Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Síndrome Coronariana Aguda Abordagem inicial Nos quadros clínicos de SCA podemos encontrar o paciente realizando o famoso “Sinal de Levine”, que corresponde à exibição de mão fechada em movimentos circulares sobre o tórax. Avaliação geral: Na emergência, caso um paciente dê entrada com dor torácica, devemos inicialmente realizar uma avaliação geral, através do: ver, ouvir e palpar, ou seja, realização ABCD. - A: avaliamos o segmento cefálico Avaliar vias aéreas se pérvias e se há secreção; Avaliar a presença de estase de jugular e a centralização da traqueia; Avaliar se há roncos, estertores, estridor e tosse na ausculta; Palpação buscando dor, crepitações e reversão com manobras de VA (caso o paciente esteja inconsciente, uma vez que proporciona queda da base da língua). - B: avaliamos a caixa torácica; Avaliar o esforço respiratório tiragem intercostal, batimento da asa do nariz, assimetria de expansão; Fazer a ausculta cardíaca e pulmonar, buscando por sinais de congestão pulmonar; Realizar a palpação em busca de crepitações, dor e enfisema subcutâneo. - C: avaliamos a perfusão Avaliar se há palidez cutânea, sudorese profusa, taquipneia e se o precórdio está ativo ou calmo; Fazer a ausculta cardíaca em busca de presença de bulhas extras e sopros; Na palpação vamos avaliar o Pulso, FC, se a pele está fria e pegajosa e tempo de enchimento capilar, - D: avaliamos o sistema nervoso; Avaliação da consciência Escala de Glasgow; Avaliação das pupilas. A partir disso, iremos proceder realizando o MOVER: - Monitorização: eletrocardiográfica e PNI; - Oxigênio: Oximetria de pulso e com cateter de O2 se SPO2 <90%; - Venóclise; - Exame físico/ECG (feito em até 10 minutos); - Remédios/reperfusão se SST. Posteriormente iremos realizar uma história clínica “ampla”, através da avaliação de: - A: alergias; - M: uso de medicamentos que fez ou faz uso; - P: passado médico; - L: last episode, ou seja, o último episódio que aconteceu; - A: ambiente, ou seja, como iniciou e aconteceu o evento de dor torácica. Neste caso, é importante avaliar as características da dor: irradiação, característica, fatores de melhora/piora, intensidade, início e duração, sintomas associados e localização. Classificação da Dor torácica: Neste caso precisamos sempre afastar as causas que mais matam na emergência, dessa forma, temos o seguinte fluxograma: Síndrome Coronariana com supra de ST Fisiopatologia e classificação: A SCA ocorre devido um processo progressivo de aterosclerose, de modo que gera a formação de placas instáveis, a qual facilmente pode ser romper, expor fator tecidual e gerar trombose da artéria ou estáveis. A SCA pode ser dividida em: - SCA sem supra de ST (SCASST): representam uma oclusão subtotal ou total caso ainda exista uma boa perfusão colateral; Angina instável: a isquemia ainda não é capaz de gerar necrose, o que não promove a elevação dos marcadores de necrose miocárdica. IAM sem supra de ST: a isquemia promove necrose/injúria tecidual, há elevação dos marcadores de necrose miocárdica. Apesar de não ter supra de ST, pode gerar alteração da onda T. - SCA com supra de ST (SCACST): ocorre uma oclusão coronária total. IAM com supra de ST. 2 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Diferenciação práticas e diagnósticas da SCA: Para tal, precisamos realizar: Anamnese; Marcadores de necrose; ECG em até 10 minutos. Definição de IAM: O Infarto agudo do miocárdico se baseia na curva de troponina, ou seja, 2 marcadores demonstrando elevação da troponina + 1 dos fatores abaixo: - História clínica; - ECG; - Ecocardiografia transtorácica; - Cateterismo; - Autopsia. OBS: É preciso salientar que apesar da definição se basear na curva de troponina, não devemos aguardar os resultados da troponina para tomar conduta, uma vez que tempo é músculo. Injúria miocárdica x infarto: A injúria miocárdica é tudo que pode lesar os miócitos, que consequentemente, eleva os marcadores de necrose miocárdica, quando essa injúria é aguda dizemos que há um infarto. Ou seja, troponina elevada não podemos dizer que é sinônimo de infarto e sim de injúria miocárdica. Quadro clínico da SCA com ST: As características da dor são as seguintes: - Característica: em aperto, peso ou queimação; - Fator de melhora: melhora com uso de nitrato; - Fator de piora: piora com estresse físico ou emocional; - Intensidade: é variável; - Início e duração: > 30 min e início agudo; - Sintomas associados: Dispneia; Náuseas e vômitos; Desmaio; Diaforese; Palpitações. - Localização: retroesternal; - Irradiação: pode irradiar para MMSS, mandíbula e epigástrio. OBS: Importante salientar que cerca de 30% dos pacientes podem se apresentar sem dor. Por isso, precisamos pensar nos equivalentes isquêmicos, que nos faz pensar em uma disfunção do VE pela presença de dispneia súbita, edema agudo de pulmão, localização atípica (Epigastralgia), presença de náuseas/vômitos, sudorese, tontura e palpitações. Os pacientes que mais apresentam esse tipo de infarto sem dor são as mulheres, idosos e os que apresentam diabetes. Abordagem diagnóstica: Para realizar o diagnóstico da SCA, inicialmente iremos classificar a dor torácica em relação à SCA em: - Tipo A: definitivamente anginosa, ou seja, é um quadro típico angina típica; - Tipo B: provavelmente anginosa, ou seja, eu não tenho todas as características clássicas da dor torácica do SCA angina atípica (provável); - Tipo C: provavelmente não anginosa, ou seja, presença de equivalentes isquêmicos dor torácica não cardíaca; - Tipo D: definitivamente não anginosa. Fatores de risco para SCA: - Idade: Homens > 45 anos e mulheres > 55 anos; - IAM prévio; - História familiar em parente de 1º grau: Homens < 55 anos e mulheres < 65 anos; - Hipertensão; 3 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP - Diabetes; - Dislipidemia; - Obesidade; - Tabagismo; - Sedentarismo. Exame físico: O exame físico na SCA é pouco expressivo. Contudo, precisamos pensar nas principais alterações que nos faz pensar em uma falência de VE, de modo que a partir disso podemos pensar em prognóstico e gravidade. OBS: Sempre precisamos palpar pulsos para afastar dissecção aórtica, de modo que nesta condição iremos encontrar uma diferença entre os membros. Alterações eletrocardiográficas: A partir do ponto J (Primeira deflexão após a onda S) iremos ver um supra de ST com: - > 2 mm nas precordiais (V1-V6) ou; - > 1 mm nas periféricas (aVF, aVR, D1, D2 e D3). Importante dizer qual parede que está o supra: OBS: A parede anterior extensa pega: V1, V2, V3, V4, V5, V6, D1 e aVL. Como são perfundidos pela artéria descendente anterior que é ramo do tronco da coronária esquerda, e o VE é responsável por jogar o sangue para aorta, o sangue acaba se acumulando para trás, ou seja, para pulmão Usar drogas vasoativas. OBS1: Sempre que temos infarto de parede inferior, ele também pode estar representando um infarto de VD ou de parede posterior, por isso precisamos complementar o eletrocardiograma com V3r, V4r (para ver as outras partes do VD que não era visualizado, então colocamos essas outras derivações) V7, V8 e V9 (para visualizar a parede posterior de pessoas que tem a perfusão feita pela artéria circunflexa) No infarto de VD geralmente há hipotensão associada, então não devemos usar morfina e fornecer volume (Se infarto de VD; se parede posterior do VE não faz volume porque joga sangue para frente e na sua falência acumula-se para trás). OBS2: Sempre que tem infra em parede anterior (V1-V3), precisamos pedir V7, V8 e V9 para poder avaliar supra em parede posterior. OBS: O bloqueiode ramo esquerdo novo também é considerado uma alteração isquêmica equivalente ao Supra de ST, uma vez que o BRE mascara o supra, já que ele tem o seu próprio supra. Neste sentido, temos critérios que devem ser avaliados para pensarmos em IAM com supra e não BRE. 4 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Além disso, precisamos entender o que é imagem espelho: - Condição que ocorre geralmente quando há grandes infartos com supra de ST (ele que comanda a imagem espelho), gerando grandes infras de ST na parede contralateral (espelho). As paredes ventriculares que mais frequentemente refletem imagens recíprocas são: - Anterosseptal (V1 a V4) X inferior (D2, D3 e aVF); - Anterosseptal x ínfero-dorsal (D2, D3, aVF e V7, V8); - Anterosseptal x posterior ou dorsal (V7 e V8); - Ântero-lateral (D1, aVL, V5 e V6) x inferior. Síndrome coronariana sem supra de ST Introdução: A síndrome coronariana aguda sem supra de ST pode ser dividida em: - Angina instável: Não há lesão necrótica marcadores negativos; ECG sem supra de ST. - IAM sem supra de ST: Há necrose subendocárdica marcadores positivos; ECG sem supra de ST. Ambas são provenientes de uma oclusão parcial das artérias epicárdicas ou por uma oclusão total dos ramos perfurantes. Achados eletrocardiográficos: - Onda T apiculada Isquemia subendocárdica; - Inversão da onda T Isquemia subepicárdica; - Infradesnivelamento do segmento ST Injúria miocárdica. OBS: É importante seriar o ECG e marcadores de necrose miocárdica, fazendo de 3-3 horas. OBS: Alta do paciente com dor torácica: é feito através da avaliação do escore Heart. Caso o paciente tenha história previa de DAOP, AVC, doença aterosclerótica, placas em carótidas, ou seja, história de doenças vasculares ateroscleróticas, ele vai receber 2 pontos, independente do fator de risco. Posteriormente surgiu o Heart Pathwat, uma vez que o Heart Score ainda dava alta indevida para cerca de 1-1,8% dos pacientes. Nessa evolução, você realiza o Heart Score e posteriormente dosa a troponina após 3 horas, sendo que para esta ser positiva precisa de uma variação entre a primeira e segunda troponina de 20%. Caso a troponina de 6 horas positivar ou a observação clínica acabar mudando a história acerca do paciente ou não há diagnósticos diferenciais, devemos retornar as perguntas de quando a troponina é positiva. Se IAM sem supra ou alterações dinâmicas ou isquêmicas do ST-T ou grace > 140 iremos promover um CATE precoce, para evitar que a oclusão vire total. Terapia para SCA Pilares do tratamento: A terapia para SCA se baseia em 3 pilares: - Pilar da reperfusão: está na base, porém só é indicada quando há alteração eletrocardiográfica como Supra de ST. Entre as terapias de reperfusão temos: em até 12 horas. Reperfusão mecânica: angioplastia coronariana; Reperfusão medicamentosa: trombólise. - Pilar da terapia antitrombótica: neste caso teremos: Antiagregantes plaquetários: AAS 300 mg + 300 ou 75 mg Clopidogrel. 5 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP Anticoagulantes: Enoxparina 0,5-0,75 mg/kg SC. EVITAR ANTES DO ANGIOPLASTIA - Pilar da terapia anti-isquêmica: consiste em controlar os sintomas principais, visando reduzir a demanda miocárdica. Está no topo da terapia, uma vez que não modifica mortalidade. Nitrato 5 mg, sublingual: exceto se infarto de VD, hipotensão e uso de Sildenafil; Nitroglicerina IV em pacientes com dor refratária e hipertensos, e sem contraindicações ao nitrato; Morfina 2-10 mg, IV; Tratamento geral: Esse tratamento geral é indicado em todas as síndromes, não importando se é angina instável, IAMCSST (além dessa terapia geral temos ainda o pilar da reperfusão) ou IAMSST. Inicialmente sempre vamos começar com uma terapia adjuvante, através de antitrombóticos: 1. AAS infantil 200-300 mg mastigável; 2. 2º antiagregante: Clopidogrel 300 mg, contudo se > 75 anos iremos utilizar apenas 75 mg. 3. Anticoagulante: HEPARINA DEVE-SE EVITAR ANTES DO CATETERISMO. OBS: O AAS e o clopidogrel devem ser feitos precocemente. Posteriormente iremos fazer uma terapia anti-isquêmica através de: 1. Nitrato: Isordil: 5 mg, sublingual de 5/5 minutos, no máximo 3x Deve-se evitar o uso se IAM de VD, hipotensão ou uso de sildenafil nas últimas 24 horas; 2. Morfina: caso tenha uma dor refratária ao uso do nitrato, sendo feita de 2-10 mg, IV Deve-se evitar se IAM de VD. OBS: O nitrato e a morfina são contraindicados no IAM de VD, pois o VD age em um regime de volume, logo, se eu dou nitrato e morfina eles promovem venodilatação, o que reduz o retorno venoso para o VD, promovendo choque cardiogênico. Por fim, iremos fazer Oxigenioterapia caso Sat <90 ou 94%, através de cateter nasal 3L/min. MONABICHE: É um mnemônico que ajuda a lembrar quais drogas a serem usadas no IAM, porém não é feito na ordem dita. OBS: Betabloqueadores são contraindicados em caso de broncoespasmos, congestão pulmonar ou choque cardiogênico, BAV e hipotensão na fase aguda do infarto Promove controle da FC e consequentemente do consumo miocárdico. OBS1: IECA: deve ser feito nas primeiras 24 horas após a fase aguda do infarto tem como objetivo evitar o remodelamento cardiaco, que é prejudicial ao coração. Estratégias de reperfusão: Quando eu tenho um eletrocardiograma com supra de ST ou BRE novo devemos proceder realizando a terapia de reperfusão com urgência, de modo que não necessita de marcadores de necrose miocárdica e/ou radiografia de tórax. - Angioplastia: se os sintomas < 12 horas é sempre superior a trombólise se ambas disponíveis; - Trombólise: se sintomas < 12 horas, sendo preferível se < 3 horas. Protocolo IAM SAMU 192: Devemos acionar preferencialmente pelo telegram, sendo indicado quando há IAM com supra de ST e BRE novo. Porém, ele também pode ser acionado quando há choque cardiogênico, arritmia grave ou BAVT. É realizado o protocolo CATE, enquanto a ambulância do SAMU está vindo buscando angioplastia: - C: dobrar a dose do clopidogrel ou dose total de 600 mg; - A: acesso venoso periférico em MSE; - T: tricotomia: radial direita e inguinal bilateral vias de acesso da angioplastia; - E: evitar enoxparina. CASO NÃO HAJA vaga para ANGIOPLASTIA PRIMÁRIA ou caso tenha MAIS QUE 120 MINUTOS DO INÍCIO DO QUADRO, iremos 6 Luana Mascarenhas Couto 18.2- EBMSP pensar se o paciente tem contraindicação para trombólise, sendo elas: Caso exista contraindicação relativa, irá informar a equipe do protocolo IAM para tentar procurar melhor um centro de referência para a angioplastia. Caso não tenha contraindicação a TROMBÓLISE iremos: - Acesso venoso exclusivo ou lavado com SF 20 mL onde há glicose há uma redução do efeito do trombolítico; - PA < 185 x110 mmHg controlar a PA com drogas vasoativas; - Realizar um ECG pré-trombólise imediatamente antes; - Iniciando o procedimento: Enoxparina 0,5-0,75 mg/kg, SC, seguido de Tenecteplase de acordo com idade em bolus rápido (5-10 segundos). OBS: Se o paciente tiver > 75 anos, pelo maior risco de sangramento iremos fazer dose do trombolítico pela metade. APÓS A TROMBÓLISE, IREMOS: - Não devemos realizar procedimentos e sondagens por 6 horas; - Manter a monitorização cardíaca; - Repetir ECG após, 30, 60 e 90 minutos para avaliar a reperfusão, de modo que ela é considerado com sucesso se presente 2 dos 4 critérios abaixos. Caso falha de terapia fibrinolítica: angioplastia de resgate é indicada, não importando mais o tempo. - Idealmente realizar a ANGIOPLASTIA DE RESGATE em até 24 horas após reperfusão; - Buscar vaga de UTI para poder avaliar possíveis complicações mecânicas e elétricas, anginas pós-IAM, pericardiopatias e insuficiência cardíaca.
Compartilhar