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Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso I – Out. 2022 1 APENDICITE AGUDA ▪ Ocorre em 8% das pessoas nos países ocidentais ▪ Incidência máxima entre 10 a 30 anos – não significa que crianças e idosos não desenvolvem, eles também podem ter. Doença inflamatória de alta incidência. Presente dentro da Síndrome do Abdome Agudo ▪ Emergência cirúrgica não traumática geral mais comum ▪ Intervenção precoce melhora os resultados – na maioria das vezes Não é uma emergência vermelha. Se um paciente chega com apendicite instável, deve operar o mais rápido possível (neste caso emergência). Mas se chega um paciente com quadro misto de sintomas, pode demorar um pouco mais. Na maioria das vezes será uma urgência e não uma emergência. ▪ Importante alto grau de suspeição para evitar complicações graves – sempre suspeitar de apendicite nos casos de abdome agudo, por mais que esteja fora do padrão os sinais e sintomas. Se não suspeitar e for, vai demorar o diagnóstico e a intervenção e pode ser pior ▪ Apendicite perfurada é a principal causa cirúrgica geral de morte – morbimortalidade alta nos casos supurados. No geral a mortalidade é pequena. ▪ Comprimento do apêndice – 2 a 20 cm (média de 9 cm) ▪ Base do apêndice se localiza na convergência da tênia, ao longo da face inferior do ceco ▪ Localização mais comum – retrocecal (atrás do ceco, dentro da cavidade peritoneal). Mas há uma variedade de posições e por isso há uma variedade de sintomas. O retroperitoneal por exemplo causa menos sintomas na fase inicial, diferente do que é intraperitoneal. ▪ Pélvico – 30% Retroperitoneal – 7% ▪ Variedade de localização da ponta – explica miríade (grandeza) de sintomas - FISIOPATOLOGIA: ▪ Obstrução do lúmen (luz do apêndice) – principal causa Normalmente pode ser obstruído por fezes espessadas (fecálito ou apendicolito – consegue ser visto no exame), hiperplasia linfoide (parede do apêndice), restos alimentares, material vegetal ou sementes, parasitas (Ascaris) ou neoplasia Quando obstrui o apêndice, causa um mecanismo de obstrução de alça cega, não tem para onde o material que está dentro sair. Proliferação de gases bacterianos, aumento da proliferação de muco, reação inflamatória e distensão por gás, dor visceral (mal organizada, geralmente epigástrica/periumbilical). ▪ Supercrescimento bacteriano ▪ Secreção continuada de muco ▪ Distensão intraluminal e aumento da pressão – dor visceral periumbilical, mal localizada. Epigástrica em alguns pacientes. ▪ Dano na drenagem venosa e linfática – isquemia da mucosa Quando tem aumento da pressão intraluminal, começa a ter isquemia (pressão dentro do apêndice supera a pressão de perfusão capilar). Isquemia após um tempo causa a gangrena, necrose e perfuração. ▪ Inflamação do peritônio subjacente – dor parietal localizada no quadrante inferior direito Com o tempo vai progredindo, começa visceral mal definida (dor epigástrica, periumbilical) e depois ela vai localizando (migratória) devido a irritação do peritônio e se localiza no quadrante inferior direito. ▪ O quadro pode ser bastante variável ▪ Perfuração, tipicamente, após 48h do início dos sintomas – geralmente antes de perfurar vai criando uma reação inflamatória, e o próprio omento vai tentando bloquear. Quando perfura o abscesso caba sendo envolvido pelo intestino delgado e omento evitando uma peritonite difusa. ▪ Raro ocorrer perfuração livre do apêndice – Peritonite e choque séptico (múltiplos abscessos intraperitoneais) É difícil ocorrer uma peritonite difusa. ▪ Diagnóstico diferencial de quase todas as causas de dor abdominal ▪ História clínica + Exame físico ▪ Regra útil – nunca colocar apendicite abaixo de segundo no diagnóstico diferencial de dor Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso I – Out. 2022 2 abdominal aguda em pessoa anteriormente saudável Sempre considerar apendicite como possibilidade, por mais atípico que seja. O tratamento da apendicite na grande maioria é cirúrgico. - SINAIS E SINTOMAS: ▪ Dor periumbilical – depois vai migrar ▪ Anorexia – geralmente perde o apetite. Ajuda a diferenciar, por exemplo, em mulheres com doença inflamatória pélvica. Mas também terão casos onde o paciente sente fome. A falta de fome não é obrigatória e não é um critério de exclusão. ▪ Náuseas e vômitos ▪ Localização da dor posteriormente – Quadrante inferior direito ▪ Dor migratória – sintoma mais confiável e marcante da apendicite aguda. Mesmo que não tiver esse tipo de sintoma, não deve descartar. ▪ Febre – crianças e idosos as vezes não têm febre ▪ Sintomas urinários – se tiver encostado na bexiga, pode causar dor irritativa. ▪ Íleo adinâmico (paralisia funcional do íleo) até a ausência de movimentos intestinais (íleo paralitico completo) – o movimento peristáltico vai diminuindo até parar ▪ Diarreia – no início da apendicite o SN pode ficar um pouco mais estimulado e ter a diarreia. Mas com a evolução do quadro vai haver diminuição com diminuição dos movimentos peristálticos e/ou paralisia ▪ Obstrução do intestino delgado – devido a paralisia, principalmente em pacientes sem cirurgia prévia ▪ Febre baixa ▪ Ruídos hidroaéreos reduzidos – relacionado com a diminuição dos movimentos peristálticos ▪ Sensibilidade focal com retraimento voluntário no ponto de Mc Burney (fossa ilíaca direita) ▪ Apêndice móvel (360° ao redor do cedo) – variedade de sintomas - SINAIS DA APENDICITE: ▪ Dor e sensibilidade ao tossir – Sinal de Dunphy ▪ Dor no quadrante inferior direito ao palpar o quadrante inferior esquerdo – Sinal de Rovsing ▪ Dor com rotação interna do quadril – Sinal do Obsturador (inflamação do apêndice pélvico) ▪ Dor com extensão do quadril direito – Sinal do Iliopsoas (inflamação do apêndice retrocecal – começa a ter irritação do músculo) - Apêndice Pélvico – sensibilidade mínima no abdome – pode ter sintomas com o toque retal - Perfuração – dor difusa, mais intensa, irritação peritoneal difusa, rigidez abdominal, febre Após perfuração imediata – alívio da dor momentâneo e rápido. Logo quando perfura a pressão alivia. Mas depois a dor retorna. - EXAMES COMPLEMENTARES: ▪ Elevação dos leucócitos – 75% neutrófilos ▪ 10% contagem normal ▪ Maior que 20.000 sugere necrose, gangrena ▪ Urinálise para diferenciar pielonefrite ou nefrolitíase ▪ Piúria mínima não exclui apendicite Pode ter alteração em exames urinários, não exclui apendicite com leucócito e piócito na urina. Sempre avaliar com a clínica. Muitas vezes pede o exame de urina para diferenciar de pielonefrite, e pode vir com presença de piúria. Mas isso não exclui apendicite. Pode ocorrer devido a uma irritação da bexiga e do ureter devido ao apêndice estar ao lado e encostar, causando os piócitos na urina, secundária à apendicite. Deve avaliar a clínica. Se o paciente tem Giordano positivo e todos os outros sintomas de pielonefrite, provavelmente será a pielonefrite. Mas, se tiver uma clinica duvidosa e que pode estar relacionada com apendicite, deve suspeitar. Não exclui apendicite a presença da piúria. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso I – Out. 2022 3 ▪ TC – Maior acurácia (95% precisão) US também pode ajudar. Mas TC é melhor e sensibilidade maior – consegue avaliar coleção de pus, espessura de parede do apêndice (espessamento de parede) e os outros órgãos. o Apêndice distendido mais de 7mm de diâmetro o Espessamento circunferencial da parede e realce o Apendicolito – o que está obstruindo o ostio do apêndice o Borramento, gordura, edema, líquido peritoneal, fleimão ou abscesso periapendicular ▪ Laparoscopia podeser diagnóstica em casos de dificuldade com exames radiológicos – a laparotomia/laparoscopia pode ser semiologia para identificar uma possível apendicite quando os exames complementares não confirmam e ainda há dúvida diante do quadro. Laparoscopia – cirurgia por vídeo Laparotomia – cirurgia aberta - DIAGNÓSTICO: ▪ Diagnóstico mais difícil em jovens ou idosos – pode ocorrer de ser tardio com maior risco de perfurações ▪ Necessita exames – USG ou TC Raramente realiza cirurgia sem um exame de imagem, por mais sugestivo que seja o quadro clínico vai se fazer algum exame. ▪ Neonatos – achados não focais (letargia, irritabilidade e anorexia) Nos bebês o US útil para diferenciar com estenose do piloro – é um quadro de abdome agudo em bebês - DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: ▪ Crianças com idade pré-escola – diferenciar de intussuscepção (alça invagina para dentro dela mesma), diverticulite de Meckel e Gastroenterite aguda – USG/tomografia e reavaliação ▪ Crianças em idade escolar – diferenciar de linfadenite mesentérica (infecções entéricas – USG evidencia linfonodos mesentéricos hipertrofiados normalmente secundário a algum processo infeccioso, espessamento ileal e apêndice normal) e doença inflamatória intestinal em crianças (é raro, mas pode ser diagnostico diferencial) ▪ Mulher em idade fértil – maior incidência de falso- positivo (doenças pélvicas podem mimetizar – DIP, abscesso tubo ovariano, ruptura cisto ovariano ou torção ovariana e gravidez ectópica), principalmente no meio do ciclo lembrar da ovulação – realizar USG. Na doença inflamatória pélvica é normalmente causada por Gonococo e Clamídia, causa inflamação na tuba e no peritônio que pode dar abscesso, simula uma apendicite quando em fase aguda. Clinicamente é difícil de diferenciar, normalmente faz tomografia. ▪ Gestantes – localização da dor pode variar pois apêndice deslocado para quadrante superior direito pelo útero gravídico – USG ou RNM Em gravidas a apendicite está associada a um aumento na taxa de morte fetal. Peritonite aumenta significativamente a taxa de perda fetal. Devido a isso, mesmo a gestante precisa operar nestes casos. A apendicite é a doença cirúrgica não obstétrica mais comum de abdome durante a gravidez. ▪ Idosos – atípico o Febre incomum, contagem de leucócitos pode ser normal e pode não apresentar dor em fossa ilíaca direita. o 50% são incorretamente diagnosticados – devido a isso diagnóstico tardio e maior chance de complicações o Alta taxa de perfuração – devido ao atraso de diagnostico o Diferenciar de diverticulite (mais comum lado esquerdo, mas pode ocorrer do lado direito também) e obstrução tumoral - ANAMNESE + EXAME FÍSICO + LABORATORIO (80%) Mesmo com os 80% de certeza do diagnóstico, realiza os EXAMES DE IMAGEM – USG ou TC – para ter certeza. LAPAROSCOPIA/LAPAROTOMIA DIAGNÓSTICA – em casos onde exame de imagem não consegue diagnosticar e dar 100% de certeza. Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso I – Out. 2022 4 Na imagem acima: Paciente com dor abdominal aguda, probabilidade de ser apendicite. Quando Alta chance, encaminha para operar – teoricamente está habilitado à operar, mas na maior parte das vezes ainda faz um exame de imagem para confirmar. Quando chance Intermediária – realiza exame de imagem para confirmar e depois operar, mas se não confirmar dá alta para o paciente. Mas, na prática, se está com suspeita de apendicite, dificilmente dará alta para esse paciente. Se chance Baixa – ou vai acompanhar o paciente ou vai fazer exames complementares. Na imagem acima: Tomografia com apendicite. Indicado com a seta. Consegue identificar a espessura aumentada e distendido (luz do apêndice quase do tamanho do intestino delgado). Coleção de pus ao redor. - TRATAMENTO: Maioria dos pacientes o tratamento é com remoção cirúrgica imediata do apêndice (todos os pacientes praticamente). A apendicite é um processo de inflamatório e infeccioso, devido a isso ele precisa receber Antibiótico pré- operatório e pós-operatório. É uma cirurgia infectada. Quando Apêndice sem alterações – geralmente remoção do apêndice e pesquisa completa de outras causas – deve avaliar toda a cavidade abdominal, intestino delgado, mesentério, pelve, etc. para pesquisar outras causas. Na imagem acima: Cirurgia aberta – Laparotomia Faz uma “bolsa de tabaco” com o coto do apêndice e joga para dentro da luz do intestino. Na imagem acima: Principais bactérias anaeróbias e aeróbias. B. fragilis (anaeróbia) e E. coli (aeróbia) são as mais comuns. ▪ Apendicite Simples – Apendicectomia ▪ Abscesso – se tiver deve drenar ▪ Antibiótico sistêmico ▪ Alguns pacientes recuperam (o processo obstrutivo do apêndice desapareceu) e podem ser tratados ambulatorialmente – 2/4 semanas após agenda uma colono (excluir outras causas do quadro, como neoplasia ou colite) – remoção 6/8 semanas após com laparoscopia Tratamento ambulatorial é exceção. Maior parte dos pacientes que não operam e tratam em casa, voltam depois com apendicite aguda. ▪ Taxa de mortalidade – <1% ▪ Morbidade maior em perfurações ▪ 5% ocorre abscesso da ferida Ana Clara Aguilar de Almeida – Atenção Integral à Saúde do Adulto e do Idoso I – Out. 2022 5 ▪ Complicações – abscessos, obstrução do intestino delgado, risco de infertilidade (principalmente em mulheres por gerar aderência nas trompas), fistulas apendicocutâneas
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