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CYAN VS Gráfica VS Gráfica MAG VS Gráfica YEL VS Gráfica BLACK \\Lislucas\D\Producao\Grupo A\42008_Farmacologia_Ilustrada\Abertos\42995_Farmacologia_Ilustrada.cdr quarta-feira, 28 de novembro de 2012 11:22:56 Perfil de cores: OFFSET - CALIBRADO Composição 175 lpi a 45 graus Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052 F233 Farmacologia ilustrada / Michelle A. Clark ... [et al.] ; tradução e revisão técnica: Augusto Langeloh. – 5.ed. – Porto Alegre : Artmed, 2013. x, 612 p. : il. color. ; 28 cm. ISBN 978-85-65852-65-4 1. Farmacologia ilustrada. I. Clark, Michelle A. CDU 615-028.22 Nota A medicina é uma ciência em constante evolução. À medida que novas pesquisas e a experiência clínica ampliam o nosso conhe cimento, são necessárias modificações no tratamento e na farmacoterapia. Os organizadores desta obra consultaram as fontes conside radas confiáveis, em um esforço para oferecer informações completas e, geral- mente, de acordo com os padrões aceitos à época da publicação. Entretanto, tendo em vista a possibilidade de falha humana ou de alterações nas ciências médicas, os leitores devem confirmar estas informações com outras fontes. Por exemplo, e em particular, os leitores são aconselhados a conferir a bula de qualquer medicamento que preten- dam administrar, para se certificar de que a informação contida neste livro está correta e de que não houve alteração na dose recomendada nem nas contraindicações para o seu uso. Esta recomendação é particularmente importante em relação a medicamentos novos ou raramente usados. Clark-5ed_Iniciais.indd iiClark-5ed_Iniciais.indd ii 31/10/12 15:1731/10/12 15:17 Interações Fármaco-receptor e Farmacodinâmica 2 I. RESUMO A farmacodinâmica descreve as ações dos fármacos no organismo e as in- fluências das suas concentrações na magnitude das respostas. A maioria dos fármacos exerce seus efeitos, desejados ou indesejados, interagindo com receptores (isto é, macromoléculas-alvo especializadas) presentes na super- fície ou dentro da célula. O complexo fármaco-receptor (FR) inicia alterações na atividade bioquímica e/ou molecular da célula por meio de um processo denominado transdução de sinal (Figura 2.1). II. TRANSDUÇÃO DE SINAL Os fármacos atuam como sinais, e seus receptores atuam como detectores de sinais. Vários receptores sinalizam o reconhecimento de um ligante inician- do uma série de reações que no final resultam em uma resposta intracelular específica. (Nota: o termo “ligante” se refere a uma molécula pequena que se fixa a um local em uma proteína receptora. O ligante pode ser uma molécula de ocorrência natural ou um fármaco.) Moléculas “segundas mensageiras” (também denominadas moléculas efetoras) são parte da cascata de eventos que traduz a ligação da substância em uma resposta celular. A. O complexo fármaco-receptor As células têm diferentes tipos de receptores, cada qual específico para um ligante particular e produzindo uma resposta única. O coração, por exemplo, tem receptores de membrana que ligam e respondem à epinefri- na ou norepinefrina, bem como receptores muscarínicos específicos para acetilcolina. Esses receptores interagem de modo dinâmico para controlar funções vitais do coração. A intensidade da resposta é proporcional ao número de complexos FR: Fármaco + Receptor Complexo fármaco-receptor Efeito biológico 2 Os receptores não ocupados não influenciam os processos intracelulares. Os receptores ocupados alteram as propriedades físicas e químicas que levam à interação com moléculas celulares, causando resposta biológica. Resposta biológica 1 Receptor Fármaco Receptor Receptor ativado Transdução de sinal Figura 2.1 O reconhecimento de um fármaco pelo receptor inicia a resposta biológica. Clark-5ed_02.indd 25Clark-5ed_02.indd 25 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 26 Clark, Finkel, Rey & Whalen Esse conceito está estreitamente relacionado com a formação de comple- xos entre enzimas e substratos ou antígenos e anticorpos. Essas interações têm vários aspectos comuns, provavelmente a mais notável seja a especifi- cidade do receptor por um determinado ligante. Contudo, o receptor não só tem a habilidade de reconhecer o ligante, mas também acopla ou transduz essa ligação em uma resposta causando uma alteração conformacional ou um efeito bioquímico. A maioria dos receptores é denominada para indicar o tipo de fármaco que melhor interage com ele. Por e xemplo, o receptor da histamina é denominado receptor histamínico. Embora muito deste capítulo esteja focado na interação dos fármacos com os receptores específicos, é importante estar ciente de que nem todos os fármacos exercem seus efei- tos interagindo com um receptor. Os antiácidos, por exemplo, neutralizam quimicamente o excesso de ácido gástrico, reduzindo os sintomas de azia. B. Estados receptores Classicamente se pensava que a fixação de um ligante modificava os re- ceptores de um estado inativo (R) para um ativado (R*). O receptor ativado então interagia com moléculas efetoras intermediárias provocando o efeito biológico. Este modelo é um esquema simples e intuitivo e é usado nas ilustrações deste capítulo. Informações mais recentes sugerem que os re- ceptores existem em dois estados, no mínimo, o inativo (R) e o ativo (R*) que estão em equilíbrio reversível entre si. Na ausência do agonista, o R* representa tipicamente uma pequena fração do total da população de recep- tores (ou seja, o equilíbrio favorece o estado inativo). Fármacos que ocupam o receptor podem estabilizar o receptor num certo estado conformacional. Alguns fármacos podem causar deslocamentos similares no equilíbrio entre R e R* como um ligante endógeno. Por exemplo, fármacos que atuam como agonistas se ligam ao estado ativo dos receptores e, assim, rapidamente deslocam o equilíbrio de R para R*. Outros fármacos podem induzir altera- ções que podem ser diferentes dos ligantes endógenos. Essas alterações tornam os receptores menos funcionais ou não funcionais. Íons Alterações no potencial de membrana ou concentração iônica no interior da célula Fosforilação de proteínas Proteínas e alteração da expressão gênica EFEITOS INTRACELULARES Fosforilação de proteínas e do receptor R R-PO4 Canais iônicos disparados por ligantes Receptores intracelulares Receptores acoplados à proteína G Receptores ligados a enzimas Receptores colinérgicos nicotínicos Exemplo: Exemplo: Receptores de insulina Exemplo: Receptores esteroidesAdrenorreceptores � e � Exemplo: A B C D � � � Figura 2.2 Mecanismos de sinalização transmembrana. A. O ligante se une a domínios extracelulares do canal estimulado por ligan- te. B. O ligante se une a um domínio no receptor transmembrana, que está acoplado à proteína G. C. O ligante se une ao domínio extracelular de um receptor que ativa uma enzima quinase. D. O ligante lipossolúvel difunde-se através da membrana para interagir com seu receptor intracelular. R = proteína inativa. Clark-5ed_02.indd 26Clark-5ed_02.indd 26 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 27 C. Principais famílias de receptores A farmacologia define o receptor como qualquer molécula biológica à qual um fármaco se fixa e produz uma resposta mensurável. Assim, enzimas, ácidos nucleicos e p roteínas estruturais podem ser consideradas recep- tores farmacológicos. Contudo, a fonte mais rica e terapeuticamente ex- plorável de receptores farmacológicos são as proteínas responsáveis pela transdução dos sinais extracelulares em respostas intracelulares. Esses receptores podem ser divididos em quatro famílias: 1) canais iônicos dis- parados por ligantes; 2) receptores acoplados à proteína G; 3) receptores ligados a enzimas; e 4) receptores intracelulares (Figura 2.2). O tipo de receptor com o qual o ligante vai interagir depende da natureza química do ligante. Ligantes hidrofóbicos interagem com receptores que se situam na superfície da célula (Figuras 2.2A, B, C). Porém,eles podem entrar nas células através da camada bimolecular de lipídeos da membrana celular para interagir com receptores situados dentro das células (Figura 2.2D). 1. Canais iônicos transmembrana disparados por ligantes. A primei- ra família de receptores compreende os canais iônicos acionados por ligantes, os quais são responsáveis pela regulação do fluxo de íons através das membranas celulares (ver Figura 2.2A). A atividade des- ses canais é regulada pela ligação de um ligante ao canal. A resposta a esses receptores é muito rápida, durando poucos milissegundos. Esses receptores intermediam diversas funções, incluindo neuro- transmissão, condução cardíaca e contração muscular. Por exemplo, a estimulação do receptor nicotínico pela acetilcolina resulta em um influxo de sódio, na geração de um potencial de ação e na contração do músculo esquelético. As benzodiazepinas aumentam a estimulação do receptor ácido �-aminobutírico (GABA) pelo GABA, resultando no aumento do influxo de cloretos e na hiperpolarização da respectiva célula. Embora não disparados por ligantes, canais iônicos, como os canais de sódio disparados por voltagem, são importantes receptores para diversas classes de fármacos, incluindo os anestésicos locais. 2. Receptores transmembrana acoplados à proteína G. A segunda família de receptores consiste nos receptores acoplados à proteína G. Esses receptores são constituídos de um peptídeo �-helicoidal que tem sete regiões que se estendem através da membrana. Em geral, o domínio extracelular deste receptor contém a área de fixação do lin- gante (poucos ligantes interagem com o domínio transmembrana do receptor). No lado intracelular, esses receptores são ligados à proteína G (Gs, Gi e outras), a qual tem três subunidades: uma subunidade � que liga trifosfato de guanosina (GTP) e uma subunidade �� (Figura 2.3). A fixação do ligante apropriado à região extracelular do receptor ativa a proteína G de forma que o GTP substitui o difosfato de guano- sina (GDP) na subunidade �. Ocorre a dissociação da proteína G, e ambas as subunidades �-GTP e a subunidade �� subsequentemente interagem com outros efetores celulares, em geral uma enzima, uma proteína ou um canal iônico. Esses efetores, então, ativam os segun- dos mensageiros, que são responsáveis por ações adicionais no inte- rior da célula. A estimulação desses receptores resulta em respostas que duram desde vários segundos até minutos. Os receptores aco- plados à proteína G são o tipo de receptores mais abundante, e sua ativação é responsável pela ação da maioria dos agentes terapêuticos. Processos mediados por receptores acoplados à proteína G importan- tes incluem a neurotransmissão, a olfação e a visão. a. Segundos mensageiros. Esses mensageiros são essenciais na condução e amplificação dos sinais oriundos de receptores acoplados à proteína G. Uma via comum ativada pela Gs e por Hormônio ou neurotransmissor Adenilil- ciclase inativa Proteína Gs unida ao GDP GTP GDP Adenilil- ciclase ativa ATP AMPc � PPi Adenilil- ciclase inativa Citosol Espaço extra- celular O receptor não ocupado não interage com a proteína Gs. O receptor ocupado altera a forma e interage com a proteína Gs. A proteína Gs libera GDP e liga GTP. Quando o hormônio não está mais presente, o receptor reverte a seu estado de repouso. O GTP na subunidade � é hidrolisado a GDP, e a adenililciclase é desativada. Adenilil- ciclase inativa Pi GDP GDP Membrana celular 1 2 3 4 Receptor GTP GTP � � � � � � Gs dissocia e ativa a adenililciclase. � � � � � � � Figura 2.3 O reconhecimento do sinal químico pela proteína G acoplada ao receptor de membrana inicia um aumento (ou, me- nos frequente, uma diminuição) da ativi- dade da adenililciclase. PPi = pirofosfato inorgânico; Pi = fosfato inorgânico. Clark-5ed_02.indd 27Clark-5ed_02.indd 27 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 28 Clark, Finkel, Rey & Whalen outros tipos de proteínas G é a ativação da adenililciclase pelas subunidades �-GTP, a qual resulta na produção de monofosfato de adenosina cíclico (AMPC) – um segundo mensageiro que re- gula a fosforilação de proteínas. As proteínas G também ativam a fosfolipase C, que é responsável pela geração de dois outros segundos mensageiros, o trifosfato-1,4,5 de inositol (IP3) e o dia- cilglicerol (DAG). O IP3 é responsável pela regulação das concen- trações de cálcio intracelular livre, bem como de outras proteínas. O DAG ativa várias enzimas, como a proteína quinase (PKC), no interior da célula, levando a uma miríade de efeitos fisiológicos. 3. Receptores ligados a enzimas. A terceira principal família de recep- tores consiste em uma proteína que atravessa a membrana uma vez única e pode formar vários dímeros ou complexos de subunidades. Es- tes receptores também têm atividade enzimática citosólica como um componente integral da sua estrutura e função (Figura 2.4). A união de um ligante a um domínio extracelular ativa ou inibe a atividade dessa enzima citosólica. A duração de resposta à estimulação desses recep- tores é da ordem de minutos até horas. Metabolismo, crescimento e diferenciação são funções biológicas importantes controladas por este tipo de receptores. Os receptores ligados a enzimas mais comuns (fa- tor de crescimento epidermal, fator de crescimento derivado de pla- quetas, peptídeo natriurético atrial, insulina e outros) são os que têm atividade tirosina quinase como parte da sua estrutura. Tipicamente, após a ligação do ligante à subunidade receptora, o receptor sofre al- teração conformacional, passando da sua forma quinase inativa para a ativa. O receptor ativado se autofosforila e fosforila os resíduos de tiro- sina em proteínas específicas. A introdução de um grupo fosfato pode modificar de modo substancial a estrutura tridimensional da proteína- -alvo, atuando, assim, como um interruptor molecular. Por exemplo, quando o hormônio peptídico insulina se liga às duas subunidades re- ceptoras, a sua atividade tirosina quinase intrínseca causa autofosfo- rilação do próprio receptor. Por sua vez, o receptor fosforilado fosforila moléculas-alvo – peptídeos substratos de receptor de insulina – que subsequentemente ativam outros sinais celulares importantes, como o IP3 e a proteína-quinase, ativada por mitogênese (MAP). Essa cascata de ativações resulta na multiplicação do sinal inicial, muito semelhante ao que ocorre com os receptores acoplados à proteína G. 4. Receptores intracelulares. A quarta família de receptores difere consideravelmente das outras três, pois o receptor é totalmente in- tracelular e, portanto, o ligante precisa difundir-se para o interior da célula para interagir com ele (Figura 2.5). Isso causa exigências nas propriedades físico-químicas do ligante, que precisa ser lipossolúvel de modo suficiente para mover-se através da membrana celular. De- vido à sua lipossolubilidade, estes ligantes são transportados pelo organismo ligados em proteínas plasmáticas, como a albumina. Os alvos primários destes complexos receptor-ligantes são os fatores de transcrição. A ativação ou inativação destes fatores causa a transcri- ção do DNA em RNA e a translação do RNA em uma série de proteí- nas. Por exemplo, os hormônios esteroides exercem suas ações em células-alvo por meio desse mecanismo receptor. A união do ligante com seu receptor segue o padrão geral, no qual o receptor se ativa devido à dissociação de uma variedade de proteínas. O complexo ligante-receptor ativado migra ou se transloca ao núcleo, onde se une a sequências específicas do DNA, resultando na regulação da ex- pressão gênica. A evolução temporal da ativação e da resposta des- ses receptores é muito mais longa do que os mecanismos descritos. Devido à modificação da expressão gênica – e, por isso, da síntese proteica –, as respostas celulares só são observadas após um tempo S S S S S S Insulina � � � � Tirosina Tirosina P Receptor da Insulina (Inativo) Efeitos biológicos da insulinaS S S SRI-tir S S Sα α β β —Tirosina —Tirosina P Ativação de múltiplas vias sinalizadoras A tirosina quinase do receptor fosforila outras proteínas, por exemplo, substratos do receptor de insulina (SRI). Os SRI fosforilados promovem a ativação de outras proteínas quinases e fosfatases, levando às ações biológicas da insulina. 4 Resíduos de tirosina da subunidade � são autofosforilados. 2 3 A ligação da insulina estimula a ativi- dade tirosina quinase do receptor no domínio intracelular da subunidade � do receptor de insulina. 1 Receptor da Insulina (Ativo) � � � � P SRI-tir-P— Figura 2.4 Receptor da insulina. Clark-5ed_02.indd 28Clark-5ed_02.indd 28 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 32 Clark, Finkel, Rey & Whalen do fármaco ao seu receptor inicia eventos que, no final, levam à resposta biológica mensurável. Assim, não é surpresa que as curvas mostradas na Figura 2.9 e aquelas que representam a relação entre dose e efeito (vistas na Figura 2.7) sejam similares. C. Relações da ligação do fármaco com o efeito farmacológico O modelo matemático que descreve a concentração do fármaco e a ligação ao receptor pode ser aplicado à dose (concentração do fármaco) e à res- posta (ou efeito), desde que as seguintes premissas sejam atendidas: 1) o tamanho da resposta é proporcional à quantidade de receptores ligados ou ocupados; 2) o Emáx ocorre quando todos os receptores estão ocupados; e 3) a ligação do fármaco ao receptor não exibe cooperatividade. Nesse caso, (2) em que [E] = o efeito do fármaco na concentração [D] e [Emáx] = o efeito máximo do fármaco. IV. AGONISTAS Um agonista se liga ao receptor e produz uma resposta biológica. Um ago- nista pode mimetizar a resposta do ligante endógeno no receptor ou pode provocar uma resposta diferente deste receptor e seu mecanismo. A. Agonistas totais Se um fármaco se liga a um receptor e produz a resposta biológica máxi- ma que mimetiza a resposta do ligante endógeno, ele é denominado ago- nista total (Figura 2.10). Os receptores existem nos estados conformacio- nais ativo e inativo que estão em equilíbrio reversível entre si. Os fármacos que ocupam o receptor podem estabilizá-lo em um determinado estado conformacional. Assim, outra definição de agonista é um fármaco que se liga ao receptor estabilizando-o no seu estado conformacional ativo. Por exemplo, a fenilefrina é um agonista nos adrenoceptores �1 porque provo- ca efeitos que se assemelham à ação do ligante endógeno norepinefrina. Após ligar-se ao adrenoceptor �1 na membrana do músculo liso vascular, a fenilefrina estabiliza o receptor em seu estado ativo. Isso mobiliza Ca2+ intracelular, causando interação dos filamentos de actina e miosina. O en- curtamento das células musculares diminui o diâmetro das arteríolas, cau- sando um aumento na resistência ao fluxo sanguíneo, através dos vasos. A pressão arterial aumenta para manter esse fluxo. Como esta descrição breve ilustra, um agonista pode ter vários efeitos que podem ser medidos, incluindo ações em moléculas intracelulares, em células, em tecidos e no organismo inteiro. Todas essas ações são atribuídas à interação da mo- lécula do fármaco com a molécula receptora. Em geral, um agonista total tem elevada afinidade pelo seu receptor e boa eficácia. B. Agonistas parciais Os agonistas parciais têm eficácia (atividade intrínseca) maior do que zero, mas menor do que a de um agonista total (Figura 2.10). Mesmo que todos os receptores sejam ocupados, os agonistas parciais não conse- guem produzir um Emáx da mesma amplitude de um agonista total. Entre- tanto, o agonista parcial pode ter uma afinidade que é maior, menor ou equivalente à do agonista total. A característica singular desses fármacos 25 50 75 Agonista parcial O agonista total provoca a ativação total do receptor nas concentrações elevadas do fármaco. A ligação do agonista parcial resulta na ativação de menos de 100%, mesmo em concen- trações muito elevadas. O agonista inverso provoca uma resposta aquém da linha de base mensurada na ausência de fármaco. Neste exemplo, cerca de 12% dos receptores têm atividade constitutiva na ausência do agonista. Agonista total A ti vi d ad e d o r ec ep to r Agonista inverso Log da concentração do fármaco 100 0 Figura 2.10 Efeitos dos agonistas total, parcial e in- verso na atividade do receptor. Clark-5ed_02.indd 32Clark-5ed_02.indd 32 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Farmacologia Ilustrada 33 é que, sob condições apropriadas, o agonista parcial pode atuar como um antagonista de um agonista total. Considere o que ocorreria com o Emáx de receptor saturado com um agonista na presença de concentra- ções crescentes de agonista parcial (Figura 2.11). À medida que o núme- ro de receptores ocupados pelo agonista parcial aumenta, o Emáx diminui até alcançar o Emáx do agonista parcial. Esse potencial dos agonistas par- ciais de atuar de modo agonístico ou antagonístico pode ser explorado de forma terapêutica. Por exemplo, aripiprazol, um fármaco neuroléptico atípico, é um agonista parcial em certos receptores de dopamina. As vias dopaminérgicas que estiverem superativas tendem a ser inibidas pelo agonista parcial, ao passo que as vias que estiverem subativas podem ser estimuladas. Isso explica a habilidade do aripiprazol de reduzir vários sintomas da esquizofrenia, com riscos mínimos de causar efeitos adver- sos extrapiramidais (ver p. 152-157). C. Agonistas inversos Tipicamente os receptores livres são inativos e precisam da interação com um agonista para assumir uma conformação ativa. Entretanto, al- guns receptores revelam uma conversão espontânea de R para R* na ausência de agonistas (isto é, eles podem ser ativos sem a presença de um agonista). Esses receptores, mostram uma atividade constitutiva que é parte da resposta basal mensurada na ausência de fármaco. Os ago- nistas inversos, diferentemente dos agonistas totais, estabilizam a forma R inativa. Todos os receptores constitutivamente ativos são forçados ao estado inativo pelo agonista inverso. Isto diminui o número de receptores ativados para menos do que observado na ausência do fármaco (ver Fi- gura 2.10). Assim, os agonistas inversos revertem a atividade constitutiva dos receptores e exercem um efeito farmacológico oposto aos agonistas. V. ANTAGONISTAS Antagonistas são fármacos que diminuem ou se opõem à ação de outro fár- maco ou ligante endógeno. Um antagonista não tem efeito na ausência de um agonista. O antagonismo pode ocorrer de vários modos. Muitos antagonistas atuam na mesma macromolécula receptora que o agonista. Entretanto, os an- tagonistas não têm atividade intrínseca e, por isso, não provocam efeitos por si próprios. Ainda que os antagonistas não tenham atividade intrínseca, eles são capazes de se fixar avidamente aos receptores-alvo, porque possuem forte afinidade. A. Antagonistas competitivos Se ambos, antagonista e agonista, se ligam ao mesmo local receptor, eles são denominados “competitivos”. O antagonista competitivo impede que um agonista se ligue ao seu receptor e mantém este receptor no estado conformacional inativo. Por exemplo, o anti-hipertensivo terazosi- na compete com o ligante endógeno norepinefrina nos adrenoceptores �1, diminuindo, assim, o tônus do músculo liso vascular e reduzindo a pressão arterial. Lançando o efeito do antagonista competitivo em gráfi- co, tem-se um deslocamento característico para a direita, da curva dose- -resposta do agonista (Figura 2.12). B. Antagonistas irreversíveis Um antagonista irreversível causa uma redução do efeito máximo sem deslocamento da curva no eixo das doses, a menos que existam, presen- tes, receptores de reserva. O efeito do antagonista competitivo pode ser superado com adição de mais agonista. Ao contrário, o efeito dos antago- 0 �10 �8 �6 1,0 0,5 P ro p o rç ão d a re sp o st a m áx im a Log (agonista parcial) Resposta produzida pelo agonista total Resposta produzida pelo agonistaparcial Resposta total Legenda: Agonista total Agonista parcial Receptor completamente ativo Receptor parcialmente ativo Níveis elevados de agonista podem ativar todos os receptores e provocar estimulação excessiva indesejada. A presença de agonista parcial desloca algumas moléculas de agonista, resultando numa redução na resposta do receptor. Em concentração elevada de agonista parcial, o agonista está completa- mente deslocado e a atividade do receptor é determinada pela atividade intrínseca do agonista parcial. Figura 2.11 Efeitos dos agonistas parciais. Clark-5ed_02.indd 33Clark-5ed_02.indd 33 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 34 Clark, Finkel, Rey & Whalen nistas irreversíveis não pode ser superado adicionando mais agonista. Os antagonistas competitivos aumentam a DE50, enquanto os antagonistas irreversíveis não o fazem (exceto que haja receptores de reserva). Há dois mecanismos pelos quais um fármaco pode atuar como antagonis- ta não competitivo. O antagonista pode ligar-se covalentemente ou com afinidade muito alta ao local ativo do receptor (antagonista irreversível). Esta irreversibilidade reduz o número de receptores disponíveis para o agonista. O agonista não consegue deslocar o antagonista, mesmo que a dose aumente. O segundo tipo de antagonistas se fixa em um local (“local alostérico”) diferente do que o local de ligação do agonista. Este antagonista alostérico impede o receptor de ser ativado mesmo quando o agonista está fixado no local ativo. Se o antagonista se fixa a um lo- cal diferente do que se liga o agonista, a interação é “alostérica”. Existe uma diferença na curva dose-resposta de um agonista na presença de um antagonista competitivo e de um não competitivo. Na presença do antagonista competitivo, a resposta máxima do agonista pode ser alcan- çada aumentando a dose de agonista. O resultado é um aumento no valor de CE50 e manutenção da eficácia do agonista (ver Figura 2.12). Na presença de um antagonista não competitivo, a resposta máxima não é observada mesmo aumentando a dose do agonista. Portanto, a diferença fundamental entre o antagonista competitivo e o não competitivo é que no competitivo o antagonista reduz a potência do agonista, e o não competi- tivo reduz a eficácia do agonista. C. Antagonismo funcional e químico Um antagonista pode atuar em um receptor completamente separado, iniciando eventos que são funcionalmente opostos aos do agonista. O exemplo clássico é o antagonismo funcional pela epinefrina da bronco- constrição induzida por histamina. A histamina se liga aos receptores H1 histamínicos na musculatura lisa bronquial, causando contração e es- treitamento da árvore respiratória. A epinefrina é um agonista nos adre- norreceptores �2 na musculatura lisa bronquial, que promove o relaxa- mento do músculo. O antagonismo funcional também é conhecido como “antagonismo fisiológico”. O antagonismo químico evita as ações de um agonista, modificando-o ou sequestrando-o, de modo que fica incapaz de se ligar e de ativar seu receptor. Por exemplo, o sulfato de protamina é um antagonista químico da heparina (ver p. 251). Ele é uma proteína básica (com cargas positivas) que se fixa à heparina ácida (com cargas negativas), prevenindo rapidamente seus efeitos terapêuticos, bem como os tóxicos. (O antagonismo farmacocinético descreve a situação na qual o antagonismo diminui de modo eficaz a concentração do fármaco ativo. Isto pode acontecer quando a absorção do fármaco diminui ou se aumen- tam a biotransformação e a excreção renal do fármaco.) VI. RELAÇÕES DOSE-RESPOSTA QUANTAIS Outra relação dose-resposta importante é a da influência da intensidade da dose na proporção da população que responda a essa dose. Essas respostas são conhecidas como respostas quantais, pois, para cada indiví- duo, o efeito se desenvolve ou não. Mesmo respostas graduais podem ser consideradas quantais se um determinado nível de resposta gradual for designado como o ponto no qual a resposta ocorre ou não. Por exemplo, pode ser determinada uma relação dose-resposta quantal na população para o anti-hipertensivo atenolol. A resposta positiva é definida como uma redução de no mínimo 5 mmHg na pressão sanguínea diastólica. Curvas dose-resposta quantais são úteis na determinação das doses às quais a maioria da população responde. CE50 para o fármaco isolado ou na presença de um antagonista não competitivo CE50 para o fármaco na presença de um antagonista competitivo Fármaco isolado Fármaco com antagonista competitivo Concentração do fármaco E fe it o b io ló g ic o Fármaco com antagonista não competitivo Figura 2.12 Efeitos de fármacos antagonistas. CE50 = dose do fármaco que provoca 50% da resposta máxima. Clark-5ed_02.indd 34Clark-5ed_02.indd 34 31/10/12 15:1631/10/12 15:16 Capa Interações fármaco-recepetor e farmacodinâmica Resumo Transdução de sinal O complexo fármaco-receptor Estados receptores Principais famílias de receptores Agonistas Agonistas totais Agonistas parciais Agonistas inversos Antagonistas Antagonistas competitivos Antagonistas irreversíveis Antagonismo funcional e químico
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