofosbuvir; – Pangenotípicos (quando não há genotipagem disponível): - Velpatasvir + Sofosbuvir. - Glecaprevir + Pibrentasvir (no paciente com DRC, o esquema que não agride tanto o rim). *Caso o paciente tenha cirrose → acrescentar Ribavirina Hepatologia Thomás R. Campos HEPATITE D O vírus da hepatite D não consegue fazer doença sozinho, ele só consegue infectar os hepatócitos se o vírus da hepatite B estiver presente. Sabendo disso, então existem dois cenários: 1. Coinfecção: a pessoa pegou hepatite B e hepatite D ao mesmo tempo → isso não aumenta o risco de cronificação, não piora muito o prognóstico. 2. Superinfecção: a pessoa já tinha hepatite B e pegou hepatite D depois → isso aumenta o risco de quadro fulminante, aumentan o risco de cronificação e evolução para cirrose.
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