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- ÍNDICE - SEÇÃO V 1 - INTRODUÇÃO 2 - ATENDIMENTO AO RECÉM-NASCIDO NA SALA DE PARTO 3 - CONDUTAS E AVALIAÇÃO INICIAL A - EXAME FÍSICO DO RECÉM- NASCIDO B - TESTES DE TRIAGEM NEONATAL 4 - INFECÇÕES CONGÊNITAS 5 - DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS A - DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS AGUDOS B - OUTROS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS 6 - SEPSE NEONATAL 7 - PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV 8 - ICTERÍCIA NEONATAL 9 - OUTRAS AFECÇÕES NO PERÍODO NEONATAL A - ENTEROCOLITE NECROSANTE B - AFECÇÕES NEUROLÓGICAS C - ASFIXIA PERINATAL D - AFECÇÕES METABÓLICAS E - AFECÇÕES CARDIOLÓGICAS SEÇÃO V NEONATOLOGIA OBJETIVOS PRINCIPAIS ❯ Conhecer os termos e definições principais em neonatologia. ❯ Conhecer o fluxograma da reanimação neonatal. ❯ Conhecer os principais aspectos do exame físico neonatal e as intervenções realizadas em todos os RN. ❯ Conhecer as principais doenças do período neonatal: infecções congênitas, distúrbios respiratórios, icterícia neonatal e outras condições. Questões Modelo 25- RN prematuro, PIG, microcéfalo, apresenta calcificações periventriculares à TC de crânio. A principal hipótese diagnóstica é: a) CMV. b) Sífilis. c) Rubéola. d) Toxoplasmose. R: letra A. 26- Adolescente de 12 anos dá à luz uma criança de 3.000 g e 50 cm, com PC = 35 cm, assintomático, após gestação de 39 semanas na qual não fez pré-natal. Na admissão para o parto, colheu VDRL, que foi de 1:16. Qual é a melhor conduta para o RN? a) Colher VDRL; se < 1:16, acompanhar clinicamente. b) Rastrear com VDRL, hemograma, radiografia de ossos longos e punção lombar; tratar com penicilina independentemente dos resultados. c) Rastrear para sífilis congênita e iniciar tratamento com penicilina somente se o liquor evidenciar alterações. d) Acompanhar clinicamente; se permanecer assintomático, manter seguimento ambulatorial de rotina. R: letra B. 27- As cardiopatias mais frequentes na síndrome da rubéola congênita são: a) EAP e CIV. b) PCA e EAP. c) PCA e CIV. d) CIA e PCA. R: letra B. 28- Gestante de 16 anos apresenta, no primeiro trimestre de gestação, sorologia positiva para toxoplasmose (IgM e IgG). Não retorna para seguimento pré-natal e, com 37 semanas de gestação, dá à luz, por parto vaginal, RN sem qualquer alteração clínica evidente. A sorologia do RN é positiva para toxoplasmose (IgM e IgG). O procedimento a ser adotado é: a) Acompanhamento clínico, pois o RN está assintomático. b) Colher sorologias seriadas, iniciando tratamento somente se a titulação for ascendente. c) Rastrear o RN e iniciar sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico independentemente dos resultados, visto que o diagnóstico de toxoplasmose congênita já se confirmou. d) Rastrear o RN e iniciar tratamento com sulfadiazina, pirimetamina e ácido folínico apenas se houver alterações liquóricas ou coriorretinite. R: letra C. 29- RN, 30 semanas de idade gestacional, nascido de parto vaginal, inicia quadro de gemência, cianose e tiragem subcostal ainda na sala de parto. Na história pré-natal, não há relato de qualquer intercorrência significativa. O líquido amniótico era claro e inodoro. Ao exame, você observa FR = 75 irpm, além dos sinais de desconforto respiratório já mencionados. A radiografia de tórax evidencia infiltrado bilateral com aspecto de "vidro moído". Pode-se afirmar que: a) Trata-se de DMH e deve-se prescrever surfactante imediatamente. b) Trata-se de PNM e deve-se prescrever antibióticos. c) Pode-se tratar tanto de DMH como de PNM; deve-se, portanto, fazer rastreamento para infecção, iniciar antibioticoterapia e considerar o uso de surfactante. d) Pode-se tratar tanto de DMH como de PNM; deve-se, portanto, aguardar exames de rastreamento para definir a conduta. R: letra C. 30- Você é chamado no alojamento conjunto às 4h da manhã para avaliar um RN a termo de 2h de vida com peso ao nascimento de 3.850 g. Segundo o relato da mãe, ele está "mamando pouco, respirando rápido e ficando roxinho". Ao exame, chama atenção a FR de 85 irpm sem outros sinais de desconforto respiratório. Ao ler a história do parto, você percebe que o líquido amniótico era meconial espesso, mas não houve necessidade de manobras de reanimação neonatal e o Apgar foi de 9/10. A radiografia de tórax mostra derrame pleural discreto à direita, além de evidências de aumento de líquido no parênquima pulmonar. O diagnóstico mais provável e a conduta adequada são, respectivamente: a) Taquipneia transitória. Internar na UTI e oferecer oxigênio suplementar. b) Taquipneia transitória. Internar na UTI, rastrear para infecção e fazer intubação orotraqueal imediata. c) Síndrome de aspiração meconial. Internar na UTI, rastrear para infecção, intubar e iniciar ATB. d) Síndrome de aspiração meconial. Internar na UTI e oferecer somente oxigênio suplementar. R: letra A. 31- A síndrome de aspiração meconial ocorre principalmente em recém-nascidos: a) A termo. b) Prematuros e a termo. c) A termo e pós-termo. d) Prematuros e pós-termo. R: letra C. 32- Qual achado, dentre os abaixo, sugere a presença de icterícia não fisiológica? a) BT: 5 mg/dl. b) Aumento diário no nível de BT de 2 mg/dl. c) Aparecimento de icterícia com 72h de vida. d) Aumento de bilirrubina direta. R: letra D. 33- RN, 46 horas de vida, apresenta icterícia, percebida pela mãe, há cerca de seis horas. A criança se mostra ativa e vigorosa durante a amamentação ao seio. Não há alterações ao exame físico, além de icterícia. A BT colhida foi de 7 mg/dl (BI = 6,1 mg/dl) e o hematócrito de 50%. Como proceder agora? a) Internar na UTI, pois provavelmente se trata de hemólise. b) Manter observação clínica, mas suspender imediatamente o aleitamento materno. c) Manter observação clínica, pois provavelmente se trata de icterícia fisiológica. d) Iniciar investigação clínica, pois a icterícia no período neonatal sempre indica a presença de uma condição mórbida subjacente. R: letra C. 34- RN com 20 dias de vida apresenta colúria e acolia fecal. Ao exame, apresenta icterícia intensa e hepatomegalia. A BT é de 22 mg/dl, com BD = 20,5 mg/dl. Sabendo-se que não houve intercorrências no pré-natal e as sorologias maternas foram todas negativas, pode- se afirmar que: a) A icterícia é colestática, devendo-se investigar, imediatamente, a possibilidade de atresia de vias biliares. b) Pode ser icterícia pelo leite materno, devendo-se internar o RN e suspender o aleitamento por ora. c) A icterícia é provavelmente por hemólise, devendo-se internar o RN e fazer exsanguinotransfusão urgente. d) Pode ser colestática com componente de hemólise, devendo-se internar o RN para investigação detalhada. R: letra A. 1 - INTRODUÇÃO Idade gestacional A termo 37-41 semanas e 6 dias Pré-termo < 37 semanas Pós-termo ≥ 42 semanas Obs.: ❯ Pré-termo tardio, entre 34 semanas e 36 semanas e 6 dias; ❯ Pré-termo moderado: 32 semanas a 33 semanas e 6 dias; ❯ Muito Pré-termo: 28 semanas a 31 semanas e 6 dias; ❯ Pré-termo extremo: < 28 semanas. Peso ao nascer Baixo peso ao nascer < 2.500 g (1.500-2.499 g) Muito baixo peso ao nascer < 1.500 g (1.000-1.499 g) Extremo baixo peso ao nascer < 1.000 g Peso ao nascer x Idade Gestacional (IG) Adequado para a IG (AIG) Entre p10 e p90 Pequeno para a IG (PIG) Abaixo do p10 Grande para a IG (GIG) Acima do p90 RN PIG x CIUR ❯ O RN pode ser PIG por um fator genético-constitucional (PIG constitucional) ou porque sofreu alguma restrição ao crescimento intrauterino. 2 - ATENDIMENTO AO RECÉM-NASCIDO NA SALA DE PARTO ❯ CIUR – Crescimento Intrauterino Restrito 1. CIUR assimétrico: o corpo e os órgãos internos crescem proporcionalmente menos do que a cabeça e o cérebro. Neste caso, os fatores patológicos se expressam no terceiro trimestre ou no final do segundo trimestre gestacional. O feto se defende contra a hipóxia-isquemia redistribuindo o fluxo de sangue para os órgãos nobres (cérebro, miocárdio) e suprarrenal, num processo denominado centralização da circulação fetal. As principais causas são: insuficiência uteroplacentária (DHEG,HAS crônica prévia, LES, nefropatia), desnutrição materna, placenta prévia, artéria umbilical única, gemelidade; etc... 2. CIUR simétrico: o deficit de crescimento é proporcional entre todos os órgãos, cabeça e abdome. Os fatores patológicos atuam desde o início da concepção ou se instalam no 1º trimestre (12ª semana) ou início do 2º trimestre. As causas mais importantes são o uso de drogas (álcool, tabaco, cocaína, fenitoína, warfarin, antineoplásicos, etc.), as infecções fetais (rubéola, toxoplasmose, CMV, varicela-zóster), a desnutrição materna precoce, as anomalias cromossômicas (especialmente as trissomias) e as malformações congênitas. AVALIAÇÃO INICIAL (1) Preparar todo material necessário para a reanimação. Sala de parto deve ter temperatura de 23-26ºC. (2) Ao receber o RN, realizar as três perguntas iniciais: ❯ Gestação a termo? ❯ RN está chorando ou respirando? ❯ RN tem bom tônus? 1a situação: quando responde-se SIM às perguntas, aguarda-se alguns minutos para o clampeamento do cordão e o RN deve ser levado para o colo da mãe. 2a situação: quando responde-se não a alguma das perguntas acima, o RN deve ser levado para a fonte de calor radiante (mesa de reanimação), para início dos procedimentos de reanimação. Quando a vitalidade for boa, o clampeamento do cordão não precisa ser imediato. Veja o sumário disso abaixo. ❯ RN < 34 semanas com boa vitalidade: clampeamento após 30-60 segundos + mesa de reanimação. ❯ RN ≥ 34 semanas com boa vitalidade: clampeamento após 1 a 3 minutos. RN a termo permanece junto à mãe; prematuro ou pós-termo será levado para a mesa após o clampeamento. ❯ RN de qualquer idade gestacional sem boa vitalidade: clampeamento imediato do cordão + mesa de reanimação. REANIMAÇÃO NEONATAL ATENDIMENTO AO RECÉM-NASCIDO COM NECESSIDADE DE REANIMAÇÃO (acompanhe pelo fluxograma "Reanimação do Recém-Nascido em Sala de Parto" ). ❯ O RN que não for a termo, sem tônus bom ou que não está respirando ou chorando, deve ser levado à mesa de reanimação. ❯ Os passos iniciais da reanimação consistem em: - Prover calor(lembre-se de que os RN com menos de 34 semanas devem ter seu corpo colocado dentro de saco plástico de polietileno; a prática é suplementada com o uso de touca para prevenir perda de calor). Nos RN com peso estimado < 1.000 g, sugere-se o uso de colchão térmico; - Posicionar a cabeça: leve extensão do pescoço; a colocação de coxim sob os ombros pode facilitar esse posicionamento. Essa posição da cabeça visa tão somente à manutenção da permeabilidade das vias aéreas; - Aspirar vias aéreas, se necessário: realizar primeiro a aspiração da boca e depois das narinas. A aspiração está reservada para às situações em que há excesso de secreções obstruindo a respiração espontânea ou quando será necessária a ventilação com pressão positiva; - Secar: secar o bebê e desprezar campos úmidos. Nos RN com menos de 34 semanas, enquanto esses passos estiverem sendo realizados, já está recomendada a colocação simultânea de um sensor para oximetria de pulso (na palma da mão ou pulso radial direito). ❯ Após os passos iniciais, avaliar: - Respiração; - Frequência cardíaca: a FC é o principal determinante da decisão de indicar as diversas manobras de reanimação; esta avaliação inicial deve ser obtida por meio da ausculta do precórdio com estetoscópio. 1ª situação: vitalidade adequada, com respiração rítmica e regular e FC >100 bpm → cuidados de rotina na sala de parto. 2ª situação: sem vitalidade adequada, com respiração irregular ou ausente ou FC <100 bpm → iniciar a ventilação com pressão positiva. O tempo máximo para a realização dos passos iniciais, avaliação da vitalidade e início da ventilação é de 60 segundos (Golden Minute). ❯ Ventilação com pressão positiva: - Equipamentos: balão autoinflável e o ventilador mecânico manual em T. A interface inicial, na maioria dos casos, é a máscara facial; - Frequência da ventilação: 40 a 60 movimentos/minuto, de acordo com a regra prática "aperta/solta/sol ta/aperta..." ou "ocluuui/solta/sol ta/ocluuui/solta/solta" (quando usado o ventilador mecânico manual em T); - Oxímetro: ao iniciar a ventilação, recomenda-se o uso da oximetria de pulso para monitorar a oferta do oxigênio suplementar (lembre-se de que nos menores de 34 semanas a monitorização é indicada já nos passos iniciais). Aplicar sempre o sensor neonatal no membro superior direito: no RN ≥ 34 semanas, de preferência, na região do pulso da radial e, no RN < 34 semanas, no pulso ou na palma da mão; - Monitor cardíaco: quando a ventilação é indicada, recomenda-se a monitorização cardíaca. São fixados três eletrodos: um em cada braço, próximos ao ombro, e o terceiro na face anterior da coxa. O objetivo dessa monitorização é o acompanhamento da FC, não a detecção de anomalias no ritmo; - Concentração de oxigênio: iniciar a ventilação em ar ambiente (RN ≥ 34 semanas) ou com O2 a 30% (RN < 34 semanas). ● A ventilação efetiva deve provocar inicialmente a elevação da FC e, depois, o estabelecimento da respiração espontânea. ● Quando o RN não melhora com a VPP em ar ambiente, recomenda-se sempre verificar e corrigir a técnica da ventilação antes de oferecer oxigênio suplementar. A necessidade de oxigênio suplementar é excepcional em RN ≥ 34 semanas se a VPP é feita com a técnica adequada. Se o paciente, após a correção da técnica da ventilação, não melhorar, está indicado o uso da cânula traqueal como interface para a VPP. Cada tentativa de intubação pode durar até 30 segundos. ● Principais indicações para ventilação por cânula traqueal na sala de parto: → Ventilação com máscara facial não efetiva; → Ventilação com máscara facial prolongada; → Aplicação de massagem cardíaca; → Hérnia diafragmática. ❯ Massagem cardíaca externa: - Indicação: indicada quando após 30 segundos de VPP correta com oxigênio suplementar, o RN apresentar ou persistir com FC < 60 bpm. As compressões só devem ser iniciadas quando a expansão e a ventilação pulmonares estiverem bem estabelecidas. Na prática clínica, a massagem cardíaca é iniciada se a FC estiver < 60 bpm após 30 segundos de VPP com técnica adequada por meio da cânula traqueal e uso de concentração de oxigênio de 60-100%; - Local: aplicar a compressão no terço inferior do esterno; técnica dos dois polegares (preferencial) ou dos dois dedos. O profissional de saúde que vai executar a massagem cardíaca se posiciona atrás da cabeça do RN, enquanto aquele que ventila se desloca para um dos lados; - Profundidade: 1/3 do diâmetro anteroposterior do tórax; - Relação compressão:ventilação: 3:1. Mesmo com a ventilação por cânula traqueal deve-se manter a relação de três compressões para uma ventilação (90 compressões por minuto + 30 ventilações por minuto). ● Aplicar a massagem cardíaca coordenada à ventilação por 60 segundos, antes de reavaliar a FC, pois este é o tempo mínimo para que a massagem cardíaca efetiva possa restabelecer a pressão de perfusão coronariana. Alvo da Saturação de Oxigênio Pré-Ductal após o Nascimento Até 5 minutos de vida 70-80% 5-10 minutos de vida 80-90% > 10 minutos 85-95% ● Há falha quando após 60 segundos de massagem cardíaca e VPP com cânula traqueal e oxigênio suplementar, o RN mantém FC < 60 bpm. Deve-se verificar a posição da cânula, a permeabilidade das vias aéreas e a pressão de ventilação, além da técnica da massagem propriamente dita, corrigindo o que for necessário. Se, após a correção da técnica da VPP e massagem, não há melhora, indica-se a adrenalina. ❯ Drogas: - Adrenalina: (1:10.000 = 0,1 mg/ml) – recomenda-se a via intravenosa (dose 0,01-0,03 mg/kg). Se a obtenção do acesso venoso for muito demorada, pode-se tentar a via endotraqueal em doses mais elevadas (0,05 a 0,1 mg/kg), apenas uma única vez. Quando a bradicardia persiste, repetir a adrenalina a cada 3-5 minutos (sempre por via endovenosa na dose 0,03 mg/kg) e considerar o uso de expansores de volume caso o paciente esteja pálido ou existam evidências de choque; - Volume (solução cristaloide isotônica – soro fisiológico0,9%): administrados por via intravenosa (dose 10 ml/kg; infundir lentamente). Indicados no RN com hipovolemia (suspeita por perda de sangue ou sinais de choque hipovolêmico, como palidez, má perfusão e pulsos débeis, e não houve resposta adequada da FC às outras medidas de reanimação). ATENDIMENTO AO RECÉM-NASCIDO BANHADO EM MECÔNIO ❯ Aspiração da orofaringe do RN pelo obstetra não é recomendada. ❯ Não há mais indicação para a aspiração rotineira da hipofaringe e traqueia nos RN banhados em mecônio que estejam deprimidos. - 1ª situação: RN a termo banhado em mecônio com boa vitalidade (respiração e tônus adequado) → clampeamento tardio do cordão e colo materno. - 2ª situação: RN banhado em mecônio e deprimido → clampeamento imediato do cordão (como é feito com qualquer RN que esteja sem boas condições de vitalidade) e passos iniciais da reanimação (aquecer – posicionar – aspirar boca e narinas – secar). Se após os passos iniciais houver necessidade de ventilação, esta deve ser iniciada imediatamente. Se após 30 segundos de ventilação efetiva, o RN não melhorar e houver forte suspeita de obstrução de vias aéreas, pode-se indicar a retirada do mecônio residual da hipofaringe e da traqueia sob visualização direta. ATENÇÃO À SAÚDE DO RECÉM-NASCIDO NO CONTEXTO DA INFECÇÃO PELO SARS-COV-2 ❯ RN de parturientes sintomáticas ou que tenham contato domiciliar com pessoa com síndrome gripal ou infecção respiratória comprovada por SARSCoV- 2: o clampeamento oportuno do cordão umbilical deve ser mantido e o contato pele a pele deve ser suspenso. O RN pode ser secado com o cordão intacto, não sendo necessário banho. A amamentação deverá ser adiada para momento em que os cuidados de higiene e as medidas de prevenção da contaminação do recém-nascido, como limpeza da parturiente (banho no leito), troca de máscara, touca, camisola e lençóis, tiverem sido adotados. ❯ Instituir precauções padronizadas para SARS-CoV-2 para o binômio mãe-filho durante toda a 3 - CONDUTAS E AVALIAÇÃO INICIAL internação. Reforçando a necessidade de isolamento desse binômio das outras mães e crianças. ❯ Manter afastamento de no mínimo 1 metro entre o leito da mãe e do RN. ❯ Orientar a mãe a realizar a higienização das mãos antes de tocar o RN e a usar máscara cirúrgica durante a amamentação e cuidados com o RN. ❯ Não postergar a alta por falta de teste ou resultado de RT-PCR para SARS-CoV-2 do RN. Boletim de Apgar ❯ É uma medida da vitalidade neonatal, com base em parâmetros clínicos como respiração FC, tônus, cor e responsividade avaliados no primeiro e quinto minuto. ❯ Cada um destes parâmetros recebe uma pontuação de 0 a 2; a nota máxima é 10 e a mínima 0. Se no 5º minuto, o Apgar for ≤ 6, novas pontuações serão calculadas a cada 5 minutos (10º, 15º, 20º) até que se obtenha uma nota > 6. ❯ O Apgar não deve ser usado para definir a necessidade de reanimação. BOLETIM APGAR Outras medidas após o nascimento Identificar o RN: nome do bebê e da mãe. Levar o RN à mãe: colocá-lo em contato com o colo materno. O RN que necessitou ser levado para a mesa de reanimação, caso esteja estável, também deve ser levado para o contato com a mãe. Após as primeiras medidas (RN estável): ❯ Prevenção da oftalmia gonocócica: o método de Credé consiste na instilação ocular de colírio de nitrato de prata a 1% e vem sendo abandonado. As publicações do Ministério da Saúde trazem diferentes condutas: pomada de eritromicina, colírio de tetraciclina ou povidona 2,5%; A - EXAME FÍSICO DO RECÉM-NASCIDO ❯ Vitamina K: 1 mg IM para profilaxia da doença hemorrágica do RN; ❯ Vacina anti-hepatite B: 0,5 ml IM (nas primeiras 12 horas de vida); ❯ Transportar ao alojamento conjunto: manter o RN ao lado da mãe para estimular o relacionamento psicoafetivo e iniciar o aleitamento materno. O Ministério da Saúde recomenda que a vacina BCG seja feita tão logo possível. AVALIAÇÃO DA IDADE GESTACIONAL ❯ Método Capurro: não permite a avaliação de prematuros com menos de 29 semanas de gestação. Idade gestacional (dias) = K (204) + soma de pontos. Dividir o resultado por 7 = Idade gestacional em semanas. MÉTODO CAPURRO SOMÁTICO Textura da pele 0 Muito fina e gelatinosa. 5 Fina e lisa. 10 Algo mais grossa. Discreta descamação superficial. 15 Grossa, sulcos superficiais e descamação de mãos e pés. 20 Grossa e apergaminhada. Forma da orelha 0 Pavilhão auricular disforme e achatado. 8 Bordo do pavilhão parcialmente encurvado. 16 Encurvamento parcial de todo o pavilhão superior. 24 Encurvamento bem definido de todo o pavilhão auricular. Glândula mamária 0 Impalpável. 5 Palpável, < 5 mm. 10 Palpável, entre 5-10 mm. 15 Palpável, > 10 mm. Pregas plantares 0 Ausentes. 5 Marcas vermelhas mal definidas na metade anterior da planta. 10 Marcas vermelhas bem definidas na metade anterior da planta e sulcos no terço anterior das plantas. 15 Sulcos na metade anterior das plantas. 20 Sulcos profundos, além da metade anterior das plantas. Formação da aréola 0 Apenas visível. 5 Aréola visível, não elevada, < 0,75 cm. 10 Aréola visível, não elevada, > 0,75 cm. 15 Aréola elevada > 0,75 cm. MÉTODO CAPURRO SOMATONEUROLÓGICO Textura da pele 0 Fina e gelatinosa. 5 Fina e lisa. 10 Algo mais grossa. Discreta descamação superficial. 15 Grossa, sulcos superficiais e descamação de mãos e pés. 20 Grossa e apergaminhada. Forma da orelha 0 Pavilhão auricular disforme e achatado. 8 Bordo do pavilhão parcialmente encurvado. 16 Encurvamento parcial de todo o pavilhão superior. 24 Encurvamento bem definido de todo o pavilhão auricular. Glândula mamária 0 Impalpável. 5 Palpável, < 5 mm. 10 Palpável, entre 5-10 mm. 15 Palpável, > 10 mm. Pregas plantares 0 Ausentes. 5 Marcas vermelhas mal definidas na metade anterior da planta. 10 Marcas vermelhas bem definidas na metade anterior da planta e sulcos no terço anterior das plantas. 15 Sulcos na metade anterior das plantas. 20 Sulcos profundos, além da metade anterior das plantas. Sinal do cachecol ou xale 0 O cotovelo alcança a linha axilar anterior do lado oposto. 6 O cotovelo situa-se entre a linha axilar anterior e média do lado oposto. 12 O cotovelo situa-se na linha média. 18 O cotovelo situa-se entre a linha média e a linha axilar do mesmo lado. Posição da cabeça ao levantar o RN 0 Cabeça totalmente deflexionada (caída para trás), ângulo torácico de 270º. Idade gestacional (dias) = K (200) + soma de pontos. Neste método de cálculo, não se considera a formação dos mamilos; por sua vez, incluem-se dois novos parâmetros de avaliação: o sinal do cachecol ou xale (quando se tenta ultrapassar o braço pela linha média na altura do pescoço) e a posição da cabeça ao se levantar o RN pelas mãos ou pelos braços. 4 Ângulo cervicotorácico entre 180-270º. 8 Ângulo cervicotorácico = 180º. 12 Ângulo cervicotorácico < 180º. ❯ Novo escore de Ballard: útil para a avaliação de prematuros. Permite a estimativa da idade gestacional entre 20 e 44 semanas. Maturidade Neuromuscular Maturidade Neuromuscular Maturidade Somática Cálculo Escore (Neuro muscular + Físico) Semanas -10 20 -5 22 0 24 5 26 10 28 15 30 20 32 25 34 30 36 35 38 40 40 45 42 50 44 EXAME FÍSICO GERAL Exame do crânio Fontanelas Fontanela anterior ou bregmática: diâmetro de 1-3 cm (média = 2 cm), fecha aos 14-18 meses de vida (eventualmente até dois anos). Fontanela posterior: diâmetro de 0,5-0,7 cm (média = 0,6 cm), fecha aos dois meses de vida. Alterações ❯ Bossa serossanguínea (caput succedaneum): abaulamento do tecido subcutâneo, com ou sem equimose, que ultrapassa as linhas de sutura; representa edema subgaleal decorrente do trauma do parto (apresentação cefálica) e desaparece em alguns dias. ❯ Cefalo-hematoma: abaulamento decorrente de um hematoma subperiosteal pelo trauma do parto (apresentação cefálica). Observado em 1-2% dos casos, localizado geralmente no osso parietal. O abaulamento não ultrapassa a sutura e não apresenta equimose. Desaparece espontaneamente. Risco para hiperbilirrubinemia.❯ Craniossinostose: fechamento prematuro das suturas, levando a deformidades cranianas. Forma mais comum é dolicocefalia ou escafocefalia (fechamento precoce da sutura sagital). Exame da pele: alterações encontradas no período neonatal Lanugem Pelo primitivo, fino e incolor, que recobre o dorso e por vezes a face. Verniz caseoso Substância graxenta, branco amarelada (sebo e debris de queratinócitos). Mais comum entre 34 e 36 semanas. Eritema tóxico neonatal Lesões eritematosas, maculopapulares ou pustulosas (semelhantes a picadas de inseto); início no segundo dia de vida na face, tronco, nádegas e membros proximais; poupa palmas e solas; autolimitadas; mais comuns em RN a termo; avaliação histológica evidencia uma bolha subcórnea ou intraepidérmica rica em eosinófilos. Melanose pustulosa ou pustulose transitória neonatal Lesões presentes ao nascimento. Mais comum na raça negra; pústulas estéreis de 2-3 mm (ricas em polimorfonucleares), predominando na fronte, abaixo do mento, região retroauricular e cervical, dorso, mãos e pés (incluindo região palmoplantar); pústulas evoluem com pequenas máculas hipercrômicas com um colarete de escamas brancas. As manchas hiperpigmentadas permanecem por cerca de três meses. Milium sebáceo Pequeninas pápulas esbranquiçadas localizadas na região frontal, malar, nasal e mentoniana. São decorrentes de hiperplasia e obstrução dos folículos pilossebáceos (efeito dos hormônios maternos). Na cavidade oral: pérolas de Epstein. Miliária Lesões vesicopapulares diminutas que ocorrem por obstrução ductal das glândulas sudoríparas écrinas, em decorrência da sudorese excessiva (clima quente, roupas em excesso, febre). Miliária cristalina: a oclusão ductal é ao nível do estrato córneo; são vesículas tipo "gotas de orvalho" localizadas na fronte do RN. Miliária rubra ou "brotoeja": a oclusão ductal é intraepidérmica com inflamação; lesões vesiculares eritematosas, eventualmente com pústula central, com predileção pela fronte, região cervical e axilar. Acne neonatal Comedões (pápulas com centro branco ou preto), pápulas eritematosas e pústulas; na face e por vezes também no tronco superior e na região proximal dos braços. Mancha mongólica Extensa mancha azulada ou azul acinzentada, localizada na região lombar, nádegas e coxas proximais, observada em até 80% dos RN da raça negra ou asiática. Manchas salmão Manchas róseas ou vermelhas, que se exacerbam durante o choro, presentes na região da nuca, pálpebras ou glabela, decorrentes de ectasia capilar. Exame dos olhos Hemorragias retinianas e subconjuntivais Podem ser observadas principalmente em crianças nascidas por via vaginal. Conjuntivite neonatal (oftalmia neonatorum) ❯ Conjuntivite química: pela instilação do nitrato de prata. Manifesta-se nas primeiras 6-12 horas após o nascimento. Autolimitada (resolve-se em até 48 horas). ❯ Conjuntivite gonocócica: período de incubação de 2-5 dias. Secreção vai tornando-se francamente purulenta, com bastante edema palpebral. Tratamento com ceftriaxona. ❯ Conjuntivite por Chlamydia trachomatis: período de incubação de 5-14 dias. Pode ser mais leve ou ter secreção purulenta. Tratamento é feito com eritromicina. Exame abdominal Alterações no fechamento da parede abdominal ❯ Onfalocele: herniação do conteúdo abdominal na linha média, recoberta por saco peritoneal, com o cordão umbilical inserido no centro dessa massa; associação com trissomias e outras anomalias congênitas. ❯ Gastrosquise: defeito à direita do umbigo (o coto umbilical é identificado em seu local B - TESTES DE TRIAGEM NEONATAL anatômico) com as alças intestinais e outros órgãos abdominais podendo exteriorizar-se através dessa abertura, sem membrana peritoneal recobrindo o conteúdo exposto. Exame articular e neuromuscular Articulação do quadril – avaliação da displasia do desenvolvimento do quadril ❯ Manobra de Barlow: manobra provocativa para induzir o deslocamento em uma articulação instável; o examinador segura as coxas do bebê apoiando seu polegar na região inguinal e 4º e 5º dedos no grande trocanter femoral; gentilmente com a coxa em adução, imprime uma força para trás na tentativa de induzir o deslocamento. ❯ Manobra de Ortolani: manobra que permite a redução da articulação luxada; mãos do examinador ficam na mesma posição, mas agora o movimento passivo realizado é a abdução da coxa com tração para frente do grande trocanter. Dizemos que a manobra é positiva quando sentimos na mão um "clique" do quadril. Paralisias braquiais ❯ Paralisia de Erb-Duchenne: lesão ao 5º e ao 6º nervos cervicais; perda da capacidade de abduzir e rodar externamente o braço e supinar o antebraço. A postura fixa é de membro superior aduzido, rodado internamente e pronado; reflexo de Moro ausente deste lado; reflexo de preensão palmar preservado. ❯ Paralisia de Klumpke: lesão ao 7º e ao 8º nervos cervicais, acarretando uma paralisia da mão ipsilateral, e lesão do 1º nervo torácico, cuja injúria às suas fibras simpáticas produz uma síndrome de Horner daquele lado (ptose e miose). Teste do pezinho ❯ Coletar amostra de sangue entre o 3º e o 5º dia de vida. ❯ O Programa Nacional de Triagem Neonatal prevê o rastreamento das seguintes condições: 1. Hipotireoidismo congênito; 2. Fenilcetonúria; 3. Doença falciforme e outras hemoglobinopatias; 4. Fibrose cística; 5. Hiperplasia adrenal congênita; 6. Deficiência de biotinidase; 7. Toxoplasmose congênita. ❯ Em maio de 2021, foi sancionada nova lei que prevê a inclusão do rastreamento de novas doenças. A ampliação do teste deverá entrar em vigor 365 dias após a publicação da lei originada pelo projeto. Isso será feito de forma escalonada e as seguintes condições passarão a integrar a triagem: testagens para galactosemias; aminoacidopatias; distúrbios do ciclo da ureia; distúrbios da beta oxidação dos ácidos graxos (deficiência para transformar certos tipos de gorduras em energia); doenças lisossômicas (que afetam o funcionamento celular); imunodeficiências primárias; e atrofia muscular espinhal. Teste do olhinho ❯ Consiste na pesquisa do reflexo vermelho. ❯ É feito com o oftalmoscópio ou retinoscópio que deve ser segurado pelo pediatra a um braço de distância dos olhos do bebê (ou a cerca de 45 cm – a distância exata varia conforme a referência usada). A resposta normal ao teste é o achado de um reflexo vermelho brilhante quando a luz incide sobre a pupila. - Detecta anormalidades no eixo visual: pontos pretos, assimetria ou leucocoria (reflexo branco pupilar) – que pode ser vista na catarata, retinoblastoma, retinopatia da prematuridade e coriorretinite. - Qualquer anormalidade indica a necessidade de dilatação pupilar e investigação por oftalmologista. Teste da orelhinha ❯ Emissões Otoacústicas Evocadas (EOA): teste feito com o sono natural do bebê, colocando-se um fone externo ao seu ouvido; consiste na emissão de um estímulo sonoro e na captação do seu retorno (eco), sendo registrado no computador e confeccionado um gráfico. Avalia apenas o sistema auditivo pré-neural, ou seja, sistema de condução e cóclea. É um teste rápido, fácil e que não necessita de seda ção. Resultados falso-positivos podem ser produzidos pela presença de verniz caseoso ou secreções no conduto auditivo. 4 - INFECÇÕES CONGÊNITAS - Todo teste alterado deverá ser repetido antes de três meses. - Os casos confirmados de deficit auditivo deverão receber tratamento antes de seis meses. Teste do coraçãozinho ❯ Para avaliação de RN com mais de 34 semanas de idade gestacional. Deve ser realizado entre 24 e 48 horas de vida, antes da alta hospitalar. ❯ Compara a oximetria pré-ductal (membro superior direito) com a oximetria pós-ductal (em um dos membros inferiores). - Resultado normal: saturação periférica ≥ 95% em ambas as medidas (membro superior direito e membro inferior) e diferença < 3% entre as medidas do membro superior direito e membro inferior. Quando o teste estiver alterado, deve ser repetido em até uma hora. Quando a alteração é confirmada, um ecocardiogramadeve ser feito em até 24 horas. Teste da linguinha ❯ Consiste em um protocolo padronizado que avalia características do frênulo lingual. ❯ Objetiva a identificação de alterações no frênulo lingual, ou seja, o diagnóstico precoce de anquiloglossia. Nos casos em que é identificada uma anquiloglossia severa, a frenotomia é indicada antes mesmo da alta hospitalar. A Sociedade Brasileira de Pediatria já emitiu nota oficial indicando que “julga desnecessária a aplicação desse ou de qualquer protocolo que se proponha a avaliar o frênulo lingual do recém- nascido como indicativo de frenectomia”. ❯ As infecções congênitas são decorrentes da transmissão por via hematogênica, transplacentária. SÍFILIS Treponema pallidum Transmissão: ❯ Taxa de transmissão sem tratamento maior nos casos de sífilis primária e secundária; ❯ Pode ocorrer transmissão vertical perinatal (pelo contato com lesões no canal de parto). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Sífilis congênita precoce (< 2 anos) Pele e mucosas Pênfigo palmoplantar; sifílides; condilomas planos; paroníquia; rinite serossanguinolenta. Lesões ósseas Osteocondrite: lesões metafisárias; áreas lucentes na radiografia; impotência funcional por dor à manipulação (pseudoparalisia de Parrot). Periostite: espessamento extenso e bilateral da cortical da diáfise (sinal do duplo contorno). Lesões de outros órgãos Hepatomegalia, esplenomegalia, lesão renal (síndrome nefrótica ou nefrítica). Pneumonia alba. Sistema hematopoiético Anemia hemolítica com Coombs direto negativo, trombocitopenia e leucocitose ou leucopenia. Lesões nervosas Meningite: LCR com celularidade aumentada à custa de linfócitos, apresentando aumento de proteínas e VDRL positivo. Hidrocefalia e paralisia de pares cranianos, hemiplegia e convulsões. Lesões oculares Coriorretinite ("sal e pimenta"), glaucoma, catarata, uveíte, cancro nas pálpebras e atrofia óptica. Sífilis congênita tardia (> 2 anos) Bossa frontal (fronte olímpica), espessamento da junção esternoclavicular (sinal de Higoumenáki), arqueamento da porção média da tíbia (tíbia em sabre). Dentes de Hutchinson e molares em formato de amora. Face: maxilar curto; nariz em sela, com ou sem perfuração do septo nasal; rágades (por fissuras peribucais). Articulação de Clutton (derrame articular estéril nos joelhos). Ceratite intersticial. PREVENÇÃO E CONDUTA NO PRÉ-NATAL Tratamento da gestante: Sífilis primária, sífilis secundária ou latente recente: penicilina G benzatina – 2.400.000 UI/IM, em DU. Sífilis terciária, sífilis latente tardia ou com duração ignorada: penicilina G benzatina – 2.400.000 UI/IM, 3x, com intervalo de uma semana entre cada aplicação. Dose total: 7.200.000 UI. Critérios de tratamento materno adequado: ❯ Administração de penicilina benzatina; ❯ Início do tratamento até 30 dias antes do parto; ❯ Esquema terapêutico de acordo com o estágio clínico; ❯ Respeito ao intervalo recomendado de doses; ❯ Avaliação quanto ao risco de reinfecção; ❯ Documentação de queda do título do teste não treponêmico em pelo menos duas diluições em três meses, ou de quatro diluições em seis meses após a conclusão do tratamento – resposta imunológica adequada. MANEJO DO RECÉM-NASCIDO RN de mulher com sífilis não tratada, ou inadequadamente tratada: ❯ Solicitar: VDRL no sangue periférico, hemograma, radiografia de ossos longos, avaliação liquórica (VDRL, proteínas e celularidade), perfil hepático e eletrólitos, radiografia de tórax, avaliação oftalmoló-gica e audiológica. - Se houver alteração liquórica (VDRL reagente, proteína > 150 mg/dl ou celularidade > 25 células/mm³): penicilina G cristalina, na dose de 50.000 UI/kg/dose, IV, por 10 dias (12/12h nos primeiros 7 dias de vida; 8/8h a partir do 8º dia de vida). - Se houver alterações clínicas e/ou sorológicas e/ou radiológicas e/ou hematológicas (e a avaliação liquórica for normal): penicilina G cristalina por 10 dias (mesma dose já descrita) OU penicilina G procaína 50.000 UI/kg/dose, IM, dose única diária, por 10 dias. Usar preferencialmente a penicilina G procaína. - Se não houver alterações clínicas, radio-lógicas, hematológicas, liquóricas, e a sorologia for negativa no RN: penicilina G benzatina, na dose única de 50.000 UI/kg, IM. Observação: na indisponibilidade de penicilina cristalina para tratamento da neurossífilis, a segunda escolha deverá ser a penicilina procaína. Caso esta esteja indisponível, recomenda-se a ceftriaxona (10 a 14 dias; contraindicada para RN com hiperbilirrubinemia). RN de mulher com sífilis adequadamente tratada: ❯ Solicitar VDRL do sangue periférico em todos os casos. - Se houver VDRL > que o materno em duas diluições: colher demais exames (hemograma, avaliação liquórica, radio grafia de ossos longos e demais exa mes citados anteriormente) e realizar tratamento com penicilina cristalina ou penicilina procaína (procaína apenas se o LCR for normal). - Se RN com VDRL não "≥" ao materno em duas diluições: ● RN assintomático: acompanhamento; ● RN sintomático: → VDRL reagente: sífilis - fazer demais exames e indicar tratamento com penicilina por dez dias (cristalina ou procaína, a depender dos achados liquóricos); → VDRL não reagente: investigar ou tras infecções congênitas. TOXOPLASMOSE Toxoplasma gondii ❯ Risco de transmissão fetal: 17-65%. Maior no terceiro trimestre. ❯ A transmissão ocorre quando a mulher tem a infecção aguda durante a gestação. Na imunossuprimida pode ocorrer transmissão por reativação. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS ❯ Dos RN infectados, 50% serão assintomáticos. Tríade de Sabin: coriorretinite, calcificações intracranianas e hidrocefalia. Oftalmológicas Iridociclite, catarata, glaucoma, desco lamento de retina, microftalmia, estrabismo e nistagmo. A coriorretinite é o comprometimento clássico mais frequente. As lesões ativas podem curar com ou sem tratamento em poucas semanas ou meses, mas tendem a ser recidivantes e podem levar a sequelas graves. Mesmo crianças assintomáticas ao nascimento poderão desenvolver coriorretinite até o início da vida adulta. Neurológicas Calcificações intracranianas difusas, microcefalia, hidrocefalia, retardo do crescimento, opistótono, dificuldade de deglutição, e paralisia de membros. Outras Prematuridade, CIUR, anemia, trombocitopenia, hepatoespleno megalia, linfadenopatia, icterícia, surdez neurossensorial, exantemas, dermatite esfoliativa, miocardite e outros também inespecíficos. PREVENÇÃO E CONDUTA NO PRÉ-NATAL Prevenção: gestantes susceptíveis (IgM -/ IgG -) Evitar ingerir/manipular carne crua ou vegetais mal lavados, evitar contato com terra contaminada e fezes de gatos. Sorologia mensal ou trimestral. Gestantes com infecção aguda: ❯ Investigação de infecção fetal: USG obstétrica; amniocentese para pesquisa de DNA de toxoplasma. ❯ Ausência de infecção fetal: espiramicina, para prevenção da infecção fetal. ❯ Presença de infecção fetal: sulfadiazina + pirimetamina + ácido folínico (este esquema não pode ser feito no primeiro trimestre). MANEJO DO RECÉM-NASCIDO Todos os recém-nascidos infectados, ainda que assintomáticos, deverão ser tratados. Duração: 12 meses. ❯ Sulfadiazina. ❯ Pirimetamina. ❯ Ácido folínico. Na presença de coriorretinite ou hiperproteinorraquia (> 1 g/dl): associar corticoide ao esquema anterior – 1 mg/kg/dia de prednisona – até melhora da coriorretinite ou normalização do liquor. RUBÉOLA ❯ Risco de transmissão fetal do vírus da rubéola é maior no 1º trimestre e no 3º trimestre. Porém o risco de anomalias fetais graves é maior quando a mãe adquire a infecção nas primeiras oito semanas de gravidez. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Retardo do crescimento intrauterino (a rubéola é a infecção congênita mais associada ao CIUR). Oculares São mais frequentes as lesões que afetam a acuidade e a área macular. Catarata, glaucoma (precoce ou tardio), retinopatia (em sal e pimenta) e microftalmia podem estar presentes. Cardíacas Persistência do Canal Arterial (PCA) com ou sem estenose de ramo da artéria pulmonar. Auditivas Surdez bilateralou isolada ocorre por degeneração da cóclea e do órgão de Corti. Manifestação mais comum da rubéola congênita. Neurológicas Microcefalia, meningoencefalite, tetraplegia espástica, retardo do desenvolvimento psicomotor. Associação com autismo infantil. Outras Hepatomegalia e icterícia, esplenomegalia, púrpura trombocitopênica, pneumonite intersticial e lesões ósseas (franjeamento da metáfise: lesão em talo de aipo). Complicações em longo prazo: associação com desenvolvimento de diabetes tipo 1. PREVENÇÃO E CONDUTA NO PRÉ-NATAL Profilaxia pré-exposição: vacina tríplice viral. MANEJO DO RECÉM-NASCIDO Não há tratamento específico. Manejo das sequelas. Pode ocorrer eliminação do vírus nas secreções da criança por vários meses. CITOMEGALOVÍRUS ❯ Além da transmissão transplacentária, existem outras formas de transmissão vertical, como pelo aleitamento. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Prematuridade, CIUR, hepato esplenomegalia, hepatite e icterícia, pneumonia, trombo- citopenia, anemia. Neurológicas Microcefalia,calcificações intra cranianas periventriculares. Outras Coriorretinite, perda auditiva neurossensorial. A surdez é uma sequela bastante comum. A infecção congênita por CMV é a principal causa de surdez neurossensorial de causa viral na infância. PREVENÇÃO E CONDUTA NO PRÉ-NATAL Medidas educativas para a população: evitar contato íntimo pessoa-pessoa. MANEJO DO RECÉM-NASCIDO Ganciclovir 6 mg/kg/dose 12/12h IV, durante seis semanas. Indicado apenas em algumas situações. O valganciclovir VO por seis meses é uma alternativa. Observação: para diagnóstico da infecção congênita, deve ser feita a pesquisa de vírus na urina ou saliva nas primeiras duas ou três semanas de vida do RN. HERPES SIMPLES ❯ A infecção congênita por transmissão transplacentária é rara. ❯ A transmissão vertical pode ocorrer na passagem pelo canal de parto – transmissão perinatal. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Infecção CONGÊNITA É rara, com consequente fetopatia, extremamente grave. As alterações típicas consistem em vesículas cutâneas ou escaras de cicatrização, com alterações oculares e micro/hidrocefalia. A doença fetal é adquirida por viremia materna transitória. A infecção fetal é persistente, e o vírus reaparece após o parto, muitas vezes em local de lesão anterior. O isolamento do vírus em um RN nos primeiros dias de vida é um critério diagnóstico importante da infecção intrauterina. Infecção PERINATAL Ceratoconjuntivite, retinocoroidite, úlcera de córnea, catarata e atrofia óptica. As lesões de pele são vesiculares, podendo recidivar no mesmo local ou em outros locais do corpo. Cerca de 70% dos pacientes com lesões limitadas à pele ou aos olhos não tratadas podem progredir para infecção disseminada ou do sistema nervoso (irritabilidade, convulsões, crises de apneia e febre alta). A forma disseminada é a mais grave e se apresenta com acometimento do SNC e disseminação visceral. PREVENÇÃO E CONDUTA NO PRÉ-NATAL Cesárea, na presença de lesões ativas no canal de parto. MANEJO DO RECÉM-NASCIDO Aciclovir® 20 mg/kg/dose 8/8h por 14 a 21 dias para tratamento da infecção perinatal. VARICELA ❯ Risco de transmissão fetal de 25% quando a infecção ocorre nas primeiras 20 semanas de gestação; apenas 2% apresentarão embriopatia pelo vírus. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Nervos sensoriais: lesões cutâneas cicatriciais; hipopigmentação. Olhos: microftalmia, catarata, coriorretinite, atrofia óptica. SNC: microcefalia, hidrocefalia, calcificações. Plexos nervosos cervicais e lombossacro (fibras simpáticas, motoras e sensitivas): hipoplasia de extremidades, deficit motor e sensitivo, síndrome de Horner, disfunção esfinctérica anal e retal. PREVENÇÃO E CONDUTA NO PRÉ-NATAL Imunoglobulina para a gestante suscetível que entra em contato com caso de varicela. MANEJO DO RECÉM-NASCIDO Não é necessário tratamento, pois a infecção não progride após o nascimento. ZIKA E MICROCEFALIA ❯ Quadro clínico: as seguintes alterações parecem estar correlacionadas com a infecção pelo ZIKV durante a vida intrauterina: - Alterações na morfologia do crânio; microcefalia; protuberância na região occipital; epilepsia e espasmos; - Calcificações cerebrais: cortical e subcortical, sendo este último o achado único entre as infecções congênitas; - Sequelas neurológicas: sintomas piramidais e extrapiramidais precoces, são incomuns em outras infecções congênitas; - Exantema maculopapular; - Deformidades articulares e de membros (membros artrogripóticos); - Lesões oculares: atrofia coriorretiniana e marcação pigmentar focal, ambas afetando a mácula, sendo achado único comparado com outras infecções congênitas; - Alterações no exame neurológico: as crianças acometidas pela síndrome congênita do vírus Zika apresentam uma acentuação da hipertonia observada nos primeiros meses de vida. Além disso, pode ser observado o exagero, com a posterior persistência, de alguns reflexos arcaicos. ❯ Algumas orientações práticas: - A aferição da circunferência da cabeça, nos RN a termo ou prematuros, deve ser feita nas primeiras 24 horas de vida. Se isso não for feito, a circunferência deve ser medida até 48 horas de vida. Na tabela atualmente usada para caracterização da microcefalia, para uma criança que nasceu com 37 semanas de gestação, a medida de referência será 30,24 cm para meninas e 30,54 cm para meninos. ❯ Exames de neuroimagem: - Os seguintes exames de neuroimagem são indicados para RN e crianças com microcefalia e outras anomalias congênitas: ● Ultrassonografia Transfontanela (US-TF): indicada para crianças com fontanela aberta, o que se verifica geralmente até os seis meses de idade. É a primeira opção de exame de imagem, uma vez que a tomografia computadorizada envolve alta carga de radiação e, com frequência, exige sedação nos RN; ● Tomografia computadorizada de crânio: sem contraste, para RN cujo tamanho da fontanela impossibilite a US-TF e para aqueles em que, após a US-TF, ainda persista dúvida diagnóstica; - Achados de neuroimagem: calcificações corticais, subcorticais, malformações corticais, padrão simplificado de giro, alterações migratórias, hipoplasia do tronco cerebral, cerebelo e ventriculomegalia. Algumas dessas manifestações neurológicas ocorreram sem a microcefalia associada e só se tornaram evidentes após o nascimento. ❯ Investigação laboratorial: - RN até o 8º dia de vida, com microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central, ou aqueles sem malformações evidentes ao nascer cujas mães tiveram diagnóstico de infecção por vírus Zika (laboratorial ou clínico epidemiológico) confirmado deverão ter amostras de sangue e urina coletadas, simultaneamente, no momento do nascimento para realização do teste rápido, da sorologia ELISA IgM anti-Zika, e reação em cadeia da polimerase via transcriptase reversa para detecção da partícula viral (RT-qPCR) simultaneamente. ❯ Como notificar os casos e óbitos suspeitos de síndrome congênita? QUAIS NOTIFICAÇÕES DEVEM SER FEITAS APÓS O NASCIMENTO? Recém-nascido com até 48 horas de vida: deve ser notificado todo recém-nascido nas primeiras 48 horas de vida que se enquadre em um ou mais dos seguintes critérios: Critério antro pomé trico ❯ Circunferência craniana < -2 desvios- padrão, segundo a tabela de InterGrowth, de acordo com a idade gestacional ao nascer e sexo. Critério clínico ❯ Desproporção craniofacial (macro ou microcrania em relação à face). ❯ Malformação articular dos membros (artro gripose). ❯ USG com padrão alterado durante a gestação. Recém-nascido ou criança após as primeiras 48 horas de vida: deve ser notificado todo recém-nascido ou criança que, após as primeiras 48 horas de vida, enquadre-se em um ou mais dos seguintes critérios: Critério antro pomé trico ❯ PRÉ-TERMO (IG < 37 semanas): circunferência craniana < -2 desvios- padrão, segundo a curva de crescimento da InterGrowth, de acordo com a idade e o sexo. ❯ A TERMO OU PÓS-TERMO (IG ≥ 37 semanas): circunferência craniana < -2 desvios-padrão, segundo a tabela da OMS, de acordo com a idade e o sexo.Critério clínico ❯ Desproporção cranio facial (macro ou microcrania em relação à face). ❯ Malformação articular dos membros (artro gripose). ❯ Observação da persistência de duas ou mais manifestações neurológicas, visuais ou auditivas quando não houver outra causa conhecida, independen temente do histórico materno. ❯ Duas ou mais manifestações neurológicas, visuais ou auditivas, mesmo não persistente, de mãe com histórico de suspeita/con firmação de STORCH+Zika durante a gestação. ❯ Alteração do cresci mento/desen volvimento neuropsico motor (escala de Denver disponível na Caderneta da Criança), sem causa definida, independen temente do histórico clínico de infecção na gestação. Para os critérios de notificação das condições identificadas durante o pré-natal de feto com suspeita de síndrome congênita e de óbito suspeito de síndrome congênita veja o documento completo em: http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/dezembro/12/orientacoes-int egradas-vigilancia-atencao.pdf. As notificações poderão ser feitas ao RESP, Sinasc, Sinan e/ou SIM, de acordo com o momento em que os casos são identificados e com as alterações que forem encontradas. 5 - DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS A - DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS AGUDOS SÍNDROME DO DESCONFORTO RESPIRATÓRIO Doença da membrana hialina FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO ❯ Fisiopatologia: deficiência na concentração de surfactante pulmonar, levando à instabilidade alveolar (colapso alveolar na expiração). Surfactante pulmonar: mistura de lipídios (lecitina) e proteínas que reduz a tensão superficial na interface ar-líquido no interior do alvéolo. ❯ Fatores de risco: prematuridade (há surfactante em quantidade suficiente após 34 semanas de gestação), asfixia, sexo masculino, raça branca, diabetes materno, nascimentos múltiplos. ❯ Fatores de proteção: doença hipertensiva materna, uso materno de heroína, ruptura prolongada das membranas; administração antenatal de corticoide para a mãe. QUADRO CLÍNICO E ASPECTO RADIOGRÁFICO ❯ Clínica: desconforto respiratório iniciado ainda na sala de parto, com piora progressiva nas primeiras 24 horas de vida. ❯ Radiografia: padrão reticulogranular difuso com presença de aerobroncograma; diminuição no volume pulmonar; imagem de vidro moído ou padrão de vidro fosco. TRATAMENTO ❯ Suporte geral: hídrico, controle térmico, suporte nutricional. ❯ Suporte ventilatório: CPAP nasal (estabiliza o alvéolo e previne a progressão da doença), ventilação mecânica invasiva (indicações: pH < 7,20 e/ou PCO2≥ 60 mmHg; SatO2< 90% com FiO 2 40-70% e CPAP 5-10 cmH2O; apneia persistente). ❯ Surfactante exógeno: o surfactante terapêuticoé indicado para todos os RN com doença grave, que são aqueles que necessitam de ventilação mecânica invasiva com FiO2 > 30-40%. Terapia de resgate precoce (administração do surfactante ainda na primeira hora de vida) ou surfactante profilático (administração do surfactante ainda na sala de parto) já foram recomendados. Atualmente, aceita-se que o início de CPAP logo após o nascimento seja igualmente eficaz no manejo do RN prematuro de maior risco para doença da membrana hialina. ❯ Antibioticoterapia: costuma ser indicada, pois a distinção com o quadro de pneumonia é bastante difícil. PNEUMONIA FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO ❯ Fisiopatologia: na sepse neonatal precoce, ocorre a infecção por via ascendente ou durante a passagem pelo canal de parto. Principais agentes são: Streptococcus agalactiae (estreptococo do grupo B – GBS) e bactérias Gram-negativas (E. coli). ❯ Fatores de risco: bolsa rota prolongada (> 18h), infecção urinária materna, corioamnionite, colonização materna pelo S. agalactiae e prematuridade. Observação: complemente essa leitura com o estudo da sepse neonatal, mostrado a seguir. QUADRO CLÍNICO E ASPECTO RADIOGRÁFICO ❯ Clínica: pode haver intervalo de tempo assintomático logo após o nascimento; desconforto respiratório progressivo; manifestações sistêmicas (alterações na temperatura, no estado de alerta, distúrbios na perfusão, manifestações gastrointestinais). ❯ Radiografia: semelhante à da doença da membrana hialina (na pneumonia pelo GBS). TRATAMENTO ❯ Antibioticoterapia: ampicilina com aminoglicosídeo. Na estreptococcia invasiva o tratamento pode ser feito com ampicilina ou penicilina cristalina. TAQUIPNEIA TRANSITÓRIA DO RECÉM-NASCIDO Síndrome do pulmão úmido ou síndrome do desconforto respiratório tipo II FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO ❯ Fisiopatologia: retardo na absorção de líquido pulmonar. ❯ Fatores de risco: cesariana eletiva sem trabalho de parto, asfixia perinatal, sexo masculino, macrossomia, asma materna, sedação materna, exposição materna a agentes betamiméticos e prematuridade tardia. QUADRO CLÍNICO E ASPECTO RADIOGRÁFICO ❯ Clínica: taquipneia, dificuldade respiratória leve-moderada, necessidade de baixas concentrações de oxigênio suplementar e resolução em 12-24 horas, podendo se prolongar por até 72 horas. ❯ Radiografia: hiperinsuflação pulmonar; aumento da trama vascular pulmonar com a presença de hilo congesto, de onde irradiam-se condensações (estrias) lineares; cissuras espessadas (derrame cissural); eventualmente discreta cardiomegalia e/ou derrame pleural. TRATAMENTO ❯ Suporte geral: controle térmico, suporte nutricional e hídrico. ❯ Suporte ventilatório: com oxigenoterapia por campânula nasal ou CPAP (oferta de O2 de até 40%). SÍNDROME DE ASPIRAÇÃO MECONIAL FISIOPATOLOGIA E FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO ❯ Fisiopatologia: a eliminação de mecônio intraútero associa-se principalmente à asfixia. A aspiração das partículas de mecônio para as vias aéreas distais leva à obstrução com mecanismo valvular, pneumonite química e fator de risco para infecção bacteriana secundária. O quadro é mais comum em RN a termo ou pós-termo. ❯ Fatores de risco: asfixia. QUADRO CLÍNICO E ASPECTO RADIOGRÁFICO B - OUTROS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS ➤ Clínica: quadro tipicamente grave. ❯ Radiografia: infiltrado grosseiro e difuso; áreas de hipotransparência e hiperinsuflação; áreas de extravasamento de ar, enfisema intersticial e pneumotórax. TRATAMENTO ❯ Suporte ventilatório: CPAP ou ventilação mecânica (quando há hipoxemia persistente ou elevação na PaCO2). ❯ Antibioticoterapia: costuma ser indicada pela possibilidade de pneumonia associada. ❯ Surfactante: alguns estudos mostram bons resultados com essa intervenção. Apneia ❯ Definição: pausa respiratória por tempo > 20 segundos, ou com qualquer duração, se associada à bradicardia (FC < 100 bpm) ou à cianose. ❯ Apneia secundária: manifestação de alguma doença subjacente, como hemorragia intracraniana, convulsões, pneumonia, sepse, enterocolite necrosante, distúrbios metabólicos (hipoglicemia, hipocalcemia), hipotensão, insuficiência cardíaca. ❯ Apneia idiopática da prematuridade: resultante de mecanismos obstrutivos, centrais ou mistos. Tem incidência inversamente proporcional à idade gestacional. ❯ Fisiopatologia: apneia central – há uma imaturidade dos centros respiratórios de tronco encefálico e, clinicamente, não são observados movimentos torácicos de incursões respiratórias; apneia obstrutiva – a movimentação torácica está presente, mas o fluxo aéreo é interrompido por obstrução nasal, por obstrução faríngea, ou por flexão do pescoço; apneia mista – forma mais comum, com participação dos dois mecanismos anteriores. ❯ Tratamento e prevenção: 1. Posicionamento adequado do RN (ligeira extensão da cabeça pelo coxim sob os ombros); 2. Estímulo tátil; 3. Casos graves ou refratários: - CPAP nasal ou ventilação mecânica (em situações mais graves); - Medicações: aminofilina/teofilina ou citrato de cafeína. Estas medicações agem aumentando a sensibilidade dos centros respiratórios ao aumento da PCO2 e aumentando a força contrátil do diafragma. Displasia broncopulmonar ❯ Definição: doença crônica decorrente da exposição pulmonar prolongada ao oxigênio com características clínicas, radiológicas e histológicas próprias. ❯ Fatoresde risco: prematuridade, uso de oxigênio, ventilação mecânica, infecção, persistência do canal arterial e fatores genéticos. ❯ Clínica: quadro variável; há taquidispneia e necessidade de oxigênio e suporte ventilatório em intensidade variável. ❯ Critérios para diagnóstico: o diagnóstico é estabelecido nos RN que permanecem em oxigenoterapia por mais de 28 dias de vida; a doença é classificada em leve, moderada ou grave de acordo com a necessidade de oxigênio com 36 semanas de idade gestacional corrigida (para os que nasceram com menos de 32 semanas) ou com 56 dias de vida (para os que nasceram com 32 ou mais semanas). 6 - SEPSE NEONATAL ❯ Exames: radiografia de tórax → enfisema intersticial, atelectasias com áreas de hiperinsuflação e formações císticas. ❯ Tratamento: suporte nutricional; diuréticos na fase aguda e crônica (eficácia controversa); beta-agonistas (quando há broncoespasmo); metilxantinas; oxigenação adequada; tratamento precoce de infecções. *Considerar o que ocorrer primeiro. Sepse neonatal precoce Manifesta-se nas primeiras 48 horas de vida*; infecção ocorre por via ascendente ou durante a passagem pelo canal de parto. Principais agentes são o Streptococcus agalactiae (estreptococo do grupo B), E. coli e outras enterobactérias. Sepse neonatal tardia Manifesta-se após as primeiras 48 horas de vida*; infecção nosocomial ou na comunidade. Além dos agentes da sepse precoce, também pode estar relacionada com infecções por estafilococos coagulase negativa, S. aureus, bactérias Gram-negativas e fungos (fatores de risco para infecção fúngica: prematuridade com menos de 1.000 g, NPT prolongada, uso de antibióticos de largo espectro). *Obs.: nem todos os autores concordam com a divisão entre sepse precoce e tardia que usa como ponto de corte 48 horas de vida. Quadro clínico Manifestações discretas e inespecíficas; desconforto respiratório, taquidispneia, choque, instabilidade térmica, manifestações gastrointestinais. Avaliação complementar ❯ Leucograma: aumento na relação entre neutrófilos imaturos e totais (relação I/T ≥ 0,2). ❯ Cultura de sangue, liquor e urina (urinocultura apenas na sepse tardia ou quando há relato de malformação ou hidronefrose antenatal). Tratamento ❯ Sepse precoce: ampicilina + aminoglicosídeo. ❯ Sepse tardia: mais de um esquema possível, de acordo com a principal suspeita. PREVENÇÃO DA INFECÇÃO PELO GBS Atualmente, a Academia Americana de Pediatria traz diversos fluxogramas para a avaliação do RN, como mostrado adiante. O fluxograma abaixo ainda é encontrado em várias referências e continua sendo o mais frequente nas provas. Obs.: Avaliação diagnóstica limitada – não é necessária realização de punção lombar. PREVENÇÃO DA INFECÇÃO PELO GBS A Academia Americana de Pediatria nos "presenteou" com diversas possibilidades de conduta para o RN com 35 ou mais semanas. A principal diferença encontrada nestes fluxogramas é que em um deles sempre há obrigação de antibioticoterapia empírica na presença de sinais de corioamnionite materna e em outro não. Avaliação de risco por categoria para identificação de sepse em RN ≥ 35 semanas. Observação ampliada para identificação de sepse em RN ≥ 35 semanas. 7 - PREVENÇÃO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DO HIV Avaliação do risco nos RN ≤ 34 semanas. Cuidados gerais ❯ Limpeza com compressas macias. Banho ainda na sala de parto. ❯ Aspiração, quando necessária, de forma delicada. Medicações ❯ A profilaxia está indicada para todos os RN expostos ao HIV. Para eficácia da medida, a profilaxia deve ser iniciada o mais precocemente possível após o nascimento, preferencialmente nas primeiras quatro horas de vida. A indicação da profilaxia após 48 horas do nascimento deve ser avaliada de forma individualizada. ❯ Para a definição do esquema profilático, a criança deverá ser classificada em ALTO ou BAIXO risco de exposição, da seguinte forma: - ALTO RISCO: → Critérios: ● Mães sem pré-natal; ou ● Mães sem TARV durante a gestação; ou ● Mães com indicação para profilaxia no momento do parto e que não a receberam; ou ● Mães com início de TARV após 2a metade da gestação; ou ● Mães com infecção aguda pelo HIV durante a gestação ou aleitamento; ou ● Mães com CV-HIV detectável no 3° trimestre, recebendo ou não TARV; ou ● Mães sem CV-HIV conhecida; ou ● Mães com teste rápido positivo para o HIV no momento do parto (sem diagnóstico e/ou seguimento prévio). → Esquema: o esquema indicado para o RN de alto risco varia em função da idade gestacional: ● RN ≥ 37 semanas: zidovudina (AZT), lamivudina (3TC) e raltegravir (RAL). Este esquema de profilaxia deverá ser administrado por 28 dias; ● RN 34-37 semanas: zidovudina (AZT), lamivudina (3TC), por 28 dias, associados com nevirapina (NVP) por 14 dias; ● RN < 34 semanas: apenas zidovudina por 28 dias. - BAIXO RISCO: → Critérios: ● Uso de TARV desde primeira metade da gestação E com Carga Viral (CV) do HIV indetectável a partir da 28a semana (3° trimestre) E sem falha na adesão à TARV. → Esquema: o esquema indicado para o recém-nascido de baixo risco consiste apenas na administração da zidovudina durante 28 dias. 8 - ICTERÍCIA NEONATAL Veja o resumo no quadro abaixo: UTILIZAÇÃO DE ANTIRRETROVIRAL NA PROFILAXIA DE CRIANÇA EXPOSTA CONFORME IDADE GESTACIONAL (IG) E RISCO DE EXPOSIÇÃO Conceitos iniciais ❯ A icterícia decorre do acúmulo de bilirrubina na pele e nas mucosas. É uma alteração comum no período neonatal, encontrada em até 60% dos RN a termo e 80% dos RN prematuros. Na maior parte das vezes trata-se de icterícia fisiológica. ❯ Concentrações muito elevadas de bilirrubina indireta são potencialmente neurotóxicas e podem levar ao quadro de encefalopatia bilirrubínica. Icterícia fisiológica ❯ Mecanismos: os seguintes mecanismos levam ao quadro de icterícia fisiológica: - Maior produção de bilirrubina (menor sobrevida das hemácias fetais, maior índice hematimétrico nessa faixa etária); - Diminuição da captação hepática; - Diminuição da atividade da enzima glicuroniltransferase (diminuição da conjugação hepática); - Exacerbação da circulação êntero-hepática (jejum, demora na eliminação do mecônio). A icterícia fisiológica cursa apenas com o aumento da bilirrubina indireta. ❯ História natural: Fatores de risco para hiperbilirrubinemia grave DICA: fique de olho nos fatores listados abaixo. As bancas adoram perguntar por eles. ↓ Fatores de risco para desenvolvimento de hiperbilirrubinemia grave em RN ≥ 35 semanas de idade gestacional (AAP - 2004) Fatores de risco maiores Bilirrubina total sérica ou transcutânea na zona de alto risco antes da alta hospitalar. Icterícia observada nas primeiras 24 horas. Incompatibilidade sanguínea ou outras doenças hemolíticas conhecidas. Idade gestacional entre 35 e 36 semanas. Irmão com icterícia neonatal tratado com fototerapia. Cefaloematoma ou equimoses. Aleitamento materno exclusivo, especialmente se há problemas com a amamentação e a perda ponderal for excessiva. Etnia asiática. Fatores de risco menores Bilirrubina total sérica ou transcutânea na zona de risco intermediário-alto antes da alta hospitalar. Idade gestacional entre 37 e 38 semanas. Icterícia observada antes da alta hospitalar. Irmão com icterícia neonatal. Macrossomia ou mãe diabética. Idade materna ≥ 25 anos. Sexo masculino. Quando pensar que a icterícia não é fisiológica? ❯ Icterícia nas primeiras 24 horas (ou 24-36h) de vida. ❯ Nível de bilirrubina subindo a uma taxa superior a 5 mg/dl nas 24h. ❯ Nível de bilirrubina maior do que 12 mg/dl em RN a termo ou 10-14 mg/dl em prematuros. ❯ Icterícia persistente (mais de oito dias nos RN a termo e mais de 14 dias nos prematuros). ❯ Aumento na bilirrubina direta (existem diversas definições para o aumento de BD no período neonatal; podemos considerar como indicativo de investigação a presença de níveis acima de 2 mg/dl) ou sinais de colestase, como acolia e colúria. ❯ Associação com alterações clínicas diversas (hepatoespleno megalia, palidez etc.). Avaliação daicterícia que começa nas primeiras 24 horas de vida ❯ Investigar, prioritariamente, causas de hemólise. ❯ Solicitar: bilirrubina total e frações, tipagem sanguínea, Coombs direto, hematócrito ou hemoglobina, hematoscopia e contagem de reticulócitos. ❯ Causas: - Doenças hemolíticas imunes (passagem transplacentária de anticorpos maternos que sensibilizam as hemácias fetais, levando a sua destruição). ● Incompatibilidade Rh: ● Incompatibilidade ABO (forma mais frequente de anemia hemolítica neonatal): Há presença de esferócitos no sangue periférico do RN. O quadro é menos grave que o da incompatibilidade Rh e a icterícia costuma ser a única manifestação. ● Incompatibilidade por outros antígenos eritrocitários. - Outras doenças hemolíticas: doenças hemolíticas enzimáticas (deficiência de G6PD – mais comum após 2º-3º dias de vida; corpúsculos de Heinz e hemácias mordidas); defeitos na membrana eritrocitária (esferocitose hereditária; esferócitos no sangue periférico). Nestas condições, o Coombs direto do RN sempre será negativo. Mãe Rh negativo com Coombs indireto positivo (indica sensibilização materna prévia); + RN Rh positivo. O teste de Coombs direto no RN será positivo. Mãe mais comumente é O; + RN A ou B. O teste de Coombs direto no RN poderá ser positivo ou negativo. Icterícia associada com a amamentação ❯ Forma precoce (icterícia do aleitamento materno): má alimentação da criança com diminuição do trânsito intestinal e aumento da circulação êntero-hepática. Além da icterícia, há perda ponderal excessiva e dificuldade relacionada à amamentação. O tratamento é o suporte nutricional (corrigir amamentação; em casos excepcionais iniciar fórmula infantil). O quadro é típico dos primeiros dias de vida. ❯ Forma tardia (icterícia do leite materno): quadro de icterícia que persiste a partir da segunda semana de vida em crianças em aleitamento materno exclusivo. Associado com a presença de substâncias no leite materno. Podem ser alcançados valores de bilirrubina de até 20-30 mg/dl até o 14º dia de vida. Esses níveis se estabilizam e vão caindo aos poucos, mas o nível da bilirrubina pode permanecer elevado por até doze semanas de vida. Quando há níveis muito elevados de bilirrubina (não há um valor consensual), deve-se suspender temporariamente a amamentação (24-48 horas). Icterícia por aumento da bilirrubina direta ❯ O aumento da bilirrubina direta no período neonatal é uma urgência, pela possibilidade de atresia de vias biliares. ❯ Atresia de Vias Biliares (AVB): na forma pós-natal, mais comum, ocorre a obliteração progressiva das vias biliares extra-hepáticas. A história típica é a de um RN que começa a apresentar icterícia entre a segunda e sexta semana de vida, podendo ter outras manifestações de colestase, como colúria e acolia. A investigação inclui a realização de USG de vias biliares (pode indicar o sinal do cordão triangular), cintilografia hepatobiliar (na AVBEH ocorre a captação hepática, mas não ocorre a excreção intestinal do radiofármaco), biópsia hepática (exame mais importante para a distinção entre a AVBEH e a hepatite neonatal idiopática) e a colangiografia (geralmente peroperatória; é o exame que estabelece o diagnóstico definitivo). O tratamento é a cirurgia de Kasai (portoenterostomia, para restabelecimento da drenagem biliar), que deve ser feita nas primeiras oito semanas de vida. Diagnóstico diferencial Tratamento ❯ A diminuição nos níveis séricos de bilirrubina indireta pode ser feita pela fototerapia ou pela exsanguinotransfusão. Fototerapia ❯ Aplicação de luz de alta intensidade e com espectro visível na cor azul, com a função de converter a bilirrubina tóxica em um isômero excretável pela bile e urina. Usar proteção ocular nos bebês. ❯ Para definição dos níveis de bilirrubina que indicam a necessidade de fototerapia são usados gráficos. A seguir, o gráfico que mostra a necessidade de fototerapia para criança com 35 ou mais semanas de idade gestacional. Fatores de Risco: doença hemolítica isoimune, deficiência de G6PD, asfixia, letargia significativa, instabilidade térmica, sepse, acidose, albumina < 3,0 g/dl (se medida). ❯ Para menores de 35 semanas: indicação em função do peso da criança (pode haver variações de pontos de corte entre os serviços): - 1.001 a 1.500 g: iniciar fototerapia, se BT > 6-8 mg/dl; - 1.501 a 2.000 g: iniciar fototerapia, se BT > 8-10 mg/dl; - 2.001 a 2.500 g: iniciar fototerapia, se BT > 10-12 mg/dl. Alguns iniciam fototerapia para todos os nascidos com menos de 1.000 g, enquanto outros recomendam que a fototerapia seja iniciada apenas se estas crianças apresentarem-se com níveis de bilirrubina total acima de 4-6 mg/dl. Exsanguinotransfusão 9 - OUTRAS AFECÇÕES NO PERÍODO NEONATAL A - ENTEROCOLITE NECROSANTE ❯ Objetivo: diminuir a intensidade da reação imunológica na doença hemolítica (pois remove os anticorpos ligados ou não às hemácias), remover a bilirrubina indireta e corrigir a anemia. ❯ Em casos de incompatibilidade materno-fetal Rh, o sangue indicado para o uso na exsanguineotransfusão é o Rh negativo homólogo ao do RN no grupo ABO. ❯ A indicação também é feita essencialmente pela avaliação de gráficos. Definição Graus variados de necrose de mucosa intestinal, podendo evoluir para perfuração, peritonite e sepse. Fatores associados (1) Isquemia intestinal; (2) Nutrição enteral; e (3) Micro-organismos patogênicos. As duas principais condições predisponentes à ECN são a asfixia e prematuridade. Clínica Distensão abdominal, dificuldade de progressão da dieta, presença de resíduo gástrico com eventual drenagem biliosa e sangramento gastrointestinal. Confirmação diagnóstica: pneumatose intestinal (ar na parede intestinal). Estadiamento de Bell modificado B - AFECÇÕES NEUROLÓGICAS HEMORRAGIAS ❯ Hemorragia epidural – grande cefalo-hematoma e fratura óssea. Ruptura de uma artéria meníngea. TC: aparece como uma imagem hiperdensa e convexa. ❯ Hemorragia subdural – lesão nas veias de drenagem ou nos seios venosos da dura-máter. Na localização infratentorial: compressão de tronco com rigidez de nuca, opistótono, redução do nível de consciência e apneia. O aumento da pressão intracraniana pode resultar em abaulamento de fontanela e separação de suturas. Caso o sangramento seja de vulto, sobrevêm hipovolemia e anemia. As convulsões são comuns principalmente se o sangramento for perto do córtex. TC: área hiperdensa em forma de crescente. ❯ Hemorragia subaracnoide – sangramento das pequenas veias que atravessam o espaço leptomeníngeo. Geralmente assintomática. Pode haver convulsões, alterações do estado mental e sinais neurológicos focais. TC: excelente exame para detectar sangue entre o espaço aracnóideo. A RM de encéfalo, quando disponível, deverá ser empregada pela capacidade de identificar lesões compatíveis com injúria hipóxico-isquêmica e meningoencefalite que possam eventualmente estar relacionadas à hemorragia. ❯ Hemorragia Peri-Intraventricular (HPIV) – o sangramento localiza-se na matriz germinativa subependimária, na junção entre o núcleo caudado e o tálamo. Acomete um grande número de prematuros; risco inversamente proporcional à idade gestacional. Clínica: a HPIV é clinicamente silenciosa, detectada em USG transfontanela de rotina. Alguns RN podem apresentar hipotonia, redução da movimentação espontânea, movimentos e desvios oculares anormais, mas nem sempre estas manifestações são de fácil identificação. A classificação da HPIV está a seguir. Diagnóstico: é realizado através de USG transfontanela – realizada rotineiramente em RN < 32 semanas ou < 1.500 g ou > 32 semanas com fatores de risco. O primeiro exame é realizado na primeira semana de vida e seguem-se exames seriados. LEUCOMALÁCIA PERIVENTRICULAR Áreas de necrose focal e gliose na substância branca periventricular, promovendo áreas de atrofia de parênquima e formação de cistos. Fisiopatologia: resultado de injúria hipóxico-isquêmica, sendo muito mais frequente nos RN com < 32 semanas de idade gestacional, embora tambémpossa ser encontrada no RN a termo. Localização preferencial: substância branca periventricular no corno anterior dos ventrículos e no seu corno occipital. Clínica: é uma doença silenciosa. Esta condição é a principal responsável pelo desenvolvimento de sequelas motoras, sensoriais e cognitivas em longo prazo em prematuros. C - ASFIXIA PERINATAL Diagnóstico: USG transfontanela – que revela aumento da ecogenicidade próxima aos ventrículos e ventriculomegalia – ou através da RM de crânio. Não há tratamento específico durante o período neonatal. O mais importante são as medidas que atuam na prevenção da hipotensão e da hipóxia. Definição É uma doença multissistêmica causada pela ausência de oxigênio e/ou perfusão inadequada a órgãos e tecidos suficientes para causar dano funcional. Está associada à acidose láctica, à hipoventilação e à hipercapnia. A asfixia perinatal é a principal causa da encefalopatia hipóxico-isquêmica. Diagnóstico Presença de pelo menos três dos seguintes parâmetros: ❯ Acidemia metabólica ou mista profunda (pH < 7,0) em sangue arterial de cordão umbilical; ❯ Disfunção orgânica multissistêmica, ou seja, alterações nos sistemas cardiovascular, gastrointestinal, pulmonar, hematológico ou renal; ❯ Manifestações neurológicas no período neonatal (convulsões, hipotonia, hiporreflexia, coma, entre outras); ❯ Escore de Apgar de 0-3 por mais de cinco minutos. Clínica A fase inicial dura em média 12 horas, com nível de consciência reduzido (comatoso), hipotonia, perda de todos os reflexos primitivos, respiração periódica ou grande esforço, apneia e convulsões. A morte encefálica pode seguir em 24-72 horas. Exames EEG, USG TF (avalia hemorragia e leucomalácia periventricular), TC (visualiza edema e áreas de isquemia nas zonas de fronteira), RM com difusão (exame de escolha para avaliação de anormalidades de parênquima), Proteína S-100 (> 8,5 mg/dl), CK-BB (> 5 U) e acidose metabólica apresentam juntas boa sensibilidade e especificidade para prever encefalopatia moderada a grave. Tratamento e prevenção ❯ Sala de parto: reanimação cardiopulmonar adequada. ❯ Oxigenação: mantida adequadamente. Evitar hiperóxia (aumento de radicais livres e redução do fluxo sanguíneo cerebral). ❯ CO2: faixa normal (a hipocapnia excessiva reduz o fluxo sanguíneo cerebral). ❯ Perfusão cerebral: a pressão de perfusão cerebral deve ser mantida e é determinada, no RN, essencialmente pela Pressão Ar terial Média (PAM). Deste modo, recomenda-se uma PAM entre 45 e 50 mmHg (podendo ser um pouco menor em RN pré-termo). ❯ Glicemia: mantida em níveis fisiológicos. ❯ Cálcio: normal. É comum haver hipocalcemia. ❯ Temperatura: na faixa normal. ❯ HIPOTERMIA TERAPÊUTICA: é indicada para RN com 35 ou mais semanas, ainda nas primeiras seis horas de vida, e que tenha evidência de asfixia perinatal e evidência de D - AFECÇÕES METABÓLICAS encefalopatia moderada a gra ve antes de seis horas de vida. Tratamento de condições específicas ❯ Convulsões: fenobarbital, fenitoína, benzodiazepínicos em infusão contínua.O fenobarbital é a droga de escolha para tratamento das convulsões no período neonatal. ❯ Edema: geralmente é secundário a dois mecanismos: SIHAD e necrose tubular aguda. ❯ Isquemia miocárdica transitória: elevação das enzimas cardíacas (troponina T e CK-MB); ECG: supra-ST e inversão da onda T; ECO: diminuição da contratilidade de paredes, principalmente esquerda posterior. Pode haver hipertensão pulmonar persistente em associação com aspiração de mecônio. Tratamento: suporte ventilatório; amina; beta- agonista periférico para reduzir a pós-carga: isoproterenol. ❯ CIVD: lesão endotelial difusa. ❯ Hipertensão arterial pulmonar secundária à síndrome de aspiração meconial; apneia. Hipoglicemia Nível glicêmico abaixo de 40 mg/dl ( observação: não há consenso entre os neonatologistas acerca do valor que define hipoglicemia no período neonatal; sabe-se que nos RN a termo saudáveis, os níveis de glicose dificilmente são menores que 35 mg/dl entre 1 e 3 horas de vida, menores que 40 mg/dl entre 3 e 24 horas de vida e menores que 45 mg/dl após 24 horas de vida). ❯ Causas: - Aumento da utilização de glicose (hiperinsulinismo): filho de mãe diabética, eritroblastose fetal, RN GIG, síndrome de Beckwith-Wiedemann (macrossomia, macroglossia, onfalocele, visceromegalia); - Diminuição na produção/reservas de glicose: prematu ridade, restrição ao crescimento intrauterino, ingestão calórica insuficiente; - Aumento na utilização e/ou redução da produção: estresse perinatal, erros inatos do metabolismo de carboidratos, deficiências endócrinas, erro inato no metabolismo de aminoácidos, policitemia, uso materno de betabloqueadores. ❯ Clínica: geralmente a hipoglicemia é assintomática. Os principais sintomas, quando existem, são: abalos, convulsões, apneia, cianose, recusa da dieta e hipoatividade. ❯ Tratamento: existem diversos pontos controversos no manejo da hipoglicemia neonatal. Sabe-se que sempre que houver sintomas, faz-se o tratamento imediato com bolus de glicose IV. Usa-se soro glicosado 10% 2 ml/kg IV; quando há convulsões, usa-se 4 ml/kg IV. Segue-se então infusão contínua de glicose com uma Taxa de Infusão de Glicose (TIG) de 6 a 8 mg/kg/minuto. Em casos refratários às medidas anteriores, avaliar corticoide (hidrocortisona), octreotide e diazóxido. Nos casos assintomáticos, o mais aceito é uma primeira tentativa de correção da glicemia com alimentação, com posterior aferição da glicose em 30-60 minutos. Hipocalcemia Cálcio sérico total < 7-8 mg/dl ou cálcio ionizado < 4 mg/dl. ❯ Causas: - Prematuridade. A resposta das células-alvo ao efeito do PTH parece estar reduzida; - Filhos de mães diabéticas. A explicação fisiopatológica ainda permanece incerta; - Asfixia; - Congênita. Síndrome de DiGeorge, caracterizada pela hipoplasia do 3º e do 4º arcos branquiais durante a embriogênese, levando ao desenvolvimento de hipoparatireoidismo, agenesia de timo, imunodeficiência celular, anomalias e cardiopatia; - Hipoparatireoidismo; Hiperparatireoidismo materno. ❯ Clínica: aumento da excitabilidade neuromuscular: apneia, convulsões, aumento do tono E - AFECÇÕES CARDIOLÓGICAS extensor, clônus, hiperreflexia e estridor. ❯ Tratamento: 1. Convulsões ou alterações ECG: gluconato de cálcio 10% na dose de 1 ml/kg/dose em infusão lenta; 2. Parenteral: 500 mg/kg/dia de gluconato de cálcio 10%. SEÇÃO VI IMUNIZAÇÕES Persistência do Canal Arterial ❯ Fisiopatologia: o canal arterial ou ducto arterioso conecta a artéria pulmonar com a aorta permitindo o desvio de sangue da direita para esquerda na vida fetal (leito pulmonar de alta resistência), e tem seu fechamento funcional após o nascimento, em resposta à elevação da PaO2 e queda da prostaglandina (PGE2). Há então uma proliferação endotelial e migração de células musculares lisas para a camada média do vaso, promovendo ao final de um a três meses o fechamento anatômico da estrutura. Em RN a termo, a falha de fechamento do canal arterial é um evento raro, relacionado a um defeito anatômico da parede do vaso. Nestes casos, o fechamento posterior espontâneo não acontece. No prematuro de extremo baixo peso, a PCA pode estar presente em até 30% dos casos. O vaso é anatomicamente normal, e a falha de fechamento está relacionada à imaturidade do vaso (que se dilata em resposta a NO e PGE2 e hipóxia (ex.: DMH). ❯ Clínica: primeiros sinais e sintomas relacionados a PCA nos prematuros acontecem nos primeiros dois a três dias de vida, concomitante à queda da resistência vascular pulmonar com o uso do surfactante. Há, então, deterioração respiratória (taquipneia, dispneia, apneia, aumento de parâmetros na ventilação mecânica e retenção de gás carbônico) apesar do tratamento com surfactante, instabilidade hemodinâmica ou aumento da área cardíaca na radiografia de tórax. Ao exame físico, verificam-se sinais como: (1) precórdio hiperdinâmico; (2) sopro sistólico ou sistodiastólico (em "maquinária") na região infraclavicular e paraesternal esquerda; (3)
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