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Aula Anemia Ferrropriva na inf e adolesc

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ANEMIA FERROPRIVA NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA 
 
 
A anemia é definida como a condição na qual a concentração de hemoglobina no sangue está abaixo 
do normal (WHO, 2001). 
A anemia ferropriva é considerada um grave problema de saúde pública no Brasil e é também a 
carência nutricional de maior magnitude mundial, acometendo principalmente gestantes e crianças 
menores de dois anos. 
Em torno de metade das crianças menores de cinco anos apresentam algum grau de anemia 
ferropriva. A vulnerabilidade para a anemia ferropriva na adolescência é maior nas meninas, sendo 
que na adolescente gestante o risco é ainda maior. 
A anemia ferropriva na adolescência: 
A puberdade caracteriza-se pelo estirão de crescimento, pela aquisição do corpo adulto com maior 
massa muscular e por fenômenos biológicos hormonais. Há aumento do volume sanguíneo total, 
da massa magra corporal (síntese de mioglobina – que é um pigmento vermelho do músculo, 
transporta e armazena oxigênio utilizado durante a contração muscular), e o início das perdas 
menstruais no gênero feminino (BRAGA; VITALLE, 2010). 
As características da alimentação do adolescente que aumenta o risco de anemia ferropriva: 
- Ingestão inadequada de ferro (modismos alimentares, fatores socioeconômicos), o alimento pode 
ser usado pelo adolescente como rebeldia ou insatisfação, omissão de refeições. Na adolescência 
há uma necessidade de socialização e o alimento pode ter atuação como identidade de grupo, 
promovendo aprovação, podendo levar a seletividade alimentar. 
Consequências da falta de ferro no organismo: 
- Comprometimento do sistema imune; 
- Aumenta o risco de mortalidade infantil e materna; 
- Prejuízos nas funções cognitivas, do crescimento e desenvolvimento infantis. 
- Diminuição da capacidade de aprendizagem infantil e futuramente menor produtividade em 
adultos (BRASIL, 2013). 
CLASSIFICAÇÃO DA ANEMIA PARA CRIANÇAS E ADOLESCENTES, SEGUNDO VALORES DE 
HEMOGLOBINA 
 Anemia segundo valor de hemoglobina (g/dL) 
Idade Anemia Anemia leve Anemia 
moderada 
Anemia grave 
6 meses a 4 anos e 
11 meses 
< 11,0 g/dL 10 a 10,9 g/dL 7 a 9,9 g/dL < 7 g/dL 
5 a 11 anos <11,5 g/dL 10 a 11,4 g/dL 7 a 9,9 g/dL < 7 g/dL 
12 a 14 anos < 12,0 g/dL 10 a 11,9 g/dL 7 a 9,9 g/dL < 7 g/dL 
≥ 15 anos 
(sexo feminino, 
não-grávidas) 
<12,0 g/dL 10 a 11,9 g/dL 7 a 9,9 g/Dl < 7 g/dL 
≥ 15 anos (sexo 
masculino) 
< 13,0 g/dL 12 a 12,9 g/dL 9 a 11,9 g/dL < 9 g/dL 
Fonte: WHO, 2001. In: LACERDA, 2009. 
Medidas importantes para a prevenção da Anemia Ferropriva (BRASIL, 2013): 
- Priorização da suplementação de ferro medicamentosa em doses profiláticas; 
- Ações de educação alimentar e nutricional para alimentação adequada e saudável; 
- A fortificação de alimentos, que no Brasil, refere-se à fortificação de farinhas de trigo e milho com 
ferro e ácido fólico – Resolução RDC nº 344, de 13 de dezembro de 2002, da Anvisa. Essas farinhas 
devem conter, em 100g, a quantidade de 4,2mg de ferro de alta biodisponibilidade e 150 mcg de 
ácido fólico. 
- Controle de infecções e parasitoses; e com o acesso à água e esgoto sanitariamente adequado. 
“Mais recentemente, tem-se proposto a utilização de múltiplos micronutrientes para a prevenção da 
anemia – ação conhecida como fortificação dos alimentos preparados para as crianças com 
micronutrientes em pó. Essa ação prevê a adição direta de múltiplos nutrientes em pó aos alimentos 
já prontos para o consumo e tem se mostrado bastante eficaz e efetiva, sendo inclusive reconhecida 
pela Organização Mundial da Saúde” (BRASIL, 2013). 
Etapas da depleção de ferro: 
A primeira etapa é quando ocorre depleção das reservas de ferro, redução da ferritina sérica. 
A segunda etapa ocorre a insuficiência de ferro para produção normal de hemoglobina e de outros 
compostos. Há uma redução na saturação da transferrina (Tf) na circulação. 
A terceira e mais grave etapa é a anemia, quando há redução na concentração de hemoglobina 
em níveis abaixo dos valores considerados ótimos (LACERDA, 2009). 
 
SINAIS E SINTOMAS DA ANEMIA FERROPRIVA– palidez cutânea e de mucosa, fadiga, falta 
de apetite – são de difícil detecção, são mais comuns em anemia grave. 
 
 Coiloníquia 
Assim, nem todo ferro contido nos alimentos é absorvido, pois a biodisponibilidade desse mineral 
varia de acordo com fatores extrínsecos e intrínsecos. No primeiro caso, encontram-se fatores da 
alimentação, que podem agir inibindo ou promovendo a absorção do ferro. No segundo caso, 
encontram-se fatores relacionados às necessidades individuais do mineral, que abrangem o estado 
nutricional, a saúde, o sexo e a idade. 
Fatores externos que afetam a biodisponibilidade do ferro não heme: 
 
 
Fatores internos que afetam a biodisponibilidade do ferro não heme: 
 
 
 
 
 
INDICADORES BIOQUÍMICOS RECOMENDADOS PARA AVALIAÇÃO DO ESTADO DE FERRO: 
INDICADOR JUSTIFICATIVA 
Hemoglobina Medida da anemia, etapa mais grave da 
deficiência de ferro 
Volume corpuscular médio (VCM) O VCM representa o volume médio dos 
eritrócitos. Se há microcitose é sinal de anemia 
ferropriva. 
Receptor de transferrina sérica Reflete a intensidade de eritropoiese e da 
demanda de ferro. 
Ferritina sérica Praticamente toda a ferritina do organismo é 
intracelular e uma pequena parte circula no 
plasma. Quando a concentração é de > ou = 12 
Forma química: 
ferrro heme 
melhor 
absorvido que o 
não heme 
Composiçao 
da dieta 
Fatores estimuladores 
da absorção: ácido 
ascórbico, 
aminoácidos da carne 
Fatores inibidores: fitatos 
(cereal integral, feijões, 
aveia, gérmen de trigo), 
oxalatos (espinafre, 
beterraba, algumas 
leguminosas), cálcio, 
compostos fenólicos 
(polifenois, taninos, 
flavonoides- chá preto, 
chá mate, alguns 
refriquerantes, café), 
vinho tinto, 
chocolate),fosvitina da 
gema do ovo 
Situações 
fisiológicas: 
gravidez, 
infância 
Situações de 
deficiência 
nutricional: 
anemia 
ferropriva 
Situações de baixa 
acidez gástrica: 
consumo de 
antiácidos, idade 
avançada 
e 15 mcg/L (para menores e maiores de 5 anos 
de idade, respectivamente), as reservas estão 
adequadas, se menor, reservas depletadas. 
Fonte: LACERDA, 2009. 
 
RECOMENDAÇÕES DE FERRO (RDA) NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: 
IDADE (ANOS) RECOMENDAÇÃO (mg) 
Criança de 1-3 anos 7 
4-8 anos 10 
9-13 anos - meninos 8 
14-18 anos – meninos 11 
19-30 anos - homens 8 
9-13 anos - meninas 8 
14-18 anos - meninas 15 
19-30 anos - mulheres 18 
Fonte: Food and Nutrition Board, Institute of Medicine, National Academies, In: Silva, 2010. 
 
CONDUTA NUTRICIONAL PARA CRIANÇAS EM FASE PRÉ-ESCOLAR, ESCOLAR E ADOLESCÊNCIA 
COM ANEMIA FERROPRIVA 
Uma dieta mista, a quantidade média de ferro varia de 5 a 7 mg de ferro por 1000 Kcal. 
Dieta composta por 5 a 6 refeições por dia, atendendo as recomendações calóricas e de nutrientes 
para a idade, com incremento da oferta de ferro (BONFIM, 2014). 
Há indícios de que o consumo de ácido ascórbico, disponíveis em frutas cítricas, e de alimentos ricos 
em proteínas (aminoácido cisteína parece duplicar a absorção do ferro) promovem melhora na 
absorção de ferro proveniente de produtos vegetais (ferro não heme). Em contrapartida, algumas 
substâncias presentes no café, no chá, no mate, podem inibir a absorção de ferro. 
Alimentos fontes de ferro: Há dois tipos de ferro nos alimentos: ferro heme (origem animal, sendo 
mais bem absorvido) e ferro não heme (encontrado nos vegetais). 
São alimentos fontes de ferro heme: carnes vermelhas, principalmente vísceras (fígado e 
miúdos), carnes de aves, suínos, peixes e mariscos. 
São alimentos fontes de ferro não heme: hortaliças folhosas verde-escuras e leguminosas, 
como o feijão e a lentilha. 
Como o ferro não heme possui baixa biodisponibilidade, recomenda-se a ingestão na mesma 
refeição de alimentos que melhoram a absorção desse tipo de ferro, porexemplo, os ricos em 
vitamina C, disponível em frutas cítricas (como: laranja, acerola, limão e caju), os ricos em vitamina 
A, disponível em frutas (como: mamão e manga) e as hortaliças (como: abóbora e cenoura) 
(BRASIL, 2013). 
“O ferro existe em dois estados oxidativos estáveis: a forma ferrosa (Fe 2+) ou heme e a forma 
férrica (Fe 3+) ou não heme, ambas absorvidas por mecanismos diferentes e com 
biodisponibilidades distintas. A forma férrica, presenta na maioria dos alimentos, deve ser 
convertida, na luz intestinal, em sal ferroso para ser absorvida” (WEFFORT; LAMOUNIER, 2009). 
O mecanismo de absorção do ferro é bastante complexo, vários processos agem juntos para 
prevenir o desenvolvimento da deficiência de ferro ou seu acúmulo no organismo, mantendo o 
balanço do nutriente em estado normal. A quantidade de ferro absorvida varia em razão das 
quantidades de ferro não-heme e heme na dieta, de sua biodisponibilidade e da natureza da dieta 
em termos de fatores estimuladores ou inibidores de absorção. 
Teor de ferro (mg) em 100g de alimentos 
Alimento Ferro (mg) 
Lagarto, maminha, cupim 1,2* 
Acém, contra-filé, coxão duro, filé mignon 1,7 * 
Frango 0,5 
Coração de frango 4,1 
Fígado bovino 5,6 
Atum 1,3 
Abobrinha, batata-doce, batata-inglesa 0,2* 
Couve, brócolis, chicória 0,5* 
Feijão preto 6,5 
Grão de bico 5,4 
Lentilha 7,0 
Farinha de milho 2,3 
Pão de forma 3,0 
*valor médio dos alimentos listados. Fonte: TACO, IN: LACERDA, 2009. 
 
 
 
Imagine as três refeições que três adolescentes realizaram, a seguir e escolha aquela que apresenta 
uma melhor biodisponibilidade do ferro: 
 
Referências da aula: 
OMS – Organização Mundial da Saúde. Guideline – Daily Iron Suplementation in infants and children. 2016. 
44p. 
BONFIM, MA.C. Anemias. In: Manual de dietas e condutas nutricionais em pediatria. SILVA, A.P.A. da.; 
NASCIMENTO, A.G. do.; ZAMBERLAN, P. São Paulo: Atheneu,2014. 
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Programa 
Nacional de Suplementação de Ferro: manual de condutas gerais. Brasilia: Ministério da Saúde, 2013. 24p. 
BRASIL. Ministério da Saúde. Unicef. Cadernos de Atenção Básica: Carências de Micronutrientes / Ministério da 
Saúde, Unicef; Bethsáida de Abreu Soares Schmitz. - Brasília: Ministério da Saúde, 2007, 60 p. 
BRAGA, J.A.P.; VITALLE, M.S. de S. Anemia na Adolescência. In: PRIORE, S.E. et al. Nutrição e Saúde na 
Adolescência. Rio de Janeiro: Rubio, 2010. 
LACERDA, E. M. de A. Deficiência de ferro no grupo materno-infantil. In: ACCIOLY, E.; SAUNDERS, C.; LACERDA, 
E.M. de A. Nutrição em obstetrícia e pediatria. 2. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. Cap. 3. P. 39-56. 
SILVA, S.M.C.S.; MURA, J.D.P. Tratado de alimentação, nutrição e dietoterapia. São Paulo: Roca, 2010. 
WEFFORT, V.R.S.; LAMOUNIER, J.A. Nutrição em pediatria : da neonatologia à adolescência. São Paulo: Manole, 
2009.

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