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Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 1 PLANEJAMENTO FAMILIAR O planejamento familiar é um direito de mulheres, homens e casais e está amparado pela Constituição Federal, em seu artigo 226, parágrafo 7º e pela Lei 9.263 de 1996, que o regulamenta. Cabe ao Estado prover recursos educacionais e tecnológicos para o exercício desse direito, bem como profissionais de saúde capacitados para desenvolverem ações que contemplem a concepção e a anticoncepção. Deve abranger: . Métodos contraceptivos . Saúde sexual . Saúde reprodutiva . Dispor dos métodos e técnicas para controle da fecundidade . Ampla gama de opções, para que os clientes possam escolher livremente, de forma segura e confiável, o método mais adequado, para os diferentes momentos de sua vida reprodutiva, de acordo com sua história de saúde e adaptação. O Planejamento Familiar é desenvolvido principalmente na Atenção básica pela Estratégia Saúde da Família. A introdução da contracepção permitiu à mulher escolher se deseja ou não ter filhos e, em caso positivo, o momento em que considera seu desejo propício. A gravidez não planejada ainda é um problema de saúde pública e uma preocupação mundial. No Brasil, cerca de 55,4% das gestações não são planejadas. . Maior risco de morbimortalidade materna e neonatal . Prejuízo na esfera socioeconômica com impacto no nível da educação da mulher e na renda dessas famílias Apenas 2% das mulheres brasileiras, que usam contraceptivos, estão em uso de LARC (long- acting reversible contraceptives) . Apenas um tipo de LARC (dispositivo intrauterino de cobre, DIU-Cu) está disponível gratuitamente no sistema público de saúde . Há falta de treinamento em inserção e manejo desses métodos na maioria dos programas de residência médica . Falta de conhecimento das mulheres sobre as vantagens desses métodos . Desinformação de alguns profissionais da saúde que criam barreiras para uso desses métodos Os LARC são métodos contraceptivos em que o intervalo de administração é igual ou superior a três anos.4 Com uma efetividade maior que 99%, os LARC são considerados os contraceptivos reversíveis mais efetivos e possuem alta taxa de continuidade.6 São representados pelos dispositivos intrauterinos e pelos implantes. PROBLEMA 5 PLANEJAMENTO FAMILIAR E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 2 CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE A Organização Mundial da Saúde (2010) publicou orientações com base em evidências para o uso de todos os métodos contraceptivos reversíveis altamente efetivos, por mulheres, considerando os diversos fatores relacionados com a saúde. MÉTODOS CONTRACEPTIVOS Há uma grande e crescente variedade de métodos efetivos para controle da fertilidade. ® Nenhum é totalmente livre de efeitos colaterais ou de riscos potenciais ® A disponibilidade de métodos contraceptivos é essencial para a atenção à saúde da mulher considerando-se que até 50% das gravidezes nos EUA são indesejadas Os métodos estão agrupados de acordo com sua efetividade. MÉTODOS DE PRIMEIRA LINHA Incluem os dispositivos intrauterinos, implantes contraceptivos e diversos métodos de esterilização feminina e masculina . Mais efetivos . Facilidade de uso . Mínima motivação da usuária ou intervenção e apresentam índice de gravidez não desejada inferior a 2 em 100 durante o primeiro ano de uso . A redução do número de gravidezes indesejadas é mais facilmente obtida aumentando-se o uso desses métodos Dispositivo intrauterino com liberação de levonorgestrel (DIU-LNG) Comercializado como Mirena, este DIU libera levonorgestrel a uma taxa relativamente constante de 20 mg/dia. . A dose pequena reduz os efeitos sistêmicos de progestogênio. Esse dispositivo possui estrutura de polietileno em forma de “T”, sendo que a haste vertical é envolvida por um cilindro contendo uma mistura de polidimetilsiloxano e levonorgestrel. . O cilindro possui uma membrana permeável, que regula a taxa de liberação do hormônio. . Cada dispositivo tem prazo de validade de cinco anos após sua inserção. Mecanismo de ação . O progestogênio torna o endométrio atrófico . Estimula a produção de muco cervical espesso que bloqueia a penetração dos espermatozoides no útero Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 3 . Reduz a motilidade das tubas, o que evitaria a união de óvulo e espermatozoide. Contraindicações Efeitos colaterais . Acne . Sensibilidade mamária . Edema . Cefaleia . Alteração na libido . Alteração de humor . Nos primeiros 3 meses apresentam sangramento frequente e/ou prologando Dispositivo intrauterino de cobre em forma de T- 380ª (DIU-Cu) Comercializado com o nome ParaGard, é composto por uma haste envolvida por 314 mm de fio de cobre, e cada braço contém um bracelete com 33 mm2 de cobre – a soma conforma 380 mm2 de cobre. Dois fios se estendem desde a base da haste. O DIU-Cu está aprovado com prazo de validade de 10 anos de uso contínuo, embora se tenha comprovado que é capaz de evitar a gravidez em uso contínuo por até 20 anos. Mecanismo de ação . Reação inflamatória local induzida dentro do útero pelo cobre – ativa lisossomos e outras ações inflamatórias que têm ação espermicida. O cobre é tóxico para o espermatozóide, altera a motilidade no muco cervical e a capacidade de entrar no óvulo. . A ovulação em si não é impactada. . Reação pode se dirigir ao blastocisto . O endométrio torna-se hostil a implantação . Modificação no muco cervical: altera a quantidade e a viscosidade . Modificações na tuba uterina: dificulta a migração espermática e inibe a fertilização Contraindicações Implantes de progestogênio Pode-se obter contracepção por meio de dispositivo contendo progestogênio a ser implantado abaixo da derme para liberação do hormônio ao longo de muitos anos. Os dispositivos são cobertos por um polímero a fim de evitar fibrose. No Brasil, o único liberado pela Anvisa é o implante liberador de etenogestrel, que é um contraceptivo que contém apenas progestogênio (Implanon NXT). Esse método tem duração contraceptiva de pelo menos 3 anos. No Brasil, ele não é distribuído gratuitamente pelo SUS, sendo adquirido na rede privada ou em programas públicos municipais especiais para adolescentes ou população vulnerável. Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 4 O implante consiste em uma haste única de 40 mm por 2 mm, feita de plástico e que libera o progestagênio etonogestrel, que é o metabólito ativo do desogestrel (sendo este presente em pílulas que contém apenas progestogênio). Mecanismo de ação . Ele é inserido normalmente no braço não dominante em região subdérmica, em face interna, em cima do tríceps. . Inicialmente, o implante libera 60-70 μg de etenogestrel/dia, diminuindo para 35-45 μg de etenogestrel/dia no fim do primeiro ano, chegando a 25- 30 μg de etenogestrel/dia no fim do terceiro ano. . Modificação no muco cervical: altera a quantidade e a viscosidade . Modificações na tuba uterina: dificulta a migração espermática e inibe a fertilização . Inibição quase total da ovulação Indicações . Mulheres com dificuldade de lembrar do uso diário das pílulas . Baixa adesão aos métodos de curta ação . Contraindicação aos métodos combinados: presença de HAS, enxaqueca com aura . Método sexual discreto Contraindicações . Gravidez . Trombose . Distúrbios tromboembólicos . Tumores hepáticos benignos ou malignos. Doença hepática em atividade . Sangramento genital anormal não diagnosticado . Câncer de mama Efeitos colaterais . Cefaleia . Ganho de peso . Acne . Mastalgia . Labilidade emocional . Alteração do padrão de sangramento Contracepção permanente - esterilização As duas formas mais empregadas são ligadura tubária bilateral – frequentemente via laparoscopia – e esterilização tubária histeroscópica. Esta última tornou- se popular e, em alguns cenários, é utilizada em até metade das esterilizações em não puérperas. Esterilização tubária Procedimento geralmente realizado com obstrução ou secção das tubas uterinas para impedir a passagem do óvulo e, consequentemente, sua fertilização. Aproximadamente metade das esterilizações tubárias é realizada junto com cesariana ou logo após parto vaginal. Há 3 métodos para ligadura tubária: . Eletrocoagulação: destruição de um segmento da tuba e pode ser realizada com corrente elétrica unipolar ou bipolar. . Anel de silicone: método mecânico com anel de falópio ou anel tubário . Clipe de mola Hulka-Clemens Clip (Wolf Clip) . Clipe de titânio revestido de silicone Filshie Clip Efeitos colaterais . Gravidez ectópica: alta incidência . Irregularidades menstruais Histerectomia A histerectomia é o tratamento de escolha na mulher com prole definida. No entanto, vale considerar a idade da mulher e a possibilidade de nova união no futuro, principalmente nos dias atuais. Histerectomia abdominal, histerectomia vaginal, histerectomia laparoscópica clássica ou por robótica Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 5 dependem da estrutura da unidade de saúde e da expertise do médico assistente. A ablação endometrial, por qualquer técnica, só tem indicação quando, definitivamente, a mulher não quer mais engravidar. Esterilização masculina O procedimento é realizado em consultório com analgesia local e geralmente demora 20 minutos ou menos. Uma pequena incisão é feita no saco escrotal e o lúmen do ducto deferente é seccionado para bloquear a passagem dos espermatozoides oriundos dos testículos. Comparada com a esterilização tubária feminina, a vasectomia tem probabilidade 30 vezes menor de insucesso e 20 vezes menor de complicações pós- operatórias. A esterilidade pós-vasectomia não é imediata nem seu início pode ser previsto com segurança. O período para que se complete a eliminação de todos os espermatozoides acumulados distalmente à interrupção do ducto deferente é variável e requer aproximadamente três meses ou 20 ejaculações. MÉTODOS DE SEGUNDA LINHA As formulações contendo hormônios, incluindo contraceptivos orais combinados (COCs), contraceptivos contendo apenas progestogênio (COPs) e contraceptivos com estrogênios e/ ou progestogênios de uso sistêmico por injeção, adesivo transdérmico ou anel intravaginal são consideradas contraceptivos muito efetivos. . Taxa de fracasso esperado varia entre 3 e 9% durante o primeiro ano — a taxa alta provavelmente é reflexo de uso inadequado sem nova dosagem no intervalo apropriado. . A eficácia depende fundamentalmente da usuária . Os sistemas automatizados de lembrete para esses métodos de segunda linha têm se mostrado ineficazes. Anticoncepcional hormonal combinado (CHCs) São contraceptivos que contêm um estrogênio e um progestogênio. Os contraceptivos hormonais combinados (CHCs) estão disponíveis em três formatos: . Pílulas contraceptivas de uso oral . Adesivo transdérmico . Anel intravaginal Mecanismo de ação Os CHCs produzem múltiplas ações contraceptivas. . Inibição da ovulação por supressão dos fatores liberadores de gonadotrofina hipotalâmica, o que impede a secreção hipofisária do hormônio folículo- estimulante (FSH) e do hormônio luteinizante (LH). . Os estrogênios suprimem a liberação de FSH e estabilizam o endométrio impedindo a metrorragia – processo que nesse cenário é conhecido como sangramento breakthrough. . Os progestogênios inibem a ovulação suprimindo o LH, além de produzirem espessamento do muco cervical para retardar a passagem dos espermatozoides, tornando o endométrio desfavorável à implantação. Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 6 . Os CHCs produzem efeitos contraceptivos por meio dos dois hormônios e, quando tomados diariamente por 3 de 4 semanas consecutivas, proporcionam proteção virtualmente absoluta contra concepção. Pílulas contraceptivas orais combinadas Pílulas monofásicas: foram desenvolvidas com a intenção de reduzir a quantidade total de progestogênio por ciclo sem sacrificar a eficácia contraceptiva. ® Baixa dose de progestogênio inicial, sendo aumentada mais tarde ao longo do ciclo. Essa dose mais baixa reduz a intensidade das alterações metabólicas e os efeitos adversos. Adesivo transdérmico O adesivo possui uma camada interna contendo a matriz hormonal e uma camada externa resistente à água. O adesivo é aplicado às nádegas, região inferior do segmento proximal do braço, abdome inferior ou região superior do dorso, evitando as mamas. O adesivo fornece uma dose diária de 150 mg de progestogênio norelgestromina e 20 mg de etinilestradiol. É constituído de três adesivos, que devem ser usados a partir do primeiro dia de menstruação e trocados a cada sete dias, até completar 21 dias, seguidos de uma semana sem adesivo por ciclo. Como vantagens, apresentam alta eficácia e facilidade de uso. Anel transvaginal O anel vaginal é um contraceptivo hormonal combinado que contém etinilestradiol e etonogestrel. É um método anticoncepcional de alta eficácia, praticidade e facilidade de uso. Apresenta bom controle de ciclo, com poucos efeitos colaterais. Está indicado principalmente para aquelas jovens que se esquecem de tomar os comprimidos ou que apresentam intolerância gástrica. O anel é removido após três semanas e a paciente assim permanece durante uma semana para permitir que haja sangramento. Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 7 Administração intramuscular Podem ser utilizados os constituídos exclusivamente de progestagênios ou os associados com estrogênio. Os injetáveis hormonais combinados mensais são métodos de grande aceitabilidade entre as adolescentes, podendo ser prescritos observando-se as contraindicações, que são semelhantes às dos anticoncepcionais hormonais combinados orais. Vantagens: . Facilidade de uso, por não dependerem de ingestão diária regular pela paciente . Esse método mostrou boa taxa de aceitação e satisfação entre as adolescentes . Alta eficácia . Bom controle do ciclo menstrual . Melhora da dismenorreia e da irritabilidade O injetável trimestral compreende o uso de um progestagênio isolado, o acetato de medroxiprogesterona. . Praticidade . Facilidade de uso . Alta eficácia . Retorno à fertilidade que pode demorar de 6-8 meses . Indicação precisa para a jovem que está amamentando, é portadora de alguma doença, como anemia falciforme, epilepsia, retardo mental, ou tenha contraindicação para uso de estrogênio . Perda de massa óssea, durante sua utilização em longo prazo — as usuárias devem receber recomendação para ingerir dieta com quantidade adequada de cálcio e vitamina D e ser estimuladas a praticar exercícios. Situações especiais e o uso de Anticoncepcionais hormonais Idade avançada Gestações em idade avançada estão associadas a maior risco de hipertensão, diabetes mellitus e morte materna. A idade é um fator de risco independente para doença cardiovascular e tromboembolismovenoso, mas, isoladamente, não contraindica o uso de nenhum método contraceptivo. Deve-se estar atento às condições que podem estar associadas ao aumento da idade, e que contraindicariam o uso de métodos combinados (tabagismo, obesidade, hipertensão, diabetes mellitus, enxaqueca, entre outras). Os métodos contraceptivos devem ser mantidos até a menopausa ou até que se complete a idade de 55 anos. Hipertensão Arterial Sistêmica Os contraceptivos hormonais contendo etinilestradiol interferem no sistema renina- angiotensina- aldosterona, por meio do aumento da síntese hepática de angiotensinogênio. Essa elevação pode ser clinicamente importante em mulheres predispostas e por essa razão, contraceptivos hormonais combinados costumam ser proscritos em mulheres hipertensas. Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 8 . Hipertensas têm maior chance de apresentar eventos tromboembólicos. Esse risco, somado ao aumento do risco de eventos tromboembólicos dos contraceptivos combinados, também justifica a contraindicação desses métodos em pacientes hipertensas, mesmo que controladas com medicação. Diabetes Mellitus Estima-se que 2 a 4% das mulheres entre 20 e 39 anos de idade sejam portadoras de diabetes mellitus. O controle glicêmico pré-gestacional é mandatório para a redução do risco de malformações fetais e eventos adversos na gestação. Dessa maneira, o aconselhamento pré-concepcional é de suma importância, e, nesse contexto, a contracepção eficaz tem papel de destaque. . Maior risco de risco de fenômenos tromboembólicos arteriais, como acidente vascular cerebral (AVC) e infarto agudo do miocárdio (IAM) — avaliar a combinação das características da doença, especialmente ao utilizar métodos combinados, uma vez que o componente estrogênico também se associa a maior risco de eventos tromboembólicos. O uso de contraceptivos combinados é proscrito nas pacientes que possuam lesões de órgãos-alvo decorrentes do diabetes mellitus (nefropatia, neuropatia e retinopatia). Deve-se presumir algum grau de lesão de órgão-alvo, mesmo que não documentada, naquelas em que a doença já tem mais de vinte anos de evolução; estas, portanto, também não devem usar métodos combinados. O uso de acetato de medroxiprogesterona também deve ser evitado nesses grupos de risco. Tabagismo Aumenta significativamente o risco de infarto e demais eventos tromboembólicos. Contraceptivos hormonais combinados podem ser usados por mulheres com menos de 35 anos de idade que não apresentem outros fatores de risco para doença cardiovascular. Para mulheres com mais de 35 anos, métodos combinados devem ser evitados. Fumar tem outros efeitos associados, como a aceleração do metabolismo do etinilestradiol no citocromo p450 — essa pode ser a razão de mulheres tabagistas apresentarem episódios hemorrágicos. O metabolismo da nicotina também é acelerado pelo uso de pílulas combinadas, o que pode reforçar a dependência em relação à nicotina. Obesidade A obesidade e o sobrepeso promovem aumento do risco cardiovascular de duas vezes do risco de eventos tromboembólicos. A obesidade não contraindica o uso de nenhum método contraceptivo — que torna proibitivo o uso de métodos combinados é a associação com outros fatores de risco para doença cardiovascular (idade avançada, tabagismo, hipertensão, diabetes mellitus e dislipidemia). Caso se opte pelo uso de métodos combinados em pacientes obesas, deve-se pensar no uso de menores doses de etinilestradiol, ou pílulas com valerato de estradiol, e escolher progestágenos menos trombogênicos (como o levonorgestrel), já que o estrogênio também aumenta o risco de eventos tromboembólicos (aumenta quatro vezes). . O uso do acetato de medroxiprogesterona de depósito (AMPD) deve ser repensado nessas pacientes pela possibilidade de piora do perfil lipídico. . Os adesivos (combinados) devem ser evitados em mulheres com peso acima de 90 kg, pois estão associados a maior falha contraceptiva. Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 9 Dislipidemias Aumento do colesterol total, da lipoproteína de alta densidade (HDL) e da lipoproteína de baixa densidade (LDL) são fatores de risco para doença cardiovascular. Apesar de o uso de contraceptivos hormonais combinados aumentar o risco de infarto do miocárdio e de acidente vascular cerebral de mulheres em idade reprodutiva, esse risco permanece baixo para mulheres que têm dislipidemia sem outros fatores de risco para doença cardiovascular. O diagnóstico prévio de dislipidemia sem outros fatores de risco para doença cardiovascular não impede o uso de nenhum tipo de contraceptivo. História de trombose e trombofilias O uso de contraceptivos hormonais combinados está associado ao aumento de risco de eventos tromboembólicos de cinco vezes quando se compara às não usuárias, mas em menor magnitude que o risco de eventos tromboembólicos associados à gestação. O aumento de risco é maior nos primeiros seis meses de utilização, e pode ser maior de acordo com a dose de estrogênio (pílulas com menos de 50 mcg de etinilestradiol têm menor risco) e com o tipo e dose do progestágeno utilizado na combinação (desogestrel, gestodeno e drospirenona teriam maior risco do que o levonorgestrel, por exemplo). Em caso de trombose venosa prévia, o uso de métodos combinados está proscrito. Pode-se usar todos os métodos de progesterona. Na trombose venosa aguda há recomendação de só se iniciar método contraceptivo de progestágeno isolado após estabelecer anticoagulação. Diante de tromboembolismo em território arterial (IAM, AVC isquêmico em território arterial, trombose arterial), métodos combinados também estão proibidos. 1. Se a paciente não estava em uso de progestágeno isolado durante o evento, pode-se iniciar progestágeno isolado após estabelecida a anticoagulação. 2. Se estava em uso de um progestágeno (pílula oral de progestágeno, AMPD, implante de etonorgestrel) durante o evento, aquele método deve ser descontinuado 3. Se a paciente teve infarto agudo do miocárdio em uso de sistema intrauterino liberador de levonorgestrel (SIU-LNG), 4. Se a paciente teve AVC isquêmico em uso de SIU- LNG, ele pode ser mantido. 5. Nos casos de eventos tromboembólicos em território arterial, não se deve usar injetável trimestral, pelo risco potencial de piora do perfil lipídico. . Em Trombofilias hereditárias (mutação do fator V Leiden, mutação do gene da protrombina, deficiência de proteína C, deficiência de proteína S e deficiência de antitrombina), não se deve usar métodos combinados pois aumentam o risco de trombose nessas pacientes em 2 a 20 vezes. . A presença de anticorpos antifosfolipídeos está associada a grande aumento do risco para trombose arterial e venosa, portanto o uso de contraceptivos combinados também está contraindicado nesse grupo de pacientes. Não prescrever progestágenos isolados (pílula oral de progestágeno, AMPD, implante de etonorgestrel e até o SIU-LNG). Na presença de anticorpos antifosfolipídeos prostágenos isolados podem ser usados eventualmente já que não há métodos hormonais categoria 2 para essas pacientes (apenas o DIU de cobre é categoria 1, e seu uso pode ser Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 10 problemático para algumas pacientes, que podem apresentar aumento de fluxo menstrual). Veias varicosas não contraindicam nenhum método hormonal. Enxaqueca Enxaqueca com aura está associada a um aumento de duas vezes no risco de AVC isquêmico. Esse risco pode ser aumentado emoutras duas vezes pelo uso de contraceptivos hormonais combinados. Mulheres com enxaqueca sem aura e menos de 35 anos de idade podem usar contraceptivos hormonais combinados, caso não haja piora dos sintomas após o início do uso, eles podem ser mantidos. Acima de 35 anos, os métodos combinados devem ser evitados. Mulheres com enxaqueca com aura, o uso dos contraceptivos combinados é proibitivo, independentemente da idade. Os métodos de progesterona isolada, em pacientes que apresentam aura, devem ser suspensos caso haja piora dos sintomas. Em mulheres que têm enxaqueca menstrual (sem aura), regimes contínuos de contraceptivo hormonal combinado ou que minimizem a queda nos níveis de estrogênio (intervalo de quatro dias) podem ajudar a evitar crises. Hepatopatias Mulheres que têm hepatite viral aguda ou crônica podem fazer uso de métodos contraceptivos hormonais que contenham apenas progesterona ou DIU de cobre. Diante de quadro de hepatite viral aguda ou de hepatite crônica agudizada, não é recomendado iniciar métodos hormonais combinados (caso a paciente já esteja em uso, é permitido mantê-lo). Para pacientes com hepatite crônica e função hepática normal, não há contraindicação ao uso de métodos hormonais. Em casos de cirrose hepática leve (com função hepática compensada), não há contraindicação ao uso de qualquer método contraceptivo. Quando há descompensação da função hepática ou cirrose grave, nenhum método hormonal deve ser utilizado. Caso a paciente apresente antecedente de colestase após o uso de métodos combinados, estes devem ser evitados. Nessa situação, métodos de progestágeno e DIU de cobre estão liberados. MÉTODOS DE TERCEIRA LINHA Há duas categorias de métodos contraceptivos considerados moderadamente efetivos: . Métodos de barreira, criados para evitar que espermatozoides alcancem e fertilizem o óvulo . Métodos de consciência corporal e identificação da fase fértil do ciclo Mais do que com outros métodos contraceptivos, os moderadamente efetivos apresentam as maiores taxas de suces.so quando aplicados por casais dedicados ao seu uso . A taxa de fracasso esperada varia entre 10 e 20% no primeiro ano de uso. . A eficácia aumenta com o uso consistente e correto. Métodos de barreira Nesta categoria estão os diafragmas vaginais e os preservativos masculinos e femininos. É altamente dependente do seu uso correto e consistente. Preservativo masculino A maioria dos preservativos é feito de látex e há vários tamanhos fabricados para acomodar a anatomia. Os preservativos são contraceptivos efetivos e sua taxa de insucesso quando utilizado por casais bastante Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 11 motivados tem sido tão baixa quanto 3 a 4% por 100 casais-ano. Em geral, e especialmente no primeiro ano de uso, a taxa de insucesso é muito mais alta. Uma vantagem específica dos preservativos é que, quando usados adequadamente, proporcionam proteção considerável – mas não absoluta – contra doenças sexualmente transmissíveis. Os preservativos também previnem alteração pré-malignas no colo uterino, provavelmente ao bloquear a transmissão do HPV. A eficácia dos preservativos aumenta consideravelmente com a manutenção do reservatório na sua extremidade. Os lubrificantes devem ser a base de água porque os produtos à base de óleo destroem o látex de preservativos e do diafragma enfatizaram as seguintes etapas para assegurar efetividade máxima aos preservativos: ® Devem ser usados em todos os contatos com penetração. ® Devem ser colocados antes de haver contato entre pênis e vagina. ® A retirada deve ser feita com o pênis ainda ereto. ® A base do preservativo deve ser segura durante a retirada. ® Deve-se empregar um espermicida intravaginal ou um preservativo lubrificado com espermicida. Preservativo feminino Os preservativos femininos evitam gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. O anel aberto permanece fora do canal vaginal e o anel fechado interno é colocado no espaço entre a sínfise e o colo uterino, assim como o diafragma. Não deve ser usado junto com o preservativo masculino em razão da possibilidade de rompimento, deslizamento ou deslocamento. Diafragma combinado com espermicida O diafragma é que uma cúpula circular de borracha de diversos diâmetros apoiada por um aro de metal. Quando usado em combinação com gel ou creme espermicida, pode ser muito efetivo. O espermicida deve ser aplicado centralmente na cúpula na superfície em contato com o colo uterino e ao redor do aro. O dispositivo é colocado na vagina de forma que o colo uterino, os fórnices vaginais e a parede anterior da vagina fiquem efetivamente separados do restante da vagina e do pênis. Ao mesmo tempo, o agente espermicida centralmente localizado é mantido de encontro ao colo uterino pelo diafragma. Se o diafragma for pequeno demais, não ficará no lugar. Se grande demais, causará desconforto quando em posição por isso encontra-se disponível apenas sob prescrição. Em razão das dificuldades de posicionamento, o diafragma talvez não seja uma opção efetiva para mulheres com prolapso significativo de órgão pélvico. O mau posicionamento do útero pode causar instabilidade no posicionamento do diafragma, resultando em sua expulsão. Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 12 Deve ser inserido bem antes do ato sexual e o espermicida deve ser reaplicado a cada ato. Não pode ser deixado por mais de 24 horas. Métodos com base em consciência do período de fertilidade – Método de Ovulação Billings (MOB) Os métodos naturais de planejamento familiar consideram as alterações fisiológicas da mulher no decurso do ciclo menstrual e a vida útil do espermatozoide. Assim, fundamentam-se na periodicidade da fertilidade e infertilidade humana, no fato de a mulher ovular apenas uma vez em cada ciclo, na capacidade limitada do óvulo de ser fertilizado (apenas de 12 a 24 horas após a ovulação), na vida útil reduzida do espermatozoide (de três a cinco dias após a ejaculação) e na possibilidade de a mulher monitorar seu ciclo As chances de a relação sexual resultar em gravidez variam conforme a ovulação da mulher: 4% de chance se a relação sexual ocorrer cinco dias antes da ovulação; de 25% a 28% se ocorrer nos dois dias antes da ovulação; de 8% a 10% nas 24 horas após a ovulação; e virtualmente nula nos demais dias do ciclo menstrual. O MOB apoia-se no significado do muco cervical – ele torna a vagina menos ácida e cria espécie de duto de passagem dos espermatozoides para o útero. De fato, no decorrer dos dias férteis, a mulher produz secreção mucosa proveniente das glândulas do colo uterino. Nesse caso, o muco anuncia a proximidade da ovulação. Portanto, se orientada, a mulher pode reconhecer esse sinal de fertilidade e, em acordo com o parceiro, decidir ter relações ou abster-se delas, conforme o desejo de gestar ou não. MÉTODOS DE QUARTA LINHA Entre os métodos de quarta linha estão as formulações espermicidas, com taxa de insucesso entre 21 e 30% no primeiro ano de uso. O coito interrompido é tão imprevisível que alguns autores concluíram que não faz parte dos métodos contraceptivos. Espermicidas e microbicidas Esses contraceptivos são comercializados na forma de cremes, géis, supositórios, filmes e espumas em aerossol. Entre as prováveis usuárias estão as mulheres que consideram os demais métodos inaceitáveis. São úteis particularmente para as mulheres que necessitam de proteção temporária, por exemplo, durante a primeira semana após iniciarCHC ou enquanto amamentam. Além de sua ação química espermicida esses agentes representam uma barreira à penetração dos espermatozoides. O componente ativo é o monoxinol-9 ou o octoxinol-9. É importante ressaltar que os espermicidas devem ser depositados na parte profunda da vagina em contato com o colo uterino pouco antes da relação sexual. Sua efetividade máxima geral- mente não dura mais que uma hora. Daí em diante, há necessidade de nova aplicação antes da relação. A lavagem vaginal com ducha, se for praticada, deve ser evitada pelo período mínimo de seis horas. Curso de Medicina | MARC I Bruna Franco Teotonio | TURMA IV 13 As taxas altas de gravidez são atribuídas principalmente à inconsistência no uso e não ao mau funcionamento do espermicida. ANTICONCEPÇÃO DE EMERGÊNCIA (AE) A AE é definida como a utilização de um fármaco ou dispositivo para evitar a gravidez após uma atividade sexual desprotegida. Deve ser indicada em situações especiais, como em casos de violência sexual, relação sexual desprotegida, erro de uso ou falha de outros métodos. Atualmente, recomenda-se o uso de pílula com progestágeno, contendo 1,5 mg de levonorgestrel em dose única. A prescrição e o uso desse método são aprovados pelo Ministério da Saúde. Indicações para o uso da contracepção de emergência — quando a paciente teve relação sexual, porém: . Não utilizou nenhum método contraceptivo. . Usou incorretamente o preservativo ou este rompeu. . Não usou três ou mais pílulas consecutivas do anticoncepcional hormonal combinado na primeira semana. Tomou pílula só com progestagênio com atraso > 3 horas (minipílula) ou mais de 12 horas (pílula desogestrel 75 mcg). . Esqueceu de tomar duas ou mais pílulas combinadas. . Tomou com atraso ≥ a duas semanas a injeção de acetato de medroxiprogesterona. . Houve descolamento, atraso na colocação ou remoção precoce do contraceptivo transdérmico ou anel vaginal hormonal. . Ocorreu a expulsão do DIU
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