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Atualidades em medicina periodontal Periodontia – UFPE Larissa Albuquerque *É uma subárea da periodontia que estuda como a periodontite se relaciona com outras doenças no corpo e vice-versa, visto que já está estabelecida a relação entre periodonto, boca e corpo. *A periodontite é uma doença que leva à perda dos tecidos de suporte do dente, provocando perdas dentárias, que por sua vez comprometem o estado nutricional, a fala e autoestima do indivíduo, resultando na redução da qualidade de vida. Ela tem prevalência de 50% e é a sexta doença mais prevalente no mundo, sendo 11% de formas graves. *O conceito mais atual é que a periodontite é uma doença crônica, inflamatória e multifatorial associada ao biofilme disbiótico, comprometendo a homeostase e que progride para a perda de inserção periodontal e perda óssea. A periodontite está baseada no tripé de disbiose, inflamação crônica e disfunção imunológica, sendo a resposta do hospedeiro a perda do elemento dentário, além de afetar outras doenças crônicas não transmissíveis (DCNT: obesidade, depressão, diabetes, doenças cardiovasculares, doenças inflamatórias intestinais). *É importante ressaltar que cerca de 2/3 das mortes por doenças crônicas não transmissíveis estão relacionadas ao tabagismo, consumo abusivo de álcool, alimentação inadequada e sedentarismo. Ulceração epitelial *A partir do momento em que a gengivite, já com algumas alterações fisiológicas, evolui para a periodontite, ocorre a formação de bolsas periodontais verdadeiras que apresentam sangramento espontâneo ou à sondagem. Isso significa que uma parede de revestimento interno da bolsa apresenta epitélio ulcerado, ou seja, perdeu sua continuidade, expondo o tecido conjuntivo, que é o responsável pelo sangramento. Dessa forma, o biofilme e as substâncias inflamatórias que são produzidas e liberadas para o fluido crevicular gengival estão em contato com a ulceração epitelial. Como o periodonto é extremamente vascularizado pelo plexo dentogengival, está estabelecida a conexão com a circulação maior da face e do corpo. Isso indica que as bactérias e produtos da inflamação poderão atingir qualquer parte do corpo em um paciente com periodontite. *Em um paciente com periodontite moderada, com 28 dentes, 6mm de profundidade a sondagem e área lateral com raio de 5mm, a área de epitélio ulcerado da bolsa periodontal é de 53cm2, equivalente à palma da mão de um adulto. Principais vias *As principais vias de disseminação das bactérias são a hematogênica, linfática, orofaríngea e aspiração. Periodontite e diabetes *A prevalência, incidência e progressão da periodontite, bem como a taxa de perda dentária são maiores em pacientes com diabetes e controle glicêmico deficiente. Em crianças e adolescentes, a gengivite também tem sido reportada. Todas essas condições podem impactar na redução da qualidade de vida dos pacientes. *“É recomendado fazer rastreamento para diabetes nos pacientes que apresentem comorbidades relacionadas ao diabetes secundário, como endocrinopatias e doenças pancreáticas, ou com condições frequentemente associadas ao diabetes mellitus, como infecção por HIV, doença periodontal e esteatose hepática.” *A infecção periodontal gram-negativa irá causar resistência aumentada à insulina e pior controle glicêmico do paciente com diabetes. O tratamento periodontal nesses casos diminui a inflamação e melhora a sensibilidade à insulina, melhorando o controle glicêmico. *O paciente com diabetes e periodontite diagnosticada precisa realizar o tratamento periodontal e o paciente com diabetes e sem periodontite diagnosticada precisa fazer cuidados preventivos e realizar o monitoramento regular pelo periograma. *Pacientes com diabetes e periodontite apresentam complicações do diabetes mais graves do que aqueles com pouca ou nenhuma periodontite. *Pacientes com suspeita de diabetes devem ter cuidados avançados limitados até obter o diagnóstico e o bom controle glicêmico. Periodontite e desfecho adversos da gestação *Os principais desfechos adversos da gestação são o parto prematuro (nascimento antes da 27ª semana de gestação) e o baixo peso ao nascer (menos de 2500g). *A periodontite sere como reservatório de bactérias anaeróbicas gram-negativas, lipopolissacarídeos e citocinas, o que é considerada uma ameaça para a unidade fetoplacentária. *As principais citocinas que estão relacionadas ao parto prematuro são IL-1A, IL-1B, IL-6, IL-8, TNF-A, PGE-2, que causam as contrações uterinas (rupreme). Essas mesmas citocinas estão presentes na periodontite, local e sistemicamente. Periodontia Larissa Albuquerque *A principal citocina associada ao baixo peso ao nascer é o TNF-A (fator de necrose tumoral), que causa a caquexia, prevenindo a captura e utilização dos lipídeos. Quando presente durante a gestação, causa o baixo peso ao nascimento. *Diante disso, o tratamento periodontal deve ser recomendado antes da concepção, pois os estudos clínicos com gestantes para tratamento periodontal no segundo semestre não apresentaram resultados positivos, podendo significar que este tratamento já estaria ocorrendo tardiamente. Periodontite e doenças cardiovasculares *A plausabilidade biológica da relação entre periodontite e doenças cardiovasculares é o conceito de ativação endotelial, que consiste no estímulo microbiano/inflamatório nas paredes do endotélio vascular estimular a expressão de moléculas de adesão ao endotélio. Isso permite que os monócitos migrem para o subendotélio, tornando-se macrófagos que fazem a captação de LDL oxidada, transformando-se em células espumosas que acumulam lipídeos e sofrem apoptose. Esse mecanismo permite a formação da placa de ateroma nas paredes dos vasos. Além disso, os patógenos periodontais estimulam a proliferação das células do músculo liso, reduzindo o lúmen do vaso. *A incidência de doença aterosclerótica é maior em indivíduos com periodontite. *A terapia periodontal pode impactar eventos cardiovasculares pela redução dos múltiplos fatores de risco, redução de citocinas pró-inflamatória, proteína C reativa e diferentes interleucinas, reduz a dilatação fluxo mediada, reduz a pressão arterial, reduz a espessura da carótida e o LDL. Com isso, reduz os eventos cardiovasculares de forma indireta. *Ainda não há estudos que comprovem que o tratamento periodontal reduza o infarto do miocárdio, porém ele reduz os fatores de risco para esse evento agudo. *A terapia periodontal não-cirúrgica em pacientes com doenças cardiovasculares deve ser realizada em sessões de 30 a 45 minutos, a fim de minimizar o risco de inflamação sistêmica aguda.