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Hipocalemi� Aspectos Fisiológicos O potássio é o principal íon intracelular (apenas 2% encontra-se no extracelular) A maior reserva de potássio do corpo encontra-se dentro do músculo esquelético Faixa de normalidade = 3,5 a 5,5 mEq/L Os distúrbios do potássio tem efeitos deletérios sobretudo nas células excitáveis do nosso corpo (músculo esquelético, músculo liso, miocárdio e neurônios) - A alteração da concentração de potássio afeta a polaridade da célula. Regulação do potássio: ● Insulina e adrenalina (beta-2) - Estimula o influxo celular de potássio ● Aldosterona - Estimula a retenção de sódio em troca de excreção de potássio e hidrogênio no túbulo coletor ○ O aporte distal de sódio influencia a excreção de potássio - Doenças do túbulo proximal alça de Henle, diurético de alça e tiazídicos prejudicam a reabsorção de sódio proximal, aumentando o aporte de sódio ao túbulo coletor, aumentando a excreção de potássio ○ Potássio corporal também pode ser influenciado pelo equilibrio acido-basico - Hipercalemia está ligada a acidose e a hipocalemia está ligada a alcalose Introdução Definição - K<3,5 mEq/L Ocorre em 15 a 20% dos pacientes internados A etiologia geralmente é multifatorial: ● Diminuição da ingestão de potássio ● Aumento na excreção ● Influxo de íons para o meio intracelular - Insulinoterapia, aumento de catecolaminas (estresse cirúrgico) e uso abusivo de beta-2 agonistas (broncodilatadores) Manifestações Clínicas Geralmente ocorrem na hipocalemia grave aguda (K<3 mEq/L) ● Fraqueza muscular ● Fadiga ● Palpitações ● Dispneia ● Parestesia ● Cãibras musculares ● Hiporreflexia ● Constipação e distensão abdominal Manifestações da hipocalcemia crônica ● Nefropatia hipocalemica - Diabetes insipidus nefrogenico com ou sem nefropatia tubulointersticial associada Hipocalemia predispõe a alcalose metabólica Pode desencadear encefalopatia hepática em pacientes cirróticos Alterações no ECG Por ordem de gravidade, veremos as seguintes alterações: ● Onda T aplainada e aumento do intervalo QT ● Aumento da Onda U ● Onda U proeminente e maior que a onda T ● Desaparecimento da onda T e onda U proeminente ● Onda P apiculada e alta ● Alargamento do QRS (raro) ECG na hipocalemia Em casos de hipocalemia que persistem sem tratamento, pode-se encontrar: ● Bradicardia ● Bloqueio AV ● Arritmias complexas - Torsade de pointes, fibrilação ventricular, atividade elétrica sem pulso e assistolia Etiologia Perda Externa de potássio ● Baixa ingestão ou reposição de potássio ● Perdas gastrointestinais acima do piloro - Vômitos, drenagem nasogástrica e fístula gástrica (quem vomita perde potássio na urina, já que a alcalose que se instala nesses pacientes provoca a liberação de potássio na urina) ● Perdas gastrointestinais abaixo do piloro ○ Diarreias, fístula biliar, pancreática ou entérica - Esses pacientes perdem potássio, juntamente com bicarbonato pela via gastrointestinal (hipocalemia com acidose) ○ Adenoma viloso do cólon - Tumor que produz secreção rica em potássio e pobre em bicarbonato (hipocalemia com alcalose) ○ Laxativos e resina de troca iônica/Sorcal (troca cálcio por potássio) ● Alcalose metabólica - A alcalose metabólica leva a hipocalemia por 2 mecanismos ○ O H+ compete com o K+ pela secreção em troca do sódio absorvido,como na alcalose o H + está diminuído, o K+ é secretado em seu lugar. ○ O bicarbonato por não ser reabsorvido no néfron distal, leva consigo o potássio. ● Diuréticos (tiazídicos e diuréticos de alça) - Prejudicam a reabsorção de sódio proximal, aumentando o aporte de sódio ao túbulo coletor, aumentando a excreção de potássio (por isso que o hipertenso precisa restringir o sódio da dieta) ● Acetazolamida - Causa bicarbonatúria, o bicarbonato por não ser reabsorvido no néfron distal, leva consigo o potássio. ● Poliúria (diuréticos, DM e manitol) - O aumento do fluxo de água pelo néfron distal cria um gradiente favorável para a excreção desse íon ● Cetoacidose diabética - O beta-hidroxibutirato funciona como um ânion não reabsorvido no néfron distal, levando o potássio consigo ● Hipomagnesemia - O magnésio atua modulando os canais de vazamento do potássio no túbulo coletor, portanto, a depleção de potássio provoca aumento na perda de potássio na urina ● Anfotericina B - Aumenta a permeabilidade do túbulo coletor ao potássio ● Aminoglicosídeos - Provoca tubulopatia proximal ● Penicilina - As penicilinas funcionam como ânions, carregando o potássio para a urina ● Cola de sapateiro (tolueno) - Provoca a produção de um metabólito chamado hipurato, o qual funciona como um ânion não reabsorvido, carregando o potássio. ● Hiperaldosteronismo primário (tumor ou hiperplasia adrenal) - Tríade clássica (hipertensão, hipocalemia e alcalose metabólica) ● Hiperaldosteronismo hiper-rininemico - Hipertensão renovascular, hipovolemia, anticoncepcionais, síndrome paraneoplásica (carcinoma de células renais, tumor de Wilms e CA de ovário) ● Hipercortisolismo - O cortisol em níveis supra fisiológicos tem efeito mineralocorticoide semelhante a aldosterona ● Acidoses tubulares renais ● Síndromes genéticas ○ Síndrome de Bartter - Defeito no carreador Na-K-2Cl da porçao espessa ascendente da alça de henle (é como se o paciente estivesse intoxicado por furosemida) ○ Síndrome de Gitelman - Defeito no carreador NaCl no túbulo contorcido distal (o mesmo carreador inibido pelos tiazídicos) ○ Síndrome de Liddle - Hiperfunção do túbulo coletor cortical (pseudo-hiperaldosteronismo) ● Diálise Entrada de potássio nas células ● Insulina - Estimula a Na-K-ATPase, gerando grande influxo de potassio para dentro da celula ● Pico de adrenalina (estados de choque, IAM, cirurgias) - Provoca estimulação de receptores beta-2 no músculo ● Beta-2-agonistas (broncodilatadores) - Asma e DPOC ● Alcalemia - Na alcalemia, o H+ sai da célula (tamponamento), e o K+ entra para restabelecer o equilíbrio eletroquímico ● Hipotermia ● Tratamento da anemia megaloblástica - A resposta rápida ao tratamento com intensa produção de novas hemácias consome o potássio extracelular, já que o potássio irá compor essas novas células (é o principal íon intracelular) ● Paralisia periódica hipocalêmica - Doença hereditária autossômica dominante rara que provoca episódios agudos de paralisia devido ao influxo celular de potássio, sendo desencadeado por picos de insulina (ingestão de carboidratos) ou adrenalina (estresse) ● Hipertireoidismo - Provoca upregulation dos receptores beta-adrenérgicos ● Intoxicação por bário - O bário inibe os canais de vazamento de K+ (O potássio fica preso dentro da célula) Pseudo-hipocalemia ● Leucemia mieloide aguda - Os mielócitos consomem o potássio quando o sangue coletado é deixado por certo tempo em temperatura ambiente (nesses casos deve-se colocar o tubo de coleta no gelo ou separar as células do plasma por centrifugação) Diagnóstico Algumas das causas de hipocalemia são facilmente identificadas, mas quando há dúvida, podemos utilizar alguns exames. Potássio urinário - Útil para diferenciar se a perda de potássio está ou não no rim ● Potássio urinário baixo (< 20 mEq/L ou 20 mEq/24h) - Perda de potássio é extrarrenal ○ Perda digestiva pós-pilórica ○ Diálise ○ perdas cutâneas ○ Baixa ingestão ● Potássio urinário alto (>30 mEq/L ou 30 mEq/24h) - Perda de potássio é renal ○ Perda digestiva pré-pilórica ○ Diuréticos ○ Poliúria (o potássio urinário pode estar falsamente baixo devido a diluição da urina, nesse caso deve medir o potássio de 24 horas) ○ Hipomagnesemia ○ Aminoglicosídeos e anfotericina B ○ Hiperaldosteronismo e hipercortisolismo Cloreto urinário - Útil para diferenciar a perda renal primária da perda digestiva pré-pilórica ● Cloreto baixo (<15 mEq/L) - Perda digestiva pré-pilórica ● Cloreto alto (> 25 mEq/L) - Perda renal primária ○ Diuréticos ○ Poliúria ○ Hipomagnesemia ○ Aminoglicosídeos e anfotericina B ○ Hiperaldosteronismo e hipercortisolismo Tratamento Sal de escolha - cloreto de potássio (KCl), exceto em algumas situações específicas podemos usar outrossais: ● Hipofosfatemia asociada - Fosfato ácido de potássio (K2H2PO4) ● Acidoses com ânion-gap normal - Bicarbonato ou citrato de potássio Via de administração - Via oral, exceto em algumas circunstâncias que se usa via venosa: ● Intolerância gastrointestinal ● Perda gastrointestinal importante - Diarréia, fístulas e vômitos ● Hipocalemia grave Limitações da administração IV ● Não ultrapassar 40 mEq/h (idealmente não ultrapassar 20 mEq/h) - Pode caisar arritmias ● Não repor em soro glicosado - A liberação de insulina pode espoliar ainda mais o potássio do paciente ● Concentrações altas de potássio na solução pode ser irritativa para os vasos - Não passar de 20-40 mEq/L na infusão em veias periféricas e 60 mEq/L em veia profunda (novos estudos estão contradizendo essa recomendação) Dose - No geral é calculada de forma empírica com base na calemia inicial do paciente ● Hipocalemia leve/moderada (3 a 3,5 mEq/L) - 40 a 80 mEq/dia VO ● Hipocalemia grave (<3 mEq/L) - 10 a 20 mEq/h IV até o potássio chegar a 3 mEq/L, após isso faz o tratamento oral. ● OBS: ○ Em casos com manifestações muito graves (Ex: fraqueza diafragmática evoluindo com insuficiência respiratória) o potássio pode ser reposto em velocidade máxima (40 mEq/h) em acesso profundo e monitoração cardíaca contínua ○ Paciente em dieta zero deve-se adicionar as necessidades diárias de potássio à reposição (40-100 mEq/dia) Reposição de sulfato de magnésio ● Dose - 2 a 3 g/dia ● É usada quando se suspeita de hipomagnesemia associada - Quando o paciente não melhora, mesmo após 72 horas de reposição Diuréticos poupadores de potássio (amilorida e espironolactona) - Útil nos casos em que há um componente de perda renal de potássio Referência Medcurso 2022 - Nefrologia - Volume 3
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