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GI N EC O LO GI A E O BS TE TR íC IA ginecologia e obstetrícia 257 1 Fisiologia menstrual 1. Eixo hipotalâmico-hipofisário-ovariano e esteroidogênese ovariana ͳ O ciclo menstrual pode ser dividido em esteroidogênese ovariana, ciclo menstrual propria- mente dito, ciclo endometrial e muco cervical; ͳ A molécula-chave para a produção dos hormônios esteroides nos ovários e nas suprarrenais é o colesterol, principalmente o colesterol LDL; ͳ Nas suprarrenais, o colesterol é transformado em androgênios: androstenediona e sulfato de deidroepiandrosterona (SDHEA). Nos ovários, a esteroidogênese acontece em diferentes camadas do órgão (teca interna e granulosa), com produção de estrogênios e progesterona; ͳ Os folículos ovarianos contêm 2 camadas funcionais envolvidas na esteroidogênese: a teca interna, com receptores para o hormônio luteinizante (LH), e a camada granulosa, com re- ceptores para o hormônio folículo-estimulante (FSH); ͳ O FSH e o LH são hormônios se- cretados pela hipófise sob o estí- mulo do GnRH, que é liberado pelo hipotálamo de maneira pulsátil (1 pulso a cada 90 minutos na fase folicular e a cada 220 minutos na fase lútea), ou seja, o que muda é o padrão de pulsatilidade na secre- ção. Durante a 1ª e a 2ª fases do ciclo menstrual, diversos fatores estimulam a secreção do GnRH: noradrenalina, histamina, aminoá- cidos, neuropeptídios, adenosina, substância P, óxido nítrico e os próprios esteroides ovarianos; ͳ Teoria das 2 células–2 gonadotro- finas: o LH encontra um receptor na membrana celular da célula da teca interna e estimula a transfor- mação de colesterol em androste- Figura 1 - Teoria das 2 células nediona e testosterona. Por difusão, esses androgênios atingem a camada granulosa. O FSH liga-se ao seu receptor específico e estimula a aromatase, possibilitando a transformação dos androgênios em estrogênios: a androstenediona se transforma em estrona, e a testos- terona, em estradiol. 258 revalidaSIC Resumão 2. Ciclo menstrual propriamente dito ͳ O ciclo menstrual normal começa no 1º dia de sangramento menstrual e tem duração média de 25 a 35 dias; ͳ Na ausência de fecundação, ocorre a degeneração do corpo lúteo, levando à diminuição da produção de estrogênios e progesterona. Essa diminuição provoca a parada na inibição da secreção de FSH e, consequentemente, o hormônio aumenta; ͳ O aumento progressivo do FSH dá início ao processo de recrutamento folicular, que se desenvolverá até as fases pré-antral e antral, secretando quantidades progressivamente maiores de estradiol. Um desses folículos será o dominante; ͳ Os fatores determinantes da dominância folicular são o maior número de receptores para FSH em sua membrana celular e fluxo sanguíneo preferencial. O folículo dominante inibe o crescimento dos outros folículos pela secreção de inibina B e produz quantidades crescentes de estradiol; a quantidade de estradiol no líquido folicular determinará o folículo dominante; ͳ O pico de estradiol acontece em aproximadamente 24 a 36 horas antes da ovulação e sina- liza para o pico de LH, que ocorre 12 horas antes da ovulação; ͳ No ovário, o que restou do folículo dominante transforma-se em corpo lúteo e passa a pro- duzir estradiol e progesterona. A partir do momento da ovulação, inicia-se a 2ª fase do ciclo menstrual, chamada de fase lútea; ͳ Quando não há fecundação nem gravidez, as células do corpo lúteo sofrem apoptose, e ocorre atresia do corpo lúteo, determinando queda acentuada dos níveis de estradiol e progesterona. Tal diminuição da concentração hormonal resulta na alteração endometrial irreversível. 3. Ciclo endometrial ͳ Na 1ª fase do ciclo menstrual, ocorre a proliferação endometrial sob estímulo do estrogênio. O endométrio aumenta de espessura e suas glândulas apresentam-se estreitas e tubulares. Essa 1ª fase é conhecida como fase proliferativa; ͳ Na 2ª fase do ciclo, há acúmulo de glicogênio, e as glândulas endometriais ficam edemacia- das e tortuosas, com arteríolas dilatadas e espiraladas. Essa fase denomina-se secretora; ͳ A 3ª e última fase endometrial é a menstruação, que ocorre por atresia do corpo lúteo, levando à isquemia e à necrose do endométrio secundário a vasoespasmos das arteríolas espiraladas; ͳ Menstruação normal: duração de 2 a 8 dias; intervalo de 25 a 35 dias; volume de 20 a 80mL por ciclo. 4. Muco cervical ͳ O muco cervical também sofre alterações de acordo com as variações hormonais, para tornar- se mais receptivo à passagem dos espermatozoides na fase pré-ovulatória e menos receptivo na pós-ovulatória; ginecologia e obstetrícia 259 ͳ Na 1ª fase do ciclo, as concentrações crescentes de estradiol determinam o aumento na quantidade de muco, que fica também mais fluido e com maior filância. O muco cristaliza-se em forma de “folha de samambaia” quando é colocado sobre uma lâmina e aquecido. Na 2ª fase, o aumento progressivo da progesterona torna o muco mais viscoso e espesso, com aspecto opaco. Figura 2 - Concentrações hormonais durante o ciclo menstrual Figura 3 - Ciclo endometrial 2 Planejamento familiar 1. Introdução Consiste em medidas contraceptivas e pró-gestação, alcançadas por meio de orientação ade- quada oferecida por equipe multidisciplinar, treinada para esse fim. Índice de Pearl: utilizado para calcular a taxa de “falha” de cada método contraceptivo. Calcu- lado pelo número de gestações ocorridas em 100 mulheres que usam o método em um período de 12 meses. 260 revalidaSIC Resumão 2. Métodos hormonais A - Orais tipos - Monofásicos (todos os comprimidos têm a mesma dosagem de medicamentos); - Bifásicos (2 dosagens diferentes na cartela); - Trifásicos (3 dosagens). composição São compostos de 2 esteroides sintéticos (etinilestradiol + progestogênio) ou de progestogênio exclusi-vamente. Mecanismo de ação Há espessamento do muco cervical, dificultando a penetração e a ascensão dos espermatozoides, inibição da ovulação, alterações endometriais (hipotrofia/atrofia) e alterações da motilidade tubária. eficácia Há falha de 0,1 gestação por 100 mulheres/ano (uso ideal) e de 6 a 8 gestações por 100 mulheres/ano (uso rotineiro). efeitos colaterais - Náuseas; - Cefaleia; - Edema; - Acne; - Irregularidade menstrual (escape); - Alterações de humor; - Depressão; - Diminuição da libido; - Maior ocorrência de eventos tromboembólicos (devido ao estado de hipercoagulabilidade promo- vido pelo componente estrogênico); - A intensidade dos efeitos dependente da dosagem hormonal e do tipo de progestogênio utilizado, já que o estrogênio é o mesmo em todos os contraceptivos (etinilestradiol). efeitos benéficos - Proteção contra: · Gestação ectópica; · Câncer de ovário; · Câncer de endométrio; · Moléstia Inflamatória Pélvica Aguda (MIPA); · Alterações fibrocísticas benignas da mama; · Miomas; · Endometriose. - Outros efeitos benéficos: · Regularidade menstrual; · Coadjuvante no tratamento e na prevenção da anemia ferropriva. contrain- dicações - Tabagistas com mais de 35 anos; - Hipertensão arterial; - Doença cardiovascular; - Acidente vascular cerebral prévio; - Trombose venosa profunda prévia; - Diabetes mellitus grave; - Doença hepática ativa; - Enxaqueca com aura; - Colecistopatia; - Uso de medicamentos que interfiram na absorção, como, por exemplo, alguns antibióticos e anticonvulsi- vantes; - Gestação; - Amamentação; - Imobilização prolongada. ginecologia e obstetrícia 261 Particulari- dades Contraceptivos orais compostos exclusivamente de progestogênios agem basicamente pelo espes- samento do muco cervical, inibindo a ovulação em somente metade das pacientes. São indicados na amamentação (já os estrogênios pioram a quantidade e a qualidade do leite e, por isso, não são recomendados)e em patologias que contraindiquem os estrogênios. Desogestrel 75µg é composto exclusivamente por progestogênios e tem ação anovulatória. interações medica- mentosas Algumas drogas reduzem o efeito contraceptivo se administradas com os contraceptivos orais: ri- fampicina, griseofulvina e barbitúricos. Outras sofrem redução no seu efeito terapêutico quando usadas junto aos contraceptivos orais: guanetidina, insulina e dicumarol. Modo de usar Iniciar sempre no 1º dia da menstruação, e a duração varia pelo tipo de pílula utilizada. B - Injetáveis Mensais ou trimestrais Os mensais são combinados (estrogênios naturais e progestogênios) e os trimestrais são exclusivamente de progestogênios. Mecanismo de ação Os mensais são semelhantes aos contraceptivos orais, com espessamento do muco cer- vical e inibição da ovulação. eficácia Alta, com índice de falha entre 0,1 e 0,3 gestação por 100 mulheres/ano; o uso rotineiro aproxima-se do uso ideal. efeitos colaterais Os mais comuns são sangramento irregular, amenorreia e ganho de peso. Tais efeitos são encontrados, com maior frequência, nos injetáveis trimestrais, juntamente com o retorno mais demorado à fertilidade. Nos casos de contraceptivos mensais, os efeitos colaterais são semelhantes aos dos contraceptivos orais. contraindicações - Injetáveis mensais: idênticas às dos contraceptivos orais; - Injetáveis trimestrais (somente progestogênio): quase inexistentes; é o método de escolha para pacientes com patologias graves, como doenças reumatológicas e cardíacas, e pa- cientes no puerpério e em amamentação. C - Transdérmicos, implante e anel vaginal características dos transdérmicos (eVra®) e anel vaginal (nuvaring®) - São compostos de estrogênios sintéticos e progestogênios (não têm a 1ª passagem hepática); - Têm vantagem posológica; - Contraindicações: as mesmas dos contraceptivos orais; - Efeitos colaterais: semelhantes aos dos contraceptivos orais (menor sensibilidade gástrica devido à via de ad- ministração). características dos implantes (implanon®) - Contêm exclusivamente progestogênio, que é liberado em microdoses diárias; - Ação por inibição da ovulação, espessamento do muco cervical e alterações endometriais; - Alta eficácia, com taxa zero de gestação em 3 anos de seguimento; - Efeitos colaterais mais comuns, que levam à interrupção do método: sangramento vaginal irregular, alterações de humor, cefaleia e diminuição da libido; - Possível uso por praticamente todas as pacientes que se adaptem ao método; - Necessária troca a cada 3 anos. 262 revalidaSIC Resumão D - Sistema intrauterino liberador de levonorgestrel Sistema que libera progestogênio continuamente no útero e age por alteração no muco cer- vical e por efeitos endometriais diretos (supressão da camada funcional). Não são anovulatórios, podendo ser encontradas ovulações em até 90% das usuárias. E - Contracepção de emergência Indicada para relações sexuais desprotegidas (falha do uso da anticoncepção ou ausência do uso dela) e nos casos de violência sexual. Atua inibindo a ovulação ou um adequado desenvolvimento do corpo lúteo, do endométrio ou do muco cervical, ou alterando a fisiologia das tubas uterinas ou dos espermatozoides. Existem relatos na literatura de gestação ectópica após falha deste método. 3. Métodos não hormonais A - Métodos de barreira Preservativo e camisinha feminina - São os únicos métodos anticoncepcionais que protegem contra doenças sexualmente transmissíveis, inclusive HIV/AIDS; - Não apresentam contraindicações; - Recomenda-se mesmo quando associados a outro método contraceptivo; - Índice de falha: é baixo no uso ideal (3 gestações por 100 mulheres/ano), mas no uso roti- neiro esses números se elevam; - Efeitos colaterais: sintomas alérgicos em indivíduos sensíveis ao látex ou aos lubrificantes. Diafragma - Tem baixa eficácia (20 gestações por 100 mulheres/ano); - Deve ser utilizado com espermicidas; - Não tem contraindicações; - Pode mudar o “tamanho ideal” ao longo da vida; - Necessita de experiência da usuária para melhorar a eficácia. B - Métodos comportamentais índices de falha São altos, pois dependem de intensa motivação do casal. tabelinha Baseia-se na abstinência periódica nos dias considerados férteis após o reconhecimento desse período. coito interrompido Consiste na ejaculação extravaginal e também tem altas taxas de falha. Muco cervical Baseia-se na observação das características do muco cervical, mais fluido e elástico no período fértil. temperatura basal Necessita de medidas diárias da temperatura oral, retal ou vaginal, em repouso, pela ma-nhã; ovulação quando a temperatura se eleva em 0,5°C. Método sintotérmico Associam-se os métodos do muco cervical e temperatura basal ou muco cervical e tabelinha. 4. Dispositivo intrauterino Modelos disponíveis Há o dispositivo intrauterino (DIU) de cobre e o DIU com sistema liberador de levonorgestrel. Mecanismo de ação Dificulta a passagem dos espermatozoides no trato reprodutivo feminino. Para a Organização Mun- dial da Saúde, o mecanismo é a interferência em etapas prévias à fertilização. eficácia Alta (0,3 gestação por 100 mulheres/ano). Deve ser trocado a cada 5 ou 10 anos (depende do modelo utilizado). ginecologia e obstetrícia 263 efeitos colaterais Compreendem dismenorreia, aumento do fluxo menstrual e sangramento intermenstrual. contraindica- ções - Dismenorreia moderada a severa; - Fluxo menstrual volumoso; - Alterações anatômicas (útero bicorno ou didelfo, septos longitudinal ou transverso); - Anemia; - Promiscuidade sexual (maior risco de doenças sexualmente transmissíveis); - MIPA; - Antecedentes de 2 ou mais episódios de MIPA; - Infecção puerperal; - Cervicite purulenta; - Sangramento genital não esclarecido; - Tuberculose pélvica; - Câncer de colo uterino ou corpo uterino. DiU e gestação O DIU deve ser retirado imediatamente após o diagnóstico de gestação intrauterina para evitar o abortamento espontâneo. DiU e infec- ção pélvica O risco de aquisição de uma infecção pélvica numa mulher usuária de DIU ocorre apenas nos pri- meiros 20 dias após a inserção. Não é necessário usar antibioticoterapia nesse período. informação importante O DIU não é considerado abortivo, pois não interfere na fecundação. 5. Lactação e amenorreia - Inibição da função ovulatória nos 6 primeiros meses pós-parto, devido à hiperprolactinemia fisiológica e ao hipoestrogenismo decorrentes da amamentação; - Eficácia quando o aleitamento é exclusivo e se a mulher se mantém em amenorreia (falha de 2 gestações por 100 mulheres/ano); 90% delas retornam à ovulação antes de retornar à menstruação; - Ausência de efeitos colaterais; - Estimulação da amamentação e do vínculo mãe–filho. 6. Métodos definitivos de esterilização laqueadura tubária (lt) - Realizada por meio de uma minilaparotomia, via vaginal ou por videolaparoscopia. Realização de ressecção de uma porção da tuba, colocação de anel tubário ou grampo; - Pode ser feita no pós-parto, pós-aborto, durante cesárea ou fora do ciclo gravídico-puerperal; - Legislação brasileira: · Só pode ser feita se a paciente tem plena capacidade civil, idade superior a 25 anos ou, pelo menos, 2 filhos vivos (sem considerar o feto da gestação em curso); · Deve-se respeitar um intervalo mínimo de 60 dias entre a manifestação do desejo de LT e a sua realização e obter consentimento pós-informado assinado da paciente ou do casal, caso ela tenha relação conjugal estável; · Fora dessa situação, a LT só poderá ser realizada se a paciente estiver em risco de morte ou de agravo à saúde em gestações futuras, comprovado por um relatório assinado por 2 médicos. Vasectomia - Alta eficácia (taxas de falha de 0,15 gestação por 100 homens/ano); - Possível reversãodo método, porém com resultados pobres. implante endotubário - Colocação, por via endoscópica, de dispositivos semelhantes a pequenas molas de metal que são inseridas nos óstios tubários, causando a fibrose local e obstrução tubária definitiva; - Procedimento ambulatorial. 264 revalidaSIC Resumão 3 Transtornos menstruais 1. Introdução Menstruação características normal alterações nomenclaturas Intervalo 21 a 35 dias >35 dias Espaniomenorreia<21 dias Polimenorreia Duração 2 a 8 dias >8 dias Hipermenorreia e hipermenorragia Volume 20 a 80mL/ciclo >80mL/ciclo Menorragia<20mL/ciclo Oligomenorreia Observação: metrorragia – sangramento fora do ciclo; sinusorragia – sangramento ao coito. 2. Hemorragia uterina disfuncional Também conhecida como sangramento uterino disfuncional, é aquela que não obedece à fun- ção menstrual normal e tem origem diversa de qualquer causa orgânica. Pode ser decorrente de ciclos ovulatórios ou anovulatórios. etiopatogenia - Distúrbios no eixo Hipotalâmico-Hipofisário-Ovariano (H-H-O) – excesso ou falta de estrogê- nios, falta de progesterona; - Aumento das prostaglandinas; - Distúrbios de outros órgãos (insuficiência hepática/cirrose, hipertireoidismo/hipotireoidismo); - Alterações ponderais excessivas. Fisiopatologia - Na adolescência: ciclos anovulatórios por imaturidade do eixo H-H-O; - Na menacma: · Anovulatórias: Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP), hiperprolactinemia, insuficiência ovariana, estresse; · Insuficiência lútea e hipermenorragia essencial. - No climatério: insuficiência lútea, anovulação por insuficiência ovariana. apresentação clínica - Diversas intensidades são possíveis e os padrões de sangramento podem ser diversos: · Hipermenorragia; · Polimenorreia; · Menorragia. Diagnóstico - Afastar quaisquer patologias orgânicas, por meio de anamnese/exame físico e exames com- plementares; - Diagnósticos diferenciais: · Gravidez/abortamento; · Moléstia inflamatória pélvica aguda; · Mioma uterino; · Câncer de colo uterino; · Câncer de endométrio; · Coagulopatia; · Hipotireoidismo; · Doença hepática (afastado pela clínica e provas laboratoriais de função hepática); · Corpos estranhos; · Pólipos endometriais e cervicais; · Uso de medicamentos (anticoagulantes etc.). tratamento - Clínico: anti-inflamatórios não hormonais, progestogênios, danazol, anticoncepcionais hormo- nais, análogos do GnRH e sistema intrauterino medicado com progesterona; - Cirúrgico: ablação endometrial, curetagem uterina e histerectomia. ginecologia e obstetrícia 265 3. Hiperandrogenismo É o excesso da concentração ou da ação dos androgênios na mulher, os quais são produzidos a partir do colesterol pelas glândulas suprarrenais e pelos ovários e estão ligados à globulina ligadora dos hormônios sexuais (SHBG) (80%) ou à albumina (19%), restando pequena fração livre (1%) no plasma. Principais androgênios na mulher androstenediona Produzida 50% nas suprarrenais e 50% nos ovários testosterona Produzida 25% nos ovários, 25% nas suprarrenais e 50% por conversão periférica, princi-palmente no tecido adiposo sulfato de deidroe- piandrosterona (DHea) 95% produzidos nas suprarrenais A SHBG aumenta com a administração de estrogênios (por exemplo, anticoncepcional oral) e hormônio tireoidiano e diminui na obesidade, nos estados hiperinsulinêmicos (por exemplo, SOP) e com a administração de androgênios. características etiopatogenia - Aumento da produção de androgênios ovarianos ou adrenais (tumor de ovário, SOP, síndrome de Cushing); - Uso de substâncias androgênicas (anabolizantes, progestogênios derivados da 19-nortestos- terona); - Diminuição da SHBG com aumento das taxas livres de androgênios circulantes (obesidade e hiperinsulinemia); - Diminuição do catabolismo e depuração dos androgênios. apresentação clínica - Leva tanto à redução dos caracteres essencialmente femininos quanto à virilização. Os prin- cipais sinais são: · Alopecia androgênica; · Aumento de massa muscular; · Engrossamento da voz; · Aumento do clitóris; · Alterações menstruais; · Infertilidade por fator ovulatório; · Abortamentos de 1º trimestre por insuficiência lútea; · Hirsutismo; · Acne; · Obesidade centrípeta; · Acantose nigricans. Diagnóstico - Feito por avaliações clínica e laboratorial: · Anamnese; · Exame físico; · Dosagens séricas dos androgênios; · Prolactina; · TSH/T4 livre; · FSH/LH; · Ultrassonografia/tomografia/ressonância magnética de ovários e adrenais (excluir neoplasias). tratamento das síndromes hipe- randrogênicas - Clínico: perda de peso, anticoncepcional oral (dar preferência àqueles com progestogênios com ação antiandrogênica, como acetato de ciproterona e desogestrel), drogas antiandrogê- nicas (acetato de ciproterona, espironolactona, flutamida e finasterida), indutores da ovulação para pacientes que desejam engravidar (citrato de clomifeno ou gonadotrofinas); - Cirúrgico: cauterização laparoscópica dos ovários e ressecção em cunha dos ovários (drilling ova- riano – pouco usado); - Outros: tratamento estético para hirsutismo, acne e acompanhamento dermatológico; - A metformina diminui a resistência a insulina e possibilita a restauração dos ciclos ovulatórios nas pacientes com SOP e com resistência periférica a insulina. 266 revalidaSIC Resumão 4. Síndrome dos ovários policísticos É uma forma de hiperandrogenismo acompanhada por anovulação crônica, com etiopatoge- nia ainda não definida. Há aumento da produção androgênica, devido à hiperplasia das células tecais sob estímulo do LH, que está aumentado em relação ao FSH (relação LH–FSH >2:1). Os níveis relativamente baixos de FSH inibem a maturação folicular adequada e o fenômeno de dominância folicular, persistindo folículos em estágios iniciais da maturação e em atresia, o que oferece o aspecto policístico aos ovários. O quadro clínico é composto de ciclos menstruais irregulares (espaniomenorreia ou amenor- reia), hirsutismo, acne, alopecia, obesidade e ovários aumentados com múltiplos cistos. consenso de rotterdam, 2003 (pelo menos 2 de 3 fatores) - Irregularidade menstrual; - Sinais clínicos e/ou bioquímicos de hiperandrogenismo (acne, hirsutismo, alopecia, aumento dos androgênios); - Ovários policísticos à ultrassonografia. critérios diagnósticos propostos pela Androgen Excess and PCOS Society, 2006 - Hiperandrogenismo clínico e/ou bioquímico; - Oligo-ovulação e/ou ovários policísticos; - Exclusão de outras etiologias para hiperandrogenismo. O diagnóstico é de exclusão. Devem-se pesquisar todas as outras causas de anovulação crô- nica e hiperandrogenismo. tratamento - Perda de peso; - Drogas antiandrogênicas (acetato de ciproterona é o mais utilizado); - Metformina (quando houver resistência periférica a insulina); - Citrato de clomifeno (indutor de ovulação) nas pacientes que desejam engravidar. 5. Hiperprolactinemia A secreção de prolactina (PRL) pela adeno-hipófise é controlada por constante inibição exer- cida pela dopamina. A PRL atua no crescimento e na dominância folicular com papel sinérgico às gonadotrofinas. Se a PRL estiver elevada, determinam-se bloqueio da ação da aromatase, bloqueio da ação do FSH em seus receptores e atresia folicular por bloqueio da maturação. Além da ação direta nos ovários, a hiperprolactinemia pode inibir a secreção pulsátil do GnRH, alterando a função ovariana. sinais e sintomas - Galactorreia; - Amenorreia; - Infertilidade; - Acne; - Hirsutismo; - Distúrbios visuais (aumento da hipófise e compressão do quiasma óptico); - Sinais de hipoestrogenismo; - Distúrbios menstruais (espaniomenorreia, oligomenorreia, insuficiência lútea); - Redução da libido. ginecologia e obstetrícia 267 etiologia - Uso de drogas (psicotrópicos, antidopaminérgicos, estrogênios, progestogênios, antide- pressivostricíclicos, opiáceos, cocaína); - Tumores (microadenoma de hipófise, carcinoma broncogênico, hipernefroma); - Privação de sono; - Estresse; - Exercício físico; - Coito; - Gravidez; - Lactação; - Manipulação mamária; - Doenças clínicas (hipotireoidismo, hiperplasia adrenal, insuficiência hepática, herpes- zóster, queimaduras); - Cirurgias mamárias. Diagnóstico - Anamnese completa, dosagem de PRL, dosagem de TSH: · Se o PRL for superior a 100mg/mL: provável etiologia tumoral, que deverá ser investi- gada mais profundamente com raio x de sela túrcica, tomografia de crânio, ressonân- cia magnética e campo visual; · Se o PRL estiver entre 25 e 100mg/mL: procurar causas diversas, desde uso de medi- camentos a outras doenças endócrinas e da parede torácica. tratamento - Indicado a pacientes sintomáticas ou com tumor de hipófise de grande extensão (ma- croadenoma). Pacientes assintomáticas com microadenomas de hipófise não têm indi- cação de tratamento. Pode ser clínico, cirúrgico ou radioterápico: · Clínico: boa resposta terapêutica na maioria dos casos. As drogas mais utilizadas são a bromocriptina, com posologia diária e efeitos colaterais como tontura, cefaleia, náu- seas, depressão, alucinações, hipotensão ortostática; e a cabergolina, com posologia semanal e menor incidência de efeitos colaterais; · Cirúrgico: ressecção transesfenoidal seletiva, reservada aos casos de tumor de hipófi- se extenso (macroadenoma) refratário ao tratamento ou pacientes com intolerância a medicação. O tratamento cirúrgico pode implicar complicações como meningite, diabetes insipidus, fístulas liquóricas e pan-hipopituitarismo; · Radioterapia: casos de recidiva de tumores após ressecção cirúrgica, redução de tu- mores irressecáveis refratários a medicação e para os casos de tumores mistos. Seus resultados são menos eficientes do que o tratamento cirúrgico, com resposta lenta e insatisfatória na maioria dos casos. Figura 1 - Hiperprolactinemia 268 revalidaSIC Resumão 4 Endometriose 1. Introdução É caracterizada pela presença de tecido en- dometrial funcionante (glândula e/ou estroma endometrial) fora da cavidade endometrial. A adenomiose é a presença de tecido en- dometrial no interior das fibras miometriais. São locais em que os implantes podem de- senvolver-se: ovários, ligamentos uterossacros, trompas, bexiga, sigmoide, reto, peritônio pél- vico, fígado, pulmões, pleura e outros. A endo- metriose pélvica é a mais frequente. Ovários, ligamentos uterossacros e fundo de saco de Douglas são as localizações preferenciais. Na pelve, os ovários constituem o local com maior frequência de aparecimento da endometriose. Figura 1 - Locais mais comuns 2. Etiologia Há muitas hipóteses etiopatogênicas para explicar o desenvolvimento da doença estrogênio- dependente, porém nenhuma está provada. A mais aceita propõe que o ambiente hiperestrogêni- co seja fator predisponente ao seu desenvolvimento. As 2 teorias mais aceitas são: ͳ teoria da menstruação retrógrada: pela menstruação retrógrada, células endometriais viáveis se aderem e penetram nas estruturas pélvicas. No entanto, 90% apresentam menstruação retrógrada e apenas 10% delas apresentam endometriose, o que sugere fatores genéticos e ambientais envolvidos; ͳ teoria da metaplasia celômica: baseia-se na transformação metaplásica espontânea das cé- lulas mesoteliais derivadas do epitélio celômico localizado no peritônio e na pleura. Explica a presença de tecido endometrial em localização fora da pelve, como na pleura, no pulmão ou no joelho. Não há evidências clínicas que comprovem essa teoria. São fatores de risco: antecedente familiar de 1º grau com endometriose, menarca precoce e nuliparidade. São fatores protetores: o uso de contraceptivos hormonais, multiparidade e 1ª gestação precoce (<18 anos). 3. Fatores de risco Por ser uma doença estrogênio-dependente, todos os fatores que propiciam o ambiente hipe- restrogênico podem favorecer o aparecimento de endometriose. Os principais fatores de risco são antecedente familiar de 1º grau com endometriose, menarca precoce, nuliparidade, gestação tardia, ciclos menstruais curtos, fluxo menstrual aumentado, es- tenose cervical, raça branca e usuária de dispositivo intrauterino. ginecologia e obstetrícia 269 Além dos fatores de risco, existem os fatores protetores: multiparidade, uso de contracepti- vos hormonais, tabagismo, 1ª gestação precoce e prática de exercícios regulares. 4. Quadro clínico Consiste em dismenorreia secundária de intensidade progressiva, dor pélvica crônica, dispa- reunia de profundidade, infertilidade, alterações intestinais e urinárias durante a menstruação. O exame físico pode ser normal ou revelar retroversão uterina fixa, dor ao toque vaginal com- binado, aumento anexial, nódulos em fundo de saco vaginal ou espessamento dos ligamentos uterossacros. A intensidade da dor não está relacionada à quantidade de tecido endometrial pre- sente na cavidade abdominal, à extensão ou ao estadiamento da doença, mas relaciona-se ao grau de invasão, às aderências e aos tipos de lesões. 5. Diagnóstico A - Exames laboratoriais CA-125 (sensibilidade e especificidade medianas; bom para seguimento evolutivo de casos já confirmados), proteína sérica amiloide A (mais relacionada aos casos de acometimento intestinal), outras provas de atividade inflamatória (PCR), anticardiolipinas IgM e IgG. B - Exames de imagem Ultrassonografias pélvica e transvaginal com preparo intestinal prévio, tomografia de pelve, ressonância magnética, ecocolonoscopia. C - Videolaparoscopia É o padrão-ouro para o diagnóstico (acompanhada de confirmação anatomopatológica), pois permite o estadiamento e o tratamento. O exame anatomopatológico é o único diagnóstico para confirmação da endometriose. - Tipos de lesões à videolaparoscopia Figura 2 - Lesão negra: resulta do sangramento e da retenção de sangue 270 revalidaSIC Resumão Figura 3 - Lesão vermelha (“em chama de vela”): endometriose ativa circundada por estroma; lembra a superfície endometrial Figura 4 - Lesão branca cicatricial D - Diagnóstico diferencial Miomatose, adenomiose, moléstia inflamatória pélvica crônica, torção ovariana, gestação ec- tópica, infecção do trato uterino. ginecologia e obstetrícia 271 E - Classificação A Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva classifica a endometriose de acordo com os achados intraoperatórios. Figura 5 - Classificação americana da endometriose 6. Tratamento São objetivos alívio dos sintomas, melhora da qualidade de vida, evitar a progressão da doen- ça e tratamento da dismenorreia e da infertilidade. 272 revalidaSIC Resumão A - Clínico Contraceptivos orais ou injetáveis, progestogênios na 2ª fase do ciclo, derivados androgêni- cos como danazol e gestrinona, implante subcutâneo de liberação de progestogênios e sistemas intrauterinos de liberação de progestogênios (promover a decidualização dos focos de endome- triose e alcançar um estado de hipoestrogenismo), análogos do GnRH (diminuir a secreção das gonadotrofinas hipofisárias, determinando um estado de hipogonadismo hipogonadotrófico). B - Cirúrgico Cauterização de focos, lise de aderências, investigação da permeabilidade tubária, ressecção de endometriomas ovarianos. Não é raro as pacientes necessitarem de mais de 1 abordagem videolaparoscópica. As cirurgias laparotômicas também podem ser realizadas para diagnóstico e tratamento, porém têm a desvantagem de limitar a visualização das cavidades pélvica e ab- dominal. Em casos de manejo difícil e de a paciente já ter prole constituída, pode-se optar pela ooforectomia bilateral com ou sem histerectomia. C - Terapia de reposição hormonal Pode ser realizada em pacientes com antecedentes de endometriose. No entanto, se a meno- pausa for de causa cirúrgica (ooforectomia),devem-se aguardar de 18 a 24 meses para iniciá-la, intervalo destinado à atrofia de eventuais focos residuais. D - Alguns efeitos colaterais do tratamento medicamentoso Cefaleia, mastalgia e alteração ponderal (contraceptivos hormonais), efeitos virilizantes (deri- vados androgênicos), sintomas de síndrome do climatério (agonistas de GnRH). Pode haver perda de massa óssea considerável com a utilização destes últimos. O tempo de uso dessas drogas não deve ultrapassar 6 meses. E - Prevenção de recidiva A forma mais eficaz de prevenir ou retardar a recidiva é a gravidez, sendo que a maior chance de ocorrer é de até 1 ano a partir da cirurgia. Caso esse não seja o desejo da paciente, os anticon- cepcionais hormonais e o DIU de progesterona permitem um controle razoável. 7. Endometriose e infertilidade estadiamento estadios mais avançados Alterações anatômicas causadas pelas aderências ou cistos endometrióticos estadios iniciais Distúrbios ovulatórios (com altas taxas de anovulação), síndrome do folículo luteini- zado não roto, alterações nas concentrações de substâncias inflamatórias e células no fluido peritoneal, capazes até de fagocitar gametas e embriões Não raramente, a obtenção de gestação é difícil, necessitando-se de técnicas de reprodução assistida de baixa e alta complexidades. Nos estadios III e IV, a fertilização in vitro é a técnica mais adequada para tentativa de gestação. 8. Endometriose e câncer A doença aumenta o risco de câncer de ovário em 2 a 3 vezes, principalmente dos tumores epiteliais de baixo grau. ginecologia e obstetrícia 273 5 Climatério 1. Introdução e propedêutica A - Climatério É o período da vida da mulher em que há um declínio acentuado e progressivo da função ova- riana, tendendo ao fim do patrimônio folicular e da capacidade reprodutiva. É a transição da vida reprodutiva para a não reprodutiva. B - Síndrome do climatério É o conjunto de sinais e sintomas que podem acompanhar essa fase e que está relacionado à queda da função ovariana. C - Alterações fisiológicas A redução do pool de folículos ovarianos leva à secreção de menores concentrações de estro- gênios, especialmente o estradiol, e de inibina e ao aumento dos níveis de FSH. Ocorre crescimen- to relativo da função do estroma ovariano, que, sob influência contínua do LH, produz androgê- nios. Em algumas mulheres, surgem características virilizantes nessa fase (pelos no mento e no buço, engrossamento da voz etc.). Figura 1 - Concentração de hormônios femininos ao longo da vida D - Sintomas típicos da síndrome climatérica Palpitações, cefaleias, tonturas, insônia, parestesias, diminuição da memória, sintomas de- pressivos, irritabilidade, diminuição da libido, osteoporose, aterosclerose, mastalgia, secura va- ginal, dispareunia, prurido vulvar, corrimento, sangramento uterino anormal, polaciúria, disúria, metrorragia, síndrome uretral, incontinência urinária, ostealgia, artralgia, mialgia, atrofia epidér- mica, queda de pelos e cabelos, fogachos. E - Pacientes que têm risco potencial de desenvolvimento ou piora da sua pato- logia cardiovascular Portadoras de insuficiência coronariana prévia, hipertensão arterial, diabetes mellitus, obesi- dade, tabagismo ou com antecedente de doença cerebrovascular ou vascular periférica. 274 revalidaSIC Resumão F - Principais tumores malignos ginecológicos que acometem essa faixa etária Mama (solicitar mamografia periodicamente – conforme rotina preconizada pelo sistema BI-RADS®), colo de útero (solicitar colpocitologia oncótica periodicamente), corpo uterino e ová- rios (solicitar ultrassonografia transvaginal periodicamente), vulva, vagina e cólon (solicitar colo- noscopia, se julgar necessário). G - Densitometria óssea Em decorrência da depleção estrogênica, há aumento na velocidade da reabsorção óssea em detrimento da formação. Nota-se aumento do remodelamento ósseo, com perda progressiva. É necessário o acompanhamento por densitometrias ósseas sucessivas. H - Pacientes de maior risco para osteoporose Baixa estatura, magras e brancas; com antecedente familiar de osteoporose; que ingerem álcool excessivamente; tabagistas; sedentárias; usuárias de medicamentos como anticonvulsi- vantes, antiácidos e hormônios de tireoide; portadoras de outras patologias sistêmicas, como insuficiência renal crônica, diabetes, síndrome de má absorção, hiperparatireoidismo, hipertireoi- dismo, gastrectomia e anastomoses intestinais. I - Rotina propedêutica básica Anamnese + exames físicos completos, glicemia de jejum, colesterol total e frações, triglicé- rides, colpocitologia oncótica, mamografia, ultrassonografia transvaginal, densitometria óssea. Podem ser necessários colposcopia com biópsia dirigida, ultrassonografia das mamas e teste de progesterona. 2. Tratamento Visa à remissão dos principais sintomas, à prevenção de eventos mórbidos e à melhora da quali- dade de vida. A - Orientações dietéticas Com a queda das necessidades energéticas e as alterações hormonais na pós-menopausa, há aumento no risco de a mulher vir a desenvolver obesidade e doenças associadas, como dislipidemia, diabetes e doenças cardiovasculares. Logo, é necessário estimular uma dieta benéfica, com vege- tais, frutas, leite desnatado, carnes magras, entre outros alimentos saudáveis; além disso, se faz necessária a ingestão de cálcio e vitamina D. B - Orientações com relação aos hábitos de vida Diminuir e evitar o abuso de bebidas alcoólicas e o tabagismo e praticar atividade física regular. C - Indicações de Terapia de Reposição Hormonal (TRH) Síndrome do climatério com sintomas pronunciados e prevenção da osteoporose. D - Esquemas de TRH disponíveis Vias oral, transdérmica, intramuscular, intrauterina e vaginal. Dá-se sempre preferência aos estrogênios naturais (menor potencial para desencadear fenômenos tromboembólicos e ginecologia e obstetrícia 275 alteração do perfil lipídico). É fundamental a associação de progestogênios quando a paciente não é histerectomizada (a função da progesterona nos esquemas de TRH é exclusivamente evitar a hiperplasia ou o câncer do endométrio). E - Contraindicações à TRH Sangramento vaginal de origem desconhecida, doença hepática aguda ou crônica, trombose venosa profunda aguda, tromboembolismo agudo, câncer de mama ou de endométrio, endome- triose, alterações congênitas do metabolismo lipídico. F - Câncer de mama O risco de câncer de mama aumenta após o uso consecutivo de TRH por período superior a 5 anos. A segurança do esquema terapêutico está diretamente relacionada à dose de hormônios empregada. Recomenda-se sempre a menor dose necessária para o controle da sintomatologia, pelo menor tempo possível. G - Câncer de endométrio Proteção com a adição obrigatória de progesterona ao esquema de TRH. H - Moduladores seletivos dos receptores estrogênicos Medicação de escolha para as pacientes com câncer de mama, porém requer vigilância cuida- dosa do endométrio. I - Tibolona Ações estrogênica, progestogênica e androgênica. Propicia o alívio dos sintomas climatéricos, atuando sobre a massa óssea e agindo favoravelmente sobre a libido. Requer os mesmos cuida- dos de pacientes que utilizam terapia hormonal. 3. Tratamentos não hormonais A - Utilização de fitoestrogênios Sugere-se que os fitoestrogênios têm a capacidade de agir como antiestrogênios na pré-me- nopausa e como estrogênios na pós-menopausa. Pesquisas com tal classe são recentes, por isso muitos outros estudos são necessários para que se chegue a uma conclusão definitiva. B - Tratamento dos sintomas vasomotores e psíquicos Para mulheres com contraindicação ou intolerância à TRH ou para as que não desejam reali- zar tal tratamento, pode-se prescrever drogas como dopaminérgicos, antidepressivos, sedativos, vasomotores ou substâncias com ação no eixo hipotalâmico-hipofisário,com o objetivo de aliviar os sintomas presentes na pós-menopausa. 276 revalidaSIC Resumão Figura 2 - Tratamento dos sintomas 6 Moléstia inflamatória pélvica aguda 1. Introdução Trata-se de quadro infeccioso que acomete o trato genital superior feminino (acima do orifício interno do colo de útero), podendo envolver endométrio, miométrio, tubas uterinas, ovários e ainda disseminar-se para a cavidade pélvica. Não se incluem, na definição de Moléstia Inflamató- ria Pélvica Aguda (MIPA), os processos infecciosos ou inflamatórios decorrentes de manipulações cirúrgicas prévias ou do ciclo gravídico-puerperal. Os agentes etiológicos mais importantes são Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachoma- tis. Além desses, há uma flora polimicrobiana característica da doença inflamatória pélvica: bac- térias Gram positivas e Gram negativas aeróbicas e anaeróbicas. 2. Quadro clínico gonococo Tende a ser mais florido e exuberante, com dor pélvica aguda, leucorreia purulenta e abun-dante, febre e instalação mais abrupta dos sintomas. clamídia Tende a ser mais insidioso e frustro, com sintomas de longo prazo e menor intensidade, muitas vezes revelados somente pelas consequências tardias de infertilidade por fator tu- boperitoneal. a infecção é ascendente Bactérias presentes na vagina e no colo de útero, preferencialmente no período pós-mens- trual, quando as condições locais de pH, a abertura do orifício uterino e a contratilidade ute- rina favorecem a dinâmica ascendente. Os agentes ascendem pela endocérvice, causando endocervicite aguda, endometrite e salpingite. ginecologia e obstetrícia 277 infecção da cavidade pélvica Se as fímbrias das tubas uterinas se ocluírem como meio de proteção, a infecção ficará res- trita nesse ambiente, levando ao aparecimento de piossalpinge, no quadro agudo, ou hi- drossalpinge, como consequência futura. Nos casos em que não houver tempo de as tubas se ocluírem, a infecção pode atingir a cavidade pélvica, desenvolvendo pelviperitonite, com abscesso em fundo de saco de Douglas ou no tubo ovariano. Fatores de risco São vulvovaginites e/ou cervicites, uso de DIU (primeiros 20 dias após a inserção), faixa etá-ria abaixo de 30 anos, promiscuidade sexual e baixo nível socioeconômico. Diagnóstico É realizado com base nos sinais, sintomas e exames subsidiários. Quadro clínico É composto por dor pélvica, corrimento vaginal, febre, sangramento genital, dor à palpação uterina e/ou anexial ao toque bimanual, dor à mobilização do colo uterino e massa ou es- pessamento anexial. exames subsidiá- rios Compreendem leucograma, urocultura, provas de atividade inflamatória (VHS, proteína C reativa), ultrassonografia pélvica e transvaginal, tomografia/ressonância magnética e video- laparoscopia da região pélvica, provas de função renal, hepática e coagulograma. Diagnósticos diferenciais Compreendem vulvovaginites, cervicites, pólipos e endometriose, gestação ectópica, abor- tamento séptico, apendicite, infecção do trato urinário ou digestivo, nefrolitíase e doenças inflamatórias intestinais, como retocolite ulcerativa e doença de Crohn. Há uma corrente que defende outra subdivisão da MIPA com critérios maiores, menores e específicos: Maiores Dor à palpação anexial, dor à mobilização do colo uterino, dor pélvica infrapúbica Menores Febre (>37,8°C), massa pélvica, secreção vaginal e/ou endocervical purulenta, leucocitose ao hemograma, PCR elevada, mais de 5 leucócitos por campo de aumento na secreção de endocérvice avaliada à microscopia, comprovação laboratorial de infecção cervical pelo go- nococo, clamídia ou micoplasma específicos Evidência histopatológica de endometrite, presença de abscesso túbulo-ovariano ou em fundo de saco de Douglas aos exames de imagem, laparoscopia evidenciando MIPA classificação da MiPa leve Corrimento vaginal e dor pélvica, sem comprometimento sistêmico Moderada Corrimento vaginal, dor pélvica e febre, mas sem evidência de abscesso ou co-leções grave Mesmo quadro clínico anterior, com coleções e abscesso e/ou grave compro-metimento sistêmico 3. Tratamento MiPa leve - Tratamento ambulatorial com antibióticos: cobertura de flora polimicrobiana Gram positiva e Gram negativa, aeróbica e anaeróbica. Há vários esquemas possíveis: · Cefoxitina 2g IM ou ceftriaxona 250mg IM, em dose única + doxiciclina 100mg VO, 12/12h, por 14 dias + probenecida 1g VO, em dose única; · Ofloxacino 400mg VO, 12/12h, por 14 dias + clindamicina 450mg VO, 6/6h, ou metro- nidazol 500mg VO, 12/12h, por 14 dias + doxiciclina 100mg VO, 12/12h, por 14 dias. MiPa moderada ou grave - Tratamento hospitalar – a flora a ser coberta é a mesma, porém com terapia in- travenosa: · Cefoxitina, 2g IV, 6/6h, ou cefotetana 2g IV, 12/12h + doxiciclina 100mg IV ou VO, 12/12h; · Penicilina G cristalina, 4.000.000 a 5.000.000UI IV, 4/4h + gentamicina 1,5 a 2mg/kg IV ou IM, 8/8h, ou amicacina 7,5mg/kg IV ou IM, 12/12h + metronidazol 500mg IV, 8/8h. Monitorização clínica e laboratorial - A cada período de 48 a 72 horas; - Se houver resposta insatisfatória: tratamento cirúrgico, se possível, por via laparoscópica. tratamento de parceiros sexuais Ceftriaxona 250mg IM em dose única e doxiciclina 100mg VO, 12/12h, por 14 dias 278 revalidaSIC Resumão 4. Complicações A complicação imediata mais comum é o abscesso tubo-ovariano. A complicação tardia mais frequente é a infertilidade, além de aumentar as chances de uma gravidez ectópica. Outras complicações podem ser algia pélvica crônica, hidrossalpinge e síndrome de Fitz- -Hugh-Curtis. estágio i (leve) - Endometrite e salpingite aguda sem peritonite; - Tratamento: ambulatorial. estágio ii (moderada sem abscesso) - Salpingite aguda com peritonite (pelviperitonite); - Tratamento: hospitalar (internação devida aos sinais peritoneais). estágio iii (moderada com abscesso) - Salpingite aguda com obstrução tubária ou abscesso tubo-ovariano ou abscesso pélvico; - Tratamento: hospitalar (internação devido aos sinais peritoneais ou presença de abscesso). estágio iV (grave) - Presença de abscesso tubo-ovariano roto ou sinais de choque séptico; - Tratamento: hospitalar com o auxílio de intervenção cirúrgica (laparotomia). 7 Infertilidade conjugal 1. Definição Trata-se da incapacidade de obter gestação após 12 meses de atividade sexual regular, bem distribuída ao longo do ciclo, sem uso de nenhum método contraceptivo. Um casal normal tem taxa de fertilidade em torno de 20% ao mês. Diferente de esterilidade, que seria a incapacidade permanente para a concepção. 2. Infertilidades primária e secundária Será considerada infertilidade primária quando o casal nunca tiver tido filhos, mesmo que um dos parceiros desse casal já tiver filhos de outro relacionamento. 3. Causas Figura 1 - Causas de infertilidade conjugal Figura 2 - Causas de infertilidade feminina ginecologia e obstetrícia 279 Figura 3 - Causas de infertilidade masculina 4. Fator ovulatório É a diminuição da capacidade ovulatória, que ocorre progressivamente com a idade, e dis- túrbios ovulatórios por alterações hormonais (hipotalâmicas, hipofisárias, ovarianas, tireoidia- nas ou adrenais). 5. Fator tuboperitoneal São afecções que levam a obstrução tubária, impedindo a fecundação. As causas mais impor- tantes são infecções pélvicas, endometriose e aderências. Figura 4 - Fator tubário: hidrossalpinge à esquerda 6. Roteiro propedêutico Hemograma, tipagem sanguínea, sorologias (sífilis, rubéola, hepatites B e C, HIV, HTLV), es- permograma (2 amostras), ultrassonografias pélvica e transvaginal, histerossalpingografia, dosa- gens hormonais (FSH, LH, estradiol, prolactina, TSH, T4 livre). 280 revalidaSIC Resumão Figura 5 - Sinéquias uterinas e obstrução tubária bilateral 7. Conforme a necessidade Podem ser realizados histeroscopia paraavaliação intracavitária, biópsia de endométrio (para verificar ocorrência de ovulação e datação menstrual) e teste pós-coito (avaliar fator cervical – hostilidade do muco cervical). 8. Tratamento direcionado ao fator diagnosticado, quando possível Alterações hormonais devem ser corrigidas, obstruções anatômicas passíveis de correção de- vem ser desfeitas, e focos de endometriose devem ser tratados. No homem, fatores anatômicos (como varicocele) podem ser corrigidos cirurgicamente. 9. Técnicas de baixa complexidade (in vivo) ͳ Indução da ovulação com coito programado ou inseminação intrauterina; ͳ Tratamento das causas ovulatórias, fator masculino leve e endometriose estadios I e II. As condições para indicação de tais procedimentos são cavidade uterina íntegra, pelo menos 1 tuba normal, e sêmen adequado. A indução da ovulação pode ser realizada com o uso de citrato de clomifeno (50 a 100mg/d, do 3º ao 7º ou do 5º ao 9º dias do ciclo), gonadotrofinas de mulher menopausada (75 a 150mg/d a partir do 2º dia do ciclo) ou gonadotrofina purificada ou recombinante (50 a 150UI/d). 10. Técnicas de alta complexidade (fertilização in vitro) ͳ Fertilização in vitro clássica e com injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI); ͳ Tratamento das causas por fator tuboperitoneal, fator masculino grave e endometriose. ginecologia e obstetrícia 281 Figura 6 - ICSI 11. Complicações do tratamento Podem surgir diversas complicações, desde cirúrgicas (quando se tenta esse tipo de aborda- gem) até a síndrome de hiperestímulo ovariano. Vale lembrar que a gemelaridade é considerada complicação desse tipo de tratamento. 8 Ética em Ginecologia e Obstetrícia, abortamento legal e abuso sexual 1. Introdução O médico deve exercer as suas atividades profissionais sempre considerando princípios éticos, atitudes corretas e cautelosas, visando melhorar a condição do paciente e evitar sofrimentos desnecessários. 2. Princípios fundamentais recomendados pela International Federation of Gynecology and Obstetrics em 1994 para toco- ginecologistas A mulher tende a ser vulnerável por circunstâncias sociais, culturais e econômicas. O princípio da autonomia enfatiza o importante papel que a mulher deve adotar na tomada de decisões, com respeito aos cuidados de sua saúde. Os médicos devem observar a vulnerabilidade feminina, solicitando expressamente sua opção e respeitando suas opiniões. Quando for solicitada decisão relativa a cuidados médicos, as mulheres deverão receber informações completas sobre as várias opções terapêuticas disponíveis, incluindo seus riscos e benefícios. 282 revalidaSIC Resumão Quando um médico não for capaz ou não desejar praticar um ato por razões extramédicas, ou contrárias ao que diz a sua consciência, deverá fazer todo o possível para oferecer adequada referência. Devido à natureza íntima dos cuidados obstétricos e ginecológicos, há a necessidade de pro- teger a confidencialidade da paciente. Além de oferecer cuidados ginecológicos e obstétricos, os profissionais têm a responsabilida- de de considerar o bem-estar da mulher e a sua satisfação psicológica. Ao oferecer os cuidados de saúde às mulheres, o princípio da justiça requer que sejam trata- das com igual consideração, não importando a sua situação socioeconômica. 3. Consentimento esclarecido O Código de Ética Médica, no Art. 46, veta ao médico efetuar qualquer procedimento sem esclarecimento e consentimento prévios do paciente ou do responsável legal, salvo em caso de risco de morte iminente. O consentimento informado é um documento assinado pelo paciente ou pelo seu represen- tante legal consentindo a realização de determinado procedimento diagnóstico ou terapêutico. Ele garante a autonomia do paciente, delimitando a responsabilidade do médico que realiza os procedimentos. O termo também é obrigatório para inférteis e doadores. Apesar disso tudo, o que legitima o ato médico não é a sua permissão, mas a sua indiscutível necessidade. 4. Prontuário médico O prontuário médico é o conjunto de documentos padronizados, ordenados e concisos, desti- nados ao registro de todas as informações referentes aos cuidados médicos e paramédicos pres- tados. O paciente pode ter acesso ao seu documento, se assim o desejar, solicitando cópias. A família ou o seu representante legal têm o mesmo direito, caso o enfermo seja menor de idade ou incapaz; caso contrário, deve haver autorização expressa por ele. Em caso de óbito ou na ausência de condições de a paciente expressar tal autorização, as informações do prontuário devem ser dadas sob a forma de laudo médico ou cópias. O prontuário original não deve ser entregue a ninguém, somente cópias, e nenhuma outra entidade tem direito a acessá-lo. 5. Segredo médico Trata-se de um tipo de segredo profissional pertencente ao paciente. O médico só pode revelá -lo em situações especiais, como justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente. 6. Abortamento O abortamento é uma situação com a qual o médico é confrontado no exercício da especiali- dade de Ginecologia e Obstetrícia. No Brasil, é permitido em apenas 3 situações: gravidez decor- rente de estupro, risco de morte materna e fetos anencefálicos. ginecologia e obstetrícia 283 Nos casos de estupro, são necessários autorização ou consentimento da gestante ou do res- ponsável legal, consentimento informado, gestação inferior a 20 semanas. Nos casos de gestação que implique risco de morte materna, são necessários avaliação multi- profissional de, no mínimo, 2 médicos, consentimento informado e que essa seja a mais adequada maneira de preservar a saúde da gestante. O diagnóstico de anencefalia deve ser feito por exame ultrassonográfico realizado a partir da 12ª semana de gestação e deve conter: I - Duas fotografias, identificadas e datadas: uma com a face do feto em posição sagital; a ou- tra, com a visualização do polo cefálico no corte transversal, demonstrando a ausência da calota craniana e de parênquima cerebral identificável. II - Laudo assinado por 2 médicos, capacitados para tal diagnóstico. A paciente tem o direito de interromper a gravidez, independente do tempo de gestação. Em casos de abortamento ilegal, o médico deve manter o sigilo profissional e isentar-se de comunicar o fato às autoridades responsáveis. 7. Violência sexual A Convenção Interamericana para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher (con- venção de Belém do Pará – ONU) considera violência contra a mulher “todo ato baseado no gê- nero que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública, quanto privada”. A violência sexual repercute na saúde física – desde o risco de contaminação por Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs), entre elas, o HIV, até gravidez indesejada – e na saúde mental da pessoa. É preciso entender que para quem sofreu tal crime o simples fato de ter de procurar o sistema de saúde e/ou delegacia de polícia já é um agravo resultante dessa violência. Para o atendimento de mulheres que sofreram violência sexual, deve ser definido local espe- cífico, preferentemente fora do espaço físico do pronto-socorro ou da triagem, a fim de garantir a necessária privacidade durante a entrevista e os exames. Para as avaliações clínica e ginecológi- ca, é necessário espaço físico correspondente a um consultório médico. Os procedimentos para o abortamento previsto por lei devem ser realizados em local cirúrgico adequado. Os dados obtidos durante a entrevista, nos exames físico e ginecológico, resultados de exa- mes complementares e relatórios de procedimentos devem ser cuidadosamente registrados no prontuário. É necessário que o serviço de saúde realize exame físico completo, exame ginecológico, coleta de amostras para diagnóstico de infecções e coleta de material paraidentificação do provável autor(a) da agressão, e que seja preenchida a “Ficha de Notificação e Investigação de Violência Doméstica, Sexual e/ou Outras Violências”. Em casos de gravidez, suspeita ou confirmada, deve-se considerar a demanda da mulher ou da adolescente, identificando se manifesta ou não desejo de interromper a gravidez. Não há impedimento legal ou ético para que o(a) médico(a) ou outro(a) profissional de saú- de preste a assistência que entender necessária, incluindo o exame ginecológico e a prescrição de medidas de profilaxia, tratamento e reabilitação. A gravidade da circunstância e os riscos da violência sexual impõem à mulher o rigoroso cumprimento da atenção em saúde. A assistência à saúde da pessoa que sofre violência sexual é prioritária, e a recusa infundada e injustificada de atendimento pode ser caracterizada ética e legalmente como omissão. 284 revalidaSIC Resumão Após o atendimento médico, se a mulher tiver condições, poderá ir à delegacia para lavrar o Boletim de Ocorrência Policial, prestar depoimento ou submeter-se a exame pelos peritos do Ins- tituto Médico-Legal. Se, por alguma razão, não for mais possível a realização dos exames periciais diretamente pelo Instituto Médico-Legal, os peritos poderão fazer o laudo de forma indireta, com base no prontuário médico. Assim, os dados sobre a violência sofrida e suas circunstâncias, bem como os achados do exame físico e as medidas instituídas, devem ser cuidadosamente descritos e registrados em prontuário. O Boletim de Ocorrência Policial registra a violência para o conhecimento da autoridade poli- cial, que determina a instauração do inquérito e da investigação. O laudo do Instituto Médico-Le- gal é um documento elaborado para fazer a prova criminal. A exigência de apresentação desses documentos para atendimento nos serviços de saúde é incorreta e ilegal. O atendimento de crianças e adolescentes em situação de violência sexual se submete aos mesmos fundamentos éticos e legais. A assistência à saúde do menor de 18 anos deve observar o princípio de sua proteção. Se a revelação dos fatos for feita para preservá-lo de danos, estará afastado o crime de revelação de segredo profissional. Métodos de anticoncepção de emergência hormonal Métodos Doses Vias observações Levonorgestrel 0,75mg de levonorgestrel por comprimido Oral 2 comprimidos, dose única 1ª escolha 1,5mg de levonorgestrel por comprimido Oral 1 comprimido, dose única Método de Yuzpe Anticonceptivos hormonais orais combinados com 0,05mg de etinilestradiol e 0,25mg de levonorgestrel por comprimido Oral 2 comprimidos, a cada 12 horas; total de 4 compri- midos 2ª escolha Anticonceptivos hormonais orais combinados com 0,03mg de etinilestradiol e 0,15mg de levonorgestrel por comprimido Oral 4 comprimidos a cada 12 horas; total de 8 compri- midos Comparado ao levonorgestrel, o regime de Yuzpe apresenta maior taxa de falha. A profilaxia das DSTs não virais em mulheres que sofreram violência sexual visa aos agen- tes mais prevalentes e de repercussão clínica relevante. Está indicada nas situações de expo- sição com risco de transmissão dos agentes, independentemente da presença ou da gravida- de das lesões físicas e da idade da mulher. Profilaxia das Dsts não virais em adultos e adolescentes com >45kg não gestantes Medicações apresentações Vias de administra-ção Posologias Penicilina G benzatina 1.200.000UI IM 2.400.000UI (1.200.000 em cada nádega), dose única Ceftriaxona 250mg IM 250mg, dose única Azitromicina 500mg VO 2 comprimidos, dose única Profilaxia das Dsts não virais em gestantes, crianças e adolescentes com <45kg Medicações apresentações Vias de administra-ção Posologias Penicilina G ben- zatina Frasco/ampola com 150.000UI, 300.000UI, 400.000UI IM 50.000UI/kg (dose máxima >2.400.000UI), dose única Ceftriaxona 250mg (acompanha diluente de 2mL) IM Aplicação de 125mg (1mL) Azitromicina 600mg/15mL ou 900mg/22,5mL VO 20mg/kg (dose máxima: 1g), dose única ginecologia e obstetrícia 285 alternativa para a profilaxia das Dsts não virais Medicações adultos crianças/adolescentes Estearato de eritromicina* 500mg VO, 6/6h/d (sífilis), ou 7 dias (clamídia) 50mg/kg/d, VO, 6/6h/d (sífilis/cla-mídia) Ciprofloxacino** 500mg VO, dose única Contraindicação * Pode acarretar significativos efeitos colaterais, como a intolerância gastrintestinal. ** Contraindicado a grávidas. A imunoprofilaxia contra a hepatite B está indicada a casos de violência sexual nos quais ocor- ra exposição a sêmen, sangue ou outros fluidos corpóreos do agressor. abordagem sorológica da hepatite b Hbsag anti-Hbc igM Diagnósticos condutas (+) (+) Infecção aguda (há, pelo menos, 15 dias) Repetir HBsAg e anti-HBc IgM em 6 meses. (+) (-) Infecção precoce (há, pelo menos, 15 dias) ou hepatite crônica - Realizar em 15 dias: · Anti-HBc IgM: * (+) infecção aguda. Repetir HBsAg e anti -HBc IgM em 6 meses; * (-) fazer anti-HBc total; * Se +, indica infecção crônica. · Anti-HBs: * (+) cura; * (-) doença crônica. (-) (+) Infecção aguda Repetir HBsAg e anti-HBc IgM em 6 meses. (-) (-) Negativo ou não produz anticorpo (condição rara) Fazer vacinação e imunoglobulina humana anti -hepatite B (IGHAHB). Mulheres imunizadas contra hepatite B, com esquema vacinal completo, não necessitam de reforço ou de IGHAHB. Vacina anti-hepatite b - Aplicação intramuscular em deltoide; 0, 1 e 6 meses após a violência sexual - Imunização ativa. igHaHb - 0,06mL/kg; Dose única- Aplicar IM em glúteo; - Imunização passiva. critérios para recomendação de profilaxia pós-exposição sexual ao HiV recomendada Violência sexual com penetração vaginal e/ou anal desprotegida com ejaculação sofrida há menos de 72 horas individualizar decisão Penetração oral com ejaculação não recomendada - Penetração oral sem ejaculação; - Uso de preservativo durante toda a agressão; - Agressor sabidamente HIV negativo; - Violência sofrida há mais de 72 horas; - Abuso crônico pelo mesmo agressor. 286 revalidaSIC Resumão Figura 1 - Uso do teste rápido para anti-HIV no agressor Drogas e combinações preferenciais e alternativas classes de antirretroviral 1ª escolha 2ª escolha ITRN Zidovudina (AZT) + lamivudina (3TC) Tenofovir* + 3TC IP/r Lopinavir/ritonavir (LPV/r) Tenofovir ITRN: inibidor da transcriptase reversa análogo de nucleosídeo ou nucleotídeo; IP/r: Inibidor da Protease associado a ritonavir. * Contraindicação da protease associada a ritonavir. Doses de antirretroviral para profilaxia da transmissão do HiV para mulheres adultas e adolescentes* 1ª escolha apresenta-ções Vias de administração Posologias AZT/3TC 300mg/150mg VO 1 comprimido a cada 12 horas ( café e jantar) LPV/r 200mg/50mg VO 2 comprimidos a cada 12 horas (café e jantar) * Esse esquema pode ser utilizado na gestação. Profilaxia do HiV para crianças Medicamen- tos apresentações Vias de administra- ção Posologias AZT Solução oral, 10mg/mL, cápsula 100mg VO 180mg/m2/dose – 12/12h. Dose máxima: 300mg/dose 3TC Solução oral, 10mg/dL, comprimido 150mg VO 4mg/kg/dose – 12/12h. Dose máxima: 150mg – 12/12h, >12 anos: 150mg – 12/12h ou 300mg em dose única diária LPV/r Solução oral, 80mg/20mg/mL (LPV/r), comprimido 200mg/50mg (LPV/r) VO Crianças <2 anos: 300mg/m2 – 12/12h, crianças >2 anos: 230mg/m2 – 12/12h. Dose máxima: 200mg – 12/12h, adoles- centes: 400mg – 12/12h Observações: superfície corpórea (m2) = (peso x 4) + 7/peso + 9; peso em kg = 2 x idade + 8. ginecologia e obstetrícia 287 acompanhamento laboratorial após violência sexual admissão 2 semanas 6 semanas 3 meses 6 meses contéudo vaginal x x sífilis (VDrl ou rPr) x x x x anti-HiV x x x x Hepatite b (Hbsag) x x x Hepatite c (anti-HcV) x x x transaminases x x Hemograma x x O Código Penalnão exige qualquer documento para a prática do abortamento nesse caso, a não ser o consentimento da mulher. Assim, aquela que sofre violência sexual não tem o dever legal de noticiar o fato à polícia. 9 Doenças benignas da mama 1. Mastites agudas características principais - Em geral, são associadas à lactação, sendo o agente mais frequente o Staphylococcus aureus e, em menor frequência, o Staphylococcus epidermidis e o Streptococcus; - A principal forma de contaminação é a inoculação da bactéria a partir da orofaringe do lacten- te, por meio de fissuras do mamilo ou pelos orifícios ductais; - Mais comum em primíparas, geralmente entre a 2ª e a 5ª semanas de puerpério. Fatores de risco - Ingurgitamento mamário; - Fissuras; - Má higiene local. Quadro clínico - Dor local; - Febre; - Hiperemia; - Edema. tratamento - Suspensão das mamas; - Drenagem do leite excedente; - Limpeza adequada do mamilo; - Não suspensão da amamentação; - Compressas frias; - Analgésicos e Anti-Inflamatórios Não Hormonais (AINHs); - Antibióticos (cefalosporina de 1ª geração); - Se houver abscesso mamário, recomendam-se: · Drenagem cirúrgica; · Cultura de secreção; · Adequação de esquema antibiótico de acordo com resultado da cultura; · Pode-se recomendar suspensão da amamentação. 288 revalidaSIC Resumão 2. Mastites crônicas A - Abscesso periareolar recidivante (recorrente) características principais - Em 90% dos casos, ocorre em tabagistas entre a 4ª e a 5ª décadas de vida; - Não estão associadas à lactação; - Ocorre por metaplasia escamosa e obstrução, por queratina, dos ductos terminais das mamas; - Há estase das secreções mamárias, dilatação dos ductos terminais e colonização destes por bactérias, predispondo à infecção crônica e recorrente, com formação de abscessos que fistu- lizam para a região periareolar e drenam espontaneamente. etiologia Gram negativos e anaeróbios Diagnóstico Abscesso com fístula periareolar, febre baixa e linfonodomegalia dolorosa axilar tratamento - Abandono do tabagismo; - AINH; - Antibióticos (metronidazol + cefalosporinas de 1ª ou 2ª gerações); - Ressecção cirúrgica dos ductos acometidos e do trajeto fistuloso. B - Mastite da ectasia ductal características principais Acomete mulheres por volta da 6ª década de vida, em decorrência da dilatação crônica dos ductos terminais infra-areolares, seguida de acúmulo de detritos da descamação do próprio ducto e sub- sequente rotura da parede ductal, com extravasamento desse material para o tecido intersticial adjacente, ocasionando uma reação inflamatória. Não há concomitância de quadro infeccioso. Diagnóstico - Clínico: tumoração dolorosa retroareolar, com fibrose e retração da papila: · Mamografia revela aumento da densidade na região retroareolar e pode ou não mostrar ductos dilatados; · A ultrassonografia mostra ductos com ectasia. tratamento AINH e cuidados locais. A cirurgia fica restrita aos casos com tumor associado e no caso de não haver resposta ao tratamento clínico. causas das mastites infecciosas - Mastite aguda lactacional; - Abscesso subareolar recidivante; - Mastite tuberculosa; - Mastite luética; - Infecções: · Virais: herpes-zóster; · Bacterianas: actinomicose; · Fúngicas: criptococose, blastomicose, esporotricose. não infecciosas - Mastite da ectasia ductal; - Doença de Mondor; - Granuloma lipofágico; - Mastite por óleo orgânico; - Doenças sistêmicas: sarcoidose, lúpus eritematoso sistêmico, diabetes mellitus, infarto espontâneo. ginecologia e obstetrícia 289 3. Lesões benignas da mama – cistos mamários características principais - Mais frequentes na pré-menopausa (4ª década de vida); - Cisto simples com frequência de malignidade <1%. Quadro clínico Lesões arredondadas, circunscritas e móveis, consistência amolecida ou endurecida à palpação Ultrassonogra- fia de mamas Melhor exame para diferenciar cistos de lesões sólidas na mama (lesão circunscrita e anecoica com reforço acústico posterior) tratamento - Conduta expectante na maioria dos casos. Indicar punção aspirativa por agulha fina nos casos de cistos dolorosos, que causam prejuízo estético, ou para diferenciação de lesões sólidas; - Cirurgia na suspeita da citologia quando há recidiva após 2 ou 3 punções; ocorre massa re- sidual pós-punção, e estão presentes vegetação intracística (não puncionar), cistos gigantes (volume aspirado >50mL), líquido sanguinolento na punção, achados mamográficos suspeitos após esvaziamento do cisto. 4. Lesões benignas da mama – fibroadenoma características principais - Tumor sólido benigno mais frequente das mamas; acomete mulheres na faixa etária entre 20 e 30 anos; - Na maioria das vezes, são lesões unilaterais, móveis, bem delimitadas, ovais ou lobuladas, de consistência fibroelástica, que atingem dimensões de até 3cm; - Quando ocorrem em mulheres mais jovens, com crescimento rápido e tamanho superior a 5cm, deve-se suspeitar da variante juvenil do fibroadenoma; - São lesões hormônio-dependentes e expressam receptores para estrogênio e progesterona; - A transformação do próprio fibroadenoma em lesão maligna é rara (0,1%). Diagnóstico Ultrassonografia das mamas, punção por agulha fina ou biópsia por agulha grossa tratamento - A conduta pode ser expectante, com seguimentos clínico e ultrassonográfico semestral nos primeiros 2 anos, em mulheres jovens; - Se a paciente se sentir ansiosa, se houver prejuízo estético ou se a paciente apresentar fatores de risco para desenvolvimento de câncer de mama, recomenda-se a exérese do fibroadeno- ma, independente da idade. 5. Lesões benignas da mama – papiloma características principais - Tumor benigno secretor causado por proliferação dos ductos maiores, subareolares, em geral único e podendo obstruir a luz do ducto; - Mais comum entre mulheres na pré-menopausa. Quadro clínico - Manifesta-se como fluxo papilar hemorrágico, espontâneo e intermitente. Pode haver espes- samento retroareolar palpável. É a maior causa de fluxo hemorrágico; - Em 10% dos casos, ocorre papilomatose ou síndrome do papiloma múltiplo (lesões múltiplas e periféricas, e fluxo papilar menos frequente). A papilomatose tem maior associação a carci- noma ductal in situ e lesões atípicas da mama. tratamento Exérese cirúrgica do ducto acometido 290 revalidaSIC Resumão 6. Dor mamária – alteração funcional benigna das mamas características principais - Principal causa de dor mamária na menacma, antigamente chamada displasia mamária; - Estrogênio e prolactina são os principais hormônios envolvidos (retenção hídrica e de sódio, e produção de mediadores inflamatórios); - Não aumenta o risco de câncer de mama. Quadro clínico - Dor cíclica e intumescimento mamário, principalmente pré-menstrual, bilateral; - Fatores emocionais que potencializam a reação dolorosa. Fatores agravantes - Metilxantinas e cafeína; - Estresse; - Tabagismo; - Hipotireoidismo. Quadro histo- lógico Fibrose, proliferação epitelial leve e microcistos Diagnóstico Especialmente clínico tratamento - Orientação verbal, esclarecimento e tranquilização da paciente, sintomáticos (ácido gama- linoleico, analgésicos, AINH, diuréticos, ansiolíticos e anticoncepcional oral, se desejar anti- concepção); - Casos graves: antiestrogênicos (tamoxifeno, danazol). 7. Dor mamária – ectasia ductal e dor de origem extramamária ectasia ductal - Dilatação dos ductos com consequente acúmulo de secreção e inflamação periductal; - Geralmente assintomática e pode ser causa de dor não cíclica; - Acomete mulheres na pós-menopausa; - O tratamento é realizado com a administração de analgésicos e anti-inflamatórios; - Raramente há necessidade de exérese cirúrgica dos ductos acometidos. Dor de origemextramamária - Costocondrite, neurite intercostal, radiculopatia cervical, angina, dispepsia e pleurite; - O tratamento é específico, de acordo com a patologia. 10 Câncer de mama 1. Introdução É a principal causa de morte por câncer entre as mulheres no Brasil, com maior incidência após os 50 anos. Para que surja um tumor de mama, é necessária uma alteração no DNA da célula, e, em 10 a 15% das vezes, essa alteração é herdada das gerações anteriores, porém nem todas as mulheres com as células geneticamente alteradas desenvolvem a doença. São genes envolvidos no processo de carcinogênese mamária: BRCA-1, BRCA-2, p53, c-erb-B2, bcl-2, RAS, c-myc. ginecologia e obstetrícia 291 O principal fator de promoção envolvido no carcinoma de mama é o estrogênio, que não causa lesão genética, mas estimula a proliferação de células previamente alteradas. As metástases são principalmente na mama contralateral, nos ossos, na pleura, nos pulmões, no fígado e no cérebro. Principais fatores de risco - Sexo feminino; - Idade entre 45 e 55 anos; - Menarca precoce; - Menopausa tardia; - Nuligestas; - Terapia de reposição hormonal por mais de 5 anos; - Anticoncepcional oral por mais de 5 anos; - Radiação ionizante; - Câncer de mama prévio; - Lesões mamárias com atipia; - Antecedente familiar de 1º grau (mãe, irmã e filha) de câncer de mama; - Presença de BRCA-1 e BRCA-2 mutados; - Obesidade; - Dieta rica em gordura; - Ingestão alcoólica. câncer de mama riscos familiares de 1º grau Unilateral após 55 anos 1,5 vez Unilateral entre 45 e 55 anos 2,5 vezes Unilateral antes de 45 anos 4 vezes Bilateral na pós-menopausa 6 vezes Bilateral na pré-menopausa 8 vezes rastreamento idade indicações 35 a 39 anos Mamografia basal 40 a 49 anos Anual ou bienal ≥50 anos Anual 2. Carcinoma ductal in situ - Células tumorais intraductais, sem evidência, à microscopia, de invasão da membrana basal. Na maioria das vezes, detectadas na forma subclínica, por meio de mamografia; - Pode manifestar-se como fluxo papilar espontâneo, uniductal e unilateral, tipo “água de rocha” ou sanguinolento, ou, ainda, como nódulo palpável; - Mamografia mostra microcalcificações pleomórficas, lineares ou indeterminadas ou, mais raramente, nódulo ou assimetrias focais. Diagnóstico por meio de biópsia por agulha grossa (core biopsy), biópsia a vácuo (mamoto- mia) ou biópsia cirúrgica; - Punção Aspirativa por Agulha Fina (PAAF) permite a identificação de células neoplásicas, mas não a diferencia- ção entre tumor in situ e invasivo; - O tratamento deve ser adequado a cada caso, a depender das características anatomopatológicas da lesão. 292 revalidaSIC Resumão 3. Carcinoma lobular in situ - Lesão de risco para o desenvolvimento de carcinoma invasor, e não de uma neoplasia propriamente dita; - Sem sintomatologia ou achado mamográfico característico e é, na maioria das vezes, detectado quando realiza- da biópsia por outra lesão ou sintoma suspeito; - O risco de desenvolvimento de carcinoma invasor é de 10 a 25%, podendo ser ductal ou lobular, homo ou contralateral à lesão; - O seguimento com exame clínico deve ser semestral, e a mamografia, anual, complementada com ultrassonogra- fia de mamas e ressonância magnética, se necessário; - O tamoxifeno profilático deve ser oferecido, considerando os riscos e os benefícios dessa medicação. 4. Carcinoma ductal invasivo - É o tipo mais frequente dentre os tumores malignos de mama (75%); - Quadro clínico: o mais comum é o nódulo único, de consistência pétrea, pouco móvel e indolor. Os nódulos tor- nam-se clinicamente evidentes a partir de 1cm e podem ser detectados precocemente por meio de exames de rastreamento. Outros sintomas são retração ou abaulamento de pele e fluxo papilar semelhante ao do carcino- ma ductal in situ; os gânglios axilares tornam-se aumentados, endurecidos e coalescentes quando comprome- tidos pela neoplasia; - A mamografia típica mostra nódulo de alta densidade radiológica, espiculado, com ou sem microcalcificações, possível distorção do parênquima. À ultrassonografia, os nódulos são hipoecogênicos, irregulares ou arredonda- dos, com margens indefinidas, e produzem sombreamento acústico posterior; - Diagnóstico histológico: core biopsy (punção aspirativa por agulha de fragmento), mamotomia, biópsia incisional ou excisional e exame de congelação ou parafina; - Principais focos de metástases: ossos, pleura, pulmão e fígado. 5. Carcinoma lobular invasivo - Difere do carcinoma ductal invasivo por apresentar células pequenas e monótonas em arranjo linear tipo “fila indiana”. Apresenta alta porcentagem de multifocalidade e bilateralidade; - Apresenta-se como espessamento mal definido, muitas vezes de difícil percepção ao exame clínico; - Mamografia mostra área de assimetria focal e distorção do parênquima. A ultrassonografia pode mostrar área de alteração textural; - Diagnóstico anatomopatológico: pelos mesmos métodos descritos. 6. Carcinoma inflamatório - O mais agressivo dos tumores malignos da mama. Caracteriza-se por evolução rápida e prognóstico desfavorá- vel, com mortalidade de aproximadamente 90% em 1 ano se não tratado com quimioterapia; - Em 50% dos casos, há envolvimento axilar no momento do diagnóstico e, em 25%, metástases a distância. Re- presenta de 1 a 3% dos tumores malignos da mama; - Caracteriza-se por aumento súbito do volume mamário, dor, eritema, espessamento difuso da pele (peau d’oran- ge) e calor local; - Mamografia mostra espessamento da pele e aumento difuso da densidade mamária; - Tratamento: quimioterapia neoadjuvante (a doença é considerada sistêmica desde o diagnóstico), cirurgia e/ou radioterapia e quimioterapia adjuvantes. ginecologia e obstetrícia 293 Figura 1 - Carcinoma inflamatório 7. Doença de Paget - Caracteriza-se por alterações eczematosas da aréola e da papila, geralmente é unilateral e corresponde a até 4% dos casos de câncer de mama; - As células são in situ, frequentemente associadas ao carcinoma ductal in situ; - O diagnóstico é clínico, e a confirmação é feita por meio das biópsias da pele e da aréola; - O prognóstico é mais relacionado à lesão subjacente do que à extensão da doença na pele; - Tratamento: é realizado de acordo com o tipo e o estadiamento do tumor associado. Caso haja apenas a lesão areolopapilar, a quadrantectomia central poderá ser realizada. 8. Fatores prognósticos (todas as neoplasias de mama) - O status axilar é o principal fator prognóstico (pacientes com 1 a 3 linfonodos comprometidos têm prognóstico melhor do que aquelas com 4 ou mais); - Tamanho do tumor; - Tipo histológico (piores prognósticos: lobular invasivo e ductal invasivo; melhores: coloide e medular); - Graus histológico e nuclear (quanto mais indiferenciado, pior é o prognóstico); - Receptores hormonais (melhor prognóstico: tumores receptores positivos para estrogênio e progesterona); - C-erb-B2 (elevada expressão desse gene tem maior chance de não responder adequadamente à quimioterapia). 9. Tratamento tratamento cirúrgico envolvendo cirurgias radicais (mastectomias) e conservadoras Mastectomia radical à Halsted Retirada de toda a glândula mamária, músculos peitoral maior e me-nor e esvaziamento axilar dos níveis I, II e III de Berg Mastectomia radical modificada à Patey Preservação do músculo peitoral menor Mastectomia radical modificada à auchincloss-Madden Preservação de ambos os músculos peitorais e realização somente do esvaziamento dos gânglios da base da axila (nível I) tumorectomia Exérese exclusiva do tumor (quase nunca utilizada nos casos de tu-mores malignos das mamas) setorectomia Forte semelhança à tumorectomia; retirada de pouco de tecido ma-mário ao redor do tumor Quadrantectomia clássica Retirada do tumor com parte da mama ao redor, fragmento de pele
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