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Atopias e rinite alérgica 2 Pâmela Martins Bueno – atopias e rinite alérgica INTRODUÇÃO · Atualmente está ocorrendo o aumento da incidência de alergia em países industrializados · Relacionado a teoria da higiene que leva a redução das doenças parasitárias e leva a redução da estimulação imune, que permite maior ativação dos linfócitos Th2. · A exposição intraútero ao tabagismo também está relacionada ao aumento dos casos de alergia. · Atopia: predisposição genética para alergia – predomínio de linfócitos Th2 · Sensibilização: produção de IgE especifica contra um determinado alérgeno. A detecção não está relacionada diretamente a alergia. · Alergia: manifestação clinica com sintomas, como manchas, depois da exposição a um alérgeno contra qual o paciente está sensibilizado. Ex: paciente em contato com pó, que já era sensibilizado, desenvolve manchas no corpo. FISIOPATOLOGIA As manifestações alérgicas dependem da interação entre células inflamatórias, mediadores, fatores de transcrição e resposta neural. A reação alérgica mais envolvida na urticaria, rinite e asma atópica é a reação alérgica/hipersensibilidade tipo I que tem algumas fases. · Fase de sensibilização: penetração do alérgeno pela pele, via aérea ou TGI e é capturado pelas células apresentadoras de antígenos que vão processar e apresentar o alérgeno, estimulando os linfócitos para Th2 e também vão estimular os linfócitos B a produzir a IgE específica que se liga a mastócitos e basófilos esperando a segunda fase. · Fase efetora: reexposição ao alérgeno que foi previamente sensibilizado. Na fase imediata ocorre a ligação dos alérgenos a IgE especifica que leva a degranulação dos mastócitos e basófilos, que libera mediadores como citocinas, prostaglandinas, proteases, fatores quimiotáticos de neutrófilos e eosinófilos que levam a contração do musculo liso, vasodilatação, aumento de permeabilidade vascular e aumento das secreções glandulares, levando aos sintomas clínicos. Os sintomas que acontecem nessa fase aparecem em cerca de 1 minuto: sibilancia, edema, hipersecreção, prurido, tosse. A fase tardia acontece depois de 4 a 6h da exposição e é decorrente da infiltração secundaria de linfócitos e eosinófilos no tecido e liberação de mediadores que perpetuam a resposta inflamatória alérgica, levando a alteração do tecido. REMODELAMENTO TECIDUAL · Acontece justamente quando tem uma inflamação crônica, a fase tardia que acontece por reexposições repetidas ao alérgeno e se associa ao recrutamento de fibroblastos e com isso vai ocorrer: · Na asma: obstrução da via aérea · Rinite alérgica: hipertrofia dos cornetos nasais · Dermatite atópica: liquenificação MARCHA ATÓPICA · História natural da evolução das doenças alérgicas. · A primeira doença alérgica que começa é a dermatite atópica, logo nos primeiros meses de vida. As vezes o paciente pode apresentar alergia alimentar (leite de vaca, ovo e amendoim). · Uma vez com dermatite e/ou alergia a próxima etapa é a sensibilização aos aeroalérgenos e surgimento da sibilância, geralmente associada a infecções de vias aéreas superiores = bebê chiador. · Depois disso ocorre a resolução da alergia alimentar e melhora importante/resolução da dermatite atópica, mas esses pacientes podem evoluir posteriormente com asma (manutenção da sibilância) e rinite alérgica (mais tardia). ECZEMA · Processo dermatológico que acomete a epiderme e derme papilar. · Na fase aguda acontece a exocitose e edema intercelular na camada de Malpighi. Acontece o afastamento das células e acumulo de serosidade, ou seja, de liquido entre as camadas celulares que pode levar a formação de vesículas que podem se romper, liberar exsudato e formar crostas. Cursa com edema, hiperemia, liquido, crostas e exsudato. · Na fase crônica e espessamento da pele – liquenificação. O edema intracelular leva a queratinização que se manifesta com a formação de escamas e remodelamento da pele. DERMATITE ATÓPICA · Doença inflamatória cutânea crônica · Tem etiologia multifatorial · Se manifesta clinicamente como eczema – eritema mal definido, com edema, vesículas associadas e crostas na fase aguda e na fase crônica se caracteriza como liquenificação – placa eritematosa definida, descamativa e espessamento da pele. · Mais comum em crianças – 60% no primeiro ano de vida e em 70% dos casos tem melhora gradual até o final da infância, por isso é mais comum em crianças. · Pode se associar a outras atopias, como rinite e asma. FISIOPATOLOGIA · Hipersensibilidade tipo I · Combinação entre desregulação imunológica (muito linfócito Th2) que leva a uma resposta alérgica e disfunção da barreira cutânea associada. · Fatores desencadeantes das crises atópicas: infecções por S. aureus e Malassezia, alérgenos alimentares, aeroalérgenos, estresse. A exposição a irritantes também está associada – banho quente, cloro da piscina e fricção. DIAGNÓSTICO – É CLÍNICO! Prurido (associado a irritabilidade e distúrbio do sono em crianças) nos últimos 12 meses + pelo menos 3 achados clínicos: 1. História de pele ressecada nos últimos 12 meses 2. História pessoal de rinite ou asma 3. Inicio dos sintomas antes dos 2 anos 4. Lesões em regiões flexurais (pré-escolar e escolar) O prurido tem papel essencial na fisiopatologia, já que leva a piora da disfunção da barreira favorecendo a penetração de alérgenos. CARACTERÍSTICAS DO ECZEMA · Lactente (<2 anos): eczema agudo – edema, hiperemia, crostas, serosidades principalmente localizadas em face, couro cabeludo, tronco e superfície extensora. · Pré-puberal: eczema agudo e crônico localizado principalmente em regiões flexurais. Essas lesões agudas são gradualmente substituídas por lesões crônicas, com a liquenificação das mesmas. · Adulto: eczema crônico em regiões flexurais e periorbitais. GRAVIDADE DA DERMATITE · Definida pelo SCORAD, que avalia a extensão e gravidade das lesões, considerando prurido e comprometimento do sono, extensão das lesões, gravidade das lesões para dar uma pontuação final. Pode ir até 150 pontos. · Doença leve: <25 pontos · Doença moderada: 25-50 pontos · Grave: >50 pontos TRATAMENTO · Hidratação da pele – integridade da barreira cutânea para impedir a penetração dos alérgenos. · Controle dos fatores agressores – banho quente, muito sabonete, poluição, produtos químicos. · Controle da inflamação na exacerbação: · Corticoide tópico: cuidado na região inguinal, axilar, genital e face porque a absorção é mais rápida. · Imunomoduladores tópicos: tacrolimos – uso em face e pregas. · Controle do prurido: anti-histamínicos orais de 1º geração – são os que dão sono porque a criança dorme e para de coçar – hidroxizina. Tratamento de infecção bacteriana secundária Quando está mais vermelho, maior exsudação, crostas melicéricas (crostas acastanhadas) · Limpeza local · Antibióticos tópicos – mupirucina ou acido fusitico · Antibióticos sistêmicos – principalmente cefalexina. PREVENÇÃO · Uso de probióticos na ultima semana de gestação e durante o aleitamento materno em crianças de alto risco · Lactobacillus rhamnosus GG · Não existe recomendações. RINITE · Inflamação e/ou disfunção da mucosa nasal · Alérgica x não alérgica – rinite infecciosa é desencadeada por infecção viral, rinite induzida por drogas, do idoso, gestacional, ocupacional, idiopática. RINITE ALÉRGICA · Forma mais comum, atinge 26% das crianças de 6-7 anos e 34% dos adolescentes de 13-14 anos. · É a manifestação mais tardia das doenças alérgicas · É uma reação de hipersensibilidade que precisa de uma sensibilização prévia – primeiro é sensibilizada, produz anticorpos IgE e na reexposição tem as manifestações clinicas. DIAGNÓSTICO – CLÍNICO! 4 sintomas cardinais da rinite: · Espirros em salva – característicos durante a manhã · Prurido nasal · Coriza hialina · Obstrução nasal CLASSIFICAÇÃO De acordo com a frequência dos sintomas: · Intermitente – quando tenho sintomas da rinite por menos de 4 dias na semana ou por menos de 4 semanas consecutivas · Persistente – quando os sintomas duram mais de 4 diasna semana e por mais de 4 semanas consecutivas. De acordo com a gravidade · Leve – quando não interfere na qualidade de vida · Moderada/grave – interferência no sono, limitação de atividades diárias ou prejuízo em desempenho escolar/laboral. FATORES DESENCADEANTES · Aeroalérgenos – poeira, acaro, fungo, epitélio de cão e gato · Mudança brusca de temperatura · Inalação de irritantes – perfumes e produtos de limpeza CARACTERÍSTICAS FACIAIS · Olheiras e dupla prega infrapalpebral · Prega nasal transversa – causada pela saudação alérgica – fricção do nariz para cima. EXAME FÍSICO · Rinoscopia: mucosa pálida e edemaciada, secreção hialina e hipertrofia de conchas nasais inferiores nos casos crônicos. · Pode ter epistaxe por conta da friabilidade da mucosa e exposição a fatores desencadeantes que levam a sangramento. COMORBIDADES ALÉRGICAS · Conjuntivite alérgica – hiperemia conjuntival, lacrimejamento, coceira, fotofobia · Rinossinusite aguda ou crônica · Otite média com efusão · Tosse crônica por conta do gotejamento pós-nasal · Asma · Fácies adenoidiana – respira muito pela boca · Apneia e hipopneia obstrutiva do sono. EXAMES COMPLEMENTARES · Eosinófilos periféricos · IgE sérica específica · Nasofibroscopia – pólipo, desvio de septo, hipertrofia de adenoide TRATAMENTO · Controle ambiental · Lavagem nasal frequente com SF · Lavar a mão depois de mexer nos pets · Anti-histaminicos orais de 2º geração – monoterapia na rinite intermitente leve. · Corticoide nasal – rinite persistente ou moderada/grave. Controla inflamação. · Antagonistas dos receptores de leucotrienos (Montelucast) – quando tem rinite associado a asma, rinossinusite crônica com polipose e doença exacerbada por aspirina · Imunoterapia alérgeno-específica: >5 anos com rinite persistente ou moderada/grave. A duração do tratamento é de 3-5 anos e muda o curso, não é necessário mais tomar a medicação. Para ser candidato tem que saber qual é o motivo da alergia. Pode ser subcutânea ou sublingual e é contraindicada quando há asma não controlada concomitante, doença imune ativa, neoplasia maligna, aids e <5 anos de idade.
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