Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Autoras: Profa. Andrea Ferian Profa. Sandra Aparecida Atayde Colaboradores: Prof, Cristiano Schiavinato Baldan Profa. Kelly Cristina Sanches Fisioterapia Reumatológica Professoras conteudistas: Andrea Ferian / Sandra Aparecida Atayde Andrea Ferian Graduada em Fisioterapia pela Universidade de São Paulo (1995). Mestre em Ciências Morfofuncionais pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP, 2016). Possui aprimoramento em Neurologia pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP, 1997). Atualmente é professora adjunta da Universidade Paulista (UNIP), nos cursos de Fisioterapia e Educação Física. Ministra aulas nos cursos de pós-graduação da Universidade Estácio de Sá (reabilitação de lesões e doenças musculoesqueléticas) e da FMU (lesões e doenças musculoesqueléticas: prevenção e condicionamento físico). Sandra Aparecida Atayde Graduada em Fisioterapia pela Faculdade de Fisioterapia de Guarulhos (1999). Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP, 2012) e especialista em Fisiologia do Exercício também pela FMUSP (2002). Possui aprimoramento profissional em Fisioterapia em Ortopedia e Traumatologia pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp, 2001). Participou e apresentou trabalhos nos congressos internacionais do American College of Rheumatology e outros congressos nacionais de Reumatologia, com pesquisas premiadas na área. Atualmente é docente do curso de Fisioterapia da UNIP/SP. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) F356f Ferian, Andrea. Fisioterapia Reumatológica / Andrea Ferian, Sandra Aparecida Atayde. – São Paulo: Editora Sol, 2021. 144 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517-9230. 1. Doença inflamatória. 2. Artrite. 3. Reumatismo. I. Ferian, Andrea. II. Atayde, Sandra Aparecida. III. Título. CDU 615.8 U512.99 – 21 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Profa. Dra. Marilia Ancona Lopez Vice-Reitora de Graduação Vice-Reitora de Pós-Graduação e Pesquisa Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Unip Interativa Profa. Dra. Cláudia Andreatini Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático Comissão editorial: Profa. Dra. Christiane Mazur Doi Profa. Dra. Angélica L. Carlini Profa. Dra. Ronilda Ribeiro Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista Profa. Deise Alcantara Carreiro Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Auriana Malaquias Bruna Baldez Sumário Fisioterapia Reumatológica APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7 Unidade I 1 INTRODUÇÃO À REUMATOLOGIA ................................................................................................................9 1.1 História da reumatologia .....................................................................................................................9 1.2 Princípios de inflamação, imunologia e aspectos farmacológicos .................................. 14 1.3 Propedêutica reumatológica ........................................................................................................... 16 1.4 Aspectos gerais da reabilitação em reumatologia .................................................................. 23 2 OSTEOARTRITE .................................................................................................................................................. 29 3 ALTERAÇÕES ÓSSEAS E SUA REABILITAÇÃO ........................................................................................ 42 3.1 Osteoporose ............................................................................................................................................ 42 3.2 Doença de Paget ................................................................................................................................... 50 3.3 Osteomalácia e raquitismo ............................................................................................................... 52 3.3.1 Raquitismo ................................................................................................................................................ 52 3.3.2 Osteomalácia ............................................................................................................................................ 54 4 FIBROMIALGIA .................................................................................................................................................. 55 Unidade II 5 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS DO TECIDO CONJUNTIVO ..................................................................... 66 5.1 Artrite reumatoide ............................................................................................................................... 66 5.2 Espondiloartrites (EpA) ....................................................................................................................... 80 5.2.1 Espondilite anquilosante (EA) ............................................................................................................ 81 5.2.2 Artrite psoriásica ..................................................................................................................................... 90 5.2.3 Artrite reativa (síndrome de Reiter) ................................................................................................ 94 5.3 Lúpus eritematoso sistêmico ........................................................................................................... 97 5.4 Esclerodermia .......................................................................................................................................103 5.4.1 Esclerodermia localizada ....................................................................................................................105 5.4.2 Esclerose sistêmica ...............................................................................................................................107 5.5 Dermatopolimiosite ...........................................................................................................................111 6 DOENÇAS INFLAMATÓRIAS DA INFÂNCIA ..........................................................................................115 6.1 Artrite idiopática juvenil .................................................................................................................115 6.2 Febre reumática ..................................................................................................................................119 7 ARTROPATIAS MICROCRISTALINAS ........................................................................................................121 7.1 Gota .........................................................................................................................................................121 7.2 Doença por deposição de cristais de pirofosfato de cálcio (PFC) ...................................125 8 REUMATISMOS REGIONAIS E SUA REABILITAÇÃO ..........................................................................127 8.1 Tendinopatias .......................................................................................................................................1278.2 Bursites ...................................................................................................................................................130 7 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem como objetivo proporcionar ao aluno o conhecimento clínico necessário para fundamentar a avaliação do paciente que possui as principais doenças reumatológicas, bem como elaborar a prática terapêutica, com a compreensão dos efeitos sobre o sistema musculoesquelético. Assim, tanto a prevenção como a reabilitação adequada tornam-se possíveis. Serão destacados os aspectos fisiopatológicos, incluindo processos inflamatórios e imunológicos envolvidos nas doenças reumatológicas mais frequentes na prática do fisioterapeuta. Esse aprendizado será adicionado à relevância da anamnese e do exame físico dos pacientes. Através dessa associação, o aluno terá condições de desenvolver um raciocínio fisioterápico, sendo capaz de utilizar os recursos terapêuticos com as indicações e contraindicações adequadas, com o objetivo de prevenir ou tratar doenças reumatológicas, como gota, osteoartrite, artrite reumatoide e outras. O conhecimento sobre a anatomia, biomecânica e fisiologia articular será necessário para a elaboração e execução das condutas terapêuticas adequadas aos pacientes com essas doenças. INTRODUÇÃO Traremos inicialmente um breve histórico da reumatologia com o objetivo de associá-lo ao desenvolvimento dessa especialidade em seu panorama atual, principalmente em relação às bases de tratamento da fisioterapia. Em seguida, serão apresentados conceitos sobre aspectos imunológicos, inflamatórios e farmacológicos envolvidos nas doenças reumáticas, bem como o raciocínio clínico que envolve a avaliação fisioterapêutica das doenças que serão exploradas neste livro-texto. Conheceremos na sequência as diferentes condutas terapêuticas relacionadas às doenças reumáticas que serão estudadas. Entre elas destacaremos: as doenças inflamatórias do tecido conjuntivo, as doenças inflamatórias da infância, os reumatismos regionais, as alterações ósseas, as artropatias microcristalinas, as doenças degenerativas e a fibromialgia. Esse aprendizado teórico-prático será útil para o dia a dia da prática clínica do fisioterapeuta. Ao término de cada unidade, você encontrará questões que estimularão o seu raciocínio clínico. Aproveite o conteúdo deste livro-texto! 9 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Unidade I 1 INTRODUÇÃO À REUMATOLOGIA 1.1 História da reumatologia Ao conhecer a história da reumatologia, você poderá compreender melhor não só o desenvolvimento de diversas doenças, mas também as teorias que guiam seus tratamentos. Acredita-se que os reumatismos são as doenças mais antigas do planeta. Os primeiros relatos do chamado reumatismo referiram-se à gota (doença inflamatória relacionada ao excesso de ácido úrico no sangue, que causa muita dor em articulações), enquanto outros danos articulares eram denominados artrite. Pesquisas mostraram que, mesmo antes do surgimento do homem, doenças como as lesões das vértebras, presentes na espondilite anquilosante (EA), foram encontradas em esqueletos de dinossauros e outros fósseis. Veremos a seguir alguns tópicos históricos importantes para o entendimento da abordagem atual das doenças reumáticas. Civilização egípcia O estudo das múmias, dos escritos e pinturas identificou a provável presença de algumas doenças reumáticas como gota, espondiloartrose e EA. Nessa época, era comum o uso externo de medicamentos à base de gordura ou outras substâncias, conhecidas como unguentos. Também eram prescritas diversas formas de calor e banhos com o objetivo de melhorar a mobilidade articular ou diminuir a dor. Perceba que essas formas de tratamento foram precursoras dos recursos utilizados atualmente na fisioterapia. Contribuição de Hipócrates para a reumatologia Foi graças a Hipócrates (figura 1), no período 460-377 a.C., que o reumatismo passou a ser reconhecido como uma doença que fazia parte do ser humano, e não mais um castigo dos deuses. A especialidade conhecida hoje como reumatologia inclui todos os tecidos e sistemas do corpo humano. 10 Unidade I Figura 1 – Hipócrates Fonte: Cecin e Ximenes (2015, p. xxxiv). Quando não existiam exames de sangue ou radiografias, o pai da medicina utilizava apenas os olhos, o toque, os ouvidos, a observação e o raciocínio para elaborar os diagnósticos; daí surgiu a palavra clínica, originária do grego klinkus, que significa observação à beira do leito. Hipócrates percebeu, por exemplo, que a artrite reumatoide era inibida durante a gestação. Tal fato permitiu associar fatores hormonais com a evolução dessa doença e isso favoreceu a descoberta da cortisona, medicamento com base hormonal utilizado atualmente para tratar diversas doenças reumatológicas. Hipócrates também desenvolveu o conceito de humor (khymós, em grego), com o objetivo de explicar as doenças. Na escola de Hipócrates, fala-se em quatro humores, os quais estão relacionados aos líquidos produzidos pelo organismo. São eles: • sangue; • fleuma (muco); • bile amarela (líquido produzido pelo fígado); • bile negra (relacionada à presença de sangue nas fezes ou na urina ou perda de sangue pela boca). Nessa época, a ideia era de que a saúde estava associada à harmonia desses humores, e, quando houvesse a falta ou o excesso deles, a doença se desenvolveria (figura 2). 11 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Líquidos corporais Líquidos em harmonia Presença de saúde Líquidos em desarmonia Presença de doença Sangue Fleuma Bile amarela Bile negra Figura 2 – A saúde era associada aos líquidos ou humores Contribuição de Galeno para a reumatologia O médico grego Galeno (130-203 d.C., figura 3) dizia que uma quantidade excessiva daqueles humores ou fluidos causaria o reumatismo. Essa palavra se referia à teoria dos humores, proposta por Hipócrates. O termo reumatologia deriva do grego rheuma, que significa “fluxo”, e logos, “conhecimento”. Mais precisamente seria o “estudo dos fluxos” ou “estudo dos fluidos”. Propôs, então, o tratamento para os desequilíbrios dos líquidos corporais. A partir desse conceito, a cura das doenças poderia acontecer com a retirada do humor em excesso ou defeituoso. Nesse sentido, os líquidos excedentes eram eliminados com a aplicação de sanguessugas (figura 4) sobre as áreas doentes, purgantes ou outros métodos. A teoria dos fluidos corporais direcionou a prática médica por mais de 2 mil anos. Saiba mais Veja no texto a seguir a teoria dos fluidos, que guiou a medicina por mais de 2 mil anos e serviu de referência para as terapêuticas atuais. REZENDE, J. M. Dos quatro humores às quatro bases. In: REZENDE, J. M. À sombra do Plátano: crônicas de história da medicina. São Paulo: Unifesp, 2009a. p. 49-53. 12 Unidade I Figura 3 – Galeno Fonte: Cecin e Ximenes (2015, p. xxxv). Figura 4 – Tratamento com sanguessuga Fonte: Rezende (2009b, p. 139). Descoberta da microscopia Com a microscopia, a teoria dos humores começou a entrar em declínio, pois o desenvolvimento dessa conquista proporcionou a descoberta da estrutura celular dos seres vivos, e, desse modo, o conceito da doença causada pelo desequilíbrio dos líquidos corporais foi substituído pela patologia celular. Tal fato marcou a evolução da medicina. Todos os seres vivos, animais, plantas, bactérias e muitos vírus são o resultado de diferentes sequenciamentos e combinações do DNA. 13 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Exemplo de aplicação A descoberta das bactérias, possível graças ao microscópio, permitiu direcionar o tratamento médico de maneira mais adequada e eficaz. Por exemplo, quando um dano articular é causado por infecção por bactérias, o uso de antibióticos é indicado, porém, se a origem do problema for diferente, outros medicamentos ou meios físicos utilizados na fisioterapia poderão ser empregados. Reflita sobre a evolução da medicina e sua repercussão para a elaboração de diagnósticos e tratamentos. Reumatologiana atualidade As doenças reumáticas estão entre as principais causas de incapacidade e afastamento do trabalho em todo o mundo. Atualmente existem mais de duzentos tipos; as mais frequentes estão divididas e classificadas a seguir. Quadro 1 1. Artropatias inflamatórias crônicas — Artrite reumatoide — Espondiloartropatias: espondilite anquilosante; artrite psoriásica; artrite reativa; enteroartrites (ligadas a doenças inflamatórias intestinais); espondiloartrites indiferenciadas 2. Doenças reumáticas autoimunes sistêmicas — Lúpus eritematoso sistêmico — Miopatias inflamatórias autoimunes (dermatomiosite, polimiosite, miopatias por estatinas) — Esclerose sistêmica — Doença mista do tecido conjuntivo — Síndrome de Sjögren — Síndrome antifosfolípide — Vasculites — Síndromes de superposição/conectivopatia indiferenciada 3. Doença articular degenerativa ou degradativa (osteoartrite) 4. Artropatias microcristalinas — Gota — Artropatias por pirofosfato dihidratado de cálcio, hidroxiapatita etc. 5. Doenças ósseas (osteoporose, doença de Paget, entre outras) 6. Artropatias infecciosas (virais, bacterianas, fúngicas) 7. Artropatia relacionada a infecções específicas — Febre reumática — Doença de Lyme/Baggio-Yoshinari 8. Condições reumáticas relacionadas a outras doenças não reumatológicas — Hematológicas (anemia falciforme etc.) — Endócrinas (distúrbios da tireoide, diabetes melito etc.) — Paraneoplasias 9. Artropatias diversas não classificadas em outras categorias — Sarcoidose — Amiloidose 14 Unidade I 10. Reumatismos de partes moles — Inflamatórios (tendinites, bursites, fascites, entesites, cistos sinoviais) — Regionais (síndrome miofascial) — Generalizados (fibromialgia) — Síndromes compressivas (síndrome do túnel do carpo) 11. Doenças da coluna vertebral Fonte: Silva (2019, p. 127). Observação O Colégio Americano de Reumatologia é uma das mais importantes sociedades relacionadas à área e frequentemente atualiza critérios para diagnosticar ou classificar as doenças reumáticas. 1.2 Princípios de inflamação, imunologia e aspectos farmacológicos O conhecimento dos mecanismos imunológicos e farmacológicos que envolvem as doenças reumáticas permite o entendimento do comportamento da doença e pode auxiliar o fisioterapeuta na elaboração de condutas mais assertivas. Nesse sentido, vale saber que a imunologia e os mecanismos envolvidos nos processos inflamatórios estão diretamente ligados às enfermidades reumatológicas. O processo inflamatório é uma das características mais evidentes dessas doenças. A imunidade inata atua em conjunto com a imunidade adaptativa, com o objetivo de manter a homeostase mediante um dano tecidual (figura 5). Sistema imune Imunidade inata (não específica) Imunidade adaptativa (específica) Composta por barreiras químicas e físicas (pele, trato gastrointestinal); quando as barreiras físicas são ultrapassadas, ocorre o processo inflamatório Primeira linha de defesa capaz de combater micro-organismos Reconhece os agentes agressores (antígenos) Linfócitos T: destroem células infectadas e ativam outras células do sistema imune Linfócitos B: relacionados com a produção de anticorpos Figura 5 – Sistema imune Nas doenças reumatológicas autoimunes ocorrem processos reacionais, e o sistema imunitário reage contra o próprio organismo formando autoanticorpos. Com isso, um órgão específico ou diversos órgãos podem ser acometidos. 15 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA A presença desses autoanticorpos pode indicar: • Manifestações específicas. • Prognóstico da doença: como a doença provavelmente irá evoluir. • Atividade da doença: se o processo inflamatório, relacionado com a resposta autoimune, está em atividade em determinado momento ou não. Assim, a doença pode ser monitorada. Observação Conhecer a evolução da doença e saber se ela está controlada (sem inflamação vigente) ou em atividade (com inflamação agudizada) é fundamental para o fisioterapeuta. Essa informação permite estabelecer o programa de tratamento adequado de acordo com o quadro do paciente. Por exemplo, caso exista queixa articular associada a um processo autoimune em atividade, é importante saber se o paciente está em acompanhamento com o médico naquele momento, com o objetivo de controlar o dano causado pela doença reumatológica de base e, assim, seguir de maneira segura com a fisioterapia. Farmacologia Para que se possa acompanhar o paciente como um todo, é essencial ter uma base sobre as possíveis intervenções medicamentosas propostas pelo médico. Vale ressaltar que a terapêutica farmacológica geralmente é guiada da seguinte maneira: • Prescrição de medicamentos anti-inflamatórios não esteroidais (Aines) ou esteroidais de acordo com o caso. Os Aines ainda são a primeira linha de tratamento em algumas doenças reumáticas, como a EA e a artrite reativa. • Prescrição de analgésicos quando necessário. • Prescrição de drogas antirreumáticas modificadoras da doença (disease-modifying antirheumatic drugs – DMARDs), que são uma categoria de fármacos que tem ação imunossupressora, prevenindo a inflamação das articulações e reduzindo assim o dano articular. Alguns exemplos são o metotrexato (MTX), a sulfassalazina, a ciclosporina e a leflunomida. • Prescrição de agentes biológicos, uma nova classe de medicamentos que funciona como uma alternativa para pacientes não responsivos aos Aines. Exemplos de agentes biológicos são os inibidores de TNF-alfa (fator de necrose tumoral). O TNF-alfa é uma citocina, proteína de baixo peso molecular, produzida em resposta a antígenos, micro-organismos e outros estímulos não infecciosos. Ela é capaz de regular a resposta inflamatória e imune. Muitos estudos demonstram 16 Unidade I que o TNF-alfa desempenha um papel crucial em alguns quadros inflamatórios. Ao bloquear o fator de necrose tumoral alfa, previne-se a inflamação e a destruição de tecidos e, assim, melhora-se o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes. Alguns exemplos de agentes bloqueadores da ação do TNF-alfa são o etanercepte, infliximabe e adalimumabe. Quadro 2 – Principais fármacos utilizados no tratamento de doenças reumáticas autoimunes e suas indicações Medicação Indicações Não imunossupressoras Antimaláricos (cloroquinas) Drais (LES+), AR Sulfassalazina AR, artrite periférica nas EAs Imunossupressoras Metotrexato AR, EAs, Drais Leflunomida AR Azatioprina Drais Micofenolato (sódico, de mofetila) Drais Imunobiológicos Anti-TNFs (infliximabe, adalimumabe etc.) AR, EAs Não anti-TFNs (abatacept, tocilizumabe, rituximabe) AR, Drais (off-label) Agentes sintéticos dirigidos para alvos celulares de ativação Tofacitinibe, baracitinibe AR Legenda: Drais = doenças reumáticas autoimunes sistêmicas; LES = lúpus eritematoso sistêmico; EAs = espondiloartropatias; AR = artrite reumatoide; TGI = trato gastrointestinal; TNF = fator de necrose tumoral. Fonte: Silva (2019, p. 131). 1.3 Propedêutica reumatológica O diagnóstico das doenças reumáticas depende de uma boa avaliação clínica. Para o fisioterapeuta, é importante saber identificar e diferenciar as alterações reumatológicas de cada doença, o que permite elaborar um diagnóstico fisioterapêutico e um plano de tratamento mais adequado com resultados efetivos, ou, ainda, encaminhar o paciente para avaliação e conduta médica, quando julgar necessário. Podemos utilizar alguns instrumentos de avaliação (quadro 3) com o objetivo de mensurar o comprometimento do paciente e acompanhar sua evolução. Assim, esses recursos devem ser aplicados antes do início da reabilitação e durante o processo de tratamento, para que possamos verificar se a resposta à terapia proposta é satisfatória. 17 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Quadro 3 – Instrumentos de avaliação para reabilitação de pacientes reumáticos Medida Instrumento Força muscular Dinamômetro isocinético Dinamômetros para preensão e para pinça Cálculo da repetição máxima Qualidade devida SF-36 Opaq FIQ Função HAQ Womac Basfi Dash Cochin Roland-Morris Escala de Berg FFI MHQ Dor Escala visual e analógica Amplitude de movimento EPM-ROM Goniometria Fonte: Carvalho et al. (2019, p. 771). Observação É o diagnóstico médico que possui o objetivo de identificar a doença específica do paciente. Os principais componentes da avaliação médica e fisioterapêutica de um paciente reumatológico incluem: história clínica, exame físico, exames laboratoriais e exames de imagem. História clínica Com o objetivo de identificar o comprometimento gerado pelas doenças reumáticas de forma precisa e, assim, elaborar uma proposta de tratamento com o direcionamento correto, são fundamentais os questionamentos: • A doença está realmente localizada primariamente no sistema musculoesquelético? • O comprometimento está na articulação, é periarticular ou não articular? 18 Unidade I • O comprometimento articular é artrite (envolve inflamação) ou apenas artralgia (dor articular)? • Qual a duração da artrite? • Quantas articulações estão acometidas? • Existem antecedentes patológicos (pessoais e familiares) ou comorbidades? • Há dados de fatores ambientais? Além desses questionamentos, é necessário lembrar que as doenças reumatológicas apresentam fatores de risco que podem desencadear ou agravar sua manifestação. Alguns desses fatores não são modificáveis, pois não se pode interferir em sua ocorrência (quadro 4), já outros são conhecidos como modificáveis, pois são passíveis de mudança mediante alguma intervenção (quadro 5). Desse modo, durante a anamnese, devemos levar em consideração essas informações. Quadro 4 – Fatores de risco não modificáveis Fatores de risco não modificáveis Tipo de doença que pode ser agravada ou desencadeada Aumento da idade Gota Osteoartrite Artrite reumatoide Osteoporose Lombalgia Presença de fatores genéticos Espondilite anquilosante Artrite reumatoide Lúpus eritematoso sistêmico Quadro 5 – Fatores de risco modificáveis Fatores de risco modificáveis Tipo de doença que pode ser agravada ou desencadeada Tabagismo Artrite reumatoide Estrógeno e luz ultravioleta Lúpus eritematoso sistêmico Obesidade Osteoartrite Tabagismo atual, alta ingesta de álcool, dieta pobre em cálcio, sedentarismo e baixo peso Osteoporose Agentes farmacológicos e dieta rica em purina Gota 19 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Observação Perceba que o conhecimento relacionado a esses fatores ajuda a compor o histórico do paciente. Na prática clínica, saber sobre formas de interferir no curso da doença permite não só a elaboração de estratégias terapêuticas, mas também a orientação adequada no sentido de prevenir que a enfermidade se agrave. Exame físico Na atuação do fisioterapeuta, o sistema musculoesquelético é parte essencial do exame físico, portanto o conhecimento da anatomia, cinesiologia e biomecânica é fundamental. As articulações e estruturas periarticulares devem ser avaliadas. Um exame físico completo deve contemplar: • Inspeção: — marcha; — postura; — fácies; — presença de deformidades; — volume; — contornos; — relevos musculares. • Palpação: — pontos dolorosos; — calor; — rubor; — inchaço; — rigidez; — crepitações. 20 Unidade I Observação Para avaliar a temperatura articular, devemos utilizar o dorso das mãos. • Análise da mobilidade articular: — testagem dos movimentos ativos e passivos. • Avaliação da força muscular. • Testes especiais (quadro 6). Quadro 6 – Exame físico do sistema musculoesquelético e manobras especiais: descrição e critérios de positividade Segmento examinado Nome do teste Indicação Descrição Critério de positividade Coluna cervical Teste de compressão de Spurling Radiculopatia cervical Extensão e rotação do pescoço para o lado sintomático. Com a mão sobre a cabeça do paciente, aplica-se uma pressão axial Reprodução ou exacerbação dos sintomas relatados (dor e/ou parestesias) ipsilateralmente à rotação da cabeça Teste da distração cervical Radiculopatia cervical Com o paciente sentado, coloca-se uma mão na mandíbula e a outra no occipital. Faz-se então elevação da cabeça e ocorre redução ou desaparecimento da dor Redução ou desaparecimento da dor Teste de Adson Síndrome do desfiladeiro torácico Paciente sentado, inspiração profunda, com o membro superior em leve abdução e rotação externa, com extensão e rotação do pescoço para o lado afetado Diminuição ou ausência do pulso radial Coluna lombar Teste de Schober modificado Avaliar a diminuição da mobilidade da coluna lombar Fazer uma marca na coluna no nível da linha que une as espinhas ilíacas posterossuperiores (L5-S1). Com o auxílio de uma fita métrica, fazer uma marca 10 cm acima e 5 cm abaixo desse ponto. Medir a distância entre as duas marcas após o paciente realizar a flexão anterior da coluna lombar Aumento de pelo menos 5 cm na faixa etária de 15-34 anos e de pelo menos 4 cm na faixa etária entre 35-65 anos Sinal de Lasègue (elevação da perna em extensão) Radiculopatia lombossacral Elevação passiva do membro afetado em extensão, flexionando a perna em nível do quadril com o paciente deitado em posição supina Reprodução dos sintomas no território do nervo ciático (L4-L5 ou L5-S1), quando a perna é elevada na faixa de 30-70º Lasègue cruzado Radiculopatia lombossacral Elevação da perna contralateral (não sintomática) Reprodução dos sintomas na perna afetada Sinal de Bragard (dorsiflexão do tornozelo) Radiculopatia lombossacral Sensibilização do teste de Lasègue. Após a elevação da perna até o ponto de dor, abaixar o membro até a faixa sem dor. Em seguida, realizar a dorsiflexão ipsilateral do pé Reprodução dos sintomas na perna afetada 21 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Segmento examinado Nome do teste Indicação Descrição Critério de positividade Ombro Sinal de Neer (teste de impacto do ombro) Lesão do manguito rotador Elevação anterior passiva do braço em rotação interna. O tendão do manguito é pressionado contra o acrômio Dor ou exacerbação da dor na topografia do manguito rotador do ombro afetado Manobra de Hawkins (teste de impacto do ombro) Lesão do manguito rotador Ombro e cotovelo fletidos em 90º. Procede-se então rotação interna do braço (a grande tuberosidade do úmero é pressionada contra o ligamento coracoacromial) Dor ou exacerbação da dor na topografia do manguito rotador do ombro afetado Teste de Yergason (supinação resistida) Tendinite bicipital (lesão do manguito associada) Cotovelo fletido a 90º, com antebraço pronado. Paciente é solicitado a realizar supinação contra oposição do examinador Dor no tendão da cabeça longa do bíceps Teste de Speed Lesão do tendão do bíceps Elevação do braço com a palma da mão para cima, contrarresistência Dor na corredeira bicipital Teste de Jobe Lesão do supraespinhal Braço abduzido no plano da escápula, em rotação neutra. Em seguida, rotação interna do ombro, pedindo ao paciente para dirigir o polegar em direção ao chão. Testar força muscular contrarresistência Dor ou exacerbação da dor no ombro afetado na topografia do manguito rotador Teste de Patte Lesão do infraespinhal Braço abduzido a 90º no plano da escápula, com cotovelo também fletido a 90º. Solicita-se que o paciente faça uma rotação externa contrarresistência do examinador Dor ou incapacidade de resistir à força imposta pelo examinador Teste de Gerber Lesão do subescapular Rotação interna posterior (braço colocado nas costas do paciente, em região lombar). Solicitar para o paciente afastar o dorso da mão, contrarresistência do examinador Dor ou incapacidade de resistir à força imposta pelo examinador Punho Teste de Phalen Síndrome do túnel do carpo Dorsos das mãos juntos, com os punhos em flexão completa e os dedos voltados inferiormente por 1 minuto Parestesias em território do nervo mediano Teste de Phalen reverso Síndrome do túnel do carpo Palmas das mãos juntas,punhos em extensão máxima, dedos na vertical, voltados superiormente Parestesias em território do nervo mediano Sinal de Tinel do punho Síndrome do túnel do carpo Percussão do dorso do punho em extensão, no nível do túnel do carpo, a partir da prega distal do punho Parestesias em território do nervo mediano Sacroilíacas Teste de Patrick (Fabere – flexão, abdução, rotação externa e extensão) Lesão em sacroilíacas Paciente em decúbito supino. Colocar o pé do membro em flexão sobre o joelho contralateral. Uma das mãos do examinador pressiona o joelho da perna fletida para baixo. A outra mão pressiona a espinha ilíaca anterossuperior (Eias) para baixo Se dor em região inguinal da perna fletida: lesão em articulação ipsilateral do quadril. Se dor em região de nádega contralateral: dor em sacroilíaca Teste de distração (Volkman) Lesão em sacroilíacas Paciente em decúbito supino. Examinador com ambas as mãos apoiadas sobre a Eias faz pressão para baixo, procurando “abrir” as cristas ilíacas Dor em topografia de sacroilíacas Teste de compressão (Lewin) Lesão em sacroilíacas Paciente em decúbito lateral. Examinador se posiciona atrás do paciente e, com as mãos sobre a Eias, comprime o ilíaco para baixo Dor em topografia de sacroilíacas Teste de Gaenslen Lesão em sacroilíacas Paciente em decúbito dorsal próximo à borda da maca. Perna sintomática, próxima à borda da maca, é hiperestendida no quadril, com o auxílio da mão do examinador colocada sobre o joelho do paciente. A outra perna é mantida em dupla flexão (joelho e quadril) pelo paciente com assistência do examinador Dor na sacroilíaca do membro em hiperextensão Fonte: Vasconcelos et al. (2019, p. 20). 22 Unidade I Saiba mais O texto a seguir serve como um guia para avaliação dos comprometimentos articulares e extra-articulares dos pacientes reumatológicos. FULLER, R. Anamnese e avaliação inicial do paciente reumatológico. MedicinaNET, 29 set. 2008. Disponível em: https://bit.ly/3gaMoQs. Acesso em: 17 ago. 2021. Os exames complementares de imagem e de laboratório auxiliam o diagnóstico reumatológico, porém não invalidam a importância da avaliação clínica. Exames laboratoriais Os exames laboratoriais mais comumente solicitados na suspeita de doença reumática autoimune são as pesquisas de autoanticorpos (quadro 7), entre outros. Quadro 7 – Tipo de autoanticorpo e sua associação com a doença autoimune Tipo de autoanticorpo Associação com a doença autoimune Fator antinúcleo (FAN) Quanto mais alto o FAN, maior a possibilidade do diagnóstico de doença autoimune Fator reumatoide (FR) Está associado à piora do prognóstico na artrite reumatoide Ao acompanhar pacientes com doenças reumáticas, é necessário atenção para alguns dos marcadores de fase aguda, importantes para avaliar a resposta inflamatória, tais como a proteína C-reativa (PCR) e a velocidade de hemossedimentação (VHS). Níveis elevados desses marcadores podem indicar que o processo inflamatório é intenso e o dano resultante da doença tenderá a aumentar. A PCR é o biomarcador mais estudado, promove a interação entre imunidades humoral e celular. Está relacionado com a extensão do processo inflamatório ou da atividade clínica. A VHS reflete o aumento da concentração plasmática de proteínas de fase aguda. Ao pensar em um paciente com doença reumatológica que acomete a articulação, por exemplo, e com níveis de VHS e PCR acima dos padrões de referência, é prudente lembrar que, nesse caso, a queixa articular precisará necessariamente ser tratada pelo médico com o objetivo de controlar a inflamação articular por meio do uso de medicamento. A fisioterapia será um tratamento complementar nesse momento. 23 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Exames de imagem São mais úteis quando há suspeita de artrite reumatoide ou osteoartrite, por exemplo. A radiografia é utilizada para identificar lesões ósseas mais tardias, enquanto a ressonância magnética e a ultrassonografia são mais indicadas para localizar inflamações no estágio inicial e lesões em partes moles. Lembrete O diagnóstico deve ser resultado da associação entre a avaliação clínica e os exames complementares. 1.4 Aspectos gerais da reabilitação em reumatologia Ao receber um paciente com doença reumática para a reabilitação, é importante conhecer as queixas mais comuns, para direcionar o processo de avaliação e, em seguida, traçar objetivos e condutas do tratamento de acordo com a necessidade do paciente. A perda de função em decorrência de acometimento musculoesquelético em pacientes reumatológicos está relacionada principalmente com os seguintes fatores: • dor; • queda; • artrites; • sarcopenia. Os principais objetivos durante a reabilitação devem incluir: • diminuição da dor; • restauração e manutenção da função; • prevenção de incapacidades. As condutas para atingir os principais objetivos no tratamento contemplam: • educação do paciente; • proteção articular e conservação de energia; • orientações sobre o uso de órteses; 24 Unidade I • orientações sobre o uso de meios auxiliares de marcha; • adaptações; • cinesioterapia. Vejamos a seguir alguns detalhes sobre cada uma dessas condutas. Educação do paciente Aplicamos esse recurso com o objetivo de auxiliar no enfrentamento da doença por meio de: • orientações envolvendo pacientes, cuidadores e familiares; • programas educacionais; • conhecimento sobre os meios para conviver com a doença. Saiba mais Veja um exemplo de vídeo educativo em reumatologia: O QUE é Artrite Idiopática Juvenil? SBR, 2019. 1 vídeo (3min 50seg). Disponível em: https://bit.ly/3yWY40C. Acesso em: 17 ago. 2021. Proteção articular Durante a reabilitação, é primordial intervir de acordo com os sinais e sintomas e as condições do paciente. Muitas vezes, com o objetivo de permitir maior função e mobilidade, será necessário o fisioterapeuta: • ajustar a intensidade ou frequência do exercício; • evitar a sobrecarga articular dolorosa e danosa; • dividir o trabalho entre as articulações para reduzir a sobrecarga. Lembrete Devemos indicar o repouso intercalado com atividades que não piorem a dor, quando necessário. O repouso absoluto no leito é contraindicado. 25 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Conservação de energia Pacientes com doenças reumáticas frequentemente apresentam diminuição da massa muscular, fato que, associado ao dano articular, exige um aumento do consumo de energia para manter suas atividades funcionais. Algumas orientações podem ser úteis para reduzir o gasto energético e facilitar a execução de algumas tarefas: • deslizar objetos em vez de levantá-los; • realizar diversas pausas para descanso durante o dia; • não realizar uma mesma atividade por períodos longos. Órteses Podem ser prescritas, com o objetivo de diminuir a dor, promover estabilidade e manter a articulação em uma posição que facilite a função. Assim, podemos propor o uso de bengalas, talas para imobilização do punho ou para mão reumatoide, órteses para os joelhos (figuras 6 e 7), cintas e coletes para a coluna lombar. Observação Ao propor o uso de meios auxiliares para a marcha, como uma bengala, por exemplo, é indispensável ficar atento à adaptação do paciente e ao gasto energético durante seu uso. Figura 6 – Órtese para osteoartrite de joelho Fonte: Sprouse, Mclaughlin e Harris (2018, p. 572). 26 Unidade I Figura 7 – Órtese para tendinopatia patelar Fonte: Sprouse, Mclaughlin e Harris (2018, p. 572). Adaptações O uso de algumas adaptações pode permitir ao paciente maior mobilidade ou, ainda, a realização de algumas atividades com menos dor e maior facilidade. As adaptações mais utilizadas são: • corrimãos; • engrossadores de cabos (facilitam a preensão); • alongador para pegar objetos que ficam fora do alcance; • alça em objetos para facilitar a pinça; • maçanetas de portas ou torneiras de mais fácil abertura. Meios físicos A eletroterapia e a termoterapia apresentam poucasevidências de seus efeitos benéficos em doenças reumáticas em geral. O calor pode ser utilizado para promover o relaxamento muscular e diminuir a rigidez articular, porém devemos ter cautela, uma vez que pode haver aumento da inflamação se utilizado em processos agudos. A crioterapia pode ser indicada para conter a inflamação e promover analgesia, mas, em casos de esclerodermia, corre o risco de favorecer a isquemia, enquanto nas artrites gotosas pode ter o efeito de precipitar cristais na articulação. 27 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Cinesioterapia É utilizada com o objetivo de melhorar ou manter a flexibilidade, a força muscular e o condicionamento aeróbico. A cinesioterapia inclui: • Alongamento: para melhorar a flexibilidade e amplitude de movimento, os exercícios ativos são mais indicados, pois o paciente realiza no seu limite com menor risco de dano. • Treinamento resistido progressivo: tem o objetivo de promover melhora da força muscular e reduzir o risco de quedas em idosos, por exemplo. Poderão ser utilizados pesos, elásticos, equipamentos mecânicos, bolas ou o próprio peso corporal. Para um treinamento resistido seguro, deve-se começar com intensidade leve a moderada. É recomendado de 1 a 3 séries, repouso de 1 min a 2 min entre as séries, com 8 a 12 repetições de 2 a 3 vezes por semana. Os exercícios em cadeia cinética fechada são preferidos, pois têm as vantagens de distribuir a sobrecarga nas articulações e simular a biomecânica real (figura 8). Figura 8 – Exercício em cadeia cinética fechada Fonte: Skou e Roos (2019, p. 114). • Condicionamento aeróbico: auxilia no combate à fadiga, alívio da dor, melhora da função e qualidade de vida, além de reduzir a atividade da doença, no caso de artropatias inflamatórias. O exercício aeróbico pode ser realizado por meio de atividades como caminhada, ciclismo, corrida, hidroginástica, dança ou natação. Ao propor o exercício aeróbico, deve-se adaptá-lo às condições funcionais dos pacientes. Inicialmente, realizam-se sessões curtas e com aumento gradativo da duração. Os exercícios aeróbicos devem ser praticados de 3 a 5 vezes na semana, com duração progressiva de 30 min a 60 min. A intensidade segura do exercício aeróbico pode ser realizada atingindo-se até 70% da frequência cardíaca máxima (220 menos a idade do paciente). 28 Unidade I Exemplo de aplicação Por exemplo, considere a orientação de caminhada como exercício aeróbico para um paciente de 33 anos; a máxima frequência cardíaca a ser atingida durante o exercício será 130 bpm. Para chegar a esse valor, calcula-se assim: 220 – 33 = 187 187 × 70% = 130 bpm • Hidroterapia: esse recurso permite baixo impacto articular e pode trazer melhora da força e da função. Ao programar a reabilitação do paciente reumático, é necessário atentar-se ao alto risco cardiovascular que pode contraindicar a realização de exercícios físicos. Veja a seguir algumas dessas contraindicações: • hipertensão arterial descontrolada; • quadro febril; • insuficiência cardíaca descontrolada; • trombose. Outros cuidados na prática de exercício físico incluem: • proteção articular e posição confortável; • respeitar os limites da dor; • evitar a fadiga excessiva; • evitar esportes de contato ou de alto impacto. Lembrete Não se esqueça de verificar a condição clínica do paciente antes de prescrever qualquer exercício. A intensidade do treino precisa ser aumentada de maneira gradual. 29 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Vale salientar que, durante o processo de reabilitação, o ideal é que o paciente seja acompanhado por uma equipe multiprofissional da qual o fisioterapeuta faça parte (figura 9). Paciente reumatológico ReumatologistaAssistente social Terapeuta ocupacionalNutricionista FisiatraOrtopedista PsicólogoEducador físico Fisioterapeuta Enfermeiro Figura 9 – Equipe multiprofissional 2 OSTEOARTRITE Todos já devem ter ouvido falar sobre a osteoartrose ou osteoartrite (OA), pois é a doença articular mais frequente, sendo a primeira causa de dor musculoesquelética. Sua prevalência no Brasil é de 16%, e o joelho, por ser uma região de carga, é a articulação mais acometida. Apesar de estar associada ao envelhecimento, é importante saber que não é uma doença degenerativa, pois ocorre devido ao aumento do metabolismo celular articular em resposta a uma agressão à cartilagem (CARVALHO et al., 2019; ABRAMOFF, 2020). Nessa doença, há um desequilíbrio no processo de degradação e reparação da cartilagem. A sinóvia apresenta leve inflamação e a degradação da cartilagem evolui com consequente remodelação do osso subcondral (figura 10). 30 Unidade I Matriz: degradação do colágeno e proteoglicanos Condrócito: liberação de proteases e citocinas Degradação da cartilagem Estresse e outras causas Figura 10 – Fisiopatologia da osteoartrite Fonte: Carvalho et al. (2019, p. 260). Os fatores relacionados à insuficiência cartilaginosa são: • mecânicos; • genéticos; • hormonais; • ósseos; • metabólicos. Em relação à obesidade, existem dois fatores responsáveis pelo dano articular: • sobrecarga mecânica; • produção de mediadores inflamatórios no tecido adiposo. Saiba mais Leia o seguinte artigo: WOJDASIEWICZ, P.; PONIATOWSKI, Ł.; SZUKIEWICZ, D. The role of inflammatory and anti-inflammatory cytokines in the pathogenesis of osteoarthritis. Mediators of Inflammation, v. 2014, 2014. O quadro clínico é caracterizado por: • Dor localizada mais acentuada em alguns pontos da articulação. • Dor que piora ao movimento. 31 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA • Ausência de sinais sistêmicos inflamatórios. • Dor acompanha limitação para rotação interna no quadril. • Rigidez pós-repouso é incomum; quando ocorre dura menos de 30 minutos. • Dor na fossa poplítea nos joelhos após algum tempo sentado. • Limitações ao movimento passivo da articulação, instabilidades articulares decorrentes de fragilidade de ligamentos e/ou músculos, calor local, crepitações, desvio dos dedos das mãos com aumento de volume nas interfalangeanas distais (nódulos de Heberden, figura 11) e proximais (nódulos de Bouchard), deformidades como aumento de volume articular, varismo (figura 12) e valgismo dos joelhos, valgismo do hálux. • Limitação nos movimentos de rotação interna e externa dos ombros. • Associação com radiculopatias na coluna. Figura 11 – OA de mão com a presença de nódulos de Heberden nas articulações interfalangeanas distais Fonte: Moreira, Pinheiro e Marques Neto (2009, p. 200). 32 Unidade I Figura 12 – Varismo e aumento ósseo em ambos os joelhos Fonte: Moreira, Pinheiro e Marques Neto (2009, p. 19). Dor na OA Em pacientes com osteoartrite, percebe-se que a dor é uma das principais características desse quadro e ocorre devido a: • Estimulação dos nociceptores dos tendões, ligamentos e osso subcondral. • Lesões na medula óssea e sinovite. • Ativação de vias aferentes nociceptivas medulares com alterações no processamento do nervo e sensibilização dos nervos periféricos e centrais. Observação A dor da OA não provém da cartilagem, pois essa estrutura é aneural. Identificar sua causa auxilia o direcionamento da terapia para a redução dos sintomas. Exames complementares Para o fisioterapeuta, a observação da radiografia é um parâmetro importante para o prognóstico de ganho de amplitude de movimento, ou seja, quanto maior for a irregularidade do contorno ósseo, associada à diminuição do espaço articular, menor será a amplitude de movimento possível; por isso, muitas vezes não será viável o objetivo terapêutico de restaurar a amplitude completa devido ao bloqueio ósseo da articulação, típico dos casos mais avançados. Veja as radiografias a seguir típicas de OA (figuras 13 a 17). 33 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA A) B) Figura 13 – OA de joelho (A) sem carga e (B) com carga. Presença de osteófitos e diminuição do espaço articular mais evidente na figura à direita Fonte: Carvalho et al. (2019, p. 89). Figura 14 – OA avançada de quadril.Irregularidade do contorno ósseo, extensa diminuição do espaço articular femoroacetabular e presença de osteófitos (seta) Fonte: Moreira, Pinheiro e Marques Neto (2009, p. 199). 34 Unidade I Figura 15 – OA do polegar (seta) Fonte: Moreira, Pinheiro e Marques Neto (2009, p. 201). Figura 16 – OA da coluna cervical Fonte: Moreira, Pinheiro e Marques Neto (2009, p. 203). 35 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA A) B) Figura 17 – Hálux valgo com deformidade em paciente que deambulava sem dor, e usando sapato de câmara anterior larga (A); radiografia mostra desalinhamento do 1º e 2º raios, subluxação do hálux, área de erosão óssea na face medial distal do 1º metatarsiano e discreto osteófito na extremidade lateral proximal da 1ª falange (B) Fonte: Vasconcelos et al. (2019, p. 457). Observação Quando os sinais radiográficos de OA são observados em indivíduos assintomáticos, não é caracterizado o diagnóstico da doença, não sendo possível afirmar que o indivíduo tenha osteoartrite. Vamos conhecer, a seguir, as formas de tratamento. Tratamento farmacológico Os principais medicamentos utilizados no tratamento da osteoartrite são: • analgésicos; • AINH; • antiartrósicos de ação lenta; • medicação intra-articular (corticosteroides e ácido hialurônico). Reabilitação É preciso atentar-se, pois, na maioria das vezes, o paciente com OA é idoso e, desse modo, devemos ter cuidado com alterações que poderão estar presentes, como diabetes, hipertensão, depressão e ansiedade. Assim, a equipe multiprofissional é útil na abordagem desses pacientes. 36 Unidade I A maioria dos estudos abordam o tratamento da OA dos joelhos, mas as bases do tratamento norteiam a reabilitação de qualquer articulação (como veremos no quadro 8 adiante). Os objetivos incluem alívio sintomático e melhora da mobilidade. Observação O questionário de avaliação Womac é utilizado para quadril e joelho e pode servir como ferramenta para acompanhar a evolução do tratamento no que diz respeito a dor, função e rigidez articular. Redução de peso corporal e do excesso de carga articular, atividade física e fisioterapia são a primeira linha de abordagem. A fisioterapia inclui o uso da eletrotermofototerapia e cinesioterapia com exercícios para ganho de mobilidade (figuras 18 a 21), força muscular e estabilidade articular (figuras 22 e 23). Finalidade: aumentar a flexão do joelho Técnica: deslizamento posterior da parte proximal da tíbia em decúbito dorsal Finalidade: aumentar a flexão do joelho Técnica: deslizamento posterior da parte proximal da tíbia em posição sentada Figura 18 – Mobilização articular do quadril Fonte: Kisner e Colby (2019, p. 170). 37 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Finalidade: distração da superfície superior de apoio do peso Técnica: tração longitudinal do fêmur Posição: decúbito dorsal com o quadril em posição de repouso (flexão e abdução de 30º, leve rotação lateral) Finalidade: aumentar a flexão do quadril Técnica: deslizamento posterior da parte proximal do fêmur Finalidade: aumentar a extensão do quadril Técnica: deslizamento anterior da parte proximal do fêmur (decúbito ventral) Figura 19 – Mobilização articular do quadril Fonte: Kisner e Colby (2019, p. 171). 38 Unidade I Finalidade: aumentar a extensão do joelho Técnica: deslizamento anterior da parte proximal da tíbia em decúbito ventral Precaução: evitar a compressão da patela contra a mesa colocando uma toalha dobrada sob a parte distal da coxa Finalidade: aumentar a mobilidade patelar para a flexão do joelho Técnica: deslizamento inferior da patela – deslizamento patelar paralelo ao fêmur Precaução: não comprimir a patela contra os côndilos femorais Figura 20 – Exercícios de mobilização articular para o joelho Fonte: Kisner e Colby (2019, p. 204). Finalidade: aumentar a rotação medial do quadril Técnica: — Estabilizar a pelve com a palma da mão — Produzir o deslizamento inferolateral com cinto de mobilização — Girar medialmente o fêmur com a mão em volta da coxa e da canela Finalidade: aumentar a extensão do quadril Técnica: — Estabilizar a pelve com a palma da mão — Produzir o deslizamento inferolateral com cinto de mobilização — Flexionar o fêmur com a mão em volta da coxa e da canela Figura 21 – Exercícios de mobilização articular para o joelho Fonte: Kisner e Colby (2019, p. 20). 39 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Finalidade: fortalecer e controlar o quadríceps em extensão terminal do joelho Técnica: resistência elástica — Começar com o joelho em flexão de 30º-45º — Estender o joelho contra a resistência elástica — Manter a extensão do joelho por vários segundos e, então, liberar lentamente e permitir a flexão do joelho Finalidade: fortalecer e controlar o quadríceps em extensão terminal do joelho Técnica: comprimir uma bola contra a parede — Usar uma bola que ofereça resistência ao movimento — Estender o joelho contra a resistência elástica — Manter a extensão do joelho por vários segundos e, então, liberar lentamente e permitir a flexão do joelho Figura 22 – Exercícios de fortalecimento para quadríceps Fonte: Kisner e Colby (2019, p. 212). Finalidade: desenvolver força e controle excêntricos e concêntricos da musculatura do joelho (apoio de peso bilateral progredindo para unilateral) Técnica: miniagachamentos – apoio bilateral — Executar agachamentos parciais mantendo a posição flexionada e retornando à posição em pé — Realizar o movimento sem e, depois, com resistência elástica — Enfatizar a amplitude de 0º-45º da flexão/extensão do joelho Progressão: miniagachamentos – apoio unilateral Precaução: evitar a flexão do joelho > 60º para minimizar as forças de cisalhamento sobre os ligamentos do joelho e as forças compressivas sobre a articulação patelofemoral Figura 23 – Miniagachamento Fonte: Kisner e Colby (2019, p. 213). 40 Unidade I Quadro 8 – Medidas terapêuticas especiais nas osteoartrites Joelhos Instruções sobre as atividades da vida diária - Evitar carregar objetos pesados - Não caminhar em superfícies irregulares - Evitar subir e descer escadas com frequência - Evitar atividades com longa permanência em pé - Evitar agachar-se e ajoelhar-se com frequência - Fazer uso contralateral de bengala nas OA unilaterais - Utilizar muleta ou andador nas OA bilaterais - Adotar emagrecimento (preventivo nos pacientes predispostos, joelho varo ou valgo, e obrigatório nos casos já instalados) - Fazer exercícios (principalmente isométricos para os quadríceps) - Evitar evolução para joelhos em flexão - Usar órteses nos casos de joelhos instáveis - Aplicar gelo, não calor, se houver sinovite - Fazer infiltração com corticosteroide nas sinovites refratárias (triancinolona hexacetonida) - No tratamento, utilizar correntes elétricas analgésicas, por exemplo, Tens Recomendam-se a seguintes intervenções ortopédico-cirúrgicas de acordo com o caso - Irrigação salina (tidal irrigation ou irrigação percutânea) - Desbridamento artroscópico - Osteotomia tibial (varo) ou femoral (valgo) - Artroplastia total - Artrodese (excepcionalmente) Mãos Nódulos de Heberden e Bouchard - Usar proteção articular - Evitar atividades de maior carga ou prolongadas (profissionais ou domésticas) - Fazer banhos de contraste térmico - Usar parafina - Usar creme à base de capsaicina 0,025% - Utilizar luvas de borracha (com ou sem aplicação de Aine tópico) - Cirurgia ortopédica é pouco indicada, porém as mais recomendadas seriam: artrodeses nos nódulos de Heberden e artroplastias nos nódulos de Bouchard Rizartrose (osteoartrite carpometacarpal do 1º dedo) - Evitar atividades traumatizantes, como crochê e tricô - Imobilizar - Fazer infiltração com corticoide - Cirurgia ortopédica é mais adotada do que em casos com nódulos; as mais recomendadas são: artroplastia e artrodese 41 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Coxofemoral Instruções sobre as atividades da vida diária - Evitar carregar objetos pesados - Nãocaminhar em superfícies irregulares - Evitar subir e descer escadas constantemente - Evitar atividades com longa permanência em pé - Fazer uso contralateral de bengalas nas OA unilaterais - Usar muleta ou andador nas OA bilaterais - Em obesos, adotar medidas para emagrecimento - Fazer exercícios que evitem predomínio dos adutores - Manter repouso em decúbito ventral para prevenir contratura em flexão - Não indicar infiltrações com corticosteroide, pois são de pouca valia - No tratamento, utilizar correntes elétricas analgésicas, por exemplo, Tens - Utilizar calor na musculatura-satélite para relaxamento muscular Recomendam-se intervenções ortopédico-cirúrgicas de acordo com o caso - Osteotomias intertrocantéricas - Artroplastia total - Artrodese apenas em casos excepcionais Periféricas Pés - Compensar defeitos posturais com palmilhas - Usar sapatos adequados e confortáveis - Fazer infiltrações com corticosteroides - Indicar cirurgia só em casos excepcionais Temporomandibular - Fazer infiltrações com corticosteroides - Tratar maloclusão dentária Acromioclavicular - Fazer infiltrações com corticosteroides - Em casos persistentes, ressecar extremidade distal da clavícula Centrais Coluna cervical - Evitar posições que forcem o pescoço nas atividades da vida diária - Imobilizar nas crises agudas (métodos caseiros, colares) - Adotar tração precedida de calor em casos selecionados - No tratamento, utilizar correntes elétricas analgésicas, por exemplo, Tens - Fazer uso de calor e massagem relaxante - Fazer exercícios para manter a mobilidade (fora das crises) - Fazer cirurgias em casos especiais de compressão radicular resistente ao tratamento clínico e com comprometimento medular 42 Unidade I Centrais Coluna dorsal - Usar calor (ondas curtas) - No tratamento, utilizar correntes elétricas analgésicas, por exemplo, Tens - Fazer massagens relaxantes Coluna lombar - Evitar funções e posições incompatíveis nas atividades da vida diária - Utilizar calor sob diferentes formas (ondas curtas, forno de Bier etc.) - Fazer massagem sedativa e usar relaxante muscular - Manter repouso nas fases agudas - Usar lombostato após a crise aguda em casos selecionados e por tempo limitado - Fazer exercícios para glúteos, abdominais e eretores da coluna para dar maior estabilidade à coluna e prevenir crises - Fazer cirurgia em casos especiais de compressão radicular e estenose do canal Fonte: Carvalho et al. (2019, p. 271). Observação Diante de quadros dolorosos, os exercícios devem ser adaptados à restrição de amplitude de movimento e até mesmo de carga. 3 ALTERAÇÕES ÓSSEAS E SUA REABILITAÇÃO 3.1 Osteoporose Osteoporose é uma doença sistêmica do esqueleto, caracterizada pela diminuição da massa óssea e deterioração da microarquitetura do tecido ósseo, levando a uma fragilidade óssea e ao aumento do risco de fraturas. Os ossos são um tipo de tecido conjuntivo extremamente denso, constituídos principalmente de fibras de colágeno impregnadas com cristais de fosfato de cálcio, entre outros elementos, como água. Apesar de serem uma das estruturas mais duras no corpo, os ossos mantêm certa elasticidade devido a sua estrutura e propriedades de seus componentes. A massa óssea é continuamente renovada através de um processo denominado remodelamento. Os osteoclastos são as células responsáveis pela reabsorção óssea, enquanto os osteoblastos são as células responsáveis pela deposição de nova matriz. No esqueleto adulto normal, a quantidade de osso secretada pelos osteoblastos corresponde exatamente à mesma quantidade de osso reabsorvido pelos osteoclastos, ou seja, a produção e reabsorção são equilibradas. Esse ciclo acoplado de formação e reabsorção é vital para manter a integridade do esqueleto. Qualquer desequilíbrio no ciclo de remodelamento pode gerar alterações na massa óssea (ganho ou perda). 43 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Fase de repouso Mineralização Reabsorção pelos osteoclastos Osteoclastos Osteoblastos Formação Reversão Figura 24 – Processo de remodelamento: o osso antigo é substituído por novo. A reabsorção e formação são equivalentes nesse processo Adaptada de: Klippel (2008, p. 586). Muitos fatores podem interferir no remodelamento e afetar a atividade osteoblástica e osteoclástica, como estímulos hormonais, estímulo mecânico, oferta de nutrientes e alguns fármacos. A deficiência de estrogênio que ocorre após a menopausa, por exemplo, leva a uma maior formação e ativação de osteoclastos, levando à perda óssea. A perda de massa óssea inicia-se entre 30 e 50 anos de idade em homens e mulheres. No entanto, a osteoporose não está relacionada apenas à idade. Um indivíduo que não atinge o valor ótimo (pico) de massa óssea durante a infância e adolescência pode ficar mais propenso a desenvolver osteoporose durante o envelhecimento. Esse pico de massa óssea depende de aporte calórico, da ingestão adequada de cálcio e vitamina D, da função menstrual normal e do nível de atividade física. 44 Unidade I 1.500 1.000 500 0 0 20 40 60 80 100 Perda óssea relacionada com a idade Pico de massa óssea Feminino Masculino Massa óssea (g/Ca) Idade (anos) Figura 25 – Pico de massa óssea e perda óssea relacionada ao envelhecimento no sexo feminino e masculino Adaptada de: Vasconcelos et al. (2019, p. 488). A osteoporose pode ser classificada como primária ou secundária. Vamos a elas. A osteoporose primária geralmente está relacionada ao envelhecimento, como a menopausa em mulheres, e ocorre mais tarde na vida dos homens. Pode ser subdividida em: • Osteoporose pós-menopausa – ou tipo I: os esteroides sexuais possuem um papel protetor do metabolismo ósseo. O estrogênio inibe a formação e a atividade osteoclástica. Na mulher, durante o climatério, a insuficiência funcional ovariana e a diminuição dos níveis de estrogênio levam à aceleração da perda óssea, sobretudo nos primeiros 5 a 10 anos após a menopausa. Por isso, ela é considerada o principal fator de risco para osteoporose. Quanto mais cedo a menopausa ocorrer, maior é o risco. • Osteoporose senil (relacionada com a idade do indivíduo) – ou tipo II: com o envelhecimento, ocorre redução da exposição solar (que diminui a produção de vitamina D), nutrição inadequada, imobilismo, deficiências hormonais próprias da idade e insuficiência renal relativa. Assim, o paratormônio é produzido de forma compensatória em resposta às baixas concentrações de cálcio no sangue. Ele estimula a atividade osteoclástica e reabsorção óssea para disponibilizar cálcio no sangue e evitar a hipocalcemia. Já a osteoporose secundária é decorrente de uma série de condições patológicas, como osteomalácia, hiperparatireoidismo ou hipertireoidismo, diabetes melito, excesso de glicocorticosteroides, menopausa cirúrgica (retirada dos ovários), insuficiência renal, neoplasias etc. Alguns fatores podem aumentar o risco para a perda de massa óssea, e, por isso, indivíduos que se encaixem nesses critérios devem ser acompanhados e investigados mais de perto. O quadro a seguir lista esses fatores de risco, que estão divididos em modificáveis e não modificáveis. 45 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Quadro 9 – Fatores de risco para o desenvolvimento de osteoporose Fatores de risco não modificáveis Fatores de risco modificáveis Sexo feminino Tabagismo atual Raça caucasiana Etilismo (≥ 3 doses/dia) Menopausa Baixa ingesta de cálcio na dieta Idade > 60 anos Sedentarismo História familiar de osteoporose/fratura Baixo peso (< 58 kg ou IMC < 19 kg/m²) Adaptado de: Vasconcelos et al. (2019, p. 489). A osteoporose é um problema de saúde pública, dada sua importante relação com fraturas, incapacidade e morte. É uma doença progressiva e silenciosa que pode evoluir durante muitos anos sem qualquer sintoma, a não ser que ocorra uma fratura. As fraturas mais comuns na osteoporose são por compressão vertebral, do punho e da extremidade proximal do fêmur. A manifestação clínica de uma fratura do corpo vertebral,por compressão, será dor na região toracolombar, que piora com o caminhar e a movimentação, porém melhora no repouso. Entretanto, muitas vezes, as fraturas vertebrais poderão ser completamente assintomáticas, sendo a queixa do paciente a diminuição de sua altura e a presença de uma deformidade vertebral (cifose). Já as fraturas de quadril decorrem de quedas, podendo ser localizadas em colo ou em região transtrocantérica, esta mais comum em indivíduos mais idosos. A fratura do fêmur proximal é a mais grave e está associada a altas taxas de morbidade e mortalidade. As complicações são inúmeras, desde deformidade, imobilidade, hospitalização, complicações pulmonares e institucionalização, até morte. A internação por uma fratura aumenta o risco de novas hospitalizações. A sobrevida após 5 anos é de cerca de 80% do esperado para a idade, e a maioria das mortes ocorre nos primeiros 6 meses após a fratura. As fraturas do terço distal do antebraço são causadas por queda sobre a mão. T11T11 T12T12 L1L1 L2L2 L3L3 Figura 26 – Fraturas vertebrais graves em T12, L2 e L3 e moderadas em T11 e L1 Fonte: Carvalho et al. (2019, p. 310). 46 Unidade I O diagnóstico da osteoporose é baseado na densitometria óssea (Dexa: densitometria de dupla energia baseada em raios X). Até o advento da densitometria óssea, o diagnóstico era feito quando já havia ocorrido uma fratura. A resistência óssea é determinada em 70% pela densidade mineral óssea (DMO), sendo, portanto, sua mensuração essencial para o diagnóstico de fragilidade óssea. O método é preciso, não invasivo, rápido e seguro. Os critérios diagnósticos propostos pela OMS (1994) baseiam-se na medida da DMO, geralmente do quadril e da coluna (a DMO reflete a quantificação de mineral numa área do esqueleto, expressa em gramas por área ou volume medidos). O valor obtido é então comparado com o indivíduo normal adulto, que está no pico da massa óssea. Osteoporose é definida como massa óssea situada 2,5 ou mais desvios-padrão (DP) abaixo da média para o adulto jovem; e baixa massa óssea ou osteopenia é definida como DMO entre -1 e -2,5 desvios-padrão abaixo da média para o adulto jovem. A medida da densidade óssea, quando expressa como unidade de desvio-padrão a partir da média para o adulto jovem, é chamada de T-score. Tabela 1 – Classificação densitométrica de acordo com a OMS Diagnóstico T-score (em DP) Normal ≥ - 1,0 Osteopenia ≤ - 1,1 e > - 2,5 Osteoporose ≤ - 2,5 Osteoporose estabelecida ou grave ≤ - 2,5 associado a fratura Fonte: Vasconcelos et al. (2019, p. 490). Quando a densitometria é realizada em mulheres na pré-menopausa e em homens jovens, utiliza-se o Z-score, que compara a densidade óssea à curva de mesma idade e sexo. Nessa população mais jovem, atribui-se o diagnóstico de “baixa massa óssea para a idade” quando o Z-score é menor que -2 DP. As indicações para a realização da densitometria óssea são: • mulheres com 65 anos de idade ou mais; • homens com 70 anos de idade ou mais; • mulheres com deficiência de estrogênios com menos de 45 anos de idade; • indivíduos que tenham sofrido fratura por trauma mínimo ou atraumática; • indivíduos com evidências radiográficas de osteopenia ou fraturas vertebrais; • indivíduos que apresentem perda de estatura (maior que 2,5 cm) ou hipercifose torácica; • indivíduos em uso de corticosteroides por 3 meses ou mais (doses maiores que 5 mg de prednisona); 47 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA • mulheres com IMC baixo (< 19 kg/m2); • pessoas com doenças ou uso de medicações associadas à perda de massa óssea. Observação Deve-se monitorar a eficácia do tratamento. Tratamento A principal forma de tratamento da osteoporose é a prevenção. São elementos fundamentais otimizar o pico de massa óssea e prevenir a reabsorção pós-menopausa. Crianças, adolescentes e adultos jovens devem ser orientados quanto à necessidade de nutrição adequada, prática constante de exercícios físicos e adequada ingestão de cálcio e de vitamina D. A reversão da osteoporose estabelecida não é possível até o momento. Entretanto, a intervenção clínica precoce poderá prevenir a doença na maior parte dos indivíduos e a intervenção clínica tardia poderá alterar a progressão do quadro osteoporótico já estabelecido, evitando fraturas. Tratamento farmacológico A seguir, vamos conhecer os tipos de tratamento farmacológico. • Terapia de reposição hormonal: a terapia com estrogênio na pós-menopausa está associada à redução de cerca de 30% a 50% nas fraturas do quadril relacionadas à doença e de aproximadamente 90% no risco de fraturas vertebrais. Essa reposição hormonal também é aprovada como método de prevenção da osteoporose. É uma opção que deve ter seus riscos e benefícios discutidos entre a paciente e seu médico ginecologista. • Agentes antirreabsorção do tecido ósseo: são drogas que inibem a atividade osteoclástica e são especialmente úteis para os pacientes nas fases de rápida remodelação óssea da doença. São exemplos: calcitonina e bisfosfonatos (por exemplo, alendronato, risedronato). • Agentes estimuladores da formação óssea: o fluoreto de sódio e o paratormônio (teriparatida) são drogas capazes de estimular a formação, causando assim aumento importante na massa óssea, em detrimento da reabsorção do tecido ósseo. O paratormônio, quando administrado de forma intermitente e em baixas doses, é um potente estimulador da formação osteoblástica do tecido ósseo. A principal indicação do paratormônio é para o paciente com osteoporose grave e que apresente fratura osteoporótica. 48 Unidade I Lembrete Haverá necessidade de tratamento específico da doença de base quando a osteoporose for do tipo secundário. Reabilitação Uma das principais formas de tratamento não farmacológico é a redução dos fatores de risco modificáveis, como mudanças no estilo de vida: parar de fumar, limitar o consumo de álcool, adotar dieta adequada e realizar atividade física. A ingestão de álcool e tabaco é prejudicial para o esqueleto, bem como para a saúde em geral. • Suplementação: o envelhecimento pode levar à insuficiência de proteínas, cálcio e vitamina D. O esqueleto contém 99% de reservas corporais de cálcio. Quando o fornecimento exógeno é inadequado, o tecido ósseo é reabsorvido para manter calcemia (nível de cálcio no sangue). Por isso, a suplementação de cálcio e vitamina D pode ser necessária. A vitamina D é sintetizada na pele pela ação dos raios solares ultravioleta e sofre transformações no fígado e rins para tornar-se ativa. Ela favorece a absorção intestinal do cálcio. Na deficiência de vitamina D, a suplementação pode aumentar a massa óssea e diminuir os riscos de fraturas. • Prevenção de quedas: a fratura é o pior desfecho de um episódio de queda. As quedas ocorrem em decorrência da associação de diversos fatores de risco e situações ambientais, dos quais muitos podem ser corrigidos. Pacientes com risco de uma primeira fratura ou de nova fratura devem ser identificados como prioridade para integrar um programa de prevenção de quedas. As intervenções para a prevenção de quedas incluem exercício físico regular (para melhorar o equilíbrio, a força muscular e as respostas protetoras em caso de desestabilização), suplementação de vitamina D, retirada gradual de psicotrópicos, correção da baixa acuidade visual, uso de sapatos fechados e com sola de borracha, e adequação do cenário em que o idoso vive (instalação de corrimãos em escadas e banheiros, ambientes com iluminação adequada, evitar pisos molhados ou encerados e retirar tapetes soltos no chão). • Atividade física e exercícios: um dos fatores que interferem diretamente na massa óssea são as cargas compressivas a que o esqueleto é submetido. Portanto, exercícios com descarga de peso são os mais indicados, como caminhada, dança e musculação leve. Eles estimulam a atividade osteoblástica e previnem a reabsorção. 49 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Figura 27 – Exercícios de fortalecimento leve usando sistema de poliasAdaptada de: Brody e Hall (2019, p. 90). Poucos sistemas de polias fornecem estabilização, como bancos, portanto há necessidade de maior estabilização dinâmica do tronco da pessoa que realiza o exercício (o que pode ser positivo). Porém, cadeiras e bancos podem ser configurados de modo a fornecer apoio para pacientes que necessitem. Além disso, exercícios de fortalecimento muscular e propriocepção ajudam a melhorar o padrão de marcha, o equilíbrio e os reflexos, o que minimiza o risco de quedas e possíveis fraturas associadas. Os pacientes com alto risco para fratura vertebral devem evitar flexão anterior da coluna vertebral, como levantar uma carga ou pegar um objeto do chão. Nesse sentido, atividades como boliche e yoga devem ser evitadas, assim como atividades e exercícios de alto impacto que exigem torção rápida ou ações explosivas ou abruptas (por exemplo, golfe e esportes de raquete) e extensão da coluna vertebral. A) B) Figura 28 – Atividades de equilíbrio em bola suíça: sempre com supervisão do fisioterapeuta Adaptada de: Brody e Hall (2019, p. 1940). 50 Unidade I No sentido de incorporar outros fatores de risco para predição de fratura independentemente da densidade mineral óssea, o Centro para Doenças Osteometabólicas, colaborador da OMS, desenvolveu em 2008 a ferramenta Fracture Risk Assessment Tool (Frax), que permite calcular o risco de fratura para os próximos 10 anos. No modelo Frax, o risco de fratura é calculado para mulheres e homens entre as idades de 40 e 90 anos considerando dados como peso, altura, fraturas prévias, tabagismo, uso de glicocorticoides e álcool, entre outros. Saiba mais Pode-se acessar a ferramenta Frax no site a seguir. FRACTURE Risk Assessment Tool. University of Sheffield, [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3AU4rCg. Acesso em: 18 ago. 2021. 3.2 Doença de Paget A doença de Paget, ou osteíte deformante, é uma desordem crônica do esqueleto adulto caracterizada por aumento na reabsorção e deposição de osso. Os osteoclastos são maiores e em maior número, e por isso há reabsorção óssea exagerada (fase osteolítica). Em resposta, há intensificação da atividade osteoblástica para deposição de novo osso (fase esclerótica). Essa aceleração no processo de remodelamento resulta na deposição de uma matriz óssea aumentada, porém desorganizada e enfraquecida, entremeada com áreas de fibrose, o que deixa o osso mais suscetível a fraturas. A doença pode afetar só um osso, mas geralmente acomete mais de um. Os ossos mais comumente afetados são: fêmur, tíbia, úmero, clavícula, vértebras e ossos da pelve e crânio. Sua etiologia ainda é desconhecida, mas há forte componente genético com prevalência familiar. Há também evidências de um gatilho viral no seu desencadeamento (família do paramixovírus). Acomete mais homens que mulheres, em uma proporção 2:1, e sua frequência aumenta com a idade. A doença de Paget é mais comum na Europa, principalmente no Reino Unido e em países de colonização inglesa, como Estados Unidos e Austrália. É rara na África e na Ásia. No Brasil, a maior parte dos casos acontecem em Recife (provavelmente em decorrência dos ancestrais holandeses) e Florianópolis. Os sintomas são variáveis, dependendo do acometimento dos ossos afetados, mas basicamente podem ocorrer alargamento ósseo, deformidade e dor. O aumento ósseo contribui para a dor à medida que pode causar compressão nervosa e contribuir para o desenvolvimento de osteoartrite secundária. Quando os ossos do crânio são acometidos, pode haver perda auditiva (invasão da cóclea), dor de cabeça e tontura. As vértebras podem crescer, enfraquecer, fraturar e comprimir nervos, resultando em sintomas como dor, parestesias e paresias. O diagnóstico é geralmente descoberto quando radiografias e exames laboratoriais são realizados por outras razões. A fosfatase alcalina, marcador de remodelação óssea, é o indicador mais sensível. Na radiografia convencional a fase osteolítica evidencia-se como uma área osteoporótica localizada. Em uma fase mais tardia, observa-se aumento no tamanho do osso e esclerose medular. 51 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA Figura 29 – Radiografia de quadril anteroposterior, evidenciando áreas de esclerose entremeadas por lesões osteolíticas em ilíaco, predominantemente à direita Adaptada de: Vasconcelos et al. (2019, p. 471). Tratamento De maneira geral, a doença de Paget tem progressão lenta e, se o diagnóstico e tratamento forem precoces, o prognóstico é favorável. Tratamento farmacológico O objetivo é suprimir a alta taxa de reabsorção óssea, e os bisfosfanatos são os fármacos prescritos. A fosfatase alcalina é usada para monitorar a resposta terapêutica, sendo considerada a remissão da doença quando ela está normalizada. Analgésicos e Aines podem ser usados para controle da dor óssea. Reabilitação O repouso deve ser evitado, para evitar agravamento da osteoporose. Muitas vezes, cirurgias ortopédicas são necessárias para o tratamento de fraturas decorrentes da doença ou para corrigir deformidades (como as osteotomias de fêmur ou tíbia). Artroplastias de quadril e joelho também são uma possibilidade em caso de osteoartrite secundária. Cirurgias da coluna, como laminectomia, podem ser realizadas em caso de compressão medular ou estenose. 52 Unidade I Em casos de intervenções cirúrgicas, o fisioterapeuta tem papel fundamental no pós-operatório, atendendo às necessidades específicas de cada procedimento ortopédico e sua reabilitação. No entanto, infelizmente, não existem estudos específicos que investiguem o efeito da fisioterapia, da terapia ocupacional ou de outras abordagens não farmacológicas na doença de Paget. 3.3 Osteomalácia e raquitismo Osteomalácia é uma doença caracterizada por um defeito na mineralização da matriz óssea em indivíduos adultos. Raquitismo é uma doença que se caracteriza por defeito de mineralização e maturação das células cartilaginosas nas placas de crescimento em crianças e adolescentes. O raquitismo também está associado à osteomalácia, isto é, além do comprometimento da placa de crescimento, também há comprometimento da matriz óssea. Tanto a osteomalácia como o raquitismo levam à fragilidade do esqueleto, que se torna mais suscetível a deformidades e fraturas. O comprometimento na mineralização óssea presente na patogênese dessas duas doenças está relacionado à deficiência de cálcio e/ou fósforo, que pode ser provocada por várias razões: • Carência nutricional: deficiência de vitamina D, cálcio ou fósforo. • Fatores genéticos e hereditários: mutações nos genes que codificam proteínas envolvidas no metabolismo da vitamina D ou na homeostase do fósforo. • Causas adquiridas: alterações na absorção (doenças intestinais) ou no metabolismo (como consequência de doenças do fígado) da vitamina D e doenças nos túbulos renais que favorecem a perda de minerais. Observação A deficiência grave de vitamina D causa má absorção dietética de cálcio e fósforo, hiperparatireoidismo secundário e mineralização óssea defeituosa. A luz solar é o principal contribuinte para os níveis de vitamina D, já que a dieta normalmente apresenta conteúdo reduzido dessa vitamina. 3.3.1 Raquitismo O raquitismo por deficiência nutricional é o tipo mais comum em todo o mundo. Apesar de poder ser causado por deficiência de fósforo, geralmente é causado por níveis baixos de cálcio como consequência de sua baixa ingestão na dieta ou por deficiência de vitamina D (também por dieta insuficiente ou baixa exposição a luz do sol, a qual é necessária para ativá-la). 53 FISIOTERAPIA REUMATOLÓGICA O raquitismo foi muito prevalente em crianças no final do século XIX e início do século XX na Europa e América do Norte. No entanto, após a descoberta do óleo de fígado de bacalhau (rico em vitamina D) e do papel da irradiação ultravioleta na formação da vitamina D na pele, o raquitismo por deficiência nutricional foi praticamente erradicado em muitos países. Mas, apesar desse sucesso, sua prevalência
Compartilhar