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Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Síndrome Coronariana Aguda A angina pectoris e a SCA são coisas diferentes, a angina nada mais é do que a dor, e a SCA já tem o envolvimento da dor com algum fenômeno nas coronárias, sendo que dentro de SCA temos a que não possui a elevação do segmento ST e a que possui a elevação do segmento ST, sendo que a diferença básica é que a com supra de ST faz a oclusão completa do lúmen da coronária, e a sem supra de ST faz uma suboclusão do lúmen e pode ser tanto uma angina instável quando um infarto sem supra de ST, e a diferença entre esses dois é a elevação dos biomarcadores. Imagem mostrando uma suboclusão a esquerda e uma oclusão completa a direita. SCA sem supra de ST Como já foi dito anteriormente, os dois Dx possíveis da SCA sem supra de ST são angina instável e infarto agudo do miocárdio sem supra do segmento ST, o que vai definir vai ser a elevação dos biomarcadores, quando estão elevados, vai pesar mais para o lado do infarto sem supra do que da angina instável, pois o biomarcador se eleva quando há morte do miocárdio, se estiver infartando, é por conta da isquemia, não chega sangue vai acabar causando necrose, alterando as enzimas cardíacas (biomarcadores). No infarto sem supra, podemos ter o infra de segmento ST, como mostra a primeira imagem, ou pode fazer uma imagem sugestiva, que é a segunda, que depois do ponto J não tem nada no segmento ST (o ponto J é o que marca o final do QRS e o início do segmento ST e está na linha isoelétrica normalmente), mas há uma inversão da onda T que marca a repolarização ventricular. Além das duas imagens anteriores, pode haver a imagem da onda T apiculada e simétrica, bem grande, podendo ficar maior que o QRS. *O aparecimento de alterações do ECG apenas durante a dor é um dado muito sugestivo de isquemia miocárdica. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Primeiro sinal de isquemia é a alteração da onda T, um infradesnivelamento no segmento ST corresponde a lesão não transmural e um supradesnivelamento a uma lesão transmural. Em relação a apresentação clínica, pode ser discreta, moderada, intensa e em choque cardiogênico, essas alterações vão ser evidenciadas no eletro, que pode ser normal em uma apresentação clinica discreta, até com uma elevação do segmento ST, que é o choque cardiogênico, sendo a forma mais intensa. Ainda na imagem vemos a dosagem de troponina, que é o biomarcador de necrose cardíaca, sendo dosada na primeira hora e depois na terceira hora, vemos que nas formas mais discretas de apresentação ela não vem elevada, isso nos faz pensar que a apresentação clinica não é de causa cardíaca, pode ser uma angina instável ou outra causa cardíaca. Quando o paciente já tem uma apresentação clinica mais importante, se for sem elevação da troponina, mesmo com o infra de ST vamos para o lado da angina instável, se teve uma elevação da troponina, pode ser tanto um infarto sem supra, quanto outra causa cardíaca que deve ser investigada (são outras causas que não a oclusão da coronária pelo trombo). Quando o paciente possui o supra do segmento ST com a elevação das enzimas cardíacas, ou sem supra do segmento ST, mas com a elevação e apresentado sinais clínicos bem graves, já é quase certo que é um infarto, podendo ser um infarto com supra de ST, infarto sem supra de ST, ou pode até ser que seja outra causa cardíaca sem ser a SCA. Os principais mecanismos fisiopatológicos da SCA sem supra são: O rompimento de uma placa com a formação de um trombo é o principal mecanismo de infarto sem supra de ST, a reestenose pós angioplastia consiste na proliferação de células lisas musculares ao redor do stent (atualmente se usa stent farmacológica para impedir a reação inflamatória sobre ele que vai cursar com essa hiperplasia). Outras causas cardíacas que aumentam a troponina são: 1. Miocardite (inflamação e morte das celulas do miocárdio, que aumentam de forma importante a troponina, que não é uma doença do vaso e sim uma doença do músculo). 2. Pericardite (pode alterar a troponina por conta da proximidade que tem com o miocárdio, fazendo uma miopericardite, aumentando a troponina no sangue). 3. Isquemia por consumo (paciente que faz um pico pressórico muito grande, aumenta o consumo de oxigênio sem que ele tenha um aumento de demanda de oxigênio, isso vai causar uma isquemia e aumentar a troponina sem que esteja infartando). 4. Anemia (paciente fica taquicárdico e tem problema de troca de oxigênio, se o paciente faz algo que aumenta o consumo, não tem a Lucas Melo – Medicina Ufes 103 quantidade necessária de oxigênio para o consumo pois não tem a quantidade de hemácias necessárias para carrear o oxigênio, e pode causar uma isquemia e levar ao aumento de troponina). 5. Insuficiência renal (não filtra direito e pode dar um falso negativo para o aumento da troponina). *A enzima CKMB e CKMBm é dosada junta com a troponina, se uma tiver positiva e a outra negativa é um pouco estranho, pois a porção MBmassa é liberada pelas células miocárdicas e aumentam no infarto aguda, elas são menos específicas do que a troponina, pois o aumento de CKMB total pode ter relação com o músculo esquelético. No exame clínico do paciente, é importante se atentar para as seguintes características: No pós infarto, assim como mostra o gráfico abaixo, a troponina se eleva no infarto agudo e depois vai decaindo, até se estabilizar por volta do 14º dia, enquanto que a CKMBm (massa) tem um pico até mais precoce que o da troponina, mas ela já se normaliza por volta de uma semana, que é um tempo mais curto que o da troponina. - Algumas classificações: A classificação de Killip está bem descrita na imagem acima e se relaciona com as manifestações clinicas do paciente, podendo ir de Killip 1 a 4. Killip 1 não possui evidencia de congestão pulmonar, Killip 2 possui estertores pulmonares, Killip 3 possui edema pulmonar e Killip 4 é representado por choque cardiogênico. A classificação hemodinâmica de Forrester vai ser medida pelo índice cardiaco (débito cardíaco dividido pela superfície corpórea) e pela pressão capilar pulmonar: 1. IC>2,2 (esse é o valor adequado) e PCP<18 (esse é o valor normal, não vai ter estertores nem congestão). 2. IC>2,2 (ainda está num valor adequado) e PCP>18 (é o paciente que mantém o débito cardiaco, mas está acumulando a montante, ou seja, vai apresentar estertores e congestão, evoluindo para edema agudo de pulmão). 3. IC<2,2 (valor inadequado) e PCP<18 (adequado), estamos pensando em infarto do VD, pois abaixou o débito e a perfusão também deu uma abaixada. 4. IC<2,2 e PCP>18, é o paciente que vamos pensar numa falência de VE. A classificação Forrester modificada é aquela que tenta juntar a classificação clinica com a hemodinâmica, bem descrita na imagem. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Esse esquema mostra as informações que precisamos saber do paciente: - Identificação: Idade, sexo, etnia, histórico prévio de isquemia ou sangramentos. - Apresentação clínica: Se está frente a uma angina instável ou a um infarto sem supra. - Comorbidades: Insuficiência renal crônica, diabetes, HAS e insuficiência cardíaca. - Medicação: Acrescentar anticoagulação oral e prestar atenção na interação medicamentosa. - Procedimento: Angioplastia e cirurgia de revascularização. Todos os fatores acima vão ser importantes para definir a terapia antitrombótica, e sempre pensando na balança, que de um lado possui o risco isquêmico e do outro lado possui o risco de sangramento, cada fator desse pende para um lado da balança, por exemplo, pacientes mais novos pendem para o lado da isquemia, enquanto pacientes mais velhos pendem para o lado do sangramento, e por aí vai alinha de raciocínio para a escolha e a dose da droga. *Score de TIMI: São sete fatores de risco independentes, cada um vale um ponto e o somatório nos dá o risco do paciente que já apresenta SCA evoluir para óbito ou evento mais grave, que é o IAM. Depois de calcular os pontos, olha o risco em baixo. Outra tabela para ajudar a calcular o Escore de TIMI: *Score de GRACE: Ele também avalia o risco do paciente que já tem SCA sem supra evoluir para óbito ou um evento cardíaco mais grave, como infarto. Não precisa lembrar de cabeça, só fazer pela internet, e por ele vai calcular o risco (https://www.mdcalc.com/grace-acs-risk-mortality- calculator). - Manejo do paciente com SCA sem supra: Após chegar em um serviço de saúde apresentado os sintomas, o paciente vai ser novamente estratificado para a avaliação de procedimento invasivo frente a uma SCA sem supra. Em um risco intermediário, se enquadra o paciente que tem diabetes, insuficiência renal, fração de ejeção menor que 50% ou diagnóstico de ICC, tem dor pós infarto ou já teve angioplastia ou cirurgia de revascularização prévia, tem score de GRACE>109 e <140 ou sintomas recorrentes, esse paciente precisa de ir para um centro de saúde terciário pois precisa de passar por um procedimento invasivo em até 72 horas. Em um risco alto, se enquadra o paciente que tem o diagnóstico de infarto sem supra baseado nos marcadores miocárdicos, pacientes com alteração dinâmica do segmento ST e score GRACE>140, esse paciente já vai para um procedimento invasivo em até 24 horas. Em um rico muito alto, se enquadra o paciente que não chocou, ou seja, não tem uma oclusão completa das coronárias (sem supra de ST), mas Lucas Melo – Medicina Ufes 103 está evoluindo com instabilidade hemodinâmica ou choque, apesar das medicações está fazendo recorrência na dor precordial, faz arritmias que podem colocar a vida do paciente em risco, fez uma parada cardíaca, teve complicações mecânicas do infarto, ruptura da parede do miocárdio, é o paciente que precisa de passar pelo procedimento invasivo imediatamente, em menos de 2 horas. Professora mostrou esse quadro com os passos utilizados no SUS para o manejo dos pacientes, não é uma diretriz, mas é o que é feito no SUS e sintetiza o que foi falado acima. Historinha explicando uma possível cronologia: Paciente chega a consulta com sintomas, no primeiro contato médico se espera que ele esteja acompanhado do ECG para a pronta definição da SCA sem supra de ST, a partir disso faz o score de GRACE e define se esse paciente vai para um hospital com serviço de hemodinâmica ou vai para um hospital sem serviço de hemodinâmica, sendo que GRACE>109 já necessita de uma atenção terciária com realização de procedimento invasivo. Após chegar no serviço terciário, faz a estratificação do paciente novamente segundo os critérios apresentados acima, não só o escore de GRACE, se ele for de risco muito alto, vai fazer uma transferência imediata para o local de hemodinâmica que vai estar preparado para a realização de um procedimento invasivo imediato. Se ele for de alto risco, vai se preocupar se tem distúrbio hidroeletrolítico e ver a glicemia, preparando o paciente e fazer a transferência para a realização de procedimento invasivo no primeiro dia (primeiras 24 horas). Se o paciente for de risco intermediário, vai dar tempo não só de corrigir o distúrbio eletrolítico e glicemia, mas me preocupar com função renal e outros aspectos antes da transferência, que deve ser feita nas próximas 72 horas. Outra maneira de fazer a estratificação do paciente é seguindo a tabela abaixo: Os pacientes são classificados pelo Score de TIMI ou GRACE para ver o risco. Quando o paciente é de baixo risco, um bom exame a ser pedido é o teste ergométrico. - Tratamento: Depois de admitir o paciente e diagnosticar com uma SCA sem supra de ST e seguir para o tratamento, no serviço de emergência vai ser feita Lucas Melo – Medicina Ufes 103 uma terapia de dupla antiagregação plaquetária com a administração de anticoagulantes e preparo para a realização do procedimento (depois de fazer a medicação, fazer uma nova classificação do paciente para o risco cirúrgico e o procedimento, vai ser discutido mais para frente), claro que isso num hospital terciário. Nesses casos é utilizada a dupla antiagregação plaquetária, que é a administração de AAS associada com clopidogrel a todos os pacientes de médio e alto risco. AAS (100 mg/dia) + Clopidogrel (75 mg/dia) Em relação as antiplaquetárias, usamos a aspirina/AAS (vai agir em cima do TXA2, inibindo a ativação da glicoproteína IIb/IIIa), usa-se 200 mg de dose de ataque e 100mg/dia juntos às refeições por um período longo após o episódio. O clopidogrel vai agir na cascata antiplaquetária em cima do ADP, é um inibidor irreversível do receptor de ADP, o que reduz a agregação plaquetária. Disponível em comprimidos de 75mg, usa-se uma dose de ataque de 300mg com 75mg/dia via oral para manutenção, se for uma abordagem mais precoce, usa 600mg de clopidogrel para a dose de ataque. *Dose de ataque vai depender da intervenção que vai ser feita, se a intervenção vai ser por volta de 72 horas, não tem tanta necessidade de uma dose de ataque, mas se for uma abordagem mais precoce ou para estabilização do paciente, se usa a dose de ataque. Outros medicamentos da mesma classe do clopidogrel são o prasugrel (só pode usar esse quando conhece a anatomia coronária, é um medicamento que demora para sair do organismo, isso atrasaria a cirurgia de um paciente por exemplo), ticagrelor e cangrelor. Essas são drogas mais modernas e que substituem o clopidogrel, mas cada uma tem uma indicação. Ainda há drogas antiplaquetárias que inibem diretamente a glicoproteína GPIIb/IIIa, esse tipo de droga é administrada dentro da sala de hemodinâmica, diferente da dupla antiagregação plaquetária, que é feita na sala de emergência ou no próprio ambulatório, a exemplo dessas drogas temos eptifibatide, tirofiban e abciximab. Em relação as drogas anticoagulantes, se o paciente for para uma abordagem bem precoce, não devemos nos preocupar tanto com essas, pois vai ser usada a heparina não fracionada (UFH – inglês, HNF - português) durante o procedimento, mas se for um paciente que vai entrar numa abordagem de até 72 horas, é importante utilizar a enoxaparina em sua dose plena (1mg/kg/dose de 12 em 12 horas), só não é utilizada se houver previsão de cirurgia de revascularização nas próximas 24 horas. Existem outras drogas que inibem a cascata de coagulação como os antagonistas de vitamina K, apixaban, edoxaban e rivaroxaban (novos anticoagulantes orais). *No momento em que o paciente é admitido, ele pode estar com a dor no peito, e é importante lembrar que os medicamentos antianginosos que podem ser usados são nitratos, betabloqueadores, BCCA e até morfina. - Manejo do paciente com SCA (focar na parte pós tratamento medicamentoso): A professora explicou novamente o manejo do paciente com algumas informações a mais. Após a avaliação inicial do paciente e admissão, vai prestar atenção nos sintomas do paciente, colher o eletro e as enzimas cardíacas, e, a parir disso analisar quais são as opções para esse paciente, se ele vai para uma unidade intensiva cardiológica, vai para um hospital secundário, vai ficar em observação ou vai de alta, para essa avaliação, no Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Brasil, usa-se o score de GRACE para tomar essas decisões. Além disso, para o diagnóstico é importante prestar atenção na história clínica do paciente, nas comorbidades, fazer o ECG com 10 minutos, monitorizar os sinais vitais, os resultados dos exames e as enzimas coma até uma hora. *Se os sintomas são recorrentes e o diagnósticoainda não foi confirmado, pode fazer ECG seriados e lançar mão das derivações especiais. Depois de monitorizar, classificar e ter o raciocínio do diagnóstico do paciente, vamos pensar na terapia antitrombótica e anticoagulante que ele vai usar, na imagem vemos diferentes classes, a classe 1 é o que deve ser feito de qualquer forma para os pacientes e o nível de evidência científica é A, com um suporte de estudos sobre muito grande, pode ser classe 1 com evidência B, que é quando não tem trabalhos tão fortes para o tema. A classe IIa é aquela que potencialmente vai beneficiar o paciente, a IIb pode beneficiar o paciente, mas temos uma certa preocupação que isso cause algum malefício, e a classe III é a de contraindicação, aquilo que vai fazer mal ao paciente, se utilizar será considerado erro de prática médica. o Verde – classe I. o Amarelo – classe IIa. o Laranja – classe IIb. o Vermelho – classe III. *Para a administração desses medicamentos é mandatório ter o controle da pressão e o controle do diabetes. Depois da administração da medicação, o paciente vai novamente para a estratificação e o escore de risco, visualizando o ECG, sinais vitais, ausculta de algum murmúrio pensando em complicação, resultado dos marcadores e escore de GRACE, e volta a classificar o paciente em uma estratégia percutânea não imediata, que pode ir para um hospital secundário, em uma estratégia precoce em até 24 horas, e uma estratégia imediata até em duas horas. A estratégia explicada abaixo não é mais numa situação de urgência, e sim numa situação de pensamento para uma resolução de algo funcional depois da intervenção de emergência. *EuroSCORE é usado para definir o risco cirúrgico do paciente. *SYNTAX score é usado para comparar a anatomia coronária do paciente mais favorável a angioplastia, ou a cirurgia de revascularização miocárdica. Nessas duas classificações existem vários fatores a serem analisados, isso fica a cargo do hemodinamicista, que vai discutir com a equipe e definir o risco. Como estamos pensando numa SCA sem supra de ST, temos um pouco mais de tempo para pensar. Agora é o momento de definir se o paciente vai fazer ou não a angioplastia, ou para a cirurgia de revascularização, por isso que os escores apresentados anteriormente são importantes. Favorável para angioplastia é o paciente que Lucas Melo – Medicina Ufes 103 possui diversas comorbidades, idade maior, mais frágeis ou que possuem uma redução da expectativa de vida, pacientes com mobilidade restrita e outras condições que afetam o processo de reabilitação da cirurgia, paciente com neoplasia. Já o paciente que é favorável para a cirurgia de revascularização, é o paciente com diabetes, disfunção ventricular esquerda menor que 50%, nos pacientes que não pode ser feita a dupla antiagregação plaquetária, doenças intestinais, que já sangraram, os pacientes que já usaram o stent e o paciente faz a reestenose do stent. *A angioplastia deve ser feita com stent farmacológico, que são eluídos com fármacos que impedem a reação inflamatória do stent dificultando a reestenose, sendo que pacientes diabéticos e com uma lesão muito extensa aumentam a chance de reestenosar. *Ao considerar uma angioplastia, a obstrução maior que 50% do TCE já é indicado, para as outras artérias, uma obstrução maior que 70%, sendo que pode ser feita uma angioplastia intra-stent, que é quando você coloca um stent dentro do outro que deu problema. Após a cirurgia do paciente, as referências para reabilitação cardíaca são o uso de estatinas, controle da pressão arterial, controle dos diabetes, interrupção do tabagismo, dieta plant-based, exercício físico e peso mais próximo ao ideal. Anotações ambulatório: - Risco de doença coronariana (homem <50 anos, mulher <55 anos, se houver história na família, aumenta o risco). - Calculadora SBC para ver o risco de ter infarto ou AVC nos próximos 10 anos, quando faz esse cálculo, conseguimos ver a meta de colesterol para o paciente. - Análise de exame: FC máxima é 220 – idade do paciente e FC submáxima é 85% da FC máxima. Diabetes: - Paciente diabético e com HAS, tratar com inibidores da ECA, como o Losartana. - Dapaglifozina e Empaglifozina são inibidores da SGLT2 e tem efeito natriurético, trata o diabetes em cardiopatas pela eliminação de glicose pela urina. - Inibidores da DPP4 também tratam diabetes e possuem um efeito de proteção cardiovascular, como vildagliptina e a sitagliptina. - Manter a glicemia do paciente entre 6,5 e 7, acompanhar pela hemoglobina glicada. Colesterol: - Ver a meta de colesterol na calculadora da SBC, medicamento usados são sinvastatina (média potência) e rosuvastatina (bem potente). - As estatinas aumentam as transaminases, por isso pedir TGO e TGP para fazer o acompanhamento. HAS: - Metoprolol e propranolol são betabloqueadores e diminuem a frequência cardíaca. - Hidroclorotiazida é um diurético e ajuda no controle da pressão. - Hidralazina é um vasodilatador direto (faz vasodilatação periférica) e regula a pressão arterial. Outros: - Anlodipino é um bloqueador do canal lento de cálcio, diminui o influxo de cálcio e é usada para tratar a isquemia miocárdica. - Zolpidem é um hipnótico, receitado para pacientes que tem dificuldade de dormir. - Morfina em pacientes pode diminuir o retorno venoso para o coração, o que tem que ficar de olho no infarto do VD, estar pronto para fazer o volume ao usar a morfina. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 SCA com supra de ST Existe uma alteração eletrocardiográfica, na qual o segmento ST está acima da linha de base do ECG, essa síndrome é causada pela oclusão aguda total da coronária, sendo que o principal mecanismo é a aterotrombose, que é a formação de um trombo sobre uma placa de ateroma rompida, sendo que nem sempre são as placas com maior obstrução que tem maior chance de causar infarto. *Outras fontes de trombo coronariano são endocardite infecciosa, trombo mural, trombose de prótese valvar, etc. A isquemia causada pela oclusão aguda faz com que ocorra um déficit contrátil segmentar, no qual o segmento isquêmico fica com acinesia ou até discinesia, quando a área isquêmica for mais que 20-25% do miocárdio do VE, se instala um quadro de insuficiência ventricular esquerda, que pode evoluir com edema aguda de pulmão, se a isquemia ocupa uma área maior que 40% do miocárdio, há um grande risco de choque cardiogênico, por conta do aumento da pressão de enchimento do VE e o baixo débito dele. *A disfunção diastólica é mais precoce que a disfunção sistólica, ocorre um aumento da pressão de enchimento do VE por ele não conseguir relaxar o suficiente, nisso aparece a B4 e pode surgir a congestão pulmonar, prestar atenção nisso, pois o surgimento da B4 é a regra do IAM, pois reflete a ocorrência da disfunção diastólica do VE. A necrose causada pela isquemia começa a se manifestar após 30 minutos, iniciando na região subendocárdica, se estendendo para a periferia, que é o epicárdio, isso pode ir até 6-12 horas, sendo que se a necrose ocupar toda a parede do miocárdio, é chamada de transmural, se não se estender por toda a parede, é não transmural. O que determina a evolução ou não para necrose do miocárdio? 1. Capacidade de redes colaterais. 2. Consumo miocárdico de oxigênio. 3. Reperfusão precoce. Quando ocorre a oclusão aguda, a rede de colaterais vai ser importante para levar oxigênio para as partes em sofrimento, sendo que quanto mais velha a pessoa for, mais extensa vai ser a sua rede de colaterais. Se as células do coração estão exigindo uma quantidade maior de oxigênio para se manterem vivas, o sofrimento isquêmico vai ser maior, pois está consumindo mais O2 e não está chegando mais O2 para continuarsuprindo, isso piora a necrose. Quanto mais rápido for feita a canalização da coronária, voltando o fluxo sanguíneo na região, menor será a área de necrose, essa reperfusão pode ser feita tanto por trombolíticos ou por angioplastia. - Manejo do paciente com IAMST: Quando o paciente classificado com uma dor intensa chega ao serviço vindo de ambulância ou de um setor de atendimento secundário, é mandatório que seja realizado um ECG nos primeiros 10 minutos, às vezes, até a triagem deve ser um pouco mais rápida para agilizar o ECG do paciente, sendo que a história clinica pode ser completada depois. Se no serviço que eu estou, eu admito o paciente, faço o diagnóstico de IAMST, mas não possuo o serviço de hemodinâmica, tenho que pensar se esse paciente vai conseguir ser transferido para um centro com hemodinâmica em até 120 minutos, se a resposta for não, inicia a terapia com fibrinolítico para quebrar o trombo e reperfundir o paciente. Se o paciente vai sim conseguir ser transferido para um centro com hemodinâmica em até 120 minutos, faz a transferência. *A fibrinólise só é equiparada a angioplastia, se ela é feita entre 30 e 60 minutos do início do quadro, por isso que pode fazer administração de fibrinolítico na ambulância, se já passou esse tempo, pende para a angioplastia primária. Mas, se esse paciente já chega para você, e você está num hospital terciário com centro de hemodinâmica, opta-se pela estratégia invasiva. *Sinais de reperfusão do miocárdio é a diminuição ou desaparecimento do supra do segmento ST, algumas arritmias, etc. Os tratamentos para o IAMST também possuem seu risco, como a fibrinólise, que faz a dissolução do trombo, mas também pode causar sangramentos, principalmente um sangramento cerebral. Infarto do miocárdio é diferente de injúria miocárdica, ou seja, eu posso ter evidência de isquemia, sem ter uma lesão, como as alterações nas enzimas cardíacas por conta de outros eventos no coração, mas que não são infarto, como mostra a imagem: Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Ainda dentro de todo esse espectro, existe a classificação clinica dos diferentes tipos de infarto do miocárdio, como mostra a imagem: Essa classificação é usada para IAMST e IAMSST. *O infarto do tipo 1 é o clássico, e o infarto do tipo 2 antes não era classificado como infarto, mas hoje se usa essa classificação. *Injúria miocárdica é classificada como toda vez que há um valor aumentado de enzimas cardíacas, especialmente, da troponina. Para saber se está infartando mesmo, tem que ver se o quadro se classifica nos tipos 1, 3, 4 ou 5, que são causas mais cardíacas em si. Infarto do tipo 1 com a rotura da placa e formação do trombo, que causa uma oclusão total, acompanhado de sintomas de IAM, alteração enzimática, alteração isquêmica no ECG, desenvolvimento da onda Q patológica (reflete o desenvolvimento da inatividade elétrica transmural), exames de imagem que mostram o funcionamento das paredes, como o ECO, que pode deflagrar paredes batendo de formas diferentes. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 O infarto do tipo 2 retrata o paciente que tem o desbalanço na relação de oferta e consumo de O2, ele pode ser secundário a alguma doença ou algum processo, a apresentação clássica é com dor torácica, mas pode ser acompanhado de dispneia e cansaço. Os mecanismos podem ser aterosclerose fixa, espasmo coronariano, embolia coronariana, taquicardia sustentada, dissecção de coronária, bradicardia grave, anemia grave, insuficiência respiratória, etc. Assim como mostra a imagem abaixo, o infarto vai ocorrer por conta do desbalanço entre a quantidade de sangue que chega nos ventrículos e a quantidade de sangue necessária para o funcionamento pleno dos ventrículos. A quantidade de sangue que é bombeada pela ventriculo na sístole, sobre a quantidade de sengue que está dentro do ventrículo na diástole é chamada de fração de ejeção. O infarto do tipo 3 é aquele paciente que sofreu morte súbita, paciente que morrer por sintomas sugestivos de isquemia, tinha alterações eletrocardiográficas, como BRE (bloqueio do ramo esquerdo), supra de ST e alteração da onda T, teve fibrilação ventricular ou foi detectado na autopsia. Algumas doenças relacionadas são cardiomiopatia hipertrófica, anomalia de artérias coronárias, displasia congênita do ventriculo direito, etc. Quando o infarto é causado pelo procedimento, pode ser do tipo 4 ou tipo 5. RNM mostrando alteração isquêmica e não isquêmica, e a questão da trasmuralidade. Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Evolução do IAM e remodelamento. Resumo do que fazer no IAM quando o paciente chega para você: 1. Fazer o ECG em 10 minutos. 2. Pode fazer O2 nasal com saturação menor que 90%. 3. Acesso venoso periférico e calibroso. 4. Nitrato sublingual se PAS>90mmHG e/ou FC>50bpm (sempre questionar sobre os inibidores da fosfodiesterase – comprimido azul). 5. AAS (DPAT – dupla antiagregação). 6. Monitorização contínua do ECG e PA. 7. Colher enzimas cardíacas, 8. Se no ECG não houver supra, aguardar as enzimas. 9. Se no ECG houver supra, discutir entre trombólise e angioplastia primária, dependendo do local onde o paciente está. O exame laboratorial no PS deve ter: Hemograma (afastar anemia e infecção), CKMBm e troponina (afastar isquemia miocárdica), eletrólitos (Na, K e Mg), gasometria arterial e lactato, ureia e creatinina e glicemia. Depois de analisar os exames e definir o dx de IAMST, o tratamento a ser realizado é: o AAS 200 mg. o Clopidogrel 300 ou 600mg. o Heparina (se for para angioplastia, aguardar o procedimento. o Oxigênio. o Nitrato sublingual ou venoso (tomar cuidado com IAM do VD, nesse caso, o que se deve fazer é administração de volume, e não nitrato). o Inibidor da enzima de conversão de angiotensina como enalapril e captopril (ajuda a não fazer a expansão da área miocárdica no remodelamento). o Bloqueador beta adrenérgico (avaliar após 24h). No IAMSST é para estratificar o risco pelo escore de GRACE e o de TIMI e utilizar exames complementares como teste ergométrico, eco com estresse e cintilografia. Já no IAMST é para fazer Cineangiocoronariografia para decidir conduta, podendo ser angioplastia, cirurgia de revascularização e tratamento medicamentoso otimizado. Em relação a classificação de TIMI, vamos utilizar as seguintes graduações: O objetivo é alcançar o TIMI 3 após o tratamento, pois é o que possui a menor mortalidade em 42 dias. - Fibrinólise: Mesmo quando o tempo é menor que 120 minutos, e o tratamento com fibrinólise seria equiparado ao tratamento com a angioplastia primária, existem contraindicações absolutas para a fibrinólise: Lucas Melo – Medicina Ufes 103 Essas são as indicações que temos que pesar a utilização da terapia. - Orientações da alta hospitalar: Antes da alta hospitalar fazer um teste ergométrico submáximo para ver as condições do paciente em termo de cansaço, alteração eletrocardiográfica, etc, e um Ecocardiograma transtorácico, para ver o movimento das paredes. O paciente vai fazer o uso de AAS 100 mg por toda a vida, associado ao clopidogrel 75mg por 12 meses, uso de betabloqueadores e IECA (nas maiores doses toleradas) e estatinas (para manter o LDL menor que 70 mg/dl), além disso, fazer o controle de diabetes, mudança do estilo de vida como dieta mediterrânea, caminhar 20 minutos no mínimo 3x/semana, buscando atingir o ideal de km/h todos os dias e extinguir o tabagismo, se presente. - Complicações do IAM: Podem ser hemorrágicas, angina pós IAM, pericardite precoce (irritação do pericardio por conta do infarto que fica em contato e inflama) ou tardia (chamada de sindrome de Dressler, tem uma origem autoimune), complicações mecânicascomo a ruptura de parede livre, ruptura de SIV (septo interventricular), insuficiência mitral (pode ocorrer por dilatação do anel mitral, isquemia do músculo papilar, ruptura do músculo papilar), além de aneurisma de ventriculo esquerdo, IAM de VD e infarto atrial (cursa com arritmias). - MINOCA x INOCA: MINOCA significa myocardial infarction with no obstructive coronary artery disease e INOCA significa myocardial ischemia with no obstructive coronary artery disease. Os agentes que causam a MINOCA podem epicárdicos, pode ser ruptura ou erosão da placa coronariana, trombose coronária espontânea, microvasculares como miocardite, cardiomiopatia de Takotsubo, e a INOCA, que é quando não tem um acometimento direto do miocárdio pode ser causada por angina vasoespástica e desordens da microcirculação coronária, como um fluxo lentificado na coronária, angina microvascular e espasmo microvascular. Portanto, na MINOCA você vai ter uma alteração eletrocardiográfica, vai ter uma elevação de troponina, o que vai caracterizar o infarto, mas não vai ter uma obstrução coronariana, e, nesses casos, temos que partir para a investigação das possíveis causas disso. - Sindrome coronariana aguda por COVID-19: As duas etiopatogêneses dessa sindrome são a trombose (alteração nos fatores de coagulação), progressão das lesões coronárias pré-existentes nos pacientes por conta do estado inflamatório sistêmico que o covid causa, se ela for causada pela trombose, o melhor tratamento é administração de trombolítico e manter a anticoagulação, já se for pela progressão da doença, fazer a angioplastia com stent, deixar com dupla antiagregação e avaliar bem o risco de sangramento, pois, se for possível, deixar com um anticoagulante também por conta do estado pró- trombótico causado pelo covid. - Sindrome de Takotsubo: Pode ser encontrada em 1 a 2% dos pacientes com IAMST, geralmente é desencadeada por estresse físico ou emocional intenso (injúria miocárdica que ocorre após uma intensa liberação de Lucas Melo – Medicina Ufes 103 catecolaminas devido estresse), acometendo em maior número as mulheres pós menopausa, vamos ver um padrão de balão na coronariografia, a contração ventricular na base é normal, mas está acinético na ponta, e fica parecendo um balão na sístole, pois o ápice não contrai. Como não tem obstrução nenhuma, o tratamento desses pacientes é focado no suporte, administração de betabloqueador e IECA. Como se o paciente desenvolvesse uma cardiomiopatia por estresse, sendo que é necessários 4 critérios para fazer o diagnóstico de Takotsubo: - Insuficiência renal e IAM: Síndrome cardiorrenal significa que doenças cardíacas podem fazer alteração renal, e doenças renais podem fazer alteração cardíaca, a insuficiência cardíaca pode gerar uma congestão renal, o uso de medicamentos pode gerar toxicidade renal, alterações miocárdicas alteram o ANP e BNP, que são peptídeos de natriurese, e o excesso deles pode bloquear a produção dos natriuréticos causando um curto circuito de resposta renal, sistema renina-angiotensina- aldosterona modificado, além disso, a IR pode gerar prejuízo na produção de mediadores inflamatórios, fatores de coagulação, anemia que pode causar isquemia miocárdica pelo desbalanço. - Dissecção espontânea: Rara e subdiagnosticada, que nada mais é do que quando uma artéria coronária faz uma dissecção espontânea, afeta mais mulheres jovens e gestantes, normalmente, o que vemos na angiografia é uma estenose longa e difusa, as vezes pode ser visto o Flapping, assim como na dissecção de aorta. O tratamento é conservador e pode ter uma cicatrização espontânea, ficando apenas na observação, poucos casos que a abordagem é por stent. A terapia conservadora é contraindicada se o paciente começar a fazer sinal eletrocardiográfico de isquemia, se o paciente já teve alta e voltou, se o paciente evolui com choque cardiogênico, se está fazendo arritmias graves e se essa dissecção for no tronco da coronária esquerda. - Síndrome de Dressler: É uma sindrome que cursa com pericardite por uma reação autoimune depois de um IAM, paciente pode chegar com dor no peito, febre, dificuldade de respirar, fadiga, e na ausculta vamos ouvir atrito pericárdico, mas a ausência dele não exclui o diagnóstico, por isso fazer o ECO, nos exames laboratoriais PCR e VHS vão estar aumentados, deflagrando o processo inflamatório, sendo que o tratamento é específico para diminuir a dor e inflamação.
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