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Maria Clara ABORDAGEM DO PACIENTE PEDIATRICO COM SEPSE Considerações iniciais Elevada prevalência e morbimortalidade (principalmente pela falta de UTI ped) Elevados custos para a saúde pública Metade das crianças que falecem por sepse morrem na primeira semana de doença, de choque refratário A maioria sem doença prévia e com infecções comunitárias Epidemiologia 6-8% são tratados em UTI pediátrica Infecções respiratórias e de corrente sanguínea são causas de cerca de 2/3 dos casos de sepse grave Patogenia Ocorre quando fatores pró-inflamatórios excedem fatores anti-inflamatórios Processo semelhante pode ocorrer sem infecção, como na pancreatite Conceitualizada como inflamação intravascular maligna (porque ocorre célula a célula) 1. Incontrolada, desregulada e autossustentável 2. É inflamatória porque todas as características da sepse são devido a resposta inflamatória exacerbada (febre, leucocitose) Efeitos do microrganismo Componentes da parede bacteriana e produtos bacterianos contribuem para a progressão da sepse Endotoxina é detectada no sangue dos pacientes sépticos Elevados níveis de endotoxinas são associados com choques e DMOS (disfunção múltipla de órgãos e sistemas) Endotoxinas levam a ativação de sistema complemento, coagulação e sistema fibrinolítico Excesso de mediadores pró-inflamatórios Principais são: • TNF alfa • Interleucina-1 Causam febre, hipotensão, coagulação, fibrinólise Níveis bem maiores em pacientes sépticos que não sépticos Ativação de sistema complemento/fatores genéticos Cascata de proteína Aumento de inflamação e permeabilidade vascular Nucleotídeo de polimorfismo único é a variante genética mais comum Efeitos sistêmicos Cérebro, coração e rins são os órgãos principais do paciente PEDIÁTRICO Isquemia tecidual Lesões microvasculares Lesão celular Apoptose Autofagia Disfunção mitocondrial Imunossupressão – o estado metabólico do paciente doente é mais acelerado que o do paciente saudável Definições SIRS Infecção Sepse Sepse grave Choque séptico SIRS: Pelo menos 2 dos seguintes critérios, sendo que um deles OBRIGATORIAMENTE deve ser alteração da temperatura ou número de leucócitos 1. Alteração da temperatura corporal (hipertermia ou hipotermia) 2. Taquicardia: FC inapropriada para a idade na ausência de estímulos externos ou bradicardia em <1 ano 3. Taquipneia: FR inapropriada OU necessidade de VM por processo agudo, não relacionado a doença neuromuscular de base ou anestesia 4. Alteração de leucócitos: leucocitose ou leucopenia não secundárias a quimioterapia, ou formas jovens de neutrófilos no sangue periférico Parâmetros da normalidade de acordo com as faixas etárias: (no final) Infecção: Doença suspeita ou confirmada (culturas positivas, exame clínico, imagem ou testes laboratoriais, patologia), causada por qualquer patógeno infeccioso ou Maria Clara síndrome clínica associada com alta probabilidade de infecção – nem sempre precisa de exame laboratorial para confirmar, pois se o paciente chega com febre, taquipneia, tosse produtiva já pode fechar diagnóstico de infecção Sepse: 2 ou + sinais de SIRS, concomitantes à presença de quadro infeccioso suspeito ou confirmado Sepse grave: Sepse + disfunção cardiovascular OU respiratória OU de 2 ou mais disfunções orgânicas entre as demais Se for cardiovascular ou respiratória precisa apenas de uma das duas para fechar, mas se for de outro sistema, precisa de 2 ou +. - IMPORTANTE! • Se ele tem sepse + disfunção cardiovascular - sepse grave • Se ele tem sepse + disfunção respiratória – sepse grave • Se ele tem sepse + disfunção renal - não é sepse grave, apenas sepse • Se ele tem sepse + disfunção renal + disfunção hepática grave – sepse grave • Qualquer disfunção orgânica + infecção suspeita ou confirmada caracterizará sepse grave Choque séptico: Sepse + disfunção cardiovascular (Obrigatoriamente) – tem sepse grave e choque séptico • Obs: hipoperfusão não responsiva a volume caracterizará choque séptico Sinais de gravidade Alteração do nível de consciência (irritabilidade, choro inconsolável, pouca interação com familiares, sonolência) Alteração da perfusão tecidual Condições de risco elevado para sepse: Hipotensão é sinal tardio de choque, ocorrendo na fase descompensada – É fundamental que o choque séptico seja reconhecido antes da hipotensão (IMPORTANTE) Sinais clínicos de alerta para sepse grave e choque séptico: • Taquicardia ou bradi em <1 ano • Taquipneia • TEC >2s ou muito rápida • Alteração do estado mental • Pulsos periféricos diminuídos • Extremidades frias ou levedo reticular (sangue não chega como deveria) • Diurese diminuída (<1ml/kg/h) • Hipotensão é sinal muito tardio Todos esses são sinais e sintomas decorrentes de baixo débito cardíaco Pacote da primeira hora – ressuscitação inicial: • Alvos terapêuticos: Para isso tudo só precisa da gasometria <1a – pulso braquial / >1a – pulso carotídeo Para o cateter central (para a saturação central), são usados um dos 3: jugular e subclávia (a ponta do cateter tem que terminar – onde ele tem que ficar - na entrada do átrio direito) e femoral (não muito usada) Maria Clara Quando a saturação fica abaixo de 70, pensamos que foi muito consumido, precisando de mais O2 • Procedimentos da primeira hora: A. Monitorização (oximetria, ECG, PA 15/15min, temperatura, diurese, glicemia e cálcio ionizado) B. Oxigenação: Se alteração de FR ou dessaturação - ofertar oxigênio por máscara não reinalante Se dispneia e hipoxemia - CNAF ou CPAP (manter SatO2 > 92%) OBS: Avaliar a necessidade de VMI e realizar ressuscitação hemodinâmica adequada o quanto antes C. Acesso venoso: 2 periféricos e/ou intraósseo para ressuscitação volêmica e adm inicial de inotrópicos D. Pacote de exames na primeira hora: exames que confirmem possíveis disfunções orgânicas de orgãos - gasometria, lactato arterial, hemograma, creatinina, bilirrubina, coagulograma, hemocultura, sítios suspeitos, TGO, TGP - Sempre pedir hemocultura para identificar o agente causador! OBS: Ao contrário de adultos, crianças com choque séptico podem apresentar níveis normais de lactato E. Antimicrobianos: Amplo espectro, visando o foco suspeito dentro da primeira hora, idealmente após a coleta da hemocultura (coleta de hemocultura não deve atrasar o início da antibioticoterapia) – 30m-1h já não da mais para esperar, começa logo! – Tem que começar com menos de 1h obrigatoriamente! Sepse devido a pneumonia – ceftriaxona Sepse de foco abdominal – metronidazol + gentamicina Sepse devido a meningite – ceftriaxona + vancomicina + aciclovir (se disponível) F. Ressucitação hemodinâmica: Pacientes com sinais e sintomas de hipoperfusão tecidual (sobretudo TEC lentificado e/ou alteração de nível de consciência), independente da ocorrência de hipotensão, têm indicação de ressuscitação hemodinâmica. • Fluidoterapia: Mudanças importantes foram introduzidas, quanto ao volume, tempo e tipo de solução Utilizar cristaloides balanceados (SF + ringer lactato) e tamponados ao invés de colóides (albumina) inicialmente Preferidos: Ringer-lactato e Plasma-Lyte IMPORTANTE! Excesso de volume aumentou muito a morbimortalidade desses pacientes quando chegavam à UTI • Inotrópicos/vasopressores/vasodilatadores: Usados em caso de persistência de disfunção cardiovascular após ressuscitação inicial Pode iniciar por via periférica com diluição maior (1:3) – porque quando elas são feitas na veia periférica (as drogas são drogas muito concentradas) pode causar isquemia tecidual Escolha da droga vai depender do perfil do choque Pode ser necessário para suporte de pressãode perfusão, mesmo que a hipovolemia ainda não tenha sido corrigida Deve ser iniciada até o final da 1ª hora, se indicação Perfil dinâmico Diagnóstico clínico de choque IMPORTANTE – define a droga vasoativa que será usada Maria Clara No choque frio o paciente está vasoconstricto, logo usa- se uma droga que vasodilate e no quente é o contrário. Na grande maioria das vezes o choque frio é a progressão do choque quente Sugestivos de choque hiperdinâmico: • PAD < metade da PAS • PAS-PAD >40mmHg (diferença muito alta) Novas diretrizes Não utilizar apenas sinais clínicos para categorizar o choque Variáveis clínicas juntamente com parâmetros hemodinâmicos avançados Ex: índice cardíaco, índice de resistência vascular sistêmica, SvcO2 e tendência dos níveis de lactato Drogas vasoativas (DVA) • Adrenalina (0,05-0,3) – usar em casos de choque com baixo débito cardíaco – vai gerar uma vasodilatação nessa dose – se usar acima que 0,3 irá fazer uma vasoconstricção • Noradrenalina (0,1-1) – usar em casos de choque hipotensivo – nora faz uma vasoconstricção nessa dose • Adicionar vasopressina para crianças que precisam de altas doses de catecolaminas • Na prática, inodilatadores (milrinone e levosimendran) são usados quando hipoperfusão persistente e disfunção cardíaca já em uso de outras DVAs – fazem uma vasodilatação no vaso e aumentam o DC SITUAÇÕES IMPORTANTES: Quando o paciente tem um choque frio (hipodinâmico) devo usar vasodilatadores (adrenalina na dose de 0,05- 0,3) – Cheguei na dose máxima de adrenalina e o paciente continua com o perfil ruim, mas com uma PA boa, associo com inodilatadores (APENAS SE PA BOA) Se ele tiver um choque quente (hiperdinâmico), devo usar vasoconstrictores (noradrenalina nessa dose) Choque refratário Crianças podem apresentar mudanças rápidas no perfil hemodinâmico do choque nas primeiras 48h Suporte ventilatório O ideal é que estabilize hemodinamicamente antes de intubar (porque ao intubar, usa-se drogas que baixam a PA – Se o paciente tiver instável ele PARA na intubação) Não é recomendado no momento de intubação, porém comumente os pacientes são intubados em choque séptico refratário a fluidoterapia e resistente às catecolaminas Na sequência rápida de intubação é etomidato (causa supressão da suprarrenal) não é indicado recomenda-se cetamina (efeitos adversos dela: gera muita secreção na boca e pode aumentar a PA) SDRA: pode iniciar suporte com VNI - se hipoxemia ou não responderem a VNI, utiliza se ventilação invasiva Pacote após a primeira hora A. Monitorização: Indicação de acesso venoso central e cateter arterial • PA invasiva • Svco2 • ECOTT funcional (avaliar estado volêmico e função miocárdica) B. Exames que avaliem status perfusional e presença de novas disfunções orgânicas C. Terapia com hidrocortisona: • Indicado em crianças com choque refratário a fluidos, catecolaminas e/ou insuficiência adrenal • Considerar na dose de ataque 100mg/m2/ dia e manutenção da mesma dose, 6/6h por 5-7 dias até suspensão das DVAs • Desmame iniciado 24h após a suspensão do vasopressor e de forma gradual D. Avaliação do perfil hemodinâmico após a fase inicial de ressuscitação Maria Clara Suporte nutricional Não pode deixar o paciente em dieta 0 - Iniciar nutrição enteral precoce (ideal que seja via gástrica, mas pelo uso das drogas vasoativas fica difícil, ficando então a via enteral mesmo) nas 48h da admissão, se não houver contraindicações Se a nutrição parenteral for necessária - suspender nos primeiros 7 dias de admissão (ela tem maiores riscos, como aumento das enzimas hepáticas, risco de infecções, risco de hipertrigliceridemia) Dieta enteral (intestinal ou gástrica) não é contraindicada em choque séptico após ressuscitação hemodinâmica adequada e nos pacientes sem necessidade de doses progressivas de DVA ou nos quais o desmame já tenha sido iniciado – Como faz para saber disso? Passa uma sonda gástrica para ver como está. Hemotransfusão Hemácias: Hb > ou = 7, em crianças hemodinamicamente estáveis com choque séptico. Abaixo desse nível, deve ser realizada • Uso de drogas vasoativas ou cardiopata o ideal é que esteja > 10 • Se não, é tolerável até 7. Plaquetas e plasma: Transfusão profilática baseada apenas nos níveis de plaquetas, sem sangramento com choque séptico ou sepse e plaquetopenia não está indicada. Recomendação semelhante para o plasma Só faz a transfusão de tiver sangramento, não existe transfusão profilática, a não ser que sejam níveis que plaqueta < 10.000 – Mas por quê? Risco de sangramento no SNC Terapia de substituição rena (TSR) Sobrecarga hídrica aumenta a morbimortalidade É recomendada a utilização de diuréticos para reverter sobrecarga hídrica em crianças com choque séptico depois da fase inicial de ressuscitação, quando estiver estável hemodinamicamente TSR deve ser instituída para evitar ou tratar sobrecarga hídrica em choque séptico ou sepse que não respondem a restrição de fluidos ou terapia diurética (furosemida, hidroclorotiazida) Opções: • Diálise peritoneal • Hemodiálise – Indicações dela: sobrecarga hídrica que não responde aos diuréticos, oligúria, piora importante da disfunção renal e distúrbios hidroeletrolíticos RESUMO Crianças com sepse grave e/ou choque séptico: Pacote de 1ª hora: • Oxigenação • Monitorização • Acesso venoso • Antibioticoterapia • Exames • Ressuscitação fluídica • Correção de hipoglicemia e hipocalcemia • Inotrópico ou vasopressor nas crianças com choque refratário a fluidos (de acordo com o perfil hemodinâmico do choque) Pacote após a 1ª hora: As crianças que são resistentes às catecolaminas, podem ser internadas em UTIs, tendo a monitorização de • PVC, PAI, SvcO2, pressão de perfusão • Ecocardiografia funciona Deve-se, também: • Permanecer com a reposição volêmica • Avaliar uso de inotrópicos, vasopressores e vasodilatadores • Avaliar outras instabilidades hemodinâmicas Maria Clara Fluxograma importante: Parâmetros da normalidade de acordo com as faixas etárias: REFERÊNCIAS: Aula ministrada pelo professor Dennys Andrade Protocolo de tratamento de sepse em Pediatria – Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) – 2019. Tratado de pediatria / organização Sociedade Brasileira de Pediatria. - 5. ed. - Barueri [SP] : Manole, 2022. v2 926-930.
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