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LPI- Lar� Calda� Farmacodermia� Introduçã� Farmacodermias são doenças de pele e/ou mucosa, que podem ter efeito sistêmico, decorrentes direta ou indiretamente do uso de fármacos. Quando falamos das classificações das farmacodermias, elas podem ser classificadas em tipo A e tipo B. Normalmente a do tipo A é mais comum em torno de 90% e a do tipo B em torno de 10-15%. O tipo A é dose dependente e previsível, ou seja sabemos que pode acontecer tal efeito com a administração de tal medicamento, já a do tipo B é dose independente e imprevisível, você vai está dando uma dose profilática, mas não se sabe se o paciente vai apresentar ou não alterações, está muito relacionado com o paciente, se ele é alérgico e desconhece a alergia. Por fim, a do tipo A está mais relacionado com a droga em si e a do tipo B com a susceptibilidade da pessoa. Dentro das farmacodermias temos que levar em consideração alguns pontos importantes, a questão da gravidade ela é variável, então é imprescindível que o médico clínico reconheça as características dos principais fármacos como cefalosporina, anticonvulsivantes, entre outros fármacos que mais apresentam farmacodermias. É importante também as farmacodérmias serem detectadas rapidamente para o quadro não evoluir para uma síndrome de steven johson por exemplo. Qualquer droga pode induzir a qualquer tipo de farmacodermia, mecanismos fisiopatológicos e genéticos estão relacionados com esses quadros de farmacodermia e precisamos levar em consideração o padrão das lesões, droga x frequência de erupções, tempo de uso x início das lesões, melhora após suspensão e a recidiva se reexposição. Patogênes� � fisiopatologi� As farmacodermias podem ser não alérgicas/ não imunológicas ou imunológicas/ alérgicas. As não imunológicas estão ligadas a superdosagem, fatores individuais do paciente, efeitos colaterais, equilíbrio da flora, teratogenicidade e fototoxicidade, como exemplos temos a urticária não-alérgica que é causada pela morfina e curare, a Varfarina, que pode gerar necrose cutânea, e a Reação de Jarisch-Herxheimer que está relacionada com a penicilina. Quando falamos das alérgicas ou imunológicas temos as reações de tipo I, II, III e IV. Quadr� clínic� Dentro desse contexto, de forma geral, o quadro clínico das farmacodermias mais comum é rash exatematoso maculopapular (semelhante aos exantemas virais – rubéola, sarampo, dengue) nas regiões de tronco, membros superiores e os fármacos de maior prevalência para esse rash exatematoso maculopapular são os AINEs, ATB, Anticonvulsivantes, Psicotrópicos. �antem� Ele é classificado clinicamente como eritema generalizado, pois acomete grande parte do corpo do paciente, ele é a reação mais comum na prática clínica ocorre em cerca de 10-20% na infância, geralmente atrelada a alguma infecção viral, e 50-70% nos adultos, caracterizada por rash cutâneo dentro de 2 sem. após início da droga ou até 2 sem. após suspensão. É uma erupção maculopapular simétrica e pruriginosa, benigna que aparece principalmente no tronco e MMSS, poupa palmas, plantas e rosto. O quadro de exantema pode ser comum na área de pressão de pacientes acamados, se o paciente for reexposto ao agente que causou o exantema ele vai aparecer de uma forma muito mais grave e mais cedo. O teste diagnóstico que é feito para identificar o exantema é o teste digitopressão (empalidecer). As principais drogas que estão relacionadas ao surgimento do exantema são os β-lactâmicos, AINEs, quinolonas, sulfas, fenobarbital, carbamazepina, alopurinol e eritromicina. Existem alguns estudos que mostram que algumas infecções podem ter uma relação com algumas farmacodermias e dentro dessas infecções nós temos uma relação muito grande em pacientes que foram expostos ao vírus Epstein Bar com ampicilina e que levaram a um quadro muito grande de exantema. O tratamento é a suspensão da droga para não evoluir SSJ, devemos orientar retorno se piora. Podemos fazer o uso de Anti-histamínicos (10-14 dias) ou se necessário o Corticoide (5 dias): alguns casos (sintomáticos), minoria (prednisona 0,5 a 1mg/kg/dia). Urticári� Quando falamos de urticária, elas podem ser classificadas pelo seu mecanismo como imunológicas ou não imunológicas, bem como em crônicas ou agudas, a forma aguda é quando acontece a erupção cutânea em menos de 6 semanas não apresenta recorrência, já quando falamos na forma crônica apresenta uma urticária que dura mais de 6 semanas, podendo durar até 2 anos. Pode surgir em poucos minutos (dentro de 30 minutos), normalmente após o uso da medicação, ou pode demorar dias (crianças – 10-15% um episódio); em geral some em 24h (placas efêmeras). A intensidade é variável, dependendo do paciente, tem o centro pálido e tem prurido, é mais presente em regiões de tronco e raiz de membros e pode ser policíclica. O angioedema pode acontecer em 50% dos casos de urticária, é mais comum em região de pele frouxa (lábios, pálpebras, língua) e nesse caso tem que tomar bastante cuidado por que ele pode evoluir para um edema de glote e consequentemente um choque anafilático, que pode ser tratado com Adrenalina IM. O tratamento vai ser através da suspensão do medicamento, evitar reexposição, maioria dos pacientes melhora de 2 a 24h, anti-histamínicos de preferência os não sedativos por 14 dias e corticoide (5-7 dias) se necessário nos casos disseminados ou com angioedema. O dermografismo é muito comum da urticária. Existem alguns agentes etiológicos que podem levar a esse quadro de urticária, entre eles podemos citar a questão das drogas (chamando atenção para as penicilinas, temos também os anticonvulsivantes, Sulfas, Quinolonas, AINEs e Opióides), os alimentos (Corantes, Conservantes, Frutos do mar), agentes físicos ( Pressão, Frio, Calor, Luz, Água), fatores emocionais, algumas infecções (Foco dentário, Dermatofitoses, Parasitose) e inalantes (Ácaros, Poeira doméstica). Se a urticária durar mais de 24 horas, com dor/ardor, tiver pigmentação residual, artralgia e febre devemos suspeitar de uma vasculite. O diagnóstico é puramente clínico, 60% dos casos está relacionado com angioedema, obviamente a investigação precisa ser do agente causal e a minoria dos casos requer exames, como diagnósticos diferenciais temos a dermatite de contato urticariforme (látex) e a urticária pigmentosa que apresenta um caso de mastocitose com máculas e pápulas eritemato acastanhadas ovais ou circulares com sinal de Darier positivo (semelhante a dermografismo). Quando nenhuma causa é encontrada, diz-se estar diante de urticária idiopática. Anafil�i� Quando falamos em anafilaxia temos que ter em mente que após seu início é impossível prever quão rápida e severa será a evolução, então temos que ter alguns critérios que vão nos ajudar a saber se devemos fazer o uso ou não de Adrenalina. Se tiver suspeita de anafilaxia devemos tratar de imediato por que em 5-15 min esse paciente pode evoluir para uma PCR. A anafilaxia é altamente provável quando qualquer um dos 3 critérios a seguir é atendido: 1) Doença de início agudo (min a horas) de envolvimento de pele e/ou mucosa (urticária, prurido generalizado, rubor, edema de língua e lábio) E pelo menos 1: ▪ Comprometimento respiratório (sibilo, dispneia) ▪ Hipotensão, síncope, distonia ou incontinência 2) PA reduzida após a exposição de um alérgeno conhecido para esse paciente: ▪ Lactentes e crianças – PA sistólica baixa (específica para idade) ou redução superior a 30% na PA sistólica ▪ Adultos – PA sistólica inferior a 90 mmHg (8/5) ou 30% menor que o basal do paciente. 3) 2 ou + dos seguintes após exposição a um alérgeno PROVÁVEL: ▪ Envolvimento de pele e mucosa (prurido, edema) ▪ Comprometimento respiratório (hipoxemia, dispneia) ▪ Pressão arterial reduzida ou sintomas associados ▪ Sintomas gastrointestinais Os principais gatilhos para a anafilaxia são drogas (AINEs, antibiótico, biológico, opioide, contraste), alimentos, picadas e látex. O tratamento é feito com Adrenalina IM vasto lateral da coxa (ampola 1mg/mL – peso paciente), junto a isso fazemosreposição volêmica, anti-histamínico H1 e H2 (duplo bloqueio), corticoide e broncodilatador. Eritem� polimorf� É uma doença mucocutânea com lesão em alvo que tem uma característica muito peculiar, a questão dos alos, não necessariamente vamos encontrar os três alos, podem ser simétricos ou assimétricos e também polimorfo ou multiforme. Podemos encontrar como características alto relevo, vemos os três alos, podemos encontrá-lo em diversas formas vesículas, máculas, bolhas, pápulas, pústulas. A erupção eritematosa é de início súbito, simétrico, predominando em face extensora de membros, mãos, pés, face e eventualmente mucosa. Mais comum em adultos jovens do sexo masculino e ela cursa com carater benigno podendo regridir em até dua semanas, acomete a mucosa labial em 25% das vezes. É muito mais comum encontrarmos eritema polimorfo devido a infecções do que por medicamentos. A infecção mais comum que causa eritema polimorfo é do vírus da Herpes simples, outras infecções são Mycoplasma, hepatite C e as drogas como beta-lactâmicos, anticonvulsivantes, alopurinol, AINEs, etc. Ele pode ser classificado como Eritema multiforme minor (associados a herpes) e major (forma leve da SSJ). Vai ser tratado conforme o agente causal e se a causa não for infecciosa tratamos com corticóide e anti-histamínico (preferência sempre para os histamínicos de segunda geração por serem não sedativos). Espectr� SSJ-NET Ele é caracterizado por uma necrose da pele e desnudamento, usamos o teste chamado de Sinal de Nikolsky para verificar se a pele está desnudando ou não, o paciente apresenta dor/ardor e queimação, com máculas eritematosas ou eritemato purpúricas, lesões em alvo, bolhas flácidas que afeta face, tronco, região proximal dos membros podendo confluir e se estender em horas a dias. É diagnóstico diferencial do pênfigo bolhoso, pois o pênfigo também tem o sinal de Nikolsky positivo. A presença de lesões mucosas é obrigatória para o diagnóstico (duas ou mais: oral, ocular, genital): eritema, erosões dolorosas, crostas. Como o paciente está com uma grande área do corpo desprotegida ele corre o risco de ter infecções como conjuntivite, uveíte, disfagia, úlcera de córnea – sinéquias (aderência do tecido). Quando o paciente está imunocomprometido o paciente vai está prostrado apresentando febre, artralgia, mialgia e astenia. O que vai diferenciar se o paciente é SSJ ou NET é a extensão do quadro: Em média 80% a 90% dos casos podem acontecer 28 dias após o início da medicação, entre elas a carbamazepina, fenitoína, fenobarbital, penicilina, antibiótico, etc. A maioria dos casos da SSJ-NET é causada pelo uso de medicamentos, mas 5-8% podem ter outras causas. O tratamento ele visa a suspensão da medicação, a internação desse paciente na UTI com manejo para “grande queimados” com algumas diferenças, por exemplo em grande queimados fazemos o uso de Sulfadiazina de prata tópica, em paciente com SSJ-NET não, pois pode piorar o quadro. Suporte clínico: reposição líquidos, eletrólitos, sangue, suplementos nutricionais. O uso de medicamentos é controverso, mas se utiliza Corticoides sistêmicos (prednisona 1mg/kg/dia), algumas literaturas afirmam que o uso de imunoglobulinas intravenosas ou inibidores do TNF mais a ciclosporina IV tem eficácia terapêutica se usadas de forma precoce por 4 dias e também a plasmaferese que pode remover metabólitos ou Ac reativos a fármacos. NÃO podemos fazer antibioticoterapia sistêmico profilático (pode piorar a SSJ/NET) – somente se tiver infecção ativa. Para avaliar a gravidade do paciente existe um escore chamado de SCORTEN: Erupçã� acneiform� Apresentou-se de forma muito mais comum durante a pandemia do COVID, devido a desregulação dos hábitos alimentares, falta de exercício físico, uso constante de máscaras e por sem um período de muito estresse. O uso de testosterona, Whey e creatinina também podem causar erupções, é um quadro agudo, pode acontecer em qualquer idade, é monomórfico (máculas e pústulas), sem comedão que é o que o diferencia da acne e pode apresentar prurido. Síndrom� DRESS É uma reação à droga com eosinofilia e sintomas sistêmicos, que se apresenta com erupção cutânea, febre, eosinofilia, acometendo órgãos como fígado (o principal acometido), coração e rins. A taxa de mortalidade dessa síndrome é muito alta em torno de 10%, então mais ou menos em torno de 2 a 6 semanas após início de anticonvulsivantes, minociclina, sulfas (dapsona, sulfassalazina), alopurinol ou antiretrovirais o paciente apresenta febre, erupção cutânea e acometimento interno: ▪ Exantema máculo-papular face e tórax ▪ Edema facial frequente ▪ Hepatomegalia (61%). Risco de hepatite ▪ Elevação TGO/TGP (400-500(. Leucocitose com eosinofilia ▪ Pode ocorrer nefrite, miocardite, etc. Essa síndrome pode ser típica ou atípica: Para o tratamento é preciso a suspensão imediata da droga suspeita, internação para monitoramento de órgãos internos, usamos como medicamento a prednisona de 6-8 semanas, deve-se fazer a substituição da classe do anticonvulsivante e o curso do DRESS é prolongado podendo durar mais de 2 semanas mesmo após a suspensão do agente causal. Iododerm� � Bromoderm� Existem muitos medicamentos que contêm iodo e brometo em sua estrutura química, e eles podem levar a farmacodermia, como a amiodarona e contrastes radiológicos que contém iodo e os brometo de ipratrópio, brometo de piridostigmina, que contém brometo. O mecanismo relacionado é o de hipersensibilidade celular (IV), com atração de linfócitos e macrofagos. Na iododerma o paciente vai apresentar erupção acneiforme, pápulas e pústulas, nas regiões da face e tronco superior, já na bromoderma apresenta lesões ulceradas e pustulares nos membros inferiores e região malar. O tratamento vai se a suspensão do medicamento, , hidratação, diuréticos e manitol, usamos esses medicamentos por que o tempo de meia vida do iodo e do brometo é muito longo, então os diuréticos e o manitol vão fazer a eliminação do medicamento de forma mais eficiente.