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AULA 02 - Promoção da saúde e prevenção do adoecimento relacionado ao trabalho

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Aula 02
Promoção da saúde e prevenção do adoecimento
relacionado ao trabalho
Promoção de saúde é processo de capacitação das pessoas e da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade
de vida e saúde, incluir uma maior participação no controle de processo.
- Teoria: ampliação do conceito de saúde e de sua abordagem.
- Prática: alocação de recursos materiais e humanos para identificação e ajuste de necessidades em saúde.
Prevenção em saúde é conjunto de medidas que visa prevenir uma determinada doença.
- Primária: evita-se que um distúrbio ocorra (vacinação, aconselhamento para perfis de alto risco,
saneamento básico).
- Secundária: detecta-se um distúrbio em seu início (coleta de citologia oncótica de colo de útero, dosagem
sérica de de antígeno prostático específico total - ?, desparasitação periódica de populações vulneráveis - ?).
- Terciária: controla-se uma doença existente, a fim de evitar complicações (controle da filtração glomerular em
pacientes com diabetes mellitus).
- Quaternária: evita-se intervenções desnecessárias; risco de iatrogenia (prescrição de antibióticos para
doenças virais sem indicação protocolar).
● PROMOÇÃO DE SAÚDE
Trabalho como determinante de saúde
- (...) pode garantir o acesso aos meios básicos para sobrevivência e, mais que isso, pode permitir o crescimento e
a realização pessoal, o bom relacionamento em grupos, o reconhecimento e a promoção social, além da transformação
sustentável do meio. (p.1614)
- (...) vale frisar que aqui se refere ao trabalho dignificante e que emancipa, e não àquele que, simplesmente,
explora ou usurpa. (p.1615)
- (...) As práticas laborais podem expor o trabalhador a fatores de risco para a saúde mas em contrapartida, o
ambiente de trabalho, desde que em condições adequadas, é um espaço privilegiado para a prática da promoção da
saúde, uma vez que permite tanto a capacitação, quanto a participação dos trabalhadores (p.1616)
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Determinantes de saúde: e o trabalho?
Estratégias de promoção da saúde
(A) POLÍTICAS PROMOTORAS DE SAÚDE:
- Comunidade: macropolíticas de crescimento econômico, proteção ambiental, geração de empregos, divisão de renda,
habitação, produção de alimentos, transporte, educação, segurança pública.
- Trabalho: definição de missão (“base do planejamento”), visão (“direciona o futuro”) e papel social da empresa (“o que
se pode esperar da empresa”), cumprimento de legislação trabalhista, tributária e previdenciária, instituição de planos
de carreira (cargos, salários e benefícios), investimento na qualidade de vida dos trabalhadores. (
(B) CRIAÇÃO DE AMBIENTES SAUDÁVEIS:
- Comunidade: criação de ambientes saudáveis em ruas, praças, parques, na forma de saneamento básico, limpeza,
conservação e lazer.
- Trabalho: garantia de condições que permitam cuidados com as condições psicofisiológicas dos trabalhadores
(C) PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE:
- Comunidade: associações, conselhos, comitês e grupos de trabalho comunitários, que permitem que os cidadãos
reivindiquem, conheçam, auxiliem e participem de iniciativas ligadas a própria comunidade.
- Trabalho: participação na Comissão Interna para Prevenção de Acidentes (CIPA), grêmios de funcionários e outros
projetos institucionais
(D) REDIRECIONAMENTO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE:
- Comunidade: incentivo à atenção primária à saúde (APS)/atenção básica (AB) e a valorização da estratégia de saúde
da família (ESF), na forma de atenção integral e coordenada.
- Trabalho: ambulatórios e serviços próprios de medicina do trabalho, bem como empresas especializadas em serviços
de saúde e medicina do trabalho que podem se estruturar de uma visão particular, para uma visão geral.
(E) DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES PESSOAIS:
- Comunidade: formação continuada em promoção e prevenção de saúde, de trabalhadores.
- Trabalho: capacitação de trabalhadores, para que desenvolvam habilidades necessárias para uma vida mais saudável.
Da saúde ocupacional à integral
- A realização de exames médicos periódicos de todos os trabalhadores é uma prática garantida pela legislação
(NR 7) e coloca o médico do trabalho em posição estratégica para atuar, não apenas na prevenção de doenças quanto
na promoção de saúde. -
- Implementação: perfil profissiográfico previdenciário (PPP), perícias médicas, análises de acidentes,
levantamento epidemiológicos etc.
- A Organização Mundial da Saúde (2010, citada por Mendes, 2013, p. 1617) exemplifica o que seria um ambiente
de trabalho saudável, considerando haver na discussão:
Questões de segurança e saúde no ambiente físico de trabalho; Questões de segurança, saúde e bem estar no
ambiente psicossocial de trabalho, incluindo a organização do trabalho e cultura da organização; Recursos para a saúde
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pessoal no ambiente de trabalho; e Envolvimento da empresa na comunidade, para melhorar a saúde dos
trabalhadores, de suas familiares e outros membros da comunidade.
- Decreto n. 6.042/2007: “nexo epidemiológico”; introduz a relação entre o trabalho e determinadas doenças; relaciona
Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde e Cadastro Nacional de
Atividades Econômicas.
→ Ações de promoção da saúde no trabalho
- Aspectos que interferem na promoção de saúde no trabalho:
- Práticas de promoção da saúde e prevenção de doenças tem lógica própria, com foco na atuação na saúde e seus
determinantes, ao contrário da medicina assistencial, que é norteada pela doença e seu tratamento.
- Lideranças, preocupadas com metas e resultados, tendem a ignorar a importância de fatores culturais, ambientais,
psicossociais e comportamentais, que estimulam uma pessoa a fumar, por exemplo, o que tornaria um programa neste
sentido, centrado na medicação.
- O sucesso de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças no trabalho, depende de:
(a) Conhecimento, ou seja, capacidade de identificar a importância das ações.
(b) Motivação, ou seja, desejo de engajamento.
(c) Habilidade, ou seja, capacidade e orientação sobre técnicas de mudanças comportamentais.
(d) Oportunidade, ou seja, situação favorável para engajamento bem sucedido.
(1) AÇÕES COLETIVAS:
- Incentivo a atividade física: ginástica laboral supervisionada, criação de salas de atividade física, convênio e
descontos com academias, aconselhamento em grupos para vencer as barreiras à práticas de atividade física e
implantação de equipes de caminhadas e corridas.
- Reeducação alimentar: contratação de dietas balanceadas para o refeitório, convênio e descontos em restaurantes
com oferta de refeições saudáveis, substituição de máquinas distribuidoras de alimentos industrializados por máquinas
de alimentos saudáveis, orientações individuais ou em grupo com nutricionistas, convênio com entidades
especializadas. → Abordar tipos de alimentos, quantidade e forma de consumo e ainda comportamentos que
modificam o consumo e aumentam o risco para a saúde. (contrapartida: incentivos fiscais)
- Cessação do tabagismo: encontros individuais ou coletivos de cessação do tabagismo (com abordagem psicossocial
e farmacológica), respeito a legislação vigente (Lei 12.546/2011) em relação ao consumo em recinto coletivo fechado
(evita “fumódromos”).
- Consumo equilibrado de bebida alcoólica: rastreamento baseado em sinais de alerta (queda de rendimento,
acidentes repetidos, queixas de colegas de trabalho) e abertura de canais de comunicação com sigilo e privacidade.
(2) AÇÕES INDIVIDUAIS: - Oportunidade: exame médico ocupacional.
a. Aconselhamento (atividade física, alimentação, sono, estresse, tabagismo, álcool, drogas, proteção solar, infecções
sexualmente transmissíveis).
b. Rastreamento (depressão, abuso de álcool, excesso de peso, hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias,
neoplasia de colo de útero, neoplasia de próstata, neoplasia e lesões de cólon, neoplasia de mama, osteoporose,
infecções sexualmente transmissíveis).
c. Quimioprofilaxia (doença cardiovascular, tétano e difteria, hepatite B,influenza, infecção pneumocócica).
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Efetividade das ações de PS&PD
- Garantia de uma ação bem elaborada:
- Elaboração: tamanho, escopo (alvo), escalabilidade (projeção) e sustentabilidade.
- Execução.
- Avaliação: penetração (impacto da ação), implementação (relação entre o planejado e o executado),
participação (relação entre público indicado e inscrito) e efetividade (taxa de participação).
- Por parte do médico do trabalho:
(a) Conhecer as políticas organizacionais e a lógica do negócio.
(b) Conhecer a cultura própria da empresa (missão, visão e papel social).
(c) Mobilizar os trabalhadores.
(d) Planejar e reavaliar constantemente práticas propostas.
(e) Otimizar ações obrigatórias por lei.
Modelo de ambiente de trabalho saudável
OBS - relembrando tópicos da aula
Questões
1. Alguns procedimentos em promoção de saúde e prevenção de doenças são recomendados na prática clínica da
medicina do trabalho. A literatura especializada divide esta abordagem em três temas: aconselhamento, rastreamento
e quimioprofilaxia. Apresente estratégias para abordagem destes três temas, nos seguintes subtemas:
a. Aconselhamento (atividade física, alimentação, sono, estresse, tabagismo, álcool, drogas, proteção solar, infecções
sexualmente transmissíveis).
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b. Rastreamento (depressão, abuso de álcool, excesso de peso, hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias,
neoplasia de colo de útero, neoplasia de próstata, neoplasia e lesões de cólon, neoplasia de mama, osteoporose,
infecções sexualmente transmissíveis).
c. Quimioprofilaxia (doença cardiovascular, tétano e difteria, hepatite B, influenza, infecção pneumocócica).
ARTIGO - indicação de leitura da aula
RESUMO | Contexto: Com a intensificação do ritmo de trabalho dos bancários aumenta o risco do surgimento de
distúrbios osteomusculares, dentre outros fatores que podem comprometer a qualidade de vida do trabalhador.
Objetivo: Verificar a associação dos fatores sociodemográficos, ocupacionais, de estilo de vida e sintomas
osteomusculares com a qualidade de vida dos bancários do município de Jequié (Bahia). Métodos: Trata‑se de um
estudo transversal, realizado com 111 voluntários, os quais responderam um questionário autoaplicado, abordando
informações sociodemográficas, ocupacionais, de estilo de vida, de sintomas osteomusculares e de qualidade de vida.
Resultados: Observou‑se diferença estatisticamente significativa entre os indivíduos com maior comprometimento no
domínio físico e os sintomas nos 12 meses, nos últimos 7 dias, afastamento das atividades, procura por assistência e
estilo de vida. Constatou‑se associação estatisticamente significativa entre o domínio psicológico e o estilo de vida,
assim como entre o domínio relações sociais e as variáveis sexo, sintomas nos últimos 7 dias e afastamento das
atividades. Conclusão: O maior comprometimento nos domínios físico e relações sociais da qualidade de vida
estiveram associados à presença de sintomas musculoesqueléticos entre os bancários. O estilo de vida classificado
como ruim apresentou associação com o maior comprometimento nos domínios físico e psicológico nesse grupo de
trabalhadores. Espera‑se que este estudo possa servir de base para o desenvolvimento de estratégias voltadas não só
para promoção de saúde, mas também para a realização de intervenções sobre as variáveis que influenciam na
qualidade de vida desse grupo de trabalhadores.
Introdução
O avanço tecnológico impôs mudanças no processo de trabalho dos bancários, sendo que antes da informatização os
caixas trabalhavam com máquinas que armazenavam os dados digitados que precisavam ser transmitidos após o
fechamento das agências. A partir da informatização desse setor, cada caixa passou a operar com um terminal de
computador, o que agilizou o tempo de atualização dos dados, reduzindo o tempo de atendimento e intensificando o
ritmo de trabalho1,2, resultando em um aumento de funções manuais de conteúdo e repetitiva.
Perante as demandas do trabalho surge o risco de aparecimento dos distúrbios osteomusculares relacionado ao
trabalho, definidos como danos causados pela sobrecarga de atividades ao sistema musculoesquelético, surgindo de
maneira insidiosa e caracterizada pelo aparecimento de sintomas concomitantes ou não — tais como dor, parestesia,
sensação de peso e fadiga —, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, o que pode
comprometer a qualidade de vida do indivíduo
A qualidade de vida é vista como uma construção subjetiva, multidimensional, composta por elementos positivos e
negativos, ampliando o espectro de análise dos processos envolvidos na perspectiva da ecologia humana e da
investigação das conexões entre as múltiplas dimensões da relação entre saúde e trabalho . Abordar a qualidade de
vida no ambiente de trabalho pode trazer melhorias para a saúde dos profissionais, sendo uma necessidade de vital
importância para que o trabalhador tenha condições para desempenhar com eficácia suas tarefas, de modo que todos
saiam ganhando: empregador e colaborador
Métodos
Trata‑se de um estudo descritivo‑analítico com delineamento transversal.
Dessa forma, de um total de 165 bancários, 16 encontraram-se afastados das atividades e 38 recusaram participar do
estudo, perfazendo um total de 111 voluntários para a pesquisa. Os dados foram coletados entre os meses de julho e
agosto de 2015.
O primeiro bloco do questionário consistiu em ques‑ tões sociodemográficas, tais como sexo, idade, cor, situação
conjugal, escolaridade e renda. O segundo bloco tratou de questões relacionadas à ocupação, como tempo de serviço,
carga horária semanal e realização de outra atividade remunerada. O terceiro bloco avaliou o estilo de vida por meio do
questionário “estilo de vida fantástico”.
O quarto bloco consistiu de informações referentes aos sintomas osteomusculares, no qual foi utilizado o Nordic
Musculoskeletal Questionnaire (NMQ), desenvolvido com a proposta de padronizar a mensuração de relato de sintomas
osteomusculares e, assim, facilitar a comparação dos resultados entre os estudos
O quinto bloco avaliou a qualidade de vida a partir da aplicação do questionário WHOQOL‑Bref; e é constituído de 26
perguntas — sendo as duas primeiras sobre a qualidade de vida geral. As respostas seguem uma escala de Likert de 1 a
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5 — quanto maior a pontuação melhor a qualidade de vida. Além das duas primeiras questões — 1 e 2 —, o instrumento
tem 24 questões que compõem 4 domínios — físico, psicológico, relações sociais e meio ambiente.
O domínio físico consiste de seis questões: dor e desconforto; energia e fadiga; sono e repouso; mobilidade; atividades
da vida cotidiana; dependência de medicação ou de tratamentos; e capacidade de trabalho. O domínio psicológico é
composto por seis questões, propostas para avaliar: os sentimentos positivos; o pensar, o aprender, a memória e a
concentração; a autoestima; a imagem corporal e a aparência; os sentimentos negativos; e a espiritualidade, a religião e
as crenças pessoais . No aspecto das relações sociais, analisa‑se: as relações pessoais; o apoio social; e a atividade sexual.
No domínio meio ambiente, o questionário é composto por oito questões, que analisam: a segurança física e a
proteção; o ambiente do lar; os recursos financeiros; os cuidados de saúde; a oportunidade de adquirir novas
informações e habilidades; a participação em e a oportunidade de lazer; o ambiente físico; e o transporte.
Resultados
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Discussão
O presente estudo apontou que independente da região afetada, 78,4% dos participantes da pesquisa apresentaram
sintomas musculoesqueléticos nos últimos 12 meses e 63,1% referiram esses sintomas nos últimos 7 dias.
No que diz respeito aos afastamentos, 28,8% dos entrevistados afirmaram ter se ausentado das atividades profissionais
em consequência de sintomas osteomusculares.
Quanto ao acometimentodos sintomas por regiões corporais, foi constatado que, nos últimos 12 meses, as regiões mais
acometidas foram o pescoço, a lombar e o ombro.
Em relação à avaliação da qualidade de vida dos bancários — realizada a partir do WHOQOL‑Bref —, o escore varia de 0
a 100, no qual os maiores escores médios indicam melhor avaliação desse construto. A partir dos resultados, foram
observados que os escores médios dos domínios variaram de 67,99 a 78,19, dos quais o domínio psicológico obteve o
maior escore médio, seguido pelos domínios relações sociais, físico e meio ambiente
Conclusão
O presente estudo evidenciou uma elevada distribuição de sintomas de distúrbios musculoesqueléticos nos últimos 12
meses e nos últimos 7 dias, sendo que as regiões mais acometidas foram o pescoço, a lombar e o ombro. Em relação à
qualidade de vida, observou‑se que o domínio psicológico obteve o escore médio mais elevado, seguido pelos domínios
relações sociais, físico e, por último, meio ambiente.
A partir da verificação da associação das variáveis com o comprometimento da qualidade de vida, foi possível observar
diferença estatisticamente signifi‑ cativa entre os indivíduos com pontuação menor ou igual a 75 no domínio físico e os
sintomas nos últimos 12 meses, nos últimos 7 dias, o afastamento das atividades, a procura por assistência e o estilo de
vida. Verificou‑se também a associação estatisticamente significativa entre o domínio psicológico e o estilo de vida.
Quanto ao domínio relações sociais observou‑se que os indivíduos com pontuação menor ou igual a 75 tiveram
associação estatisticamente significativa com sexo, sintomas nos últimos 7 dias e afastamento das atividades. Contudo,
pode‑se afirmar que o estilo de vida e os sintomas osteomusculares possuem relação direta com a qualidade de vida.
Os resultados deste estudo é um passo essencial para que os profissionais atuantes na área possam tomar atitudes
mais apropriadas, facilitando o manejo dos aspectos que comprometem a qualidade de vida, assim como possa servir
de base para o desenvolvimento de estratégias voltadas não só para promoção da saúde, mas também para a
realização de intervenções necessárias sobre as variáveis que influenciam a qualidade de vida desse grupo de
trabalhadores
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