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Ive Maria Emergências cirúrgicas – 8º semestre 1 Drenagem torácica e toracocentese Aula 3 – prática CONCEITOS ANATÔMICOS IMPORTANTES Importante conhecer a anatomia do espaço intercostal para inserção adequada dos drenos torácicos. Lembrar que o espaço pleural é formado por 3 camadas musculares sendo intercostal interno, externo e íntimo (inseridos no periósteo das costelas, na borda superior e inferior). O feixe vasculonervoso está na borda interna inferior de cada costela, e as estruturas ínfero-superior (NAV), portanto os acessos (punção/drenagem) a cavidade devem ser realizados, acima da borda superior, de forma que se acessada por baixo, corre grande risco de lesão de estruturas importantes e hemorragia (de difícil controle). Por último, lembrar das reflexões pleurais na transição toracoabdominal, tendo em vista que o diafragma tem o formato de cúpula/tenda com inserção no gradil costal em 6º EIC – anteriormente; 8º EIC lateralmente; e 10º EIC posteriormente; FISIOLOGIA O espaço pleural se situa entre as pleuras (parietal e visceral), em condições normal é virtual, ou seja, “não existe”. A parte parietal recobre a parede torácica, diafragma e mediastino, e a visceral, está em contato com a superfície pulmonar. A pressão no interior é negativa e varia no ciclo respiratório normal. A manutenção da pressão negativa deixa os alvéolos abertos durante a inspiração e essa diferença de pressão é o que permite a inalação de ar. Na expiração tem diminuição da cavidade pelural com elevação da cúpula diafragmática e redução dos EIC’s, a pressão aumenta (maior que a atm) e o ar tende a ser expirado. Nas doenças que comprometem esse espaço ou durante a abertura de cavidade (trauma, cirurgia...) as pressões alteral e tem colapso pulmonar, diminuindo a ventilação. O objetivo dos procedimentos – toracocentese e drenagem- é reestabelecer esse espaço virtual e a negatividade da pleura para possibilitar a completa expansão e consequente ventilação adequada. CLASSIFICAÇÃO DAS LESÕES PNEUMOTÓRAX SIMPLES OU ABERTO → Ar no espaço pleural por perfuração ou laceração pulmonar, gerando comunicação do espaço pleural com o meio externo – se atingir diâmetro > 2/3 do diâmetro da traqueia há aumento do pneumotórax, podendo ser convertido para hipertensivo; → O paciente pode ou não apresentar dispneia/desconforto respiratório e dor torácica; → Hipertimpanismo a percussão; → Diminuição ou ausência do murmúrio vesicular; → Paciente deve ser submetido a curativo em 3 pontas e posteriormente drenagem pleural selo d’água; PNEUMOTÓRAX HIPERTENSIVO → Acúmulo de ar no espaço pleural, que preenche a cavidade, comprimindo estruturas mediastinais do lado contralateral, como VCI, o que vai impedir retorno venoso e propiciar um colapso pulmonar; → Pode levar o paciente ao choque, com evolução para óbito; → O paciente pode se apresentar com dor torácica, dispneia, sinais de choque – taquicardia e hipotensão – ou estase de jugular e desvio de traqueia; → O diagnóstico é essencialmente clínico e o paciente deve ser submetido precocemente a punção de alívio e posteriormente drenagem torácica; HEMOTÓRAX → Acúmulo de sangue no espaço pleural; → Paciente com dispneia de dor torácica; → Apresenta macicez a percussão torácica – sinal clássico; → Diminuição do murmúrio vesicular; → Pode haver choque hipovolêmico; → A conduta é reposição volêmica e drenagem selo d’água; Ive Maria Emergências cirúrgicas – 8º semestre 2 → Em casos de sangramento imediato > 1500ml ou > 200ml/h nas primeiras 3 horas após a drenagem, deve-se proceder com toracotomia; nesses dois últimos casos, infundir cristaloide (1000 a 2000ml) e hemoconcentrado (não é necessário medir hb); INDICAÇÕES • Hemotórax – drenar sempre que o paciente for atendido nas primeiras horas do trauma; • Hemopneumotórax – deve ser drenado independentemente da quantidade de sangue; • Traumatopneia – drenagem mandatória após fechamento da saída de ar; NUNCA acessar pelo orifício traumático (risco de contaminação e empiema); • Pneumotórax espontâneo – drenar quando há colapso pulmonar > 1/3 da cavidade; • Pneumotórax hipertensivo - drenar precocemente para abolir as altas pressões na cavidade; • Quilotórax - linfa na cavidade; • Derrame pleural – dreno precedendo pleurodese; • Fratura de costelas em paciente em VM – trauma que precisa de anestesia geral, deve ser feita a drenagem (risco de perfuração pulmonar e pneumotórax hipertensivo durante VM); CONTRAINDICAÇÕES 1. Absolutas: → Distúrbios de coagulação → Paciente em uso de anticoagulante 2. Relativas: → Presença de bolha pulmonar volumosa → Aderências pleurais → Hepatopatia TÉCNICA 1. Preparo do material → Antisséptico, gazes e pinça para antissepsia; → Campos estéreis; → Anestésico local, seringa + agulha para aplicação; → Bisturi; → 2/3 pinças hemostáticas longas; → Porta agulha, fio não absorvível e tesoura; → Dreno tamanho adequado e sistema coletor selo d’água; → Verificar sistema de drenagem – dreno, conexão, tubo que une dreno ao frasco e frasco de drenagem; → Medir conexão (se compatível com tamanho do dreno e tubo); → Analisar se o sistema está hermético; observar se orifício do suspiro do frasco de drenagem está pérvio; → Dispor o material na mesa de procedimento; 2. Posição do paciente → Decúbito dorsal, tronco elevado em 30° - a ação da gravidade desloca os órgãos abdominais para baixo, evitando lesão diafragmática ou dos órgãos intra-abdominais; → Braço estendido sob a cabeça e cotovelo fletido – aumenta os EIC’s; 3. Local da drenagem → Linha axilar média na intersecção do 5° EIC; 4. Infiltração anestésica → Botão anestésico local – pele fica com aspecto de casca de laranja – e anestesia do subcutâneo; → Sedação sistêmica em crianças; 5. Incisão → Puncionar local – toracocentese de localização; é positiva para ar em pneumotórax e para sangue em hemotórax; quando negativa – reavaliar a indicação ou posição do paciente; → Incisão de mais ou menos o tamanho da polpa digital do profissional, para dilatar o orifício e facilitar posicionamento do dreno; → Incisão sempre transversa para seguir linhas de força da pele; → Deve ser feita sobre a borda superior da costela; 6. Disseção de tecidos moles Ive Maria Emergências cirúrgicas – 8º semestre 3 → Depois de abrir, faz dissecção com a kelly da aponeurose, músculos e EIC, a pinça deve passar na borda superior da costela evitando a lesão do feixe; → Quando atingir o espaço, tracionar a pinça com as hastes abertas criando espaço para introdução do dreno; 7. Introdução do dreno → Cortar a extremidade em bisel para facilirar a passagem na musculatura e EIC. → Pinçar dreno na extremidade e introduzir na cavidade; → Marcar cerca de 4/5 dedos após a última fenestra e pinçar, para demarcar a parte que ficará junto a pele – evitando que uma das fenestras fique no subcutâneo; 8. Fixação do dreno → Deve ser fixado à pele por meio de ponto Donatti com nylon 0 – na retirada ele será usado para fechar a pele; → Trançar o fio no dreno (sapatilha de bailarina) e amarrar nas extremidades. E para que o dreno não se mexa, colocar ponto de seda 2.0 na região próxima da pele; 9. Funcionalidade do sistema de drenagem → Após a colocação e fixação, verificar o funcionamento do dreno pedindo para o paciente inspirar profundamente ou tossir – quando a pressão varia na cavidade torácica, a variação é transmitida para o sistema de drenagem e a coluna líquida movimenta-se mostrando funcionamento adequado do sistema; 10. Retirada do dreno – quando: → Drenagem em 24h < 200ml; → Expansibilidade pulmonar completa; → Ausência de escape aéreo O dreno mais utilizado é o tubular de silicone, é omais barato e efetivo. Toracocentese Consiste na introdução de uma agulha ou cateter na cavidade pleural com intuito de retirar conteúdo líquido ou gasoso. INTRODUÇÃO E INDICAÇÕES É utilizada para diagnóstico de derrame pleural de etiologia indeterminada, bem como para tratamento de pneumotórax ou derrame de pequenos volumes. Via de regra, precede a drenagem, já que puncionamos antes de drenar (toracocentese de localização). As principais indicações são: • Derrames pleurais de etiologia desconhecida; • Derrame pleural parapneumônico; • Pneumotórax espontâneo/iatrogênico de pequeno volume; • Pneumotórax hipertensivo – de alívio, até que providencie a drenagem; • Hemotórax pós-trauma contuso com mais de 6h de evolução; Contraindicações: • Coagulopatias; • infecção cutânea no sítio da punção; • Paciente não cooperativo (podemos avaliar fazer sob anestesia); • Instabilidade hemodinâmica; TÉCNICA Raio-x que orienta o procedimento deve ser colocado no negatoscópio no momento da toracocentese, evitando as Ive Maria Emergências cirúrgicas – 8º semestre 4 realizadas contralaterais. Raio-x de no máximo 24h anteriores devido a versatilidade das doenças pleurais. O procedimento deve ser realizado em local com material de reanimação – atentar para idosos (desencadeamento vagal); 1. Materiais → Avental e campos estéreis → Luvas estéreis → Gazes → Duas seringas de 20 mℓ → Agulha 30 × 7 → Agulha 40 × 12 → Torneira de três vias → Intracath® ou Jelco® no 14 → Lâminas de bisturi no 11 ou no 15 → Lidocaína a 2% sem vasoconstritor (20 mℓ → Solução antisséptica → Equipo de soro de macrogotas → Frasco a vácuo (quando possível) → Três tubos secos estéreis para coleta de material. 2. Posição do paciente → Paciente sentado com mãos nos joelhos, ou com braços cruzados apoiados na frente do corpo apoiados em um suporte. Nos internados em VM, deve ficar no ângulo de 45° e o local da punção vai ser a LAM; 3. Local da toracocentese → Local de maior declive da cavidade torácica é a posterior, onde o diafragma se insere entre o 10° e o 12º arco costal. Então o local escolhido é a linha escapular, 2 espaços intercostais abaixo da ponta da escápula – o cateter tem maior aproveitamento para esvaziar o líquido; → Nunca puncionar abaixo da 9ª costela, devido ao risco de puncionar a cavidade abdominal; 4. Técnica → Antissepsia do hemitórax – com polvidine ou clorexidina; → Infiltração com xilocaína a 2% - pele em casca de laranja; → Posicionar a agulha na borda superior da costela e aprofundar até alcançar a musculatura intercostal; → Introduzir cateter abocath 14 ou 16 acoplado a seringa de 20ml – sentindo a resistência dos tecidos até a diminuição dela, o que indica alcance do espaço pleural; retira a parte metálica do abocath e deixa só o cateter para evitar lesão de parênquima pulmonar; → Diagnóstica - retira 20-50ml de líquido para análise bioquímica e celular – amostra inicial é a ideal; → Acopla o abocath a uma torneira de 3 vias – uma das extremidades com uma seringa e a outra acoplada a um equipo de soro, e este a um recipiente colocado num nível abaixo do paciente para que o líquido drene pelo equipo espontaneamente. → Terapêutica – não retirar mais do que 1.200- 1.500ml devido ao risco de edema por reexpansão pulmonar; COMPLICAÇÕES Estão intimamente ligadas a indicação errônea do procedimento, ou seja, a indicação correta por si só diminui o risco de complicações. • Hemotórax; • Pneumotórax; • Empiema pleural; • Reflexo vagal; • Edema pulmonar de reexpansão; • Lesão de órgãos intratorácicos ou intra-abdominais;
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