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Semiologia da Dor

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Geovana Sanches, TXXIV 
SEMIOLOGIA DA DOR 
Segundo a IASP (Internacional Association 
for Study of Pain), “Dor é uma desagradável 
experiência sensorial associada a uma lesão 
tecidual já existente ou potencial, ou relatada 
como se uma lesão existisse.” 
A dor deve ser considerada uma 
experiência humana, e não somente como uma 
manifestação focal de uma desordem orgânica. 
Ela pode ser classificada em nociceptiva, 
neuropática, mista e psicogênica. 
 Nigel Sykes: “A dor é uma sensação física 
modulada por emoções”. Isso nos mostra que 
cada indivíduo tem uma manifestação diferente 
de dor, é algo individual. Exemplo: um indivíduo 
vai ao dentista e consegue extrair um dente sem 
anestesia, outros, para fazer uma limpeza dentária 
já sentem dores intensas. Sendo assim, temos que 
a dor é modulada pelo Sistema Límbico Emocional. 
É considerada o quinto sinal vital, sendo os 
outros quatro frequência respiratória, frequência 
de pulso, pressão arterial e temperatura. É muito 
importante, tendo em vista que quando há dor, 
pode ocorrer alterações dos demais sinais vitais. 
A dor pode ser classificada como dor total, 
a qual inclui, além da dor física, a dor emocional e 
espiritual. Um individuo que esteja passando por 
tratamento de uma doença incurável, como uma 
neoplasia por exemplo, geralmente tem uma dor 
total. As dores físicas podem, inclusive, serem 
aumentadas devido a uma questão psíquica. 
Classificação da dor 
Dor nociceptiva: inicia em concomitância 
com a atividade do fator causal, o qual pode ser 
identificado. Sendo assim, com a remoção do fator 
causal, a dor será aliviada. O dano ocorre em 
receptores de nocicepção. Pode ser de origem: 
• Somática: pele e sistema 
musculoesquelético (bem localizada e 
descrita com facilidade, tendo em vista que 
o indivíduo consegue ver e tocar o local 
acometido) 
• Visceral: receptores em vísceras (mal 
determinada -> irradiação para 
dermátomos, o que pode facilitar o 
compreendimento do que está 
acontecendo pelo médico) 
Dor neuropática: pode decorrer tanto de 
uma injúria ao sistema nervoso central, periférico 
ou ambos, sendo de caráter traumático, 
infeccioso, inflamatório, neoplásico, iatrogênico 
(resultante do tratamento), desmielinizante e 
vascular. O início da dor neuropática geralmente 
não coincide com o fator causal, podendo se 
manifestar após dias, semanas, meses ou anos. A 
remoção do fator causal é impossível pois não está 
mais presente. O indivíduo manifesta a dor por um 
registro cerebral que pode vir a ser manifestado 
por um dano antigo ou que ainda está presente. 
Aparecem como sensações aberrantes, 
queimação, choque, facada, laceração, alodinia 
(sensação de dor ao toque; o problema não é o 
toque em si, mas sim o estímulo para que a 
memória de um dano pré-existente seja 
manifestada), hiperpatia (hiperresponsividade aos 
estímulos). 
Dor mista ou complexa: quando há 
associação de dor nociceptiva e neuropática. 
Exemplo: hérnia de disco -> paciente procura o 
médico por uma dor na coluna, a qual se manifesta 
também nas pernas, como um choque ou facada. 
Ou seja, a hérnia de disco (problema no momento) 
está gerando danos nos receptores nociceptivos, 
mas ao mesmo tempo faz compressão da medula 
espinal, causando a dor neuropática. 
Dor psicogênica: é o componente 
emocional da dor, sendo sua magnitude é variável. 
Ela é difusa, generalizada e imprecisa. Esta dor não 
possui relação com nenhum substrato orgânico, 
sendo de natureza psíquica. Exemplo: pacientes 
com depressão. Para que cheguemos a conclusão 
que a dor é psicogênica, é necessário que se afaste 
a possibilidade de dores nociceptivas, 
neuropáticas ou mistas. 
Características semiológicas da dor 
 Durante a anamnese, devem ser 
abordadas as seguintes características: 
• Início: deve-se questionar quando a dor 
iniciou e de que forma. Exemplo: “Quando 
essa dor começou? Ela começou de 
repente ou foi piorando aos poucos? Há 
alguma coisa que o senhor relaciona com o 
início dessa dor?”. Isso permite a distinção 
entre dor aguda e crônica. 
• Localização: refere-se à região que o 
paciente está sentindo a dor; deve-se pedir 
para o paciente apontar onde dói. Auxilia o 
médico a identificar se a dor é nociceptiva 
ou neuropática. 
• Irradiação: deve-se questionar se a partir 
do local de origem da dor anteriormente 
apontada, há dor em algum outro lugar, ou 
seja, percorre algum trajeto. Em dores 
viscerais, geralmente a dor ocorre por 
 
 Geovana Sanches, TXXIV 
irradiação. Exemplo: pancreatite aguda -> 
paciente relata uma dor como uma faixa 
que corre pela região superior do abdome. 
• Qualidade ou caráter: Dor pulsátil 
(latejante); em choque; em cólica; em 
queimação; em aperto (constritiva); em 
pontada; surda (dor constante presente 
em vísceras maciças); em câimbra; 
constante. 
• Intensidade: este componente da 
anamnese da dor é um dos mais 
importantes pois engloba aspectos 
sensitivos, emocionais e culturais do 
paciente, o que guiará a terapêutica a ser 
aplicada. 
Para avaliação da intensidade da dor, são 
utilizadas algumas escalas: 
1. Escala numérica (Numeric Rating Scale- NRS)= 
pacientes avaliam sua dor numa escala de 0 a 10, 
sendo que 0 representa “nenhuma dor” e 10 a 
“pior dor imaginável” 
2. Escala verbal= questiona-se se o paciente está 
sem dor, dor leve, dor moderada, dor intensa ou 
dor insuportável. O problema dessa escala é a 
subjetividade e o pequeno número de opções, 
comprometendo sua sensibilidade 
3. Escala visual analógica (Visual Analoque Scale- 
VAS)= consiste em uma linha de 10cm, com 
âncoras em ambas as extremidades. Numa delas é 
marcada “nenhuma dor” e na outra, “a pior dor 
possível”. A magnitude da dor é indicada 
marcando a linha, e uma régua é utilizada para 
quantificar a mensuração numa escala de 0-
100mm. Caso o paciente não consiga definir o que 
seja sua pior dor imaginável, sugerimos que 
compare com alguma dor que ele já tenha 
experimentado, como a dor do parto, litíase renal, 
úlcera perfurada, etc. 
4. Escala de Faces de Wong Baker= baseada em 
descritores visuais; utilizada para adultos ou 
crianças, sendo mais usada na pediatria. 
 
• Duração: tempo de duração da dor, 
descrita em horas, dias, meses ou anos. 
• Evolução: questiona-se a evolução da dor 
desde o seu início até o momento da 
consulta. Inclui-se como a dor estava no 
momento da instalação (súbita ou 
insidiosa), a concomitância do fator causal 
e seu início, as possíveis transformações 
(ficando mais forte ou não), mudança de 
local e caráter. É fundamental para o 
tratamento. 
• Relação com funções orgânicas: é a análise 
do local da dor e as estruturas anatômicas 
possivelmente associadas com a dor. 
Exemplo: dor torácica -> avaliar a relação 
com a respiração, tosse, espirros e outros 
movimentos do tórax. 
• Fator desencadeante: fatores causais que 
desencadeiam a dor, como por exemplo: 
alimentos ácidos, bebida alcoólica, anti-
inflamatórios hormonais, funções 
orgânicas (tosse, espirro, ao evacuar, ao 
urinar), certas posições ou situações como 
sentar-se, deitar-se, levantar, decúbito 
dorsal ou lateral, etc. 
• Fatores de piora: correspondem aos 
fatores que agravam a dor do paciente, 
como uma determinada alimentação, uso 
de medicamentos, movimentos, etc. Isso 
auxilia no diagnóstico. 
• Fatores de melhora: mesmo princípio 
adotado para a análise do tópico acima, 
porém pesquisando a melhora da dor em 
questão. Exemplo: posição, alimentação, 
medicação, etc. 
• Manifestações concomitantes: sinais e 
sintomas que acompanham a dor. Quando 
há muitas manifestações no mesmo local, 
podemos suspeitar que o problema é 
naquele próprio sistema. Tenta-se através 
disso, encontrar a origem do problema. 
A partir de todos esses fatores, podemos 
identificar o tipo e a origem da dor, permitindo-
nos tratá-la de maneira mais eficaz. 
Dor e envelhecimento 
Com o envelhecimento, o limiar de dor 
aumenta e, consequentemente os pacientes 
podem apresentar problemas graves semque haja 
manifestação de dor. Exemplo: infarto sem que 
haja dor no peito. Em contrapartida, quando 
sentem dor, o nível de tolerância é menor e há 
uma reação mais acentuada.

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