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Bittencourt PSICOFARMACOLOGIA – STHAL (AD, AP, ESTABILIZADORES DE HUMOR) ANTIDEPRESSIVOS Os pacientes que apresentam um episódio depressivo maior e que recebem tratamento com qualquer antidepressivo costumam demonstrar melhora dos sintomas, e, quando esta alcança o nível de 50% ou mais de redução dos sintomas, ela é conhecida como resposta. O objetivo do tratamento com antidepressivos é a remissão completa dos sintomas e manutenção desse nível de melhora. Quando a depressão retorna antes de ocorrer remissão completa dos sintomas ou dentro dos primeiros meses após a remissão dos sintomas, chama-se isso de recidiva. Quando a depressão retorna após o paciente ter-se recuperado, denomina-se recorrência. Sempre que possível deve-se procurar intervir o mais cedo possível na depressão maior, devido a possibilidade de que o tratamento agressivo impeça a evolução da doença. Antidepressivos durante o ciclo de vida: • Entre 25 e 64 anos = tem melhor chance de obter boa resposta e apresentar melhor tolerabilidade aos antidepressivos • > 65 anos = podem não responder tão rapidamente ou de modo tão intenso, principalmente quando o 1º episódio ocorre nessa faixa etária e os principais sintomas são falta de interesse e disfunção cognitiva • < 25 anos = podem se beneficiar da eficácia dos antidepressivos, com risco leve, porém estatisticamente maior de suicídio (porém sem cometê-lo) Mecanismo de ação clássico = Bloqueio de um ou mais dos transportadores de serotonina, noradrenalina e/ou dopamina. Embora provoquem elevação imediata das monoaminas, os antidepressivos não exercem efeitos terapêuticos imediatos. Isso pode ser explicado pela hipótese dos receptores de monoaminas para a depressão, segundo a qual a doença é causada pela suprarregulação desses receptores. Desse modo, a eficácia dos antidepressivos estaria relacionada com a infrarregulação desses receptores. Quando um antidepressivo bloqueia a bomba de recaptação de monoaminas, isso leva ao acúmulo de maiores quantidades de neurotransmissor na sinapse, leva à infrarregulação dos receptores. O intervalo de tempo necessário para a adaptação dos receptores é consistente com os efeitos clínicos tardios dos antidepressivos e também com o desenvolvimento de tolerância aos efeitos colaterais dos antidepressivos. INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA Mecanismo de ação: Inibição seletiva e potente da recaptação de serotonina = inibição do transportador de serotonina (SERT). A hipótese monoaminérgica da depressão afirma que a serotonina pode estar deficiente, tanto nas áreas somatodendríticas pré-sinápticas próximas ao corpo celular quanto na própria sinapse, perto do terminal axônico. Ao administrar agudamente um ISRS, não ocorre um aumento imediato de serotonina em muitas sinapses. A 5HT se eleva em níveis muito mais altos na área somatodendrítica na rafe do mesencéfalo (área onde os axônios terminam) → efeito 5TH1A (efeitos colaterais)→ com o passar do tempo, sofrem infrarregulação e dessensibilização → como os receptores estão dessensibilizados, a serotonina não pode mais desativar sua própria liberação → neurônio serotoninérgico fica desinibido → enxurrada de serotonina = ação terapêutica dos ISRS Então, a desinibição é potente e tardia e os efeitos colaterais são pelas ações agudas da serotonina, e passam com o tempo (dessensibilização dos próprios receptores). Cuidados • Hiponatremia (todos), pior com fluoxetina e escitalooram • Prolongamento QTc – cuidado em idosos • Anticoagulação • Prejuizo de libido, retardo ejaculatório, anorgasmia Fluoxetina Mecanismo diferente (a mais): antagonista de 5TH2C → é ativador = pacientes percebem um efeito energizante e redução da fadiga, além da melhora na concentração e atenção. Melhor para: pacientes deprimidos que apresentam redução do afeto positivo, hipersonia, retardo psicomotor, apatia e fadiga. Menos apropriado para: pacientes com agitação, insônia e ansiedade. Outro mecanismo: bloqueio fraco da recaptação de noradrenalina, que podem ser tornar clinicamente relevantes em doses muito elevadas. Eficaz: 20 a 80mg OBS: • Autorizada na infância (> 7 anos) • Segura na gestação • Cuidado na amamentação • Cuidado em idosos • Aprovada para bulimia (doses mais altas) Meia vida: longa (2 a 3 dias) e seu metabólito ativo tem meia vida ainda mais longa (2 semanas) → reduz reações de retirada Sertralina Mecanismos diferentes: inibição do transportador de dopamina (DAT) – melhora na energia, motivação e concentração – e ligação dos receptores sigma-1 – efeitos ansiolíticos e antipsicóticos (depressão psicótica e delirante). Eficaz: 50 a 200mg OBS: • Autorizada na infância (> 6 anos) • Segura na gestação e amamentação • “Pouca” interação medicamentosa • Bom perfil cardiovascular Paroxetina Mecanismo diferente: tem uma ação mais anticolinérgica (M1) → Tende a ser mais tranquilizante, e até mesmo sedativa no início do tratamento. Além disso, tem ação inibitória fraca sobre o transportador de nora (NAT) → eficácia na depressão em doses altas. Também inibe a enzima óxido nítrico sintetase → disfunção sexual, principalmente em homens. Interrupção súbita: acatisia, inquietação, sintomas gastrointestinais, tontura e formigamento Eficaz: 20 a 60mg OBS: • Droga “suja” • Maior ganho de peso dos ISRS • Mais serotoninérgica • Síndrome de retirada • TTO de ejaculação precoce • Tratamento de sintomas vasomotores do climatério Fluvoxamina Mecanismo diferente: interação com sítio sigma1, de forma mais potente que a sertralina → sua ação ainda não foi totalmente desvendada, mas é relacionada com ansiedade e psicose. Usos: TOC, ansiedade, depressão psicótica e depressão delirante. Eficaz: 100 a 300mg Padrão ouro para TOC. Citalopram Este ISRS compreende dois enantiômeros, R e S, uma imagem especular do outro. A mistura desses enantiômeros é conhecida como citalopram racêmico ou, comumente, apenas como citalopram e apresenta propriedades anti- histamínicas leves, que residem no enantiômero R. Usos: bem tolerado no tto da depressão em idosos, mas tem uma ação inconsistente na menor dose e o aumento dela tem potencial de prolongamento de QTi. Eficaz: 20 a 40mg Obs: • Pouco potente • Max 30mg em > 85 anos Escitalopram Citalopram sem o enantiômero R → enantiômero S puro → remove as propriedades anti-histamínicas e não há restrição de dose para evitar prolongamento QT. Ação: inibição pura do SERT → considerado, talvez, o ISRS mais bem tolerado, com as menores taxas de interações medicamentosas mediadas por CYP. Eficaz: 10 a 20mg OBS: • Muito específica; limpa • Maximo de 15mg em > 85 anos • Hiponatremia!! INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE SEROTONINA- NORADRENALINA (DUAIS) Mecanismo: inibição do SERT + inibição do NAT (nora). Também exercem uma terceira ação sobre a dopamina no córtex pré-frontal Ações: depressão, síndromes dolorosas, sintomas vasomotroes associados à perimenopausa Duloxetina Inibe a recaptação da serotonina (IRS – mais potente) e da noradrenalina (IRN). Suas ações noradrenérgicas podem contribuir para sua eficácia nos sintomas físicos dolorosos. A duloxetina também é um inibidor da CYP 2D6. Usos: depressão, neuropatia periférica, fibromialgia, dor musculoesquelética crônica. Administração: pode ser administrada 1x/dia Eficaz: 60 a 120mg | dor: 30mg OBS: • Eficaz em quadros álgicos mesmo sem depressão • Ampla interação medicamentosa • Menos disfunção sexual que a venlafaxina • De preferência, administrar sem alimentos (hidrólise com pH ácido)Venlafaxina Doses mais baixas: + inibidor de 5HT Doses mais altas: + inibidor de NA A venlafaxina também está aprovada e é bastante usada no tratamento de vários transtornos de ansiedade. Provavelmente, a adição da inibição do NAT é responsável por dois efeitos colaterais da venlafaxina observados em alguns pacientes: sudorese e elevação da pressão arterial. Eficaz: 75 a 225 mg ParticularidadeS: • Muito potente – melhor para depressão que a desvenlafaxina • Elevação da PA e sudorese • Associação com mirtazapina! Formulações: • Liberação imediata • Liberação prolongada (XR) = 1x/dia e reduz efeitos colaterais, especialmente náuseas. Desvenlafaxina A desvenlafaxina inibe mais o NAT do que o SERT, em comparação com a venlafaxina → menor necessidade de ajuste da dose e inibição mais consistente do NAT com determinada dose em todos os pacientes. Ação: pode ser uma alternativa à terapia de reposição hormonal em mulheres na menopausa com síndrome vasomotora (não é formalmente aprovada). Eficaz: 50 a 200mg OBS: • “Sem” interação medicamentosa • Pouca disfunção sexual • Opção para sintomas vasomotores do climatério INIBIDORES DA MAO Mecanismo: inibidores da enzima monoamina oxidase (MAO). Os IMAO fenelzina, tranilcipromina e isocarboxazida são todos inibidores irreversíveis da enzima, e, por isso, a atividade enzimática só retorna após a síntese de novas enzimas em cerca de 2 a 3 semanas. Subtipos: • MAO A = metaboliza monoaminas ligadas mais estreitamente à depressão (5HT e nora) • MAO B = metaboliza, em especial, oligoaminas, como feniletilamina → pouca ação antidepressiva o Se bloqueio seletivo → reforça ação da levodopa na DP • A e B = metabolizam dopamina e tiramina o Bloqueio de ambas consiste numa das poucas formas disponíveis de elevar a dopamina na depressão e tratar sintomas refratário de redução do afeto positivo Ações: • Depressão • Transtornos de ansiedade → pânico e fobia social Interações com a tiramina na alimentação A tiramina na presença da inibição da MAO-A pode elevar a pressão arterial, já que a noradrenalina não é efetivamente destruída → crise hipertensiva. O corpo costuma ter imensa capacidade de processar a tiramina, e uma pessoa média é capaz de processar, aproximadamente, 400 mg de tiramina ingerida antes que ocorra elevação da pressão arterial. Provavelmente, uma “ dieta rica em tiramina” não contém mais de 40 mg de tiramina. Quando a MAO-A é inibida, pode ser suficiente uma quantidade tão pequena quanto 10 mg de tiramina dietética para elevar a pressão arterial → evitar alimentos com tiramina • Queijos envelhecidos • Chope e cervejas pasteurizadas • Vinhos → avaliar o teor de tiramina Interações medicamentosas • Simpaticomiméticos o Descongestionantes o Anfetaminas o Cocaína • Anestésicos → interromper IMAO 10 dias antes da cirurgia eletiva. Se urgência, usar com cautela BZD, morfina, codeína • Agentes serotoninérticos o Síndrome serotoninérgica → enxaqueca, mioclonia, agitação, confusão, hipertermia, convulsões, coma. Colapso cardiovascular e até mesmo morte. • Tricíclicos (clomipramina) TRICÍCLICOS (“drogas sujas”) Mecanismos: Todos os antidepressivos tricíclicos bloqueiam a recaptação de noradrenalina e são antagonistas dos receptores de histamina H1, α1-adrenérgicos e colinérgicos muscarínicos. Além disso, bloqueiam os canais de sódio sensíveis à voltagem. Alguns antidepressivos tricíclicos também são potentes inibidores da bomba de recaptação de serotonina e outros também podem ser antagonistas dos receptores de serotonina 2A e 2C. • Mais SERT: clomipramina • Mais NAT: desipramina, nortriptilina, maprotilina Efeitos colaterais • H1 o Sedação o Ganho de peso • M1 o Boca seca o Visão turva o Retenção urinária o Constipação intestinal • Alfa-1 o Hipotensão ortostática o Tontura • Canais de sódio sensíveis a voltagem (altas doses) o Coma o Convulsões o Arritmias cardíacas o PCR o Morte Ação: • Antidepressivos (2ª linha) • TOC (clomipramina) • Transtorno do pânico em doses antidepressivas • Dor neuropática e dor lombar em doses baixas. Amitriptilina • Eficaz: 75 a 300mg • Off-label: dor neuropática, cefaleia, fibromialgia, síndrome do intestino irritável, neuralgia pós- herpética • Potente Nortriptilina • 50 a 150mg • Off-label: dor lombar crônica, neuralgia pós- herpética, neuropatia diabética, tabagismo • Idosos Imipramina • 75 a 150mg (300*) • Off-label: enurese noturna, incontinência urinária • TDAH Clomipramina • 75 a 250mg • Off label: depressão (FDA!) • TOC INIBIDORES DA RECAPTAÇÃO DE NORADRENALINA E DOPAMINA - BUPROPIONA Os inibidores da recaptação de noradrenalina e de dopamina (IRND) bloqueiam os transportadores de noradrenalina (NAT) e de dopamina (DAT). O bloqueio do NAT no córtex pré-frontal leva a um aumento da noradrenalina sináptica, estendendo, assim, o raio de difusão desta. Como o córtex pré-frontal carece de DAT, e os NAT transportam tanto a dopamina quanto a noradrenalina, o bloqueio do NAT também leva a um aumento da dopamina sináptica, bem como da NA no córtex pré-frontal, estendendo ainda mais o raio de difusão da DA. Dessa maneira, apesar da ausência de DAT no córtex pré-frontal, os IRND ainda aumentam a dopamina no córtex pré-frontal. Ações: • Antidepressivo → parece ser particularmente útil quando direcionado para os sintomas de “redução do afeto positivo” dentro do espectro afetivo, como melhora dos sintomas de perda de alegria, felicidade, interesse, prazer, energia, entusiasmo, vigilância e autoconfiança. • TTO da dependência de nicotina → não é passível de abuso e não é uma substância controlada, além de reduzir a fissura. • Compulsão alimentar • TDAH Eficaz: 150 a 300mg Vantagens: • Ativadora • Não causa disfunção sexual (“antídoto”) • Sem efeitos colaterais serotoninérgicos INIBIDORES SELETIVOS DA RECAPTAÇÃO DE NORADRENALINA A inibição do NAT não apenas eleva os níveis de NA difusamente em todas as projeções neuronais NA, mas também os níveis de DA no córtex pré-frontal. Esse maior grau de ocupação dos NAT pelos inibidores seletivos de NAT pode ser necessário para a eficácia ótima, seja na depressão ou no TDAH, se não houver inibição simultânea do SERT ou do DAT para adição ou sinergismo do efeito. Efeitos colaterais: • + sedativo em alguns pacientes Exemplos: • Reboxetina • Atomoxetina • Viloxazine ANTAGONISTAS DE ALFA-2 MIRTAZAPINA Antagonismo de alfa-2 aumenta a liberação de monoaminas e exerce ação antidepressiva. Aa noradrenalina desativa sua própria liberação ao interagir com autorreceptores α2 pré- sinápticos nos neurônios noradrenérgicos → com antagonismo alfa-2, a noradrenalina não pode mais desativar sua própria liberação. Os antagonistas α2 bloqueiam a desativação da liberação de serotonina pela noradrenalina, visto que os heterorreceptores α2 nos terminais axônicos serotoninérgicos são bloqueados, mesmo na presença de noradrenalina. Dessa maneira, os neurônios serotoninérgicos são desinibidos e a liberação de serotonina aumenta. Além disso, o antagonista alfa 2 promove a liberação de nora na rafe do mesencéfalo, que por sua vez promove a liberação de serotonina quando é estimulado = facilita a liberação de serotonina de uma segunda maneira. Diferente dos demais antidepressivos, não bloqueiam o transporte de monoaminas → pode ser associado com IRSN para sinergismo = “combustível de foguete da Califórnia”. Eficaz: 30 a 45mg OBS: • Insônia (7,5 a 15mg) • Ganho de peso • Potente • Associação com venlafaxina • “Sem” interaçãomedicamentosa ANTAGONISTA/INIBIDOR DA RECAPTAÇÃO SEROTONINA TRAZODONA Bloqueia os receptores 2ª e 2C, bem como a recaptação de serotonina → atua como se fosse dois fármacos diferentes dependendo da dose e da formulação. • Doses moderadas a altas: antagonismo 2A e 2C + inibição de SERT (150 a 600mg) • Doses baixas → antagonista 2A, H1 e alfa-1 adrenérgica (25 a 150mg) o Sedação ou sono = hipnótico ideal, mas não antidepressivo → usada para tratar insônia causada por antidepressivos • Qualquer dose: inibe 2A → elevação de serotonina em receptores 1A o Não está associado com disfunção sexual o Não causa insônia e ansiedade Efeitos colaterais: • Sedação • Tontura • Boca seca • Náusea • Hipotensão ortostática e cefaleia • Priaprismo (raro) Eficaz: 150 a 600mg (imediata) | 150 a 375mg (XR) OBS: • Insônia (50-125mg) • SNP em demência • Demência frontotemporal • “Antídoto” disfunção sexual ELETROCONVULSOTERAPIA É um tratamento altamente efetivo para a depressão, cujo mecanismo de ação continua sendo um mistério. A ausência de resposta a uma variedade de antidepressivos, seja como monoterapia ou em associação, constitui um fator fundamental para se considerar a ECT, embora também possa ser usada em circunstâncias de alto risco, urgentes e gravemente incapacitantes, como depressões psicóticas, suicidas ou pós-parto. O mecanismo envolvido não é conhecido, porém se acredita que esteja relacionado com a provável mobilização dos neurotransmissores causada pela convulsão. OBS: • Sem contraindicação absoluta • Efeitos adversos o Imediatos: cefaleia, náusea, vômitos (anestésico), confusão mental pós-ictal o Curto prazo: amnésia retrógrada (em geral benigna e autolimitada), delirium o Longo prazo: amnésia anterógrada; amnésia retrógrada. ESCOLHA DO AD • Serotonina: impulsividade, hiper-reatividade, irritabilidade • Noradrenalina: energia, interessem concentração e atenção • Dopamina: motivação, recompensa e atenção TRATAMENTO ADJUVANTE • Lítio • Antipsicóticos (mais bem estudado) o Desvantagens: tolerabilidade, efeitos metabólicos, efeitos neuroendócrinos, SEP, prolongamento QTc. • ECT ANTIPSICÓTICOS Surgiram na década de 1950, sendo o 1º AP a clorpromazina. Tal classe medicamentosa atua na redução da transmissão dopaminérgica, sendo referência no tratamento da esquizofrenia. Esquizofrenia: • excesso de dopamina na via mesolímbica = sintomas positivos • hipoatividade dopaminérgica na via mesocortical = sintomas negativos = apatia, anedonia, falta de motivação, falta de interesse e de alegria com interações sociais. Subclasses: • AP típicos ou neurolépticos ou 1ª geração • AP atípicos ou de 2ª geração TÍPICOS Mecanismo: bloqueio inespecífico dos receptores D2 • Mesolímbico • Mesocortical = já deficiente na esquizofrenia = causa ou agrava sintomas negativos. • Nigroestriatal = parkinsonismo • Tubero-infundibular = hiperprolactinemia Infelizmente, para bloquear uma quantidade adequada de receptores D2 na via dopaminérgica mesolímbica com o objetivo de eliminar os sintomas positivos, é preciso bloquear simultaneamente a mesma quantidade de receptores D2 em todo cérebro, e isso provoca efeitos colaterais indesejáveis, que representam o “alto custo de fazer negócio” com antipsicóticos convencionais. Classes: • Fenotiazídicos o Alifáticos (baixa/média potencia) = clorpromazina o Piperadínicos (baixa/média potência) = tioridazina o Piperazínicos (média/alta potência) = trifluoperazina, flufenazina • Butirofenonas (alta potência) o Haloperidol • Tioxantenos (baixa/média potência) o Zuclopentixol • Di-hidroindolonas (baixa/média potência) o Molindona Quanto a potência • ALTA POTÊNCIA = precisam de doses menores o Menor atividade histamínica e colinérgica o Pouco sedativo o MUITO SEP (síndrome extrapiramidal) o Exemplos: ▪ Haloperidol ▪ Flufenazina ▪ Trifluopenazina • BAIXA POTÊNCIA = precisam de doses maiores o Maior atividade colinérgicas e histamínica o MAIS SEDATIVO o MAIOR GANHO DE PESO o MAIS EFEITO ANTICOLINÉRGICO o Pouco SEP o Exemplos ▪ Clorpromazina ▪ Tioridazina Efeitos colaterais Síndrome extrapiramidal (SEP) • Distonia aguda = contração muscular dolorosa, espasmótica e involuntária, principalmente de tronco e MMSS o TTO: antiparkinsonianos injetáveis (biperideno) • Parkinsonismo = rigidez muscular em roda denteada + tremor fino + marcha lentificada, com base alargada e rotação em bloco o TTO: troca do AP + biperideno até 6mg • Acatisia = inquietação motora que incomoda o paciente e causa muito desconforto o TTO: propranolol ± BZD • Discinesia tardia = distúrbio do movimento hipercinético que provoca movimentos faciais e da língua, como mastigação constante, protrusão da língua, caretas e movimentações rápidas e espasmótica dos membros. o Causada pela adm prolongada de AP típicos o Mais comum no sexo feminino o TTO: troca por um AP atípico ou por clozapina e quetiapina. Síndrome neuroléptica maligna • Rigidez muscular extrema, SEP, febre alta, coma e até mesmo morte • TTO: suspensão imediata do AP + hidratação + indução de hipotermia + pode usar agonista dopaminérgico (amantadina) e miorrelaxantes (dantrolene) e BZD. Hiperprolactinemia • Causada pelo aumento da dopamina na via tuberoinfundibular • Galactorreia, amenorreia → pode interferir na fertilidade e pode levar a desmineralização óssea (pp mulheres pós-menopausa) • Disfunção sexual. Ganho de peso • Melhor escolha para esses casos: aripiprazol. Efeitos anticolinérgicos • Normalmente, a dopamina inibe a liberação de acetilcolina dos neurônios colinérgicos nigroestriatais pós-sinápticos, suprimindo, assim, a atividade da acetilcolina → bloqueio D2 → acetilcolina excessivamente ativa. • Bloqueio de receptores M1 → boca seca, visão turva, constipação intestinal, embotamento cognitivo. • AP típicos de baixa potência principalmente Medicamentos • HALOPERIDOL o 2 a 20mg o Cp, gotas, IM ação imediata, IM depósito o SUS • TRIFLUOPERAZINA o 2 a 30mg o Menos SEP que haldol o SUS • CLORPROMAZINA o 100 a 1200mg (média 400-800mg) o CP 25mg e 100mg; gotas 4% • LEVOPROMAZINA o 100 a 600mg (mín 400mg em crise, máx 1g o CP 25mg e 100mg; gotas 4% o Mais sono que clorpromazina • TIORIDAZINA o 100 a 800mg (usualmente 300 a 600mg) o Muito prolongamento de QT o Não prescrever com fluoxetina • PERICIAZINA o 15 a 30mg (máx 300mg) o CP 10mg e gotas 1% e 4% o Média potencia --: retardo, PC, etc ANTIPSICÓTICOS ATÍPICOS Mecanismo: bloqueio D2 menos intenso + aumento da afinidade por receptores 5HT2A (setoronina) Têm o perfil clínico de ações antipsicóticas iguais sobre os sintomas positivos, porém com poucos sintomas extrapiramidais e menos hiperprolactinemia, em comparação com os antipsicóticos convencionais. Triptofano → 5-hidroxitriptofano (triptofano hidroxilase) → serotonina 5HT (descarboxilase) → transporte de monoaminas para vesículas sinápticas (SERT) Destruição pela monoamina oxidase (MAO) e convertida em metabólito inativo. Receptores: • 5HT2A = excitatórios → liberam glutamato, que regula a liberação de dopamina. Sua estimulação pela serotonina bloqueia a liberação de dopamina ao estimular a liberação de glutamato, que por sua vez desencadeia a liberação de GABA inibitório. • Antagonismo de 5HT2A no córtex estimula hipoteticamente a liberação de dopamina corrente abaixo no estriado → reduz SEP • Inibição DE 5HT2A → serotonina não podem mais estimular a liberação de prolactina = reduz hiperprolactinemia do bloqueioD2. Na via dopaminérgica nigroestriatal e na via dopaminérgica tuberoinfundibular, ocorre liberação de dopamina suficiente pelos antipsicóticos atípicos para reverter, em parte, as ações indesejadas dos SEP e da hiperprolactinemia. Isso não parece ocorrer na via dopaminérgica mesolímbica, pois as ações antipsicóticas dos antipsicóticos atípicos são exatamente tão eficazes quanto as dos antipsicóticos convencionais. Agonista parcial = provocam mais impulsos dos receptores do que os antagonistas silenciosos, porém menos do que os agonistas completos. Assim, são possíveis muitos graus de agonismo parcial entre esses dois extremos. EFEITOS CARDIOMETABÓLICOS Embora todos os antipsicóticos atípicos compartilhem uma advertência como classe por causarem ganho de peso e risco de obesidade, dislipidemia, diabetes, doença cardiovascular acelerada e, até mesmo, morte prematura, há, na verdade, um espectro de riscos entre os diversos fármacos: • Risco metabólico alto: clozapina, olanzapina • Risco metabólico moderado: risperidona, paliperidona, quetiapina, iloperidona (ganho de peso apenas) • Risco metabólico baixo: ziprasidona, aripiprazol, lurasidona, iloperidona (baixo para dislipidemia), asenapina, brexpiprazol (?), cariprazina (?) EXEMPLOS • CLOZAPINA = protótipo dos atípicos o Antagonista dos receptores de serotonina 5HT2A-dopamina D2 o POUCO/NENHUM SEP o Não provoca discinesia tardia nem elevação da prolactina. Pode tratar a discinesia tardia. o Usado em caso de refratariedade do tratamento (após 2 falhas medicamentosas com doses otimizadas) = “padrão-ouro” o Reduz o risco de suicídio na esquizofrenia o Efeitos colaterais ▪ Agranulocitose (neutropenia) → necessidade de hemograma semanal por 18 semanas e depois mensalmente. ▪ Reduz limiar de convulsão ▪ Sedação excessiva ▪ Sialorreia ▪ Miocardite ▪ Efeitos metabólicos ▪ Constipação → Íleo paralítico • Olanzapina – eficaz 5 a 20mg (30mg*) o Antagonista nos receptores 5HT2A e D2 o Pouco SEP, mesmo em doses altas o Carece de propriedades sedativas o Sem aumento de prolactina o Ganho de peso (antiH1 e M1) o Maior risco cardiometabólico o Melhora o humor não apenas na esquizofrenia, mas também no transtorno bipolar e na depressão resistente ao tratamento, em especial quando associada a antidepressivos, como a fluoxetina. o Formulações: comprimido de desintegração oral, injeção intramuscular e uso intramuscular de depósito, com ação prolongada de 4 semanas. • Quetiapina – 400 a 800mg na esquizofrenia o Pode ser usado como antipsicótico, estabilizador (todas as fases do TAB) e como antidepressivo (IRSN)] o Formulações: VO liberação imediata (LI) e de liberação prolongada (LP). o Mais sedativa no pico de liberação, pois depois da sua administração o Pouco ou nenhum SEP e hiperprolactina o AP preferido para doença de Parkinson com psicose o Dose de 300 a 800mg/dia ▪ 50mg = sedativo-hipnótico ▪ 300mg = antidepressivo ▪ 800mg = AP • Risperidona - 1 a 8mg o AP atípico em doses mais baixas, pois em doses mais altas provoca SEP o Uso preferencial na esquizofrenia e na mania bipolar em doses moderadas o Formulações: oral, injetável de depósito e formulação líquida. • Aripiprazol o Agonista parcial D2 → redução de SEP e hiperprolactinemia o Antagonista de 5HT2A e agonista parcial de 5HT1A o Uso em esquizofrenia e mania, além de irritabilidade no autismo, potencializador de ISRS/IRSN no TDM resistente ao tto. o Carece de sedação o Pouca ou nenhuma propensão a ganho de peso o Menor risco cardiometabólico o Formulaões: VO, IM para curto prazo e de ação prolongada. OBS.: tabagismo reduz os níveis plasmáticos da medicação → cuidado com a cessação do tabagismo após iniciar o tratamento. E não adianta usar nicotina para manter a dose. ESTABILIZADORES DE HUMOR • Tratar a mania o Tratar de cima para baixo o Estabilizar de cima para baixo • Tratar a depressão o Tratar de baixo para cima o Estabilizar de baixo para cima LÍTIO É usado no TAB há mais de 50 anos. Seu mecanismo de ação ainda não está estabelecido com certeza. • Mecanismos o Transdução de sinais o Segundos mensageiros (lítio inibe a Inositol monofosfatase) o Modulação de proteínas G o Regulação da expressão gênica para fatores de crescimento e plasticidade neuronal → inibição da GSK3 e PKC • Ação o Episódios maníacos o Manutenção de remissões o Potencializador de antidepressivos na depressão unipolar o Prevenção do suicídio em transtornos de humor • Efeitos colaterais o Dispepsia, náusea, vômitos, diarreia o Ganho de peso o Queda de cabelos, acne o Tremor o Sedação o Prejuízo na cognição o Falta de coordenação motora o A longo prazo: rim e tireoide • OBS: o Meia vida curta = usa várias vezes ao dia o Janela terapêutica estreita = litemia • Litemia o Dosagem após 1 semana em dose regular o 12h após a última tomada o Ideal: semanal até estabilização do nível sérico → mensal no primeiro ano → trimestral depois o Gestação: mensal (maior volume de distribuição → doses maiores) ÁCIDO VALPROICO • Mecanismo o Inibição dos canais de sódio sensíveis a voltagem → diminui a neurotransmissão excessiva o Reforço do GABA (+ inibição) o Regulação das cascatas de transdução de sinais corrente abaixo • Ações o Anticonvulsivante o Enxaqueca o Estabilizador de humor ▪ Fase maníaca aguda ▪ Evitar recorrência (manutenção) • Dose: 750mg a 1800mg (até 3g) o Iniciar com 250mg e progredir a cada 2 dias • Efeitos colaterais o Queda de cabelo, ganho de peso e sedação o Gástricos o Efeitos pancreáticos e hepáticos (crônico) o Amenorreia e ovário policístico o Toxicidade fetal o Rash cutâneo → suspender! • OBS.: o + efetivo que lítio na ciclagem rápida e episódios mistos de mania. o Pode ser usado 1x/dia em doses mais próximas da parte inferior da faixa terapêutica em combinação com outros estabilizadores de humor o PROSCRITO em mulheres em idade fértil o Cuidado em idosos → sedação, risco de queda, piora cognitiva. CARBAMAZEPINA • Mecanismos o Bloqueio dos canais de sódio sensíveis a voltagem (VSSC) – subunidade alfa • Ação o Anticonvulsivante o Mania (de cima para baixo) o Dor neuropática • Praticamente proscrita • Menos eficaz que os outros • Efeitos colaterais o Supressão de medula óssea → hemograma necessário o Sedação o Toxicidade fetal LAMOTRIGINA • Mecanismos o Bloqueio VSSC o Diminuição do glutamato (excitatório) • Ações o Prevenção de recidiva de mania e depressão o Depressão bipolar (para evitar AD) • Dose: 200mg a 400mg o Iniciar com 25mg e progredir a cada 2 semanas • Efeitos colaterais o Erupções cutâneas o Síndrome de Stevens Johnson (raro) • OBS.: o Iniciar com baixas doses e progredir lentamente ANTICONVULSIVANTES DE EFICÁCIA INCERTA OU DUVIDOSA NO TAB • Oxcarbazepina/eslicarbazepina • Topiramato • Gabapentina e pregabalina → dor neuropática, fibromialgia. • Bloqueadores dos canais de cálcio tipo L • Riluzol ANTIPSICÓTICOS Efetivos contra os sintomas nucleares não psicóticos da mania e no tratamento de manutenção para prevenir recidiva desta. Além disso, podem ser efetivos na depressão bipolar. • Mecanismos o Antagonistas ou agonistas parciais D2 = redução dos sintomas psicóticos na mania o Antagonista 5HT2A e agonista parcial 5HT1A → redução dos sintomas maníacos e depressivos não psicóticos = redução da hiperatividade glutamatérgica o Podem aumentar a disponibilidade dos neurotransmissores monoamínicos, a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, que são reconhecidamente de importânciafundamental na ação dos antidepressivos na depressão unipolar • Ação o Mania = maioria o Depressão bipolar = quetiapina • Exemplos: o Quetiapina: todas as fases o Lurasidona: depressão o Aripiprazol: mania, manutenção (depressão em associação) o Olanzapina: mania, manutenção (+ fluoxetina na depressão) o Risperisona: mania, manutenção OUTROS FÁRMACOS • BZD o Tratamento adjuvante o IM ou VO = calmante imediato o Agitação intermitente, insônia e sintomas maníacos insipientes o Cuidado com uso crônico o Mecanismo: GABA A • Modafinila e armodafinila o Depressão bipolar com resultados positivos • Hormônios e produtos naturais = sem eficácia comprovada QUANDO USAR ANTIDEPRESSIVO Parece provável que alguém que venha a desenvolver transtorno bipolar após o uso de antidepressivo já tivesse o transtorno, porém a condição pudesse não ter sido diagnosticada, ter sido diagnosticada incorretamente ou “desmascarada”, porém não causada pelo tratamento antidepressivo. Hoje em dia, o uso de antidepressivos em indivíduos nessas situações precisa ser considerado de modo individual, caso a caso. A maioria dos especialistas concorda que a monoterapia antidepressiva geralmente deve ser evitada nesses indivíduos e que convém começar o tratamento da depressão no transtorno bipolar com outras opções, como lamotrigina, lítio e/ou antipsicóticos atípicos, em monoterapia ou em associação. Muitas diretrizes de tratamento estipulam o uso de antidepressivos em combinação com estabilizadores do humor, preferindo-se, talvez, a bupropiona e deixando, por último, os antidepressivos tricíclicos. COMO ESCOLHER O ESTABILIZADOR A melhor opção de tratamento para pacientes bipolares sem complicações seria, em primeiro lugar, não causar nenhum prejuízo, prescrevendo qualquer tratamento que não seja monoterapia com antidepressivo, quaisquer que sejam os sintomas apresentados no momento. • Depressão bipolar → lamotrigina, antipsicótico atípico ou associação de ambos • Mania “leve” → monoterapia com valproato ou lítio ou algum antipsicótico atípico ou associação Associações • Lítio ou valproato + AP atípico = EVIDENCIA • PRÁTICA o Lítio + valproato o Lamotrigina + valproato = cuidado o Lamotrigina + lítio o Lamotrigina + lítio + valproato = cuidado o Lamotrigina + quetiapina • REGIÕES o Infusão bipolar de Boston = qualquer associação SEM antidepressivo o Coquetel cuidadoso da Califórnia = qualquer associação com antidepressivo → cuidado o Brilho do humor de Tennessee = atípico + antidepressivo
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