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1 Khilver Doanne Sousa Soares Clínica Cirúrgica VI Mordedura de Mamíferos Homem Os locais + comuns de mordeduras humanas são o dorso da mão e couro cabeludo – situações geralmente decorrentes de brigas. Mas também ocorre muito em pênis, escroto, vulva, mama, orelha, nariz e braço. Obs.: pelo embaraço, os pacientes geralmente não relatam se tratar de uma mordida. Animais Aqui as lesões são + lineares, não superficiais e os pacientes procuram auxílio médico muito + precocemente. A + comum é a de cão, a depender do tamanho do animal podem ser geradas lesões graves. A infecção pode levar à quadro grave e até mesmo fatal, se houver infecção com algum bacilo gram-negativo desconhecido ou em casos de pacientes imunossuprimidos ou esplenectomizados. As lesões causadas por gatos geralmente decorrem das unhadas e + raramente das mordidas em si. A lesão da unha do gato pode até mesmo provocar a “febre da arranhadura do gato”. Mordidas de ratos são mais raras mas podem transmitir o sodoku e a febre de Haverhill. Tratamento As mordidas de mamíferos devem ser cuidadosamente limpas e irrigadas generosamente com solução salina. Dependendo da extensão da lesão, proceder com desbridamento. Em casos de suspeita de fratura, solicitar radiografia. A sutura dependerá de cada caso: em casos de lesões nas mãos, pescoço, face e orelha devem ser suturadas primariamente, depois realizar limpeza e desbridamento com curativo oclusivo. Reavaliar uma semana após. Em lesões + extensas, realizar antibioticoterapia – penicilina, cefalosporinas ou tetraciclina. Se alguma extremidade foi arrancada (nariz ou orelha), tenta-se o reimplante. Em TODOS os casos deve-se fazer a profilaxia do tétano. Profilaxia para o Tétano Risco Mínimo Alto Risco ≥ 3 doses, última < 5 anos ----------- ----------- ≥ 3 doses, última 5-10 anos ----------- Vacina (se vacina > 5 anos em idosos, desnutridos ou imunossuprimidos, realizar vacina + *SAT ou IGAT) ≥ 3 doses, última > 10 anos Vacina Vacina (se vacina há > 10 anos e se não há garantia de acompanhamento: vacina + *SAT ou IGAT) < 3 doses ou tempo incerto Vacina Vacina + *SAT ou IGAT * SAT ou IGAT= soro antitetânico (SAT) ou gamaglobulina (IGAT) 2 Khilver Doanne Sousa Soares Casos em que há maior risco de infecção secundária em mordeduras: Imunossuprimidos e diabéticos; Mordeduras envolvendo mão e pé, em extremidade com comprometimento venoso e/ou linfático; Mordida de gato (por ser + profunda); Lesão por esmagamento/perfuração cortante; Apresentação tardia (> 12 hrs em extremidades e > 24 hrs no rosto). É importante lembrar que mordeduras são traumas e, portanto, devem ser tratadas com o ABCDE do trauma. Mas a dúvida de sempre, sutura ou não sutura? Depende! Em casos que envolvam estética (rosto) e não haja contaminação grave e lesões de baixo risco, realiza-se sutura. No entanto, a recomendação geral é não suturar e sim aproximar quando necessário! Quanto à antibioticoprofilaxia, realizar em feridas de alto risco (amoxicilina com clavulanato é 1º linha). Para realizar a profilaxia para raiva o primeiro passo é diferenciar os acidentes graves: os que ocorrem em cabeça, face, pescoço, mãos, lesões profundas, pele que já tenha um tipo de lesão, palma da mão, planta dos pés e qualquer ferimento por morcego. Tabela de Profilaxia para Raiva Cão/Gato NÃO suspeito Cão/Gato SUSPEITO Acidente leve Observar por 10 dias: morte / raiva / desaparecimento do animal? Realizar 5 doses de vacina (dias 0-3-7-14-28) Vacina (2 doses) e observar por 10 dias: raiva / desaparecimento do animal? Completar vacina (3 doses) Acidente grave Vacina (2 doses) e observar por 10 dias: raiva / desaparecimento do animal? Completar vacina (3 doses) + SORO Vacina (5 doses) + SORO Picadas e Mordeduras de Animais Peçonhentos Serpentes São organizadas na subordem: Ophidia, ordem Squamata e classe Reptília. Também podem ser divididas conforme capacidade inoculadora de peçonha: A. Áglifa: serpentes com dentes maciços, sem presas na maxila, sem canal central e sem sulco externo; B. Opistóglifas: possuem um par ou + de presas no maxilar, de localização posterior. A peçonha escorre através da canaleta externa do dente; C. Proteróglifa: serpentes com um par ou + de presas no maxilar de localização anterior. O veneno também escorre pela canaleta do dente; D. Solenóglifa: possuem um ou + pares de presas maxilares grandes e canaliculares, com um canal central por onde é inoculada a peçonha. O animal abocanha a presa, crava os dentes e injeta o conteúdo das glândulas de veneno sob pressão. 90% dos acidentes ofídicos no Brasil são causados por serpentes do gênero Bothrops e 10 % pelas do gênero Crotalus. 3 Khilver Doanne Sousa Soares Diferenças entre Dentição de Serpentes Fonte: https://biologiaentenderrespeitar.wordpress.com/2018/03/29/diferencas-de-denticao-de-serpentes/. Quadro Clínico Podemos observar sinais neurotóxicos, hemorrágicos, citotóxicos e anticoagulantes. Podem ocorrer vômitos biliosos, sudorese, hemorragia gengival e hematúria. O distúrbio de coagulação ocorre 30 a 60 min após a picada e pode ser o único sinal de envenenamento. Tratamento O paciente picado por serpente peçonhenta deve ser levado o + rápido possível a um local que disponha de facilidades para aplicação do antiveneno específico. É importante: tranquilizar o paciente, mantê-lo em repouso, manter o membro elevado ou estendido, lavar o local cuidadosamente com água e sabão, não administrar sedativos, anti- histamínicos ou drogas depressora do SNC, não garrotear o membro, não realizar sucção da área afetada e providenciar remoção do paciente para local que disponha de soroterapia específica. Escorpiões O veneno bruto da maioria das espécies contém neurotoxinas capazes de estimular as terminações nervosas periféricas. Quadro Clínico Dor local, as vezes acompanhadas de parestesias. As principais manifestações sistêmicas são: Gerais: hipertermia e sudorese profusa; Digestivas: náuseas, vômitos, sialorreia e as vezes, dor abdominal e diarreia; Cardiovasculares: arritmias, hiper ou hipotensão arterial, ICC e choque; Respiratórias: arritmias respiratórias, hiperpneia e edema pulmonar; Neurológicas: agitação, sonolência, confusão mental, tremores e (+ raramente) convulsões, coma, opistótono, hemiplegia e hemorragia subaracnóidea. Tratamento Consiste no alívio da dor (dipirona e, se necessário, lidocaína sem vasoconstritor). Náuseas e vômitos: metoclopramida. Nos casos moderados e graves recorrer aos soros antiescorpiônico IV. https://biologiaentenderrespeitar.wordpress.com/2018/03/29/diferencas-de-denticao-de-serpentes/ 4 Khilver Doanne Sousa Soares Aranhas Felizmente as quelíceras da maioria das espécies são fracas e incapazes de penetrar através da pele e seus venenos causam apenas sintomas mais discretos ou lesões localizadas. Os principais venenos são neurotóxicos, causando despolarização das terminações nervosas. Quadro Clínico Dor no local da picada e edema indurado e eritema em alguns casos. Após cerca de 48 horas surgem áreas hemorrágicas mescladas com áreas esbranquiçadas de isquemia (placa marmórea), que pode evoluir para necrose e ulceração. Pode surgir febre, exantema e em casos + graves o paciente pode apresentar alterações do estado mental, icterícia e hemoglobinúria. Os sintomas cardiorrespiratórios são semelhantes aos que podem ter na picada por escorpiões. Podem haver contraturas e fasciculações de grupos musculares próximos à área acometida. No geral o quadro tende a regredir após 48 horas. Tratamento A dor é tratada com infiltração local de lidocaína sem vasoconstritor. Os vômitos são tratados com metoclopramida, há indicação de corticosteroides e espasmos são tratados com benzodiazepínicos IV. A soroterapia estáindicada em pacientes com apresentações sistêmicas. ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ ____________________________________________________________ SAVASSI, Paulo Roberto Rocha. et. al. Cirurgia de Ambulatório. 3. ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2013.
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