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Cirurgia – Amanda Longo Louzada 1 DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA DOENÇA ARTERIAL OCLUSIVA: Embora a aterosclerose seja a causa dominante de doença arterial oclusiva nos países do ocidente, outras etiologias, como anomalias congênitas e anatômicas, doenças autoimunes e tromboembolismo remoto Os sintomas de doença vascular oclusiva são, principalmente, a disfunção de órgãos-alvo e, nos leitos musculares, a dor desencadeada pelo exercício do membro e a necrose tecidual. ATEROSCLEROSE: A aterosclerose pode ocorrer em qualquer artéria As lesões iniciais estão confinadas à íntima. Nas lesões avançadas há envolvimento da íntima e da média, mas a adventícia geralmente é poupada. A preservação da adventícia é fundamental para a integridade estrutural do vaso e é a base de todas as intervenções cardiovasculares. DOENÇA OCLUSIVA CRÔNICA DE EXTREMIDADES INFERIORES: CONSIDERAÇÕES GERAIS: A insuficiência arterial periférica é, predominantemente, uma doença das extremidades inferiores. Lesões arteriais de extremidades superiores são incomuns e confinadas principalmente às artérias subclávias. Mesmo quando presente, a aterosclerose de extremidades superiores raramente produz sintomas devido às vias colaterais abundantes. Porém, nas extremidades inferiores, as lesões obstrutivas são amplamente distribuídas, com lesões das artérias femoral superficial e ilíaca sendo as mais comuns. Os sintomas estão relacionados com a localização e a quantidade de obstruções. EPIDEMIOLOGIA: A doença arterial periférica acomete pelo menos 20% das pessoas com mais de 70 anos de idade, sendo que essa incidência aumenta nos pacientes diabéticos. Embora a maioria dos pacientes com esse distúrbio não desenvolva gangrena nem necessite de amputações, os desfechos adversos da aterosclerose sistêmica, incluindo infarto do miocárdio e/ou acidente vascular encefálico são comuns. Pessoas com doença arterial periférica exibem um risco várias vezes aumentado de mortalidade em relação à população não acometida. SINTOMAS: Claudicação Intermitente: Dor muscular nas extremidades inferiores associada com o caminhar e aliviada pelo repouso. A claudicação deriva da palavra em latim que significa “mancar”; A dor é profunda e costuma ocorrer na panturrilha e progride gradualmente até que o paciente seja obrigado a parar de caminhar. Algumas vezes, os pacientes descrevem “cãibras” ou “cansaço” nos músculos. Normalmente, os sintomas são completamente aliviados após 2 a 5 minutos de inatividade A síndrome de Leriche ocorre em homens com doença aortoilíaca e inclui claudicação de músculos da panturrilha, coxa e nádegas; disfunção erétil; e pulsos femorais diminuídos ou ausentes. Isquemia Crítica do Membro: Com doença extensa, os pacientes desenvolvem dor isquêmica em repouso e/ou ulceração. A dor isquêmica em repouso, um sintoma grave causado por neurite isquêmica, indica insuficiência arterial avançada que traz um risco de gangrena e amputação, A dor é intensa e em queimação Ela é agravada pela elevação da extremidade ou por elevar a perna até a posição horizontal. Assim, ela aparece em repouso (por isso o nome) e pode impedir o sono. Como a gravidade ajuda na distribuição do sangue arterial, classicamente, o paciente com dor em repouso pode obter alívio simplesmente deixando as pernas pendentes ao lado da cama. Essa manobra simples irá diferenciar entre dor isquêmica em repouso e neuropatia periférica Feridas ou úlceras que não cicatrizam: Os pacientes com insuficiência arterial grave de extremidades inferiores costumam desenvolver úlceras ou feridas nos pés mesmo após trauma aparentemente mínimo. Essas lesões estão mais comumente localizadas na parte distal Normalmente, as feridas são extremamente dolorosas, profundas e sem qualquer evidência de cicatrização, como contração ou formação de tecido de granulação. Disfunção Erétil: A incapacidade de obter ou manter uma ereção pode ser produzida por Cirurgia – Amanda Longo Louzada 2 DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA lesões que obstruem o fluxo de sangue por meio de ambas as artérias hipogástricas, sendo comumente encontrada em associação com estreitamento da aorta terminal, ilíaca comum ou artérias hipogástricas. A disfunção erétil vasculogênica é menos comum que aquela devida a outras causas. Sensação: Embora o paciente possa relatar dormência na extremidade, as anormalidades sensitivas costumam estar ausentes no exame. Se for encontrada uma redução de sensibilidade no pé, deve-se suspeitar de neuropatia periférica. SINAIS: O exame físico tem importância fundamental na avaliação da presença e da gravidade da doença vascular. Os achados físicos de aterosclerose periférica se relacionam com mudanças nas artérias periféricas e com isquemia tecidual. Palpação Arterial: A redução de amplitude do pulso denota obstruções proximais do fluxo. O exame do pulso pode ajudar a localizar a doença. Por exemplo, um pulso femoral ausente geralmente significa doença aortoilíaca. É incomum que o fluxo colateral seja suficiente para produzir um pulso distal a uma artéria ocluída Ordem: pedioso – tibial posterior – poplíteo - femoral Sopros e Frêmitos: Um sopro é o som produzido pela dissipação de energia à medida que o sangue flui por meio de um segmento arterial estenótico. Com fluxos extremamente elevados, a energia pode fazer a artéria vibrar, criando um “frêmito” à palpação. O sopro fica mais agudo à medida que a estenose fica mais intensa Resposta ao Exercício: indivíduo com queixas de claudicação, pode haver poucos achados em repouso, mas o exercício produzirá redução na intensidade do pulso, diminuição na pressão arterial distal e, possivelmente, um sopro audível indicando uma estenose significativa. Alterações Cutâneas: A isquemia crônica comumente produz perda de pelos sobre o dorso dos dedos dos pés e dos pés e pode estar associada com Espessamento das unhas dos dedos dos pés devido a uma renovação mais lenta da queratina. Atrofia da pele e tecido subcutâneo de modo que o pé fica brilhante, escamoso e esquelético. Palidez: A palidez do pé, na elevação da extremidade até cerca de 40 cm, com ausência completa de enchimento capilar, indica isquemia avançada. A palidez à elevação não ocorre a menos que haja isquemia avançada. Ela está sempre presente com dor isquêmica em repouso. Hiperemia Ativa: Quando a palidez é produzida na elevação, a isquemia resulta em vasodilatação cutânea máxima. Quando a extremidade volta a uma posição pendente, o sangue que retorna ao leito vascular dilatado produz uma coloração vermelha intensa ou possivelmente um rubor no pé, chamado de hiperemia reativa e que denota doença avançada. Rubor: Na doença aterosclerótica avançada, a pele do pé apresenta uma cor vermelho- escuro/cianótica ao ficar pendente. Devido ao baixo fluxo de chegada, o sangue nos capilares do pé é relativamente estagnado, a extração de oxigênio é alta e o sangue capilar fica da cor do sangue venoso. A vasodilatação concomitante devido à isquemia causa a estagnação do sangue no plexo cutâneo, deixando a pele com cor púrpura. A coloração púrpura devido à insuficiência venosa crônica grave não se transforma em palidez com a elevação do membro. Temperatura da Pele: Com a isquemia crônica, a temperatura da pele do pé diminui. A pele fria pode ser mais facilmente detectada pela palpação com dorso da mão do examinador em comparação com o pé contralateral. Ulceração: As úlceras isquêmicas costumam ser muito dolorosas e acompanhadas por dor no pé em repouso. Elas ocorrem nos dedos dos pés ou em locais onde o trauma mínimopode iniciar a lesão. A margem da úlcera é bem demarcada (bordos a pique) ou apresenta necrose e a base não tem tecido de granulação Atrofia: Graus moderados a graves de isquemia crônica produzem atrofia gradual de tecidos moles e músculos além da perda de força. A mobilidade articular e a marcha podem estar alteradas pela atrofia muscular. Alterações subsequentes na estrutura do pé e na marcha aumentam a possibilidade de desenvolver ulceração do pé. Necrose: A isquemia tecidual grave pode progredir para necrose com trauma, infecção ou edema mínimos. Cirurgia – Amanda Longo Louzada 3 DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA A necrose progride proximalmente até uma linha onde o suprimento de sangue é suficiente para manter a viabilidade e resulta em gangrena seca. Não é uma emergência de amputação Se a porção necrótica for infectada (gangrena úmida), a necrose pode comprometer tecidos proximais que ainda estavam viáveis. É uma emergência de amputação DIAGNÓSTICO: Índice tornozelo-braquial: é um exame de rastreamento rápido e é a base do diagnóstico da doença arterial periférica. O ITB é determinado dividindo-se a pressão sistólica obtida pelo exame com Doppler na artéria tibial posterior ou pediosa no tornozelo pela pressão arterial braquial. A artéria do tornozelo com maior pressão deve ser considerada no índice. Normalmente, o ITB é de 1,0 ou mais; um valor abaixo de 1,0 indica doença oclusiva proximal ao ponto da medida. O ITB se correlaciona grosseiramente com o grau de isquemia (p. ex., a claudicação ocorre com um valor menor que 0,7, e a dor em repouso aparece quando a relação é de 0,3 ou menos). Ultrassonografia com Doppler Colorido: é a base do exame de imagem vascular. Ela é indolor, relativamente barata e (em mãos experientes) Método preciso para a obtenção de informações anatômicas e funcionais (p. ex., gradiente de velocidade por meio de estenoses). Precisão desse exame depende do operador Angiografia por TC (ATC) Angiografia por RM (ARM) Arteriografia convencional TRATAMENTO: Tratamento Não Cirúrgico: O tratamento não cirúrgico consiste em: (1) tratamento clínico de fatores de risco cardiovascular (2) exercícios de reabilitação (3) cuidados com os pés (4) farmacoterapia. Redução dos Fatores de Risco: Tabagismo: aconselhamento psicológico, farmacoterapia, reposição de nicotina e bupropiona Hipertensão: PA alvo menor que 140\90, usando BB e IECA Antiplaquetários: AAS e Clopidroguel Estilo de vida: exercícios aeróbicos diários, perda de peso, dieta saudável e pobre em gordura Exercícios de Reabilitação: Exercícios que variam desde a caminhada sem supervisão até o exercício supervisionado formal em uma esteira aumentam de maneira significativa a capacidade de caminhar. Cuidados com os pés Farmacoterapia: O ácido acetilsalicílico em doses que variam de 75 a 350 mg/dia é o agente antiplaquetário recomendado como primeira linha Clopidogrel Pentoxifilina Cilostazol Tratamento Cirúrgico: Os procedimentos intervencionistas, abertos ou endovasculares, são realizados para salvar o membro e para a claudicação incapacitante. Terapia Endovascular: Equipamentos: Bainha. Inserida com uso da técnica de Seldinger no acesso vascular. Guias, cateteres e dispositivos passam por meio da bainha. A bainha fornece pontos de acesso estáveis para o trabalho e protege a artéria. Cateter. Comprimento, rigidez, cobertura e formato variáveis (exemplos: B.1, cobra; B.2, pigtail; B.3, mesentérico seletivo). Os cateteres ajudam a direcionar as guias para o ponto desejado do vaso e também mantêm o acesso ao vaso. Fio-guia. Diâmetro, comprimento, rigidez e formato variáveis. Usado para obter acesso aos vasos, atravessar as lesões e liberar os dispositivos. Cateter com balão. Stent periférico. Stent autoexpansível periférico de nitinol. Stent aortoilíaco de aço inoxidável/Dacron. Angioplastia Transluminal Percutânea: Com ou sem a colocação de um stent intravascular, costuma ser o tratamento de escolha quando as estenoses ou mesmo oclusões são relativamente curtas e localizadas. Reconstrução Aortoilíaca: by-pass artofemoral Reconstrução Femoropoplítea: Bypass femoropoplíteo. Enxerto autólogo de veia safena magna Enxêrtos de politetrafluoroetileno (PTFE) expandido Reconstrução Arterial Tibiofibular: bypass distal para vasos tibiais, fibular ou podálicos. Cirurgia – Amanda Longo Louzada 4 DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA Claudicação Intermitente: Modificação do fator de risco para diminuir seu risco de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral Cilostazol e exercícios supervisionados Os pacientes que inicialmente apresentam pressão do tornozelo baixa ou ausência de pulso femoral, ou aqueles que retornam com sintomas graves, sem melhora, com estilo de vida limitante e que não responderam adequadamente às medidas não cirúrgicas são considerados para a intervenção Se incapacidade funcional não significativa: Nenhum tratamento específico Consulta de acompanhamento, pelo menos anualmente, para monitorar a evolução dos sintomas isquêmicos do membro, coronarianos ou cerebrovasculares Sintomas que limitam o estilo de vida: programa exercícios supervisionados e terapia farmacológica com Cilostazol, e reavalia em 3 meses Se tiver melhora clínica: faz consulta de acompanhamento pelo menos anualmente Se tiver incapacidade significativa: apesar da terapia médica e\ou terapia endovascular arterial, com documentação de refluxo. DAP, com anatomia e relação risco-benefício favoráveis para procedimento. Avalia para revascularização endovascular ou cirurgia adicional Sintomas que limitam o estilo de vida com evidência de doença arterial proximal: faz as definições anatômicas adicionais por meio de técnicas de diagnósticos angiográficos ou exame não invasivo. Faz terapia endovascular (ou bypass cirúrgico dependendo da anatomia) Isquemia Crítica do Membro: Dor em repouso ou piora da claudicação para dor de repouso Úlceras nos pés que não cicatrizam, gangrena seca ou infecção necrosante É adotado um processo rápido para planejar revascularização que restabeleça o fluxo sanguíneo no pé. Se o paciente for candidato a revascularização: Imaginologia e revascularização conforme apropriado Se o paciente não é candidato à revascularização: Dor e lesão instável: faz tratamento clínico Dor intolerável, disseminação da infecção: amputação DOENÇA OCLUSIVA AGUDA DE EXTREMIDADE INFERIOR: CONSIDERAÇÕES GERAIS: A oclusão aguda de uma grande artéria pode ser causada por um êmbolo, trombose arterial primária, trauma ou dissecção. ACHADOS CLÍNICOS: Dor Palidez Pulso ausente Parestesia Paralisia TRATAMENTO E PROGNÓSTICO: Como em todos os casos, histórico detalhado e exame físico são necessários para um diagnóstico clínico da gravidade da doença: Membros categoria I são viáveis e não ameaçados imediatamente. Faz exames de imagem e revascularização Membros categoria IIa estão ameaçados, mas são recuperáveis se tratados. Faz exames de imagem e revascularização Membros categoria IIb são recuperáveis se tratados como emergência. Faz revascularização Membros categoria III têm isquemia irreversível e não são recuperáveis Faz amputação AMPUTAÇÃO DE EXTREMIDADE INFERIOR: Causa: doença isquêmica ou gangrena infecciosa O nível da amputação é determinado pela avaliação da probabilidade de cicatrização do membro em associação com o potencial funcional do paciente Níveis de amputação da extremidade inferior: Amputações de dedo do pé e emraio Amputação transmetatarsiana Amputações maiores da perna Amputação abaixo do joelho Amputação acima do joelho