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Fundamentos Metodológicos do Ensino de Ciências Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Wanderli Cunha de Lima Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Metodologia de Ensino • Teorias da Aprendizagem; • Projeto Educativo; • Ciências como Investigação; • Aprender Ciências. • Reconhecer e compreender como as teorias e metodologias associadas favorecem o processo de ensino-aprendizagem de Ciências. OBJETIVO DE APRENDIZADO Metodologia de Ensino Orientações de estudo Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua formação acadêmica e atuação profissional, siga algumas recomendações básicas: Assim: Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e horário fixos como seu “momento do estudo”; Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo; No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam- bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados; Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus- são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e de aprendizagem. Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Mantenha o foco! Evite se distrair com as redes sociais. Determine um horário fixo para estudar. Aproveite as indicações de Material Complementar. Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma Não se esqueça de se alimentar e de se manter hidratado. Aproveite as Conserve seu material e local de estudos sempre organizados. Procure manter contato com seus colegas e tutores para trocar ideias! Isso amplia a aprendizagem. Seja original! Nunca plagie trabalhos. UNIDADE Metodologia de Ensino Teorias da Aprendizagem Segundo a Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional – Lei 9.394/96, em seu artigo 13, inciso III, cabe ao professor “zelar pela aprendizagem dos alu- nos”. Isso quer dizer: promover um ensino que privilegie a aprendizagem. Para tanto, cabe ao professor a responsabilidade do ensino com vistas à eficácia da aprendizagem dos alunos, percebendo que a escola não é um espaço de ensaios pedagógicos. Nesse sentido, Bizzo (2009) alerta: [...]. Ademais, não se pode entender que o espaço da sala de aula seja essencialmente experimental, no sentido de admitir qualquer tipo de resul- tado. Ao contrário, o espaço escolar é o mais privilegiado em relação à cer- teza da aprendizagem revestida de toda sorte de zelo. (BIZZO, 2009, p. 16) E para desempenhar sua função docente, o professor necessita de um aporte teórico que oriente suas ações ao ensinar. Não pretendemos nesta unidade nos ater às te- orias de aprendizagem, apenas as referenciamos a fim de situar sua importância para o desenvol- vimento da função docente. Então, as teorias de aprendizagem apresentam-se como verdadeiros depósitos de ideias sobre como se dá a aprendizagem dos indivíduos. Contudo, o professor deve conhecer o que há por detrás de cada uma dessas teorias, refletir sobre seus pontos positivos e negativos, para que possa utilizá-las de modo a contribuir para com o trabalho pedagógico a ser desenvolvido. Podemos dizer que as teorias de aprendizagem apresentam diversos modelos na busca de justificar os caminhos pelo qual o indivíduo concretiza suas aprendiza- gens, procurando reconhecer o que está envolvido no ato de ensinar e aprender. Tradicionalmente, o ensino de Ciências baseia-se na transmissão de conceitos. Entretanto, as demandas formativas da nossa sociedade trazem consigo a necessi- dade de se ensinar ciências não somente na sua dimensão conceitual, mas também nas suas dimensões procedimental e atitudinal. Essa orientação já estava explícita nos Parâmetros Curriculares Nacionais de 2001: [...]. O ensino de qualidade que a sociedade demanda atualmente expres- sa-se aqui como a possibilidade de o sistema educacional vir a propor uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas, eco- nômicas e culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem. (BRASIL, 2001a, p. 33) 8 9 Mais recentemente, a Base Nacional Comum Curricular reforçou a importân- cia do aprendizado em Ciências como relevante para que o estudante amplie o sentimento de que pode participar ativamente da nossa sociedade. Tanto é que o desenvolvimento de uma cultura que inclua a modalidade científica e tecnológica permeia as competências gerais da educação básica nesse documento, inclusive para o ensino infantil (BRASIL, 2017). Projeto Educativo Para que se possa garantir a formação dos alunos de modo a contribuir com sua inserção no meio social, faz-se necessário que a escola apresente uma organização que seja eficaz no cumprimento desse propósito. Figura 1 Para tanto, a escola não pode ser vista e tratada como um espaço de trabalho individualizado, antes deve privar por “uma organização com objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação coordenada de seus diversos profissionais” (BRASIL, 2001a, p. 48). Estamos falando de uma construção coletiva e permanente entendida como Pro- jeto Educativo. Nesse processo, o trabalho é pensado de acordo com as necessida- des particulares de cada escola, abrindo-se espaço para determinar metas e refletir sobre os meios para atingi-las, tendo, por fim, a formação coerente dos alunos ao longo da escolaridade (BRASIL, 2001a). Isso demanda planejamento, trabalho em equipe, trocas de ideias e reflexão co- letiva. “A contínua realização do projeto educativo possibilita o conhecimento das ações desenvolvidas pelos diferentes professores, sendo base de diálogo e reflexão para toda a equipe escolar” (BRASIL, 2001a, p. 49). 9 UNIDADE Metodologia de Ensino Importante! Com a implantação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a partir de 2018, esse papel das escolas na construção de um currículo ganhou destaque, pois essas “precisam elaborar propostas pedagógicas que considerem as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes, assim como suas identidades linguísticas, étnicas e culturais” (BRASIL, 2017, p. 15). Importante! Outra novidade inserida pela BNCC é a de que agora as habilidades – o saber fazer associado a um objeto de conhecimento (o “conteúdo”) estão descritos em base anual. A orientação curricular anterior, os Parâmetros Curriculares Nacionais, da década de 1990, orientavam o desenvolvimento do conteúdo em quatro ciclos compostos por dois anos cada (BRASIL, 2001a). Essas novas orientações reforçam ainda mais a necessidade de elaboração de um projeto com metas bem claras e compreendidas pelo professor. Portanto, nesse contexto, fica destacada a questão: como ensinar e aprender Ciências na escola partindo dessa visão de Projeto Educativo? Como já citado, inicialmente os professores devem definir quais são as metas a atingir em cada ano de ensino, vislumbrando a apreensão do conhecimento cientí- fico por parte dos alunos. Mas como ensinar Ciências para as crianças? Quando as crianças entram na escola, o maior anseio delas – assim como de seus responsáveis – é se apropriarem dos conhecimentos acadêmicos, pois, desde muito pequenas, já reconhecem o valorsocial da educação formal. Ensinar Ciências demanda os mesmos cuidados que ensinar Matemática ou alfa- betizar. Todavia, o ensino de conceitos científicos permite – se realizado de modo a favorecer o processo de aprendizagem – a ampliação de saberes que contribuem, também, com outras áreas do conhecimento. Um dos cuidados que o professor deve ter ao ensinar Ciências é o de aproximar o aluno desse conhecimento forman- do uma imagem positiva das ciências. É nos anos iniciais do Ensino Fundamental que as crianças entram em contato, pela primeira vez, com certos conceitos científicos, sua aprendizagem subsequente depende muito desse primeiro contato. Assim como em outras áreas do conheci- mento, também em Ciências, dependendo da experiência vivida nesse primeiro contato com o conhecimento, o aluno poderá desenvolver simpatia ou aversão pela disciplina. Então, se for uma experiência prazerosa de aprendizagem e descoberta, o aluno terá maior probabilidade de ser “bom” ou de “gostar” dessa disciplina. O contrário também é verdadeiro, se, no seu primeiro contato, ele se deparar com textos des- conectados com sua realidade, além de seu alcance de compreensão; ou, ainda, 10 11 se tiver uma cobrança exacerbada sobre as atividades com a intenção de mera reprodução do conteúdo, certamente ele desenvolverá aversão à Ciência ensinada na escola. Podemos afirmar que várias são as formas de se ensinar e aprender Ciências na escola. Como citado na unidade anterior, as crianças trazem consigo o conhe- cimento espontâneo, o qual deve ser confrontado de modo que avance para o conhecimento científico. Isso pode ser realizado através da problematização ou da busca de informações – através da observação, da experimentação e da leitura de textos informativos. Ainda podemos considerar como mais uma alternativa de ensino de Ciências para as crianças o desenvolvimento de projetos de estudo, pois esses se inserem nos processos de produção e apropriação do conhecimento. Com a globalização, o advento da internet e o avanço científico e tec- nológico, a necessidade de repensar as relações professor-aluno-objeto do conhecimento é uma constante. Nesse contexto, ressurge o trabalho com projetos, já vivenciado na década de 1960, mas com proposta dife- renciada. Esse trabalho, além de favorecer a construção da autonomia e da autodisciplina, pode constituir-se num processo de aprendizagem mis dinâmico, significativo e interessante para quem aprende, minimizando a imposição dos conteúdos de maneira autoritária. (PORTO, RAMOS; GOULART, 2009, p. 59) O trabalho com projetos viabiliza a inserção de temas pertinentes à realidade dos alunos, os quais podem ser escolhidos e definidos por eles. Também favorece o desenvolvimento de um trabalho interdisciplinar ampliando as possibilidades de estudo, pois articula os diferentes conteúdos da área de ciências naturais com ou- tras áreas do conhecimento. Propicia ainda a interação entre os alunos (PORTO; RAMOS; GOULART, 2009). O projeto é uma estratégia de trabalho em equipe que favorece a ar- ticulação entre os diferentes conteúdos da área de Ciências Naturais e desses com os de outras áreas do conhecimento, na solução de um dado problema. Conceitos, procedimentos e valores apreendidos durante o desenvolvimento dos estudos das diferentes áreas podem ser aplicados e conectados, ao mesmo tempo que novos conceitos, procedimentos e valores se desenvolvam. (BRASIL, 2001a, p. 126). É necessário pensar num pluralismo metodológico no ensino de Ciências, con- siderando os recursos pedagógicos, tecnológicos e os conhecimentos científicos que devem ser ensinados na escola. Da mesma forma, proporcionar atividades que coloquem os alunos em contato direto com o conhecimento científico, levando- -os a construir esse conhecimento contando com a mediação do professor. O que significa conduzi-los na construção do seu conteúdo conceitual, a partir das opor- tunidades de argumentação, ao invés da aceitação passiva de conceitos e respostas definidas pelo professor em uma visão fechada das ciências (CARVALHO, 2004). 11 UNIDADE Metodologia de Ensino Ciências como Investigação Falar de Ciências como investigação é dar ao professor um papel essencial na proposta de ensino. Isso porque trabalhar com investigação não é algo simples, ao contrário, demanda um planejamento estratégico por parte do professor, tornando- -o figura-chave no desenvolvimento das atividades. Isso significa romper com o ensino tradicional de aulas expositivas com cópias e explicações por parte do professor. Implica o desenvolvimento de uma metodologia que possibilite o desenvolvimento da autonomia dos alunos, que os conduza à coo- peração entre seus pares e leve-os a reconhecer o erro como parte da construção do conhecimento. Figura 3 Fonte: Getty Images Isso significa levar o aluno a refletir, discutir, explicar e relatar sobre o objeto em questão; produzindo seu próprio conhecimento a partir da sua interação entre o fazer, o pensar e o sentir. Criar alunos autônomos, que saibam pensar, tomar as próprias decisões e estudar sozinhos, é uma das metas do ensino. Muito se tem falado que um dos principais objetivos da escola é levar o aluno a aprender a aprender, mas para alcançar esse objetivo é necessário redefinir as relações professor-aluno na sala de aula. [...]. Quando o professor leva seus alunos a pensarem por si mesmos e a cooperarem sem coerção, ele os ajuda a construir suas próprias razões morais e, portanto, sua autonomia. (CARVALHO et al., 2009, p. 27) A autonomia intelectual decorre da autonomia moral, o que quer dizer que so- mente quando as crianças atingem o nível de responsabilidade partilhada – a res- peito das regras de convivência – poderão, também, tornarem-se corresponsáveis por seu aprendizado. Quando os alunos alcançam a autonomia moral, são capazes de realizar traba- lhos em cooperação. A respeito do desenvolvimento de trabalho em cooperação entre os alunos, verificamos que esse também se opõe ao ensino tradicional, no qual as interações se dão exclusivamente entre professor-aluno. 12 13 Assista ao vídeo no link a seguir para verificar como uma aula de Ciências pode auxiliar no desenvolvimento de sua autonomia moral. Aproveite para verificar qual é a sequência de ações didáticas que levam o aluno a uma investigação científica em sala de aula. Disponível em: https://youtu.be/Z8vjgCPbjaQ Ex pl or Numa perspectiva construtivista de ensino e aprendizagem, a relação aluno- -aluno é um importante instrumento para o desenvolvimento da racionalidade e dos conteúdos metodológicos e atitudinais (CARVALHO et al., 2009). Aprender a ouvir, a considerar as ideias de outro colega não é só, do ponto de vista afetivo, um exercício de descentralização; é também, do ponto de vista cognitivo, um momento precioso de tomada de consciên- cia de uma variedade de hipóteses diferentes sobre o fenômeno discutido. Nessa situação de diálogo, os alunos são ainda estimulados por desafios a suas ideias, reconhecendo a necessidade de reorganizá-las e conceitua- -las. (CARVALHO et al., 2009, p. 29) Assim sendo, compartilhar ideias em grupo ou coletivamente dentro da sala de aula estimula a habilidade de argumentação, a qual é muito importante na educa- ção científica. N ão basta, porém, que os alunos interajam para se apropriarem de novos sabe- res, é preciso que a atividade seja planejada e acompanhada pelo professor. Portan- to, cabe ao professor criar um clima favorável e estar atento aos acontecimentos em sala de aula para que se efetive esse aprendizado. Nessa perspectiva, o professor poderá observar e intervir nos momentos em que surgir algum problema ou dúvida, ou ainda fazer intervenções que aproximem os alunos do conhecimento científico, dando ao erro um lugar de destaque no que diz respeito à produção do conheci- mento. E, ainda, abrir espaço para o desenvolvimento afetivo. Aspectos do desenvolvimento afetivo, dos valores e das atitudes tambémmerecem atenção ao se estruturar a área de Ciências Naturais, que deve ser concebida como oportunidade de encontro entre o aluno, o professor e o mundo, reunindo os repertórios de vivências dos alunos e oferecendo- -lhes imagens, palavras e proposições com significados que evoluam, na perspectiva de ultrapassar o conhecimento intuitivo e o senso comum. (BRASIL, 2001b, p. 32) Por muito tempo, o erro foi visto como algo negativo na produção do conheci- mento escolar. Segundo Luckesi (2002), “o erro não é fonte de castigo, mas suporte para o crescimento”. Hoje, a proposta de trabalho é a de transformar o erro em situações de aprendizagem. Todavia, não é uma tarefa fácil a se realizar. Primeiro, porque muitos professores ainda detêm a concepção de que o erro nunca deveria aparecer e, se isso acontecer, a correção imediatamente deve ser feita apontando o certo e o errado. Segundo, porque trabalhar com os erros dos alunos exige do professor a capacidade de intervir, fazendo 13 UNIDADE Metodologia de Ensino bons questionamentos – ou, boas perguntas – que suscitem conflitos cognitivos nos alunos a fim de dar-lhes condições de se apropriarem de novos conhecimentos e, assim, superarem o erro (CARVALHO et al., 2009). Assim, para concebermos um projeto de ensino investigativo, que considere os conhecimen- tos dos alunos e propicie um cenário de efetivo aprendizado, precisamos nos ater inicialmen- te mais detalhadamente à seguinte questão: o que é aprender Ciência? Ex pl or Aprender Ciências O que é aprender Ciências? Na unidade anterior, nos referimos à Ciência Escolar como aquela que deve ser ensinada nas escolas. Retomaremos essa definição para respondermos a essa pergunta: Este “fazer ciência” na Educação Básica não significa que se queira cons- truir conhecimentos científicos em sala de aula nem que os estudantes desenvolvam novas teorias científicas, mas, sim, que alguns aspectos da cultura científica estejam inseridos no cotidiano de trabalho dos estudan- tes. (BRICCIA, 2013, p. 116) Em outras palavras, deixamos claro aqui que aprender Ciência não é a expectati- va que o aluno produza algo cientificamente novo. Tampouco, pretende-se que ele reproduza, por recorrer à memória, conceitos científicos sem a compreensão mais profunda dos seus significados e da forma como foram produzidos. Você já pensou na ciência como uma cultura? Já conhecia a expressão “cultura científica”? Veja os que os autores Delizoicov, Angotti e Pernanbuco (2011, p. 34) nos levam a refletir sobre isso: Se solicitarmos exemplos de manifestações e produções culturais, certamente serão citados: música, teatro, pintura, literatura, cinema...A possibilidade de a ciência e a tecnologia estarem explicitamente presentes numa lista dessa natu- reza é muito remota! Ex pl or Então, quais são esses aspectos da cultura científica mencionada por Briccia (2013) que pretendemos desenvolver em nossos alunos? Essa cultura científica é “sócio historicamente determinada, submetida a pres- sões internas e externas, com processos e resultados pouco acessíveis, e por isso, passíveis de usos de compreensão acríticos e ingênuos” (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNANBUCO, 2011, p. 34). Por isso a necessidade de ser apropriada e entendi- da por um número maior de pessoas por meio da educação. 14 15 Já Sasseron e Carvalho (2011, p. 61) definem a cultura científica em seu con- texto escolar, pois pretendem que no aprendizado de Ciências os alunos assimilem: [...] uma nova forma de ver o mundo e seus acontecimentos, podendo modificá-los e a si próprio através da prática consciente propiciada por sua interação cerceada de saberes de noções e conhecimentos científicos, bem como das habilidades associadas ao fazer científico. Recorreremos à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para exemplificar- mos nossa linha de argumentação. Iniciando com uma contextualização sobre a importância do acesso à cultura científica: A sociedade contemporânea está fortemente organizada com base no desenvolvimento científico e tecnológico. Da metalurgia, que produziu ferramentas e armas, passando por máquinas e motores automatizados, até os atuais chips semicondutores, ciência e tecnologia vêm se desenvol- vendo de forma integrada com os modos de vida que as diversas socieda- des humanas organizaram ao longo da história. No entanto, o mesmo desenvolvimento científico e tecnológico que re- sulta em novos ou melhores produtos e serviços também pode promover desequilíbrios na natureza e na sociedade. (BRASIL, 2017, p. 321) E agora, no trecho a seguir, sobre o que o aluno pode fazer com essa cultura: Para debater e tomar posição sobre alimentos, medicamentos, combus- tíveis, transportes, comunicações, contracepção, saneamento e manu- tenção da vida na Terra, entre muitos outros temas, são imprescindíveis tanto conhecimentos éticos, políticos e culturais quanto científicos. Isso por si só já justifica, na educação formal, a presença da área de Ciências da Natureza, e de seu compromisso com a formação integral dos alunos. (BRASIL, 2017, p. 321) Assim, se aprender ciências é assimilar, para desenvolver essa nova cultura che- gamos às mais recentes ou predominantes visões sobre o como aprendê-la: a alfa- betização ou o letramento científico. Importante! Embora a BNCC utilize o termo letramento científico, não há consenso definido en- tre os pesquisadores, de maneira que é possível encontrar também a denominação de alfabetização científica. Veja o trabalho de Sasseron e Carvalho (2011) indicado nas Referências, ao final desta unidade, para uma revisão sobre o tema. Você Sabia? 15 UNIDADE Metodologia de Ensino Já apresentamos a você, na Unidade anterior, a definição oficial da BNCC sobre o letramento científico. Inclusive, nos Materiais Complementa- res, indicamos um vídeo, no qual a Profª. Luciana Hubner explica esse conceito. Recomendamos que você reveja esse conteúdo, agora pensando sobre o aspecto de metodologia de ensino. E como a Ciência, agora vista como um processo de investigação, pode atuar na aprendizagem? Assumiremos, como Briccia (2013), que o professor, ao criar opor- tunidades para o aluno participar e refletir sobre investigações científicas, possibi- lita não somente um melhor aprendizado do conteúdo ao seu aluno, mas faz com que esses insiram alguns aspectos da cultura científica em seus cotidianos. Ainda, assumimos também que aprendizagem não é estanque, nem imóvel e, em sala de aula, o professor deve estar preparado para flexibilizar o ensino a fim de favorecer a aprendizagem dos alunos – conforme detalhamos amplamente na unidade anterior, ao falarmos sobre os enfoques no ensino de Ciências. Com isso, é possível desenvolver a autonomia dos alunos, a interação e a cooperação entre eles e criar uma cultura de disponibilidade para aprender. Para que se atinja esse objetivo, o professor precisa organizar o processo de ensino baseado em metodologias que possibilitem uma boa organização do tempo e dos espaços, resultando na apreensão dos conteúdos, tanto conceituais como os atitudinais e procedimentais. 16 17 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites LAPEF Laboratório De Pesquisa e Ensino de Física Comece a explorar a página do LAPEF Laboratório De Pesquisa e Ensino de Física da Faculdade de Educação da USP. Essa página tem grande quantidade de material pedagógico, trabalhos e artigos relacionados não somente ao ensino de Física, mas para várias questões do ensino de ciências. É o laboratório fundado pela Profa. Dra. Anna Maria Pessoa Carvalho, renomada pesquisadora da área. Destaque para os vídeos de aulas filmadas sobre o Conhecimento Físico, disponíveis no link de Recursos Audiovisuais. http://bit.ly/2uVWDnk Espaço Ciência Viva Para ter acesso a muito material sobre cultura científica e suas implicações para o ensino, explore a página do projeto Página do Espaço Ciência Viva, conduzido por um grupo formado por cientistas,pesquisadores e educadores do Rio de Janeiro, interessados em tornar a Ciência mais próxima do cotidiano do cidadão comum. Destaque para o link: Investigue e aprenda. Toda a página tem ampla quantidade de material e links interessantes. http://bit.ly/2V4ADkO Livros Ensinar a Ensinar: Didática para a Escola Fundamental e Média Para conhecer um pouco sobre a formação do professor para o ensino de Ciências, recomendamos a leitura do capítulo O Saber e o Saber Fazer do professor, de autoria dos pesquisadores Anna Maria Pessoa Carvalho e Daniel Gil Perez, disponível no livro Ensinar a ensinar: didática para a escola fundamental e média, organizado por Amelia Domingues de Castro e Anna Maria Pessoa Carvalho. Publicado em 2001, mas com discussões ainda atuais e relevantes. O título é um e-book e está disponível na sua área de Aluno, link da Biblioteca, serviço Minha Biblioteca. Vídeos O Ensino de Ciências Para conhecer um pouco mais sobre o ensino de Ciências, acesse o endereço a seguir e veja o vídeo que retrata as dificuldades e as possibilidades do ensino de Ciências na educação básica. https://youtu.be/qX1VFlYvh6o 17 UNIDADE Metodologia de Ensino Referências BIZZO, N. Mais ciência no ensino fundamental: metodologia de ensino em foco. São Paulo: Editora do Brasil, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução. v.1. 3. ed. Brasília, DF: MEC, 2001a. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria do ensino Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: ciências naturais. v.4. 3. ed. Brasília, DF: MEC, 2001b. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Base Nacional Comum Curricular. 3. versão. Brasília: MEC, 2017. BRICCIA, V. Sobre a natureza da Ciência e o ensino. In: CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. (org.). Ensino de ciências por investigação: condições para implemen- tação em sala de aula. São Paulo: Cengage Learning, 2013. p. 111-128 CARVALHO, A. M. P. de. (org.). O ensino de ciências: unindo a pesquisa e a prática. São Paulo. 2004. ________. et al. Ciências no ensino fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 2009. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNANBUCO, M. M. Ensino de ciências: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2011 LUCKESI, C. Avaliação da aprendizagem escolar. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2002. PORTO, A.; RAMOS, L.; GOULART, S. Um olhar comprometido com o ensino de ciências. Belo Horizonte: Editora FAPI, 2009. SASSERON, L. H.; CARVALHO, A. M. P. de. Alfabetização científica: uma revisão bi- bliográfica. Investigações em Ensino de Ciências, v. 16, n. 1, p. 59-77, 2011. Dispo- nível em: <https://www.if.ufrgs.br/cref/ojs/index.php/ienci/article/view/246/172>. Acesso em: 21 jan. 2020. 18
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