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Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro AD2- 2021.1 DISCIPLINA: LITERATURA NA FORMAÇÃO DO LEITOR Coordenação: Profª Ana Maria de Bulhões Carvalho Nome: Matrícula: Email: Polo: Cidade em que reside: Caro (a) aluno (a): Esta é a segunda avaliação a distância deste semestre, e, da mesma forma que a anterior, a ser realizada pela plataforma. Você deve consultar a matéria para responder às questões, boa ocasião para reforçar seus estudos. Considere a avaliação como um estudo dirigido, excelente oportunidade de obter bom rendimento final. Não deixe de respondê-la usando arquivo em word. • Antes de iniciar, leia os enunciados das questões com atenção. Procure ser claro em suas respostas. • Releia a prova antes de enviar, para ver se as respostas estão adequadas, e o texto objetivo, coeso e coerente. • Valor da avaliação: 10 pontos Bom trabalho! UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO Centro de Ciências Humanas e Sociais – CCH Licenciatura em Pedagogia- EAD UNIRIO/CEDERJ Esta avaliação busca explorar os usos da intertextualidade a partir da história de O Chapeuzinho Vermelho, da original às novas versões em português. Divirta- se. QUESTÃO 1 (6 PONTOS) Ao ler, no Fórum, a versão original de O Chapeuzinho Vermelho, de Charles Perrault, publicada em 1697, com o título francês Le petit Chaperon Rouge, talvez você tenha se surpreendido com a crueza do modo de contar. Afinal, a versão mais conhecida de O Chapeuzinho Vermelho é a dos irmãos Grimm, que introduz os caçadores e o final feliz. 1.1. (2 pontos) No Fórum, pediu-se que você registrasse sua percepção sobre a predominância do fantástico sobre o maravilhoso no conto de Perrault; ou sua discordância desta ideia, se achasse que se percebia mais o Maravilhoso que o Fantástico na versão original. Para isso deveria considerar as Aulas 6 e 7. Copie aqui sua resposta. 1.2. (2 pontos) Leia agora a versão dos irmãos Grimm e faça a comparação, mantendo ou alterando sua ideia sobre o fantástico e o maravilhoso, considerando agora as duas versões clássicas. ATENÇÃO: Vão ser avaliadas, na correção, a absorção dos conceitos de maravilhoso e de fantástico; e a argumentação que você desenvolveu para interpretar, como leitor/a, a incidência desses conceitos nos contos. Versão dos irmãos Grimm Houve, uma vez uma graciosa menina; quem a via ficava logo gostando dela, assim como ela gostava de todos; particularmente, amava a avozinha, que não sabia o que dar e o que fazer pela netinha. Certa vez, presenteou-a com um chapeuzinho de veludo vermelho e, porque lhe ficava muito bem, a menina não mais quis usar outro e acabou ficando com o apelido de Chapeuzinho Vermelho. Um dia, a mãe chamou-a e disse-lhe: - Vem cá, Chapeuzinho Vermelho; aqui tens um pedaço de bolo e uma garrafa de vinho; leva tudo para a vovó; ela está doente e fraca e com isso se restabelecerá. Põe- te a caminho antes que o sol esquente muito e, quando fores, comporta-te direito; não saias do caminho, senão cais e quebras a garrafa e a vovó ficará sem nada. Quando entrares em seu quarto, não esqueças de dizer "bom-dia, vovó," ao invés de mexericar pelos cantos. - Farei tudo direitinho, - disse Chapeuzinho Vermelho à mãe, e despediu-se. A avó morava à beira da floresta, a uma meia hora mais ou menos de caminho da aldeia. Quando Chapeuzinho Vermelho chegou à floresta, encontrou o lobo; não sabendo, porém, que animal perverso era ele, não sentiu medo. - Bom dia, Chapeuzinho Vermelho, - disse o lobo todo dengoso. - Muito obrigada, lobo. - Aonde vais, assim tão cedo, Chapeuzinho Vermelho? - Vou à casa da vovó. - E que levas aí nesse cestinho? - Levo bolo e vinho. Assamos o bolo ontem, assim a vovó, que está adoentada e muito fraca, ficará contente, tendo com que se fortificar. - Onde mora tua vovó, Chapeuzinho Vermelho? - Mora a um bom quarto de hora daqui, na floresta, debaixo de três grandes carvalhos; a casa está cercada de nogueiras, acho que o sabes, - disse Chapeuzinho Vermelho. Enquanto isso, o lobo ia pensando: "Esta meninazinha delicada é um quitute delicioso, certamente mais apetitosa que a avó; devo agir com esperteza para pegar as duas." Andou um trecho de caminho ao lado de Chapeuzinho Vermelho e foi insinuando: - Olha, Chapeuzinho Vermelho, que lindas flores! Por que não olhas ao redor de ti? Creio que nem sequer ouves o canto mavioso dos pássaros! Andas tão ensimesmada como se fosses para a escola, ao passo que é tão divertido tudo aqui na floresta! Chapeuzinho Vermelho ergueu os olhos e, quando viu os raios do sol dançando por entre as árvores, e à sua volta a grande quantidade de lindas flores, pensou: "Se levar para a vovó um buquê viçoso, ela certamente ficará contente; é tão cedo ainda que chegarei bem a tempo." Saiu da estrada e penetrou na floresta em busca de flores. Tendo apanhado uma, achava que mais adiante encontraria outra mais bela e, assim, ia avançando e aprofundando-se cada vez mais pela floresta adentro. Enquanto isso, o lobo foi correndo à casa da vovó e bateu na porta. - Quem está batendo? - perguntou a avó. - Sou eu, Chapeuzinho Vermelho, trago vinho e bolo, abre-me. - Levanta a taramela, - disse-lhe a avó; - estou muito fraca e não posso levantar-me da cama. O lobo levantou a taramela, a porta escancarou-se e, sem dizer palavra, precipitou- se para a cama da avozinha e engoliu-a. Depois, vestiu a roupa e a touca dela; deitou- se na cama e fechou o cortinado. Entretanto, Chapeuzinho Vermelho ficara correndo de um lado para outro a colher flores. Tendo colhido tantas que quase não podia carregar, lembrou-se da avó e foi correndo para a casa dela. Lá chegando, admirou-se de estar a porta escancarada; entrou e na sala teve uma impressão tão esquisita que pensou: "Oh, meu Deus, que medo tenho hoje! Das outras vezes, sentia-me tão bem aqui com a vovó!" Então disse alto: - Bom dia, vovó! - mas ninguém respondeu. Acercou-se da cama e abriu o cortinado: a vovó estava deitada, com a touca caída no rosto e tinha um aspecto muito esquisito. - Oh, vovó, que orelhas tão grandes tens! - São para melhor te ouvir. - Oh, vovó, que olhos tão grandes tens - São para melhor te ver. - Oh, vovó, que mãos enormes tens! - São para melhor te agarrar. - Mas vovó, que boca medonha tens! - É para melhor te devorar. Dizendo isso, o lobo pulou da cama e engoliu a pobre Chapeuzinho Vermelho. Tendo assim satisfeito o apetite, voltou para a cama, ferrou no sono e começou a roncar sonoramente. Justamente, nesse momento, ia passando em frente à casa o caçador, que ouvindo aquele ronco, pensou: "Como ronca a velha Senhora! É melhor dar uma olhadela a ver se está se sentindo mal." Entrou no quarto e aproximou-se da cama; ao ver o lobo, disse: - Eis-te aqui, velho impenitente! Há muito tempo, venho-te procurando! Quis dar-lhe um tiro, mas lembrou-se de que o lobo poderia ter comido a avó e que talvez ainda fosse possível salvá-la; então pegou uma tesoura e pôs-se a cortar- lhe a barriga, cuidadosamente, enquanto ele dormia. Após o segundo corte, viu brilhar o chapeuzinho vermelho e, após mais outros cortes, a menina pulou para fora, gritando: - Ai, que medo eu tive! Como estava escuro na barriga do lobo! Em seguida, saiu também a vovó, ainda com vida, embora respirando com dificuldade. E Chapeuzinho Vermelho correu a buscar grandes pedras e com elas encheram a barriga do lobo. Quando este acordou e tentou fugir, as pedras pesavam tanto que deu um trambolhão e morreu. Os três alegraram-se imensamente com isso. O caçador esfolou o lobo e levou a pele para casa; a vovó comeu o bolo e bebeu o vinho trazidos por Chapeuzinho Vermelho e logo sentiu-se completamente reanimada;enquanto isso, Chapeuzinho Vermelho dizia de si para si: "Nunca mais sairás da estrada para correr pela floresta, quando a mamãe to proibir!" 1.3. (2 pontos) Busque, também no Fórum, duas respostas que se coadunem melhor com o que você pensa sobre a comparação do Maravilhoso com o Fantástico, indique as autorias e copie-as abaixo. QUESTÃO 2 (2 PONTOS) Vamos agora às versões modernas dessa história, para explorar os tipos de intertextualidade. Vimos que o humor pode ter nuances e, na Literatura, é explorado por autores para obter determinados efeitos. Uma das mais profícuas ferramentas para explorar o humor é a intertextualidade. Leia esta versão do conto Chapeuzinho Vermelho, de Millôr Fernandes Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes). Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ascentralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde". Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: Psychopathology Of Everiday Life, The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a ideia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó. Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranoica pequenas doenças que dão no cérebro, parte- súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em Sexual Behavior in the Human Female. W. B. Saunders Company, Publishers). Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranquila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau. Extraído do livro Lições de Um Ignorante, José Álvaro Editor. Rio de Janeiro, 1967, p. 31. http://pensador.uol.com.br/fabulas_de_millor_fernandes/ 2.1. ( 1 ponto) Vá a aula 8 (oito) e diga que tipo de humor Millor Fernandes provoca com esta versão e aponte duas características, com exemplos tirados do texto. 2.2. ( 1 ponto) Analise os comentários entre parênteses. QUESTÃO 3 (2 PONTOS) Agora uma nova versão: Chapeuzinho vermelho de raiva, de Mário Prata -- Senta aqui mais perto, Chapeuzinho. Fica aqui mais perto da vovó, fica. -- Mas, vovó, que olho vermelho... E grandão... Que que houve? -- Ah, minha netinha, estes olhos estão assim de tanto olhar para você. Aliás, está queimada, hein? -- Guarujá, vovó. Passei o fim de semana lá. A senhora não me leve a mal, não, mas a senhora está com um nariz tão grande! Tá tão esquisito, vovó. -- Ora, Chapéu. É a poluição. Desde que começou a industrialização do bosque que é um Deus nos acuda. Fica o dia todo respirando este ar horrível. Chegue mais perto, minha netinha, chegue. -- Mas em compensação, antes eu levava mais de duas horas para vir de casa até aqui e agora, com a estrada asfaltada, em menos de quinze minutos chego aqui com minha moto. -- Pois é, minha filha. E o que tem aí nesta cesta enorme? http://pensador.uol.com.br/fabulas_de_millor_fernandes/ -- Puxa, ia me esquecendo: a mamãe mandou umas coisas para a senhora. Olha aí: margarina, maionese Hellmans, Danone de frutas e até uns pacotinhos de sopa Knorr, mas não é para a senhora comer um só por dia, viu? Lembra da indigestão do carnaval? -- Se lembro, se lembro... -- Vovó, sem querer ser chata... -- Ora, diga. -- As orelhas. A orelha da senhora está tão grande. E, ainda por cima, peluda. Credo, vovó! -- Ah, mas a culpada é você. São estes discos malucos que você me deu. Onde já se viu fazer música deste tipo? Um horror! Você me desculpe, porque foi você que me deu, mas estas guitarras, é guitarra que se diz, não é? Pois é, estas guitarras são muito barulhentas... Não há ouvido que aguente, minha filha. Música é do meu tempo. Aquilo sim, eu e seu finado avô dançando valsas. Ah, esta juventude está perdida mesmo... -- Por falar em juventude, o cabelo da senhora está um “barato”, hein? Todo desfiado, pra cima, encaracolado. Que qué isso? -- Também tenho que entrar na moda, não é, minha filha? Ou você queria que eu fosse domingo no Chacrinha de coque com vestido preto com bolinhas brancas? Chapeuzinho pula para trás: -- E esta boca imensa???!!! A avó pula da cama e coloca as mãos na cintura, brava: -- Escuta aqui, queridinha: veio aqui hoje para me criticar, é?! ( Fonte: CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES, Tereza Cochar. Português: linguagens, 1ª série. São Paulo: Atual, 2002, p. 153-154.) 3.1 (1 ponto) Comente esse tipo de humor, explicando e exemplificando. 3.2 (1 ponto) Qual das duas versões apresenta traços satíricos mais evidentes? Justifique sua resposta.
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