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Profª Ana Paula Montandon 1 CURSO DE FARMÁCIA Disciplina: Operações Unitárias PROCESSOS E EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS PARA MISTURA DE LÍQUIDOS E PÓS NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA Anápolis Profª M.e. Ana Paula Montandon de Oliveira Associação Educativa Evangélica CURSO DE FARMÁCIA Disciplina: Operações Unitárias PROCESSOS E EQUIPAMENTOS INDUSTRIAIS PARA MISTURA DE LÍQUIDOS E PÓS NA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA OBJETIVOS: • Descrever equipamentos e tipos de impulsores para mistura de sólidos e líquidos. • Descrever a física dos processos. • Dar exemplos de produtos farmacêuticos que utilizam esta operação unitária. Associação Educativa Evangélica REFERÊNCIAS: LACHMAN L.; LIEBERMAN A H.; KANING L. J. Teoria e Prática na Indústria Farmacêutica. Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, v. 2, 2001 CURSO DE FARMÁCIA Disciplina: Operações Unitárias Associação Educativa Evangélica Introdução O que é mistura? É o processo que leva à distribuição ao acaso das diferentes partículas do sistema, distinguindo-se de um sistema ordenado no qual as partículas estão dispostas formando um padrão repetitivo.(LACHMAN ; LEON . Teoria e prática na Indústria Farmacêutica, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian Volume I, 2001) Operação unitária cujo objetivo é trabalhar com dois ou mais componentes, inicialmente separados ou parcialmente misturados, com o propósito de que cada um (partícula, molécula, etc.) dos componentes fique em contato o mais próximo possível de cada unidade dos outros componentes. (AULTON, M.E. Delineamento de formas farmacêuticas, Elsevier, 2016) Em que processos é empregada? Na manipulação de líquidos orais, colírios, injetáveis, na mistura de pós para granulação, compressão e encapsulamento, na manipulação de cremes, pomadas, etc. Pontos chave A operação unitária da mistura está presente em praticamente todas as operações farmacêuticas. Os fatores que influenciam a segregação de pós devem ser estudados, de modo que possa ser produzida uma mistura com a qualidade requerida, com o mínimo de segregação durante os processos de manuseio e produção subsequentes. O Controle do processo de mistura é essencial para garantir produtos com qualidade. Profª Ana Paula Montandon 2 Tipos de misturas Positivas São produzidas com gases ou líquidos miscíveis que se mesclam espontaneamente e irreversivelmente por difusão e tendem a se aproximar de uma mistura perfeita. Em geral, produtos com este tipo de mistura não apresentam problemas durante o fabrico. http://www.silverson.com.br/pt/biblioteca/videos/mistura-de-pos-em- liquido Tipos de misturas Negativas Nestas os componentes tendem a se separar, como no caso de suspensões. Neste caso, deve ser fornecida energia continuamente para manter os sistemas dispersos. Em outras, os componentes tendem a se separar lentamente, como seria o caso das emulsões e cremes. Tipos de misturas Neutras Possuem comportamento estático, ou seja, os componentes tem tendência a se misturar espontaneamente, uma vez realizado o trabalho para misturá-los. São passíveis de separação, mas para que ocorra é necessário o fornecimento de energia. Exemplo: pastas, misturas de pós Exemplo hipotético de partículas misturadas homogeneamente – mistura perfeita (b) e completamente separadas (a) Mistura aleatória Ao pensarmos nas partículas cinzas como o fármaco e nas brancas como excipiente, vemos que a probabilidade de, ao escolhermos duas partículas aleatóreas, teremos 25% de chance de pegarmos 2 partículas de fármaco. Teremos, também, 25% de chance de pegarmos 2 partículas de excipiente. E 50% de chances de pegarmos uma de cada tipo. Mistura aleatória Na prática, pode-se observar que os componentes não estarão distribuídos de modo perfeitamente uniforme; ou seja, não haverá mistura completa. Não obstante, uma visão geral da mistura permitirá considerar os componentes como misturados, já que, na amostra total a quantidade de cada componente é aproximadamente igual (48,8% colorido e 51,2% branco). Profª Ana Paula Montandon 3 Mistura aleatória O exame cuidadoso da Figura mostra que, à medida que o número de partículas aumenta, a proporção de cada componente estará mais próxima da proporção encontrada numa mistura perfeita. O que é importante saber em uma amostragem de um produto em processo? O processo de mistura geralmente é seguido da divisão em doses unitárias individuais (comprimido, cápsula, sachê, copo medida, etc.) É importante que cada dose unitária contenha a quantidade correta de princípio ativo. O peso/volume da dose unitária é o parâmetro que determina o grau de exigência a ser adotado para examinar/analisar a mistura, para garantir a dose/concentração correta. Este parâmetro é a escala de escrutíneo. Ex.: Lote de 250kg que será transformado em comprimidos com 100 mg de princípio ativo e 200mg de peso médio. Qual a quantidade que deve ser pesada para ser analisada o teor do produto? O correto é que, neste caso, a quantidade a ser analisada da mistura seja 200mg, para saber se o processo de mistura foi adequado para o tamanho da forma farmacêutica que é o tamanho real. Se for analisado um tamanho maior, pode mascarar microirregularidades, como aglomerados, e consequentemente aprovar uma mistura inadequada. Se o tamanho da amostra for muito pequeno, pode rejeitar uma amostra que esteja aceitável! Em uma mistura aleatória verdadeira, o conteúdo das amostras retiradas segue uma distribuição normal. Isto significa que 68,3% das misturas estarão dentro do intervalo de ± 1 Desvio Padrão (DP) da proporção geral do princípio ativo; 95,5% estarão no intervalo de ±2DP e 99,7% no intervalo de ±3DP Requisitos básicos para avaliação do processo de mistura: Deve ser analisado um número suficiente de amostras que sejam representativos da mistura como um todo. Normalmente são analisadas 10 amostras, sendo extraídas de diferentes profundidades do misturador, no meio e nas laterais. A qualidade da mistura pode ser avaliada por limites pré- definidos, geralmente os limites descritos na Farmacopeia. Podem ser pré-determinados limites de ensaio para amostras individuais retiradas (ex. 90,0 a 110,0% do conteúdo) e também para variação do conteúdo (ex. %máxima de variação= 3%). Mistura de Líquidos: Mecanismos de Mistura: 1. Mistura por convecção 2. Mistura por fluxo turbulento 3. Mistura por fluxo laminar 4. Difusão molecular Intensidade de segregação Equipamentos de mistura de líquidos: Misturas por lote Profª Ana Paula Montandon 4 Mistura de Líquidos: Impulsores: Pás: Operações em batelada (batch) Equipamento duplo: 1 - Dispersor; 2 – Ancora com raspadores . Mistura de Líquidos Tipos de Misturadores: Impulsores: Hélices: Mistura de Líquidos Tipos de Misturadores: Impulsores: Turbinas: Linhas de escoamento e turbulência Profª Ana Paula Montandon 5 Modelo de agitação com turbina de pás inclinadas Impelidores Classificação quanto ao tipo de fluxo Fluxo Radial:São aqueles que geram linhas de fluxo perpendicularmente ao eixo do agitador, ou seja, impulsiona a grande massa líquida contra as paredes do tanque.São utilizados quando se deseja uma ação dispersiva, dissolução de sólidos agregados e friáveis. Impelidores Classificação quanto ao tipo de fluxo Axial: para obter este tipo de fluxo deve-se utilizar as lâminas inclinadas num ângulo de 45°. Neste tipo de fluxo o impulsor gera o movimento da grande massa líquida contra o fundo do tanque e deste para cima. São os impelidores aplicados na maioria dos processos agitados, tais como mistura de produtos líquidos, sólidos em suspensão, transferência de calor, etc. Impelidores Classificação quanto ao tipo de fluxo Tangencial: São aqueles que geram linhas de fluxo circulares e em regime de fluxo laminar. Impulsionam a massa de líquido ao redor da parede do tanque. Utilizados para mistura de líquidos altamente viscosos e massa desólidos. Mistura de Líquidos Tipos de Misturadores: Jatos de Ar: Neste mecanismo os jatos são posicionados de forma a fazer com que as bolhas de ar empurrem o líquido de baixo para cima no tanque de mistura. Jatos com líquidos: Os jatos de líquido irão se comportar como agitadores, gerando um fluxo turbulento na direção de seus eixos. Chicanas: Promovem o transporte de porções do material dentro do tanque. As chicanas laterais, quando montadas verticalmente em tanques cilíndricos, são eficazes na eliminação do turbilhão excessivo e melhoram o processo de mistura por indução de turbulência na sua proximidade. Profª Ana Paula Montandon 6 Seleção do Misturador: Fatores importantes na escolha: Propriedades físicas dos materiais a serem misturados (densidade, viscosidade e miscibilidade). Considerações econômicas relacionadas com o processamento (tempo requerido e energia necessária para a mistura). Custo do equipamento e manutenção. Mistura de semi-sólidos Mistura de semi-sólidos . Moinhos coloidais: dispersam partículas de pó em uma base semisólida de forma que fiquem invisíveis a olho nu. Neste caso as partículas são forçadas a passarem em alta velocidade por abertura extremamente pequena, gerando forças de cisalhamento Mistura de sólidos: Mecanismos de mistura: Mistura por convecção: Transferência de grupos relativamente grandes de partículas de uma parte do leito de pós para outra parte (ex.: quando uma pá do misturador se move por meio da mistura). Tende a produzir um alto grau de mistura de forma razoavelmente rápida Mistura por fricção: As forças entre as partículas do material geram planos de deslocamento. Os planos de escoamento podem ocorrer individualmente ou formando um fluxo laminar. Quando ocorre fricção entre duas regiões paralelas de composição diferente, ocorre adelgamento das diferentes camadas de pó Mistura por difusão: Ocorre quando o movimento desordenado das partículas das camadas de pó leva-as a mudar de posição relativa em relação às outras. A mistura por difusão ocorre na interface de regiões diferentes que estão submetidas à fricção e, conseqüentemente resulta em mistura por corte. Mistura por difusão Exemplo: quando um leito de pós é forçado a se deslizar ou fluir, sofre “dilatação”, isto é, o volume ocupado pelo leito aumenta (aumentam os espaços de ar entre as partículas). As partículas de pós tendem a ocupar tais espaços, seja através da ação da gravidade ou por movimentos forçados (respectivamente um misturador em V e um leito fluidizado). Efeito de mistura de vários componentes com duas ancoras Profª Ana Paula Montandon 7 Mistura de sólidos: Mistura por cisalhamento utilizando tombamento: O mais comum é constituído por um contentor com várias formas geométricas montado de maneira a girar sobre um eixo. Ex.: misturador em V. Neste tipo o transporte de material e o atrito são acentuados, tornando-o bastante eficaz. Outros tipos são os de cubos e cilindros. Mistura de sólidos: Misturador sigma: um contentor estável retém o material, sendo a mistura efetuada por impulsores como pás, lâminas ou sigma. É útil para mistura de pós que foram molhados, possuindo propriedades adesivas ou plásticas. São conhecidos como “masseiras”. Mistura de sólidos: Misturador de Duplo Cone: Indicado para a mistura de pós com densidades aparentes semelhantes, tem uma performance especial com pós secos e sólidos, permitindo total esvaziamento sem resíduos dentro do equipamento. Mistura de sólidos: Pode ser dotado de intensificadores internos para permitir a quebra ou cisalhamento de grumos. Sua descarga é feita através de válvula sanitária. Avaliação do grau de mistura É importante para avaliar o tempo adequado para a mistura, comprovar que o lote está homogêneo e também avaliar a eficiência do equipamento. Um dos métodos compara o desvio padrão de amostras retiradas de uma mistura (ςREAL) com o desvio padrão de amostras de uma mistura completamente aleatória (ςA). Avaliação do grau de mistura As misturas sem segregação serão favorecidas pelo aumento contínuo do tempo de mistura (gráfico1). Isto pode não ocorrer em misturas que apresentam segregação (gráfico 2). Durante o início do processo, a taxa de mistura é maior que a taxa de separação. Após certo período de tempo, a taxa de separação pode predominar até que seja alcançada uma situação de equilíbrio na qual a velocidade dos dois efeitos está equilibrada. Profª Ana Paula Montandon 8 Avaliação do grau de mistura Desta forma, tanto pode existir um tempo ideal de mistura quanto uma faixa de tempo na qual uma mistura satisfatória pode ser produzida. Avaliação do grau de mistura É importante para avaliar o tempo adequado para a mistura, comprovar que o lote está homogêneo e também avaliar a eficiência do equipamento. Um dos métodos compara o desvio padrão de amostras retiradas de uma mistura (ςREAL) com o desvio padrão de amostras de uma mistura completamente aleatória (ςA). ςReal =desvio padrão do conteúdo das amostras retiradas da mistura. ςE = Desvio padrão estimado e aceitável ςA = mistura aleatória Segregação de pós (Demixing) É o efeito oposto à mistura, ou seja, quando os componentes tendem a se separarem. Exemplos: durante o transporte de uma mistura de pós ou durante a vibração natural da máquina quando o pó encontra-se em um funil de transferência (sistema alimentador) de uma máquina de enchimento ou compressora. Diminui a qualidade da mistura. Pode transformar a mistura em não aleatória, podendo provocar a reprovação de um lote por falta de uniformidade de conteúdo. Segregação de pós (Demixing) Ocorre porque as misturas encontradas na prática são formadas por partículas diferentes em tamanho, forma, densidade e propriedades de superfície. Estas variações provocam diferentes comportamentos quando as partículas se movimentam, e portanto, tendem a se separarem. Já as partículas com propriedades iguais tendem a juntar-se, criando regiões com maior concentração de uma substância. Também ocorre mais em pós com baixa reologia (fluidez). Profª Ana Paula Montandon 9 Veja o que o transporte fez com os diferentes tamanhos de pipoca gourmet, e com a cobertura de leite ninho... (segregação por percolação, quando as partículas menores vazam pelos espaços e vão para o fundo do recipiente). Ela ocorre sempre que um leito de pós é submetido à perturbação (ex.: vibrações, agitação ou transferência de massa) Existem outros tipos de segregação: - Segregação por tragetória: partículas maiores tendem a ter maior energia cinética, percorrendo distâncias maiores que as menores antes de alcançarem o estado de repouso. Ex.: presença de partículas maiores nas bordas de uma pilha de pó quando este é despejado em um recipiente. - - Segregação por elutriação (arraste de partículas finas): durante o processo de mistura, partículas muito finas (poeira) tendem a flutuar durante o processo, decantando sobre a massa após o término do processo, formando uma camada sobre as partículas mais grosseiras. Existem outros tipos de segregação: - Efeito da densidade das partículas: partículas mais densas tendem a se deslocar para baixo mais rapidamente, mesmo que sejam de tamanho semelhante às outras partículas. - Partículas esféricas exibem maior fluidez, sendo mais fáceis de serem misturadas. As partículas irregulares se entrelaçam, reduzindo a tendência à segregação. Abordagens para minimizar a segregação: Seleção de frações de tamanho específico . Ex: remoção de finos, para obter fármaco e excipientes na mesma faixa estreita de tamanho de partícula. - Moagem de componentes: para reduzir a faixa de tamanho ou para garantir um tamanho médio dos pós. - - Cristalização controlada durante a síntese de um fármaco ou excipiente, para obter cristais ou tamanhos específicos. - - Seleção de excipientes que tenhamdensidades similares ao ativo. - - Ex.: celulose microcristalina 102, 101. Abordagens para minimizar a segregação: Granulação da mistura de pós: desta maneira a maior parte das partículas de pó estará distribuída uniformemente em cada unidade (grânulo) de segregação. - Redução do nível de segregação do equipamento. - - Uso de tremonhas (funis) desenvolvidos para minimizar o tempo de permanência do pó na máquina. Considerações Práticas - Realizar diluição geométrica. - Garantir que o volume de pó no misturador seja adequado (tanto a sobrecarga quanto o enchimento insuficiente podem reduzir a eficiência do processo de mistura). - Monitorar o processo de mistura por meio de retirada de amostras representativas e análise após diferentes intervalos de mistura. - Não favorecer a eletricidade estática do material. Para isto, aterrar corrretamente o equipamento e trabalhar com uma umidade relativa aproximada de 40%. Profª Ana Paula Montandon 10 Verificação da Uniformidade da Mistura para Indústria Farmacêutica Identificar possíveis locais do misturador onde a mistura possa não ser homogênea; 2 31 5 4 8 7 6 9 10 As amostras são coletadas no topo, meio e fim do misturador; O tamanho da amostra para o ativo é de no mínimo 3x o tamanho da forma farmacêutica final Início Meio Fim Tipos de Amostradores: Retirar 3 amostras de cada ponto e período de amostragem Utilizar sempre a mesma técnica de amostragem e mesmo ângulo de entrada do amostrador. Não retornar a amostra colhida para o recipiente de mistura após a realização do ensaio de conteúdo/ uniformidade. Mudança de escala (scale up) - Geralmente ao se passar de um lote em escala laboratorial para a escala industrial, o grau de mistura pode não ser reproduzido, ainda que se utilize equipamento semelhante! - Frequentemente a eficiência da mistura é favorecida no aumento da escala, devido ao aumento das forças de cisalhamento. - - Por isto o tempo e as condições ideais do processo devem ser estabelecidos e validados em escala industrial, para que o grau de mistura adequado ocorra, sem que haja segregação, lubrificação excessiva ou dano às partículas. CURSO DE FARMÁCIA Disciplina: Operações Unitárias RETOMADA DOS OBJETIVOS: • Descrever equipamentos e tipos de impulsores para mistura de sólidos e líquidos. • Descrever a física dos processos. • Dar exemplos de produtos farmacêuticos que utilizam esta operação unitária. Associação Educativa Evangélica
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