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09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 1/20 Teoria do delito e princípios constitucionais penais Unidade 2 - Especificações para a aplicação penal Autor: Prof. Acácio Miranda Filho Iniciar Introdução Em virtude consolidação das teorias e princípios anteriormente indicados, especialmente o da Legalidade, surgiu a necessidade de estabelecerem-se os elementos que compõe o crime, a �m de que a sua aplicação ao caso concreto não esteja sujeita a interferências externas ou que não �que vinculada a “opinião pessoal” do julgador. Obviamente, até o perfazimento e a consolidação dos elementos atualmente necessários para a con�guração do crime, muitas foram as teorias utilizadas, devendo o aluno, à partir das informações à seguir transcritas, ter ciência que estes são resultados de décadas de análises teóricas e práticas. Ademais, a parte geral do Código Penal passou a vigorar em 1984, através da vigência da Lei nº 7.209, o que demonstra que já houve tempo su�ciente para a sua consolidação. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 2/20 1. Teoria do crime Neste primeiro tópico de aprendizagem, abordaremos alguns conceitos e outros conhecimentos teóricos que se demonstram fundamentais para a atuação no interior da dinâmica da legislação penal. Vamos então a eles: Conceito Formal Conceito Material Conceito Analítico Conceito Tripartido de Crime Conceito Bipartido de Crime Feita esta breve diferenciação entre as duas teorias existentes, cabe a dúvida acerca da teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro. Diversas são as indicações pelos partidários de cada uma das teorias, prevalecendo à aceitação pelo segundo conceito, mesmo que de forma tímida. Os elementos existentes no Código Penal, aptos a indicar esta prevalência são: Bons Estudos! 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 3/20 a) O título II da Parte Geral é denominado “Do Crime”, ao passo que, o título seguinte, de número III, trata exclusivamente “Da Imputabilidade Penal”. Os defensores do conceito bipartido indicam que esta é a primeira evidência da adoção desta teoria, a�nal, no título dedicado exclusivamente aos elementos do crime não há o tratamento dos elementos relativos à culpabilidade, que são tratados em capítulo posterior. b) Além do elemento topográ�co acima explanado, há também a gra�a dos artigos 23 e 26, do Código Penal. Vejamos: 1.1 Exclusão de ilicitude Art. 23 – “Não há crime quando o agente pratica o fato...” (grifo nosso) Diante da leitura do artigo em comento, resta evidente que a exclusão da ilicitude (ou antijuridicidade) ocasionará a inexistência do crime, concluindo-se, portanto, que este é um elemento que obrigatoriamente o compõe. Em contraposição, veri�camos o disposto no artigo 26, do Código Penal: Art. 26 – “É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento” (grifo nosso). A leitura do preceito legal evidência que, na hipótese de exclusão da culpabilidade do agente, em virtude das causas mencionadas no seu conteúdo, não haverá a aplicação de pena, contudo, o crime permanecerá existindo. 1.2 Dos elementos relativos ao conceito analítico de crime 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 4/20 Observação: Independentemente da distinção anteriormente realizada, faremos a indicação de todos os elementos do crime, incluindo, entre os seus elementos componentes, a culpabilidade. A seguir vejamos listados tais elementos: 1.2.1 Conduta Em apertada síntese, conduta é a ação ou omissão humana, consciente e voluntária, perpetrada de forma dolosa ou culposa. Em face destes elementos, pode-se concluir que a conduta decorre de um comportamento exclusivamente humano, mediante a realização de um ato positivo – comissiva -, ou negativo – omissiva -, de forma dolosa ou culposa. 1.2.2 Conduta Dolosa O agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo. Vide artigo 18, inciso I, Código Penal. Importante salientar que são vários os tipos de dolo existentes, sendo primordial a menção ao dolo direto (modalidade mais tradicional, onde o agente quer o resultado. Exemplo: art.121, CP), ao dolo especí�co (onde a conduta evidencia uma �nalidade especi�ca que motiva o agente à prática da conduta. Exemplo: Art.159, CP), ao dolo eventual (onde o agente não deseja diretamente a produção do resultado, mas assume o risco de produzi-lo, denotando sua indiferença em relação a esta circunstância) e, por último, ao dolo alternativo (onde o agente pratica a conduta, e, por conta desta, há a possibilidade da produção de mais de um resultado, sendo indiferente ao agente qual deles será alcançado). 1.2.2 Conduta Dolosa A culpa consiste na obtenção de determinado resultado sem que tenha havido intenção do agente. No direito penal o crime culposo será ocasionado pela não 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 5/20 observância do dever de cuidado pelo agente, que levará a obtenção do resultado e punição deste comportamento. A punição dos crimes culposos depende de expressa previsão legal, disso, podemos concluir, que só serão punidos a título de culpa aqueles crimes onde há expressa indicação da lei sobre esta possibilidade. Como exemplo, podemos considerar o homicídio culposo, disposto expressamente no artigo 121, parágrafo 3°, do Código Penal. Em contrapartida, podemos concluir que o crime de furto não é punível a título de culpa, pois não há expressa indicação desta possibilidade no artigo 155, do Código Penal. 2. Modalidades de culpa Neste tópico nos proporemos a analisar algumas das questões mais pertinentes relacionadas ao conceito de culpa para o Direito Penal. Comecemos diferenciando as modalidades. Negligência Imprudência Imperícia Atenção : A Culpa pro�ssional – imperícia -, é diferente do erro pro�ssional, que é o praticado por quem devidamente habilitado. 2.1 Espécies de culpa 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 6/20 Passemos agora a diferenciação quanto as espécies de culpa que podemos observar no tocante ao delito. Culpa inconsciente Culpa consciente Como exemplo de culpa consciente, temos o piloto pro�ssional que conduz veículo automotor à velocidade de 200 km/h em rodovia cuja velocidade máxima é de 100 km/h. Apesar da previsibilidade do resultado, o sujeito acredita que sua habilidade – é piloto pro�ssional – impedirá a consumação de um acidente. Já no dolo eventual, o sujeito conduz veículo automotor à velocidade de 200 km/h em rodovia cuja velocidade máxima é de 100 km/h, e mesmo prevendo o possível resultado, mostra- se indiferente em relação a esta possibilidade. Na segunda hipótese, tanto faz se houver ou não houver o acidente. Preterdolo : Esta modalidade é composta pela soma de uma conduta dolosa e a obtenção de um resultado diverso culposo. Simpli�cando: É o dolo na conduta antecedente e a culpa no resultado conseqüente. O agente age dolosamente com vistas a obtenção de um resultado, mas por circunstâncias alheias a sua vontade, obtém um resultado mais grave. Exemplo: Lesão corporal com resultado morte. Lesão corporal Lesão corporal seguida de morte 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 7/20 Ação ou omissão: as condutas podem ser praticadas de forma positiva – ação -, ou negativa – omissão. 2.2 Ação – crime comissivo Os crimes comissivos são praticados mediante ação positiva do sujeito ativo, consistem, portanto, no fazer determinada conduta. Importante salientar que a maioria dos crimes dispostos na Parte Especial do Código Penal, ou nas demais Leis Penais Especiais, con�guram crimes comissivos. Como exemplos, podemos indicar: ● Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. ● Calúnia Art. 138 - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato de�nido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. ● Furto Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. A simples leitura dos tipos penais indicados como exemplos, especialmente a dos seus verbos núcleos do tipo grifados, indica que para a prática destas condutas deverá o sujeito ativo tomar uma postura ativa, agindo positivamente para a prática dos crimes. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 8/20 2.3 Omissão – crime omissivo Os crimes omissivos são praticados mediante postura negativa do sujeito ativo, ou seja, são praticados mediante a abstenção da ação devida. Simpli�cando: O sujeito ativo deixa de tomar determinada atitude que lhe era devida naquele contexto fático. Como exemplo, pode-se indicar: ● Omissão de socorro Art. 135 - Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública: ● Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa Percebe-se através da leitura do verbo núcleo do tipo grifado que o sujeito ativo deveria ter prestado assistência às pessoas indicadas no tipo penal, contudo, deixou de fazê-lo. Sua postura negativa, expressa pelo verbo deixar, é indicativa da conduta penalmente relevante. Importante salientar que a hipótese de omissão até aqui explanada é classi�cada doutrinariamente como crime omissivo próprio , porque o verbo núcleo do tipo apresenta uma conduta negativa. Há outra modalidade de crime omissivo, classi�cado doutrinariamente como crime omissivo impróprio ou crime comissivo por omissão . São modalidades de crimes omissivos praticados sob a forma omissiva. O verbo núcleo do tipo penal expressa conduta comissiva, conduta, o sujeito ativo vai praticá- lo de forma omissiva. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqCfl… 9/20 Tome-se como exemplo o crime de homicídio. Referido crime já foi citado como exemplo de crime comissivo, contudo, é possível matar alguém sob a forma omissiva. Basta pensar em um salva-vidas de um clube que percebe que um dos freqüentadores da piscina está morrendo afogado, e, por não gostar deste freqüentador, não toma qualquer medida para salvá-lo. O salva-vidas praticou um crime comissivo sob a forma omissiva. Válido ressaltar, que as hipóteses de crime omissivos impróprios ou comissivos por omissão estão indicadas no artigo 13, parágrafo 2°, alíneas a, b e c, do Código Penal. Ademais, só quando o sujeito ativo estiver nestas condições era possível a con�guração desta modalidade de conduta. 3. Causa Neste tópico agora, veri�caremos uma teoria dentro do Direito Penal que especi�ca e analisa o vínculo entre a conduta do agente e o resultado do ilícito. 3.1 Relação de causalidade Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado. O dever de agir incumbe a quem: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da ocorrência do resultado. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 10/20 3.2 Resultado Para a veri�cação da ocorrência do resultado do direito penal deve-se dividi-lo em duas espécies, o resultado naturalístico e o resultado jurídico. No que diz respeito ao resultado jurídico, também classi�cado como resultado normativo, leva-se em consideração a alteração da ordem jurídica, ou seja, a ruptura do mundo do direito. Desta surge jus puniendi do Estado. Todo crime apresenta um resultado jurídico, ou seja, todo crime apresenta uma ofensa a norma vigente. No que tange ao resultado naturalístico, ou seja, o resultado externo ao direito, a alteração do mundo fático, os crimes são divididos em 03 (três) espécies: a) Crime Material : São aqueles crimes que, para a sua consumação é necessária a prática da conduta e a obtenção do resultado. A não ocorrência do resultado é punível como tentativa. Como exemplo, pode-se considerar o crime disposto no artigo 121, CP. Para a consumação do crime de homicídio não basta à prática da conduta tendente a ceifar a vida de terceiro, é necessário também que o agente logre êxito nesta empreitada, ou seja, o homicídio só restará consumado com a morte da vítima. b) Crime Formal : O tipo penal descreve um resultado, contudo, não é necessário que este ocorra efetivamente para a sua consumação. Basta a prática da conduta, não sendo relevante o alcance do resultado previsto. Como exemplo, tem-se o crime disposto no artigo 159, CP. Para a consumação do crime de extorsão mediante sequestro basta o sequestro da vítima, não sendo necessária a obtenção da vantagem econômica indevida. ● Extorsão mediante sequestro 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 11/20 Art. 159 - Sequestrar pessoa com o �m de obter, para si ou para outrem, qualquer vantagem, como condição ou preço do resgate O verbo núcleo do tipo, grafado sob a cor vermelha, corresponde à conduta, e o resultado, grafado sob a cor verde, corresponde ao resultado. Para a consumação deste, basta a prática da conduta, independentemente da obtenção do resultado previsto no tipo penal. c) Crimes de mera conduta: Nesta modalidade não há qualquer indicação do resultado, portanto, para a sua consumação, basta a prática da conduta. Como exemplo, tem-se o crime de violação de domicílio – art.150, CP-. A simples leitura do referido tipo penal demonstra que não há qualquer indicação do resultado, restando este consumado com a mera entrada ou permanência clandestina ou astuciosa. ● Violação de domicílio Art. 150 - Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. 3.3 Nexo causal O nexo causal corresponde ao elo de ligação entre a conduta do agente e o resultado naturalístico decorrente desta conduta. Há previsão legal deste no artigo 13, do Código Penal. Neste artigo, resta evidente que causa é toda ação ou omissão anterior, sem a qual o resultado não teria ocorrido. Para a veri�cação da causa, aplica-se o método hipotético de eliminação, devendo-se suprimir mentalmente uma a uma as situações. A partir desta supressão, é possível veri�car aquela sem a qual o resultado não teria ocorrido. ● Relação de causalidade 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC…12/20 Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Segundo solidi�cado entendimento doutrinário, referido artigo 13 adotou a teoria da equivalência dos antecedentes, expressa pelo brocardo conditio sine qua non . Esta teoria expressa a já mencionada causa, ou seja, a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. 3.4 Espécies de causas a) Dependente : É a causa originária da conduta, trata-se, portanto, de desdobramento natural da conduta. b) Independente : é a condição que atua paralelamente a conduta, sendo exterior ao nexo causal, mas interferindo na obtenção do resultado. Em suma: O surgimento do resultado não era, naquela circunstância fática, um desdobramento natural e lógico da conduta anterior, mas um fenômeno imprevisível. Importante salientar que a doutrina indicada algumas espécies de causas independentes, sendo elas as absolutamente independentes, e as relativamente independentes. Estas também são sinônimas de concausas. O artigo 13, parágrafo 1°, do Código Penal, faz a causa relativamente independente superveniente. 3.5 Superveniência de causa independente § 1º - A superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 13/20 praticou. Por concausa relativamente independente superveniente, pode-se entender como a conduta paralela a conduta do agente, que, por si só, teve o condão de produzir o resultado – TEORIA DA CAUSALIDADE ADEQUADA. A expressão por si só indica a autonomia entre a conduta praticada pelo agente e a concausa que motivou a ocorrência do resultado. Pode-se concluir: A concausa produziu o resultado pela sua própria capacidade lesiva, e não pelos meios da conduta anterior. O exemplo clássico utilizado por grande parte dos doutrinadores é o do sujeito A, que é socorrido por uma ambulância após ser baleado pelo sujeito B. Durante o seu atendimento, após o disparo, �ca claro que este não tem o condão de matá-lo, por ter acertado o seu dedão do pé. Contudo, no caminho para o hospital, a ambulância capota, e, em virtude deste capotamento, o sujeito A morre. Segundo a regra da causalidade adequada, disposta no já mencionado artigo 13, parágrafo 1°, CP, o sujeito B não será punido pela morte do sujeito A, que foi ocasionada pelo acidente, mas será punido pelo disparo efetuado. 4. Tipicidade Corresponde à adequação entre o fato concreto e a norma jurídica, e sua conseqüência será a imputação somente aqueles fatos descritos estritamente na lei penal incriminadora. Existem duas espécies de tipicidade, a formal e a material. 4.1 Consumação e tentativa Antes do aprofundamento teórico da consumação e da tentativa, é importante que se entenda as etapas do crime, a trajetória do crime, ou, como expresso pelo 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 14/20 brocardo em latim, o iter criminis. São 04 (quatro) as fases do crime: a) Cogitação : é a fase interna, na qual o sujeito ativo mentalmente forma a convicção de praticar o crime. Resta evidente que a formulação interna da idéia não traz qualquer ofensa ao bem jurídico, não sendo punível esta fase; b) Preparação : é a primeira das fases externas da trajetória do crime, corresponde à realização dos atos preparatórios e necessários à prática do crime. É a preparação que vai criar as condições necessárias para a prática do delito. Em regra, os atos preparatórios não são puníveis, uma vez que ainda não se iniciou a realização do núcleo do tipo penal. Apesar disso, em determinadas hipóteses, os atos preparatórios serão incriminados de forma autônoma, ou seja, estes serão punidos não como uma das fases da trajetória do crime, mas serão punidos por con�gurarem, por si só, tipo penais dispostos na legislação penal. c) Execução : são os atos executórios, é o momento onde se iniciam os atos lesivos ao bem jurídico penal tutelado. Nesta fase o agente começa a praticar o verbo núcleo do tipo, como por exemplo, efetua um disparo em outra pessoa. Importante salientar que a punição pela tentativa ocorrerá nesta fase, porque o agente praticou os atos executórios, mas não alcançou o objetivo, portanto, o crime não restou consumado. d) Consumação : esta fase corresponde à reunião de todos os elementos que compõe a de�nição legal do crime. Por exemplo: no homicídio ocorrerá a consumação quando uma pessoa morrer em virtude de uma conduta praticada por outra pessoa. Crime consumado : É aquele em que se reúnem todos os elementos da sua de�nição legal – art.14, inciso I, CP . É também chamado de crime perfeito, porque a conduta criminosa é integralmente realizada, alcançando-se o seu objetivo, qual seja, a obtenção do resultado jurídico. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 15/20 ● Crime consumado I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua de�nição legal; Crime Tentado : ocorre quando, após o início da execução, o crime não se consuma por circunstâncias alheias a vontade do agente. Em suma: o agente pratica o verbo núcleo do tipo, contudo, não alcança seu intento criminoso por fatores externos à sua vontade. O artigo 14, inciso II e parágrafo único dispõe sobre a tentativa e a sua pena: ● Tentativa II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Pena de tentativa Parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a pena correspondente ao crime consumado, diminuída de um a dois terços. 4.1.1. Espécies de tentativa a) Perfeita ou acabada: o agente pratica todos os atos executórios necessários à consumação, contudo esta não ocorre. Exemplo: acerta o tiro na vítima, mas esta não morre; b) Imperfeita ou inacabada: a conduta do agente é interrompida no meio dos atos executórios, ou seja, ele não consegue, sequer, encerrar a execução. Exemplo: A pretende matar B através da utilização de arma de fogo. Quando iria efetuar o primeiro disparo é surpreendido por policiais que efetuam a sua prisão; c) incruenta ou branca: O objeto material não é atingido pela conduta criminosa. Exemplo: Sujeito A efetua seis disparos contra B, mas não acerta nenhum deles. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 16/20 4.2 Desistência voluntária e arrependimento eficaz São espécies de tentativas abandonadas, ou seja, o agente desiste de alcançar o resultado inicialmente almejado. Desistência voluntária : O agente, de forma voluntária, interrompe a execução do crime, impedindo a sua consumação. Está prevista no primeira parte do artigo 15, e tem como objeto ser um estímulo legal ao agente que retroceder no seu intento criminoso. Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados (grifo nosso). Arrependimento E�caz: O agente encerra o processo de execução do crime, contudo, evita que a consumação seja alcançada. O agente voluntariamente impede que os atos executórios por si praticados produzam efeitos. Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados (grifo nosso). Importante salientar que nas duas hipóteses só haverá a imputação pelos atos até então praticados. Arrependimento Posterior: Trata-sede causa objetiva de diminuição de pena, aplicável aos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, onde o agente, voluntariamente, repara o dano ou restitui a coisa até o recebimento da denúncia ou queixa. Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois terços. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 17/20 4.3 Crime impossível: Dispõe o artigo 17, do código penal Não se pune a tentativa quando, por ine�cácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime. Conforme o próprio tipo penal preleciona, ocorrerá o crime impossível quando o objeto ou o meio empregado forem totalmente incompatíveis com o objetivo almejado, circunstâncias que tornam impossível a consumação do crime. A diferença entre o crime impossível e a tentativa diz respeito à possibilidade de consumação do delito. Na tentativa era possível atingir a consumação, ao passo que, no crime impossível era impossível atingi-la. 4.3.1 Espécies de crime impossível a) Ine�cácia absoluta do meio : o meio empregado ou o instrumento utilizado para a execução do crime jamais levará à consumação. Exemplo: Tentar matar alguém utilizando uma faca de plástico; b) Impropriedade absoluta do objeto : a pessoa ou a coisa sobre a qual recaí a conduta é absolutamente inidônea à produção de um resultado lesivo Exemplo: Atirar em quem já está morto. 4.3.2 Erro de Tipo Dispõe o artigo 20, do Código Penal: “O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo, se previsto em lei”. Esta modalidade de erro incide sobre os elementos constitutivos do tipo legal, ou seja, sobre aqueles elementos que de�nem e compõe a conduta criminosa. São duas as modalidades principais: 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 18/20 a) Escusável (desculpável): é a modalidade que não deriva de culpa do agente, ou seja, mesmo que este tivesse agido com a prudência e a cautela exigidas de um homem médio, ainda assim não seria possível este evitar a falsa percepção da realidade sobre os elementos constitutivos do tipo penal; b) Inescusável (indesculpável): É a espécie de erro que provém da culpa do agente, ou seja, caso este tivesse empregado toda a cautela e prudência do homem médio, seria capaz de compreender o caráter ilícito e criminoso do fato. 4.3.2.1 Discriminantes putativas Trata-se do erro de tipo inevitável ,e, sendo assim, haverá exclusão da punição por dolo ou culpa. Há expressa previsão no artigo 20, parágrafo 1°, do Código Penal: § 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente justi�cado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como crime culposo. 4.3.2.2 Erro determinado por terceiro Conforme disposição do artigo 20, parágrafo 2°, responde pelo crime o terceiro que determina o erro. Síntese Nesta unidade pudemos perpassar por mais algumas questões referentes à teoria do crime e que constituem elementos centrais para a atuação, compreensão e aplicação da legislação penal. Conhecemos os principais argumentos quanto à conceituação de crime, passando pelas circunstâncias em que se consuma o excludente de ilicitude, assim como elementos que condicionam a conceituação de um crime. 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 19/20 Analisamos da mesma forma as diferentes modalidades que imputam culpa, passando por suas espécies e diferenciando o crime comissivo do omissivo. Compreendemos as questões referentes às relações de causalidade no Direito Penal, que estabelece vínculo entre a conduta do agente e o resultado do ilícito. Observamos a construção do resultado no processo penal, bem como o nexo causal estabelecido jurisdicionalmente. Por �m, nos detivemos no estabelecimento da tipicidade no interior da aplicação de penas no contexto jurídico. Construímos a principal diferenciação, tratando-se da separação entre a consumação e a tentativa. Nesta unidade tivemos a oportunidade de: Aprofundar os conhecimentos quanto à teoria do crime; Compreender os elementos relativos ao conceito de crime; Estabelecer as modalidades observáveis de culpa, elencando espécies e diferenciando crime comissivo de omissivo; Estudar as relações de causalidade no contexto do Direito Penal; Entender as tipicidades observadas nas aplicações da legislação penal. Download do PDF da unidade Bibliografia BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. ________. Decreto-Lei 2.848, de 07 de dezembro de 1940. Código Penal. Diário O�cial 09/09/2022 17:06 MA_BL3_DIR_TEDECO_19_E_2 https://student.ulife.com.br/ContentPlayer/Index?lc=gvsEoDi2aK1zw0mA5L755Q%3d%3d&l=nd7zECmLoQ27OgmoA0dsoQ%3d%3d&cd=hqC… 20/20 da União, Rio de Janeiro, 31 dez. 1940. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal Vol. 1 - Parte Geral, 23ª edição., 23rd edição. Editora Saraiva, 2017. [Minha Biblioteca]. BUSATO, Paulo César (Org.) . Dolo e direito penal: modernas tendências, 2ª edição. Atlas, 03/2014. [Minha Biblioteca]. LIMA, Alberto Jorge C. Barros. Direito Penal Constitucional: A imposição dos princípios constitucionais penais, 1ª edição. São Paulo: Saraiva, 2012.