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1-A-INVESTIGAÇÃO-PARTICIPATIVA-NA-EJA

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SUMÁRIO
 (
10
)
INTRODUÇÃO	4
O PÚBLICO DOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS	5
O Contexto Social	6
A Dimensão Econômica	6
A Dimensão Política	8
A Dimensão Cultural	9
Diversidade Cultural E Cultura Letrada	10
OS JOVENS E ADULTOS E A ESCOLA	12
Expectativas	12
Conquistas Cognitivas	14
A ESCOLA COMO ESPAÇO DE INSERÇÃO SOCIAL	16
APRENDIZAGEM DE ATITUDES E VALORES	20
O EDUCADOR DE JOVENS E ADULTOS	21
OS CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS	23
A MARCA DO TRABALHO	25
O PLANEJAMENTO	28
História do planejamento	29
PLANEJAR X IMPROVISAR	30
PLANEJAMENTO - O QUE DIZ ESTA PALAVRA?	32
PLANEJAMENTO CURRICULAR	33
PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO OU PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO	33
O PLANEJAMENTO DO(A) PROFESSOR(A)	34
Como planejar	35
Para que ensinar?	35
O que ensinar?	36
Como ensinar?	38
A CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DO CONHECIMENTO	40
O conhecimento é próprio dos seres vivos	40
A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES MENTAIS	42
ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA .43 16.1	A finalidade do conhecimento	43
16.2	A produção do conhecimento	44
A NECESSIDADE E O PENSAR SÃO VITAIS NA PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO	45
A NECESSIDADE DE CONHECER E A SALA DE AULA	46
A REFLEXÃO ACELERA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO	47
As diferentes formas de pensar	49
A reflexão, o conhecimento e os alunos da EJA	49
É a ação humana que produz conhecimento	50
Ninguém aprende sozinho	51
A variedade de conhecimentos nas classes da EJA	52
Conhecer exige esforço	52
O conhecimento vem de conhecimentos já existentes e provoca conhecimentos futuros	53
A TEORIA E A PRÁTICA	55
Extensão	57
Nossa teoria não se reduz a ideias formuladas em palavras	57
Somente somos capazes de pôr em prática a nossa própria teoria 58
Só mudamos a prática que temos quando mudamos a teoria que sustenta esta prática	59
Faça o que eu falo e não faça o que eu faço	59
Um exemplo simples da interação teoria e prática	60
Diferença entre a teoria e o discurso	62
BIBLIOGRAFIA	64
INTRODUÇÃO
Prezado aluno,
A Rede Futura de Ensino, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!
1 O PÚBLICO DOS PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Fonte: www.ceasc.com.br
No Brasil, há mais de 35 milhões de pessoas maiores de catorze anos que não completaram quatro anos de escolaridade. Esse grande contingente constitui o público potencial dos programas de educação de jovens e adultos correspondentes ao primeiro segmento do ensino fundamental.
Além dos 20 milhões identificados como analfabetos pelo Censo de 1991, estão incluídas nesse contingente pessoas que dominam tão precariamente a leitura e a escrita que ficam impedidas de utilizar eficazmente essas habilidades para continuar aprendendo, para acessar informações essenciais a uma inserção eficiente e autônoma em muitas das dimensões que caracterizam as sociedades contemporâneas.
Em países como o Brasil, marcados por graves desníveis sociais, pela situação de pobreza de uma grande parcela da população e por uma tradição política pouco democrática, baixos níveis de escolarização estão fortemente associados a outras formas de exclusão econômica e política. Famílias que vivem em situação econômica precária enfrentam grandes dificuldades em manter as crianças na escola; seus esforços nesse sentido são também mal recompensados, já que as escolas a que têm acesso são pobres de recursos e normalmente não oferecem condições de aprendizagem adequadas.
No público que efetivamente frequenta os programas de educação de jovens e adultos, é cada vez mais reduzido o número daqueles que não tiveram nenhuma passagem anterior pela escola. É também cada vez mais dominante a presença de adolescentes e jovens recém-saídos do ensino regular, por onde tiveram passagens acidentadas. Em levantamento realizado no programa de educação básica de jovens e adultos do município de São Paulo, em 1992, apurou-se que 26% do alunado tinha até dezoito anos de idade e 36% tinha entre dezenove e 26.
Na cidade do Recife, apurou-se que, dos alunos de programas para jovens e adultos das redes municipal e estadual, 48% tinha de treze a dezoito anos de idade e 26%, de dezoito a 24 anos. A presença dos adolescentes tem sido tão marcante que se começa a pensar em programas ou turmas especialmente destinadas a essa faixa etária.
A quase totalidade dos alunos desses programas, incluídos os adolescentes, são trabalhadores. Com sacrifício, acumulando responsabilidades profissionais e domésticas ou reduzindo seu pouco tempo de lazer, dispõem-se a frequentar cursos noturnos, na expectativa de melhorar suas condições de vida. A maioria nutre a esperança de continuar os estudos: concluir o 1º grau, ter acesso a outros graus de ensino e a habilitações profissionais.
1.1 O Contexto Social
As exigências educativas da sociedade contemporânea são crescentes e estão relacionadas a diferentes dimensões da vida das pessoas: ao trabalho, à participação social e política, à vida familiar e comunitária, às oportunidades de lazer e desenvolvimento cultural.
1.2 A Dimensão Econômica
O mundo contemporâneo passa atualmente por uma revolução tecnológica que está alterando profundamente as formas do trabalho. Estão sendo desenvolvidas novas tecnologias e novas formas de organizar a produção que elevam bastante a produtividade, e delas depende a inserção competitiva da produção nacional numa economia cada vez mais mundializada.
Fonte: www.sistemafibra.org.br
Essas novas tecnologias e sistemas organizacionais exigem trabalhadores mais versáteis, capazes de compreender o processo de trabalho como um todo, dotados de autonomia e iniciativa para resolver problemas em equipe. Será cada vez mais necessária a capacidade de se comunicar e de se reciclar continuamente, de buscar e relacionar informações diversas.
O outro lado da moeda do avanço tecnológico é a diminuição dos postos de trabalho, que torna a disputa pelo emprego mais acirrada. Níveis de formação mais elevados passam a ser exigidos na disputa pelos empregos disponíveis. A um grande número de pessoas, impõe-se a necessidade de buscar formas alternativas de se inserir na economia, por meio do auto emprego, organização de microempresas ou atuação no mercado informal. A invenção dessas formas alternativas também exige autonomia, capacidade de iniciativa, de comunicação e reciclagem constante. Portanto, podemos dizer que, de forma geral, uma inserção vantajosa no mercado de trabalho exige hoje uma melhor formação geral e não apenas treinamento em técnicas específicas.
No Brasil, alguns setores de ponta da indústria e dos serviços já assimilaram esses avanços tecnológicos. Entretanto, sabemos que essas inovações convivem com a manutenção de formas de trabalho tradicionais, que utilizam tecnologias arcaicas e onde a maioria exerce funções que exigem pouca qualificação.
Nas zonas urbanas, alunos de programas de educação de jovens e adultos normalmente são empregados com baixa qualificação no setor industrial, comercial e de serviços, e uma grande parte atua no mercado informal.
Nas zonas rurais, são pequenos produtores ou empregados de empresas agrícolas. Nessas funções, eles têm poucas oportunidades de utilizar-se da leitura e escrita e escassas oportunidades de aperfeiçoamento, acabandopor limitar-se a conhecimentos específicos do ofício, em muitos casos transmitidos oralmente por familiares ou companheiros mais experientes.
No aspecto econômico, o Brasil tem de enfrentar ainda uma somatória de problemas antigos e modernos: produzir mais para suprir as carências materiais de grandes parcelas da população, distribuir a riqueza mais equitativamente e cuidar para que uma exploração predatória não esgote os recursos naturais de que dispomos. Parece haver um razoável consenso de que para se atingir essas metas é preciso elevar o nível de educação de toda a população.
Reforçando argumentos nesse sentido, tem sido muito apontado o exemplo de países asiáticos que conseguiram um importante desenvolvimento econômico baseado num investimento maciço em educação. Trabalhadores com uma formação mais ampla, com mais iniciativa e mais capacidade de resolver problemas e aprender continuamente têm mais condições de trabalhar com eficiência e negociar sua participação na distribuição das riquezas produzidas.
1.3 A Dimensão Política
Neste ponto nos remetemos às exigências educativas que a sociedade nos impõe no âmbito político. A possibilidade de os diversos setores da sociedade negociarem coletivamente seus interesses está na essência da ideia de democracia. Na história da civilização moderna, o ideal de democracia sempre contemplou o ideal de uma educação escolar básica universalizada.
Através dela, pretende-se consolidar a identidade de uma nação e criar a possibilidade de que todos participem como cidadãos na definição de seus destinos. Para participar politicamente de uma sociedade complexa como a nossa, uma pessoa precisa ter acesso a um conjunto de informações e pensar uma série de problemas que extrapolam suas vivências imediatas e exigem o domínio de instrumentos da cultura letrada.
Fonte: www.ceale.fae.ufmg.br
Um regime político democrático exige ainda que as pessoas assumam valores e atitudes democráticas: a consciência de direitos e deveres, a disposição para a participação, para o debate de ideias e o reconhecimento de posições diferentes das suas.
Na última década, o Brasil vem reconstruindo as instituições democráticas e nesse processo a educação tem um papel a cumprir com relação à consolidação da democracia em nosso país. Um grande número de pessoas ainda não tem acesso a informações necessárias para fazer sua opção política de forma mais consciente. Além disso, os longos anos de autoritarismo que marcaram a nossa história desafiam a educação a desenvolver atitudes e valores democráticos. É preciso ter em mente que a democracia não se esgota na eleição de representantes para os poderes Executivo e Legislativo, ela deve implicar também a possibilidade de maior participação e responsabilidade em todas as dimensões da vida pública.
1.4 A Dimensão Cultural
Assim, chegamos às exigências educacionais que a própria vida cotidiana impõe crescentemente. Para se ter acesso a muitos dos benefícios da sociedade moderna, é preciso ter domínio dos instrumentos da cultura letrada: para se locomover
nas grandes cidades ou de uma localidade para outra, para tirar os documentos ou para cumprir um sem número de procedimentos burocráticos, para mover-se no mercado de consumo e, finalmente, para poder usufruir de muitas modalidades de lazer e cultura.
Até no âmbito do convívio familiar, surgem cada vez mais exigências educacionais. Para educar crianças expostas aos meios de comunicação, num mundo com tão rápidas transformações, os pais precisam constantemente se atualizar, precisam ter condições para apoiar os filhos em seu percurso escolar, cuidar de sua saúde etc. Até para planejar a família, para que se possa ter quantos filhos se deseje e se possa criá-los é preciso ter acesso à informação, referenciar-se a valores e assumir atitudes para as quais a educação pode contribuir.
Vemos assim que promover a educação fundamental de jovens e para educar crianças expostas aos meios de comunicação, num mundo com tão rápidas transformações, os pais precisam constantemente se atualizar adultos que não tiveram a oportunidade de cumpri-la na infância é importante para responder aos imperativos do presente e também para garantir melhores condições educativas para as próximas gerações. Melhorar o nível educacional de um país é um desafio grande e complexo, que exige esforços em todos os níveis.
1.5 Diversidade Cultural E Cultura Letrada
No item anterior, caracterizamos o público dos programas de educação de jovens e adultos como um grupo homogêneo do ponto de vista socioeconômico. Do ponto de vista sociocultural, entretanto, eles formam um grupo bastante heterogêneo. Chegam à escola já com uma grande bagagem de conhecimentos adquiridos ao longo de histórias de vida as mais diversas. São donas de casa, balconistas, operários, serventes da construção civil, agricultores, imigrantes de diferentes regiões do país, mais jovens ou mais velhos, homens ou mulheres, professando diferentes religiões.
Fonte: www.vrnews.com.br
Trazem, enfim, conhecimentos, crenças e valores já constituídos. É a partir do reconhecimento do valor de suas experiências de vida e visões de mundo que cada jovem e adultos pode se apropriar das aprendizagens escolares de modo crítico e original, sempre da perspectiva de ampliar sua compreensão, seus meios de ação e interação no mundo.
Os jovens e adultos já possuem alguns conhecimentos sobre o mundo letrado, que adquiriram em breves passagens pela escola ou na realização de atividades cotidianas. É inegável, entretanto, que a participação dessas pessoas nessas atividades é muito precária, limitada e dependente.
Por exemplo, um recém-chegado na cidade grande pode demorar muito tempo para sair do bairro onde mora e se aventurar, de ônibus, num passeio ao centro da cidade. Para ler uma carta que chegou do interior, essa mesma pessoa dependerá da boa vontade dos outros. As informações que recebe pelo rádio e pela televisão podem ser assimiladas de forma incompleta e fragmentada.
Por exemplo, a pessoa pode saber que o jogo do Brasil na Copa do Mundo será transmitido por satélite, mas terá uma noção muito vaga do que é um satélite. Pode votar nas eleições para a Câmara Federal sem saber o que compete a um deputado federal. Além disso, se as pessoas pouco letradas podem criar estratégias alternativas para resolver problemas práticos simples, tais como saber o destino de um ônibus ou preencher um formulário, elas se encontram radicalmente excluídas da
possibilidade que nossa cultura oferece de estudar uma ciência ou ler literatura, de ser médico ou operário especializado.
Vemos, portanto, que, apesar de as pessoas pouco letradas possuírem muitos conhecimentos válidos e úteis, elas estão excluídas de outras muitas possibilidades que a nossa cultura oferece. Muitas vezes elas interpretam essa desvantagem como incapacidade, a ponto de não reconhecerem como tal aquilo que sabem ser conhecimento útil e válido. A exclusão do conhecimento que se adquire na escola marca essas pessoas profundamente pela imagem que fazem de si e pelo estigma que a sociedade lhes impõe. É por isso que muitas delas, mesmo tendo outras responsabilidades no trabalho e em casa, decidem estudar.
2 OS JOVENS E ADULTOS E A ESCOLA
2.1 Expectativas
Com base na experiência ou em pesquisas sobre o tema, sabemos que os motivos que levam os jovens e adultos à escola referem-se predominantemente às suas expectativas de conseguir um emprego melhor. Mas suas motivações não se limitam a este aspecto. Muitos referem-se também à vontade mais ampla de entender melhor as coisas, se expressar melhor, de ser gente, de não depender sempre dos outros. Especialmente as mulheres, referem-se muitas vezes também ao desejo de ajudar os filhos com os deveres escolares ou, simplesmente, de lhes dar um bom exemplo.
Todos os adultos, quando se integram a programas de educação básica, têm uma ideia do que seja a escola, muitas vezes construída baseada na escola que eles frequentaram brevemente quando crianças. Quase sempre, apesar de se referiremà precariedade dessas escolas, lembram delas com carinho e sentem com pesar o fato de terem tido de abandoná-la ou de nunca terem tido chance de frequentá-la. É provável que esperem encontrar um modelo bem tradicional de escola, com recitação em coro do alfabeto, pontos copiados do quadro negro, disciplina rígida, correspondendo a um modelo que conheceram anteriormente. Com relação aos educandos com essas expectativas, o papel do educador é ampliar seus interesses, mostrando que uma verdadeira aprendizagem depende de muito mais que atenção às exposições do professor e atividades mecânicas de memorização.
Fonte: www.gpeducacional.com.br
Com relação aos adolescentes, essa situação tende a ser diferente. Especialmente nos centros urbanos, eles estão normalmente retornando depois de um período recente de sucessivos fracassos na escola regular. Têm, portanto, uma relação mais conflituosa com as rotinas escolares. Com relação a eles, o grande desafio é a reconstrução de um vínculo positivo com a escola e, para tanto, o educador deverá considerar em seu projeto pedagógico as expectativas, gostos e modos de ser característicos dos jovens.
A imagem que os educandos têm da escola tem muito a ver com a imagem que têm de si mesmos dentro dela. Experiências passadas de fracasso e exclusão normalmente produzem nos jovens e adultos uma autoimagem negativa. Nos mais velhos, essa baixa autoestima se traduz em timidez, insegurança, bloqueios. Nos mais jovens, é comum que a baixa autoestima se expresse pela indisciplina e autoafirmação negativa (se não posso ser reconhecido por minhas qualidades, serei reconhecido por meus defeitos). Em qualquer dos casos, será fundamental que o educador ajude os educandos a reconstruir sua imagem da escola, das aprendizagens escolares e de si próprios.
2.2 Conquistas Cognitivas
Mas o que, de fato, a educação escolar pode trazer de novo para esses jovens e adultos que já são cidadãos e trabalhadores, que já estão integrados de um modo ou de outro em nossa sociedade? Podemos enumerar algumas conquistas bem evidentes, como o domínio da leitura e da escrita, das operações matemáticas básicas e de alguns conhecimentos sobre a natureza e a sociedade que compõem as disciplinas curriculares. Mas os produtos possíveis da educação escolar não se resumem a esses mais evidentes. Muitos estudiosos e pesquisadores da cognição humana trataram de estudar as diferenças cognitivas, ou diferenças nas formas de pensamento, entre pessoas que dominam a escrita e que passaram por vários anos de escolarização e pessoas que não o fizeram.
Muitos desses estudos concluem que pessoas com mais tempo de escolaridade têm mais facilidade para realizar operações mentais a partir de proposições abstratas ou hipotéticas, operando com categorias que não são as organizadas pela experiência imediata. Esse tipo de operação cognitiva está bastante relacionado com a escrita e com o desenvolvimento do pensamento científico. Através da escrita nos chegam informações dos séculos passados, de outras partes do mundo ou de mundos imaginados; ela impõe uma relação mais distanciada entre os interlocutores. Com base na escrita também se desenvolveram as ciências modernas, que organizam os dados da experiência em categorias e leis gerais, formulando proposições altamente abstratas.
Outra característica importantíssima das formas de pensamento letrado e científico diz respeito à chamada metacognição, ou seja, à capacidade de tomar consciência das operações mentais, de pensar sobre o pensamento e, assim, poder controlá-lo melhor. A metacognição é a marca distintiva do pensamento científico: diferentemente de uma pessoa que resolve problemas práticos do cotidiano ou de um oráculo que adivinha o futuro, o cientista tem de demonstrar ou justificar seus postulados e teorias.
Fonte:www.s2.glbimg.com
Essa capacidade de pensar sobre o pensamento está relacionada com o domínio da escrita de forma mais geral: um texto escrito é uma forma de pensamento plasmado no papel, é como se no papel pudéssemos ver o pensamento, retomar quantas vezes quisermos seu ponto de partida ou cada um de seus enlaces. É comum as pessoas recorrerem à escrita para organizar as próprias ideias. A escrita nos ajuda a controlar nossa atividade cognitiva quando, por exemplo, fazemos uma lista de compras antes de ir ao supermercado e riscamos cada item à medida que os compramos.
A escrita amplia de forma geral a capacidade de planejamento, quando podemos anotar no papel todas as tarefas que temos a cumprir nos próximos meses e conferir periodicamente quais ainda não foram cumpridas.
A vida na sociedade moderna oferece uma série de oportunidades para desenvolvermos essas formas de pensamento autoconsciente e que transcendem nosso contexto de vivência. Mas a escola é, sem dúvida, um lugar privilegiado para se desenvolvê-las e, certamente por isso, as pessoas que a frequentam por muitos anos levam vantagens nesse aspecto.
Isso porque a escola é o privilegiado para se lugar onde as pessoas vão para aprender coisas, tendo a oportunidade de pensar sem estarem premidas pela necessidade de resolver problemas reais imediatos. Por exemplo, ao conferir o troco que lhe deu o cobrador de um ônibus, a pessoa tem de fazer uma operação rápida,
empurrada pelo passageiro que vem atrás. Na escola, ela poderá resolver, com calma, um grande número de operações de subtração usando diferentes procedimentos representá-las no papel, compreender o porquê do empresta um, chegar a uma compreensão ampla sobre o funcionamento do sistema de numeração decimal.
Ela aprenderá na escola um conjunto de conceitos que não têm nenhuma utilidade prática imediata mas que podem ajudar a organizar o sistema de conceitos que compõem sua estrutura cognitiva. Na escola, ela exercita a realização de tarefas segundo planos ou instruções prévias. Todas essas aprendizagens colaboraram para desenvolver essa modalidade cognitiva que definimos como característica do letramento.
3 A ESCOLA COMO ESPAÇO DE INSERÇÃO SOCIAL
Educadores e grupos populares descobriram que a Educação Popular é sobretudo o processo permanente de refletir a militância: refletir, portanto, a sua capacidade de mobilizar na direção de objetivos próprios. A prática educativa, reconhecendo-se como prática política, recusa a deixar-se aprisionar na estreiteza burocrática de procedimentos escolarizantes. Lidando com o processo de conhecer, a prática educativa é tão interessada em Possibilitar o ensino de conteúdos às pessoa quanto em sua compreensão do mundo. Dessa forma são tão importantes para a formação certos conteúdos que o educador lhes deve ensinar, quanto a análise que façam de sua realidade concreta. Paulo Freire.
Na década de 1940, quando começaram as primeiras iniciativas governamentais para lidar com o analfabetismo entre adultos, entendia-se que o seu fim seria fundamental para o crescimento econômico do país. O analfabetismo era visto como um mal social e o analfabeto como um sujeito incapaz.
A década de 1950, por sua vez, viu no adulto analfabeto um eleitor em potencial, uma vez que, nessa época, analfabeto não votava. Era a crença na participação de todos - como eleitores - para o desenvolvimento do país.
No começo da década de 1960 a alfabetização juntou-se aos movimentos estudantis e sindicais e a questão do analfabetismo passou a ser vista como consequência direta da pobreza e de uma política de manutenção de desigualdades. Foi nesse contexto que as ideias de Paulo Freire ganharam dimensão nacional.
Sua proposta inovadora, pregava a necessidade de uma alfabetização voltada para a libertação, para a conscientização dos homens e mulheres como sujeitos capazes de
transformar a realidade social. A educação passou a ser entendida com um ato político.
 (
Paulo Freire, educador pernambucano, nasceu em 1921 e morreu em 1997. Durante a ditadura, foi exilado e passou 16 anos fora do Brasil morando no Chile, Estados Unidos e Suíça. Tornou-se conhecido e respeitado, em todo o mundo, por suas ideias expostas em livros, como: “Educaçãocomo Prática da Liberdade, Pedagogia do Oprimido e outros mais. Inspirou trabalhos de educação junto aos povos pobres de todos os cantos do mundo. No Brasil, suas ideias estão presentes principalmente na educação de jovens e adultos. Dedicou toda sua vida ao sonho de ajudar
 
a
 
construir
 
uma
 
sociedade
 
justa
 
e
 
democrática
 
em
 
que
 
homens
 
e
 
mulheres
 
não fossem mais vítimas da opressão e da exclusão
 
social.
)
Desde Freire, a educação de jovens e adultos vem caminhando na direção de uma educação democrática e libertadora, comprometida com a realidade social, econômica e cultural dos mais pobres. No entanto, ainda temos muito por construir nessa direção. Vejamos um exemplo:
 (
Renata,
 
uma
 
professora
 
em
 
Rio
 
Claro,
 
cidade
 
do
 
interior
 
de
 
São
 
Paulo,
 
é
 
alfabetizadora
 
de
 
um
 
grupo
 
de
 
colonos
 
da
 
região
 
de
 
sua
 
cidade.
 
Influenciada
 
pelas
 
ideias
 
de
 
Paulo
 
Freire
 
ela,
 
desde
 
o
 
começo
 
dos
 
encontros
 
com
 
seus
 
alunos
 
e
 
alunas,
 
procurou
 
conversar
 
com
 
eles
 
sobre
 
o
 
que
 
gostariam
 
de
 
ler
 
e
 
escrever
 
e
 
por
 
que
 
isso
 
era
 
importante
 
para
 
eles.
 
Já
 
no
 
primeiro
 
encontro,
 
os
 
alunos
 
contaram
 
que
 
todos
 
os
 
meses
 
precisam
 
ir
 
até
 
a
 
cidade
 
para
 
fazer
 
as
 
compras
 
do
 
mês.
 
Iam
 
num
 
determinado
 
supermercado, que enviava um ônibus para buscá-los. Lá recebiam panfletos com produtos
 
e
 
preços
 
em
 
ofertas.
 
Queixavam-se
 
de
 
não
 
conseguir
 
ler
 
os
 
folhetos
 
para
 
fazer
 
suas
 
listas
 
de
 
acordo
 
com
 
os
 
preços mais baixos. A professora foi percebendo que a ida
 
ao
supermercado era uma geradora de situações ligadas a conhecimentos como: ler, escrever, contar, comparar preços e escolher produtos. Tudo poderia
 
se
 
transformar
 
em
 
bons
 
materiais
 
para
 
o
 
trabalho
 
junto
 
aos
 
alunos. Na
 
sala
 
de
 
aula,
 
o
 
grupo
 
passou,
 
então,
 
a
 
identificar
 
os
 
produtos,
 
listar
 
seus nomes, comparar palavras em termos de quantidade, variação e semelhança entre letras, a escrever novas palavras a partir daquelas. Puderam, ainda, se dedicar ao cálculo de preços: produtos mais baratos, mais caros, cálculo total a partir de uma lista dos produtos que
 
precisavam
comprar, aumentos nos preços ocorridos de um mês para outro etc.
)
Fonte: www.forumeja.org.br
Pensando sobre o trabalho da professora Renata e seus alunos podemos observar coisas interessantes:
Desde o princípio, a professora Renata atuou a partir de um novo paradigma: o de que seus alunos lidam com problemas reais e que, a partir deles, a construção de conhecimentos sobre a leitura, a escrita, os números e as operações pode acontecer de maneira eficaz e significativa. Ela acreditou, desde o início, que era possível estabelecer uma aliança entre o mundo real e concreto dos alunos e os conhecimentos formais, podemos dizer, escolares.
É bom lembrar que, muitas vezes, o(a) professor(a) chega para as aulas com propostas de leitura e escrita prontas e preparadas segundo um modelo clássico: palavras simples, muitas vezes desprovidas de sentido e significado, sobre as quais os alunos vão se debruçar memorizando suas partes, seus sons, copiando-as, repetindo-as.
Nos momentos dedicados à Matemática, esse(a) professor(a) geralmente propõe que leiam em voz alta e copiem os números em blocos crescentes. Só mais tarde vai ensinar a calcular - sempre recorrendo à conta armada, primeiro com quantidades pequenas para ficar mais fácil.
A professora Renata, ao contrário, sabia que o universo de escrita, números e cálculos de seus alunos adultos é mais complexo, porque é real, vivo e carregado de sentido bastante prático. Sabia, também, que aprendemos a ler lendo, aprendemos a escrever escrevendo e que aprimoramos nossa capacidade de cálculo, calculando.
Por isso ela criou situações onde os alunos eram convidados a ler e a escrever, mesmo não realizando estas ações de forma convencional.
Além disso, acreditava que seus alunos eram capazes de aprender e que quanto mais os conteúdos estivessem vinculados às questões reais, maiores seriam as chances de proporcionarem novos conhecimentos.
Outro aspecto interessante de ser notado na prática dessa professora é o fato de olhar para seus alunos como sujeitos sociais e sujeitos do conhecimento, isto é pessoas que tomam iniciativa e atuam sobre o que estão conhecendo. Ela os convidou a falar, a pensar e expor suas necessidades e a construir, com seu auxílio, caminhos de mudança.
Juntos foram construindo um corpo de saberes que, para além do conhecimento do código ou de alguns recursos de cálculo, mudam a relação destes homens e mulheres com a realidade com a qual lidam diariamente: tornam-se mais poderosos, capazes de avaliar vantagens e desvantagens, de programar/planejar suas compras; tornaram-se mais conscientes e, por isso mesmo, mais donos das situações, com menor chance de serem enganados.
O conceito de conhecimento na escola e nas classes de EJA não deve perder essa dimensão de tornar os alunos mais capazes de agir de forma autônoma e independente reagindo a imposições que tira deles a escolha do que mais lhes convêm.
A forma de agir da professora Renata e seus alunos confirmam nossa crença de que é possível aprender a ler, escrever e calcular por caminhos os mais diversos. Há que se optar por aqueles nos quais os alunos são sujeitos e podem trabalhar para suprir uma necessidade real em suas vidas.
Afinal, os alunos jovens e adultos não voltam para a escola para recuperar um tempo perdido e distante, voltam para satisfazer necessidades atuais em suas vidas.
4 APRENDIZAGEM DE ATITUDES E VALORES
Fonte: www.3.bp.blogspot.com
É importante também ter em vista que o valor que a escola pode ter para esses jovens e adultos transcende em muito a mera aquisição de conhecimentos ou essas conquistas intelectuais a que nos referimos.
Ao avaliarem sua passagem por programas de educação fundamental, muitos jovens e adultos tematizam conquistas que dizem respeito à sua autoimagem e à sua sociabilidade: agora eu me sinto mais seguro, não tenho vergonha de falar; a escola era o lugar onde eu podia encontrar amigos e conversar; na escola a gente aprende a conviver com gente diferente etc.
Somados a esses aspectos, devemos lembrar também que a escola é um espaço especialmente propício para a educação da cidadania: um espaço para se aprender a cuidar dos bens coletivos, discutir e participar pessoal pelo bem-estar comum.
5 O EDUCADOR DE JOVENS E ADULTOS
Algumas das qualidades essenciais ao educador de jovens e adultos são a capacidade de solidarizar-se com os educandos, a disposição de encarar dificuldades como desafios estimulantes, a confiança na capacidade de todos de aprender e ensinar. Coerentemente com essa postura, é fundamental que esse educador procure conhecer seus educandos, suas expectativas, sua cultura, as características e problemas de seu entorno próximo, suas necessidades de aprendizagem.
E, para responder a essas necessidades, esse educador terá de buscar conhecer cada vez melhor os conteúdos a serem ensinados, atualizando-se constantemente. Como todo educador, deverá também refletir permanentemente sobre sua prática, buscando os meios de aperfeiçoá-la.
Com clareza e segurança quanto aos objetivos e conteúdos educativos que integram um projeto pedagógico, o professor deve estar em condições de definir, para cada caso específico, as melhores estratégias para prestar uma ajuda eficaz aos alunos em seu processo de aprendizagem. O educador de jovens e adultos tem de ter uma especial sensibilidade para trabalhar com a diversidade, já que numa mesma turma poderá encontrar educandos com diferentes bagagens culturais.
É especialmente importante, no trabalho com jovens e adultos, favorecer a autonomia dos educandos, estimulá-los a avaliar constantemente seus progressos e suas carências, ajudá-los a tomar consciência de como a aprendizagem se realiza. Compreendendo seu próprio processo de aprendizagem, os jovens e adultos estãomais aptos a ajudar outras pessoas a aprender, e isso é essencial para pessoas que, como muitos deles, já desempenham o papel de educadores na família, no trabalho e na comunidade.
Também é uma responsabilidade importante dos educadores de jovens e adultos favorecer o acesso dos educandos a materiais educativos como livros, jornais, revistas, cartazes, textos, apostilas, vídeos etc. Deve-se considerar o fato de que se trabalha com grupos sociais desfavorecidos economicamente, que têm pouco acesso a essas fontes de informação fora da escola.
Finalmente, os educadores devem atentar para o fato de que o processo educativo não se encerra no espaço e no período da aula propriamente dita.
O convívio numa escola ou noutro tipo de centro educativo, para além da assistência às aulas, pode ser uma importante fonte de desenvolvimento social e
cultural. Por esse motivo, é importante também considerar a dimensão do centro educativo como espaço de convívio, lazer e cultura, promovendo festas, exposições, debates ou torneios esportivos, motivando os educandos e a comunidade a frequentá- lo, aproveitando essa experiência em todas as suas possibilidades.
SÍNTESE DOS OBJETIVOS GERAIS
Que os educandos sejam capazes de:
Dominar instrumentos básicos da cultura letrada, que lhes permitam melhor compreender e atuar no mundo em que vivem.
Ter	acesso	a	outros	graus	ou	modalidades	de	ensino	básico	e profissionalizante, assim como a outras oportunidades de desenvolvimento cultural.
Incorporar-se ao mundo do trabalho com melhores condições de desempenho e participação na distribuição da riqueza produzida.
Valorizar a democracia, desenvolvendo atitudes participativas, conhecer direitos e deveres da cidadania.
Desempenhar de modo consciente e responsável seu papel no cuidado e na educação das crianças, no âmbito da família e da comunidade.
Conhecer e valorizar a diversidade cultural brasileira, respeitar diferenças de gênero, geração, raça e credo, fomentando atitudes de não-discriminação.
Aumentar a autoestima, fortalecer a confiança na sua capacidade de aprendizagem, valorizar a educação como meio de desenvolvimento pessoal e social.
Reconhecer e valorizar os conhecimentos científicos e históricos, assim como a produção literária e artística como patrimônios culturais da humanidade.
Exercitar sua autonomia pessoal com responsabilidade, aperfeiçoando a convivência em diferentes espaços sociais.
6 OS CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS
Fonte: www.ecrau.com
Os conhecimentos de uma pessoa, que procura tardiamente a escola, são inúmeros e adquiridos ao longo de sua história de vida. Enfatizaremos, nesta publicação, duas espécies destes conhecimentos, originados das experiências de vida dos alunos e alunas: o saber sensível e o saber cotidiano.
O saber sensível diz respeito aquele saber do corpo, originado na relação primeira com o mundo e fundado na percepção das coisas e do outro. Caracterizado pela Filosofia como um saber pré-reflexivo, nos leva à ideia de que existe um conhecimento essencial, acessível a toda a humanidade: uma verdade mais antiga que todas as verdades conquistadas pela ciência, anterior a todas as construções realizadas pela cultura humana.
O saber sensível é um saber sustentado pelos cinco sentidos, um saber que todos nós possuímos, mas que valorizamos pouco na vida moderna. É aquele saber que é pouco estimulado numa sala de aula e que muitos professores e professoras atribuem sua exploração apenas às aulas de artes.
No entanto, qualquer processo educativo, tanto com crianças quanto com jovens e adultos, deve ter suas bases nesse saber sensível, porque é somente através dele que o(a) aluno(a) abre-se a um conhecimento mais formal, mais reflexivo.
Os alunos jovens e adultos, pela sua experiência de vida, são plenos deste saber sensível. A grande maioria deles é especialmente receptiva às situações de aprendizagem: manifestam encantamento com os procedimentos, com os saberes novos e com as vivências proporcionadas pela escola.
Essa atitude de maravilhamento com o conhecimento é extremamente positiva e precisa ser cultivada e valorizada pelo(a) professor(a) porque representa a porta de entrada para exercitar o raciocínio lógico, a reflexão, a análise, a abstração e, assim construir um outro tipo de saber: o conhecimento científico.
Olhar, escutar, tocar, cheirar e saborear são as aberturas para nosso mundo interior. Ler e declamar poesia, escutar música, ilustrar textos com desenhos e colagens, jogar, dramatizar histórias, conversar sobre pinturas e fotografias são algumas atividades que favorecem o despertar desse saber sensível.
A segunda espécie de saber dos alunos jovens e adultos é o saber cotidiano.
Por sua própria natureza, ele se configura como um saber reflexivo, pois é um saber da vida vivida, saber amadurecido, fruto da experiência, nascido de valores e princípios éticos, morais já formados, anteriormente, fora da escola.
O saber cotidiano possui uma concretude, origina-se da produção de soluções que foram criadas pelos seres humanos para os inúmeros desafios que enfrentam na vida e caracterizam-se como um saber aprendido e consolidado em modos de pensar originados do dia-a-dia.
Esse saber, fundado no cotidiano, é uma espécie de saber das ruas, frequentemente assentado no senso comum e diferente do elaborado conhecimento formal com que a escola lida. É também um conhecimento elaborado, mas não sistematizado. É um saber pouco valorizado no mundo letrado, escolar e, frequentemente, pelo próprio aluno.
O saber cotidiano não é necessariamente um saber utilitário, desenvolvido para atender a uma necessidade imediata da pessoa. Pelo contrário, pode também se configurar em uma espécie de conhecimento que requer um afastamento, uma transcendência com relação ao seu objeto.
Fonte: www.rotadosertao.com
Uma cozinheira, por exemplo, pode executar uma simples receita mas pode, também, recriá-la, estabelecendo hipóteses a respeito de um novo ingrediente que poderia ser acrescentado para melhorar o sabor do prato em questão.
Os conhecimentos que os alunos e alunas trazem estão diretamente relacionados às suas práticas sociais. Essas práticas norteiam não somente os saberes do dia-a-dia, como também os saberes aprendidos na escola.
7 A MARCA DO TRABALHO
As alunas e alunos da EJA, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes, a experiência com o trabalho começou em suas vidas muito cedo. Nas cidades, seus pais saíam para trabalhar e muitos deles já eram responsáveis, ainda crianças, pelo cuidado da casa e dos irmãos mais novos. Outras vezes, acompanhavam seus pais ao trabalho, realizando pequenas tarefas para auxiliá-los. É comum, ainda, que nos centros urbanos, estes alunos tenham realizado um sem-número de atividades cuja renda completava os ganhos da família: guardar carros, distribuir panfletos, auxiliar em serviços na construção civil, fazer entregas, arrematar costuras, cuidar de crianças etc.
Nas regiões rurais, a participação no mundo do trabalho começa ainda mais cedo: cuidar da terra, das plantações ou da criação de animais; auxiliar nos serviços caseiros. Muitas vezes, acompanhando os pais e irmãos mais velhos, é comum encontrar um grande número de crianças e jovens já mergulhados no trabalho. Nessas regiões, os horários, os períodos de colheita, de chuva e de seca marcam a vida cotidiana das pessoas e isto, aliado às grandes distâncias, configura condição bastante precária para a escolarização.
Se cada região de nosso país tem suas particularidades em relação às demais, todas as salas de EJA se unificam em torno deste fato: a grande maioria dos alunos são trabalhadores que chegam para as aulas após um dia intenso de trabalho. É claro, que estas mesmas salas apresentam um número significativo de desempregados e de trabalhadores temporários ou informais.
Mas, sempre que pensamos em EJA temos que considerar que nossa atividade conta com mulheres e homens trabalhadores. Vale notar, ainda, que em todas as regiões do país, o trabalho é apontado pelos alunos de EJA tanto como motivo para teremdeixado a escola, como razão para voltarem a ela.
Sem dúvida alguma, o tema TRABALHO tem um lugar especial na EJA e deve importar ao trabalho dos professores, das professoras e da escola.
Entretanto é preciso lembrar que o trabalho experimentado pelas alunas e alunos não passa nem de longe pelo trabalho como atividade fundamental pela qual o ser humano se humaniza e se aperfeiçoa. O trabalho que conhecem é na maior parte das vezes repetitivo, cansativo e pouco engrandecedor.
Apesar de tudo, vale pensar, por exemplo, na quantidade de saberes que cada destes alunos-trabalhadores possui em função das atividades que realizam ou realizaram. Saberes, certamente, não-escolares, mas saberes. Saberes a partir dos quais novos conhecimentos poderão ser construídos.
Uma tarefa fundamental para o(a) professor(a) é conhecer que saberes e habilidades os alunos e alunas desenvolveram em função do seu trabalho.
Procure fazer um quadro sobre os saberes de seus alunos. Como pode ser visto no exemplo acima, muito do que pretendemos ensinar na escola tem relação direta com o que fazem nossos alunos e alunas em seu cotidiano. É importante estabelecermos estas relações.
Fonte: www.alfabetizacaocidada.wordpress.com
Muitos alunos dizem estar na escola para poder arrumar um emprego, conseguir um trabalho melhor, crescer na profissão. Sabemos que nos centros urbanos e no âmbito do trabalho formal a escolarização básica e, muitas vezes, a conclusão do ensino médio, são pré-requisitos para muitos empregos. Ao preencher uma ficha atestando a não escolaridade muitas pessoas são excluídas de entrevistas ou da realização de seleção.
O mundo do trabalho se caracteriza hoje pela diversidade de atividades e vínculos. Nossos alunos, das classes de EJA, são muitas vezes pessoas que administram sua sobrevivência econômica: fazem bicos, são autônomos, circulam por diferentes profissões como auxiliares ou ajudantes de pintura, construção, serviços domésticos, venda ambulante etc. Possuir um certificado escolar ou profissionalizante não implica em garantia de trabalho, haja vista a quantidade de profissionais que formados numa área, atuam em outra.
Pode ser interessante pensar sobre as habilidades que a escola pode ajudar a desenvolver e que contribuam para uma atuação mais eficiente nesse universo diversificado e competitivo que é o do trabalho. Não queremos dizer com isto que a escola deva tomar para si a responsabilidade da preparação do trabalhador, nem deixar a responsabilidade da conquista de um emprego melhor nas mãos do(a) aluno(a). Como já sabemos, esta é uma responsabilidade social mais ampla e mais próxima das políticas governamentais e empresariais.
O que queremos pensar é justamente nas formas da escola potencializar essa competência que os jovens e adultos já desenvolvem em sua vida cotidiana de administrar suas finanças e sua sobrevivência.
Comunicar-se de forma competente com clareza, ordenação de ideias, argumentação; conhecer as diferentes formas de trabalho da nossa sociedade nos dias atuais, o trabalho formal e o informal, por exemplo; dominar os caminhos possíveis para a obtenção de empregos, a procura por agências, a preparação de currículos; ver na construção de uma pequena fábrica, na abertura de um comércio em sua região um possível canal de trabalho; conhecer, em sua região ou comunidade, os espaços gratuitos de formação técnica cursos de eletricidade, pintura, computação, confecção e outros são saberes passíveis de serem aprendidos na escola. Ela funcionaria, assim, como espaço de conhecimentos ligados ao mundo do trabalho.
8 O PLANEJAMENTO
O planejamento faz parte da história da humanidade porque mulheres e homens sempre quiseram transformar suas ideias em realidade e isso sempre exigiu planejamento. Todos os dias enfrentamos inúmeras situações que demandam algum tipo de planejamento.
Até mesmo um simples passeio envolve planejar: quanto dinheiro pretendo gastar, qual o tempo que disponho, como chegarei ao lugar escolhido, levarei que tipo de lanche, quem convidarei
Como nossas ações diárias vão se transformando em fatos rotineiros, nem nos damos conta dos diferentes planejamentos que estão embutidos nelas. Diferentemente, para realizar as atividades que fogem do dia-a-dia, precisamos pensar e estabelecer uma forma para chegar ao que desejamos.
É impossível considerar todos os tipos e níveis de planejamento que são necessários às ações que realizamos. Por tudo isso, o planejamento sempre foi um instrumento importante, em qualquer setor da vida em sociedade: no governo, na empresa, no comércio, em casa, na igreja, na escola, em Com o planejamento podemos definir o que queremos a curto, médio ou longo prazo.
Fonte: www.bemparana.com.br
Isto significa, que tanto podemos traçar planos para a noite de hoje como para a compra de uma casa, no futuro. Além disso, o planejamento nos leva a prever situações, organizar atividades, dividir tarefas para facilitar o trabalho e até avaliar o que já foi feito.
8.1 História do planejamento
Homens e mulheres fizeram planos desde que se descobriram com capacidade de pensar antes de agir. A arqueologia nos mostra desenhos indicando como seriam feitas construções que exigiam tarefas complicadas ou a presença de muita gente na sua execução.
Com o crescimento do comércio, no início do capitalismo, a administração das riquezas exigiram novas formas de conduta. O aumento da concorrência entre os comerciantes tornou necessário o saber prever, antecipar situações, projetar novos negócios. Com a industrialização cresceu a produtividade.
Tornaram necessárias as previsões das matérias primas, as funções dos operários, os salários, o comportamento dos mercados.
A organização racional das empresas chegou à análise das relações entre os trabalhadores. Mais uma vez, o planejamento entrou em cena. Com a industrialização surgiu, também, o planejamento das vendas.
No começo do século XX, o planejamento atingiu todos os setores da sociedade causando grande impacto.
Como vimos, o planejamento é uma arte que se desenvolveu para melhorar a capacidade de intervenção das pessoas na sua realidade.
Na educação não é diferente. Nela o planejamento busca a intervenção mais eficiente do(a) professor(a), organizando melhor os recursos disponíveis: o tempo do(a) professor(a) e dos alunos, o espaço físico, os materiais pedagógicos disponíveis, a experiência dos alunos etc.
Hoje em dia, a palavra PLANEJAMENTO faz parte do nosso vocabulário diário e ocupa um lugar de destaque nos meios de comunicação.
9 PLANEJAR X IMPROVISAR
Podemos dizer que uma ação planejada é uma ação que não foi improvisada. Mesmo assim, sabemos que os improvisos não ficam totalmente afastados porque fazem parte da vida e são esperados em qualquer planejamento.
Entretanto, deixamos de improvisar, ou improvisamos menos, quando temos um objetivo em vista e queremos que ele se realize.
Quando não sabemos bem aonde queremos chegar, acabamos nos limitando ao momento presente e nos deixamos levar pela improvisação.
Mas existem situações onde as improvisações se tornam mais raras. São situações onde:
· Há várias pessoas participando da ação, todas elas comprometidas com os objetivos comuns e
· Os recursos para a realização dos objetivos são pequenos. Nessas situações usamos os meios disponíveis da forma mais eficiente possível. Isso exige saber o que é fundamental e que não pode ficar para depois.
No relato que segue, a professora Rita de Cássia descreve uma situação de improvisação que, no final, ela considerou como acertada.
Provavelmente, isso só foi possível porque Rita não se afastou de seu principal objetivo que era tornar os alunos alfabetizados.
Ontem foi o dia do improviso. Mas o resultado foi muito bom. Será que foi só improviso? Nem tanto, por que foi uma oportunidade de usar muitos dos nossos conhecimentos e tentar chegar a outros. Estava começando a aula, quando Seu Antoninho foi até a janela e chamou a minha atenção para umas placas grandes que haviam fincado num terreno, bem na frente da nossa sala. Foi a conta.Todos queriam saber o que as placas diziam. Cada um imaginava que era uma coisa diferente. Pediam que eu lesse para eles. Tive, então, uma ideia. Saímos do prédio para juntos ler as placas. Cada um foi destacando o que conseguia ler, no meio de tanto escrito. Ali tem o número 2, aqueles parecem número de telefone, olha, lá está escrito RUA, porque eu li'. Quem sabia mais e eu fomos ajudando até que lemos tudo. A placa anunciava a construção de dois prédios de três andares, com apartamentos de 2 dormitórios. Dizia que a obra ia levar 18 meses para ficar pronta e que as vendas já haviam começado. Voltamos para a sala contentes porque Seu Antoninho disse que a construção ia ser uma coisa boa, ia dar emprego para pedreiros e ajudantes e a sala está cheia de alunos com parentes procurando serviço. Mas, disse também, que o apartamento ia ser coisa cara e que nenhum deles nunca ia ter dinheiro para comprar um. O assunto da moradia foi tema de muitos comentários. Com a questão da moradia, ainda na cabeça, decidimos que cada um escreveria o seu endereço, bem completo: rua, bairro ou vila, cidade. Fiquei a disposição para ajudar nessa escrita.”
Rita de Cássia Almeida
A aula contada por Rita nos confirma que quando a professora tem clareza em relação a seus objetivos consegue superar as deficiências da improvisação.
A professora conseguiu criar uma situação de leitura e de escrita bem diferente naquela noite de aula. E, o mais interessante: envolveu os alunos.
10 PLANEJAMENTO - O QUE DIZ ESTA PALAVRA?
Fonte: www.1.bp.blogspot.com
Consultando o dicionário encontramos:
Planejamento - Ato ou efeito de planejar. Trabalho de preparação para qualquer empreendimento, segundo roteiro e métodos determinados. (Dicionário Aurélio).
Planejamento - Serviço de preparação de um trabalho, de uma tarefa, com o estabelecimento de métodos convenientes; planificação. Determinação de um conjunto de procedimentos, de ações, visando à realização de determinado projeto. (Dicionário Houaiss)
Num sentido amplo, planejamento é um processo que visa dar respostas a um problema, estabelecendo fins e meios que apontem para sua resolução, de modo a atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas considerando as condições do presente, as experiências do passado e os diferentes aspectos da realidade. Desta forma, planejar e avaliar andam de mãos dadas.
Na escola existem diferentes planejamentos que devem se articular em torno dos mesmos princípios e da mesma visão de conhecimento.
11 PLANEJAMENTO CURRICULAR
É a proposta geral das aprendizagens que serão desenvolvidas. Funciona como a espinha dorsal da escola. O planejamento curricular envolve os fundamentos das área que serão estudadas, a proposta metodológica escolhida e a forma como se dará a avaliação.
12 PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO OU PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO
É o projeto integral da escola. Envolve os aspectos pedagógicos, comunitários e administrativos. Em função da sua grande importância, voltaremos a ele mais adiante.
Existem outros termos que se referem ao planejamento. Vamos acrescentá-los:
Plano: um documento utilizado para o registro de decisões, como o que se pensa fazer, como fazer, quando fazer, com quem fazer. Todo plano começa pela discussão sobre os fins e objetivos do que se pretende realizar. Na educação, ele apresenta de forma organizada as decisões tomadas em torno das práticas educativas que serão desenvolvidas. O plano é produto do planejamento e funciona como guia do(a) professor(a). Como acompanha uma prática, está sempre sujeito a modificações.
Há diferentes planos na educação
Plano Nacional de Educação: nele se reflete a política educacional de um povo, num determinado momento da história do país. É o de maior abrangência porque interfere nos planejamentos feitos no nível nacional, estadual e municipal.
Plano de Curso: é a organização do conjunto de matérias que vão ser ensinadas e desenvolvidas durante o período de duração de um curso. O plano sistematiza a proposta geral de trabalho do professor.
Plano de Ensino: o plano de disciplinas, de unidades e experiências propostas pela escola, professores, alunos ou pela comunidade. Ele é mais específico e concreto em relação aos outros planos.
Plano de Aula: é o plano mais próximo da prática do professor e da sala de aula. Refere-se totalmente ao aspecto didático.
Fonte: www.cdn.revistabula.com
Projeto: a palavra projeto significa ir para a frente. O projeto traz a ideia de movimento.
No projeto são registradas as decisões das propostas futuras. Como tudo que envolve mudança, projetar significa sair de uma situação conhecida para buscar uma outra.
13 O PLANEJAMENTO DO(A) PROFESSOR(A)
Com registros em cadernos, fichas, ou qualquer outra folha de papel, boa parte dos professores planeja o que pretende desenvolver na sala de aula.
Mesmo assim, há professores que dizem que o planejamento é dispensável. Muitas delas afirmam que não sentem, como necessário, fazer o planejamento por escrito, uma vez que já tem tudo pronto na cabeça.
Para outros professores, o planejamento é o cumprimento de uma exigência Provavelmente, um planejamento feito com esse espírito não tem função no
dia-a-dia porque não corresponde a nenhuma necessidade apontada pela avaliação da realidade onde o trabalho acontecerá.
Infelizmente, existem professores que trabalham na base do improviso: Na hora eu decido o que vou fazer com os alunos.
Outros, transformam o livro didático em plano de trabalho. Dizem: É mais prático, não tenho tempo para ficar criando novidades.
Ainda outros, repetem todos os anos o mesmo plano: Afinal, para que mudar?.
Para o(a) professor(a) comprometido(a) com seu trabalho, o planejamento faz parte do processo de tomada de decisão sobre a sua forma de agir, no dia-a-dia da sua prática pedagógica. Nele estão envolvidas ações e situações que se dão de forma continuada entre professor(a) e alunos e alunos entre si.
13.1 Como planejar
Para planejar, o(a) professor(a) precisa responder a algumas perguntas:
· Para que ensinar? Pergunta que leva aos objetivos;
· O que ensinar? Pergunta que faz pensar na seleção dos conteúdos;
· Como ensinar? Pergunta que faz escolher quais métodos e técnicas usar.
13.2 Para que ensinar?
Esta pergunta nos leva a considerar onde esperamos chegar com o nosso trabalho educativo. Isto significa dizer quais os resultados que buscamos atingir.
Mas, só temos condições de estabelecer esses objetivos depois de analisar o grupo de alunos, com as suas características, seus limites, suas histórias de vida e suas facilidades.
Sem estas considerações corremos o risco de tornar o nosso planejamento um instrumento sem função, inútil por não corresponder às verdadeiras necessidades dos envolvidos.
Esse processo de definição dos objetivos se torna muito mais eficiente quando envolve os alunos. Afinal, esse processo é tão importante para o(a) professor(a) quanto para eles.
Alguns cuidados são importantes na definição dos objetivos que buscamos com o nosso trabalho.
É preciso que os objetivos escolhidos sejam:
Fonte: www.guiadoestudante.abril.com.br
· Claros, objetivos - para que não deixem dúvidas. Os objetivos devem ser expressos de tal forma que tenham o mesmo significado, tanto para o(a) professor(a) quanto para o aluno. Para isso devem estar numa linguagem simples e de fácil compreensão;
· Viáveis - ou de possível realização. A escolha dos objetivos deve levar em conta as condições reais do grupo e da escola, respeitando sua capacidade, interesse e motivações;
· Apresentados na sua totalidade - os objetivos devem ser apontados como uma ação que envolve atividades a serem realizadas ou comportamentos a serem demonstrados;
· Possíveis de serem avaliados - os objetivos devem deixar evidentes os
· Conteúdos que serão desenvolvidos, para que permitam conhecer o avanço dos alunos no domínio deles.
13.3 O que ensinar?
O que ensinar é a pergunta que nos leva aos conteúdos, isto é, ao conhecimento	a ser desenvolvido.	Abrange	tanto	os conhecimentos que a
humanidadeacumulou durante sua história - informações, dados, fatos, princípios e conceitos - quanto atitudes e comportamentos.
Na hora de escolher os conteúdos, alguns critérios devem ser levados em
conta.
Apontando alguns deles, podemos dizer que os conteúdos devem:
· Ter validade - devem ser os mais importantes e significativos para a realidade e a época em que se vive;
· Ter significado - devem estar relacionados com os alunos, suas histórias de vida, suas experiências e motivações;
· Possibilitar a reflexão - devem levar o aluno a associar, comparar, compreender, selecionar, organizar, criticar e avaliar os próprios conteúdos;
· Ser flexível - devem estar sujeitos a modificações, adaptações, renovações e enriquecimentos;
· Ter utilidade - deverão considerar as exigências e as características do
· Contexto socioeconômico e cultural dos alunos;
· Ser viável - os conteúdos deverão ser possíveis de aprendizagem dentro das limitações de tempo e dos recursos que temos.
A razão de ser desses critérios é apontar para aspectos que facilitam o trabalho
pedagógico.
Mas, não podemos esquecer que os conteúdos mais válidos são sempre aqueles que melhor levam os alunos a responder as suas necessidades, fazendo-os aprender o que é mais útil para a vida deles.
Na educação de jovens e adultos, os conteúdos devem permitir aos alunos o exercício pleno da cidadania, o saber indispensável às suas ações que vão desde desempenhar uma profissão até participar de sua comunidade.
A organização dos conteúdos
Precisamos lembrar que planejar não é apenas relacionar atividades a serem desenvolvidas.
É um processo de:
· Conhecer a realidade sobre a qual se vai trabalhar;
· Propor ações para influir nela e desenvolver as ações propostas avaliando sempre seus resultados para a continuidade do mesmo processo: avaliação, planejamento, execução e avaliação, e assim por diante.
Fonte: www.faculdadeapoena.com.br
Pensando assim, o planejamento que o(a) professor(a) faz envolve aspectos que são nossos velhos conhecidos:
O conhecimento dos alunos - o que eles já sabem, suas experiências de vida, suas expectativas, motivações etc.;
A concepção que orienta o nosso projeto de educação - que tipo de pessoa queremos formar;
A realização de atividades de aprendizagem que respondem ao nosso projeto
- a coerência entre o que fazemos e o projeto educativo é fundamental;
13.4 Como ensinar?
Ao fazer esta pergunta, indagamos sobre os procedimentos, métodos e técnicas que poderão criar as condições adequadas à aprendizagem.
Para alguns autores, as condições que melhor favorecem a aprendizagem são aquelas que criam entre alunos e professores um clima de afetividade e estima, etc. Para outros, são os procedimentos didáticos que garantem a aprendizagem. Com certeza, o elemento afetivo entra no processo ensino aprendizagem. Mas é importante que a professora saiba definir seus objetivos, selecionar os conteúdos, utilizar boas técnicas de ensino e avaliar constantemente seus alunos.
Não podemos esquecer que todo projeto educativo tem como base uma concepção de educação, acontece num determinado contexto socioeconômico e cultural e envolve pessoas de uma classe social bem definida na sociedade.
Desta forma, a opção que o(a) professor(a) faz por um método, uma técnica e pela forma de orientar as atividades didáticas não pode se dar por acaso. Sua opção precisa ser coerente com seu projeto político-pedagógico.
É comum confundir método e técnica de ensino.
Um método é o modo sistemático e organizado pelo qual o(a) professor(a) desenvolve suas atividades, tendo em vista à aprendizagem dos alunos.
Para utilizar um método, o(a) professor(a) se vale de técnicas. Assim, técnica é um conjunto de procedimentos didáticos que a professora utiliza para operacionalizar o método.
Por exemplo, o texto é um recurso que o(a) professor(a) pode utilizar para que os alunos aprendam um assunto. O estudo através da leitura de textos constitui uma técnica de ensino.
Todas as técnicas e todos os métodos têm vantagens e limitações. As técnicas variam segundo:
· Os objetivos a alcançar - por exemplo, se queremos desenvolver nos alunos a capacidade de análise, devemos utilizar as técnicas de estudo dirigido ou de trabalho de grupo;
· A experiência didática do(a) professor(a) - qualquer técnica só tem êxito quando utilizada com espontaneidade e segurança. Para isso o(a) professor(a) precisa saber o que está fazendo;
· As características dos alunos - interesses, motivações, necessidades, idade etc.;
· O tempo disponível para realizá-las - não é boa coisa deixar o trabalho incompleto.
14 A CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA DO CONHECIMENTO
Fonte: www.prosaber.org.br
14.1 O conhecimento é próprio dos seres vivos
Os seres que não são vivos submetem-se integralmente às leis da natureza, especialmente à física e à química, sem nenhuma possibilidade de intervir no seu destino.
Os seres vivos, entretanto, dispõem de uma capacidade de “perceber” o ambiente em que estão e selecionar ou construir algumas alternativas para interagir com o ambiente em que estão inseridos com ele. Isto lhes permite conviver com o ambiente de forma mais conveniente às suas características. Esta capacidade é o que podemos chamar de Conhecimento.
Um bom exemplo dessa capacidade é o movimento que faz a planta ao voltar as suas folhas para a luz do sol.
Evidentemente, esta capacidade é exercida pelos recursos biológicos próprios de cada espécie de ser vivo: recursos muito simples no caso dos seres unicelulares ou muito complexos como os dos mamíferos, com destaque para os seres humanos. Essencialmente, o conhecimento desempenha em todos os seres vivos as mesmas funções: perceber o ambiente, identificar e selecionar ou construir
alternativas para responder aos desafios.
Os seres humanos são um caso específico que merece uma explicação especial. Neles, a constituição neurológica altamente sofisticada desenvolveu uma capacidade única que lhes permite ir além da realidade presente: não se restringem só a ela.
Os seres humanos são capazes de representar simbolicamente a realidade e trabalhar mentalmente com esta representação. Isto significou um passo gigantesco que provavelmente explique a sua condição hegemônica entre os seres vivos.
Não precisam restringir-se ao que está acontecendo no momento. Podem registrar simbolicamente o momento e operar com esta representação quando lhes for conveniente. Podem com isto trabalhar com o passado e planejar o futuro. Mais do que isto, esta capacidade de simbolizar lhes permite construir mentalmente realidades não existentes e trabalhar com elas.
Em outras palavras, podem fazer literatura, artes plásticas, música, podem filosofar e fazer ciência. Podem sonhar.
No bonito texto abaixo, Marx ressalta a ideia de que ser capaz de construir projeto é a marca diferenciadora dos seres humanos.
 (
Uma aranha executa operação semelhante às do tecelão e a abelha supera mais de um arquiteto ao construir sua colmeia. Mas o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo
 
do
 
trabalho
 
aparece
 
um
 
resultado
 
que
 
já
 
existia
 
antes
 
idealmente
 
na
 
imaginação
 
do trabalhador.
 
Ele
 
não
 
transforma
 
apenas
 
o
 
material
 
sobre
 
o
 
qual
 
opera;
 
ele
 
imprime
 
ao
 
material o
 
projeto
 
que
 
tinha
 
conscientemente
 
em
 
mira,
 
o
 
qual
 
constitui
 
a
 
lei
 
determinante
 
do
 
seu
 
modo de operar e ao qual tem de subordinar sua
 
vontade.
)
Iremos a seguir explicar mais detalhadamente este aspecto que realmente torna os humanos únicos na escala biológica, no que diz respeito ao conhecimento.
15 A CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES MENTAIS
Fonte: www.educacaopublica.cederj.edu.br
Ao defrontar-se com o mundo, as pessoas vão construindo mentalmente uma imagem codificada dos aspectos da realidade com que estão lidando. Não se trata da própria realidade mas de uma representação dela.
Desta imagem ou ideia fazem parte as características da realidade que lhe são significativaspor infinitas e variadas razões. Fazem parte dela também as múltiplas relações que sua inteligência e sensibilidade foram capazes de fazer sobre esta realidade, inclusive as lembranças e experiências pessoais provocadas por ela. Esta imagem ou ideia é que constitui o que podemos chamar de conhecimento.
Para facilitar o entendimento do que foi dito, vamos dar um exemplo simples para tornar este conceito mais concreto.
A representação, ideia ou conhecimento de uma pessoa sobre uma caneta qualquer, pode conter códigos relacionados com a forma, a cor, a textura, o cheiro e a consistência dela. Conterá também informações sobre o funcionamento, o material de que é feita, a marca, ano e processo de fabricação, histórico, usos possíveis, experiências bem ou mal sucedidas, prazerosas ou desagradáveis com ela: a mancha de tinta na roupa nova ou o momento em que a recebeu por ter se destacado na escola.
Abrangerá igualmente todas as relações que forem estabelecidas neste processo de construção da representação. É fácil perceber que os aspectos possíveis de fazerem parte desta representação mental de uma simples caneta são infinitos.
Além disso, é preciso considerar que está representação não é estática. Pode crescer ou alterar-se não apenas quando existir um contato físico entre a pessoa e a caneta, mas também quando a pessoa lembrar-se dela ou mesmo conversar sobre canetas. Quando isto acontecer, esta representação mental que é o conhecimento de caneta de uma certa pessoa, se comunicará com o conhecimento de caneta da outra e as possibilidades de crescimento e alteração do conhecimento sobre canetas poderá se multiplicar.
Este exemplo simples nos ajuda a perceber porque se pode afirmar que as possibilidades de crescimento do conhecimento são infinitas.
Também nos faz compreender porque se diz que sábios são aqueles que percebem que quanto mais aprendem mais podem aprender.
O que dissemos sobre o conhecimento hipotético de uma caneta pode ser dito também sobre todo e qualquer objeto de conhecimento, inclusive objetos abstratos tratados pelas ciências ou filosofias.
16 ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DA CONCEPÇÃO DEMOCRÁTICA
16.1 A finalidade do conhecimento
O conhecimento faz parte integrante da nossa vida. É com ele que percebemos o mundo que nos cerca e encontramos as maneiras de superar as dificuldades e os obstáculos decorrentes do viver neste mundo. Com ele somos capazes de utilizar os recursos disponíveis para construir nossa felicidade. Não há como viver sem conhecer.
Nós e as outras pessoas estamos sempre nos relacionando. Relacionamo-nos entre nós mesmos e com o mundo em que vivemos. Esta relação faz que nós nos tornemos diferentes, ao mesmo tempo em que vamos tornando o mundo diferente. Quando plantamos, por exemplo, uma roça de café, vamos mudando o mundo criando uma paisagem diferente (a roça de café onde antes havia pasto ou mato), mas também vamos nos tornando diferentes: mudamos nossos hábitos, o ritmo e a forma
de trabalhar, o medo da geada, o assunto da nossa conversa, nossas preocupações e interesses.
Neste mesmo exemplo, poderemos dizer que nossa relação com outros plantadores, consumidores e comerciantes de café modificam nossas representações sobre o cultivo e comercialização desse produto. Seguramente modifica também as representações deles sobre o mesmo tema.
É verdade que a intensidade e profundidade destas mudanças são variáveis e dependem de uma série de fatores que incluem oportunidade, necessidade, curiosidade, interesse e da infinidade de fatores que constituem a complexa natureza humana.
16.2 A produção do conhecimento
O conhecimento nasce da relação dos seres humanos entre si e com o mundo. Mas nem sempre se soube disso. Houve época em que se acreditou que o conhecimento estava nas pessoas e que ensinar era o processo pelo qual se fazia aflorar este conhecimento interior, inato.
Houve também um tempo em que se acreditou que o conhecimento estava fora das pessoas e que ensinar consistia em transferir este conhecimento externo para dentro das pessoas. A escola tradicional é a explicitação desta forma de pensar.
Nem fora nem dentro: o conhecimento se constrói na relação dos seres humanos com o mundo.
Vimos que o conhecimento nasce na relação dos homens e mulheres com o mundo, incluindo nele os outros seres humanos. Mas sabemos que esta relação não é sempre igual.
Algumas vezes, o mundo está sendo exatamente do jeito que as pessoas gostam. Outras vezes, nada está sendo como as pessoas querem. Entre estes dois extremos pode-se imaginar uma infinidade de possibilidades.
No primeiro caso, é fácil perceber que a produção de conhecimentos é muito pequena, quase nula. Não há razão para mudar, inclusive o conhecimento, quando as coisas estão indo como a gente quer.
Fonte: www.polemicaparaiba.com.br
Mas, se as coisas não estão do jeito que queremos, o estímulo para mudar torna-se grande. Aparece a necessidade de aprender novas coisas para enfrentar a situação e mudar o mundo que não está nos satisfazendo.
A existência de necessidades a serem satisfeitas desempenha papel fundamental para que se produza conhecimento. Mas não basta que elas existem. É preciso disposição e empenho em satisfazê-las. Quando isto ocorre, as pessoas usam todos os seus recursos pessoais para atender estas necessidades, inclusive o de pensar.
17 A	NECESSIDADE	E	O	PENSAR	SÃO	VITAIS	NA	PRODUÇÃO	DE CONHECIMENTO
É pensando que as pessoas compreendem melhor suas necessidades e como satisfazê-las. É pensando que escolhem as alternativas de ação. Pondo em prática estas alternativas, voltam a pensar nos resultados e em possíveis alterações que, postas em prática, fornecem novas pistas para novas reflexões, reiniciando-se o ciclo do pensar e fazer.
Em cada momento deste ciclo, novas informações e representações são incorporadas e novos conhecimentos são construídos.
Percebe-se, portanto, que é agindo e pensando que os seres humanos constroem o seu conhecimento. Não é só agindo e não é só pensando, mas fazendo os dois. Nem sempre nos damos conta disto porque se trata de um movimento natural, quase instintivo, em que o agir-pensar-agir se dá quase que simultaneamente.
Foi agindo e pensando que os seres humanos construíram toda sua cultura e é agindo-pensando que todos nós continuamos a construir e a modificar o mundo e a nós mesmos.
 (
O Homem é, entre outras coisas, um ser de necessidade: O que observamos, historicamente, é que o hominídeo não desenvolvia uma ação qualquer, mas uma ação carregada de sentido, visto corresponder a uma carência. Assim, foi construindo representações vez a vez mais elaboradas da realidade,
 
que
 
se
 
tornavam
 
cada
 
dia
 
mais
 
importantes
 
a
 
fim
 
de
 
poupar
 
esforço
 
desnecessário,
 
diminuir o sofrimento e poder garantir a sobrevivência da espécie: a alimentação, a defesa contra os animais e intempéries, a defesa frente a outros bandos, a habitação, etc. O conhecimento, pois, sempre esteve ligado
 
a
 
necessidades,
 
interesses,
 
sendo
 
que
 
a
 
partir
 
deles
 
o
 
homem
 
se
 
empenhava
 
no
 
enfrentamento da
 
realidade,
 
vindo
 
a
 
construir
 
cada
 
vez
 
mais
 
representações
 
mentais,
 
(...)
 
Portanto,
 
a
 
necessidade
 
faz surgir o conhecimento e, com o tempo, o próprio conhecimento torna-se uma necessidade, como mediação para satisfazer outras necessidades. Celso
 
Vasconcellos.
)
18 A NECESSIDADE DE CONHECER E A SALA DE AULA
Se a necessidade é a grande impulsionadora do fazer e consequentemente do aprender, temos aí, um elemento forte para a escolha do que ensinar.
Quais as necessidades dos alunos da EJA?
Sabemos que são bem variadas dependendo do lugar onde vivem os alunos e das circunstâncias que enfrentam.
Quando	procuramos	responder	a	esta	pergunta,	muitas	vezes	nos surpreendemos.
Encontramos questões que nunca pensamos, muitas vezes bem diferentes das que tradicionalmente têm lugar nas salas de aula.
Estas são algumas das necessidades apontadas pelos alunos de diferentes salas de aula:
· Saber fazer orçamento por escrito (o que escrever, a formade escrever, como calcular preços);
Fonte: www.cdn.massanews.com
· Conhecer o desenvolvimento das crianças (grande preocupação das mães);
· Alimentação e saúde;
· Onde passear no fim de semana;
· Como divulgar o que se faz para vender: tricô, doces, sabonetes, pães;
· Fazer orçamento doméstico para controlar os gastos;
· Compreender as questões ou geralmente saber o porquê: o frio e calor de uma região; as fases da lua; o dinheiro dos outros países; entender o que diz a televisão (notícias); aspectos ligados a hereditariedade, fazer recibos;
· Saber preencher fichas (em firmas, oficinas, bancos, INSS);
· Criar senhas, usar caixas eletrônicas.
Não é difícil perceber que a partir destas questões chegamos de forma natural a muitos dos conteúdos considerados escolares e que, de fato, se constituem como elementos importantes para solucionar as questões da vida diária.
19 A REFLEXÃO ACELERA A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
Separar o fazer do pensar é uma possibilidade humana. Todos vivemos quotidianamente a experiência de fazer alguma coisa e ao mesmo tempo pensar em
algo que nada tem a ver com o que estamos fazendo. Muitos atropelamentos já ocorreram porque o pedestre estava com a cabeça na lua enquanto atravessava uma avenida.
Muitos de nós usam continuamente a capacidade de pensar separadamente do que fazem, como uma defesa contra a monotonia das tarefas repetitivas. A dona de casa que liga o rádio enquanto cozinha ou arruma a casa, normalmente está fazendo isso. Outros, procuram atividades repetitivas como bordar, tricotar ou lavar o próprio carro como forma de descansar a cabeça. Enquanto o fazem, acham que não precisam ficar pensando, na verdade ficam pensando em outra coisa.
Separar a ação do pensamento é muito menos frequente do que possa parecer. Na verdade, muitas ações humanas dispensam totalmente o pensamento. Ao encostar a mão em uma panela muito quente ou numa ponta de cigarro, qualquer pessoa saudável retirará imediatamente a mão. O aparecimento inesperado de um rato, barata ou cobra fará muitos correrem sem se dar ao trabalho de pensar se este deveria ser o melhor comportamento. Estas ações, chamadas de reflexas ou
instintivas, dispensam totalmente o uso do pensamento para ocorrerem.
Mas, não é todo fazer que dispensa o pensar. O pedestre distraído não andará com a cabeça nas nuvens em um bairro tido como perigoso altas horas da noite. A dona de casa não ouvirá o rádio quando estiver experimentando pela primeira vez uma receita nova e complicada para um jantar de cerimônia. Igualmente, ninguém imagina que irá descansar a cabeça procurando consertar os erros que a amiga fez na blusa que estava tecendo para o namorado.
As pessoas não farão isto porque sabem que, para responder aos desafios que estão enfrentando, precisam concentrar-se no que estão fazendo. Suas cabeças estarão pensando, ocupada em identificar as informações pertinentes e relacionar estas informações com os conhecimentos que já dispõem. Imaginam hipóteses e alternativas para responder ao desafio. Fazem isso manipulando suas ideias da forma mais disciplinada possível para obter os resultados pretendidos. Estão refletindo. Por isso não desviam seus pensamentos para outras coisas. Concentram-se nos objetivos e com isso, aumentam seus conhecimentos.
Saberão o que não sabiam e portanto serão capazes de fazer e o que não faziam.
19.1 As diferentes formas de pensar
Não é preciso ser um especialista para perceber que existem diversas formas de pensar. O pedestre de que falamos certamente está pensando enquanto atravessa a rua. A dona de casa ouvinte de rádio também. Isto porque é praticamente impossível deixar de pensar.
Mas, não existe apenas uma única forma de pensar. O apaixonado que rememora o encontro com a namorada está pensando. O pedestre desatento, está pensando. Igualmente, o operário regulando a máquina, o pedreiro acertando o prumo da parede, a professora montando a estratégia para que seus alunos aprendam determinado conteúdo estão pensando.
Nestes exemplos é possível identificar pelo menos dois tipos básicos de pensamento. O pensamento sem nenhum compromisso com a busca de soluções e o pensamento destinado a resolver problemas. O primeiro é normalmente prazeroso, já o segundo, em razão da necessidade de obter resultados, costuma dar menos prazer e consome trabalho.
Os antigos filósofos chamavam de devaneio o primeiro tipo de pensar e costumavam condená-lo como um vício que apenas consumia tempo sem nenhum outro resultado além de dar prazer ao pensador.
Mesmo considerando que dar prazer a quem pensa não é um vício mas, uma virtude, temos que concordar que a busca de prazer não é a única razão pela qual os seres humanos são dotados da capacidade de pensar.
19.2 A reflexão, o conhecimento e os alunos da EJA
Mesmo considerando que a reflexão como elemento básico para o conhecimento, não podemos esquecer que vivemos numa sociedade onde a reflexão é pouco incentivada. Habituados a seguir ordens, os alunos da EJA são frágeis do ponto de vista da prática do pensar e do tomar decisões.
Isso aumenta a responsabilidade da escola como espaço capaz de incentivar essa capacidade tão fundamental ao ser humano.
Isto significa que a sala de aula da EJA tem a responsabilidade de ser marcada pelas atividades que envolvem o pensamento, em detrimento das que apontam a mera memorização do que se pretende ensinar.
Comentar o que está sendo aprendido, tomar posição diante de um fato ocorrido e contribuir na sua própria avaliação são situações que certamente contribuirão para o crescimento desses alunos.
19.3 É a ação humana que produz conhecimento
O conhecimento é um dos produtos da ação humana sendo decorrência da vocação dos seres humanos de relacionarem-se com o mundo de forma ativa e transformadora. Nesta relação, os homens e mulheres encontram dificuldades, estímulos e recursos necessários que os levam a agir intervindo no mundo.
Nesta ação, homens e mulheres percebem o próprio ambiente, identificam situações desfavoráveis, inventam ou descobrem alternativas possíveis para enfrentá- las ou alterá-las, experimentam, avaliam o que fizeram, rejeitam ou aceitam-nas e neste processo produzem e incorporam uma infinidade de ideias (que também chamamos de representações mentais) e constroem conhecimentos.
Foi com o trabalho que o ser humano desgrudou um pouco da natureza e pode, pela primeira vez, contrapor-se como sujeito ao mundo dos objetos naturais. Se não fosse o trabalho, não existiria a relação sujeito-objeto. O trabalho criou para o homem a possibilidade de ir além da pura natureza. A natureza, como tal, não cria nada de propriamente humano (...)
O homem não deixa de ser animal, de pertencer à natureza; porém, já não pertence inteiramente a ela. Os animais agem apenas em função das necessidades imediatas e se guiam pelos instintos (que são forças naturais); o ser humano, contudo, é capaz de antecipar na sua cabeça os resultados das suas ações, é capaz de escolher os caminhos que vai seguir para tentar alcançar suas finalidades. A natureza dita o comportamento dos animais; o homem, no entanto, conquistou certa autonomia diante dela.” Leandro Konder.
19.4 Ninguém aprende sozinho
Fonte: www.conteudo.imguol.com.br
A ação-reflexão que produz conhecimentos é capaz de mudar o Mundo e a nós mesmos. Todos nós vivenciamos esta experiência segundo nossos valores, aspirações e de acordo com nossas experiências anteriores. Esta vivência pessoal pode ser comunicada mas não pode ser transferida aos outros. Vivência não se transfere.
Igualmente, o conhecimento que é parte integrante desta vivência não pode ser transferido. Pode ser comunicado, mas comunicar conhecimento não é transferi-lo.
Posso comunicar o que conheço, por exemplo, sobre dirigir automóvel. Mas isto não faz com que as pessoas que me ouvirem passem a conhecer o assunto como eu ou mesmo passem a dirigir. Para isto ocorrer, elas terão que incorporar a comunicação à sua vivência, com tudo o mais que constitui esta vivência de agir- pensar-agir que constrói conhecimentos.

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