Buscar

Livro - Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza (1)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 342 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 342 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 342 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FUNDAMENTOS DOS ESPORTES 
DE AVENTURA E DA NATUREZA
Dimitri Wuo Pereira
E
d
u
ca
çã
o
F
U
N
D
A
M
E
N
T
O
S
 D
O
S
 E
S
P
O
R
T
E
S
 
D
E
 A
V
E
N
T
U
R
A
 E
 D
A
 N
A
T
U
R
E
Z
A
D
im
itr
i W
uo
 P
er
ei
ra
Curitiba
2020
Fundamentos dos 
Esportes de Aventura e 
da Natureza
Dimitri Wuo Pereira
Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael.
P436f Pereira, Dimitri Wuo
Fundamentos dos esportes de aventura e da natureza / Dimitri 
Wuo Pereira. – Curitiba: Fael, 2020.
340 p. il.
ISBN 978-65-86557-16-9
1. Esportes radicais I. Título
CDD 796.046
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
FAEL
Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo
Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona
Revisão Editora Coletânea
Projeto Gráfico Sandro Niemicz
Imagem da Capa Shutterstock.com/CC7
Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo
Sumário
Carta ao Aluno | 5
1. Conceituação da aventura: lazer, esporte e 
educação – aspectos históricos | 7
2. Meio ambiente e diversidade: o papel 
da educação física | 31
3. Aventura e preservação do meio ambiente | 61
4. Aventura – reconhecendo os espaços de 
prática para preservá-los | 93
5. Gestão de risco e perigo na aventura | 121
6. Aventura na Base Nacional Comum Curricular | 151
7. Pedagogia da aventura: o contexto escolar | 179
8. A prática da aventura nos espaços urbanos | 209
9. A prática da aventura na natureza | 245
10. Tendências do mercado de aventura para o 
profissional de Educação Física | 279
Gabarito | 311
Referências | 317
Prezado(a) aluno(a),
A obra Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natu-
reza vem ao encontro das necessidades dos profissionais de Edu-
cação Física em entender o fenômeno da aventura, que a cada dia 
se incorpora ao universo da cultura corporal.
O objetivo dessa obra é trazer informações e promover a 
reflexão sobre a aventura, desde seu conceito, sua relação com a 
preservação ambiental, os riscos da prática, suas modalidades, suas 
técnicas e procedimentos de segurança, as metodologias de ensino 
e a inserção na educação física escolar, no esporte e no lazer.
Carta ao Aluno
– 6 –
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
A aventura, principalmente, no início do século XXI, começou a 
ser estudada pela área de Educação Física, pois há crescente demanda 
por conhecimento e qualificação de pessoas. Os estudos da aventura têm 
caráter interdisciplinar e envolvem também os conhecimentos sobre Meio 
Ambiente, Turismo, Educação, Fisiologia, Biomecânica, entre outros, 
gerando um entrelaçamento de saberes.
O leitor poderá perceber que as informações do texto estão atualiza-
das e contextualizadas, podendo servir como ponto de partida para estudo 
e atualização.
Convido-o à leitura e reflexão crítica sobre a aventura, acreditando 
no avanço desse conhecimento para os profissionais de Educação Física.
1
Conceituação da 
aventura: lazer, 
esporte e educação – 
aspectos históricos 
A aventura, no início do século XX, está se tornando uma 
expressão comum na linguagem e na vida das pessoas. Não que 
ela seja um fenômeno novo, afinal, aventureiros exploravam os 
mares, as montanhas, os rios, as cavernas, as ilhas, as florestas, 
os ares e até a Lua desde milhares de anos.
Nos últimos tempos, a aventura tem estado mais próxima de 
todas as pessoas, nos noticiários da mídia, nas praças, nas praias, 
nas ruas, nas propagandas, na internet ou nas conversas entre 
amigos, a aventura está se popularizando entre nós.
Pretende-se, neste capítulo, mostrar como foi essa evolu-
ção e disseminação da aventura na sociedade, apontando alguns 
caminhos que ela percorreu até chegar cada vez mais próxima 
das pessoas, mesmo daquelas que costumavam evitar os desafios, 
por considerá-los muito perigosos.
Essa caminhada começa com o significado do termo e segue 
para os momentos históricos, procurando revelar como as pes-
soas utilizam a aventura no seu dia a dia, deixando claro que, 
principalmente na área da Educação Física, ainda há lacunas a 
serem preenchidas sobre sua conceituação.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 8 –
1.1 Adventura 
O minidicionário Aurélio nos informa que o termo aventura provém 
do latim, adventura ou ad venture, e é um substantivo masculino com os 
seguintes significados: “1. Empresa ou experiência arriscada. 2. Aconte-
cimento imprevisto, peripécia. 3. Ligação amorosa inconsequente” (FER-
REIRA, 2010, p. 82). Essa definição inicial contém os sentidos sintéticos 
da palavra, primeiro por identificar um fenômeno como substantivo, ou 
seja, dar nome a algo que o ser humano pode conhecer e, em segundo 
lugar, por mostrar que a vivência da aventura envolve arriscar-se em algo 
desconhecido, estabelecendo algum tipo de proeza e que pela emoção 
forte é apaixonante.
A aventura compreende o desafio de ir ao encontro do inesperado, 
do misterioso e da descoberta, de algo que pode estar fora ou dentro de si 
mesmo (como os medos, por exemplo), daquilo que está por vir e que não 
sabemos o que é até que nos atiremos na jornada.
Pereira, Armbrust e Ricardo (2008, p. 28) dizem que o sentido da 
aventura: “[...] liga-se ao sentimento de buscar algo que não é tangível 
num primeiro momento, que é muito comum aos praticantes de atividades 
na natureza, principalmente aquelas onde a distância, o clima, o esforço 
físico, a privação e a incerteza estão presentes”.
Quando se pesquisa em sites de busca na internet, é possível encon-
trar que a aventura tem os seguintes conceitos: Feito extraordinário. Faça-
nha. Caso inesperado que merece ser relatado. Destino. Acaso (LÉXICO, 
2020; PRIBERAM, 2020). Em todos eles, são encontrados os mesmos 
sentidos já apresentados no dicionário Aurélio, e ainda que a sorte está 
presente, bem como a necessidade de um feito heroico estar associado a 
um aventureiro ou uma aventureira. Percebe-se que falar de aventura é 
dialogar sobre sentimentos relacionados às emoções que as pessoas vivem 
em situações inesperadas, perigosas ou entusiásticas.
O termo aventura, em si, não é empregado somente no âmbito das 
atividades físicas ou esportivas, seja no senso comum ou no meio acadê-
mico. Ele é, também, parte das imagens associadas à literatura, aos negó-
cios, aos filmes do cinema, à moda e mesmo ao estilo de vida das pessoas. 
Porém, quando adentramos o âmbito da educação física, do turismo, do 
– 9 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
lazer e de outras áreas correlatas, a aventura começa a ser estudada e defi-
nida de maneira mais sistemática e a busca de um rigor se intensifica.
Talvez possamos afirmar que a aventura compreende a liberdade 
de escolha pelo tipo e nível da atividade em si (mais ou menos 
arriscada, estressante, cansativa) e o componente incerteza, direta-
mente ligado ao desconhecido, ao novo e a recompensas inerentes 
à prática (satisfação, bem-estar, superação, alegria etc.) (MARI-
NHO, 2011, p. 30).
Percebe-se que o entendimento do que vem a ser aventura é impreg-
nado de uma lógica a respeito da incerteza e da novidade que esse fenô-
meno contém em seu interior. Tem-se aqui um ponto de partida para a 
compreensão da aventura para futuros profissionais.
1.2 Outras denominações 
Apesar de possíveis entendimentos semânticos sobre a aventura, seu 
significado vai sendo construído na íntima relação com outros fenômenos 
já conhecidos no universo da educação física, como, por exemplo, a ideia 
de esporte, lazer, jogo, atividade física, natureza, entre outras.
Com base nessas interações, diversos autores propuseram nas duas 
últimas décadas termos que pudessem identificar essas atividades. Caillois 
(1992) ijá apresentava as práticas corporais divididas em quatro formas de 
jogos: agôn (disputa), mimicry (fantasia), alea (sorte e azar) e ilinx (ver-
tigem). Este último representando as práticas de risco e perigo, cujo prin-
cipal objetivo do praticante é expor-sedeliberadamente ao frio na barriga 
proporcionado pela sensação de medo. Trataremos de algumas mais rele-
vantes, já que existem conceitos utilizados em outros países, como Espor-
tes Extremos e Esportes Californianos, que não são comuns na linguagem 
brasileira e também não foram usados pelos principais pesquisadores da 
educação física de nosso país.
 2 Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN): nome 
escolhido por Javier Betrán e Alberto Betrán (2006), autores 
espanhóis que entendem essas atividades como aquelas desti-
nadas a pessoas que querem sentir sensações e emoções, princi-
palmente com caráter recreativo. Eles propagam que as AFAN 
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 10 –
podem ocorrer em três âmbitos: o recreativo, o competitivo e o 
educativo, e que elas têm forte vínculo com a pós-modernidade, 
isto é, com as rupturas culturais que remetem à ressignificação 
do ambiente, em uma aproximação com a natureza e uma rejei-
ção à modernidade que se estruturou na Revolução Industrial.
 2 Atividades de Aventura: usado por Giuliano Pimentel (2013), 
esse conceito foi fundado à luz da indefinição e controvérsia 
entre os diversos temas existentes. Um dos seus aspectos é a 
ligação da aventura com o conceito de lazer e tempo livre, colo-
cando em dúvida seu recorte esportivo, quer seja pela competi-
ção que o esporte carrega em seu bojo, quer seja pelo ambiente 
muito diverso da organização em que a sociedade normalmente 
constrói as práticas corporais tradicionais. A abrangência do 
termo Atividades de Aventura o torna simples de ser incorporado 
à ideia de aventura, o não uso da expressão natureza acaba com a 
confusão entre meio natural e urbano que costuma ocorrer com 
AFAN, por exemplo, usado por Betrán e Betrán. Natureza gera 
uma associação com a noção de corpo físico, dicotomizando o 
ser humano. Pimentel sustenta que a noção de Esportes na Natu-
reza tem coerência quando trata do tema da aventura, porém, 
entende que a maior abrangência de se considerar as Atividades 
de Aventura é pertinente à área de educação física.
 2 Esportes na Natureza: e um conceito defendido por Cleber Dias 
(2007). Baseado nas interpretações possíveis dentro da análise 
sociológica, ele preferiu um termo que não fosse aventura. Ele 
explica que existem diversas formas de dizer aventura, como, por 
exemplo: práticas de deslize, atividades com pranchas, novas prá-
ticas esportivas e até atividades ao ar livre, e que as sensações pro-
vindas das experiências motoras são essenciais para mostrar que 
há diferenças entre os esportes tradicionais e olímpicos e aqueles 
voltados aos riscos e ao contato com a natureza.
Dias (2007) explica que os esportes na natureza normalmente estão 
associados à contracultura, os movimentos hippie, punk, ecológico, etc. 
Ele deixa claro que há diversas formas de se falar sobre esse fenômeno e 
que, apesar da proximidade dos significados, há distinções entre eles, que 
– 11 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
à primeira vista podem passar em branco e que carregam valores funda-
mentais relacionados à cultura da qual provém.
Assim, Dias (2007) chega ao conceito de esportes na natureza, 
opondo-se de algum modo ao que o mundo acadêmico havia proposto 
até então, e olhando da perspectiva dos praticantes que ele pesquisou no 
estado do Rio de Janeiro, muitos deles praticantes de montanhismo, voo 
livre e surfe, e que em sua maioria não utilizam o termo aventura. Dessa 
forma, Dias (2007) interpreta que, como essas práticas se relacionam dire-
tamente com a natureza, ele preferiu associar esse termo como proposta 
de nomenclatura e utilizá-la após o termo esporte, pois concorda com as 
definições de Tubino (2001), para o qual o esporte tem sempre um con-
ceito amplo, não se restringindo à competição e aos ideais exclusivos do 
regramento tradicional.
 2 Esportes Radicais de Aventura e de Ação: conceituação pro-
posta por Dimitri Wuo Pereira, Igor Armbrust e Denis Prado 
Ricardo (2008) que incorpora o elemento radical ao termo. 
Nessa ideia, o significado de radical parte da raiz linguística, ou 
seja, no latim a palavra radical significa extremo ou raiz. A com-
preensão dos dois termos, extremo e raiz, vem da ideia de que 
os praticantes, quando realizam atividades perigosas dentro da 
cultura corporal, estão desfiando-se a ir ao extremo de suas habi-
lidades e de sua coragem, para testar-se e descobrir seus poten-
ciais, acreditando na sorte ou no acaso (palavra que provém do 
árabe e significa sorte e azar) a seu favor, isto é, ser radical é ir 
brincar com o medo e voltar para sentir-se vivo.
Claro que essa compreensão ocorre na educação física, acredi-
tando-se em um risco controlado, ou até imaginário quando se 
trata de crianças. Os autores informam também que os termos 
aventura e ação estão diretamente ligados ao esporte radical, 
sendo apenas suas caracterizações. A aventura é a forma radical 
voltada ao enfrentamento do desconhecido e a ação ao radical, 
com o intuito de fazer manobras arrojadas. Os autores se baseiam 
também no ambiente em que as práticas acontecem, classifican-
do-as como terrestres, aquáticas, aéreas, mistas e urbanas, e pro-
põem essa classificação de forma aberta e dinâmica, porque per-
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 12 –
cebem que a cada dia novas modalidades surgem ou se fundem, 
criando outras.
 2 Práticas Corporais de Aventura na Natureza: foi a proposta 
apresentada por Luciana Gomes Fernandes e Andreia Silva 
(2007), na qual utilizam o termo Práticas Corporais de Aven-
tura na Natureza para demonstrar a importância que a área de 
educação física deveria dedicar ao organizar a aventura den-
tro das possibilidades educacionais. Em sua concepção, havia 
naquele momento uma discussão a respeito da aventura, inclu-
sive com a proposição de regulamentação para esse tipo de 
prática em termos turísticos, e que a educação física deveria 
participar desse processo, pelo caráter educativo que as ativi-
dades na natureza contêm.
 2 Práticas Corporais de Aventura: Humberto Inácio (2016), 
por sua vez, antes da aprovação da Base Nacional Comum Cur-
ricular em dezembro de 2017, discute o surgimento do termo 
aventura no meio acadêmico brasileiro, apontando os primeiros 
estudos no ano de 1997. Nesse artigo, é usado o nome Práticas 
Corporais de Aventura para designar a forma como, na educa-
ção física, fica definido o estudo e a intervenção por meio dessa 
cultura corporal. Ele aponta ainda que em artigo de 2007, com 
a pesquisadora Alcyane Marinho (MARINHO; INÁCIO, 2007), 
o termo Práticas Corporais de Aventura na Natureza era utili-
zado por eles, tal qual já havia sido usado por Fernandes e Silva 
(2007) no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, e que as 
diferenças com o conceito agora propostas na Base Nacional 
Comum Curricular são pequenas, principalmente no que tange à 
diferenciação entre práticas urbanas e de aventura, das quais os 
autores discordam.
São, portanto, diversas definições para um mesmo objeto, que em 
comum têm a crença nessas atividades como práticas de risco e perigo, 
que podem ser controladas pelos praticantes. Aventura acaba sendo a 
palavra que mais se ajusta às diversas expressões usadas para definir os 
sentidos que os autores propõem quando querem se referir a esse tipo 
de atividade. 
– 13 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
O risco e o perigo inerentes à prática da aventura, independentemente 
da definição, são elementos considerados essenciais, e isso nos remete 
a uma posição diferente daquela comumente encontrada no universo do 
fenômeno da cultura corporal. Na aventura, o adversário não é outra pes-
soa, mas a sensação de medo e de vencer esse medo que cada um busca 
na prática. A superação e o desafio incerto são as atitudes que se espera 
de quem faz aventura, que contém adrenalina, hormônio que nos mantém 
em estado de alerta aos perigos e que mantém a excitaçãonessas ativida-
des, motivo pelo qual muitos retornam a praticar, pois além do bem-estar 
inerente à atividade física, a adrenalina sentida desperta sentimentos de 
atenção e percepção redobrada na aventura.
Figura 1.1 – Risco e perigo: presença comum nos conceitos de aventura
Esportes radicais de 
aventura e de ação
Atividades de 
aventura
Atividades físicas de 
aventura na natureza
Esportes na natureza
Risco e perigo
Práticas corporais 
de aventura
Fonte: elaborada pelo autor.
1.3 A aventura e sua relação com o 
lazer, o esporte e a educação 
Para um entendimento mais aprofundado desses conceitos, é preciso 
compreender que cada um deles segue determinadas fundamentações teó-
ricas que os encaixa em paradigmas distintos. Então, a escolha dos termos 
se baliza por esses princípios gerais epistemológicos.
O estudo da aventura na educação física brasileira foi realizado prin-
cipalmente por pesquisadores do campo do lazer, pois eles perceberam 
que a aventura é repleta de características comuns ao lazer, como a espon-
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 14 –
taneidade, a liberdade de escolha, o tempo livre, a diversão, o prazer e o 
desenvolvimento das potencialidades humanas integradas à natureza.
Para uma compreensão mais apurada do que significa lazer, buscou-
-se uma definição clássica de Marcellino (1990, p. 16):
[...] lazer como cultura vivenciada no tempo disponível, não em 
contraposição, mas em estreita ligação com o trabalho e as demais 
esferas de obrigação da vida social, combinando os aspectos tempo 
e atitude; no valor da atuação no plano cultural, numa perspectiva 
gramsciana, como instrumento de mudança social; e na crítica à 
visão funcionalista do lazer, à concepção utilitarista da educação, à 
desescolarização e à visão apocalíptica da ação cultural.
Outro importante autor que discutiu o lazer no Brasil o define da 
seguinte maneira:
O lazer se traduz por uma dimensão privilegiada da expressão humana 
dentro de um tempo conquistado, materializada através de uma expe-
riência pessoal criativa, de prazer e que não se repete no tempo/
espaço, cujo eixo principal é a ludicidade. Ela é enriquecida pelo 
potencial socializador e determinada, predominantemente, por uma 
grande motivação intrínseca e realizada dentro de um contexto mar-
cada pela percepção de liberdade. [...] Sua vivência está relacionada 
diretamente às oportunidades de acesso aos bens culturais, os quais 
são determinados, via de regra, por fatores sócio-político-econômicos 
e influenciados por fatores ambientais (BRAMANTE, 1998, p. 9).
Observa-se que as definições de lazer apresentam muitas relações 
com as atividades de aventura, por isso, a maioria dos conceitos evita a 
utilização do termo esporte, pelo fato de essas práticas serem realizadas, 
predominantemente, no âmbito do lazer e se ligarem aos ideais não com-
petitivos, sendo que algumas delas nem contêm a competição para sua 
execução, como é o caso do arvorismo, da tirolesa, etc. O parkour, por 
sua vez, foi criado rompendo com o ideal competitivo e fixando-se como 
uma atividade de cooperação pura por seus próprios criadores. Os teóri-
cos que defendem essas ideias são, em geral, do campo dos estudos do 
lazer e costumam defender que o esporte é uma atividade regulamentada 
e competitiva, opondo-se ao conceito de lazer, que pressupõe a liberdade 
de escolha e a diversão com um fim em si mesmo.
Castellani Filho (1998) faz crítica ao fato de o esporte ter sido 
usado como instrumento de enquadramento político nos anos da dita-
– 15 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
dura no país e que, por sua função organizadora, serviu para moldar os 
comportamentos da juventude na escola por meio dos ideais de força 
e competitividade. A imagem do esporte ligada ao padrão militar de 
treinamento na educação física escolar, provinda dos quadros de forma-
ção dos primeiros professores de educação física brasileiros, consagrou 
esse tipo de oposição ao esporte. Aliando-se a isso, ainda sobreveio o 
uso da mídia, que enxergou no esporte um potencial de venda de pro-
dutos e alienação por meio de sonhos muito distantes da realidade da 
população brasileira.
Afinal, o esporte existe sem competição?
 
Reside na resposta à pergunta feita na figura anterior um dos proble-
mas centrais para a definição do que é aventura no âmbito da educação 
física, pois, quando se fala em esporte, associá-lo à competição é pratica-
mente inevitável. Sobre isso, vale a pena ler Barbanti (2006), pois em seu 
artigo ele articula o conceito de forma clara e precisa, mas, toda delimi-
tação de um tema incorre em uma necessária redução do termo a alguns 
conceitos mestres, que podem com o tempo ser revistos. Sendo assim, 
aqueles que advogam para práticas de aventura como elementos fundados 
no campo do lazer ou da educação, estabelecem sua crítica exatamente no 
fato de a competição poder se tornar um empecilho no processo de huma-
nização, pois ela retira muitas características da liberdade e da empatia, 
das quais a recreação, a diversão, e o desenvolvimento humano necessi-
tam nos momentos de lazer e educação.
Dois dos pensamentos expostos que utilizam o termo esporte ligado 
à aventura, como vimos anteriormente, instauram sua base na percepção 
do esporte como propôs a Unesco (TUBINO, 2001), ou seja, o esporte é 
considerado um fenômeno global que pode ser praticado em três dimen-
sões humanas:
 2 rendimento – prática esportiva institucionalizada, com regras 
rígidas organizadas pelas federações, voltada para atletas que 
buscam na vitória suas metas e dispostos a treinamento inten-
sivo na obtenção de resultados, pois há perspectiva de ganhos 
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 16 –
financeiros que provêm de empresas e organizações que finan-
ciam sua existência.
 2 participação – prática esportiva da maioria da população, que 
é mais flexível e cujos objetivos dependem da subjetividade do 
praticante. As metas estabelecidas não são padronizadas, nem o 
tipo de treinamento, já que sua finalidade pode ser a diversão, o 
condicionamento físico, o aprendizado ou a socialização.
 2 educação – aqui se encontra o esporte cujo interesse está nos 
valores humanos que a prática pode trazer, desde que orientada 
por pessoas com objetivos de aprendizagem, crescimento pes-
soal, interação social e desenvolvimento nos aspectos físicos, 
sociais, psicológicos e cognitivos. O esporte educacional é, 
predominantemente, encontrado na escola e voltado à forma-
ção de cidadãos.
Apesar de não utilizar o termo esporte, Betrán e Betrán (2006) 
enquadram as AFAN dentro do espectro no qual a definição do esporte 
da Unesco se insere. Cabe uma reflexão a respeito do papel educacional 
do esporte, pois o professor Valdir Barbanti (2006) ensina que um dos 
aspectos importantes para a compreensão do que é esporte é a necessária 
subjetividade do praticante na realização da atividade, ou seja, mesmo que 
tenhamos uma definição objetiva para que possamos nos expressar e nos 
comunicar eficientemente, cada sujeito utiliza sua percepção para decidir 
como quer praticar o esporte e pode entender que, além da competição 
em si, o esporte pode agregar valores às vidas das pessoas e ser, portanto, 
usado como elemento educacional.
Esse é o alicerce que estabelece uma relação entre a conceituação de 
Betrán e Betrán e Barbanti, mesmo que os dois primeiros autores tenham 
utilizado termo diferente de esporte para sua definição. Ainda que este 
texto não pretenda trazer uma definição sobre o esporte, entendemos que 
sem uma reflexão sobre o tema teríamos dificuldade de compreender o que 
é, ou não é, aventura.
Novamente, retomando a presença da Unesco, será possível observar 
que os termos educação física, atividade física e esporte são colocados, 
atualmente, de maneira conjunta, isso demonstra que a dificuldade de 
– 17 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
nomenclatura nãoé um problema exclusivo do Brasil e que, mais impor-
tante do que fechar o sentido daquilo que se entende por esporte, é perce-
ber que o esporte é um fenômeno universal.
O esporte está entrelaçado aos conceitos de atividade física e de edu-
cação física, não cabendo uma segmentação e simplificação que desar-
ticule as ações e os atores da prática esportiva, de lazer e da educação, 
como se percebe na Carta Internacional do Direito ao Esporte de 1978, 
que se transformou em Carta Internacional da Educação Física, da Ativi-
dade Física e do Esporte de 2016.
Artigo 1 – A prática da educação física, da atividade física e do 
esporte é um direito fundamental de todos.
1.1 Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à educa-
ção física, à atividade física e ao esporte, sem qualquer tipo de dis-
criminação com base em etnia, gênero, orientação sexual, língua, 
religião, convicção política ou opinião, origem nacional ou social, 
situação econômica ou qualquer outra.
1.2 A liberdade de desenvolver habilidades físicas, psicológicas 
e de bem-estar, por meio dessas atividades, deve ser apoiada por 
todos os governos e todas as organizações ligadas ao esporte e à 
educação.
1.3 Oportunidades inclusivas, assistivas e seguras para a participa-
ção na educação física, na atividade física e no esporte devem ser 
disponibilizadas a todos os seres humanos, em especial crianças de 
idade pré-escolar, pessoas idosas, pessoas com deficiência e povos 
indígenas (UNESCO, 2016, p. 2).
A perspectiva que mais se adequa à complexidade do fenômeno aven-
tura se mostra voltada à integração de conceitos de esporte, lazer e educa-
ção, e não à sua distinção e separação, e isso está diretamente relacionado 
ao modo como os conceitos são compreendidos em todo o planeta.
No Brasil, no final do ano de 2017, a Base Nacional Comum Curricular 
foi criada com o intuito de produzir um currículo mínimo nacional. Assim, 
definiu diversos conteúdos, chamados unidades temáticas, para todas as dis-
ciplinas. Na educação física, a novidade foi a inserção das práticas corporais 
de aventura, definição oficializada para que os professores da área introdu-
zam aos alunos esses conhecimentos. O pressuposto central dessa escolha 
reside no fato de a educação física tematizar a cultura corporal, portanto, 
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 18 –
práticas corporais são uma forma de o ser humano se relacionar com os 
diversos conteúdos, e a aventura passa a qualificar o tipo de prática corporal 
que está objetivada na proposta curricular brasileira desde então.
O Ministério do Esporte, por sua vez, debateu o tema em 2005 e 
criou uma diferenciação para a ideia de aventura como prática corporal. 
Portanto, para fins de incentivo e fomento de políticas públicas, o Brasil 
passou a definir o esporte de aventura como aquele relacionado à natureza 
e ao ecoturismo, praticado em condições de controle ou cálculo de riscos, 
e utilizou o termo esportes radicais para definir aqueles cujas manobras 
arrojadas e controladas em ambientes naturais e artificiais do meio urbano 
são realizadas (BRASIL, 2007).
Até o momento, é possível dizer que a conceituação oficial da Base 
Nacional Comum Curricular deve ter uma repercussão grande e ser utilizada 
por muitos professores de educação física, porque estes entendem que o docu-
mento federal serve de base para o entendimento dos conteúdos da área. Por-
tanto, acredita-se que o nome mais usado pelos professores nos próximos anos 
será práticas corporais de aventura, que alicerça a aventura como uma prática 
corporal e, como a educação física tematiza as práticas corporais, esse termo 
deverá ser incorporado à linguagem dos professores nas escolas brasileiras.
Mas, sabe-se que a mídia exerce forte influência na linguagem e nos 
costumes da sociedade, pois ela tem grande abrangência na comunicação 
das pessoas, e o termo práticas corporais não é usualmente falado pelos 
veículos de comunicação de massa e pelas redes sociais, que são impor-
tantes meios de interlocução entre as pessoas na atualidade.
Compreende-se que os professores de educação física precisam se 
atentar a essa discussão para não ficarem alheios a essas atividades, que a 
cada dia ganham novos adeptos, e que uma escolha consciente do conceito 
a ser usado fará diferença na comunicação com seu público, seja ele de 
alunos de escola ou academia, clientes, empresa ou a população em geral.
1.4 Aspectos históricos 
Há um ponto importante no debate sobre o termo aventura que se 
configura pelo modo como foi construída essa cultura. Olhar para a histo-
– 19 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
ricidade da aventura e como seus praticantes a produziram ajuda a perce-
ber que qualquer definição não pode fugir ao conhecimento da evolução 
dessas práticas desde os povos primitivos.
Os três povos que primeiro se aventuraram na história humana são os 
inuits (povos do ártico), os gregos e os maoris (povos da Polinésia). Eles o 
fizeram por necessidade e não como uma tentativa de se divertir somente. 
Suas aventuras foram épicas e ficaram registradas na arqueologia de cada 
povo. Para entendê-las, é preciso voltar no tempo, há mais de 3 mil anos, 
período em que a maioria dos povos não tinha o domínio da escrita e 
experiências ficavam gravadas nas narrativas orais e pela transmissão de 
pai para filho.
Pereira e Armbrust (2010) mostraram como a aventura já esteve pre-
sente na vida do ser humano desde muito tempo, e passamos a expor agora 
alguns exemplos.
1.4.1 Mergulho 
Essa atividade de aventura foi 
narrada nas epopeias da Grécia Antiga, 
quando soldados mergulhavam usando 
tubos para respirar enquanto submer-
giam para chegar aos navios inimigos 
(Xerxes, o rei persa, era um deles) e 
atacá-los de surpresa.
O mergulho sempre foi uma forma 
de pegar alimentos no mar, e os povos 
que viviam à beira dos oceanos sempre 
foram craques nesse exercício, pois 
lhes garantia a sobrevivência, porém, 
o uso militar em tão longínquo período 
é digno de destaque, pela inventivi-
dade desse povo, que foi um divisor de 
águas na história da humanidade, e o 
mergulho contribuiu de alguma forma. 
O longa-metragem Os 300, do diretor 
Figura 1.2 – Equipamento de mergulho 
projetado por Leonardo da Vinci 
Fonte: acervo pessoal do autor.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 20 –
Zeck Snider (2007), é famoso por contar as histórias gregas de guerra 
e demonstra a prática do mergulho. Com a evolução dos materiais, foi 
possível criar equipamentos que permitissem ficar cada vez mais tempo 
submerso, como propôs Leonardo da Vinci tempos depois.
Hoje, o mergulho é utilizado tanto em práticas recreativas de explora-
ção e diversão subaquática quanto em trabalhos no fundo do mar, como nas 
plataformas de petróleo, em pesquisas científicas e resgates subaquáticos.
1.4.2 Canoagem 
Outro exemplo incrível é a canoagem. Os povos do gelo, chama-
dos inuits, construíam embarcações com ossos de baleia e pele de foca 
para navegar nos mares e buscar seus alimentos. Esses povos eram espe-
cialistas na sobrevivência no ártico, e o caiaque foi um grande aliado 
nessa empreitada, pois permitia ir longe, com velocidade e ainda car-
regar focas, baleias e peixes que eram caçados longe de onde viviam. 
Além disso, permitia conhecer novas regiões e ir cada vez mais distante 
na busca por melhores locais para viver. Muito provavelmente, foi um 
tipo de barco usado pelos primeiros povos que atravessaram desde a 
Ásia até a América do Norte pelo estreito de Bering, chegando a povoar 
a América.
A canoagem é uma 
atividade muito usada na 
atualidade como trans-
porte de povos ribeiri-
nhos, tanto de pessoas 
como de produtos e mer-
cadorias. A região ama-
zônica é um exemplo 
desse eficiente transporte. 
Como atividade de lazer, 
ela faz parte da recreação 
de pessoas tanto em água 
doce quanto salgada. Até mesmo em competições olímpicas a canoagem 
está presente na atualidade.
Figura 1.3– Tribo inuit com seus caiaques de pele 
de foca
Fonte: Shutterstock.com/Prachaya Roekdeethaweesab
– 21 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
1.4.3 Navegação e orientação 
Se houve um povo rico em experiências de aventura, foram os poliné-
sios. As ilhas da Polinésia ficam no Oceano Pacífico, milhares de quilôme-
tros distantes dos continentes. Seus povos então se tornaram especialistas 
em navegar e, naqueles tempos, em que não existiam motores, a vela era a 
única maneira de ir longe e rápido o suficiente para sobreviver com pouco 
alimento e pouca água potável. Como as ilhas são muitas, as distâncias entre 
elas tornaram possível que o povo fosse ficando cada vez mais hábil na 
navegação, eles as percorriam com grande competência. Porém, havia um 
aspecto que era necessário ser treinado para ser eficaz: conseguir ir e voltar, 
sabendo aonde se chegaria, pois ficar perdido no oceano não era uma opção 
para quem queria ficar vivo. A navegação realizada pelos polinésios usava de 
vários meios para atingir seus objetivos e o fator primordial era prestar aten-
ção a todo o ambiente natural e perceber as diferenças entre cada elemento: 
ar, terra, mar, animais, plantas, vento, Sol, Lua, estrelas, temperatura, estação 
do ano e período do dia em que navegavam. Com essa sabedoria tradicional, 
eles conseguiram viajar por vários oceanos muito antes dos europeus. Che-
garam inclusive à América, onde se encontra hoje em museus uma réplica de 
embarcação com o mesmo modelo dos barcos de junco polinésios.
A orientação é uma prática essencial para todo tipo de transporte, 
tanto com os mapas em papel quanto pelo GPS, que é uma tecnologia que 
permite uma precisão enorme em termos de deslocamento pelos territó-
rios. Ela é utilizada na terra, na água e no ar e sua eficiência é inegável. No 
campo do esporte e do lazer, existem provas específicas de orientação que 
são as corridas de aventura e o enduro a pé.
Figura 1.4 – Réplica de embarcação polinésia
Fonte: acervo pessoal do autor.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 22 –
1.4.4 Surfe 
O surfe também foi criado na Polinésia, a princípio como modo de 
sair dos barcos maiores e chegar à praia, mas com o tempo virou um item 
essencial para os rituais religiosos, as festividades e a diversão, sendo 
símbolo de poder, afinal, as ondas do mar eram convidativas e úteis tanto 
como transporte quanto para diversão. Interessante observar que existe 
uma disputa entre havaianos e peruanos, ambos afirmam que o surfe 
veio das ilhas da Polinésia e foi instalado nas praias dessas duas regiões. 
Há registros de pranchas no Peru e da prática nas ondas dessa região. 
Também, no Havaí afir-
mam que o surfe foi 
introduzido pelos mes-
mos polinésios, e de lá 
se tornou um esporte 
extremamente popular, 
especialmente nas loca-
lidades litorâneas do 
mundo todo, provando 
que é uma prática mun-
dial, independentemente 
da região ou cultura em 
que se vive.
Todos esses fatos 
mostram que os povos do planeta se aventuravam de diversas formas, não 
necessariamente por diversão, afinal, sobreviver há mais de 2 mil anos 
não era tarefa simples. O tempo tratou de manter viva a experiência de 
aventura e torná-la um atrativo e um entretenimento para as populações 
contemporâneas, isso mostra que algum benefício podia ser percebido 
nela desde seu princípio.
O surfe é hoje uma prática que permitiu a criação de muitas outras, 
como kitesurfe, windsurfe, etc. Em geral, não é uma atividade com outro 
fim a não ser recreativo ou competitivo, isso quer dizer que ele não tem 
uma funcionalidade como transporte, como se pode observar na canoa-
gem, mesmo que seja possível usar uma prancha para se transportar ou 
para levar produtos de um lado para outro.
Figura 1.5 – Réplica de caballos de totora, as pranchas 
polinésias dos primórdios do surfe
Fonte: Shutterstock.com/Ricardo Barata
– 23 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
O tamanho da prancha é um dos motivos que não permite usá-la para 
fins de transporte com eficiência, a não ser no caso das pranchas de stand 
up paddle (SUP), que são maiores e usam remos.
Quando avançamos no tempo e chegamos à modernidade, des-
cobrimos que os aventureiros continuavam a deixar suas marcas no 
tempo, com a intenção de expandir domínios e produzir riqueza. A 
chegada dos europeus à América é um exemplo disso, e os ensinamen-
tos de navegação nesse ponto já tinham avançado muito em termos 
tecnológicos, com a presença da bússola e de mapas que permitiam 
mais precisão nas navegações. Nessa época, outras aventuras começa-
ram a surgir, algumas delas estão relatadas a seguir, segundo Pereira e 
Armbrust (2010).
1.4.5 Patins 
Os primeiros patins 
foram feitos com ossos 
de foca, no Ártico, e 
amarrados às botas 
permitiam deslizar no 
gelo. Com o tempo, 
outros países europeus 
que também têm neve 
no inverno começaram 
a utilizar esse tipo de 
patins para se locomo-
ver. Se a intenção era a 
locomoção no princípio, 
logo se tornou diver-
são, e a substituição dos 
ossos por lâminas de ferro deu mais versatilidade e desempenho aos 
patins, que foram se popularizando não mais para locomover-se, ape-
nas, mas agora por pura diversão. Depois, as lâminas foram substi-
tuídas por rodas e os patins podiam ser usados o ano todo na Europa. 
Sua popularização chegou a tal ponto que rinques foram criados em 
diversos lugares, pois muitos eram seus adeptos.
Figura 1.6 – Modelo dos primeiros patins com rodas
Fonte: Shutersotck.com/3d_and_photo
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 24 –
1.4.6 Bicicleta 
Outra invenção que seguiu os moldes dos patins foi a bicicleta. No 
início do século XIX, também com fins de locomoção, a colocação de 
duas rodas de carroça em linha para que uma pessoa pudesse montá-la e 
deslocar-se rapidamente pelas cidades e campos foi um avanço, pois ape-
nas os cavalos podiam auxiliar nesses movimentos unitários. A bicicleta 
se popularizou na Europa, tal qual os patins, pois se tratava do período da 
Revolução Industrial, as cidades cresciam e o movimento das pessoas era 
cada vez mais intenso, com a população crescendo vertiginosamente na 
Inglaterra, França, Itália, Alemanha e outros países. O ganho de eficiência 
da bicicleta e o combustível barato (força humana) para movê-la a torna-
ram um objeto de inestimável valor para a sociedade industrial, e sem que-
rer um ótimo brinquedo para a população atual, que a cada dia aproveita 
mais sua bicicleta para fazer exercício, se divertir, viajar e se aventurar.
A bicicleta é um veículo de transporte eficiente e barato. Em muitas 
cidades grandes, a iniciativa de criar espaços específicos para a circulação 
de bicicletas acontece em virtude do perigo de se envolver em acidentes 
com automóveis, porque, para muitos, ela não é apenas um equipamento 
de diversão, mas o meio de transporte favorito para trabalho e estudo.
Figura 1.7 – O início da trajetória das bicicletas
Fonte: Shutterstock.com/notYourBusiness
– 25 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
1.4.7 Paraquedismo e voo livre 
O sonho de Ícaro povoa nossa mente desde que surgimos na Terra, 
tanto que a mitologia já o descreveu em suas narrativas como forma de 
mostrar a fuga dos irmãos da ilha de Creta. Do ponto de vista histórico, 
foi nos séculos XVIII e XIX que alguns intrépidos aventureiros decidiram 
criar os primeiros equipamentos para voar ou descer pelos ares. Eles se 
baseavam nas ideias de um filósofo e inventor de muito respeito, Leo-
nardo da Vinci, que teve muitas ideias de como seria possível voar, pla-
nar e descer com asas. Assim, André Jacques Garnerin, em 1797, salta de 
paraquedas sobre Paris de um balão. Já o voo de asa-delta surgiu graças 
ao aventureiro alemão Otto Lilienthal, ele projetou asas para voar baseado 
nas asas de pássaros e chegou a fazer mais de 2 mil tentativas bem-suce-
didas entre 1889 e 1991, mesmo que em algumas delastenha saído com 
luxações e braços quebrados.
O paraquedismo é uma atividade usada tanto como diversão quanto 
em atividades militares de ataque surpresa. Ele foi muito utilizado na 
Segunda Guerra Mundial com essa finalidade. Seria bom se, no futuro, 
isso fosse apenas história e que a sensação de descer pelos ares fosse ape-
nas um modo de viver intensamente, como é o caso do uso da asa-delta e 
do paraglider, que não tem finalidade militar.
Figura 1.8 – Protótipo de asa feito por Leonardo da Vinci
Fonte: Shutterstock.com/Viktor Gladkov
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 26 –
1.4.8 Montanhismo 
Escalar montanhas é uma forma de estar mais perto dos céus. Mui-
tos foram os seres humanos que desde o século XVII desbravaram as 
alturas, correndo riscos inimagináveis nos dias de hoje, pois não tinham 
equipamentos de alta tecnologia, e lograram êxito em suas tentativas. 
Pode-se citar Jean Michel Paccard e Jacques Balmat como dois pio-
neiros, afinal, chegaram ao topo do Mont Blanc, o ponto mais alto da 
Europa Ocidental, em 1786. Foi um feito histórico se levarmos em 
conta que usavam apenas cordas de sisal, botas de couro e agasalhos 
de lã e que a montanha tem mais de 4 mil metros e é recoberta de gelo 
o ano todo.
Essa empreitada histórica foi financiada pelo naturalista suíço 
Horace-Bénédict de Saussure, que desejava entender como o corpo 
humano funcionaria em locais como esses e que acreditava poder encon-
trar ervas e outros materiais com poderes de cura, ou seja, ele tinha 
interesses científicos nessa aventura. O montanhismo apresenta, desde 
então, fins exploratórios e científicos, como a exploração de cavernas 
com técnicas de rapel e escalada graças a esse interesse em conhecer 
locais inóspitos.
Nos dias de hoje, o montanhismo é praticado como lazer principal-
mente, mas também existem competições de escalada em paredes artificiais.
Figura 1.9 – Estátua dos desbravadores do Mont Blanc, na Europa
Fonte: Shuterstock.com/Julia Kuznetsova
– 27 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
1.4.9 Caminhadas em trilhas 
Caminhar é a forma mais simples de locomoção desde que o ser 
humano existe. Na atualidade, as caminhadas em trilhas são conhecidas 
por trekking ou hiking, na língua inglesa. Todavia, o uso do termo trekking 
é de capital interesse na aventura. No século XVII e XVIII, muitos 
holandeses foram até a África em busca da riqueza de pedras preciosas 
e diamantes. Eles não tinham recursos, mas o sonho de riqueza levava 
famílias inteiras atrás de fortuna. Na África encontravam terreno hostil, 
com animais, rios, seca, florestas e mosquitos, aos quais não estavam acos-
tumados. Explorar esses locais era a forma de fazer fortuna. As viagens a 
pé duravam semanas, meses e podiam ser um fracasso, mas a esperança 
de vida melhor fazia com que desbravassem a natureza selvagem. O verbo 
trek em holandês significa migrar, e as pessoas que faziam essas jornadas 
ficaram conhecidas como caminhantes que migravam pela África. Come-
çava, assim, a surgir uma nova atividade, que anos mais tarde virou uma 
diversão para muitos peregrinos, as longas caminhadas em trilhas. Esse 
processo pode ser comparado ao ocorrido no Brasil com a busca por ouro 
pelos Bandeirantes, que avançaram para o centro do país, conquistando 
terras e descobrindo jazidas.
Hoje, fazer grandes caminhadas com fins de exploração comercial 
não é mais viável, afinal, 
os meios de transporte 
motorizados podem levar 
as pessoas a quase todos 
os locais com mais efi-
ciência, portanto, trilhei-
ros são pessoas imbuídas 
do interesse recreativo e 
contemplativo.
Observa-se que o 
período moderno da aven-
tura foi dominado pelos 
povos europeus, graças 
ao advento da Revolu-
Figura 1.10 – A África do Sul foi um dos principais locais 
para a corrida por diamantes e o surgimento do trekking
Fonte: Shutterstock.com/Lukas Bischoff Photograph
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 28 –
ção Industrial e ao grande avanço tecnológico proporcionado por ela. As 
primeiras expedições e explorações da natureza desse período estão liga-
das aos instrumentos e equipamentos que foram criados para melhorar o 
desempenho humano; a diversão com eles veio depois, quando se desco-
briu que os materiais criados eram melhores para a felicidade e o prazer 
do que necessariamente para produzir riquezas.
Conhecendo mais sobre as origens dessas práticas, podemos perce-
ber que o ser humano, a partir de suas necessidades, foi construindo uma 
cultura de práticas que hoje pode ser desfrutada no âmbito do lazer em sua 
essência. Essas atividades podem auxiliar na aprendizagem de aspectos 
sociais, motores, cognitivos e psicológicos, tratando-se de componentes 
educacionais que agora estão presentes nas escolas brasileiras, além disso, 
enquanto práticas esportivas, elas podem fazer parte tanto do aspecto 
competitivo quanto formativo dos indivíduos. Certo é que elas vieram 
para ficar e fazer parte da cultura corporal.
A história é dinâmica e o conhecimento das origens da aventura 
não nos deve manter inertes, pelo contrário, deve instigar novas buscas 
pelo conhecimento. Seguir compreendendo o passado para agir de forma 
racional e organizada no presente, afinal, a aventura, ao que parece, veio 
para ficar e será um mercado de trabalho importante para o profissional 
de educação física, principalmente porque se relaciona com atividades 
na natureza. A prática de exercícios ao ar livre está se tornando cada vez 
mais apreciada pelas pessoas, talvez pelo fato de as metrópoles serem 
opressoras pelos seus tamanhos descomunais e excesso de pessoas no 
mesmo espaço.
Por fim, acredita-se que os conceitos devam ser sempre discutidos e 
debatidos na área de educação física, para que as pessoas possam refletir 
e reorganizar seus pensamentos a respeito dos temas que são desenvolvi-
dos profissionalmente. Acredita-se que engessar ou definir um conceito 
não é tarefa fácil, e que se manter aberto ao diálogo ouvindo as diversas 
ideias é uma forma de encontrar um termo mais adequado para a educa-
ção física.
– 29 –
Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 
 Saiba mais
WEBVENTURE. Afinal, o que é aventura? Disponível em: https://www.
webventure.com.br/afinal-o-que-e-aventura/. Acesso em: 30 jul. 2020.
Atividades 
1. Quais são as diferentes terminologias utilizadas no meio acadê-
mico para a aventura na educação física?
2. Qual o conceito de esporte que a Unesco defende?
3. Qual o sentido comum a todas as denominações de aventura 
apresentadas no texto?
4. Pelo que se observa na história antiga da aventura, é possível 
dividi-la em dois momentos. No primeiro, na pré-história e na 
idade antiga, encontramos os primórdios de quais modalidades?
2
Meio ambiente e 
diversidade: o papel 
da educação física 
A preservação do meio ambiente deveria ser o tema mais 
importante para a humanidade. Essa frase pode parecer forte e 
assertiva demais, todavia, podemos perceber pelas diversas infor-
mações que recebemos diariamente nas redes sociais, na televi-
são, no rádio, enfim, em todos os meios de comunicação, que a 
degradação ambiental é um tema recorrente para a população do 
mundo todo. E isso está relacionado com a nossa capacidade de 
conhecer o planeta e de descobrir o quanto a ação humana está 
destruindo a natureza, também, o efeito que essa devastação gera 
nas vidas humanas.
Neste texto, pretende-se apresentar e discutir os conceitos 
mais usados nos estudos ambientais; revelar as nuances dos movi-
mentos sociais e governamentais a respeito do tema da preservação 
do planeta e das espécies viventes; reconhecer quais são as ações 
mais eficientes para a conservação da natureza e as leis que foram 
criadas para que seja possível uma ação efetiva nesse sentido.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 32 –
2.1 A destruição da natureza 
Para compreender melhor o tamanho do problema ambiental, é pre-
ciso reconhecerque o mau uso do planeta ocorre de diversas maneiras.
É possível dividir as esferas dessa questão em: ar, água, solo, ani-
mais, plantas e seres humanos.
Todas estão interligadas e uma afeta a outra de alguma forma, por-
tanto, um olhar sistêmico para o problema é a única forma de propor solu-
ções. A seguir, entenderemos de forma pormenorizada cada uma delas.
2.1.1 O ar 
A atmosfera terrestre é extremamente sensível. Ela é composta pre-
dominantemente de gás nitrogênio (78% do total da camada atmosférica), 
de uma parcela considerável de oxigênio (aproximadamente 21%) e de 
outros gases dispersos entre eles, como o gás carbônico, ou CO2, que 
perfazem cerca de 1% do total. O planeta Terra é o único conhecido até 
o momento que contém essa mistura exata e perfeita, permitindo a vida 
dos seres humanos, de animais e plantas, sendo assim, o cuidado com 
esse equilíbrio tênue é, praticamente, uma missão dos seres humanos para 
garantir sua própria sobrevivência.
O ar atmosférico se divide em cinco camadas que o protegem de 
meteoros, de raios ultravioleta e de objetos espaciais lançados pelo ser 
humano, e permitem que o planeta mantenha sua temperatura, se proteja 
dos raios do Sol, mantenha a pressão para que possamos nos locomover 
sem flutuar e respirar. Sem isso, não haveria vida. Essa constituição do ar 
atmosférico acontece na Terra há bilhões de anos, desde sua formação, e 
é resultado da produção de energia no interior do planeta, da influência da 
energia do Sol e das interações entre os compostos químicos, orgânicos 
e inorgânicos ao redor da Terra (GALLEMBECK; COSTA, 2016). Essas 
interações permitem a produção de oxigênio pelas plantas e por corais no 
fundo do mar, que funcionam como produtores e distribuidores do gás 
fundamental para a nossa respiração.
Um dos aspectos a considerar é a necessidade de evitar os gases do efeito 
estufa, que aumentam a temperatura do planeta. Esses gases podem ser pro-
– 33 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
duzidos tanto de forma natural, ou seja, pela erupção de vulcões, quanto pela 
ação humana, isto é, queima de combustíveis fósseis, como os automóveis, 
as indústrias e as usinas de produção de energia por queima de carvão. Então, 
verifica-se que o problema também é resultado da ação humana no planeta.
Figura 2.1 – Aumento da temperatura do planeta no período industrial
Décadas
1860
Te
m
pe
ra
tu
ra
 e
m
 G
ra
us
 C
el
si
us
Evolução da temperatura do planeta
1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000
14,6
14,4
14,2
14
13,8
13,6
13,4
13,2
13
Fonte: Elaborado pelo autor
O aumento da temperatura do planeta é um efeito direto dessa queima 
de combustíveis e causa diversos problemas de saúde e dificuldades para 
respirar; aumento das águas dos oceanos, o que dificulta a vida nas orlas 
para os humanos; derretimento das calotas polares, que compromete a 
vida dos animais do Ártico e da Antártica; diminuição da possibilidade de 
vida de espécies de animais e plantas.
Outro problema relacionado ao ar é a destruição da camada de ozô-
nio, que é um gás que compõe o ar atmosférico, que ajuda a preservar 
nossa saúde, diminuindo a incidência de raios ultravioleta do Sol sobre a 
superfície da Terra.
O CFC (clorofluorcarboneto), composto químico utilizado até o 
início do século em aerossóis, geladeiras, outros eletrodomésticos e na 
indústria, era responsável pela destruição do ozônio e, consequentemente, 
a camada protetora ficava a cada dia mais fina, com aumento no número 
de casos de câncer de pele na população em virtude da incidência da forte 
radiação solar (SÃO PAULO, 2018).
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 34 –
Percebe-se que manter o cuidado com o equilíbrio dos gases na Terra 
não é tarefa fácil, mas necessária para que possamos ter qualidade de 
vida, afinal, respirar o ar poluído de escapamentos de automóveis é inalar 
veneno diretamente no pulmão.
Figura 2.2 – Índice de emissão por quilômetro, por tipo de veículo
metrô ônibus
Tipo de veículo
motocicleta automóvel
Em
is
sõ
es
 m
et
ro
 =
 1
Emissões de CO2 por km
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Fonte: Elaborado pelo autor.
2.1.2 A água 
A água, outro bem natural essencial à vida, domina a maior parte 
da superfície terrestre. É impensável viver sem ela, afinal, nosso corpo 
contém cerca de 70% de água em seu interior. Talvez por isso devêssemos 
cuidar dela com mais carinho, mas isso não tem sido feito nos últimos 100 
anos, pelo menos.
A mistura de hidrogênio e oxigênio que cria a água potável é bas-
tante sensível; outros elementos se combinam a ela, podendo torná-la não 
potável, isto é, não adequada ao consumo e, consequentemente, imprópria 
para o ser humano, animais e plantas. A água provém das chuvas e se 
distribui por rios e mares, lar de milhões de espécies vivas que servem de 
alimento ao ser humano e estão ameaçadas.
Como dito anteriormente, o aumento da temperatura do planeta gera 
aumento do calor das águas. Animais marinhos que antes se reproduziam 
e se alimentavam em determinados locais, passam a não se reproduzir e a 
– 35 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
morrer. Além disso, a população humana cresce a cada dia, e menor se torna 
a oferta de alimentos aquáticos, que são fonte saudável de alimentação.
O uso indiscriminado da água, sem armazenamento adequado, sem 
cuidado com as nascentes de rios, poluindo mares e rios com objetos e 
produtos químicos, tanto pelas residências quanto pelas indústrias, causa 
a diminuição da oferta de água potável e dificulta a vida no planeta.
Ter água potável torna-se a cada dia mais caro, e empresas ficam res-
ponsáveis por captar água e distribuir nas cidades. Essa água costuma ser 
captada de rios, represas, lagos e reservatórios e precisa ser tratada para 
chegar às residências em condições adequadas para consumo.
O esgoto produzido pelas pessoas precisa ser recolhido nas casas e 
tratado para não retornar aos rios e poluir novamente, gerando mais cus-
tos. No Brasil, cerca de 100 milhões de pessoas não têm acesso ao trata-
mento de esgoto em suas casas (BRASIL, 2019), e isso gera poluição de 
córregos, rios, lagos e mares e causa diversas doenças.
Figura 2.3 – O plástico é um dos grandes poluidores das águas
Fonte: Shutterstock.com/Mr.anaked
Águas poluídas representam escassez para a vida no planeta, pois 
animais morrem por ingerir objetos jogados nos mares e rios e produtos 
químicos envenenam a vida subaquática.
A indústria de navegação e os portos alteram o curso natural da vida 
marinha quando se instalam em locais de reprodução de espécies.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 36 –
Percebe-se que a água, que é um bem essencial, recebe pouco cuidado 
da humanidade. A Fossa das Marianas, o local mais profundo do planeta, 
recebeu um submarino teleguiado, que filmou objetos plásticos, mostrando 
que nem nos locais mais profundos o mar está protegido da poluição.
Boa parte da água potável do mundo está em geleiras, que estão der-
retendo cada vez mais rapidamente, diminuindo ainda mais as chances de 
obtenção de água limpa nas regiões mais frias. E os lençóis freáticos, rios que 
correm abaixo da camada de terra da superfície, também estão ficando polu-
ídos com dejetos e produtos químicos, atirados indiscriminadamente pelo ser 
humano nos rios, mais uma forma de destruição de fonte importante de vida.
2.1.3 O solo 
O solo é um elemento rico em fonte de subsistência humana, pois 
fornece a terra que permite o crescimento das espécies vegetais. Nele, o 
ser humano pode plantar, colher, criar animais.
Do solo são retirados minérios com os quais o ser humano produz 
uma série de implementos para facilitar sua força produtiva. Petróleo, 
ferro, chumbo, cobre, enxofre, entre muitos outros minerais, são matérias-
-primas de muitos equipamentos que conhecemos.
A exaustiva retirada desses substratos, no entanto, pode causar pro-
blemas ambientais, e o uso inadequado do solo para a produção agrope-cuária também gera diversos efeitos negativos à vida humana, quando se 
trata do descarte ou uso incorreto de pesticidas e produtos químicos que 
destroem os compostos orgânicos naturais.
Alerta-se para o fato de que esses recursos do solo são finitos e, por 
isso, caso sejam utilizados até seu esgotamento, poderão não ser repostos 
pela natureza de forma suficientemente rápida para que possamos tê-los 
por tempo prolongado para sobrevivência e conforto.
Um dos problemas cruciais está nas plantações, que utilizam ferti-
lizantes com fósforo, elemento químico que possui jazidas distribuídas 
em alguns locais do planeta e, cuja finitude, pode causar escassez de ali-
mentos. Utilizar esses recursos com sabedoria ou encontrar outros que os 
substituam é uma necessidade na atualidade.
– 37 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
Outro problema da agricultura em larga escala é o uso de pesticidas 
e agrotóxicos, afinal, eles são poluentes. O consumo de alimentos com 
excesso de agrotóxicos pode causar doenças, além de degradar as águas 
para as quais esses produtos escorrem com as chuvas nas plantações.
O alto consumo de carne bovina, suína e de frango é outro problema. 
As produções desses animais consomem milhões de litros de água e de 
ração. Além do alto custo, essa produtividade impacta diretamente as 
reservas de água do planeta e a produção de ração com alimentos como 
milho, soja, etc.
A extração mineral também é um grande problema, em primeiro 
lugar porque precisa ser feita em áreas ainda preservadas, nas quais se 
encontram as reservas de ferro, bauxita (para produção de alumínio), entre 
outras. Segundo, porque é necessário destruir a proteção vegetal para reti-
rar os minérios e armazenar os resíduos da sua produção, como no caso 
das barragens de extração de ferro.
Os restos da extração de ferro, uma mistura de lama com minúsculas 
partículas do minério, isto é, a sobra da produção, ficam armazenados em 
grandes barragens e, com a água das chuvas, esse material vai se deposi-
tando em locais que, como se viu em Mariana e Brumadinho, estouraram 
e despejaram milhões de metros cúbicos de lama tóxica na natureza, cau-
sando a destruição de casas, rios, plantas, animais e de vidas humanas.
Figura 2.4 – O desastre da barragem de Brumadinho, lama destruindo a vida
Fonte: Shutterstock.com/Christyam de Lima
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 38 –
2.1.4 Os animais 
Talvez os animais sejam os seres mais prejudicados pela ação 
humana em relação à questão ambiental. Cada espécie tem um habitat 
em que consegue sobreviver de forma eficiente, e sua adaptação ao meio 
ambiente ocorreu nos milhões de anos da evolução das espécies. Muitos 
deles, quando não conseguem os alimentos, a proteção e a reprodução nas 
condições em que sempre viveram, acabam por desaparecer.
Existem centenas de animais em processo de extinção, entre eles, 
urso polar, tigre, rinoceronte, onças e leões. Os grandes animais sofrem 
tanto pela degradação de seu habitat quanto pela caça, porque sempre 
foram vistos como ameaça ao ser humano e, com toda a tecnologia da 
atualidade, é fácil exterminá-los. O ser humano é o grande predador e não 
preserva diversas espécies que podem sumir em poucos anos.
Além da caça preda-
tória, há outro problema, 
o uso indiscriminado de 
áreas naturais selvagens, 
em especial para obtenção 
de lucro com plantações, 
extração de madeira e de 
minérios. Isso diminui 
substancialmente as áreas 
de sobrevivência para 
animais selvagens que, 
aos poucos, ficam sem ter 
onde morar ou alimentos 
para sobreviver.
O derretimento da 
calota polar faz com que 
ursos, focas, raposas do 
ártico e outros animais 
sejam diretamente prejudicados pelo clima e comecem a morrer de fome. 
O aquecimento das águas muda a rota de peixes, que deixam de ser ali-
mento para outras espécies que agora não conseguem suprir suas neces-
Figura 2.5 – O urso polar, espécie em extinção pelo 
degelo da calota polar, caça e falta de alimentos
Fonte: Shutterstock.com/Jan Martin Will
– 39 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
sidades. Aves migratórias mudam suas rotas em épocas de acasalamento, 
deixando de reproduzir seus ovos no tempo correto, o que gera a escas-
sez de alimentos e a diminuição da própria espécie. Animais selvagens 
das florestas, como os leões, chegam cada vez mais perto dos rebanhos 
de gado na África para se alimentar, porque ficaram sem suas presas nas 
savanas, e são presas fáceis de caçadores que querem proteger sua planta-
ção e criação de animais.
Soma-se a esses fatores a proliferação de insetos, que não têm preda-
dores, como rãs, sapos, morcegos, grilos e aves, tornando-se pragas para 
as plantações e aumentando as doenças entre os humanos.
2.1.5 As plantas 
Com relação à flora, observa-se que tanto como alimento quanto no 
uso da madeira para a construção de casas, móveis, utensílios, ferramentas 
e objetos em geral, o ser humano sempre fez uso da vegetação para seu 
conforto e sobrevivência.
Nos dias de hoje, muito do que era feito de madeira foi substituído 
por plástico, mesmo assim, a madeira é grande aliada na vida diária das 
pessoas.
Quando se fala de alimentação, pode-se dizer que os alimentos vege-
tais são grande fonte de carboidratos, aminoácidos, vitaminas, sais mine-
rais essenciais à saúde, e sua abundância depende de um sistema equili-
brado com água, solo fértil e luz do Sol para reprodução das espécies e 
abastecimento da grande população mundial.
Quanto maior o número de indivíduos no planeta, maior é a quanti-
dade de comida necessária para todos se alimentarem, com isso, aumen-
taram as produções em grande escala de alguns vegetais (soja, mandioca, 
açúcar, milho, arroz, trigo e feijão são os mais utilizados na alimentação), 
enquanto outros, mais difíceis de serem reproduzidos e que não receberam 
alterações genéticas, nem cultivo extensivo pelo menor valor agregado 
como produto industrializado, acabam sendo menos consumidos e cul-
tivados (inhame, taioba, acelga, repolho roxo, rabanete, que são muito 
nutritivos), o que gera a monocultura.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 40 –
Esse problema de se produzir um único tipo de cultura diminui a pro-
dutividade do solo e aumenta a necessidade de utilização de agrotóxicos.
Mas, o pior aspecto é a contínua devastação das florestas de árvores 
nativas, derrubadas para o lucro das empresas madeireiras. Esses terrenos, 
após o corte, serão queimados para a retirada das raízes e, finalmente, 
serão usados para a monocultura, seja de soja, um produto com grande 
mercado exportador, ou de gado de corte, que também tem ótimo preço no 
mercado exterior.
Além desse tipo de 
exploração vegetal cau-
sar a extinção de espécies 
vegetais, ele ainda polui o 
ar e a floresta, que antes 
filtrava o ar e distribuía 
oxigênio, pois passa a ser 
local com muito esterco 
de gado. Esse esterco 
produz o gás metano, que 
também é poluente.
A diminuição da 
água disponível tam-
bém é fator preocupante, 
pois a criação de animais, como o gado, os suínos e as aves, tem alto 
consumo de água para seu crescimento, desenvolvimento e produção, 
podendo gerar escassez e poluição do ambiente (NOLASCO; BAGGIO; 
GRIEBELER, 2005).
2.1.6 Os seres humanos 
Aglomeração, essa é a palavra que melhor descreve a grande quan-
tidade de pessoas nas cidades. A urbanização ocorreu desde a Revolução 
Industrial, em um processo crescente, e as pessoas passaram a se con-
centrar nas cidades, formando metrópoles. Algumas delas têm milhões 
de habitantes, como é o caso de São Paulo, Nova York, Pequim, Tóquio, 
Cidade do México, entre outras.
Figura 2.6 – A Floresta Amazônica sendo cortada e 
queimada pelo lucro imediato
Fonte: Shuttersotck.com/PARALAXIS
– 41 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
Esse número excessivo de pessoas reunidas em um único lugar 
trouxe diversos problemas ambientais. O acúmulo de lixo, a falta de rede 
de esgoto, a quantidadede automóveis nas ruas, a poluição sonora, a 
poluição visual, o desemprego, o abandono de animais, a favelização, os 
moradores de rua, a deficiente limpeza pública, a facilidade de propagação 
de doenças, causando pandemias, talvez sejam alguns dos problemas que 
derrubam a qualidade de vida nas maiores cidades do mundo.
A urbanização precisa ser pensada de modo a permitir uma harmonia 
entre habitar, locomover, trabalhar, estudar, divertir; crescimento desorde-
nado significa muitas vezes mais problema do que solução.
Jogar lixo no chão, desrespeitar as leis ambientais, colocar fogo no 
mato, consumir sem necessidade, descartar objetos de forma inadequada 
no meio ambiente e não colaborar com a reciclagem são ações que geram 
consequências para a população e para o meio onde vivem. Compreender 
o papel de si mesmo na 
sociedade é um processo 
de aquisição de cidada-
nia que se faz por meio 
da educação, que deve 
acontecer na família, na 
escola, na comunidade, 
na igreja.
Os problemas 
ambientais são muitos e se 
relacionam, desse modo, 
resta entender como eles 
podem ser solucionados.
2.2 De que trata a ecologia? 
Muito se fala, atualmente, sobre a ecologia, mas o que ela significa e 
como começou a ser introduzida na linguagem cotidiana? Apesar do uso 
comum, foi o alemão Ernst Haeckel, um dos discípulos dos ensinamen-
tos de Charles Darwin, que, em 1866, primeiro utilizou o termo, reunindo 
Figura 2.7 – As grandes cidades e a aglomeração 
urbana, Mumbai – Índia
Fonte: Shutterstock.com/sladkozaponi
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 42 –
duas palavras gregas, o oikos (casa) e logos (estudo), resultado assim no 
estudo da casa, ou melhor, no estudo do ambiente em que se vive, ou habi-
tat (TOWNSED; BEGON; HARPER, 2010). Joseph Krebs, após Haeckel, 
ampliou essa ideia anos depois, falando da distribuição e das interações 
entre os indivíduos, por isso os estudos de Darwin foram tão importantes na 
noção de ecologia, afinal, o estudo das imigrações de animais lhe deu uma 
noção da necessidade de verificar como cada mudança de local afeta o indi-
víduo e os outros indivíduos com os quais os imigratórios se relacionam.
A ecologia é considerada uma ciência do complexo, isso porque ela 
trata de interações e de relações entre os diversos elementos que com-
põem um todo maior, isto é, o planeta. Sendo assim, não é possível falar 
de ecologia sem falar de um sistema integrado no qual as causas e efeitos 
retroagem sobre eles mesmos, mudando os próprios elementos do sistema 
(MORIN, 2005).
Como exemplo, pode ser citado que o surgimento da vida na Terra é 
oriundo de um processo no qual as primeiras bactérias do planeta consu-
miam gás metano, amônia, gás carbônico e nitrogênio, tendo metabolismo 
anaeróbio, pois o oxigênio era pouco abundante.
Essas primeiras formas de vida foram modificando seu metabolismo 
em virtude das ofertas de nutrientes que encontravam no planeta; e a pro-
dução de oxigênio se elevou pelas interações entre as substâncias que 
eram consumidas.
Com maior oferta de oxigênio, surgem micro-organismos aeróbios que 
permitem o início da evolução das espécies de animais e plantas. Evolução 
que é acompanhada da própria mudança do ar atmosférico do planeta.
Para Morin, a ecologia é: “[...] ciência das interações combinatórias/
organizadoras entre os componentes físicos e vivos dos ecossistemas” 
(MORIN, 2005, p. 33).
A ecologia pode ser compreendida a partir da interação da Biocenose, 
que são os indivíduos que habitam uma região, e a Biótopo, que é o espaço 
físico onde ocorrem as interações entre esses indivíduos. Nesse espaço de 
relações existem diversos fatores, que podem ser positivos ou negativos 
para os indivíduos, pois eles sobrevivem por meio de predações, compe-
– 43 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
tições, destruições, mas também há lugar para fatos positivos, como as 
polinizações, por exemplo (MORIN, 2005).
Pensando de modo complexo, percebemos que a ecologia é estudada 
pela biologia em seus elementos constituintes (fisiologia, genética, bio-
logia molecular, anatomia, etc.), em constante ação com outras ciências, 
como as ciências sociais (política, geografia, história) e as ciências exa-
tas (matemática, estatística, física, química), portanto, a complexidade se 
expressa pela necessária reunião de conhecimentos e saberes.
A ecologia pode ainda ser dividida em dois campos. Um do estudo de 
um indivíduo ou espécie (autoecologia) e outro da análise das interações 
entre eles de modo geral (sinecologia). É possível dividir a ecologia em 
níveis de organização para efeitos didáticos de estudo.
Figura 2.8 – Níveis de organização da ecologia
BIOSFERA
ECOSSISTEMA
COMUNIDADE
POPULAÇÃO
Fonte: elaborada pelo autor.
A população refere-se aos organismos de determinada espécie; a 
comunidade é o conjunto de populações; o ecossistema é formado pelas 
comunidades mais os grupos não vivos; e a biosfera é o conjunto maior 
com os seres vivos, não vivos, suas interações de forma ampla desde o 
nível microscópio até o macroscópico. Verifica-se que falar de ecolo-
gia é mais do que o conceito de cuidar da natureza ou ser defensor do 
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 44 –
meio ambiente, pois seu componente social e político integra as questões 
biológicas e sociais. Cuidar do oikos, ou a casa viva da vida, (MORIN, 
2005), é como cuidar da casa de cada um mesmo, com as questões de 
sobrevivência e de convivência.
Falar em ecologia demanda pensar na energia que os seres precisam 
para existir e na matéria-prima que fornece essa energia, pois os organis-
mos sempre estão consumindo algo que retiram do ecossistema e acabam, 
em algum momento, se tornando matéria para que outros elementos pos-
sam retirar energia. Não há um vilão nessa história de interações, o que 
pode ocorrer é que uma determinada espécie consome a matéria toda para 
produzir energia para sua existência, esgotando o ecossistema, e a falta de 
recursos materiais pode extinguir a própria espécie, motivo pelo qual o 
equilíbrio deve existir.
A diferença essencial entre as populações de animais, plantas e 
micro-organismos de todo tipo e o ser humano é que este último tem a 
faculdade da razão para elaborar pensamentos críticos sobre suas ações. O 
ser humano consegue analisar a situação do planeta, enquanto uma célula 
bacteriana só consegue entender sua própria existência física e destruirá 
tudo que estiver a seu alcance para manter sua individualidade biológica. 
O ser humano pode refletir a respeito da possibilidade de manter outras 
espécies para que sua própria experiência de vida seja duradoura e não 
restrita à necessidade imperativa do fator biológico (MORIN, 2005).
A ecologia é a ciência que estuda o ambiente de maneira mais 
abrangente. Importa-se com a relação entre os seres vivos e destes 
com o meio que os cercam. Os conceitos advindos da ecologia são 
aplicáveis a qualquer tipo de sistema e fazem desta ciência a base 
para muitas discussões. Ainda, diante da crise ambiental e suas 
repercussões na existência humana e de outros seres vivos, a eco-
logia tornou-se temática central em diferentes espaços de reflexão. 
A atual questão ambiental associa-se às crises sociais, econômica, 
política e tecnológica (LOBÃO; VIDAL, 2020, p. 119).
2.3 Como a humanidade lida com a ecologia 
A Segunda Grande Guerra Mundial foi um evento de proporções 
catastróficas e definitivas em muitas das ações humanas que a procede-
– 45 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
ram. A tecnologia provinda da guerra permitiu o desenvolvimento de 
muitos componentes, equipamentos, materiais e conhecimentos em uma 
velocidade nunca vista antes. Assim, o ser humano pôde alavancar muitas 
ideias e domínios sobre a natureza, mas o resultado disso não foi apenas 
para a melhoria das condições de vida das pessoas, alguns fatores agiram 
contra os próprios criadores, como a bomba atômica, por exemplo.
O crescimento populacionale o desenvolvimento industrial ganha-
ram escala planetária e diversos problemas começaram a ser notados sem 
precisar de lupa ou luneta.
Diversos estudiosos perceberam essas questões e começaram a se 
posicionar desde o fim da década de 1950, surgindo o movimento ambien-
talista, ou seja, a união de pessoas com intenção de proteger os sistemas 
naturais baseados no conhecimento adquirido sobre a destruição do pla-
neta e da qualidade de vida dos seres viventes.
Em 1968, é criado o Clube de Roma, que reuniu empresários, pes-
quisadores, políticos, educadores, humanistas e economistas de 10 países, 
contando com Aurelio Peccei, um dos gestores da FIAT, com o objetivo 
de sensibilizar as nações sobre as questões ambientais. O livro Primavera 
silenciosa de Rachel Carson, de 1962, também foi um impulso para essa 
liderança no sentido de compreender e agir a favor do equilíbrio entre natu-
reza e seres humanos. Desse primeiro momento, surgiu a Conferência de 
Estocolmo, em 1972, capitaneada pelo pesquisador Dennis Meadows, que 
apontou que os recursos naturais do planeta eram finitos e sua exaustão 
poderia significar o fim do próprio ser humano. Dessa conferência surgiu o 
relatório Limítes do Crescimento e um manifesto com 19 pontos necessários 
para o combate à destruição do planeta (NAÇÕES UNIDAS, 2020).
Apesar de quase 50 anos terem se passado desde que a primeira confe-
rência foi realizada, vemos que os seres humanos continuam cometendo os 
mesmos erros, mas isso não significa que não houve avanços. Em 1983, a 
mestre em Saúde Pública Dra. Gro Harlem Brundtland presidiu a Comissão 
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU e, dessa lide-
rança, costurou-se na Comissão Brundtland o relatório Nosso Futuro Comum, 
alertando pela primeira vez que estávamos prejudicando o futuro das gerações 
vindouras e, inclusive, podendo impedir que esse futuro existisse.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 46 –
É nesse ponto que começa a se falar em desenvolvimento sustentável, 
pois se percebeu que não adiantava que os países continuassem crescendo 
em termos econômicos, sem que se pudesse manter esse crescimento pelo 
fim dos recursos e à custa da qualidade de vida das pessoas, das águas, do 
ar, dos solos, dos animais e das plantas. Quatro anos depois, foi produzido 
na Noruega o Relatório Brundtland, em homenagem à Dra. Gro Harlem, 
que demonstrava os principais desafios para que o mundo pudesse agir a 
favor da proteção da Terra e da vida no planeta.
2.3.1 Desenvolvimento sustentável 
O próximo passo decisivo para um aprofundamento e alargamento 
da discussão foi a criação da Cúpula da Terra, que se realizou no Rio de 
Janeiro no ano de 1992, chamada Eco 92.
Foram mais de 100 líderes mundiais de diferentes países participando e, 
dessa vez, uma grande quantidade de pessoas pertencentes a organizações não 
governamentais, estudantes, professores, pesquisadores, empresários, traba-
lhadores rurais, indígenas, entre outros, que tornaram esse evento não apenas 
um encontro de líderes, mas uma reunião com a participação popular.
A Eco 92 deixou um documento fundamental nessa luta, a Agenda 
21, que, como toda agenda, tem a função de colocar prazos e datas para o 
cumprimento de compromissos.
Figura 2.9 – Conferência Mundial do Meio Ambiente – estudando a Terra
Fonte: elaborada pelo autor.
– 47 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
Entre os diversos objetivos da Agenda 21, estão:
 2 proteger o meio ambiente e os recursos não renováveis.
 2 cuidar do ar.
 2 proteger contra o desmatamento.
 2 evitar a destruição do solo e a desertificação.
 2 prevenir contra a poluição das águas de rios, mares e águas 
subterrâneas.
 2 evitar a destruição da vida marinha.
 2 realizar uma gestão do lixo e de resíduos sólidos produzidos 
pelo homem.
 2 promover o transporte solidário, coletivo e menos poluente.
 2 edificar o turismo consciente a áreas naturais.
 2 promover a educação ambiental para todas as crianças e jovens.
 2 incentivar a reciclagem de materiais industriais.
 2 evitar o consumo excessivo de recursos.
A Agenda 21 gerou uma discussão que foi além da noção de conser-
var e preservar a natureza, porque isso significa que os diversos atores 
sociais, direta ou indiretamente, estão envolvidos nessa preservação. O 
olhar passou a ser não apenas no cuidado com a natureza, mas na relação 
do desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Desenvolvimento sustentável foi uma expressão surgida no Relatório 
Brundtland das Nações Unidas, em 1987, tendo como finalidade satisfazer 
as necessidades das pessoas no presente sem comprometer as necessida-
des delas no futuro (TORRESI; PARDINI; FERREIRA, 2010).
O desenvolvimento sustentável baseia-se no tripé meio ambiente, 
economia e sociedade, acreditando-se que só é possível alcançar um 
desenvolvimento duradouro se esses três pontos forem satisfeitos e se 
houver compromisso com o planeta, com as pessoas e com a qualidade de 
vida equânime.
Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza
– 48 –
Acredita-se que conservar os recursos naturais, as plantas e os ani-
mais deve ser uma política de governo e que as ações nesse sentido valo-
rizarão a vida no planeta e, consequentemente, as pessoas.
Pela primeira vez, relacionou-se a questão ambiental com a pobreza, 
pois em locais onde a distribuição de riqueza não é justa, ou melhor, man-
tendo-se a má distribuição de renda dentro do país, ou entre os países, não 
é possível proteger os recursos naturais, afinal, pessoas que não têm o que 
comer, não têm moradia digna, não têm água potável e não têm qualidade 
de vida acabam degradando a natureza como forma de sobreviver.
Por outro lado, empresas e nações não podem continuar a produzir 
riqueza às custas dos recursos naturais de países menos desenvolvidos 
e da saúde da população, sem pensar nas consequências para as gera-
ções futuras.
Entre os diversos compromissos sociais em relação a boas práticas para 
o planeta, surgiram conferências específicas para tratar de temas como:
 2 1994 – conferência Mundial de Pequenos Estados em Desenvol-
vimento, para promover países mais pobres e pequenos e ilhas 
nacionais que retêm poucos recursos para suas populações.
 2 1997 – cúpula da Terra + 5, para propor soluções que evitem a 
poluição do ar, reduzam a emissão de poluentes na atmosfera e 
incentivem o uso de produção de energia por fontes renováveis, 
como a energia solar, do vento etc., que culminou no Protocolo 
de Kyoto.
 2 2002 – em Johanesburgo, foi realizada uma reunião para deter-
minar a implementação e a ação de propostas factíveis para os 
desafios da Eco 92, criando a Declaração de Johanesburgo, cuja 
importância é forçar os líderes mundiais a se comprometerem 
com metas reais de desenvolvimento sustentável.
 2 2005 – Ilhas Maurício recebe outra reunião importante que trata, 
entre outros temas, da elevação das águas dos oceanos e os con-
sequentes problemas oriundos disso, como a invasão das mora-
dias à beira-mar, o cuidado com os peixes e a gestão de resíduos 
das cidades costeiras que poluem diretamente as águas.
– 49 –
Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 
 2 2012 – o Rio de Janeiro recebeu novamente a Conferência Mun-
dial para o Desenvolvimento Sustentável promovida pela ONU, 
que permitiu avaliar avanços e retrocessos nas diversas áreas 
de atuação em relação à conservação do planeta. Foi possível 
perceber que a destruição da camada de ozônio havia diminuído 
com o fim do uso do clorofluorcarboneto (CFC), que foi subs-
tituído por outros gases. Mas, os gases do efeito estufa, princi-
palmente o gás carbônico, continuava a crescer, e as ações não 
tinham sido exitosas, tornando o problema a cada dia mais sério 
e perigoso para nossa sobrevivência.
Um dos aspectos relevantes a respeito do desenvolvimento sustentá-
vel foi que, a partir dessas discussões, percebeu-se a necessidade de arre-
cadar recursos para auxiliar na relação preservação ambiental

Continue navegando

Outros materiais