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Hipercalemi� Aspectos Fisiológicos O potássio é o principal íon intracelular (apenas 2% encontra-se no extracelular) A maior reserva de potássio do corpo encontra-se dentro do músculo esquelético Faixa de normalidade = 3,5 a 5,5 mEq/L Os distúrbios do potássio tem efeitos deletérios sobretudo nas células excitáveis do nosso corpo (músculo esquelético, músculo liso, miocárdio e neurônios) - A alteração da concentração de potássio afeta a polaridade da célula. Regulação do potássio: ● Insulina e adrenalina (beta-2) - Estimula o influxo celular de potássio ● Aldosterona - Estimula a retenção de sódio em troca de excreção de potássio e hidrogênio no túbulo coletor ○ O aporte distal de sódio influencia a excreção de potássio - Doenças do túbulo proximal alça de Henle, diurético de alça e tiazídicos prejudicam a reabsorção de sódio proximal, aumentando o aporte de sódio ao túbulo coletor, aumentando a excreção de potássio ○ Potássio corporal também pode ser influenciado pelo equilibrio acido-basico - Hipercalemia está ligada a acidose e a hipocalemia está ligada a alcalose Introdução Definição - K+ > 5,5 mEq/L É menos comum que a hipocalemia, mas costuma ser mais grave A insuficiência renal aguda constitui a principal causa de hipercalemia - Na insuficiência renal crônica o organismo se adapta, promovendo maior eliminação renal (hipertrofia dos néfrons remanescentes) e fecal de potássio (ação da aldosterona na mucosa colônica). Manifestações Clínicas São frequentemente assintomáticas, sendo que as manifestações tendem a ocorrer com alterações agudas e proeminentes (principalmente a partir de 6,5 mEq/L) Assim como na hipocalemia, os sítios afetados incluem os tecidos excitáveis do nosso corpo (musculoesquelético e miocárdio) Alterações no ECG Por ordem de gravidade, veremos as seguintes alterações: ● Redução do intervalo QT e onda T alta e apiculada ● Achatamento da onda P ● Alargamento do QRS ● Desaparecimento da onda P ECG na hipercalemia Ademais, a hipercalemia aumenta a predisposiçao para algumas arritmias: ● Fibrilação ventricular ● Bradiarritmias e bloqueios ● Assistolia Etiologia Retenção de potássio ● Administração de potássio em excesso ● Insuficiência renal aguda (IRA) - Necrose tubular aguda isquêmica e septica, rabdomiólise, síndrome da lise tumoral e glomerulonefrite rapidamente progressiva ● IRA pré-renal ● Insuficiência renal crônica - O paciente só evolui com hipercalemia se receberem carga aguda de potássio ou quando o clearance de creatinina cai abaixo de 10 mL/min ● Acidose metabólica ● Insuficiência suprarrenal primária (doença de Addison, aids, tuberculose e sepse) - Na insuficiência adrenal secundária não ocorre hipercalemia por que o ACTH influencia apenas a secreção de cortisol ● Hipoaldosteronismo hiporreninêmico (nefropatia diabética e outras nefropatias tubulointersticiais) - Leva a um quadro de acidose tubular do tipo IV (secreção de K+ e H+ fica prejudicada) ● Pseudo-hipoaldosteronismo - Nesse caso ocorre resistência do túbulo coletor a ação da aldosterona, evoluindo da mesma forma que o hipoaldosteronismo hiporreninêmico, exceto pelo fato de a aldosterona estar aumentada. ● Drogas retentoras de potássio - Principais (espironolactona, amilorida e triantereno) e outras (IECA, BRA, heparina e AINEs) ● Síndrome de Gordon (muito rara) - Causada pela hiperativação do transportador de NaCl do néfron distal, gerando reabsorção anormal de Cl-, juntamente com Na+. A menor quantidade de ânions no lúmen, diminui a secreção de H+ e K+, provocando hipercalemia, acidose metabólica e expansão volêmica. Saída de potássio das células ● Hiperosmolaridade (hipernatremia e hiperglicemia grave) - A hiperosmolaridade estimula a saída de água da célula, gerando aumento na concentração de potássio no intracelular, gerando uma tendência a sair da célula ● Exercício físico extenuante ● Acidose metabólica ● Rabdomiolise - Politrauma, queimadura, intoxicação por cocaína, tetano, estado de mal epileptico, hipofosfatemia grave. ● Hemólise maciça - Incompatibilidade ABO ● Drogas - Digitálicos, betabloqueadores, succinilcolina e penicilina potássica ● Paralisia periódica hipercalemica - Doença hereditária autossômica dominante rara que provoca episódios agudos de fraqueza muscular precipitada pelo repouso e pela ingestão de potássio (mesmo em pequenas quantidades) Pseudo-hipercalemia ● Hemólise durante a venopunção - Hemácias ao passarem pela agulha em grande velocidade se rompem ● Efluxo de potássio dos músculos do antebraço - Abrir e fechar a mão ou torniquete muito apertado por um longo período de tempo ● Coagulação do sangue - Libera potássio das plaquetas e dos leucócitos Diagnóstico Hipercalemia sem etiologia aparente que não se repete em outras medidas - Provavelmente é uma pseudo-hipercalemia (o aspecto róseo do plasma fornece uma pista) Nos casos em que a dosagem se mantém alta em pelo menos 2 medidas, devemos realizar investigação etiológica: ● A história clínica e dados laboratoriais iniciais geralmente apontam para as causas mais comuns de hipercalemia ● Caso a história clínica não seja esclarecedora, devemos pesquisar as causas menos comuns de hipercalemia ○ Hipoaldosteronismo hiporreninêmico - Gradiente transtubular de potássio (GTTK) < 8 Tratamento Gluconato de cálcio - Primeira conduta na hipercalemia grave sintomática ● Dose - 1 ampola a 10% infundido em 2-3 min, podendo-se repetir em 5-10 minutos ● Não altera os níveis de potássio, mas protege o miocárdio das repercussões eletrocardiográficas ● Contraindicação - Intoxicação digitálica (para fazer o gluconato de cálcio nesses pacientes, eles nao podem apresentar sinais de cardiotoxicidade e o gluconato de cálcio deve ser infundido mais lentamente) Glicoinsulinoterapia - Principal forma de baixar a glicemia de forma rápida (casos de hipercalemia >7,5 mEq/L) ● Dose - Insulina regular 10 UI + glicose 50% 100 ml (ou SG 10% 500 ml) IV em 20-60 min ● Não é necessário administrar glicose para o paciente que está hiperglicêmico Outras medidas para baixar a calemia - Usadas concomitantemente a glicoinsulinoterapia ● Bicarbonato de sódio IV - É a droga de escolha na PCR por hipercalemia ● Nebulização com beta-2-agonista Terapia de manutenção ● Diuréticos de alça (furosemida) - Para pacientes que estão urinando ● Tratar hipoaldosteronismo - Reposição de mineralocorticóides (fludrocortisona e hidrocortisona) ● Resina de troca/Sorcal (medicamento VO que troca cálcio por potássio no TGI) - Para pacientes oligúricos Diálise - É indicada nos casos em que: ● Paciente não está urinando (oligúria ou anúria) ● hipercalemia grave e refratária Referência Medcurso 2022 - Nefrologia - Volume 3
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