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Crítica aTeresópolis

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE 
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS – CESA 
CURSO DE BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL
DISCIPLINA: FUND. HIST. TEÓRICO METODOLÓGICO II
PROFª: ELIVANIA DA SILVA MORAES
ALUNA: KAROLLINY MORAES
Crítica ao documento de Teresópolis
Diferente do documento de Araxá, o documento de Teresópolis, realizado em janeiro de 1970, teve sua reflexão baseada e guiada por um documento prévio referente a temática do encontro, onde trataram da “necessidade de um estudo sobre a Metodologia do Serviço Social face a realidade brasileira” e dava ênfase a uma nova postura do assistente social. 
O que se observa no texto de Teresópolis é o coroamento do transformismo: nele o “moderno” triunfa sobre o “tradicional”. Um dado bastante relevante dirigido nesse documento é que a perspectiva modernizadora se afirma não apenas como concepção profissional geral, mas sobretudo como pauta interventiva. O “moderno” se revela como decorrente instrumentação da programática desenvolvimentista e essa cristalização se lastreia nas formulações presentes na contribuição de Dantas, onde foi levado à consideração dos participantes do Seminário.
Adiante houve a análise e debate dos três textos, esses que constituíram o objeto dessa reflexão conjunta: O primeiro, “Introdução às questões de metodologia. Teoria do diagnóstico e da intervenção em Serviço Social”, de Sueli Gomes Costa, trás supostos que contemplam elementos críticos potencialmente problematizadores. A autora se estrutura sobre uma perspectiva que oferece um claro contraponto ao que fora hegemônico em Araxá e se consolidaria em Teresópolis – ela se recusa a pensar o Serviço Social sem sujeita-lo à problemática de fundo das ciências sociais, questionamento histórico, debilidades teóricas e condicionamentos ideológicos.
O segundo texto é de Tecla Machado Soeiro, “Bases para a reformulação da metodologia do Serviço Social”, que apresenta formulações equívocas e incertas. Para Soeiro, o objeto do Serviço Social é o processo de orientação social, ou seja, o processo desenvolvido pelo homem a fim de obter soluções normais para dificuldades sociais que se desenrola no interior do “processo social básico” e, mais, que “é um processo natural”.
Vale ressaltar que esses dois documentos pouco contribuíram nos debates do Seminário. O primeiro porque problematizava o documento de Araxá e estava além do horizonte modernizador, já o segundo, por que estava abaixo do nível das discussões.
Netto indica José Lucena Dantas como o teórico que mais influenciou a categoria profissional. Sua contribuição teórica com o ensaio “A teoria metodológica do Serviço Social. Uma abordagem sistemática” atendeu rigorosamente ao tema central proposto, oferecendo ao debate uma concepção extremamente articulada à metodologia do Serviço Social, a mais compatível com a perspectiva modernizadora. Dantas considera que “a questão da ‘metodologia de ação’ constitui a parte central e atual da Teoria geral do Serviço Social” e afirma “que a definição de um modelo de prática do Serviço Social adequado à problemática social brasileira depende da solução do problema metodológico” e que a prática da profissão necessitava se desenvolver e adquirir um nível mínimo de cientificidade. 
Segundo o autor da tese, o método profissional do Serviço Social se constitui a partir de duas categorias básicas de operações: diagnóstico e intervenção planejada. Esse “método profissional” geral admite especificações dos “métodos tradicionais” da prática da profissão, a base dos critérios de escala, níveis e variáveis da intervenção profissional. 
A filiação do pensamento de Dantas à tradição neopositivista é percebida na concepção metodológica. Para o autor, o método não passa de um jogo de ordenações formais, envolvendo “a matéria a ser ordenada e os critérios utilizados para imprimir ordenação a essa matéria. Netto ao analisar Dantas, conclui que as problemáticas ideológicas são escamoteadas, com o seu deslocamento para o terreno burocratizado da instrumentalidade técnico-profissional.
Dantas forneceu as mais adequadas respostas a duas demandas que à época amadureciam no processo renovador: a necessidade de uma fundamentação “científica” e a exigência de alternativas para redimensionar metodologicamente as práticas profissionais. Ele oferece uma legitimação “teórico-metodológica” supostamente ancorada numa cientificidade sistemática”. Quanto à demanda relativa ao redimensionamento metodológico das práticas profissionais, Dantas pensa que elas podem ser atacadas mediante atividades que circunscrevem áreas de pratica distintas, cuja escala é dada pela natureza da relação profissional no âmbito do sistema-cliente, a intervenção micro ou macro definindo-se pela existência ou não da relação direta entre profissionais e seus sistemas-clientes.
O autor conserva a legitimação das práticas tradicionais, mas as amplia inserindo práticas suscetíveis de serem comandadas pelas exigências do processo de “modernização conservadora” como por exemplo dessas operações, suas disquisições sobre o Caso, como “caso psicossocial” e como “caso socioeconômico” e no Grupo, institui trabalho com a população, no âmbito quer da community organization (organização comunitária), quer do community devolopment (desenvolvimento comunitário). 
No que diz respeito ao documento de Teresópolis, o mesmo compõe-se do relatório de dois grupos compostos por assistentes sociais que se concentraram na análise e reflexão sobre os temas “Concepção científica da prática do Serviço Social” e aplicação da metodologia do Serviço Social”. 
No estudo do primeiro tema, o Grupo A, inspirado em Lebret, construiu um quadro geral de sete níveis, a partir de necessidades básicas e necessidades sociais para em seguida classificar os fenômenos mais observados na prática da profissão, identificar as suas variáveis significativas e localizar suas funções profissionais a elas pertinentes. O grupo insiste na consideração “da globalidade e do inter-relacionamento das necessidades humanas”, e finaliza repetindo a necessidade de uma “visão global”.
Quanto ao estudo do segundo tema, o Grupo B, com inspiração distinta, mas também com base desenvolvimentista, construiu um quadro sinótico de fenômenos e variáveis segundo o critério das necessidades e problemas, com dimensões referidas a “níveis de vida” e “sistemas de relações”. Quanto à ação do Serviço Social, o grupo supõe três níveis de atuação: (prestação de serviços, administração de serviços sociais e planejamento dos mesmos) e, em seguida, lista o conjunto de disciplinas sociais que podem subsidiar a intervenção em cada um deles. Prosseguindo nesta preocupação, o grupo procura identificar os conhecimentos, “para”, “em” e “sobre” o Serviço Social. Por fim, diante das “situações sociais-problema”, o grupo sugere a adoção de “procedimentos lógicos”, tanto em “fases predominantemente de conhecimento” como “de ação”.
Nos dois relatórios, há um denominador comum - a “concepção cientifica da pratica do Serviço Social” que é assumida como uma intervenção sobre elementos categorizados da empírica social, ordenada a partir de variáveis de constatação imediata e direcionada para generalizar a integração na modernização como sinônimo de superação do subdesenvolvimento. Essa concepção é efetivamente reduzida ao estabelecimento de conexões superficiais entre dados empíricos da vida social e à intervenção metódica sobre eles.
Seguindo para o segundo tema – “Aplicação da metodologia do Serviço Social”, o Grupo A elabora uma sequência do procedimento metodológico de intervenção do Serviço Social que configura a própria metodologia genérica que se compõe de investigação-diagnóstico e intervenção. Já o Grupo B iniciou definindo a metodologia aplicável aos níveis de administração em Serviço Social e prestação de serviços diretos a partir do binômio diagnostico/intervenção, elaborou vários quadros cruzando este binômio com as categorias do planejamento utilizáveis no Serviço Social, construiu uma relação entre “os processos lógicos” da praticaprofissional e “processos administrativos” e conclui com a prescrição no diagnóstico: “identificar e descrever; classificar; explicar e compreender; prever tendências”; na intervenção: “preparação da ação; execução; avaliação”.
Vale ressaltar o destaque visível para o aprofundamento realizado pelo Grupo B, apesar de que ambos tratam da “aplicação metodológica do Serviço Social”, ao encaminhamento contido na “concepção cientifica da pratica” da profissão. A relação de continuidade é propriamente orgânica: da “concepção cientifica da prática”, tomada como manipulação intelectivamente ordenada, decorre a “aplicação da metodologia” como modus faciendi da ação. 
A evolução no processo de renovação do Serviço Social alcança nestas formulações o seu ponto mais alto. A reflexão desenvolvida em Teresópolis configura, no privilegio a questão da metodologia, a exclusão de vieses tendentes a problematizar a inserção do Serviço Social nas fronteiras dos complexos institucional-organizacionais que promoviam o processo da modernização conservadora. A noção de desenvolvimento permanece, mas a herança “tradicional” é irremissivelmente dissolvida no cariz operativo que se concretiza em Teresópolis, a determinação de formas instrumentais capazes de garantir uma eficácia da ação profissional apta a ser reconhecida como tal pelos complexos institucional-organizacionais. Em Araxá, coroa-se uma indicação do sentido sociotécnico do Serviço Social; em Teresópolis cristaliza-se a operacionalidade deste sentido: obtém-se a evicção de qualquer tematização conducente a colocá-lo em questão, consolida-se o seu trato como conjunto sistematizado de procedimentos prático-imediatos suscetíveis de administração tecnoburocrática.
Todos esses avanços e esforços completam e culminam o desenvolvimento da perspectiva afirmada em Araxá. Assim o debate “teórico-cientifico” ganha uma nova dimensão à medida que é conduzido para o marco do “método profissional”, assim também é reequacionado o tom do humanismo liberal-abstrato, que se esfuma na escala em que a ênfase se move dos “fins” para os “meios”. O problema (teórico e ideológico) da relação subdesenvolvimento/desenvolvimento em termos da particularidade brasileira adquire um contorno diferenciado, fato explicável na notação de Dantas: “o Serviço Social foi e continuará a ser, durante muito tempo, corretivo”, ou seja, técnicos chamados para sanar problemas.
As formulações constitutivas do Documento de Teresópolis possuem um tríplice significado no processo de renovação do Serviço Social no Brasil: apontam para a requalificação do assistente social, definem o perfil sociotécnico da profissão e a implica num técnico capaz de se mover como uma familiaridade mínima entre disciplinas acadêmicas como o Planejamento, a Estatísticas, a Política Social, a Economia, os mais diversos ramos da Sociologia etc. O padrão de requisitos instrumentais supostos determinava uma requalificação profissional, com uma ponderável modificação nos seus quadros intelectuais de referência e a inscrição do Serviço Social no mundo acadêmico.
Ao situar o profissional como um “funcionário do desenvolvimento”, o documento de Teresópolis propõe tanto uma redução quanto uma verticalização do seu saber e do seu fazer. A redução está ligada à própria condição “funcionária” do profissional onde o assistente social é investido de um estatuto básico e extensamente executivo, mas longe de atribuições terminais e sem subalternidade. A verticalização compreende a apropriação de um elenco mais operativo de técnicas de intervenção e valorização da ação prático-imediata.
O Documento de Teresópolis equivale à plena adequação do Serviço Social à ambiência própria da “modernização conservadora” conduzida pelo Estado ditatorial em benefício do grande capital e às características socioeconômicas e político-institucionais do desenvolvimento capitalista ocorrente em seus limites.
Referência Bibliográfica
NETTO, J. P. Ditadura e Serviço Social: uma análise do Serviço Social no Brasil pós-64 – 16. ed. - São Paulo: Cortez, 2011.

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