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1 Pâmela Martins Bueno – doença diverticular dos cólons Doença diverticular dos cólons DOENÇA DIVERTICULAR • Estamos falando dos pseudodiverticulos, pois na parede cólica tem um orifício na muscular que é uma área de fraqueza por onde a artéria cólica penetra na parede. Uma vez que penetrou, tem um buraco na muscular onde a mucosa, em situações de doença diverticular ocorre a pulsão da mucosa e herniação para a serosa, gerando o pseudodivertículo. INTRODUÇÃO • Doença frequente, sobretudo em populações ocidentais. • Tem clinica variável • Com o avançar da idade aumenta a prevalência • Pode chamar de diverticulose como sinônimo de ter divertículo quanto ter divertículo demais. • Doença diverticular dos cólons = presença de divertículos. Doença diverticular x diverticulite aguda – diverticulite é uma doença inflamatória que acontece em um divertículo. LOCALIZAÇÃO • Pode acometer todo o colón • Mais comum no sigmoide e cólon esquerdo, gerando a clínica de diverticulite aguda. Quando no cólon direito e ceco, costuma dar clinica de hemorragia digestiva baixa e quando no cólon transverso, não tem nada típico. FORMAS DE APRESENTAÇÃO CLÍNICA • Geralmente o paciente é completamente assintomático, ele tem os divertículos, mas vida que segue. • Quando se torna sintomático, na minoria dos casos, pode ter sintomas inflamatórios ou sintomas por sangramento. • O sintoma inflamatório agudo é uma diverticulite aguda. Se for crônico, vai ser uma colite ou sequela de diverticulite que já se resolveu. • Se tem sangramento, o paciente vai ter hemorragia digestiva baixa. DIAGNÓSTICO • Colonoscopia – não é o melhor exame, mas é um bom exame. Esse exame faz muito diagnostico incidental, principalmente por rastreio. Pode ser um diagnostico intencional, como quando o paciente tem hemorragia digestiva baixa. Há a presença de projeções saculares na parede do órgão. • Enema opaco – formam-se projeções saculares ao redor do cólon, formando o sinal do papel bolha. Esse exame é muito bom, o padrão ouro para doença diverticular, mas tem pouca utilidade pratica. Está em desuso porque o espaço dele é pequeno. O paciente assintomático não tem pertinência para procurar. Se tem um abdome agudo inflamatório não é pra fazer esse exame porque ele é realizado com bário, um contraste que se extravasa e cai na cavidade peritoneal, gerando peritonite adesiva. Se tem sangramento a colonoscopia vai ser melhor. • Tomografia: é útil em diagnósticos acidentais, eventualmente vai achar a doença nas TC. Tem acurácia média, que aumenta quando é usado o contraste retal. Esse exame responde bem ao contraste iodado, por isso pode ser realizado no 2 Pâmela Martins Bueno – doença diverticular dos cólons abdome agudo inflamatório, sendo o exame de escolha. TC mostrando as projeções saculares em um caso que tem inflamação com liquido livre e borramento da gordura abdominal. • Imagens intraoperatorias de videolaparoscopia – está realizando diagnostico incidental durante uma apendicectomia, por exemplo. Cada vez mais o diagnóstico vai ser intraoperatório, pois está sendo cada vez mais realizado cirurgias em idosos. MANEJO Depende da forma de apresentação clínica da doença • Diagnóstico incidental, assintomático: diagnostico durante TC ou colonoscopia por outra indicação – explicar para o paciente o que ele tem, tomar medidas de promoção de saúde e rastreio para evitar que ele se torne sintomático. O divertículo ocorre como pulsão devido a ingesta alta de proteína, gordura, excesso de carboidrato e quase não ingere fibras, além de beber pouca água, ter muito ganho de peso e constipação. O bolo fecal duro leva ao aumento da pressão intra- abdominal e expulsa a mucosa pelo buraco da artéria da muscular. Orientar dieta anticonstipante com mais água e fibras e se mesmo assim ele ficar constipado, introduzir agentes laxativos s/n. Promover perda ponderal e atividade física. O paciente deve ser orientado a respeito dos sinais de alarme, que são: dor abdominal forte, sangramento digestivo e perda ponderal não intencional. O rastreio do câncer colorretal no paciente com doença diverticular é igual ao da população geral, pois divertículo não vira câncer e não aumenta o risco para o câncer. É importante entender como uma oportunidade de rastrear. SANGRAMENTO DIGESTIVO A doença diverticular dos cólons é a principal causa de HDB. Manifesta hematoquezia/enterorragia e o diagnóstico vem de uma colonoscopia que encontra divertículo, que geralmente é a causa do sangramento. • O manejo na maioria dos casos vai ser expectante pois o sangramento já cessou quando faz o exame. Pode ser realizada a colonoscopia terapêutica • Nesses casos é considerada a colectomia direita, pois o divertículo que sangra é o localizado do lado direito. Se fica sangrando persistentemente, é melhor retirar o cólon • O problema é quando fica persistentemente sangrando e não dá pra saber qual está sangrando, pois tem divertículo em todos os cólons, então o paciente acaba recebendo a colectomia total. DIVERTICULITE AGUDA • Doença inflamatória e infecciosa de um divertículo cólico, sendo uma das formas de abdome agudo inflamatório. Tudo começa com a obstrução do lúmen desse pseudodivertículo que não tem a camada muscular, só mucosa e serosa. Na hora que obstrui o lúmen ele logo perfura e leva a inflamação local e adjacente, que pode seguir para uma macroperfuração inclusive com quadro generalizado. QUADRO CLÍNICO • Dor abdominal hipogástrica e/ou em fossa ilíaca esquerda. Começa no hipogástrio e migra para a FIE. Essa dor é progressiva e piora o quadro clinico. • São manifestados os sintomas constitucionais: náuseas, vômitos, mal estar, 3 Pâmela Martins Bueno – doença diverticular dos cólons febre, queda do estado geral, hiporexia e por ai vai. • Tende a alterar o habito intestinal pouco tempo antes da diverticulite em si e durante a crise. Pode ser para mais constipação, mas na maioria das vezes o paciente tem diarreia. É como se fosse um pródromo ou sintoma associado. • A progressão dos sintomas depende da gravidade da doença e da sua complicação. COMPLICAÇÕES • Peritonite em FID (descompressão brusca dolorosa), pode ser no hipogástrio ou até difusa (quando a doença está muito complicada). • Sepse – taquicardia, hipotensão, oliguria, torpor, etc. • Diverticulite aguda = apendicite a esquerda. REVISANDO... FORMAS CLÍNICAS DA DIVERTICULITE • Não complicada: microperfuração, periviscerite, sintomas locais, sem peritonite e sintomas sistêmicos leves. • Complicada: microperfuração ou macroperfuração, periviscerite + contaminação local, sintomas locais, peritonite localizada ou difusa e sintomas sistêmicos intensos. CLASSIFICAÇÃO DE HINCHEY Classifica de I a IV a repercussão cavitaria. Diz a respeito da diverticulite complicada. Se não tem nenhuma complicação, recebe o nome de diverticulite aguda não complicada. • I – Abscesso grudado ao divertículo perfurado • II – Abscesso a distância, usualmente pélvico • III – peritonite difusa purulenta • IV – Peritonite fecal difusa CLASSIFICAÇÃO DE HINCHEY MODIFICADA LABORATÓRIO • Leucocitose com desvio a esquerda • Elevação do PCR • Quadro inflamatório. DIAGNÓSTICO • Colonoscopia? Não se realiza na vigência de diverticulite devido ao risco de perfurar. • Tomografia? Exame de eleição com contraste venoso, pode-se usar o contraste retal desde que seja iodado. Ajuda a classificar segundo Hinchey. o Achados: divertículos normais, espessamento da parede cólica, borramento de gordura, liquido livre, abscesso, coleção, pneumoperitônio, peritonite difusa. 4 Pâmela Martins Bueno– doença diverticular dos cólons Hinchey 0 – é possível ver a alça cólica com a presença do divertículo e um pequeno borramento. Hinchey Ia – abscesso pericólico não puncionavel. Hinchey Ib – tem um abcesso grande, que ainda é justacólico e merece uma punção. Hinchey II – abscesso pélvico. Hinchey III e IV – ambas têm peritonite difusa, só que uma é fecal e a outra é purulenta. Nessa cavidade tem pneumoperitônio, uma faixa de liquido livre. Nos casos de Hinchey III e IV o paciente se apresenta com abdome agudo perfurativo, então o diagnóstico será INTRAOPERATÓRIO. MANEJO • Hinchey 0 – antibióticos como ceftriaxona + metronidazol, ciprofloxacino + metronidazol ou piperacilina + tazobactam. Dependendo do paciente, grau de recursos, do quanto o paciente é instruído, da facilidade do paciente procurar o atendimento, vamos perceber se pode ser oral ou venoso. O paciente que vai pra casa recebe a primeira dose EV no PS e vai pra casa com receita de ciprofloxacino + metronidazol. • Hinchey I – receber atb (ceftriaxona + metronidazol, ciprofloxacino + metronidazol ou piperacilina + tazobactam) se for Ia, doença que não merece punção e clinicamente se estiver bem. Se for Ib ou o paciente não esteja evoluindo bem, realizar drenagem percutânea se necessário. A abordagem cirúrgica será realizada apenas se tiver falha com drenagem e atb. • Hinchey II – atb (ceftriaxona + metronidazol, ciprofloxacino + metronidazol ou piperacilina + tazobactam) com drenagem percutânea que se torna muito mais provável, mas ainda é possível tratar só com atb. Só fazer abordagem cirúrgica se as abordagens não invasivas não deram certo. • Hinchey III e IV – laparatomia exploradora com limpeza da cavidade e tratamento cirúrgico do local com diverticulite. É uma 5 Pâmela Martins Bueno – doença diverticular dos cólons doença agressiva, é a retossigmoidectomia de Hartmann. Se o paciente estiver com peritonite, mas com pouca manifestação sistêmica, pode realizar a cirurgia minimamente invasiva que é a laparoscopia, com limpeza da cavidade como um todo e realiza a drenagem (Hinchey III). APÓS A DIVERTICULITE • Orientações para o assintomático – aumento da ingesta hídrica, considera repor fibra, medidas laxativas, orientação dos sinais de alarme, emagrecimento, atividade física. • Considerar cirurgia eletiva – é controversa. Indicada depois de episódios recorrentes de diverticulite aguda. Embora seja controverso, pode ser indicado se o paciente teve diverticulite aguda complicada, não operada porque o próximo abcesso pode ser maior e compromete a técnica cirúrgica porque a doença abdominal gera estenose, aderências e aumenta o risco cirúrgico. Opera toda vez que tem sequelas como fistulas e estenoses. • Vigiar complicações. • Aproveitar para indicar a colonoscopia – depois de 4 a 6 semanas, pois câncer colorretal não tem diverticulite como fator de risco, mas pode simular. Esse diagnostico diferencial só pode ser confirmado depois de passar o colonoscópio. SEQUELAS DA DIVERTICULITE FÍSTULA PÓS-DIVERTICULITE • O paciente teve inflamação aguda, formação de abscesso e teve drenagem espontânea a outro órgão e perpetuou uma fistula, não existe abcesso que fica parado, podendo fistulizar para trato urinário, gerando uma fistula colo-vesical, que gera fecalúria, pneumatúria e ITU de repetição. • Se for para o trato ginecológico, gera corrimento vaginal patológico de odor fétido e cervicite de repetição, com perda de gases e fezes pela vagina. • Diagnóstico: além da clínica, pode realizar TC com contraste fecal ou RNM. • Tratamento: retossigmoidectomia + anastomose. ESTENOSE CÓLICA PÓS-DIVERTICULITE • Se a inflamação foi aguda e continua no crônico, vai ter um ciclo de inflamação e reparo, gerando estenose cólica. • Diagnóstico: TC com contraste ou colonoscopia que faz dx diferencial maligno. • Tratamento: por endoscopia consegue dilatar através de um balão que vai abrir a estenose, mas pode ser muito traumático. Pode realizar a retossigmoidectomia + anastomose também. Para dilatar precisa ter 100% de certeza que não é câncer, precisa passar o colonoscópio dos dois lados, fazer biopsia seriada, observar toda a mucosa para garantir que não tem alteração. CIRURGIA ELETIVA • Retossigmoidectomia com anastomose se necessário. • Evitar anastomose se: comorbidades (risco alto de doença ateromatosa, paciente muito grave, arteriopata das pernas), pacientes graves por qualquer razão – desviar a cirurgia para Hartmann. HARTMANN Consiste na retirada do colón sigmoide. Na anastomose primaria é realizada a ligação do colon descendente com o reto em pacientes que estão bem, fora da urgência, em cirurgia eletiva. Se não der pra fazer anastomose, realiza a derivação onde é feita uma colostomia terminal no descendente (pega o colón descendente e exterioriza em uma colostomia terminal) e realiza o sepultamento do coto retal.
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