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CONFIABILIDADE DE SISTEMAS Abel José Vilseke Tempo médio para reparo (MTTR) e taxa de falhas Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Conceituar tempo médio de reparo e mantenabilidade. Definir disponibilidade em confiabilidade. Aplicar o conceito de taxa de falhas. Introdução Indicadores de manutenção e confiabilidade, como tempo médio de reparo, mantenabilidade, disponibilidade e taxa de falhas, são exemplos de alguns indicadores de performance que servem como referência para a tomada de decisão em uma empresa, fazendo com que esforços sejam aplicados de forma adequada, buscando os me- lhores resultados. Neste capítulo, você vai estudar os conceitos de tempo médio de reparo, mantenabilidade, disponibilidade e taxa de falhas, percebendo sua relação com a confiabilidade. Tempo médio de reparo e mantenabilidade O tempo médio de reparo (MTTR, do inglês mean time to repair), que também pode ser chamado de tempo médio para reparo, é um indicador de desempenho utilizado na manutenção para contabilizar o tempo médio de reparo de determinado equipamento ou sistema. O MTTR inclui o tempo necessário para detectar o problema, mobilizar a equipe de manutenção, diagnosticar o problema, obter os recursos para a substituição, consertar e testar, até voltar à operação normal. O desejado é que o valor do MTTR seja o menor possível, dentro das ne- cessidades e possibilidades da empresa, indicando que os tempos de máquina C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 1 28/02/2019 15:13:49 parada são baixos. Mas é preciso ter cuidado ao exigir baixos valores de MTTR das equipes de manutenção, pois podem ser realizadas manutenções corretivas de forma mais rápida, sem eliminar a causa raiz do problema, ocasionando novas necessidades de manutenção no futuro. Alguns benefícios obtidos ao calcular e interpretar o MTTR, segundo Cyrino (2017), são: identificar possíveis problemas de tempo inativo e manutenção; auxiliar na análise do reparo ou substituição; auxiliar no planejamento de recursos necessários. De acordo com Cyrino (2017), o cálculo do MTTR pode ser categorizado, o que facilita a sua análise: MTTR para eventos de manutenção originados por máquinas e equi- pamentos em geral — é o mais comum; MTTR para eventos originados em determinados tipos de itens, peças ou componentes, ou então para um conjunto de máquinas; MTTR relacionado com interrupções externas que não podem ser controladas e que originam problemas de manutenção, como falta de energia ou água; MTTR relacionado com problemas originados por defeitos de matéria- -prima ou insumos. O MTTR é um indicador utilizado somente para itens reparáveis e consiste na divisão da soma de horas de indisponibilidade pelo número de intervenções corretivas realizadas. Ou seja: onde N é a quantidade de manutenções corretivas realizadas para determinado equipamento e TTR é o tempo de cada manutenção. Em itens não reparáveis, que, após a falha, são descartados, o MTTR é igual a zero. Indicadores de manutenção e confiabilidade II2 C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 2 28/02/2019 15:13:49 Manutenção corretiva é a manutenção efetuada após a ocorrência de uma falha com o objetivo de recolocar o item em condições de executar sua função requerida. Segundo Teles (2018a), é o tipo de manutenção mais caro, pois toma mais tempo e traz mais prejuízos para a empresa, podendo ser sete vezes mais cara que os demais tipos de manutenção. No momento de análise de indicadores, é preciso estar atento, pois, de um mês para outro, o resultado do MTTR pode variar em função de outro indicador. Por exemplo, é possível que a melhora no MTTR seja causada pelo aumento do número de falhas, mas com o mesmo tempo de manutenção corretiva. Além disso, as manutenções corretivas que reparam apenas com medidas paliativas não devem ser contabilizadas no MTTR, pois, apesar de devolver o funcionamento da máquina, não eliminam a fonte do problema. Segundo Cyrino (2018) e Rodrigues (2018), algumas medidas que podem melhorar o MTTR são: estabelecer um conselho consultivo de mudanças; manter o controle de todas as mudanças de processo; acompanhar a evolução de todos os indicadores; realizar manutenção preventiva e planos de lubrificação adequadamente; ter mão de obra suficiente e habilitada; ter estoques que atendam às necessidades. O MTTR também é utilizado para calcular a mantenabilidade de um equi- pamento. A mantenabilidade, ou manutenibilidade, é a capacidade que um item tem de receber manutenção dentro de um período determinado, ou seja, é a rapidez com que os procedimentos de reparo são executados para recolocar o equipamento em funcionamento após uma falha. Segundo a NBR 5462:1994 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT, 1994), o termo mantenabilidade também é utilizado como medida de desempenho, sendo interpretado como a probabilidade de uma manutenção ocorrer em um determinado período de tempo, sob condições estabelecidas e usando procedimentos e recursos prescritos. 3Indicadores de manutenção e confiabilidade II C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 3 28/02/2019 15:13:49 A mantenabilidade M(t) pode ser calculada por: M(t) = 1 – e–μt onde t é o período e μ é a taxa de reparos: Quanto menor for o MTTR, mais eficiente é a equipe de manutenção. O ideal é que a mantenabilidade seja a máxima possível, indicando que o MTTR é baixo. Para isso, segundo Teles (2018b), é necessário: procedimento — documentar todos os passos das ações de manutenção que são repetitivas, com a maior riqueza de detalhes possível; desenvolvimento — identificar todas as habilidades necessárias para realizar as atividades do item anterior e desenvolvê-las dentro da equipe de manutenção; informação — disseminar as informações dos procedimentos de ma- nutenção para toda a equipe; antecipação — antecipar alguns cenários e agir para facilitar a manutenção; treinamento — treinar constantemente as habilidades desenvolvidas para que se tornem hábito; repetição — repetir todo o ciclo, aplicando programas de melhorias. A segurança é um ponto importante para bons resultados de mantenabi- lidade. Equipamentos de proteção individual e coletiva (EPIs e EPCs) devem ser disponibilizados para toda a equipe de manutenção. Além disso, as normas de segurança da ABNT (NR–10 para atividades na área elétrica, NR–13 para gestão de caldeiras e vasos de pressão, NR–35 para trabalhos em altura, entre outras) devem ser seguidas. Indicadores de manutenção e confiabilidade II4 C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 4 28/02/2019 15:13:50 O registro de lições aprendidas pela equipe de manutenção em relação ao equipamento e às situações presenciadas permite a melhoria contínua. Com isso, procedimentos podem ser criados ou revisados, algumas questões podem ser consideradas no desenvolvimento ou na aquisição de novos produtos, a equipe de manutenção se aproxima dos demais setores da empresa, entre outros benefícios. A gestão à vista é um fator que pode motivar os trabalhadores a buscarem melhores resultados, não só de mantenabilidade, mas também dos demais indicadores de manutenção e confiabilidade. Todo o time de manutenção é comunicado de forma clara sobre os resultados da empresa e do setor, com dados ligados ao dia a dia da equipe e indicadores que mostrem seu desempenho. Deixar o equipamento falhar para depois consertar não ajuda na mantena- bilidade. A mantenabilidade está diretamente relacionada à confiabilidade, e, para isso, deve ser definido um plano de manutenção bem estruturado, com manutenção preventiva, para reduzir falhas potenciais, e com manutenção preditiva, detectando problemas com antecedência. No desenvolvimento de um produto, equipamento ou sistema, de acordo com Dym et al. (2010) e Jordán (2016), é importante que se tenha um projeto de mantenabilidade,levando em conta algumas ações: selecionar peças que sejam facilmente acessadas e reparadas; especificação de ferramentas especiais; classificação de áreas perigosas; redundância para que os sistemas continuem em operação enquanto a manutenção é realizada; especificação de procedimentos de manutenção preventiva e preditiva; indicação do número de peças sobressalentes em estoque. A mantenabilidade também deve ser considerada na aquisição do pro- duto, envolvendo, pelo menos, um integrante da manutenção desde o início do processo, pois a equipe de manutenção trabalhará com esse equipamento durante todo o seu ciclo de vida. Conforme a ABNT NBR 5462:1994 (ABNT, 1994), os valores numéricos da medida de mantenabilidade de um equipamento ou sistema podem ser previstos a partir de medidas de confiabilidade e de mantenabilidade de seus 5Indicadores de manutenção e confiabilidade II C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 5 28/02/2019 15:13:50 subitens, utilizando modelos matemáticos. Esse procedimento é chamado de modelo de mantenabilidade. Alguns parâmetros de mantenabilidade podem ser utilizados para o cálculo da disponibilidade, sendo eles: MTTR — tempo médio de manutenção corretiva (o mesmo que tempo médio de reparo); MTPM — tempo médio de manutenção preventiva; MA — tempo médio de manutenção ativa, incluindo MTTR e MTPM; MTBM — tempo médio entre manutenções; MDT — tempo inativo de manutenção. Disponibilidade A disponibilidade, segundo a ABNT NBR 5462:1994 (ABNT, 1994), é a capacidade de um item estar em condições de executar uma determinada função em um dado instante ou durante um intervalo de tempo determinado. Para a disponibilidade, são levados em conta os aspectos combinados de confi abilidade, mantenabilidade e suporte de manutenção. Conforme lecionam Fogliatto e Ribeiro (2009), a eficiência das ações de manutenção corretiva é medida a partir da disponibilidade do equipamento, enquanto a eficiência das ações de manutenção preventiva é avaliada pelo incremento resultante na confiabilidade. Em um cenário perfeito, a disponibilidade é de 100%, indicando que o equipamento está sempre disponível, com manutenções ocorrendo somente nos momentos programados e sem ociosidade. Para elevar a disponibilidade de um equipamento, é necessário aumentar seu MTBF e reduzir seu MTTR, o que é possível por meio da sequência de ações a seguir: 1. ter um plano de manutenção preventiva e executá-lo corretamente; 2. acompanhar a redução do número de manutenções corretivas; 3. implementar um plano de manutenção preditiva. Indicadores de manutenção e confiabilidade II6 C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 6 28/02/2019 15:13:50 O termo disponibilidade também pode ser utilizado como medida de desempenho da disponibilidade e, de acordo com Berquó (2014), pode ter três diferentes classificações: disponibilidade inerente; disponibilidade obtida; disponibilidade operacional. Disponibilidade inerente A disponibilidade inerente é a probabilidade de que um sistema estará disponível quando acionado de forma aleatória, em um ponto do tempo, em um ambiente de suporte logístico ideal, sendo que, de maneira geral, isso não ocorre na prática. Suporte logístico ideal inclui disponibilidade imediata de pessoal de manutenção treinado, peças de reposição, equipamentos de suporte e facilidades necessárias. A disponibilidade inerente (Ai) pode ser calculada por: onde MTBF é o tempo médio entre falhas para esse equipamento. Nesse caso, considera-se apenas o tempo de inatividade do equipamento por paradas para manutenção corretiva, excluindo tempos de inatividade por manutenção preventiva, atrasos logísticos, entre outros. Disponibilidade obtida A disponibilidade obtida é a probabilidade de que um sistema operará sa- tisfatoriamente, em qualquer momento que for acionado, em um ambiente de suporte logístico ideal. A disponibilidade obtida (Aa) é: 7Indicadores de manutenção e confiabilidade II C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 7 28/02/2019 15:13:50 Nesse caso, considera-se o tempo médio de manutenção ativa (preventiva e corretiva), além do tempo médio entre manutenções, em vez de considerar o tempo médio entre falhas. Disponibilidade operacional A disponibilidade operacional é a probabilidade de que um sistema estará disponível quando acionado de forma aleatória, em um ponto do tempo, em um ambiente de suporte logístico real. A disponibilidade operacional (Aa) é calculada por meio da equação: Nessa situação, são considerados todos os atrasos logísticos. Esta é a realidade no início da fase operacional, que vai sendo melhorada ao longo da operação, com reduções nos tempos de manutenção ativa e tempos logísticos. Taxa de falhas A confi abilidade de um processo é a probabilidade de que não ocorram falhas em condições previamente defi nidas. Para aumentar a confi abilidade, é preciso identifi car, analisar e minimizar as falhas. Segundo Rodrigues (2014), o diagnóstico das falhas pode ser dividido em quatro etapas: detecção — quando se percebe que um comportamento anormal ocorreu; isolamento — quando se delimita a falha; identificação — quando se identifica a falha; análise da falha — quando se passa a conhecer sua amplitude e o que a causou. A taxa de falhas (λ) é o índice de falhas em um determinado intervalo de tempo, que possui uma relação inversa com a confiabilidade, como pode ser observado na Figura 1. A taxa de falhas é calculada por: Indicadores de manutenção e confiabilidade II8 C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 8 28/02/2019 15:13:50 Os dados para o cálculo da taxa de falhas podem ser obtidos por meio de ensaios laboratoriais, testes de campo, históricos de manutenção, reclamações de garantia, entre outras formas. Figura 1. Relação entre a confiabilidade e a taxa de falhas. Fonte: Adaptada de Rodrigues (2014). A função de taxa de falha, segundo Minitab (FUNÇÕES..., [2017]), é a taxa instantânea de falha em um determinado tempo, que caracteriza a vida útil de um equipamento e pode ser, basicamente, decrescente, constante ou crescente. Função de taxa de falha decrescente: a função de taxa de falha de- crescente indica falhas com maior probabilidade de ocorrência no início da vida de um produto, por exemplo, produtos compostos por metais que se tornam mais resistentes com o tempo, falhas no lançamento de um produto, etc. Esse período de redução do risco de falha caracteriza a porção inicial da curva da banheira da Figura 2. Função de taxa de falha constante: a função de taxa de falha constante indica falhas com a mesma probabilidade de ocorrência durante toda a vida útil do produto. Esse período relativamente constante de baixo risco de falha caracteriza a porção central da curva da banheira da Figura 2. Função de taxa de falha crescente: a função de taxa de falha cres- cente indica que os itens têm mais probabilidade de falhar com o 9Indicadores de manutenção e confiabilidade II C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 9 28/02/2019 15:13:50 tempo, por exemplo, por desgaste ou fadiga. Esse período de aumento do risco de falha caracteriza a porção final da curva da banheira da Figura 2. Função de taxa de falha em forma de banheira: diversos produtos têm diferentes taxas de falha ao longo de sua vida, seguindo as três funções descritas anteriormente. Esse comportamento recebe o nome de curva da banheira, Figura 2, onde a taxa de falha é alta inicial- mente, com um comportamento decrescente, baixa no centro, com um comportamento constante, e alta novamente no final da vida, com um comportamento crescente. Figura 2. Curva da banheira. Fonte: Adaptada de Funções... ([2017]). As falhas que ocorrem no início da vida do produto são chamadas de falhas precoces ou prematuras, as que ocorrem no final da vida são chamadas de falhas por desgaste, e as demais são falhas aleatórias. Açõescomo manu- tenção preventiva e preditiva podem adiar o desgaste, alterando o padrão de taxa de falhas da curva da banheira. Indicadores de manutenção e confiabilidade II10 C04_Indicadores_manutencao_confiabilidade_II.indd 10 28/02/2019 15:13:51 ABNT. NBR 5462: confiabilidade e mantenabilidade. Rio de Janeiro, 1994. BERQUÓ, J. E. Confiabilidade, mantenabilidade e disponibilidade: o trinômio da ope- racionalidade. Melhore seus Conhecimentos, São José dos Campos, SP, nº. 49, p. 1–3, 2014. Disponível em: http://www.dcabr.org.br/download/artigos/msc_49.pdf. Acesso em: 20 fev. 2019. CYRINO, L. MTTR, como melhorar esse KPI? Manutenção em Foco, [s.l.], 2018. Disponível em: https://www.manutencaoemfoco.com.br/mttr-como-melhorar-esse-kpi/. Acesso em: 20 fev. 2019. CYRINO, L. 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