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FUNDAMENTOS DOS ESPORTES DE AVENTURA E DA NATUREZA Dimitri Wuo Pereira E d u ca çã o F U N D A M E N T O S D O S E S P O R T E S D E A V E N T U R A E D A N A T U R E Z A D im itr i W uo P er ei ra Curitiba 2020 Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza Dimitri Wuo Pereira Ficha Catalográfica elaborada pela Editora Fael. P436f Pereira, Dimitri Wuo Fundamentos dos esportes de aventura e da natureza / Dimitri Wuo Pereira. – Curitiba: Fael, 2020. 340 p. il. ISBN 978-65-86557-16-9 1. Esportes radicais I. Título CDD 796.046 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Angela Krainski Dallabona Revisão Editora Coletânea Projeto Gráfico Sandro Niemicz Imagem da Capa Shutterstock.com/CC7 Arte-Final Evelyn Caroline Betim Araujo Sumário Carta ao Aluno | 5 1. Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos | 7 2. Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física | 31 3. Aventura e preservação do meio ambiente | 61 4. Aventura – reconhecendo os espaços de prática para preservá-los | 93 5. Gestão de risco e perigo na aventura | 121 6. Aventura na Base Nacional Comum Curricular | 151 7. Pedagogia da aventura: o contexto escolar | 179 8. A prática da aventura nos espaços urbanos | 209 9. A prática da aventura na natureza | 245 10. Tendências do mercado de aventura para o profissional de Educação Física | 279 Gabarito | 311 Referências | 317 Prezado(a) aluno(a), A obra Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natu- reza vem ao encontro das necessidades dos profissionais de Edu- cação Física em entender o fenômeno da aventura, que a cada dia se incorpora ao universo da cultura corporal. O objetivo dessa obra é trazer informações e promover a reflexão sobre a aventura, desde seu conceito, sua relação com a preservação ambiental, os riscos da prática, suas modalidades, suas técnicas e procedimentos de segurança, as metodologias de ensino e a inserção na educação física escolar, no esporte e no lazer. Carta ao Aluno – 6 – Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza A aventura, principalmente, no início do século XXI, começou a ser estudada pela área de Educação Física, pois há crescente demanda por conhecimento e qualificação de pessoas. Os estudos da aventura têm caráter interdisciplinar e envolvem também os conhecimentos sobre Meio Ambiente, Turismo, Educação, Fisiologia, Biomecânica, entre outros, gerando um entrelaçamento de saberes. O leitor poderá perceber que as informações do texto estão atualiza- das e contextualizadas, podendo servir como ponto de partida para estudo e atualização. Convido-o à leitura e reflexão crítica sobre a aventura, acreditando no avanço desse conhecimento para os profissionais de Educação Física. 1 Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos A aventura, no início do século XX, está se tornando uma expressão comum na linguagem e na vida das pessoas. Não que ela seja um fenômeno novo, afinal, aventureiros exploravam os mares, as montanhas, os rios, as cavernas, as ilhas, as florestas, os ares e até a Lua desde milhares de anos. Nos últimos tempos, a aventura tem estado mais próxima de todas as pessoas, nos noticiários da mídia, nas praças, nas praias, nas ruas, nas propagandas, na internet ou nas conversas entre amigos, a aventura está se popularizando entre nós. Pretende-se, neste capítulo, mostrar como foi essa evolu- ção e disseminação da aventura na sociedade, apontando alguns caminhos que ela percorreu até chegar cada vez mais próxima das pessoas, mesmo daquelas que costumavam evitar os desafios, por considerá-los muito perigosos. Essa caminhada começa com o significado do termo e segue para os momentos históricos, procurando revelar como as pes- soas utilizam a aventura no seu dia a dia, deixando claro que, principalmente na área da Educação Física, ainda há lacunas a serem preenchidas sobre sua conceituação. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 8 – 1.1 Adventura O minidicionário Aurélio nos informa que o termo aventura provém do latim, adventura ou ad venture, e é um substantivo masculino com os seguintes significados: “1. Empresa ou experiência arriscada. 2. Aconte- cimento imprevisto, peripécia. 3. Ligação amorosa inconsequente” (FER- REIRA, 2010, p. 82). Essa definição inicial contém os sentidos sintéticos da palavra, primeiro por identificar um fenômeno como substantivo, ou seja, dar nome a algo que o ser humano pode conhecer e, em segundo lugar, por mostrar que a vivência da aventura envolve arriscar-se em algo desconhecido, estabelecendo algum tipo de proeza e que pela emoção forte é apaixonante. A aventura compreende o desafio de ir ao encontro do inesperado, do misterioso e da descoberta, de algo que pode estar fora ou dentro de si mesmo (como os medos, por exemplo), daquilo que está por vir e que não sabemos o que é até que nos atiremos na jornada. Pereira, Armbrust e Ricardo (2008, p. 28) dizem que o sentido da aventura: “[...] liga-se ao sentimento de buscar algo que não é tangível num primeiro momento, que é muito comum aos praticantes de atividades na natureza, principalmente aquelas onde a distância, o clima, o esforço físico, a privação e a incerteza estão presentes”. Quando se pesquisa em sites de busca na internet, é possível encon- trar que a aventura tem os seguintes conceitos: Feito extraordinário. Faça- nha. Caso inesperado que merece ser relatado. Destino. Acaso (LÉXICO, 2020; PRIBERAM, 2020). Em todos eles, são encontrados os mesmos sentidos já apresentados no dicionário Aurélio, e ainda que a sorte está presente, bem como a necessidade de um feito heroico estar associado a um aventureiro ou uma aventureira. Percebe-se que falar de aventura é dialogar sobre sentimentos relacionados às emoções que as pessoas vivem em situações inesperadas, perigosas ou entusiásticas. O termo aventura, em si, não é empregado somente no âmbito das atividades físicas ou esportivas, seja no senso comum ou no meio acadê- mico. Ele é, também, parte das imagens associadas à literatura, aos negó- cios, aos filmes do cinema, à moda e mesmo ao estilo de vida das pessoas. Porém, quando adentramos o âmbito da educação física, do turismo, do – 9 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos lazer e de outras áreas correlatas, a aventura começa a ser estudada e defi- nida de maneira mais sistemática e a busca de um rigor se intensifica. Talvez possamos afirmar que a aventura compreende a liberdade de escolha pelo tipo e nível da atividade em si (mais ou menos arriscada, estressante, cansativa) e o componente incerteza, direta- mente ligado ao desconhecido, ao novo e a recompensas inerentes à prática (satisfação, bem-estar, superação, alegria etc.) (MARI- NHO, 2011, p. 30). Percebe-se que o entendimento do que vem a ser aventura é impreg- nado de uma lógica a respeito da incerteza e da novidade que esse fenô- meno contém em seu interior. Tem-se aqui um ponto de partida para a compreensão da aventura para futuros profissionais. 1.2 Outras denominações Apesar de possíveis entendimentos semânticos sobre a aventura, seu significado vai sendo construído na íntima relação com outros fenômenos já conhecidos no universo da educação física, como, por exemplo, a ideia de esporte, lazer, jogo, atividade física, natureza, entre outras. Com base nessas interações, diversos autores propuseram nas duas últimas décadas termos que pudessem identificar essas atividades. Caillois (1992) ijá apresentava as práticas corporais divididas em quatro formas de jogos: agôn (disputa), mimicry (fantasia), alea (sorte e azar) e ilinx (ver- tigem). Este último representando as práticas de risco e perigo, cujo prin- cipal objetivo do praticante é expor-sedeliberadamente ao frio na barriga proporcionado pela sensação de medo. Trataremos de algumas mais rele- vantes, já que existem conceitos utilizados em outros países, como Espor- tes Extremos e Esportes Californianos, que não são comuns na linguagem brasileira e também não foram usados pelos principais pesquisadores da educação física de nosso país. 2 Atividades Físicas de Aventura na Natureza (AFAN): nome escolhido por Javier Betrán e Alberto Betrán (2006), autores espanhóis que entendem essas atividades como aquelas desti- nadas a pessoas que querem sentir sensações e emoções, princi- palmente com caráter recreativo. Eles propagam que as AFAN Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 10 – podem ocorrer em três âmbitos: o recreativo, o competitivo e o educativo, e que elas têm forte vínculo com a pós-modernidade, isto é, com as rupturas culturais que remetem à ressignificação do ambiente, em uma aproximação com a natureza e uma rejei- ção à modernidade que se estruturou na Revolução Industrial. 2 Atividades de Aventura: usado por Giuliano Pimentel (2013), esse conceito foi fundado à luz da indefinição e controvérsia entre os diversos temas existentes. Um dos seus aspectos é a ligação da aventura com o conceito de lazer e tempo livre, colo- cando em dúvida seu recorte esportivo, quer seja pela competi- ção que o esporte carrega em seu bojo, quer seja pelo ambiente muito diverso da organização em que a sociedade normalmente constrói as práticas corporais tradicionais. A abrangência do termo Atividades de Aventura o torna simples de ser incorporado à ideia de aventura, o não uso da expressão natureza acaba com a confusão entre meio natural e urbano que costuma ocorrer com AFAN, por exemplo, usado por Betrán e Betrán. Natureza gera uma associação com a noção de corpo físico, dicotomizando o ser humano. Pimentel sustenta que a noção de Esportes na Natu- reza tem coerência quando trata do tema da aventura, porém, entende que a maior abrangência de se considerar as Atividades de Aventura é pertinente à área de educação física. 2 Esportes na Natureza: e um conceito defendido por Cleber Dias (2007). Baseado nas interpretações possíveis dentro da análise sociológica, ele preferiu um termo que não fosse aventura. Ele explica que existem diversas formas de dizer aventura, como, por exemplo: práticas de deslize, atividades com pranchas, novas prá- ticas esportivas e até atividades ao ar livre, e que as sensações pro- vindas das experiências motoras são essenciais para mostrar que há diferenças entre os esportes tradicionais e olímpicos e aqueles voltados aos riscos e ao contato com a natureza. Dias (2007) explica que os esportes na natureza normalmente estão associados à contracultura, os movimentos hippie, punk, ecológico, etc. Ele deixa claro que há diversas formas de se falar sobre esse fenômeno e que, apesar da proximidade dos significados, há distinções entre eles, que – 11 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos à primeira vista podem passar em branco e que carregam valores funda- mentais relacionados à cultura da qual provém. Assim, Dias (2007) chega ao conceito de esportes na natureza, opondo-se de algum modo ao que o mundo acadêmico havia proposto até então, e olhando da perspectiva dos praticantes que ele pesquisou no estado do Rio de Janeiro, muitos deles praticantes de montanhismo, voo livre e surfe, e que em sua maioria não utilizam o termo aventura. Dessa forma, Dias (2007) interpreta que, como essas práticas se relacionam dire- tamente com a natureza, ele preferiu associar esse termo como proposta de nomenclatura e utilizá-la após o termo esporte, pois concorda com as definições de Tubino (2001), para o qual o esporte tem sempre um con- ceito amplo, não se restringindo à competição e aos ideais exclusivos do regramento tradicional. 2 Esportes Radicais de Aventura e de Ação: conceituação pro- posta por Dimitri Wuo Pereira, Igor Armbrust e Denis Prado Ricardo (2008) que incorpora o elemento radical ao termo. Nessa ideia, o significado de radical parte da raiz linguística, ou seja, no latim a palavra radical significa extremo ou raiz. A com- preensão dos dois termos, extremo e raiz, vem da ideia de que os praticantes, quando realizam atividades perigosas dentro da cultura corporal, estão desfiando-se a ir ao extremo de suas habi- lidades e de sua coragem, para testar-se e descobrir seus poten- ciais, acreditando na sorte ou no acaso (palavra que provém do árabe e significa sorte e azar) a seu favor, isto é, ser radical é ir brincar com o medo e voltar para sentir-se vivo. Claro que essa compreensão ocorre na educação física, acredi- tando-se em um risco controlado, ou até imaginário quando se trata de crianças. Os autores informam também que os termos aventura e ação estão diretamente ligados ao esporte radical, sendo apenas suas caracterizações. A aventura é a forma radical voltada ao enfrentamento do desconhecido e a ação ao radical, com o intuito de fazer manobras arrojadas. Os autores se baseiam também no ambiente em que as práticas acontecem, classifican- do-as como terrestres, aquáticas, aéreas, mistas e urbanas, e pro- põem essa classificação de forma aberta e dinâmica, porque per- Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 12 – cebem que a cada dia novas modalidades surgem ou se fundem, criando outras. 2 Práticas Corporais de Aventura na Natureza: foi a proposta apresentada por Luciana Gomes Fernandes e Andreia Silva (2007), na qual utilizam o termo Práticas Corporais de Aven- tura na Natureza para demonstrar a importância que a área de educação física deveria dedicar ao organizar a aventura den- tro das possibilidades educacionais. Em sua concepção, havia naquele momento uma discussão a respeito da aventura, inclu- sive com a proposição de regulamentação para esse tipo de prática em termos turísticos, e que a educação física deveria participar desse processo, pelo caráter educativo que as ativi- dades na natureza contêm. 2 Práticas Corporais de Aventura: Humberto Inácio (2016), por sua vez, antes da aprovação da Base Nacional Comum Cur- ricular em dezembro de 2017, discute o surgimento do termo aventura no meio acadêmico brasileiro, apontando os primeiros estudos no ano de 1997. Nesse artigo, é usado o nome Práticas Corporais de Aventura para designar a forma como, na educa- ção física, fica definido o estudo e a intervenção por meio dessa cultura corporal. Ele aponta ainda que em artigo de 2007, com a pesquisadora Alcyane Marinho (MARINHO; INÁCIO, 2007), o termo Práticas Corporais de Aventura na Natureza era utili- zado por eles, tal qual já havia sido usado por Fernandes e Silva (2007) no Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte, e que as diferenças com o conceito agora propostas na Base Nacional Comum Curricular são pequenas, principalmente no que tange à diferenciação entre práticas urbanas e de aventura, das quais os autores discordam. São, portanto, diversas definições para um mesmo objeto, que em comum têm a crença nessas atividades como práticas de risco e perigo, que podem ser controladas pelos praticantes. Aventura acaba sendo a palavra que mais se ajusta às diversas expressões usadas para definir os sentidos que os autores propõem quando querem se referir a esse tipo de atividade. – 13 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos O risco e o perigo inerentes à prática da aventura, independentemente da definição, são elementos considerados essenciais, e isso nos remete a uma posição diferente daquela comumente encontrada no universo do fenômeno da cultura corporal. Na aventura, o adversário não é outra pes- soa, mas a sensação de medo e de vencer esse medo que cada um busca na prática. A superação e o desafio incerto são as atitudes que se espera de quem faz aventura, que contém adrenalina, hormônio que nos mantém em estado de alerta aos perigos e que mantém a excitaçãonessas ativida- des, motivo pelo qual muitos retornam a praticar, pois além do bem-estar inerente à atividade física, a adrenalina sentida desperta sentimentos de atenção e percepção redobrada na aventura. Figura 1.1 – Risco e perigo: presença comum nos conceitos de aventura Esportes radicais de aventura e de ação Atividades de aventura Atividades físicas de aventura na natureza Esportes na natureza Risco e perigo Práticas corporais de aventura Fonte: elaborada pelo autor. 1.3 A aventura e sua relação com o lazer, o esporte e a educação Para um entendimento mais aprofundado desses conceitos, é preciso compreender que cada um deles segue determinadas fundamentações teó- ricas que os encaixa em paradigmas distintos. Então, a escolha dos termos se baliza por esses princípios gerais epistemológicos. O estudo da aventura na educação física brasileira foi realizado prin- cipalmente por pesquisadores do campo do lazer, pois eles perceberam que a aventura é repleta de características comuns ao lazer, como a espon- Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 14 – taneidade, a liberdade de escolha, o tempo livre, a diversão, o prazer e o desenvolvimento das potencialidades humanas integradas à natureza. Para uma compreensão mais apurada do que significa lazer, buscou- -se uma definição clássica de Marcellino (1990, p. 16): [...] lazer como cultura vivenciada no tempo disponível, não em contraposição, mas em estreita ligação com o trabalho e as demais esferas de obrigação da vida social, combinando os aspectos tempo e atitude; no valor da atuação no plano cultural, numa perspectiva gramsciana, como instrumento de mudança social; e na crítica à visão funcionalista do lazer, à concepção utilitarista da educação, à desescolarização e à visão apocalíptica da ação cultural. Outro importante autor que discutiu o lazer no Brasil o define da seguinte maneira: O lazer se traduz por uma dimensão privilegiada da expressão humana dentro de um tempo conquistado, materializada através de uma expe- riência pessoal criativa, de prazer e que não se repete no tempo/ espaço, cujo eixo principal é a ludicidade. Ela é enriquecida pelo potencial socializador e determinada, predominantemente, por uma grande motivação intrínseca e realizada dentro de um contexto mar- cada pela percepção de liberdade. [...] Sua vivência está relacionada diretamente às oportunidades de acesso aos bens culturais, os quais são determinados, via de regra, por fatores sócio-político-econômicos e influenciados por fatores ambientais (BRAMANTE, 1998, p. 9). Observa-se que as definições de lazer apresentam muitas relações com as atividades de aventura, por isso, a maioria dos conceitos evita a utilização do termo esporte, pelo fato de essas práticas serem realizadas, predominantemente, no âmbito do lazer e se ligarem aos ideais não com- petitivos, sendo que algumas delas nem contêm a competição para sua execução, como é o caso do arvorismo, da tirolesa, etc. O parkour, por sua vez, foi criado rompendo com o ideal competitivo e fixando-se como uma atividade de cooperação pura por seus próprios criadores. Os teóri- cos que defendem essas ideias são, em geral, do campo dos estudos do lazer e costumam defender que o esporte é uma atividade regulamentada e competitiva, opondo-se ao conceito de lazer, que pressupõe a liberdade de escolha e a diversão com um fim em si mesmo. Castellani Filho (1998) faz crítica ao fato de o esporte ter sido usado como instrumento de enquadramento político nos anos da dita- – 15 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos dura no país e que, por sua função organizadora, serviu para moldar os comportamentos da juventude na escola por meio dos ideais de força e competitividade. A imagem do esporte ligada ao padrão militar de treinamento na educação física escolar, provinda dos quadros de forma- ção dos primeiros professores de educação física brasileiros, consagrou esse tipo de oposição ao esporte. Aliando-se a isso, ainda sobreveio o uso da mídia, que enxergou no esporte um potencial de venda de pro- dutos e alienação por meio de sonhos muito distantes da realidade da população brasileira. Afinal, o esporte existe sem competição? Reside na resposta à pergunta feita na figura anterior um dos proble- mas centrais para a definição do que é aventura no âmbito da educação física, pois, quando se fala em esporte, associá-lo à competição é pratica- mente inevitável. Sobre isso, vale a pena ler Barbanti (2006), pois em seu artigo ele articula o conceito de forma clara e precisa, mas, toda delimi- tação de um tema incorre em uma necessária redução do termo a alguns conceitos mestres, que podem com o tempo ser revistos. Sendo assim, aqueles que advogam para práticas de aventura como elementos fundados no campo do lazer ou da educação, estabelecem sua crítica exatamente no fato de a competição poder se tornar um empecilho no processo de huma- nização, pois ela retira muitas características da liberdade e da empatia, das quais a recreação, a diversão, e o desenvolvimento humano necessi- tam nos momentos de lazer e educação. Dois dos pensamentos expostos que utilizam o termo esporte ligado à aventura, como vimos anteriormente, instauram sua base na percepção do esporte como propôs a Unesco (TUBINO, 2001), ou seja, o esporte é considerado um fenômeno global que pode ser praticado em três dimen- sões humanas: 2 rendimento – prática esportiva institucionalizada, com regras rígidas organizadas pelas federações, voltada para atletas que buscam na vitória suas metas e dispostos a treinamento inten- sivo na obtenção de resultados, pois há perspectiva de ganhos Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 16 – financeiros que provêm de empresas e organizações que finan- ciam sua existência. 2 participação – prática esportiva da maioria da população, que é mais flexível e cujos objetivos dependem da subjetividade do praticante. As metas estabelecidas não são padronizadas, nem o tipo de treinamento, já que sua finalidade pode ser a diversão, o condicionamento físico, o aprendizado ou a socialização. 2 educação – aqui se encontra o esporte cujo interesse está nos valores humanos que a prática pode trazer, desde que orientada por pessoas com objetivos de aprendizagem, crescimento pes- soal, interação social e desenvolvimento nos aspectos físicos, sociais, psicológicos e cognitivos. O esporte educacional é, predominantemente, encontrado na escola e voltado à forma- ção de cidadãos. Apesar de não utilizar o termo esporte, Betrán e Betrán (2006) enquadram as AFAN dentro do espectro no qual a definição do esporte da Unesco se insere. Cabe uma reflexão a respeito do papel educacional do esporte, pois o professor Valdir Barbanti (2006) ensina que um dos aspectos importantes para a compreensão do que é esporte é a necessária subjetividade do praticante na realização da atividade, ou seja, mesmo que tenhamos uma definição objetiva para que possamos nos expressar e nos comunicar eficientemente, cada sujeito utiliza sua percepção para decidir como quer praticar o esporte e pode entender que, além da competição em si, o esporte pode agregar valores às vidas das pessoas e ser, portanto, usado como elemento educacional. Esse é o alicerce que estabelece uma relação entre a conceituação de Betrán e Betrán e Barbanti, mesmo que os dois primeiros autores tenham utilizado termo diferente de esporte para sua definição. Ainda que este texto não pretenda trazer uma definição sobre o esporte, entendemos que sem uma reflexão sobre o tema teríamos dificuldade de compreender o que é, ou não é, aventura. Novamente, retomando a presença da Unesco, será possível observar que os termos educação física, atividade física e esporte são colocados, atualmente, de maneira conjunta, isso demonstra que a dificuldade de – 17 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos nomenclatura nãoé um problema exclusivo do Brasil e que, mais impor- tante do que fechar o sentido daquilo que se entende por esporte, é perce- ber que o esporte é um fenômeno universal. O esporte está entrelaçado aos conceitos de atividade física e de edu- cação física, não cabendo uma segmentação e simplificação que desar- ticule as ações e os atores da prática esportiva, de lazer e da educação, como se percebe na Carta Internacional do Direito ao Esporte de 1978, que se transformou em Carta Internacional da Educação Física, da Ativi- dade Física e do Esporte de 2016. Artigo 1 – A prática da educação física, da atividade física e do esporte é um direito fundamental de todos. 1.1 Todo ser humano tem o direito fundamental de acesso à educa- ção física, à atividade física e ao esporte, sem qualquer tipo de dis- criminação com base em etnia, gênero, orientação sexual, língua, religião, convicção política ou opinião, origem nacional ou social, situação econômica ou qualquer outra. 1.2 A liberdade de desenvolver habilidades físicas, psicológicas e de bem-estar, por meio dessas atividades, deve ser apoiada por todos os governos e todas as organizações ligadas ao esporte e à educação. 1.3 Oportunidades inclusivas, assistivas e seguras para a participa- ção na educação física, na atividade física e no esporte devem ser disponibilizadas a todos os seres humanos, em especial crianças de idade pré-escolar, pessoas idosas, pessoas com deficiência e povos indígenas (UNESCO, 2016, p. 2). A perspectiva que mais se adequa à complexidade do fenômeno aven- tura se mostra voltada à integração de conceitos de esporte, lazer e educa- ção, e não à sua distinção e separação, e isso está diretamente relacionado ao modo como os conceitos são compreendidos em todo o planeta. No Brasil, no final do ano de 2017, a Base Nacional Comum Curricular foi criada com o intuito de produzir um currículo mínimo nacional. Assim, definiu diversos conteúdos, chamados unidades temáticas, para todas as dis- ciplinas. Na educação física, a novidade foi a inserção das práticas corporais de aventura, definição oficializada para que os professores da área introdu- zam aos alunos esses conhecimentos. O pressuposto central dessa escolha reside no fato de a educação física tematizar a cultura corporal, portanto, Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 18 – práticas corporais são uma forma de o ser humano se relacionar com os diversos conteúdos, e a aventura passa a qualificar o tipo de prática corporal que está objetivada na proposta curricular brasileira desde então. O Ministério do Esporte, por sua vez, debateu o tema em 2005 e criou uma diferenciação para a ideia de aventura como prática corporal. Portanto, para fins de incentivo e fomento de políticas públicas, o Brasil passou a definir o esporte de aventura como aquele relacionado à natureza e ao ecoturismo, praticado em condições de controle ou cálculo de riscos, e utilizou o termo esportes radicais para definir aqueles cujas manobras arrojadas e controladas em ambientes naturais e artificiais do meio urbano são realizadas (BRASIL, 2007). Até o momento, é possível dizer que a conceituação oficial da Base Nacional Comum Curricular deve ter uma repercussão grande e ser utilizada por muitos professores de educação física, porque estes entendem que o docu- mento federal serve de base para o entendimento dos conteúdos da área. Por- tanto, acredita-se que o nome mais usado pelos professores nos próximos anos será práticas corporais de aventura, que alicerça a aventura como uma prática corporal e, como a educação física tematiza as práticas corporais, esse termo deverá ser incorporado à linguagem dos professores nas escolas brasileiras. Mas, sabe-se que a mídia exerce forte influência na linguagem e nos costumes da sociedade, pois ela tem grande abrangência na comunicação das pessoas, e o termo práticas corporais não é usualmente falado pelos veículos de comunicação de massa e pelas redes sociais, que são impor- tantes meios de interlocução entre as pessoas na atualidade. Compreende-se que os professores de educação física precisam se atentar a essa discussão para não ficarem alheios a essas atividades, que a cada dia ganham novos adeptos, e que uma escolha consciente do conceito a ser usado fará diferença na comunicação com seu público, seja ele de alunos de escola ou academia, clientes, empresa ou a população em geral. 1.4 Aspectos históricos Há um ponto importante no debate sobre o termo aventura que se configura pelo modo como foi construída essa cultura. Olhar para a histo- – 19 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos ricidade da aventura e como seus praticantes a produziram ajuda a perce- ber que qualquer definição não pode fugir ao conhecimento da evolução dessas práticas desde os povos primitivos. Os três povos que primeiro se aventuraram na história humana são os inuits (povos do ártico), os gregos e os maoris (povos da Polinésia). Eles o fizeram por necessidade e não como uma tentativa de se divertir somente. Suas aventuras foram épicas e ficaram registradas na arqueologia de cada povo. Para entendê-las, é preciso voltar no tempo, há mais de 3 mil anos, período em que a maioria dos povos não tinha o domínio da escrita e experiências ficavam gravadas nas narrativas orais e pela transmissão de pai para filho. Pereira e Armbrust (2010) mostraram como a aventura já esteve pre- sente na vida do ser humano desde muito tempo, e passamos a expor agora alguns exemplos. 1.4.1 Mergulho Essa atividade de aventura foi narrada nas epopeias da Grécia Antiga, quando soldados mergulhavam usando tubos para respirar enquanto submer- giam para chegar aos navios inimigos (Xerxes, o rei persa, era um deles) e atacá-los de surpresa. O mergulho sempre foi uma forma de pegar alimentos no mar, e os povos que viviam à beira dos oceanos sempre foram craques nesse exercício, pois lhes garantia a sobrevivência, porém, o uso militar em tão longínquo período é digno de destaque, pela inventivi- dade desse povo, que foi um divisor de águas na história da humanidade, e o mergulho contribuiu de alguma forma. O longa-metragem Os 300, do diretor Figura 1.2 – Equipamento de mergulho projetado por Leonardo da Vinci Fonte: acervo pessoal do autor. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 20 – Zeck Snider (2007), é famoso por contar as histórias gregas de guerra e demonstra a prática do mergulho. Com a evolução dos materiais, foi possível criar equipamentos que permitissem ficar cada vez mais tempo submerso, como propôs Leonardo da Vinci tempos depois. Hoje, o mergulho é utilizado tanto em práticas recreativas de explora- ção e diversão subaquática quanto em trabalhos no fundo do mar, como nas plataformas de petróleo, em pesquisas científicas e resgates subaquáticos. 1.4.2 Canoagem Outro exemplo incrível é a canoagem. Os povos do gelo, chama- dos inuits, construíam embarcações com ossos de baleia e pele de foca para navegar nos mares e buscar seus alimentos. Esses povos eram espe- cialistas na sobrevivência no ártico, e o caiaque foi um grande aliado nessa empreitada, pois permitia ir longe, com velocidade e ainda car- regar focas, baleias e peixes que eram caçados longe de onde viviam. Além disso, permitia conhecer novas regiões e ir cada vez mais distante na busca por melhores locais para viver. Muito provavelmente, foi um tipo de barco usado pelos primeiros povos que atravessaram desde a Ásia até a América do Norte pelo estreito de Bering, chegando a povoar a América. A canoagem é uma atividade muito usada na atualidade como trans- porte de povos ribeiri- nhos, tanto de pessoas como de produtos e mer- cadorias. A região ama- zônica é um exemplo desse eficiente transporte. Como atividade de lazer, ela faz parte da recreação de pessoas tanto em água doce quanto salgada. Até mesmo em competições olímpicas a canoagem está presente na atualidade. Figura 1.3– Tribo inuit com seus caiaques de pele de foca Fonte: Shutterstock.com/Prachaya Roekdeethaweesab – 21 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 1.4.3 Navegação e orientação Se houve um povo rico em experiências de aventura, foram os poliné- sios. As ilhas da Polinésia ficam no Oceano Pacífico, milhares de quilôme- tros distantes dos continentes. Seus povos então se tornaram especialistas em navegar e, naqueles tempos, em que não existiam motores, a vela era a única maneira de ir longe e rápido o suficiente para sobreviver com pouco alimento e pouca água potável. Como as ilhas são muitas, as distâncias entre elas tornaram possível que o povo fosse ficando cada vez mais hábil na navegação, eles as percorriam com grande competência. Porém, havia um aspecto que era necessário ser treinado para ser eficaz: conseguir ir e voltar, sabendo aonde se chegaria, pois ficar perdido no oceano não era uma opção para quem queria ficar vivo. A navegação realizada pelos polinésios usava de vários meios para atingir seus objetivos e o fator primordial era prestar aten- ção a todo o ambiente natural e perceber as diferenças entre cada elemento: ar, terra, mar, animais, plantas, vento, Sol, Lua, estrelas, temperatura, estação do ano e período do dia em que navegavam. Com essa sabedoria tradicional, eles conseguiram viajar por vários oceanos muito antes dos europeus. Che- garam inclusive à América, onde se encontra hoje em museus uma réplica de embarcação com o mesmo modelo dos barcos de junco polinésios. A orientação é uma prática essencial para todo tipo de transporte, tanto com os mapas em papel quanto pelo GPS, que é uma tecnologia que permite uma precisão enorme em termos de deslocamento pelos territó- rios. Ela é utilizada na terra, na água e no ar e sua eficiência é inegável. No campo do esporte e do lazer, existem provas específicas de orientação que são as corridas de aventura e o enduro a pé. Figura 1.4 – Réplica de embarcação polinésia Fonte: acervo pessoal do autor. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 22 – 1.4.4 Surfe O surfe também foi criado na Polinésia, a princípio como modo de sair dos barcos maiores e chegar à praia, mas com o tempo virou um item essencial para os rituais religiosos, as festividades e a diversão, sendo símbolo de poder, afinal, as ondas do mar eram convidativas e úteis tanto como transporte quanto para diversão. Interessante observar que existe uma disputa entre havaianos e peruanos, ambos afirmam que o surfe veio das ilhas da Polinésia e foi instalado nas praias dessas duas regiões. Há registros de pranchas no Peru e da prática nas ondas dessa região. Também, no Havaí afir- mam que o surfe foi introduzido pelos mes- mos polinésios, e de lá se tornou um esporte extremamente popular, especialmente nas loca- lidades litorâneas do mundo todo, provando que é uma prática mun- dial, independentemente da região ou cultura em que se vive. Todos esses fatos mostram que os povos do planeta se aventuravam de diversas formas, não necessariamente por diversão, afinal, sobreviver há mais de 2 mil anos não era tarefa simples. O tempo tratou de manter viva a experiência de aventura e torná-la um atrativo e um entretenimento para as populações contemporâneas, isso mostra que algum benefício podia ser percebido nela desde seu princípio. O surfe é hoje uma prática que permitiu a criação de muitas outras, como kitesurfe, windsurfe, etc. Em geral, não é uma atividade com outro fim a não ser recreativo ou competitivo, isso quer dizer que ele não tem uma funcionalidade como transporte, como se pode observar na canoa- gem, mesmo que seja possível usar uma prancha para se transportar ou para levar produtos de um lado para outro. Figura 1.5 – Réplica de caballos de totora, as pranchas polinésias dos primórdios do surfe Fonte: Shutterstock.com/Ricardo Barata – 23 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos O tamanho da prancha é um dos motivos que não permite usá-la para fins de transporte com eficiência, a não ser no caso das pranchas de stand up paddle (SUP), que são maiores e usam remos. Quando avançamos no tempo e chegamos à modernidade, des- cobrimos que os aventureiros continuavam a deixar suas marcas no tempo, com a intenção de expandir domínios e produzir riqueza. A chegada dos europeus à América é um exemplo disso, e os ensinamen- tos de navegação nesse ponto já tinham avançado muito em termos tecnológicos, com a presença da bússola e de mapas que permitiam mais precisão nas navegações. Nessa época, outras aventuras começa- ram a surgir, algumas delas estão relatadas a seguir, segundo Pereira e Armbrust (2010). 1.4.5 Patins Os primeiros patins foram feitos com ossos de foca, no Ártico, e amarrados às botas permitiam deslizar no gelo. Com o tempo, outros países europeus que também têm neve no inverno começaram a utilizar esse tipo de patins para se locomo- ver. Se a intenção era a locomoção no princípio, logo se tornou diver- são, e a substituição dos ossos por lâminas de ferro deu mais versatilidade e desempenho aos patins, que foram se popularizando não mais para locomover-se, ape- nas, mas agora por pura diversão. Depois, as lâminas foram substi- tuídas por rodas e os patins podiam ser usados o ano todo na Europa. Sua popularização chegou a tal ponto que rinques foram criados em diversos lugares, pois muitos eram seus adeptos. Figura 1.6 – Modelo dos primeiros patins com rodas Fonte: Shutersotck.com/3d_and_photo Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 24 – 1.4.6 Bicicleta Outra invenção que seguiu os moldes dos patins foi a bicicleta. No início do século XIX, também com fins de locomoção, a colocação de duas rodas de carroça em linha para que uma pessoa pudesse montá-la e deslocar-se rapidamente pelas cidades e campos foi um avanço, pois ape- nas os cavalos podiam auxiliar nesses movimentos unitários. A bicicleta se popularizou na Europa, tal qual os patins, pois se tratava do período da Revolução Industrial, as cidades cresciam e o movimento das pessoas era cada vez mais intenso, com a população crescendo vertiginosamente na Inglaterra, França, Itália, Alemanha e outros países. O ganho de eficiência da bicicleta e o combustível barato (força humana) para movê-la a torna- ram um objeto de inestimável valor para a sociedade industrial, e sem que- rer um ótimo brinquedo para a população atual, que a cada dia aproveita mais sua bicicleta para fazer exercício, se divertir, viajar e se aventurar. A bicicleta é um veículo de transporte eficiente e barato. Em muitas cidades grandes, a iniciativa de criar espaços específicos para a circulação de bicicletas acontece em virtude do perigo de se envolver em acidentes com automóveis, porque, para muitos, ela não é apenas um equipamento de diversão, mas o meio de transporte favorito para trabalho e estudo. Figura 1.7 – O início da trajetória das bicicletas Fonte: Shutterstock.com/notYourBusiness – 25 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 1.4.7 Paraquedismo e voo livre O sonho de Ícaro povoa nossa mente desde que surgimos na Terra, tanto que a mitologia já o descreveu em suas narrativas como forma de mostrar a fuga dos irmãos da ilha de Creta. Do ponto de vista histórico, foi nos séculos XVIII e XIX que alguns intrépidos aventureiros decidiram criar os primeiros equipamentos para voar ou descer pelos ares. Eles se baseavam nas ideias de um filósofo e inventor de muito respeito, Leo- nardo da Vinci, que teve muitas ideias de como seria possível voar, pla- nar e descer com asas. Assim, André Jacques Garnerin, em 1797, salta de paraquedas sobre Paris de um balão. Já o voo de asa-delta surgiu graças ao aventureiro alemão Otto Lilienthal, ele projetou asas para voar baseado nas asas de pássaros e chegou a fazer mais de 2 mil tentativas bem-suce- didas entre 1889 e 1991, mesmo que em algumas delastenha saído com luxações e braços quebrados. O paraquedismo é uma atividade usada tanto como diversão quanto em atividades militares de ataque surpresa. Ele foi muito utilizado na Segunda Guerra Mundial com essa finalidade. Seria bom se, no futuro, isso fosse apenas história e que a sensação de descer pelos ares fosse ape- nas um modo de viver intensamente, como é o caso do uso da asa-delta e do paraglider, que não tem finalidade militar. Figura 1.8 – Protótipo de asa feito por Leonardo da Vinci Fonte: Shutterstock.com/Viktor Gladkov Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 26 – 1.4.8 Montanhismo Escalar montanhas é uma forma de estar mais perto dos céus. Mui- tos foram os seres humanos que desde o século XVII desbravaram as alturas, correndo riscos inimagináveis nos dias de hoje, pois não tinham equipamentos de alta tecnologia, e lograram êxito em suas tentativas. Pode-se citar Jean Michel Paccard e Jacques Balmat como dois pio- neiros, afinal, chegaram ao topo do Mont Blanc, o ponto mais alto da Europa Ocidental, em 1786. Foi um feito histórico se levarmos em conta que usavam apenas cordas de sisal, botas de couro e agasalhos de lã e que a montanha tem mais de 4 mil metros e é recoberta de gelo o ano todo. Essa empreitada histórica foi financiada pelo naturalista suíço Horace-Bénédict de Saussure, que desejava entender como o corpo humano funcionaria em locais como esses e que acreditava poder encon- trar ervas e outros materiais com poderes de cura, ou seja, ele tinha interesses científicos nessa aventura. O montanhismo apresenta, desde então, fins exploratórios e científicos, como a exploração de cavernas com técnicas de rapel e escalada graças a esse interesse em conhecer locais inóspitos. Nos dias de hoje, o montanhismo é praticado como lazer principal- mente, mas também existem competições de escalada em paredes artificiais. Figura 1.9 – Estátua dos desbravadores do Mont Blanc, na Europa Fonte: Shuterstock.com/Julia Kuznetsova – 27 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos 1.4.9 Caminhadas em trilhas Caminhar é a forma mais simples de locomoção desde que o ser humano existe. Na atualidade, as caminhadas em trilhas são conhecidas por trekking ou hiking, na língua inglesa. Todavia, o uso do termo trekking é de capital interesse na aventura. No século XVII e XVIII, muitos holandeses foram até a África em busca da riqueza de pedras preciosas e diamantes. Eles não tinham recursos, mas o sonho de riqueza levava famílias inteiras atrás de fortuna. Na África encontravam terreno hostil, com animais, rios, seca, florestas e mosquitos, aos quais não estavam acos- tumados. Explorar esses locais era a forma de fazer fortuna. As viagens a pé duravam semanas, meses e podiam ser um fracasso, mas a esperança de vida melhor fazia com que desbravassem a natureza selvagem. O verbo trek em holandês significa migrar, e as pessoas que faziam essas jornadas ficaram conhecidas como caminhantes que migravam pela África. Come- çava, assim, a surgir uma nova atividade, que anos mais tarde virou uma diversão para muitos peregrinos, as longas caminhadas em trilhas. Esse processo pode ser comparado ao ocorrido no Brasil com a busca por ouro pelos Bandeirantes, que avançaram para o centro do país, conquistando terras e descobrindo jazidas. Hoje, fazer grandes caminhadas com fins de exploração comercial não é mais viável, afinal, os meios de transporte motorizados podem levar as pessoas a quase todos os locais com mais efi- ciência, portanto, trilhei- ros são pessoas imbuídas do interesse recreativo e contemplativo. Observa-se que o período moderno da aven- tura foi dominado pelos povos europeus, graças ao advento da Revolu- Figura 1.10 – A África do Sul foi um dos principais locais para a corrida por diamantes e o surgimento do trekking Fonte: Shutterstock.com/Lukas Bischoff Photograph Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 28 – ção Industrial e ao grande avanço tecnológico proporcionado por ela. As primeiras expedições e explorações da natureza desse período estão liga- das aos instrumentos e equipamentos que foram criados para melhorar o desempenho humano; a diversão com eles veio depois, quando se desco- briu que os materiais criados eram melhores para a felicidade e o prazer do que necessariamente para produzir riquezas. Conhecendo mais sobre as origens dessas práticas, podemos perce- ber que o ser humano, a partir de suas necessidades, foi construindo uma cultura de práticas que hoje pode ser desfrutada no âmbito do lazer em sua essência. Essas atividades podem auxiliar na aprendizagem de aspectos sociais, motores, cognitivos e psicológicos, tratando-se de componentes educacionais que agora estão presentes nas escolas brasileiras, além disso, enquanto práticas esportivas, elas podem fazer parte tanto do aspecto competitivo quanto formativo dos indivíduos. Certo é que elas vieram para ficar e fazer parte da cultura corporal. A história é dinâmica e o conhecimento das origens da aventura não nos deve manter inertes, pelo contrário, deve instigar novas buscas pelo conhecimento. Seguir compreendendo o passado para agir de forma racional e organizada no presente, afinal, a aventura, ao que parece, veio para ficar e será um mercado de trabalho importante para o profissional de educação física, principalmente porque se relaciona com atividades na natureza. A prática de exercícios ao ar livre está se tornando cada vez mais apreciada pelas pessoas, talvez pelo fato de as metrópoles serem opressoras pelos seus tamanhos descomunais e excesso de pessoas no mesmo espaço. Por fim, acredita-se que os conceitos devam ser sempre discutidos e debatidos na área de educação física, para que as pessoas possam refletir e reorganizar seus pensamentos a respeito dos temas que são desenvolvi- dos profissionalmente. Acredita-se que engessar ou definir um conceito não é tarefa fácil, e que se manter aberto ao diálogo ouvindo as diversas ideias é uma forma de encontrar um termo mais adequado para a educa- ção física. – 29 – Conceituação da aventura: lazer, esporte e educação – aspectos históricos Saiba mais WEBVENTURE. Afinal, o que é aventura? Disponível em: https://www. webventure.com.br/afinal-o-que-e-aventura/. Acesso em: 30 jul. 2020. Atividades 1. Quais são as diferentes terminologias utilizadas no meio acadê- mico para a aventura na educação física? 2. Qual o conceito de esporte que a Unesco defende? 3. Qual o sentido comum a todas as denominações de aventura apresentadas no texto? 4. Pelo que se observa na história antiga da aventura, é possível dividi-la em dois momentos. No primeiro, na pré-história e na idade antiga, encontramos os primórdios de quais modalidades? 2 Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física A preservação do meio ambiente deveria ser o tema mais importante para a humanidade. Essa frase pode parecer forte e assertiva demais, todavia, podemos perceber pelas diversas infor- mações que recebemos diariamente nas redes sociais, na televi- são, no rádio, enfim, em todos os meios de comunicação, que a degradação ambiental é um tema recorrente para a população do mundo todo. E isso está relacionado com a nossa capacidade de conhecer o planeta e de descobrir o quanto a ação humana está destruindo a natureza, também, o efeito que essa devastação gera nas vidas humanas. Neste texto, pretende-se apresentar e discutir os conceitos mais usados nos estudos ambientais; revelar as nuances dos movi- mentos sociais e governamentais a respeito do tema da preservação do planeta e das espécies viventes; reconhecer quais são as ações mais eficientes para a conservação da natureza e as leis que foram criadas para que seja possível uma ação efetiva nesse sentido. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 32 – 2.1 A destruição da natureza Para compreender melhor o tamanho do problema ambiental, é pre- ciso reconhecerque o mau uso do planeta ocorre de diversas maneiras. É possível dividir as esferas dessa questão em: ar, água, solo, ani- mais, plantas e seres humanos. Todas estão interligadas e uma afeta a outra de alguma forma, por- tanto, um olhar sistêmico para o problema é a única forma de propor solu- ções. A seguir, entenderemos de forma pormenorizada cada uma delas. 2.1.1 O ar A atmosfera terrestre é extremamente sensível. Ela é composta pre- dominantemente de gás nitrogênio (78% do total da camada atmosférica), de uma parcela considerável de oxigênio (aproximadamente 21%) e de outros gases dispersos entre eles, como o gás carbônico, ou CO2, que perfazem cerca de 1% do total. O planeta Terra é o único conhecido até o momento que contém essa mistura exata e perfeita, permitindo a vida dos seres humanos, de animais e plantas, sendo assim, o cuidado com esse equilíbrio tênue é, praticamente, uma missão dos seres humanos para garantir sua própria sobrevivência. O ar atmosférico se divide em cinco camadas que o protegem de meteoros, de raios ultravioleta e de objetos espaciais lançados pelo ser humano, e permitem que o planeta mantenha sua temperatura, se proteja dos raios do Sol, mantenha a pressão para que possamos nos locomover sem flutuar e respirar. Sem isso, não haveria vida. Essa constituição do ar atmosférico acontece na Terra há bilhões de anos, desde sua formação, e é resultado da produção de energia no interior do planeta, da influência da energia do Sol e das interações entre os compostos químicos, orgânicos e inorgânicos ao redor da Terra (GALLEMBECK; COSTA, 2016). Essas interações permitem a produção de oxigênio pelas plantas e por corais no fundo do mar, que funcionam como produtores e distribuidores do gás fundamental para a nossa respiração. Um dos aspectos a considerar é a necessidade de evitar os gases do efeito estufa, que aumentam a temperatura do planeta. Esses gases podem ser pro- – 33 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física duzidos tanto de forma natural, ou seja, pela erupção de vulcões, quanto pela ação humana, isto é, queima de combustíveis fósseis, como os automóveis, as indústrias e as usinas de produção de energia por queima de carvão. Então, verifica-se que o problema também é resultado da ação humana no planeta. Figura 2.1 – Aumento da temperatura do planeta no período industrial Décadas 1860 Te m pe ra tu ra e m G ra us C el si us Evolução da temperatura do planeta 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 14,6 14,4 14,2 14 13,8 13,6 13,4 13,2 13 Fonte: Elaborado pelo autor O aumento da temperatura do planeta é um efeito direto dessa queima de combustíveis e causa diversos problemas de saúde e dificuldades para respirar; aumento das águas dos oceanos, o que dificulta a vida nas orlas para os humanos; derretimento das calotas polares, que compromete a vida dos animais do Ártico e da Antártica; diminuição da possibilidade de vida de espécies de animais e plantas. Outro problema relacionado ao ar é a destruição da camada de ozô- nio, que é um gás que compõe o ar atmosférico, que ajuda a preservar nossa saúde, diminuindo a incidência de raios ultravioleta do Sol sobre a superfície da Terra. O CFC (clorofluorcarboneto), composto químico utilizado até o início do século em aerossóis, geladeiras, outros eletrodomésticos e na indústria, era responsável pela destruição do ozônio e, consequentemente, a camada protetora ficava a cada dia mais fina, com aumento no número de casos de câncer de pele na população em virtude da incidência da forte radiação solar (SÃO PAULO, 2018). Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 34 – Percebe-se que manter o cuidado com o equilíbrio dos gases na Terra não é tarefa fácil, mas necessária para que possamos ter qualidade de vida, afinal, respirar o ar poluído de escapamentos de automóveis é inalar veneno diretamente no pulmão. Figura 2.2 – Índice de emissão por quilômetro, por tipo de veículo metrô ônibus Tipo de veículo motocicleta automóvel Em is sõ es m et ro = 1 Emissões de CO2 por km 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Fonte: Elaborado pelo autor. 2.1.2 A água A água, outro bem natural essencial à vida, domina a maior parte da superfície terrestre. É impensável viver sem ela, afinal, nosso corpo contém cerca de 70% de água em seu interior. Talvez por isso devêssemos cuidar dela com mais carinho, mas isso não tem sido feito nos últimos 100 anos, pelo menos. A mistura de hidrogênio e oxigênio que cria a água potável é bas- tante sensível; outros elementos se combinam a ela, podendo torná-la não potável, isto é, não adequada ao consumo e, consequentemente, imprópria para o ser humano, animais e plantas. A água provém das chuvas e se distribui por rios e mares, lar de milhões de espécies vivas que servem de alimento ao ser humano e estão ameaçadas. Como dito anteriormente, o aumento da temperatura do planeta gera aumento do calor das águas. Animais marinhos que antes se reproduziam e se alimentavam em determinados locais, passam a não se reproduzir e a – 35 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física morrer. Além disso, a população humana cresce a cada dia, e menor se torna a oferta de alimentos aquáticos, que são fonte saudável de alimentação. O uso indiscriminado da água, sem armazenamento adequado, sem cuidado com as nascentes de rios, poluindo mares e rios com objetos e produtos químicos, tanto pelas residências quanto pelas indústrias, causa a diminuição da oferta de água potável e dificulta a vida no planeta. Ter água potável torna-se a cada dia mais caro, e empresas ficam res- ponsáveis por captar água e distribuir nas cidades. Essa água costuma ser captada de rios, represas, lagos e reservatórios e precisa ser tratada para chegar às residências em condições adequadas para consumo. O esgoto produzido pelas pessoas precisa ser recolhido nas casas e tratado para não retornar aos rios e poluir novamente, gerando mais cus- tos. No Brasil, cerca de 100 milhões de pessoas não têm acesso ao trata- mento de esgoto em suas casas (BRASIL, 2019), e isso gera poluição de córregos, rios, lagos e mares e causa diversas doenças. Figura 2.3 – O plástico é um dos grandes poluidores das águas Fonte: Shutterstock.com/Mr.anaked Águas poluídas representam escassez para a vida no planeta, pois animais morrem por ingerir objetos jogados nos mares e rios e produtos químicos envenenam a vida subaquática. A indústria de navegação e os portos alteram o curso natural da vida marinha quando se instalam em locais de reprodução de espécies. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 36 – Percebe-se que a água, que é um bem essencial, recebe pouco cuidado da humanidade. A Fossa das Marianas, o local mais profundo do planeta, recebeu um submarino teleguiado, que filmou objetos plásticos, mostrando que nem nos locais mais profundos o mar está protegido da poluição. Boa parte da água potável do mundo está em geleiras, que estão der- retendo cada vez mais rapidamente, diminuindo ainda mais as chances de obtenção de água limpa nas regiões mais frias. E os lençóis freáticos, rios que correm abaixo da camada de terra da superfície, também estão ficando polu- ídos com dejetos e produtos químicos, atirados indiscriminadamente pelo ser humano nos rios, mais uma forma de destruição de fonte importante de vida. 2.1.3 O solo O solo é um elemento rico em fonte de subsistência humana, pois fornece a terra que permite o crescimento das espécies vegetais. Nele, o ser humano pode plantar, colher, criar animais. Do solo são retirados minérios com os quais o ser humano produz uma série de implementos para facilitar sua força produtiva. Petróleo, ferro, chumbo, cobre, enxofre, entre muitos outros minerais, são matérias- -primas de muitos equipamentos que conhecemos. A exaustiva retirada desses substratos, no entanto, pode causar pro- blemas ambientais, e o uso inadequado do solo para a produção agrope-cuária também gera diversos efeitos negativos à vida humana, quando se trata do descarte ou uso incorreto de pesticidas e produtos químicos que destroem os compostos orgânicos naturais. Alerta-se para o fato de que esses recursos do solo são finitos e, por isso, caso sejam utilizados até seu esgotamento, poderão não ser repostos pela natureza de forma suficientemente rápida para que possamos tê-los por tempo prolongado para sobrevivência e conforto. Um dos problemas cruciais está nas plantações, que utilizam ferti- lizantes com fósforo, elemento químico que possui jazidas distribuídas em alguns locais do planeta e, cuja finitude, pode causar escassez de ali- mentos. Utilizar esses recursos com sabedoria ou encontrar outros que os substituam é uma necessidade na atualidade. – 37 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física Outro problema da agricultura em larga escala é o uso de pesticidas e agrotóxicos, afinal, eles são poluentes. O consumo de alimentos com excesso de agrotóxicos pode causar doenças, além de degradar as águas para as quais esses produtos escorrem com as chuvas nas plantações. O alto consumo de carne bovina, suína e de frango é outro problema. As produções desses animais consomem milhões de litros de água e de ração. Além do alto custo, essa produtividade impacta diretamente as reservas de água do planeta e a produção de ração com alimentos como milho, soja, etc. A extração mineral também é um grande problema, em primeiro lugar porque precisa ser feita em áreas ainda preservadas, nas quais se encontram as reservas de ferro, bauxita (para produção de alumínio), entre outras. Segundo, porque é necessário destruir a proteção vegetal para reti- rar os minérios e armazenar os resíduos da sua produção, como no caso das barragens de extração de ferro. Os restos da extração de ferro, uma mistura de lama com minúsculas partículas do minério, isto é, a sobra da produção, ficam armazenados em grandes barragens e, com a água das chuvas, esse material vai se deposi- tando em locais que, como se viu em Mariana e Brumadinho, estouraram e despejaram milhões de metros cúbicos de lama tóxica na natureza, cau- sando a destruição de casas, rios, plantas, animais e de vidas humanas. Figura 2.4 – O desastre da barragem de Brumadinho, lama destruindo a vida Fonte: Shutterstock.com/Christyam de Lima Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 38 – 2.1.4 Os animais Talvez os animais sejam os seres mais prejudicados pela ação humana em relação à questão ambiental. Cada espécie tem um habitat em que consegue sobreviver de forma eficiente, e sua adaptação ao meio ambiente ocorreu nos milhões de anos da evolução das espécies. Muitos deles, quando não conseguem os alimentos, a proteção e a reprodução nas condições em que sempre viveram, acabam por desaparecer. Existem centenas de animais em processo de extinção, entre eles, urso polar, tigre, rinoceronte, onças e leões. Os grandes animais sofrem tanto pela degradação de seu habitat quanto pela caça, porque sempre foram vistos como ameaça ao ser humano e, com toda a tecnologia da atualidade, é fácil exterminá-los. O ser humano é o grande predador e não preserva diversas espécies que podem sumir em poucos anos. Além da caça preda- tória, há outro problema, o uso indiscriminado de áreas naturais selvagens, em especial para obtenção de lucro com plantações, extração de madeira e de minérios. Isso diminui substancialmente as áreas de sobrevivência para animais selvagens que, aos poucos, ficam sem ter onde morar ou alimentos para sobreviver. O derretimento da calota polar faz com que ursos, focas, raposas do ártico e outros animais sejam diretamente prejudicados pelo clima e comecem a morrer de fome. O aquecimento das águas muda a rota de peixes, que deixam de ser ali- mento para outras espécies que agora não conseguem suprir suas neces- Figura 2.5 – O urso polar, espécie em extinção pelo degelo da calota polar, caça e falta de alimentos Fonte: Shutterstock.com/Jan Martin Will – 39 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física sidades. Aves migratórias mudam suas rotas em épocas de acasalamento, deixando de reproduzir seus ovos no tempo correto, o que gera a escas- sez de alimentos e a diminuição da própria espécie. Animais selvagens das florestas, como os leões, chegam cada vez mais perto dos rebanhos de gado na África para se alimentar, porque ficaram sem suas presas nas savanas, e são presas fáceis de caçadores que querem proteger sua planta- ção e criação de animais. Soma-se a esses fatores a proliferação de insetos, que não têm preda- dores, como rãs, sapos, morcegos, grilos e aves, tornando-se pragas para as plantações e aumentando as doenças entre os humanos. 2.1.5 As plantas Com relação à flora, observa-se que tanto como alimento quanto no uso da madeira para a construção de casas, móveis, utensílios, ferramentas e objetos em geral, o ser humano sempre fez uso da vegetação para seu conforto e sobrevivência. Nos dias de hoje, muito do que era feito de madeira foi substituído por plástico, mesmo assim, a madeira é grande aliada na vida diária das pessoas. Quando se fala de alimentação, pode-se dizer que os alimentos vege- tais são grande fonte de carboidratos, aminoácidos, vitaminas, sais mine- rais essenciais à saúde, e sua abundância depende de um sistema equili- brado com água, solo fértil e luz do Sol para reprodução das espécies e abastecimento da grande população mundial. Quanto maior o número de indivíduos no planeta, maior é a quanti- dade de comida necessária para todos se alimentarem, com isso, aumen- taram as produções em grande escala de alguns vegetais (soja, mandioca, açúcar, milho, arroz, trigo e feijão são os mais utilizados na alimentação), enquanto outros, mais difíceis de serem reproduzidos e que não receberam alterações genéticas, nem cultivo extensivo pelo menor valor agregado como produto industrializado, acabam sendo menos consumidos e cul- tivados (inhame, taioba, acelga, repolho roxo, rabanete, que são muito nutritivos), o que gera a monocultura. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 40 – Esse problema de se produzir um único tipo de cultura diminui a pro- dutividade do solo e aumenta a necessidade de utilização de agrotóxicos. Mas, o pior aspecto é a contínua devastação das florestas de árvores nativas, derrubadas para o lucro das empresas madeireiras. Esses terrenos, após o corte, serão queimados para a retirada das raízes e, finalmente, serão usados para a monocultura, seja de soja, um produto com grande mercado exportador, ou de gado de corte, que também tem ótimo preço no mercado exterior. Além desse tipo de exploração vegetal cau- sar a extinção de espécies vegetais, ele ainda polui o ar e a floresta, que antes filtrava o ar e distribuía oxigênio, pois passa a ser local com muito esterco de gado. Esse esterco produz o gás metano, que também é poluente. A diminuição da água disponível tam- bém é fator preocupante, pois a criação de animais, como o gado, os suínos e as aves, tem alto consumo de água para seu crescimento, desenvolvimento e produção, podendo gerar escassez e poluição do ambiente (NOLASCO; BAGGIO; GRIEBELER, 2005). 2.1.6 Os seres humanos Aglomeração, essa é a palavra que melhor descreve a grande quan- tidade de pessoas nas cidades. A urbanização ocorreu desde a Revolução Industrial, em um processo crescente, e as pessoas passaram a se con- centrar nas cidades, formando metrópoles. Algumas delas têm milhões de habitantes, como é o caso de São Paulo, Nova York, Pequim, Tóquio, Cidade do México, entre outras. Figura 2.6 – A Floresta Amazônica sendo cortada e queimada pelo lucro imediato Fonte: Shuttersotck.com/PARALAXIS – 41 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física Esse número excessivo de pessoas reunidas em um único lugar trouxe diversos problemas ambientais. O acúmulo de lixo, a falta de rede de esgoto, a quantidadede automóveis nas ruas, a poluição sonora, a poluição visual, o desemprego, o abandono de animais, a favelização, os moradores de rua, a deficiente limpeza pública, a facilidade de propagação de doenças, causando pandemias, talvez sejam alguns dos problemas que derrubam a qualidade de vida nas maiores cidades do mundo. A urbanização precisa ser pensada de modo a permitir uma harmonia entre habitar, locomover, trabalhar, estudar, divertir; crescimento desorde- nado significa muitas vezes mais problema do que solução. Jogar lixo no chão, desrespeitar as leis ambientais, colocar fogo no mato, consumir sem necessidade, descartar objetos de forma inadequada no meio ambiente e não colaborar com a reciclagem são ações que geram consequências para a população e para o meio onde vivem. Compreender o papel de si mesmo na sociedade é um processo de aquisição de cidada- nia que se faz por meio da educação, que deve acontecer na família, na escola, na comunidade, na igreja. Os problemas ambientais são muitos e se relacionam, desse modo, resta entender como eles podem ser solucionados. 2.2 De que trata a ecologia? Muito se fala, atualmente, sobre a ecologia, mas o que ela significa e como começou a ser introduzida na linguagem cotidiana? Apesar do uso comum, foi o alemão Ernst Haeckel, um dos discípulos dos ensinamen- tos de Charles Darwin, que, em 1866, primeiro utilizou o termo, reunindo Figura 2.7 – As grandes cidades e a aglomeração urbana, Mumbai – Índia Fonte: Shutterstock.com/sladkozaponi Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 42 – duas palavras gregas, o oikos (casa) e logos (estudo), resultado assim no estudo da casa, ou melhor, no estudo do ambiente em que se vive, ou habi- tat (TOWNSED; BEGON; HARPER, 2010). Joseph Krebs, após Haeckel, ampliou essa ideia anos depois, falando da distribuição e das interações entre os indivíduos, por isso os estudos de Darwin foram tão importantes na noção de ecologia, afinal, o estudo das imigrações de animais lhe deu uma noção da necessidade de verificar como cada mudança de local afeta o indi- víduo e os outros indivíduos com os quais os imigratórios se relacionam. A ecologia é considerada uma ciência do complexo, isso porque ela trata de interações e de relações entre os diversos elementos que com- põem um todo maior, isto é, o planeta. Sendo assim, não é possível falar de ecologia sem falar de um sistema integrado no qual as causas e efeitos retroagem sobre eles mesmos, mudando os próprios elementos do sistema (MORIN, 2005). Como exemplo, pode ser citado que o surgimento da vida na Terra é oriundo de um processo no qual as primeiras bactérias do planeta consu- miam gás metano, amônia, gás carbônico e nitrogênio, tendo metabolismo anaeróbio, pois o oxigênio era pouco abundante. Essas primeiras formas de vida foram modificando seu metabolismo em virtude das ofertas de nutrientes que encontravam no planeta; e a pro- dução de oxigênio se elevou pelas interações entre as substâncias que eram consumidas. Com maior oferta de oxigênio, surgem micro-organismos aeróbios que permitem o início da evolução das espécies de animais e plantas. Evolução que é acompanhada da própria mudança do ar atmosférico do planeta. Para Morin, a ecologia é: “[...] ciência das interações combinatórias/ organizadoras entre os componentes físicos e vivos dos ecossistemas” (MORIN, 2005, p. 33). A ecologia pode ser compreendida a partir da interação da Biocenose, que são os indivíduos que habitam uma região, e a Biótopo, que é o espaço físico onde ocorrem as interações entre esses indivíduos. Nesse espaço de relações existem diversos fatores, que podem ser positivos ou negativos para os indivíduos, pois eles sobrevivem por meio de predações, compe- – 43 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física tições, destruições, mas também há lugar para fatos positivos, como as polinizações, por exemplo (MORIN, 2005). Pensando de modo complexo, percebemos que a ecologia é estudada pela biologia em seus elementos constituintes (fisiologia, genética, bio- logia molecular, anatomia, etc.), em constante ação com outras ciências, como as ciências sociais (política, geografia, história) e as ciências exa- tas (matemática, estatística, física, química), portanto, a complexidade se expressa pela necessária reunião de conhecimentos e saberes. A ecologia pode ainda ser dividida em dois campos. Um do estudo de um indivíduo ou espécie (autoecologia) e outro da análise das interações entre eles de modo geral (sinecologia). É possível dividir a ecologia em níveis de organização para efeitos didáticos de estudo. Figura 2.8 – Níveis de organização da ecologia BIOSFERA ECOSSISTEMA COMUNIDADE POPULAÇÃO Fonte: elaborada pelo autor. A população refere-se aos organismos de determinada espécie; a comunidade é o conjunto de populações; o ecossistema é formado pelas comunidades mais os grupos não vivos; e a biosfera é o conjunto maior com os seres vivos, não vivos, suas interações de forma ampla desde o nível microscópio até o macroscópico. Verifica-se que falar de ecolo- gia é mais do que o conceito de cuidar da natureza ou ser defensor do Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 44 – meio ambiente, pois seu componente social e político integra as questões biológicas e sociais. Cuidar do oikos, ou a casa viva da vida, (MORIN, 2005), é como cuidar da casa de cada um mesmo, com as questões de sobrevivência e de convivência. Falar em ecologia demanda pensar na energia que os seres precisam para existir e na matéria-prima que fornece essa energia, pois os organis- mos sempre estão consumindo algo que retiram do ecossistema e acabam, em algum momento, se tornando matéria para que outros elementos pos- sam retirar energia. Não há um vilão nessa história de interações, o que pode ocorrer é que uma determinada espécie consome a matéria toda para produzir energia para sua existência, esgotando o ecossistema, e a falta de recursos materiais pode extinguir a própria espécie, motivo pelo qual o equilíbrio deve existir. A diferença essencial entre as populações de animais, plantas e micro-organismos de todo tipo e o ser humano é que este último tem a faculdade da razão para elaborar pensamentos críticos sobre suas ações. O ser humano consegue analisar a situação do planeta, enquanto uma célula bacteriana só consegue entender sua própria existência física e destruirá tudo que estiver a seu alcance para manter sua individualidade biológica. O ser humano pode refletir a respeito da possibilidade de manter outras espécies para que sua própria experiência de vida seja duradoura e não restrita à necessidade imperativa do fator biológico (MORIN, 2005). A ecologia é a ciência que estuda o ambiente de maneira mais abrangente. Importa-se com a relação entre os seres vivos e destes com o meio que os cercam. Os conceitos advindos da ecologia são aplicáveis a qualquer tipo de sistema e fazem desta ciência a base para muitas discussões. Ainda, diante da crise ambiental e suas repercussões na existência humana e de outros seres vivos, a eco- logia tornou-se temática central em diferentes espaços de reflexão. A atual questão ambiental associa-se às crises sociais, econômica, política e tecnológica (LOBÃO; VIDAL, 2020, p. 119). 2.3 Como a humanidade lida com a ecologia A Segunda Grande Guerra Mundial foi um evento de proporções catastróficas e definitivas em muitas das ações humanas que a procede- – 45 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física ram. A tecnologia provinda da guerra permitiu o desenvolvimento de muitos componentes, equipamentos, materiais e conhecimentos em uma velocidade nunca vista antes. Assim, o ser humano pôde alavancar muitas ideias e domínios sobre a natureza, mas o resultado disso não foi apenas para a melhoria das condições de vida das pessoas, alguns fatores agiram contra os próprios criadores, como a bomba atômica, por exemplo. O crescimento populacionale o desenvolvimento industrial ganha- ram escala planetária e diversos problemas começaram a ser notados sem precisar de lupa ou luneta. Diversos estudiosos perceberam essas questões e começaram a se posicionar desde o fim da década de 1950, surgindo o movimento ambien- talista, ou seja, a união de pessoas com intenção de proteger os sistemas naturais baseados no conhecimento adquirido sobre a destruição do pla- neta e da qualidade de vida dos seres viventes. Em 1968, é criado o Clube de Roma, que reuniu empresários, pes- quisadores, políticos, educadores, humanistas e economistas de 10 países, contando com Aurelio Peccei, um dos gestores da FIAT, com o objetivo de sensibilizar as nações sobre as questões ambientais. O livro Primavera silenciosa de Rachel Carson, de 1962, também foi um impulso para essa liderança no sentido de compreender e agir a favor do equilíbrio entre natu- reza e seres humanos. Desse primeiro momento, surgiu a Conferência de Estocolmo, em 1972, capitaneada pelo pesquisador Dennis Meadows, que apontou que os recursos naturais do planeta eram finitos e sua exaustão poderia significar o fim do próprio ser humano. Dessa conferência surgiu o relatório Limítes do Crescimento e um manifesto com 19 pontos necessários para o combate à destruição do planeta (NAÇÕES UNIDAS, 2020). Apesar de quase 50 anos terem se passado desde que a primeira confe- rência foi realizada, vemos que os seres humanos continuam cometendo os mesmos erros, mas isso não significa que não houve avanços. Em 1983, a mestre em Saúde Pública Dra. Gro Harlem Brundtland presidiu a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU e, dessa lide- rança, costurou-se na Comissão Brundtland o relatório Nosso Futuro Comum, alertando pela primeira vez que estávamos prejudicando o futuro das gerações vindouras e, inclusive, podendo impedir que esse futuro existisse. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 46 – É nesse ponto que começa a se falar em desenvolvimento sustentável, pois se percebeu que não adiantava que os países continuassem crescendo em termos econômicos, sem que se pudesse manter esse crescimento pelo fim dos recursos e à custa da qualidade de vida das pessoas, das águas, do ar, dos solos, dos animais e das plantas. Quatro anos depois, foi produzido na Noruega o Relatório Brundtland, em homenagem à Dra. Gro Harlem, que demonstrava os principais desafios para que o mundo pudesse agir a favor da proteção da Terra e da vida no planeta. 2.3.1 Desenvolvimento sustentável O próximo passo decisivo para um aprofundamento e alargamento da discussão foi a criação da Cúpula da Terra, que se realizou no Rio de Janeiro no ano de 1992, chamada Eco 92. Foram mais de 100 líderes mundiais de diferentes países participando e, dessa vez, uma grande quantidade de pessoas pertencentes a organizações não governamentais, estudantes, professores, pesquisadores, empresários, traba- lhadores rurais, indígenas, entre outros, que tornaram esse evento não apenas um encontro de líderes, mas uma reunião com a participação popular. A Eco 92 deixou um documento fundamental nessa luta, a Agenda 21, que, como toda agenda, tem a função de colocar prazos e datas para o cumprimento de compromissos. Figura 2.9 – Conferência Mundial do Meio Ambiente – estudando a Terra Fonte: elaborada pelo autor. – 47 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física Entre os diversos objetivos da Agenda 21, estão: 2 proteger o meio ambiente e os recursos não renováveis. 2 cuidar do ar. 2 proteger contra o desmatamento. 2 evitar a destruição do solo e a desertificação. 2 prevenir contra a poluição das águas de rios, mares e águas subterrâneas. 2 evitar a destruição da vida marinha. 2 realizar uma gestão do lixo e de resíduos sólidos produzidos pelo homem. 2 promover o transporte solidário, coletivo e menos poluente. 2 edificar o turismo consciente a áreas naturais. 2 promover a educação ambiental para todas as crianças e jovens. 2 incentivar a reciclagem de materiais industriais. 2 evitar o consumo excessivo de recursos. A Agenda 21 gerou uma discussão que foi além da noção de conser- var e preservar a natureza, porque isso significa que os diversos atores sociais, direta ou indiretamente, estão envolvidos nessa preservação. O olhar passou a ser não apenas no cuidado com a natureza, mas na relação do desenvolvimento econômico, social e ambiental. Desenvolvimento sustentável foi uma expressão surgida no Relatório Brundtland das Nações Unidas, em 1987, tendo como finalidade satisfazer as necessidades das pessoas no presente sem comprometer as necessida- des delas no futuro (TORRESI; PARDINI; FERREIRA, 2010). O desenvolvimento sustentável baseia-se no tripé meio ambiente, economia e sociedade, acreditando-se que só é possível alcançar um desenvolvimento duradouro se esses três pontos forem satisfeitos e se houver compromisso com o planeta, com as pessoas e com a qualidade de vida equânime. Fundamentos dos Esportes de Aventura e da Natureza – 48 – Acredita-se que conservar os recursos naturais, as plantas e os ani- mais deve ser uma política de governo e que as ações nesse sentido valo- rizarão a vida no planeta e, consequentemente, as pessoas. Pela primeira vez, relacionou-se a questão ambiental com a pobreza, pois em locais onde a distribuição de riqueza não é justa, ou melhor, man- tendo-se a má distribuição de renda dentro do país, ou entre os países, não é possível proteger os recursos naturais, afinal, pessoas que não têm o que comer, não têm moradia digna, não têm água potável e não têm qualidade de vida acabam degradando a natureza como forma de sobreviver. Por outro lado, empresas e nações não podem continuar a produzir riqueza às custas dos recursos naturais de países menos desenvolvidos e da saúde da população, sem pensar nas consequências para as gera- ções futuras. Entre os diversos compromissos sociais em relação a boas práticas para o planeta, surgiram conferências específicas para tratar de temas como: 2 1994 – conferência Mundial de Pequenos Estados em Desenvol- vimento, para promover países mais pobres e pequenos e ilhas nacionais que retêm poucos recursos para suas populações. 2 1997 – cúpula da Terra + 5, para propor soluções que evitem a poluição do ar, reduzam a emissão de poluentes na atmosfera e incentivem o uso de produção de energia por fontes renováveis, como a energia solar, do vento etc., que culminou no Protocolo de Kyoto. 2 2002 – em Johanesburgo, foi realizada uma reunião para deter- minar a implementação e a ação de propostas factíveis para os desafios da Eco 92, criando a Declaração de Johanesburgo, cuja importância é forçar os líderes mundiais a se comprometerem com metas reais de desenvolvimento sustentável. 2 2005 – Ilhas Maurício recebe outra reunião importante que trata, entre outros temas, da elevação das águas dos oceanos e os con- sequentes problemas oriundos disso, como a invasão das mora- dias à beira-mar, o cuidado com os peixes e a gestão de resíduos das cidades costeiras que poluem diretamente as águas. – 49 – Meio ambiente e diversidade: o papel da educação física 2 2012 – o Rio de Janeiro recebeu novamente a Conferência Mun- dial para o Desenvolvimento Sustentável promovida pela ONU, que permitiu avaliar avanços e retrocessos nas diversas áreas de atuação em relação à conservação do planeta. Foi possível perceber que a destruição da camada de ozônio havia diminuído com o fim do uso do clorofluorcarboneto (CFC), que foi subs- tituído por outros gases. Mas, os gases do efeito estufa, princi- palmente o gás carbônico, continuava a crescer, e as ações não tinham sido exitosas, tornando o problema a cada dia mais sério e perigoso para nossa sobrevivência. Um dos aspectos relevantes a respeito do desenvolvimento sustentá- vel foi que, a partir dessas discussões, percebeu-se a necessidade de arre- cadar recursos para auxiliar na relação preservação ambiental
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