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Sífilis congênita 2 Pâmela Martins Bueno – sífilis congênita CONCEITOS “COMUNS” ÀS INFECÇÕES CONGÊNITAS · Adquiridas intraútero (via hematogênica transplacentária) · Causadas por infecção materna (sintomática ou não) durante a gestação. · Triagem pré-natal – maioria das infecções é assintomática. · Toxoplasmose e sífilis – rastreadas no 1º e 3º trimestres · Rubéola – pesquisa apenas se sinais clínicos ou contato da gestante com o paciente infectado. · CMV – não é triado de rotina (SUS x Serviço privado). · TORCHSV – Toxoplasmose, Rubeola, Citomegalovirus, Herpes vírus, Sífilis e Varicela. · Momento de infecção: · Infecções de 1º trimestre: menos comuns porque a circulação placentária ainda está em desenvolvimento e mais graves (embriogênese). · Infecções de 3º trimestre: mais comuns, assintomáticas porque o bebê já está formado e gera sequelas tardias. · Achados clínicos sugestivos de infecção congênita: · RCIU · Microcefalia, hidrocefalia, calcificações intracranianas. · Coriorretinite, catarata, glaucoma · Hepatoesplenomegalia · Lesões ósseas · Miocardite ou outras cardiopatias · Exantema, petéquias, púrpuras · Anemia, plaquetopenia · Hiperbilirrubinemia direta · Investigação: · Sorologia (IgM e IgG) materna e neonatal · Pesquisa do agente etiológico: pesquisa viral em secreções (nasofaringe, urina) e PCR em amostras biológicas · Hemograma completo · Função hepática: transaminases, bilirrubina total e frações, albumina, coagulograma. · Liquor · Radiografia de ossos longos · Potencial evocado auditivo do tronco encefálico (PEATE) · USG transfontanela e/ou TC de crânio. · Fundo de olho. SÍFILIS CONGÊNITA · Infecção causada pelo Treponema pallidum · Disseminação transplacentária – principalmente nos estágios primário e secundário. · Não ocorre transmissão pelo leite materno. DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO MATERNA · Dx clínico difícil – lesão primaria e secundaria são indolores Testes sorológicos: · Pré-natal (1º e 3º trimestres) e momento do parto · Iniciar, de preferência, com teste treponêmico (FTA-ABS, teste rápido) · Teste não-treponêmico – VDRL – altamente sensível, estima estágio de infecção e resposta terapêutica, tendencia a negativação após tratamento; falso-positivo em casos de anticorpos contra cardiolipina. Uma vez que o VDRL da mãe é positivo, vamos partir para um teste treponêmico (TPHA, FTA-Abs, ELISA) · Bom diagnóstico, mas não para monitoramento de resposta terapêutica – permanece positivo mesmo após o termino do tratamento. · Nas gestantes – presença de pelo menos 1 teste positivo (treponêmico ou não) – inicio do tratamento. · O tratamento é feito com penicilina e se baseia no estágio clinico da doença. · Na maioria das gestantes considera-se como sífilis tardia para garantir que não ocorra a infecção do feto. É importante seguir com monitorização clínica e testes sorológicos mensais para avaliar o aumento das titulações. O tratamento que teve sucesso é quando: “Atualmente, para definição de resposta imunológica adequada, utiliza-se o teste não treponêmico não reagente ou uma queda na titulação em duas diluições em até 6 meses para sífilis recente e queda na titulação em duas diluições em até 12 meses para sífilis tardia.” A única medicação que trata tanto a mãe quanto o feto é a penicilina, a única situação em que é valido tratar com outra droga é quando ela está em falta. De alternativa, teremos: · Uso de ceftriaxona IM por 10 a 14 dias O RN deve ser notificado, investigado e tratado para sífilis congênita. TRATAMENTO ADEQUADO DA GESTANTE · Tratamento realizado com penicilina benzatina · Inicio pelo menos 30 dias antes do parto. · Esquema adequado para cada estágio clinico. · Intervalo entre as doses respeitado. · Avaliação do risco de reinfecção* - avalia o tratamento do parceiro. · Queda em pelo menos 2 títulos do VDRL QUADRO CLÍNICO DA SÍFILIS CONGÊNITA · 60-90% oligo ou assintomática · Risco de doença determinado pela história materna. · Sífilis congênita precoce (até 2 anos) x sífilis congênita tardia (após 2 anos) · Lesões tardias = sequelas das lesões precoces. SÍFILIS CONGÊNITA PRECOCE · Prematuridade, RCIU · Hepatoesplenomegalia, adenomegalia generalizada · Pneumonia alta · Lesões ósseas, periostite, osteíte, osteocondrite metafisaria · Pseudoparalisia de Parrot – devido a dor das lesões ósseas · Lesões cutaneomucosas, pênfigo palmoplantar, condilomas planos, exantema maculopapular, rinite serossanguinolenta · Anemia e plaquetopenia · Icterícia SÍFILIS CONGÊNITA TARDIA São decorrentes das manifestações precoces. · Neurológicas: surdez, déficit cognitivo, hidrocefalia. · Oculares: coriorretinite, glaucoma, cicatriz corneana, atrofia do N. óptico. · Tríade de Hutchinson: dentes de Hutchinson, ceratite intersticial e lesão do VIII par. · Osseas: fronte olímpica, nariz em sela, tíbia em lâmina de sabre. · Cutaneomucosas: fissuras periorificias (rágades sifilíticas) INVESTIGAÇÃO DO RN · RN exposto a sífilis – RN de mulher diagnosticada com sífilis durante o pré-natal e ADEQUADAMENTE TRATADA. · RN com sífilis congênita – RN de mulher diagnosticada com sífilis no pré-natal, parto ou puerpério. NÃO TRATADA ou TRATADA DE FORMA NÃO ADEQUADA. RN EXPOSTO A SÍFILIS · Todos os RN de mãe com diagnostico de sífilis durante a gestação, independentemente do histórico de tratamento materno, deverão realizar TESTE NÃO TREPONÊMICO no sangue periférico. · VDRL maior que o materno em pelo menos 2 diluições? · SIM = sífilis congênita (investigar conforme fluxograma de mãe não adequadamente tratada). · NÃO = exame físico. · Normal: criança exposta a sífilis (seguimento) · Alterado: avaliar VDRL. Se for reagente = sífilis congênita. Se VDRL não reagente = investigar outras TORCHS. RN COM SÍFILIS CONGÊNITA · Notificação, VDRL sérico (mãe e bebê) + HMG, glicemia, RX de ossos longos e LCR* · Exame físico, HMG, LCR e RX de ossos longos normais e VDRL do RN não reagente? · SIM = penicilina benzatina dose única e acompanhamento. · NÃO pra qualquer uma = avaliar LCR para realizar o tratamento. · Se líquor normal = sífilis congênita sem neurossífilis = penicilina cristalina ou procaína por 10 dias. · Se liquor alterado = sífilis congênita com neurossifilis = tratamento com penicilina cristalina EV por 10 dias. O que é o liquor alterado? · VDRL reagente e/ou · > 25 células e/ou · >150 de proteína. SEGUIMENTO DA CRIANÇA EXPOSTA · Mensal até o 6º mês e bimestral até 1 ano. · VDRL com 1, 3, 6, 9, 12 e 18 meses – interromper seguimento com dois exames não reagentes consecutivos ou queda de pelo menos 2 diluições. · Se elevação em pelo menos 2 diluições ou não negativação até os 6 meses, reinvestigar a criança e proceder ao tratamento. · Seguimento oftalmológico, neurológico e audiológico semestral por 2 anos. · Neurossífilis: reavaliação liquórica a cada 6 meses até normalização dos parâmetros bioquímicos, citológicos e imunológicos (VDRL). BAC DRA. JOANA VOCÊ SABIA? · 70 a 100% de chance transmissão vertical em mulher não tratada (fase 1º e 2º). · 40% de chance de aborto, natimorto ou morte perinatal das crianças infectadas a partir de mães não tratadas. · Existe chance de transmissão na hora do parto? · Existe chance de transmissão durante o aleitamento? · Infecção é assintomática ao nascimento SÍFILIS PRECOCE – DIAGNOSTICADA ATÉ 2 ANOS DE IDADE · Hepatomegalia/esplenomegalia · Lesões cutâneas, pênfigo sifilítico, periostite, osteíte, osteocondrite, pseudoparalisia de Parrot · Sofrimento respiratório com ou sem pneumonia · Icterícia · Anemia, trombocitopenia, leucopenia, leucocitose · Linfadenopatia generalizada · Hidropsia, edema · Petéquias, purpuras · Convulsão, meningite SÍFILIS TARDIA – DIAGNÓSTICO APÓS OS 2 ANOS DE IDADE · Fronte olímpica · Nariz em sela · Dentes incisivos deformados · Molares em amora · Mandíbula curta · Arco palatino elevado · Surdez neurológica · Dificuldade no aprendizado · Tíbia em lâmina de sabre (tíbia arqueada) Avaliação e manejo das crianças nascidas de mulheres com diagnostico desífilis na gestação atual, adequadamente tratadas: · Mãe adequadamente tratada – tomaram 3 doses de penicilina com intervalo de 7 dias entre elas, iniciadas até 30 dias antes do parto. Deve-se colher exame VDRL da mãe e do bebê (tem que ser sangue periférico e não do cordão umbilical). · Se o VDRL do bebê for igual, menor ou maior apenas uma titulação acima do VDRL da mãe, não trata, apenas realiza o acompanhamento no ambulatório. → VDRL da mãe veio 1/8 e o do bebê 1/2, pede uma guia para fazer um acompanhamento no ambulatório de alto risco. Se o VDRL da mãe e do bebê for igual, é a mesma conduta. · Se o VDRL do bebe vier dois títulos acima da mãe, colher hemograma, raio-x de ossos longos, líquor (VDRL – para excluir neurossífilis) Se houver alterações clínicas e/ou radiológicas, e/ou hematológica, sem alterações liquóricas, é preciso fazer tratamento: · Penicilina cristalina ou Penicilina procaína por 10 dias · Se houver alteração liquórica, o tratamento é OBRIGATORIAMENTE com Penicilina cristalina por 10 dias. · Penicilina cristalina 50.000 UI/kg por 10 dias 12/12h no 8 dia muda para 8/8h; · Dose penicilina procaína 50.000 UI/kg IM 1x ao dia por 10 dias. Avaliação e manejo das crianças nascidas de mulher com diagnostico de sífilis no pré-natal, parto ou puerpério, não tratada ou tratada de forma não adequada na gestação atual: · Independentemente do resultado do VDRL do recém-nascido, realizar: Hemograma, radiografia de ossos longos, punção lombar · Se vier alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radiológicas e/ou hematológicas no RN: penicilina cristalina ou Penicilina procaína por 10 dias · Se houver alteração liquórica: é obrigatório o uso de Penicilina cristalina por 10 dias – pois somente a penicilina cristalina ultrapassa a barreira hematoencefálica de forma eficiente para tratar o T. pallidum no SNC. Se a mãe não for tratada adequadamente, mas não houver alterações clínicas, radiológicas, hematológicas e/ou liquóricas no RN, e a sorologia for negativa (VDRL): · Penicilina G benzatina por via IM – dose única · Acompanhamento é obrigatório SEGUIMENTO DA CRIANÇA · Seguimento ambulatorial: calendário recomendado pelo ministério da saúde – na primeira semana de vida e no 1º, 2º, 4º, 6º, 9º, 12º e 18º mês. · Avaliação laboratorial com teste não treponêmico (VDRL) com 1, 3, 6, 12, 18 meses de idade, interrompendo o seguimento após dois testes não reagentes consecutivos (a partir daí, considera-se o bebê tratado). · Espera-se que o VDRL decline aos 3 meses de idade, devendo ser não reagente aos 6 meses, caso a criança tenha sido adequadamente tratada. Diante da elevação de títulos em duas diluições, ou sua não negativação até 18 meses, ou persistência de títulos baixos, reavaliar a criança e proceder ao retratamento. · Consulta oftalmológica – semestrais por 2 anos. Anomalias oftalmológicas mais comuns: ceratite intersticial, coriorretinite, glaucoma secundário, cicatriz córnea e atrofia óptica. · Consulta audiológica – semestrais por 2 anos. Anomalias auditivas: perda auditiva sensorial por acometimento do 8º par craniano. · Consulta neurológica – semestrais por 2 anos. Em casos de neurossífilis: punção lombar a cada 6 meses, até normalização bioquímica citológica e sorológica. Se VDRL liquórico se mantiver reagente ou celularidade e/ou proteína liquóricos se mantiverem alterados, realizar nova investigação clínico laboratorial e retratar. Exame de imagem pode ser considerado também nesse cenário.
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