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Icterícia neonatal 2 Pâmela Martins Bueno – icterícia neonatal O QUE É? · Coloração amarelada da pele e das mucosas, causada por aumento dos níveis séricos de bilirrubina. · Acomete cerca de 60% dos RN a termo e 80% dos prematuros tardios na primeira semana de vida. · “Grande problema” da icterícia – KERNICTERUS – deposição da bilirrubina no SNC. METABOLISMO DA BILIRRUBINA A grande fonte de bilirrubina é o grupo heme da hemoglobina. A hemácia é destruída no sistema reticuloendotelial e vai dar origem a bilirrubina livre (não conjugada) que não consegue ser excretada, sendo responsável pela deposição cutânea e coloração amarelada. No metabolismo normal, a bilirrubina livre é transportada junto com a albumina até o fígado, onde sofre um processo de conjugação através da GT, se transformando na bilirrubina conjugada (direta). Essa bilirrubina que consegue ser eliminada pelo intestino e rins. No intestino ela sofre ação bacteriana e se transforma no uribilinogênio, que é excretado como estercobilina pelas fezes ou como urobilina pela urina. POR QUE O RN FICA ICTÉRICO? O RN tem maior carga de bilirrubina indireta para o hepatócito: · Maior volume eritrocitário (mais hemácia materna para destruir) · Menor meia vida das hemácias fetais (70-90 dias no RNT) · Ocorrência de doenças hemolíticas: incompatibilidade ABO e Rh Redução do clearance hepático e entérico de bilirrubina: · Menor captação e conjugação da bilirrubina pelo hepatócito. · Maior quantidade de betaglucuronidase intestinal – enzima que converte bilirrubina direta em indireta novamente, que não é excretada. · Aumento da circulação entero-hepatica – retorno da bilirrubina indireta para o fígado para reiniciar o processo de conjugação. · Menor flora intestinal para transformar bilirrubina direta em urobilinogênio. Fatores de risco para hiperbilirrubinemia indireta significante (bilirrubina > 17) · Icterícia precoce (primeiras 24h de vida). · Incompatibilidade materno-fetal Rh, ABO ou antígenos irregulares. · Deficiência de glicose-6-fosfato-desidrogenase (G6PD). · Idade gestacional <= 36 semanas. · Presença de céfalo-hematoma ou equimoses. · Mãe diabética. · Aleitamento materno exclusivo com dificuldade ou perda de peso >7%. · Irmão anterior com icterícia neonatal com necessidade de fototerapia · Descendência asiática · Bilirrubina total na zona de alto risco ou risco intermediário alto (normograma de Bhutani) antes da alta hospitalar. AVALIAÇÃO CLÍNICA A icterícia tem progressão céfalo-caudal, começa primeiro no rosto e acomete por último as mãos e pés. ESCALA DE KRAMER Zona 1: icterícia de cabeça e pescoço (BT=6mg/dl). Zona 2: icterícia até no umbigo (BT=9mg/dl). Zona 3: icterícia até os joelhos (BT=12mg/dl). Zona 4: icterícia até os tornozelos e/ou antebraço (BT=15mg/dl). Zona 5: icterícia até região plantar e palmar (BT=18mg/dl ou mais). DICAS! · Remover as roupas do bebê. · Sempre usar a luz natural para avaliar o bebê. INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA PRIMEIRAS 24H DE VIDA → PRECOCE · Frequentemente está associada a ocorrência de doença hemolítica → iniciar investigação completa + fototerapia. APÓS 24H DE VIDA → FISIOLÓGICA (TARDIA) Observação das zonas de Kramer: · Zona 1-2: observação · > zona 2: alerta → coleta de exames e interpretação – PASSOU DO UMBIGO, SINAL DE PERIGO! Dosa a bilirrubina e avalia com frequência. RN a termo: · Aparece com cerca de 2-3 dias de vida. · Pico entre o 3º e 4º dias de vida (máximo de 23mg/dl de bilirrubina) · Normaliza em até 7 dias. RN pré-termo: · Elevação da bilirrubina sérica igual ou mais lenta, com duração mais longa. · Entre o 3º e 4º dia de vida. · Pico do 4º ao 7º dia de vida (bilirrubina máxima de 15mg/dl). · Desaparece até 10 a 14 dias de vida. ICTERÍCIA NEONATAL NÃO FISIOLÓGICA Quando pensar? · Icterícia nas primeiras 24h de vida. · Elevação da bilirrubina sérica em velocidade superior a 5mg/dl/dia. · Bilirrubina sérica > 12mg/dl em RN a termo ou > 15mg/dl em RN prematuros. · Icterícia que persiste após 10 a 14 dias de vida. · Hiperbilirrubinemia direta (BD > 1mg/dl, se bilirrubina total <5mg/dl ou BD>20% da bilirrubina total se bilirrubina total > 5mg/dl). · Sinais clínicos: hepatomegalia, esplenomegalia, vômitos, letargia, recusa alimentar, bradicardia e apneia. Icterícia precoce: incompatibilidade Rh · Mãe antígeno D negativo (Rh negativo) e RN antígeno D positivo (Rh positivo). · No primeiro contato com o sangue com antígeno D positivo = produção de anticorpos maternos anti-D (IgM). Na segunda exposição, leva a produção de anticorpos IgG (memória), que ultrapassam a barreira placentária e se ligam as hemácias do RN. · Baço reconhece as hemácias ligadas aos anticorpos, gerando hemólise intensa, anemia e reticulocitose (inclusive intraútero). · Quando a mãe é Rh negativo com Coombs indireto positivo na primeira gestação, significa que ela tem maior risco de doença hemolítica no RN. Para prevenir a sensibilização materna, utiliza-se imunoglobulina humana anti-D nas primeiras 72h do contato com sangue Rh positivo. · Outros procedimentos podem levar a sensibilização: pós-parto, pós-abortamento, gravidez ectópica, mola, pós-amniocentese, cordocentese ou biópsia de vilo coriônico, pós sangramento durante a gestação, durante a gestação entre a 28ª e 34ª semana (se pai Rh positivo). Nesses casos está indicado a utilização da imunoglobulina anti-D. Incompatibilidade ABO · Causa mais comum de doença hemolítica no RN (20 a 25% das gestações). · Cenário: mãe O e RN A ou B. O individuo do grupo O tem naturalmente anticorpos anti-A e anti-B (IgG), por isso pode ocorrer na primeira gestação. · As manifestações clinicas são mais leves, a hemólise é menos intensa. · Coombs direto pode ser ou não positivo. · Podem ser encontrados esferócitos em sangue periférico. ICTERÍCIA PROLONGADA OU ‘TARDIA’ Icterícia associada ao aleitamento materno: · Icterícia pelo aleitamento: aleitamento inadequado (dificuldade de sucção, pouca oferta láctea). Pode cursar com perda de peso > 7% e até com desidratação e hipernatremia. Isso leva ao aumento da circulação entero-hepatica da bilirrubina, ou seja, existe uma quantidade maior de bilirrubina indireta sendo levada ao fígado, sendo que ele não consegue conjugar tudo. Por isso vai se acumular no subcutâneo e levar a icterícia. A resolução consiste na correção da técnica de amamentação e retorno do ganho ponderal. O bebê não está sendo alimentado, sendo assim vai acumular a bilirrubina por não ser excretada. · Síndrome da icterícia pelo leite materno: leite materno atua como modificador ambiental, reduzindo a atividade da glicuroniltransferase, que compromete a conjugação hepática. A icterícia vai ALÉM da primeira semana de vida. Concentrações máximas de bilirrubina (10 a 30mg/dl) entre 2 a 3 semanas de vida. O bebê tem bom ganho ponderoestatural e está tudo bem. O que fazer? Interrupção da amamentação para diagnosticar (bilirrubina cai) e retorna com o aleitamento materno depois, pois depois de 10-12 semanas a bilirrubina vai cair. Quando há indicação de fototerapia, pode realizar. MANEJO Acumulo de bilirrubina indireta é prejudicial – atravessa BHE e pode impregnar no SNC (Kernicterus). Objetivo do tratamento: impedir neurotoxicidade 1. Dosagem de bilirrubina total 2. IG e peso de nascimento 3. Idade pós-natal 4. Presença de fatores de risco para Kernicterus (IG <= 36 semanas, doença hemolítica, asfixia perinatal, sepse, acidose e albumina <3g/dl) Fototerapia · Como age? Transforma a bilirrubina indireta em isômeros que são excretados facilmente pela luz azul. · Indicações: normograma de Buthani, nível de bilirrubina relacionado as horas de vida e fatores de risco. · Cuidados: temperatura (risco de hipotermia), oferta hídrica (aumento das perdas insensíveis pela pele) e proteção dos olhos. · Suspensão: baseado nos níveis séricos de bilirrubina. · Icterícia rebote: reavaliação da bilirrubina sérica em 12 a 24h após suspensão da fototerapia. Demais tratamentos – especialmente para casos graves · Imunoglobulina: hiperbilirrubinemia decausa IMUNE · Exsanguineotransfusão (EST): indicada quase exclusivamente na doença hemolítica grave por incompatibilidade de Rh. HIPERBILIRRUBINEMIA DIRETA · Icterícia persistente - >14 dias de vida · Diagnóstico: predomínio de bilirrubina direta. · A principal causa é a atresia das vias biliares – fibrose idiopática da arvore biliar, principalmente extra-hepatica (não passa a bile do fígado para o intestino), levando ao acumulo da bile com consequente lesão hepática. · Icterícia a partir da 2ª/3ª semana de vida, evoluindo com colúria e acolia. · Diagnóstico: · Laboratório: alteração de enzimas hepáticas e provas de função hepática. · Imagem: USG mostra o SINAL DO CORDÃO TRIANGULAR, pode ser realizada a cintilografia hepatobiliar, biopsia hepática e colangiograma (padrão-ouro). · Tratamento: cirurgia de KASAI – restabelecimento do trânsito biliar em até 8 semanas de vida. O tratamento definitivo é o transplante hepático. BAC DRA. JOANA HIPERBILIRRUBINEMIA INDIRETA · Aparece em 60% dos RNT · Aparece em 80% dos RNPT · Causas fisiológicas: sobrecarga de bb ao hepatócito, circulação entero hepática aumentada, menor tempo de vida das hemácias, maior quantidade de Hb no RN · Icterícia fisiológica ocorre após 24h de vida, com pico no 5º dia de vida. · Icterícia que surge antes das 24h precisa ser investigada – patológica FATORES DE RISCO · Incompatibilidade materno-fetal Rh (antígeno D) (é mais raro atualmente porque realiza os testes no pré-natal), ABO ou antígeno irregulares. · Prematuridade · Clampeamento do cordão umbilical tardio · Aleitamento materno com dificuldade ou perda de peso > 7% · Irmão com icterícia tratado com fototerapia · Presença de céfalo-hematoma ou equimoses – trauma relacionado ao parto. O sangue fica parado e acaba sendo quebrado, o que aumenta a bilirrubina. · Descendência asiática · Sexo masculino · Mãe diabética QUANDO COLHER EXAME DE BILIRRUBINA? · Caso apresente icterícia antes de 24h · Quando estiver na zona 2 ou mais na hora da alta principalmente · E se a bilirrubina que vier aumentada for a direta? É patológico, doenças que envolvem o fígado. Precisa investigar com USG, infecções congênitas (TORCHSV). NORMOGRAMA DE BUTHANI · Sempre usar a bilirrubina total no gráfico. · Na zona de baixo risco: chance mínima de complicar. · Zona de risco intermediário baixo: identificar os fatores de risco, pode deixar na foto ou pedir para reavaliar. · Zona de risco intermediário alto indicação absoluta de fototerapia. QUANDO REAVALIAR PÓS FOTOTERAPIA · Caso seja icterícia precoce, devido ao risco de hemólise, precisa reavaliar em 6h depois da ultima fototerapia efetiva. Se a bilirrubina sobe mais que 1 por hora, já tem risco precisar de exsanguineotransfusão, procedimento que retira os anticorpos circulantes e a bilirrubina. · Caso não seja precoce, pode colher depois de 24h de fototerapia. · Para retirar a fototerapia, pode-se reavaliar o gráfico. TRATAMENTO · Fototerapia: luz de led azul. Quanto mais o corpo estiver exposto a luz, mais eficaz. A distância correta é 30cm do RN para ser eficaz, sendo necessário fazer proteção ocular. · Exsanguíneotransfusão: UTI neonatal. Vai trocar 2/3 do sangue do bebe e colocar outro, por isso é perigoso. Quando solicitar BT em RN ≥35 semanas antes da alta hospitalar? · Icterícia nas primeiras 24-36 horas de vida · Incompatibilidade tipo sanguíneo materno-fetal Rh · Incompatibilidade tipo sanguíneo ABO (Mãe O com RN A ou B) · Icterícia em RN com 35 e 36 semanas (independentemente do peso ao nascer) · Icterícia em RN com dificuldade de amamentação e/ou perda de peso >7% em relação ao peso de nascimento · Icterícia em RN termo abaixo do nível da linha mamilar. ENCEFALOPATIA BILIRRUBÍNICA AGUDA · Se apresenta em RN de 35 semanas ou mais de idade gestacional (IG), inicialmente, com hipotonia e sucção débil, progredindo em três a quatro dias para hipertonia, opistótono, hipertermia, convulsões e choro agudo. Posteriormente, ocorre melhora aparente até que, em período variável, aparecem as sequelas neurológicas: paralisia cerebral espástica, movimentos atetoides, distúrbios de deglutição e fonação, deficiência auditiva grave e mental leve a moderada.
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