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1 RESUMO Lazoti Priscilla. O Empresário e as Sociedades perante o Novo Código Civil, 2003. Ciências Contábeis, FAFIBE – Bebedouro/SP. O presente trabalho de pesquisa monográfica intitulado de “O Empresário e as Sociedades perante o Novo Código Civil”, tem por objetivo expor de uma forma comentada, as novas regras que o Empresário e as Sociedades terão que respeitar a partir de 12 de janeiro de 2.003, em virtude da alteração do Novo Código Civil, que foi alterado pela lei 10.406 de 11 de janeiro de 2002. Foram muitas as mudanças introduzidas pelo Novo Código Civil, o Direito de Empresa estão previstos dos artigos 966 a 1.195, só como exemplo de uma alteração ocorrida posso citar o caso da antiga Firma Individual, que a partir do Novo Código Civil passa a ser tratada de Empresário, esta é apenas uma das muitas alterações introduzidas pelo Novo Código Civil . Neste trabalho procurei conceituar todos o tipos de Sociedades previstas pelo Novo Código Civil, dando um maior detalhamento nas mais utilizadas no Brasil, como é o caso da Sociedade Limitada . Palavras chaves: Empresário, Sociedades, Responsabilidade. 2 SUMÁRIO Pág. Resumo 01 Sumário 1 Introdução 03 2 Novo Código Civil 04 2.1 Do Direito de Empresa 04 3 Conceito de Empresário 05 3.1 Profissionalismo 07 3.2 Atividade Econômica 07 3.3 Atividade Organizada 09 3.4 Produção ou Circulação de Bens ou Serviços 09 4 Atividades de fins econômicos civis 10 4.1 Profissional Intelectual 11 4.2 Empresário Rural 12 4.3 Cooperativas 13 5 Tipos de Empresário 14 6 Empresário Individual e Pequeno Empresário 16 6.1 Empresário Individual 16 6.1.1 Da obrigação de inscrição 17 6.1.2 Como far-se-á inscrição do Empresário 18 6.2 Pequeno Empresário 19 7 A Sociedade Simples 19 7.1 Características da Sociedade Simples 21 7.2 A Administração na Sociedade Simples 22 7.3 As Deliberações dos sócios na Soc. Simples 22 8 A Sociedade Empresaria 23 8.1 Tipos de Sociedade Empresaria 24 8.1.1 Sociedade em nome coletivo 25 8.1.2 Sociedade em comandita simples 26 8.1.3 Sociedade Limitada 27 8.1.4 Sociedade Anônima 49 8.1.5 Sociedade em comandita por ações 49 9 Conclusão 50 10 Referências 51 3 1 Introdução O Empresário e as Sociedades perante o Novo Código Civil, é um trabalho desenvolvido para elucidar a legislação em que as personalidades jurídicas estão introduzidas, e também, demonstrar algumas das muitas obrigações que os contabilistas terão que observar ao serem responsáveis pela contabilidade destas empresas. O objetivo do trabalho é o de demonstrar de um forma resumida e simples os tipos de personalidades jurídicas existentes e comentar cada uma, dando um enfoque maior nas mais utilizadas. Como o primeiro passo de uma empresa é a sua constituição, achei interessante elaborar o presente trabalho demonstrando quais são os tipos de personalidades jurídicas existentes, e em qual legislação estas estão introduzidas. A metodologia de pesquisa utilizada no presente trabalho foi a de pesquisa bibliográfica, utilizando livros, artigos, resenhas, comentários, revistas, que traziam algum tipo de assunto relacionado ao trabalho. O trabalho foi organizado em etapas, primeiro escolhi o tema, em seguida parti para o levantamento das informações, pesquisando em livros, recortando matérias em revistas, etc..., depois de posse desses materiais comecei a estudá-los, tentando entender a matéria a ser discutida, para posteriormente escrevê-la, no decorrer do estudo percebi a necessidade de mudar o titulo do trabalho, foi ai que surgiu o titulo deste trabalho, porem sempre mantive o enfoque no tema escolhido, da onde resultou no presente trabalho que escrevo em diante. 4 2 Novo Código Civil O novo Código Civil brasileiro foi instituído pela Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2.002., representa o epílogo de um longo processo histórico de revisão do direito civil pátrio, e entrou em vigor em 12 de janeiro de 2.003. Dentre as novidades do novo Código Civil, foi inserido, na parte especial, o Livro II, que disciplina, nos artigos 966 ao 1.195, o direito da empresa. Não é preciso salientar que, diante de inúmeras e significativas alterações introduzidas no âmbito de tal área do direito, delineia-se necessária a sua compreensão pelos operadores do direito em geral e pelos advogados em particular, mas não esquecendo do Contabilista que tem papel fundamental no dia a dia das empresas, visto que é um dos principais personagens na observação e uso desta legislação. 2.1 Do Direito de Empresa Segundo Ricardo Fiúza 1 houve alguma controvérsia na doutrina quanto à denominação “Direito de Empresa”. Na redação original do anteprojeto, chamava-se o Livro II “ Da atividade Negocial”. A questão foi bem posta no relatório Ernani Sátyro, nos termos seguintes: “ Não há dúvida que o Livro II, além das atividades empresárias cuida de outras que não têm por finalidade a produção ou a circulação de bens ou serviços, mas esta parte, conforme veio a ser reconhecido no próprio seio da Comissão Revisora e Elaboradora do Código Civil, é tão reduzida em relação à primeira, que nada impede que prevaleça a sua denominação, mesmo porque algumas delas, como a agrícola, podem assumir estrutura empresarial. Nem sempre, aliás, a classificação das matérias jurídicas comporta critérios 1 FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. São Paulo: Saraiva, 2003. 5 rígidos. (...) Isto posto, nada impede que, sob a denominação de “Direito de Empresa” se disciplinem também determinadas relações que são de natureza econômica, embora destituídas daqueles requisitos de organização que caracterizam a atividade propriamente dita. Além disso, o termo “ Direito de Empresa” terá melhor correspondência com a denominação dos títulos dos demais livros do Código, tais como Direito de Família, Direito das Coisas e outros. Por outro lado, a palavra empresa, consoante orientação que resulta do Projeto, não significa uma dada entidade empresarial, mas indica, ao contrário, de maneira genérica, toda e qualquer forma de atividade econômica organizada com o escopo de atender à produção ou à circulação de bens ou de serviços. Dado o sentido genérico atribuído à palavra empresa, è esta que compõem o Livro II, sendo despiciendo o fato de, nesse Livro, ser disciplinada a matéria que diz respeito à atividade econômica daqueles que, não sendo empresários, visam a fins econômicos, como é o caso dos que exercem profissão intelectual, de natureza literária ou artística . Não procede, por conseguinte, a alegação de que o termo “ Direito de Empresa” seria restritivo da matéria disciplinada no livro em apreço, com o que se evita qualquer confusão com a matéria dos “negócios jurídicos”, disciplinada na Parte Geral” . 3 O Conceito de empresário2 O conceito de empresário é introduzido no Direito Privado pela seguinte fórmula legal: “ é imprenditore chi esercita professionalmente uma attivitá econômica organizzata al fine della produzione o dello scambio de beni o di servizi”. 2 NETO, Antonio José de Mattos. O empresário à luz do novo Código Civil. Artigo publicado na Revista do Advogado, nº 71, Agosto de 2.003. 6 Esta forma legal é traduzida na seguinte regra positiva: “Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços”. Acima temos as normas do Código Civil italiano e do Código Civil brasileiro cuja identificação só é possível graças àliteralidade da língua, porquanto o conteúdo normativo é praticamente idêntico entre ambos, sendo a lei brasileira de 2002, em seu artigo 966, mera tradução da italiana, em seu artigo 2.082. Mas antes de ser jurídico, o conceito de empresário carrega um aspecto econômico: é um dos sujeitos do sistema econômico, ou seja, da organização social da produção e da distribuição da riqueza. O empresário é o ativador do sistema econômico, entre vários agentes: os capitalistas que oferecem seu capital, em troca de lucro; os trabalhadores que oferecem suas forças de trabalho, em troca de salário; os consumidores que procuram no mercado bens e serviços para satisfazerem suas necessidades. Nesse sentido, o empresário funciona como intermediário entre, de um lado, os que oferecem seu capital ou sua força de trabalho e, de outro, aqueles que demandam no mercado bens e serviços para satisfazer suas necessidades. Dentro dessa perspectiva, o empresário transforma ou combina os fatores de produção, ou seja, transforma capital, trabalho e tecnologia em produto idôneo a satisfazer as necessidades no mercado de consumo, criando riqueza. Sob o ponto de vista econômico, essencial, por fim, para identificar o empresário, é o elemento risco econômico que pode ser traduzido pela possibilidade contingencial de auferir lucro e de arcar com prejuízo. Voltando ao ângulo jurídico, das palavras do artigo 966 do C.C. extraem-se os seguintes elementos que compõem o conceito de empresário: profissionalismo; atividade econômica; organização do meios para a atividade; e produção ou circulação de bens ou serviços. 7 3.1 Profissionalismo O profissionalismo é noção formada a partir de três requisitos: a habitualidade, a pessoalidade e o monopólio das informações que detém o empresário sobre os bens e serviços que apresenta ao consumo. A habitualidade significa que deve tratar-se de atividade econômica que seja habitual, contínua, não ocasional, sistemática no seu exercício pelo empresário. A habitualidade não significa necessariamente que a atividade não possa ser interrompida. Depende da natureza intrínseca do negócio desenvolvido. O que se leva em conta é a repetição da atividade empresarial. Assim, por exemplo, não perde o caráter da habitualidade o empresário que explora o ramo de hotelaria em estação de esqui, ou lugares de turismo sazonal, por exemplo, pois a natureza dessa atividade exige que seja cíclica. Já a pessoalidade significa que o empresário, na condição de profissional, exerce atividade econômica pessoalmente. Mesmo ao contratar empregados, ainda assim, exerce pessoalmente o negócio empresarial, porquanto seus empregados produzem ou circulam bens e serviços em nome do empregador (o empresário). Finalmente, o monopólio das informações que o empresário tem sobre o que produz ou faz circular é elemento ímpar e fundamental do conceito, porquanto somente o empresário tem inteiro conhecimento de informações básicas dos bens ou serviços ofertados à população para consumo, tais como condições de uso, qualidade, insumos empregados, riscos potenciais à saúde ou vida dos consumidores. Aliás, este é o sentido no que é usado o termo no Direito do Consumidor. 3.2 Atividade Econômica 8 O objetivo da atividade do empresário é, segundo a dicção do artigo 966 do Código Civil, “ para a produção ou a circulação de bens ou de serviços” . Nesse sentido, o empresário assume a figura de um produtor , de um explorador de atividade que faz gerar riquezas ou faz circular essas riquezas no mercado de consumo. O empresário, profissionalmente, produz bens ou serviços, ou se interpõe na circulação desses bens. Considera-se empresário não só aquele que produz, mas também o que se interpõe na circulação de bens ou serviços, ou seja, o comerciante, no sentido estreito do conceito, pois este não deixa de criar uma nova riqueza ao distribuir bens ou serviços, acrescentando, com seu mister, uma utilidade aos bens ou serviços preexistentes que faz circular. O objeto da empresa (atividade) é qualquer atividade licita idônea à produção de um ganho. Ou seja, a atividade deve ser lucrativa: possibilita a obtenção de lucro para quem a explora. Pode ser que o lucro seja o fim da atividade, e em geral o é, mas também pode ser meio para obtenção de outros fins, como por exemplo no caso de uma escola mantida por religiosos que tem por fim a educação, mas o lucro deve existir, até mesmo para a manutenção da atividade educacional. Por isso, a empresa (atividade) do empresário deve ser econômica, no sentido de produzir ou circular bens ou serviços, lucrativamente. Nesse caso, a noção técnico-jurídica de empresário coincide com a econômica, pois os economistas são concordes que a empresa tem por escopo o lucro. Deve-se atentar que o conceito de empresa, utilizado juridicamente, não corresponde ao usado na linguagem quotidiana. È que empresa á a atividade exercida pelo empresário. Na linguagem comum, empresa tem o significado de estabelecimento físico onde é desenvolvida a atividade econômica unitariamente estruturada para a produção ou a circulação de bens ou serviços. 9 3.3 Atividade Organizada A organização da atividade é feita pelo empresário. E organizar a empresa significa que o empresário articula os três fatores de produção : capital, trabalho e tecnologia. Não é atividade empresarial e, portanto, não é empresa, o negócio em que falte um dos fatores de produção. Não exerce a atividade negocial, por exemplo, o(a) sacoleiro(a) que vende, porta a porta, ele(ela) mesmo(a), sua mercadoria, pois não organiza mão-de-obra, por não contratar empregado. Esclareça-se que a tecnologia não necessita ser de ponta. Basta que a atividade exija um Know-how, um conhecimento especifico sobre o assunto, ainda que por mais simples e rudimentar seja. 3.4 Produção ou circulação de bens ou serviços. Produzir bens significa fabricar mercadorias; produzir serviços significa prestar serviços. São exemplos de empresários que produzem bens, o panificador de pães e doces, a metalúrgica de trilhos, de grades de ferro; já prestadores de serviços são os bancos, as seguradoras, as sociedades empresárias locadoras de mão-de-obra. A circulação de bens e serviços é a atividade de comércio no senso originário da expressão: aquisição de bens seguida de revenda, sem qualquer transformação em sua substância e intermediação na prestação de serviço. Tanto o empresário, ou melhor, o comerciante que intermedeia a cadeia de escoamento de bens, quanto o que medeia a prestação de serviços – ambos -, agregam uma utilidade ao produto ou serviço, quando fazem circular o objeto da atividade, concorrendo para gerar uma nova riqueza econômica. 10 A titulo de exemplo, é comerciante de bens o que explora loja de departamentos; comerciante de serviços, o empresário que transporta bens e mercadorias. Num e noutro exemplo, há circulação de riquezas, por haver acréscimo de utilidade dos bens e serviços. Após a análise dos requisitos que formam o conceito, podemos dizer que empresário é a pessoa que organiza uma atividade econômica a fim de fazer produzir ou circular bens ou serviços. Tal pessoa pode ser natural, quando o Código Civil de 2002 denomina empresário individual, ou pessoa jurídica, quando chama sociedade empresária. Esclareça-se, ao cabo, que não se deve confundir a noção de empresário com o sócio da pessoa jurídica. No vernáculo corrente, empresário é o sócio da sociedade. Tal não é o conceito jurídico. Tecnicamente, empresário é a própria pessoa jurídica que explora a atividade empresarial ( sociedade empresária), podendo ser, também, pessoa natural (empresário individual). Mas jamais é o sócio da sociedade empresária. Aos sócios da sociedade empresária há o aquinhoamento de direitos e imputações de obrigações legais próprios de quem faz parte de uma pessoa jurídicaempresária. Diga-se, ainda, que a vida tecnológica hodierna fez surgir um novo tipo de empresário, o virtual, que comercializa eletronicamente e cujo ambiente negocial é a rede mundial de computadores ( ambiente virtual), onde os consumidores interessados adquirem bens e serviços (virtuais). O empresário, embora negocie virtualmente, não deixa de preencher todas as características do conceito jurídico de empresário do Código Civil de 2002, sujeitando-se ao seu regime jurídico. 4 Atividades de fins econômicos civis 11 Embora tenha havido mudança no critério de definição do objeto de Direito Comercial, da teoria de atos de comércio para a teoria da empresa, continuam excluídas do âmbito comercial algumas atividades econômicas de natureza civil, permanecendo civil o seu estatuto jurídico, pelo que o exercente da atividade não pode requerer concordata nem contra ele ser decretada falência. A lei dita as hipóteses de atividades econômicas não empresariais (civis). São quatro: a primeira é a situação de quem explora atividade comercial, mas não se enquadra no conceito legal de empresário. Como exemplo, temos a situação do(a) sacoleiro(a) já dada. As outras três hipóteses são a do profissional intelectual, do empresário rural e da Cooperativa. 4.1 Profissional Intelectual Espelhando-se no artigo 2.238, §1º, do Código Civil italiano, o Código Civil brasileiro, no parágrafo único do artigo 966, estatui que: “ Art. 966 . ... omissis... Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza cientifica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliadores ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa” . Assim, o que exerce profissão intelectual, de natureza cientifica, literária ou artística, ainda que o faça profissionalmente, contrate empregado e tenha o escopo de lucro, não é considerado empresário. Incluem-se neste rol, por exemplo, os profissionais liberais, os literatos, os músicos, os artistas plásticos. 12 E a razão de o profissional liberal não se enquadrar à condição de empresário, deve-se apenas a uma tradição antiga de privilégio concedido aos profissionais livres, hoje denominados profissionais liberais. Mas a lei contempla uma única hipótese em que o profissional intelectual é considerado empresário: quando o exercício da profissão constitui elemento de empresa. Um professor que dê aulas não é um empresário, mas se este mesmo professor dirige uma escola, então, nesse caso, é considerado empresário, pois sua contribuição para a prestação dos serviços educacionais é a de organizador dos fatores de produção, fugindo, assim da condição de profissional liberal. Portanto, quando o exercício da profissão constitui elemento da atividade empresarial, somente nesta hipótese o profissional intelectual é enquadrado no conceito jurídico de empresário. 4.2 Empresário Rural No âmbito de um sistema legal que considera empresário o que desenvolve profissionalmente uma atividade econômica produtiva, a atividade rural passa a ser reconhecida como de empresa. O Código Civil italiano define o que seja empresário rural no artigo 2.135. O Código Civil brasileiro não esposou definição, mas lhe emprestou regramento especifico. No Direito Agrário brasileiro, rural é a atividade voltada para a agricultura, pecuária, agroindústria ou extrativismo. São as atividades agrárias. Em todas elas, o empreendedor cria riqueza, agregando valor econômico ao bem cultivado. Tal é um dado cientifico. Entretanto, a realidade brasileira no meio agrário, diferentemente da européia, evidencia que não deve o legislador exigir do empreendedor rural obrigações 13 de empresário, sob pena de inviabilizar o exercício livre da atividade. Por isso, em reconhecimento a essa realidade, é que o Código Civil, reservou ao empreendedor rural tratamento especifico, dispensando-o de requerer sua inscrição no registro das empresas. O artigo 971 estatui que somente será considerado empresário, e como tal sujeito às normas mercantis, o empreendedor rural que requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis. Caso o empreendedor rural se inscreva, garante a lei que terá tratamento favorecido, diferenciado e simplificado, quanto à inscrição e aos efeitos daí decorrentes (Código Civil, art. 970). Nesse caso, incluindo-se como empresário, deve manter escrituração regular dos livros obrigatórios, fazer balanços periódicos e pode falir e requerer concordata mercantil, sujeitando-se, evidentemente, às sanções da irregularidade no cumprimento das obrigações gerais de empresário. Chama-se atenção que o artigo 971 do direito codificado começa enunciando: “O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão...”, pelo que se pode inferir que o empreendedor rural pode até exercer outras atividades profissionais, mas a rural é a sua principal. E qual o caráter que distinguiria como principal a atividades rural das demais? Entendemos que o caráter de ser principal reside na fato de que o empresário mais de estruturou e melhor organizou os fatores de produção nessa atividade, a rural, em detrimento de outra ou outras, e desse exercício empresarial rural tira maior e melhor proveito econômico. 4.3 Cooperativas O regime das sociedades cooperativas, no Brasil, está na Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971. O novo Código Civil passou também a regular a matéria nos artigos 14 1.093 a 1.096. Por obra da lei especial (Lei nº 5.764/71, art, art. 4º) e do próprio Código (art. 982, parágrafo único), a natureza dessas sociedades é civil, pois juridicamente não têm o fito de lucro e apresentam como finalidade societária estimular a poupança, a aquisição e a economia de seus associados. Debaixo da tipologia das pessoas jurídicas do Código Civil de 1916, as cooperativas eram sociedades civis. No entanto, de acordo com o Código Civil de 2002, como não mais existe a figura da sociedade civil, a sociedade cooperativa é do tipo simples 9art. 982, parágrafo único, do Código Civil de 2002). Portanto, as sociedades cooperativas são sociedades simples. Simples é a sociedade que visa fim econômico não empresarial, tendo por objeto social o exercício de certas profissões ou a prestação de serviços técnicos(Código Civil, arts. 997 a 1.038). Veja-se que apesar das cooperativas não terem fim lucrativo, pois o lucro é apenas meio para manutenção de seu fim, o codificador civil, por política legislativa, preferiu enquadrá- las na categoria de sociedade simples, solucionando a discussão doutrinária de sua natureza jurídica: se associação, ou sociedade, ou, esmo ainda, um misto entre sociedade e associação. As sociedades cooperativas são do tipo simples, mas, por força de lei, seus atos são arquivados na Junta Comercial, o que vem demonstrar a sua natureza híbrida, fazendo confundir e vacilar o legislador que ora adota, para certos atos, o disposto às sociedades do regime civil, ora exige atos próprios dos empresários. 5 Tipos de empresário O Código Civil de 2002 inaugura uma nova tipologia empresarial no Direito Comercial. 15 Dois são os tipos de empresário: o empresário individual e a sociedade empresária. O primeiro é exercido pela pessoa natural; o segundo, pela pessoa jurídica. Lembre-se aqui, uma vez mais, que a noção jurídica ora emprestada ao termo empresário não assume a feição comum, mas técnico-jurídica, segundo a qual empresário é a pessoa (empresário individual ou sociedade empresária) que exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Não se confunde, assim, com os sócios da sociedade empresária, que são empreendedores e/ou investidores. As sociedades empresárias têm por finalidade o exercício de atividade econômica organizada para a produção oucirculação de bens ou serviços, própria de empresário sujeito a registro, e se distinguem da sociedade simples por essa natureza (mercantil) de suas operações habituais. Quer dizer, a sociedade simples não exerce tais atividades, mas tem por escopo operações econômicas de natureza não empresarial. Segundo prescrição do artigo 983, primeira parte, as sociedades empresárias podem assumir as seguintes formas comerciais: sociedade em nome coletivo, sociedade em comandita simples, sociedade em comandita por ações, sociedade limitada, ou sociedade anônima ou por ações (Código Civil, arts. 1.039 a 1.092). A sociedade simples pode se constituir sob qualquer forma empresarial acima referida e, mesmo assim, não se subordina às normas relativas ao empresário (não deixa de ser simples), conforme permite o artigo 985 do Código Civil de 2002, não podendo adotar, contudo, as formas anônima ou por ações, pois obrigatoriamente esses tipos societários são de sociedade empresária (Código Civil, arts. 982 e 983, parágrafo único). A sociedade simples é registrada no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (Código Civil, art. 1.150). 16 No artigo 2.031, o novel Código estatui que as associações, sociedades e fundações constituídas sob o amparo do Código de 1916, têm o prazo de um ano, contado a partir da vigência, para se adaptarem ao novo regime de pessoas jurídicas, sendo concedido igual prazo aos empresários. 6 Empresário individual e Pequeno Empresário 6.1 Empresário individual Enuncia o artigo 972 do Código Civil que podem exercer a atividade de empresário individual, as pessoas que se encontrarem em pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidas. Capacidade plena têm os indivíduos com 18 anos completos e os emancipados (concessão dos pais, casamento, emprego público efetivo, curso superior, estabelecimento por economia própria), nos termos do artigo 5º do Código Civil de 2002. Não têm capacidade civil os absolutamente incapazes, que são os menores de 16 anos, os enfermos ou deficientes mentais que não tenham discernimento, os que não puderem exprimir sua vontade (art. 3º, Código Civil de 2002), bem como os relativamente incapazes, quais sejam, os maiores de 16 e menores de 18 anos, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, deficientes mentais com discernimento reduzido, os excepcionais, os pródigos (art. 4º, Código Civil de 2002) e os índios. Visando proteger interesse próprio e de terceiros, a lei civil básica não admite que o incapaz exerça atividade de empresário. Contudo, contempla uma única situação excepcional de exercício empresarial: quando o incapaz autorizado por alvará judicial continua a exercer 17 atividade empresarial antes exercida por ele mesmo, quando era capaz, ou exercida por seus pais ou pelo autor da herança (Código Civil, art. 974). Ficam a salvo dos riscos da atividade empresarial os bens que o incapaz já possuía ao tempo da sucessão ou da interdição, devendo tais bens serem estranhos a ela e constarem em rol no alvará que conceder a autorização (Código Civil, art. 974, §2º). O exercício da atividade empresarial pelo incapaz autorizado judicialmente é feito pelo representante, se absolutamente incapaz, ou pelo assistente, se relativamente incapaz. Caso o representante ou assistente não puder, por disposição de lei, exercer a atividade de empresário, com a aprovação judicial, é nomeado um ou mais gerentes, de acordo com as exigências de cada situação concreta (Código Civil, art. 975). Mas se o juiz verificar que em favor do incapaz, ao autorizá-lo a praticar a atividade empresarial, através da representação ou da assistência, ainda que não haja impedimento legal, é recomendável e prudente nomear gerente, então nada obsta a tal decisão judicial (Código Civil, art. 975, §1º). A autorização judicial pode ser revogada a qualquer momento, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou interdito, sem prejuízo dos direitos dos terceiros, tais como credores, consumidores, Fisco 9Código Civil, art. 974, §1º). 6.1.1 Da obrigação de Inscrição O art. 967 do C.C., diz que é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresa Mercantis da respectiva sede, antes do inicio de sua atividade. Segundo Mario Cozza3, ao contrário do que rezava o Código Comercial, quando não se reputava quem não se tivesse matriculado como tal, o Código Civil admite o despropósito 3 COZZA, Mario. Novo Código Civil do Direito de Empresa. Porto Alegre : Síntese, 2002. 18 de alguém ser empresário sem que possa exercer profissionalmente atividade econômica. É o que se depreende do cotejo entre o artigo inicial (art.966) e o que ora se comenta, Exigindo a Lei da empresário para que exerça sua atividade, não há como, antes da inscrição, serem reunidas as condições lê referidas. Conclui-se, pois, que a Lei não prevê a possibilidade da existência do empresário irregular, a exemplo do que faz com as sociedades (art.985), devendo tal pessoa receber qualquer outra designação, afora a de empresário, o que reforça ter sido mais verdadeira a sistemática do Código Comercial revogado. 6.1.2 Como far-se-á inscrição do empresário ? Segundo o art. 968 do C.C., a inscrição do empresário será feita mediante apresentação junto ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins (Lei nº 8.394/1994, e Decreto nº 1.800/96), de requerimento que contenha: a) O seu nome, nacionalidade, domicilio, estado civil e, se casado, o regime de bens; b) A firma, com a respectiva assinatura autógrafa; ( FIRMA – O empresário deve declarar a firma que escolheu para operar profissionalmente sua atividade econômica, a qual se constitui por seu nome – prenome e sobrenome – completo ou abreviado, podendo aditar designação mais precisa da sua pessoa ou gênero de atividade. Referida firma é considerada pelo Código como o nome empresarial do requerente.) c) o capital; (O empresário, no tocante à responsabilidade, equipara-se aos sócios da sociedade em nome coletivo, tendo , pois, responsabilidade ilimitada. Ou seja, responde ele também com seus bens de uso particular, além daqueles que integrem o exercício da atividade econômica. Por essa razão, pode-se dizer que a declaração, quanto ao capital, é meramente referencial, servindo apenas para que seja 19 correntemente aquilatado o potencial econômico de sues negócios por aqueles que lhe concederem crédito.) d) o objeto e a sede da empresa. ( OBJETO- O que antes o Código refere como atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços (art. 966) neste artigo (art. 968, II) resume como sendo o objeto da empresa.) 6.2 Pequeno empresário O novo Código Civil, não definiu o que é pequeno empresário, e sim estabeleceu tratamento favorecido, diferenciado e simplificado, quanto à inscrição e aos efeitos decorrentes de sua inscrição em diante. Quanto a sua escrituração, a nova lei dispensa o pequeno empresário, das seguintes exigências (art.1179 do C.C., §2º): a) a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva; b) a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico; mas infelizmente não estabeleceu regras claras e precisas de como o pequeno empresário deverá proceder em tais casos, mas é aconselhável neste caso analisar a legislação que institui obrigações acessórias para apuração de tributos, como exemplo: (A lei do Simples – Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte.) 7 A Sociedade Simples 20 Sociedade Simples, por sua vez, é aquela sociedade constituída por pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços,para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados, não tendo por objeto o exercício de atividade própria de empresário (art. 981 e 982). São sociedades formadas por pessoas que exercem profissão intelectual (gênero, características comuns), de natureza cientifica, literária ou artística (espécies, condição), mesmo se contar com auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa (§ único do art.966), ou de outras atividades tipicamente não empresariais, tal como ocorre, por exemplo, no âmbito das sociedades cooperativas. A sociedade de advogados é um típico exemplo de sociedade simples, inclusive porque a lei de regulação da atividade advocatícia assim expressamente prevê (Lei nº 8.906/94, art. 15), outro exemplo típico de sociedade simples é dois médicos constituírem um consultório médico. O Registro da Sociedade simples é feito no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas e deverá seguir os seguintes passos: 1) Definir o Nome Empresarial, o qual deverá estar relacionado à atividade econômica da empresa; 2) Solicitar busca de nome nos Cartórios de Registro Civil de Pessoa Jurídica do Município; eleito o Cartório, este providenciará a busca em todos os demais. Para esta busca é cobrada uma taxa. 3) Elaborar o Contrato Social em quatro vias, todas as folhas deverão ser rubricadas e a última folha deverá ser assinada pelos sócios, testemunhas e vistada por um advogado; todas as assinaturas deverão ser reconhecidas. 21 4) Quando a atividade exigir a presença de um profissional habilitado, o contrato deverá ser encaminhado, antes do registro em cartório, para a averbação no Conselho Regional da Categoria. 7.1 Características da Sociedade Simples. a) Além de integralizar o capital social em dinheiro, poderá o sócio fazê-lo em contribuição em serviços. b) Os sócios respondem, ou não, subsidiariamente pelas obrigações sociais, conforme previsão contratual. c) Capital social, expresso em moeda corrente ou outra espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária. d) Registro da empresa no Cartório das Pessoas Jurídicas em até 30 dias da constituição (art. 998). e) Responsabilidade ilimitada dos sócios. f) Responsabilidade solidária do sócio cedente das cotas para com o cessionário, até 2 anos após alteração e averbação de sua saída. g) Os sócios respondem na proporção da participação das cotas, salvo se houver cláusula de responsabilidade solidária. h) Impossibilidade de excluir sócio na participação dos lucros ou perdas. i) O credor de sócio de empresa pode, não havendo outros bens, requerer a execução nos lucros da empresa. j) Retirada espontânea de sócio: aviso prévio de 60 dias, em caso de contrato por prazo indeterminado; ou judicialmente, se o contrato for por prazo determinado. 22 k) A Sociedade Simples poderá, se quiser, adotar as regras que lhes são próprias ou, ainda, um dos seguintes tipos societários: Sociedade em Nome Coletivo, Sociedade em Comandita Simples ou Sociedade Limitada. 7.2 A administração na Sociedade Simples. O sócio-gerente deixa de ser o principal personagem responsável pelos atos da empresa. Em seu lugar, assume a figura do Administrador. O gerente passa a ter uma função secundária na empresa, isto é, passa a ser preposto do Administrador. Agora, o Administrador pode (se quiser) nomear o empregado de sua confiança para exercer a função de gerente. a) O administrador será nomeado em contrato ou em instrumento separado, devendo, neste caso, averbá-lo no órgão de registro. b) São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração em contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente (art. 1.019). c) São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por ato separado, ou a quem não seja sócio (art. 1.019, § único). d) Responde por perdas e danos o sócio que agir contrariamente ao interesse da sociedade ou particular da deliberação que a aprove graças a seu voto. e) Os administradores devem prestar contas detalhadas de sua administração aos sócios, tais como, inventário anual, balanço patrimonial e o resultado econômico . 7.3 As deliberações dos sócios na Sociedade Simples. 23 As deliberações sobre os negócios da empresa serão tomadas por maioria de votos, ou seja, pelo valor das cotas dos sócios (art. 1010). Em caso de empate, a decisão caberá ao maior número de sócios, ou, não sendo possível, pelo juiz (art. 1010 §§ 1 e 2). Alterações do contrato social será por unanimidade dos sócios sempre que envolver mudança de endereço, razão ou firma social, capital social, sua forma de realização, participação nos lucros, todos previstos no art. 997. Demais alterações do contrato se darão por maioria absoluta dos votos dos sócios, caso o contrato não preveja unanimidade. 8 A Sociedade Empresária Segundo Fábio Ulhoa Coelho 4 Como é a própria pessoa jurídica a empresária – e não os sues sócios -, o correto é falar-se “sociedade empresária”, e não “sociedade empresarial” (isto é, “de empresários”). A sociedade empresária assume, hoje em dia, duas das cinco formas admitidas pelo direito comercial em vigor: a de uma sociedade por quotas de responsabilidade limitada (Ltda.) ou de uma sociedade anônima (S/A). As pessoas jurídicas empresárias adotam a forma de sociedade limitada (Ltda.) ou de sociedade anônima (S/A). A sociedade limitada, normalmente relacionada à exploração de atividades econômicas de pequeno e médio porte, é constituída por um contrato celebrado entre os sócios. O seu ato constitutivo é, assim, o contrato sócia, instrumento que eles assinam para ajustarem os seus interesses recíprocos. Já a sociedade anônima – também chamada “companhia” – se 4 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, vol. 1 e 2, 2002. 24 relaciona normalmente à exploração de grandes atividades econômicas, e o documento básico de disciplina das relações entre os sócios se denomina estatuto. O capital social representa, grosso modo, o montante de recursos que os sócios disponibilizam para a constituição da sociedade. De fato, para existir e dar às suas atividades, a pessoa jurídica necessita de dinheiro ou bens, que são providenciados pelos que a constituem. Não se confunde o capital social com o patrimônio social. Este último é o conjunto de bens e direitos de titularidade da sociedade ( ou seja, tudo que é de sua propriedade). Note-se que, no exato momento da sai constituição, a sociedade tem em seu patrimônio apenas os recursos inicialmente fornecidos pelos sócios, mas, se o negócio que ela explora revelar-se frutífero, ocorrerá a ampliação desses recursos iniciais; caso contrário, a sociedade acabará perdendo uma parte ou a totalidade de tais recursos, e seu patrimônio será menor que o capital social – podendo vir a ocorrer, inclusive, a falência. Em contrapartida à contribuição que o sócio dá ao capital social, é-lhe atribuída uma participação societária. Se a sociedade é limitada, esta participação se chama “quota” (ou “cota”); se anônima, “ação” (motivo pela qual o sócio da S/A é chamado também acionista). A participação societária é bem integrante do patrimônio de cada sócio, que pode aliená-la ou onerá-la, se atendidas determinadas condições. A quota ou ação não pertencem à sociedade. Se o sócio possui uma divida, o credor poderá, salvo em alguns casos específicos, executá-la sobre a participação societária que ele titulariza; já o credor da sociedade tem como garantia o patrimônio social, e nunca as partes representativas do capital social. 8.1 Tipos de Sociedade Empresária . 25 A Sociedade Empresária deve constituir-se segundo um dos tipos regulados nos art. 1.039 a 1.092 : (art. 983) a) Sociedade em Nome Coletivo. b) Sociedade emComandita Simples. c) Sociedade Limitada (mais comum). d) Sociedade Anônima. e) Sociedade em Comandita por Ações. 8.1.1 Sociedade em Nome Coletivo O artigo 1.039 do C.C. diz “ que somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais”. O parágrafo único do referido artigo diz “ sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a responsabilidade de cada um. Segundo Ricardo Fiúza5 A sociedade em nome coletivo é uma típica sociedade de pessoas, destinada à consecução de atividade econômica, com objeto comercial ou civil, na qual a responsabilidade dos sócios perante terceiros é solidária e ilimitada. É uma sociedade da qual somente podem participar pessoas físicas, podendo ser empresária ou não. A principal desvantagem existente nesta espécie societária reside no fato de que a responsabilidade dos sócios é ilimitada, ou seja, bens particulares dos sócios podem ser alcançados na execução de dividas que, em principio, deveriam ter como garantia, unicamente, o patrimônio da sociedade. Os sócios da sociedade em nome coletivo, todavia, somente entre si podem estabelecer, no contrato social ou em termo aditivo aprovado por todos, limites pessoais de 5 FIUZA, Ricardo. Novo Código Civil Comentado. São Paulo: Saraiva, 2003 26 responsabilidade pelas dividas sociais, sem que tais limites fixados possam ser opostos perante os credores da sociedade. 8.1.2 Sociedade em comandita Simples6 A sociedade em comandita simples esta prevista pelo art. 1045 do C.C. que dispõe : “ na sociedade em comandita simples tomam parte sócios de duas categorias: os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota.” O parágrafo único diz que o contrato deste tipo de sociedade deve discriminar os comanditados e os comanditários. O Código aditou à então sociedade em comandita (Código Comercial, art. 311) a palavra simples – restando, pois, o nome desse tipo jurídico com Sociedade em Comandita Simples – abraçando o uso corrente pelo qual ela era designada, até para estabelecer diferenciação com a Sociedade em Comandita por Ações (art. 1.090; Lei 6.404/76, arts. 280 a 284). Não manteve a Lei a possibilidade da existência do sócio anônimo, para fins perante terceiros, sendo conhecido somente por seus pares (Código Comercial, art. 312), figura, aliás, apagada por Legislação extravagante. No que tange à complexidade, salvo melhor inteligência, não foi feliz o Legislador na redação das normas relativas à sociedade em comandita simples, visto que, para sua regência, devem ser consideradas, ao mesmo tempo, as regras atinentes às sociedades simples e às sociedades em nome coletivo, com suas subtrações e adições, caso a caso, conforme se verá. 6 COZZA, Mario. Novo Código Civil do Direito de Empresa. Porto Alegre : Síntese, 2002. 27 A sociedade em comandita simples possui duas categorias de sócios, cuja existência simultânea é necessária, permitindo-se, todavia, a falta eventual de um deles. Diferenciam- se essas categorias em razão da responsabilidade atribuída a cada uma. Assim, aquele denominado de comanditado, tem responsabilidade solidária e ilimitada, a exemplo dos sócios da sociedade em nome coletivo; o outro, designado de comanditário, obriga-se em relação aos negócios sociais somente até o valor de sua quota, como acontece com os sócios das sociedades limitadas (art. 1.052), e com os acionistas de companhia ( Lei nº 6.404/76, art. 1º). Podem ser sócios comanditados somente pessoas naturais, ao passo que a categoria de sócio comanditário pode ser integrada por pessoas naturais e por pessoas jurídicas, não havendo restrições, pois, caso a sociedade simples constituir-se segundo este tipo jurídico . O contrato social deve discriminar quais os sócios que pertencem à categoria de comanditado e os outros integrantes da categoria de comanditário, sendo aconselhável, porém não obrigatório, deixar-se explicita a espécie de responsabilidade de cada categoria. 8.1.3 Sociedade Limitada As sociedades limitadas estão regradas nos artigos 1.052 a 1.087 do novo Código Civil, porém em várias disposições faz-se remissão aos artigos que regram as sociedades simples ( arts. 997 a 1.038), às disposições gerais das sociedades (arts. 981 a 985) ou aos institutos complementares do direito de empresa (arts. 1.150 a 1.195). O novo Código Civil regulou totalmente a sociedade limitada, motivo pelo qual deve ser considerado tacitamente revogado o Decreto nº 3.708, de 10 de janeiro de 1919. a) Sociedade por cota de responsabilidade limitada X sociedade limitada. A primeira alteração que se observa é com relação à própria denominação da espécie 28 societária. No Decreto nº 3708/19 utilizava-se a expressão sociedade por quotas de responsabilidade limitada; no novo Código Civil essa espécie societária passa a ser denominada, simplesmente, de sociedade limitada. b) Responsabilidade dos sócios No tocante à responsabilidade dos sócios nas sociedades limitadas não houve modificação, uma vez que os sócios não respondem por dívidas da sociedade, como regra geral. Nesse sentido o artigo 1.052 dispõe: “ Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social” . O Decreto nº 3.708/19, em seu art. 2º, também previa que o “o título constitutivo regular-se-á pelas disposições dos artigos 300 a 302 e seus números do Código Comercial, devendo estipular ser limitada a responsabilidade dos sócios à importância total do capital social” . A doutrina, interpretando o decreto nº 3.708/19, entendia que os sócios poderiam responder por dívidas da sociedade se o capital social não tivesse sido totalmente integralizado, até o limite do montante a integralizar, sendo que essa responsabilidade dos sócios era solidária, inclusive entre si. Disso decorria que um sócio que tivesse integralizado totalmente suas quotas poderia vir a responder em solidariedade com a sociedade ou com outros sócios se algum sócio não tivesse integralizado suas quotas. Não houve, portanto, mudança de regra acerca desse assunto, uma vez que, em termos gerais, a garantia de terceiros está no patrimônio da sociedade. Contudo não há de se deslembrar que o artigo 50 do mesmo estatuto civil, inserido no capítulo que trata das pessoas jurídicas, prescreveu a teoria da desconsideração da personalidade jurídica, o que também já estava consagrado na jurisprudência pátria, 29 nos seguintes termos: “Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica”. Ainda no tocante à responsabilidade dos sócios, é importante salientar que o novo Código Civil, em seu artigo 1.080, renova a previsão do artigo 16 do Decreto nº 3.708/19, estabelecendo a responsabilidade ilimitada dos sócios que expressamente aprovarem deliberações infringentes do contrato ou da lei. “As deliberações do contrato ou da lei tornam ilimitada a responsabilidade do que expressamente as aprovaram.” c) Aplicação subsidiária da Lei das Sociedades Anônimas (Lei nº 6.404/76) ou dos dispositivos afetos à sociedade simples (arts. 997 a 1.038 do novo Código Civil) A aplicação subsidiáriada Lei nº 6.404/76 às sociedades limitadas continua matéria controvertida. O novo Código Civil cuida da matéria em seu artigo 1.053 e respectivo parágrafo único: “A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste capítulo, pelas normas da sociedade simples. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima”. Não obstante a polêmica travada sobre o assunto, temos para nós que, por meio desse dispositivo legal, o legislador, uma vez mais, deixou à livre escolha dos sócios, quando da elaboração do contrato social, qual legislação terá regência supletiva em caso de omissão no capítulo que trata das limitadas. A polêmica existe porque a forma pela qual o artigo foi redigido (regras separadas no caput e no parágrafo único) pode gerar a dúvida de que, mesmo havendo previsão 30 de regência supletiva pela lei das sociedades anônimas, ainda assim valeriam, de alguma forma, as normas da sociedade simples. Não é nosso entendimento, uma vez que a regra que parece obrigatória do caput, na verdade é flexibilizada pelo seu parágrafo único, com a possibilidade de estipulação diversa no contrato social. Ressalte-se que, quer o caput, quer o parágrafo único, do artigo 1.053, dispõem sobre a mesma matéria, não podendo conviver as duas regras em uma única sociedade. A diferença terminológica apresentada pelo caput, que utiliza o termo omissões, e seu parágrafo único, que utiliza o termo “regência supletiva”, não pode levar o intérprete a entender que essas regras podem ser aplicadas para a mesma sociedade. Os dois dispositivos legais referem-se à norma supletiva que será aplicada à sociedade em caso de omissão da norma principal. A forma de organização do artigo e sua redação parecem ter uma explicação histórica, o que reforça ainda mais a tese ora abraçada. O texto original do projeto de alteração do Código Civil, elaborado na década de 1970, não tinha o parágrafo único. Assim existia apenas a regra estipulando a aplicação das normas da sociedade simples em caso de omissão. O parágrafo único foi incluído posteriormente, justamente para oferecer a opção e escolha pelas normas da sociedade anônima, em caso de lacuna legislativa. Assim sendo, se não houver previsão do contrato social acerca de regência supletiva, será aquela sociedade regulada supletivamente pelos dispositivos que regulam as sociedades simples. Por outro lado, caso os sócios, ao elaborarem o contrato social, quiserem a regência supletiva da Lei das Sociedades Anônimas, deverão expressamente fazê-lo em contrato. Assim fazendo, restará afastada inteiramente a aplicação das normas das sociedades simples em questão. 31 As conseqüências da escolha são inúmeras. Parece-nos ainda que a opção da regência supletiva das sociedades anônimas cabe melhor para as sociedades limitadas de vários ou muitos sócios, nas quais a affectio societatis não seja o estímulo principal da sociedade. Para as sociedades limitadas de poucos sócios, ou mesmo para as chamadas sociedades limitadas familiares, parece-nos em princípio, que melhor cabe a regência supletiva das sociedades simples, quando então nenhuma previsão de regência supletiva precisará constar no contrato social. d) Contrato Social O contrato social a sociedade da sociedade limitada deverá conter, obrigatoriamente, além de outras estipuladas pelas partes: nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas físicas: ou firma ou denominação, nacionalidade e sede, se pessoas jurídicas; nome empresarial (firma ou denominação), objeto, sede e prazo da sociedade; capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária; quota de cada sócio e o modo de integralização; pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus poderes e atribuições; participação de cada sócio nos lucros e nas perdas. Isso se dá uma vez que, conforme disposto no artigo 1.054 do novo Código Civil, “o contrato mencionará, no que couber, as indicações do artigo 977, e, se for o caso, a firma social”. Em razão de a responsabilidade subsidiária dos sócios, prevista no inciso VIII do artigo 977, ser inaplicável às limitadas, em face da regra de limitação da responsabilidade que as caracteriza, entendemos que, apesar de não obrigatória, deve 32 constar do contrato social das sociedades limitadas a cláusula limitadora da responsabilidade dos sócios à importância de suas quotas, respondendo solidariamente pela integralização do capital social. O contrato social pode ser elaborado por instrumento público ou particular, inclusive quando houver integralização de capital com conferência de bens imóveis. Se feito por instrumento público, nada impede que suas futuras alterações sejam realizadas por instrumentos particulares. A existência legal da sociedade começa com o registro de seu ato constitutivo na Junta Comercial e todas as alterações deverão ser averbadas no mesmo órgão. O documento deve ser apresentado ao registro no prazo de 30 dias, contados da data de sua lavratura, sob pena de, não respeitado esse prazo, o registro somente produzir efeitos a partir da data da sua concessão, tudo nos termos dos parágrafos 2º e 3º do art. 1.151 do novo Código Civil. O novo perfil das Limitadas determina muita atenção à confecção dos ajustes sociais, pois neles é que se abreviam uma série de futuras discussões que, eventualmente, poderão gerar dissabores entre os sócios, além do que, se não previstas determinadas questões no contrato social, será pelo quorum legal que as deliberações deverão ser tomadas. Como já aflorado, o novo Código Civil, seguindo a experiência acumulada na aplicação do Decreto nº 3.708/19, permite aos sócios, quando da realização do contrato social, realizar opções com vistas a melhor configurar o regramento da respectiva sociedade de acordo com as suas peculiaridades. A utilização de impressos ou modelos, ou a sua confecção sem a análise das suas peculiaridades não é, de forma alguma, aconselhável. Nesse sentido, como bem advertiu o Professor João Eunápio Borges, em se Curso de direito comercial terrestre, “ao contrário do que vulgarmente acontece, não deve ser 33 extraído dos formulários feitos por guarda-livros bisonhos e inexperientes, mas feito sob medida por técnico consciencioso e competente. A economia inicial que os sócios costumam fazer na constituição da sociedade redunda freqüentemente em dissabores, divergências e prejuízos, com o prematuro desaparecimento de promissoras sociedades cuja inviabilidade decorre quase sempre da má redação de seu contrato”. e) Nome Social No nome da sociedade limitada, que poderá se dar sob a forma de firma ou denominação, deverá constar a palavra final limitada ou a sua abreviatura, sob pena de, na hipótese de sua omissão, restar determinada a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade. Nesse sentido o caput e o parágrafo terceiro do artigo 1.158 do novo Código Civil: “Pode a sociedade limitada adotar firma ou denominação, integradas pela palavra final ‘limitada’ ou a sua abreviatura. A omissão da palavra ‘limitada’ determina a responsabilidade solidária e ilimitada dos administradores que assim empregarem a firma ou a denominação da sociedade”. Optado pela firma ou razão social, que é composta pelo patronímico de todos ou de qualquer dos sócios, em caso de falecimento, exclusão ou retirada do sócio que emprestou seu nome particular para a formação do nome social, deverá haver alteração, uma vez que, nos termos do artigo 1.165 do novo Código Civil, “o nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar, não pode ser conservado na firma social”. A denominação, que pode ser composta por uma expressão fantasia,sem qualquer vinculação com os nomes dos sócios, deve designar o objeto da sociedade, nos exatos termos do parágrafo 2º do artigo 1.158 do novo Código Civil. 34 f) Capital Social O capital social dividir-se-á em quotas, iguais ou desiguais, cabendo uma ou diversas a cada sócio. O capital social representa o referencial que os sócios reputaram dever a sociedade possuir para dar conta dos objetivos ajustados no pacto social. Não é o próprio patrimônio social, já que este é representado pelo conjunto de bens e direitos da sociedade e, em verdade, é este quem garante os credores da sociedade.Quando as quotas forem conferidas pelo sócio em bens, não precisam eles, necessariamente, ser avaliados. Porém, como disposto no parágrafo 1º do artigo 1.055 do novo Código Civil, “pela exata estimação de bens conferidos ao capital social respondem solidariamente todos os sócios, ate o prazo de cinco anos da data do registro da sociedade”. Não há, também, capital mínimo exigido por lei. O capital mínimo é adotado por varias legislações, dentre eles a italiana, a alemã, a francesa e a portuguesa. Por outro lado, o capital Maximo é previsto pelas legislações espanhola e suíça. No Brasil, o capital mínimo somente é exigido para a constituição de sociedades que se dediquem a determinadas atividades, como as bancárias e as securitárias. Não há sócios de indústria na sociedade na sociedade limitada, nos termos do artigo 1.055, parágrafo 2º, do novo Código Civil, por vedar a contribuição do sócio que consista em prestação de serviços. No caso de não ter sido a quota integralizada, o sócio remisso poderá ser excluído da sociedade, sendo-lhe devolvido o que houver pago, deduzidos os juros da mora, as prestações estabelecidas no contrato mais as despesas. Os sócios, contudo, poderão optar por executar dos danos emergentes da mora junto ao remisso ou deduzir sua quota ao montante realizado, conforme dispõem o artigo 1.004 e seu parágrafo único 35 ao qual o artigo 1.058 faz remissão, que estabelece, também, a necessidade de prévia notificação pela sociedade, com o prazo de 30 dias, para então, configurar a mora. g) Transferência das quotas A quota é indivisível em relação a sociedade, porém divisível em caso de transferência, de modo a permitir a sua cessão total ou parcial a sócio ou estranho, caso não esteja a hipótese vedada pelo ajuste social e não haja oposição de sócios que representem mais de um quarto do capital social. Nesse sentido, prevê literalmente o novo Código Civil, em seu artigo 1.057, que: “na omissão do contrato, o sócio pode ceder sua quota, total ou parcialmente, a quem seja sócio, independentemente de audiência dos outros, ou a estranho, se não houver oposição de titulares de mais de um quarto do capital social”. Note-se que no instrumento de cessão, a assinatura dos sócios anuentes se faz necessária , produzindo efeitos perante a sociedade e perante terceiros a partir da sua averbação na Junta Comercial, nos exatos termos do parágrafo único do artigo citado. As regras do novo Código Civil prevêem, portanto, a ampla liberdade de o assunto “transferência de quotas” ser regulado pelo contrato social somente incidindo a regra do artigo 1.057 em caso de omissão de pacto. Assim, querendo os sócios, no momento da elaboração do contrato social, ou mesmo quando de qualquer das suas alterações, garantir características das típicas sociedades de pessoas à sociedade limitada, poderão eles estabelecer no contrato social a vedação da transferência das quotas para terceiros, exceto se houver unanimidade dos sócios autorizando-a no instrumento de cessão. Por outro lado, querendo os sócios, quando da criação da sociedade ou, posteriormente, quando da alteração do contrato social, empreender uma sociedade onde as características dos sócios não têm profunda relevância na sua formação, como ocorre nas sociedades de 36 capital, poderão eles estabelecer, em cláusula contratual, que a transferência das quotas poderá se dar independentemente do consentimento dos demais sócios, ou mesmo seguindo a linha do novo Código Civil, pode a cláusula contratual até definir um limite máximo de sócios que não podem se opor à transação, ou mesmo um numero mínimo de sócios que devam anuir ao ato. Prévio estudo para cada sociedade acerca do assunto parece-nos indispensável, uma vez que de relevância inegável para a prevenção de litígios, bem como caminho para a evolução e o desenvolvimento da sociedade. Devem os sócios, ao definir a cláusula contratual, pensar na possibilidade de um terceiro vir a adquirir o controle por meio de cessão de quotas. Por outro lado, as sociedades limitadas com capital pulverizado se projetam para uma regular transferência de investimentos, não parecendo-nos razoável a vedação da transferência das quotas para terceiros. Frise-se ainda que a cláusula de transferência de quotas em razão de morte de sócio é de extrema relevância para a continuidade dos negócios sociais. A falta de previsão poderá acarretar o ingresso de herdeiros que não estejam inteiramente interessados no negócio e o prejudiquem como um todo. Portanto, o ideal é o ajuste da situação no contrato, porque, como se sabe, os herdeiros somente sucedem o sócio falecido nos direitos patrimoniais das quotas e não nos direitos pessoais. Estes somente são suscetíveis de transmissão hereditária se assim estiver estabelecido no contrato social. h) Administração da sociedade limitada O contrato social deve designar quem tem poderes para representar a sociedade, bem como os limites de seus poderes. Pode o contrato social designar indiscriminadamente todos os sócios para representar a sociedade. Disso não decorre, porém, que os sócios que ingressarem após a criação da sociedade, isto é, na 37 condição de cessionários ou sucessores de sócios originais, terão a representação da sociedade. Muito ao revés, deverá existir disposição expressa, na alteração contratual ou em instrumento apartado, da condição de representantes para os novos sócios, para agirem como tais. É essa a previsão do parágrafo único do artigo 1.060 do novo Código Civil, no sentido de que “a administração atribuída no contrato a todos os sócios não se estende de pleno direito aos que posteriormente adquiram essa qualidade”. Importante, pois, que o contrato distribua as funções e atribua os poderes de gerencia, evitando-se, assim, a prática de atos em excesso pelos mesmos por falta de discriminação explícita da suas funções. Inovação relevante nas limitadas no novo Código Civil é a possibilidade de terceiros serem administradores da sociedade, o que antes ocorria somente para as sociedades anônimas. Agora, poderão ser administradores da sociedade limitada pessoas que não sejam sócios se o contrato social assim o permitir. A designação dessas pessoas, porém, depende de aprovação unânime dos sócios, se o capital não estiver totalmente integralizado, ou de dois terços, caso integralizado, conforme prevê o seu artigo 1.061. Verifica-se que também para a matéria da possibilidade de a sociedade ser administrada por não sócios, o legislador deixou ao critério dos sócios o regramento. Assim, querendo eles manter uma característica de sociedade de pessoas, conservando em seu poder a administração, não haverá de estabelecer esta possibilidade no contrato social. Querendo eles aproximar a empresa das sociedades de capital, onde terceiros podem administrá-la, deverá haver expressa previsão contratual nesse sentido. 38 O administrador não sócio, designado em ato em separado, deverá firmar termo de posse no livro de atas da administração, no prazo de até trinta dias da data de sua designação, sob pena da nomeação perder a validade. Tanto a nomeação quanto a destituição ou renúncia do administrador devem ser averbadas no prazo de dez dias seguintes a cada ato, no registro dos atosde comércio, conforme o artigo 1.063 do novo Código Civil. Cabe ao administrador, ao término de cada exercício social, proceder à elaboração do inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico, com observância das regras contidas nos artigos 1.186, 1.187, 1.188 e 1.189 do novo Código Civil. Não cabe mais, portanto, a “delegação de gerência”. A sociedade é gerida por administradores sócios ou não sócios, conforme estabelecido no contrato social, facultando-lhes, porém, desde que a sociedade seja regulada supletivamente pelas disposições afetas à sociedade simples, “nos limites de seus poderes, constituir mandatários da sociedade, especificados no instrumento os atos e operações que poderão praticar”, conforme o artigo 1.018 no novo Código Civil. O quorum de eleição e destituição de administradores deve ser estabelecido no contrato social e variará em função de o administrador ser ou não sócio. Contudo, de acordo com as regras constantes do novo Código Civil, alguns quoruns mínimos devem ser observados, ficando, entretanto, também nessa matéria, à disposição dos sócios estabelecer outros quoruns. No caso de eleição de administradores não sócios nomeados no contrato social, necessária à deliberação de dois terços do capital social, se o capital estiver integralizado; e à unanimidade, no caso de capital não integralizado (art. 1.061). Ainda com relação ao administrador não sócio nomeado em ato separado, sua 39 nomeação e destituição dar-se-ão pelos votos correspondentes a mais de metade do capital social (art. 1.076, inciso II, relacionado com os incisos II e III do art. 1.071) No caso de administrador sócio nomeado no contrato, sua destituição dar-se-á com a aprovação de titulares de quotas correspondentes a, no mínimo, dois terços do capital social, salvo estipulação contratual diversa (art. 1.063, parágrafo 1º). Aqui, portanto, havendo interesse dos sócios, poderão eles, no contrato social, estabelecer quorum distinto do mínimo estabelecido em lei. A decisão do quorum a ser estabelecido dependerá das peculiaridades da sociedade e dos interesses em questão. Exemplificando: em uma sociedade onde um dos sócios possua mais de dois terços do capital social, na preservação dos interesses do(s) sócio(s) minoritário(s), o quorum para a destituição dos administradores nomeados no contrato social deverá ser estabelecido em nível superior à participação do majoritário, uma vez que, para a destituição daqueles administradores nomeados no contrato social, portanto, aqueles cuja escolha dependeu da concordância dos minoritários, não dependerá da vontade exclusiva do majoritário, de outro lado, o quorum a ser estabelecido deverá ser inferior à sua participação relativa, possibilitando, portanto, s destituição dos administradores por sua vontade exclusiva. Por fim, no caso de administrador sócio nomeado mediante alteração do contrato social, necessários serão os votos correspondentes, no mínimo, a três quarto do capital social (art. 1.076, I, relacionado com a inciso V do art 1.071). i) O Conselho Fiscal na sociedade limitada A demonstrar a flexibilidade concedida pelo novo Código Civil para a formatação das sociedades limitadas de acordo com os interesses dos próprios sócios, estabeleceu-se que o contrato social pode instituir o Conselho Fiscal. Fica, portanto, à vontade dos sócios estabelecer a existência desse órgão na sociedade limitada. 40 Uma vez estabelecido no contrato social que a sociedade limitada terá um Conselho Fiscal, deverá ele ser composto por três ou mais membros e respectivos suplentes, sócios ou não. Os conselheiros deverão ser residentes no Brasil, não podendo do Conselho fazer parte os condenados a pena que vede acesso a cargos públicos, por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, contra o sistema financeiro nacional , contra as normas de defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade, enquanto durarem os efeitos da condenação; os membros de outros órgãos da sociedade ou de sociedade por ela controlada; os empregados da sociedade ou dos administradores da sociedade ou de sociedade por ela controlada; o cônjuge ou os parentes em até terceiro grau dos administradores da sociedade. Os sócios minoritários que representarem um quinto do capital social poderão indicar um dos membros do Conselho Fiscal e respectivo suplente, devendo essa indicação ser feita mediante votação separada. O exercício do cargo é de um ano. Em cada assembléia anual deverão ser escolhidos os membros do Conselho Fiscal e fixados seus honorários. São deveres legais dos membros do Conselho Fiscal, que deverão ser exercidos em conjunto ou isoladamente: examinar, no mínimo trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira; lavrar no livro de atas e pareceres do Conselho Fiscal o resultado dos exames referidos nos documentos citados; exarar no mesmo livro e apresentar à assembléia anual o seu parecer sobre os negócios e as operações sociais do exercício, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico; denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providencias úteis à sociedade; convocar a assembléia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou a qualquer 41 momento, por motivos graves e relevantes; praticar durante o período da liquidação da sociedade, os deveres aqui estabelecidos. Os membros do Conselho Fiscal respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções. Para a auditoria dos livros e documentos sociais examinar as demonstrações financeiras e o balanço patrimonial, o Conselho Fiscal poderá ser assistido de contabilista habilitado, com remuneração aprovada pelos sócios. Tendo em vista o disposto no artigo 1.066 do novo Código Civil, aberta está a polemica acerca da possibilidade de instalação do Conselho Fiscal se não houver referida previsão no contrato social. Temos para nós que, caso seja a sociedade limitada regulada supletivamente pelas disposições da sociedade simples, sem a previsão no contrato da existência do Conselho Fiscal, não poderá ser ele instalado, o que não ocorrerá caso a sociedade limitada seja regulada supletivamente pela Lei das Sociedades Anônimas, quando poderá haver a instalação de Conselho Fiscal independente da previsão contratual, bastando a assembléia anual solicitar sua instalação. De qualquer forma, se a intenção for a proteção dos minoritários, recomenda-se, por óbvio, fazer constar do ajuste social, desde logo, a previsão da instalação do Conselho Fiscal, por quorum preestabelecido, e que nele tenham assento representante dos minoritários. j) Das deliberações dos sócios Na vigência do Decreto nº 3.708/19, em seu artigo 15, no tocante à matéria das deliberações dos sócios, prevalecia o principio da maioria nas deliberações sociais, permitindo, entretanto, em face da liberdade de contratar o ajuste social, quoruns 42 especiais para determinadas deliberações. O sócio que divergisse da maioria poderia, desde logo, retirar-se da sociedade. Além disso, a lei previa unanimidade para algumas deliberações, como a transformação de um tipo societário para outro e a vedação do exercício de direito essencial do sócio. O novo Código Civil, contudo, preocupado com o direito dos minoritários e com a possibilidade de abuso por parte do majoritário, definiu a necessidade de se alcançar uma maioria qualificada para a aprovação de diversas matérias e deliberação colegiada em reunião ou assembléia, e as explicitamente indicou. Nesse sentido, conforme já aflorado, exige-se a unanimidade dos sócios para a designação de administrador que não seja sócio, se o capital social não estiver integralizado (art. º 1.061).Além desse caso, depende também da unanimidade do capital a transformação da sociedade, salvo se prevista no ato constitutivo (art. 1.114). De outro lado, exigem-se votos referentes a pelo menos três quartos do capital social para a aprovação da modificação do contrato social (inclusive no tocante à administração, conforme já salientado) ou a incorporação, fusão ou dissolução da sociedade, ou a cessação do seu estado de liquidação. Ainda, exige-se dois terços do capital social para a designação de administradores não sócios, se o capital social estiver integralizado (art. 1.061), e a destituição de administrador que seja sócio, salvo a disposição contratual em sentido diverso (art. 1.063,§ 1º), renovando, aqui, as considerações anteriormente efetuadas. Para o quorum de mais da metade do capital social, ficaram as matérias afetadas ao modo de remuneração dos administradores, quando não estabelecido no contrato (se 43 estiver estabelecido no contrato, será necessário alterá-lo, hipótese em que serão exigíveis três quartos do capital social), e ao pedido de concordata. Permite, ainda, o novo Código Civil que o contrato social preveja outras matérias que exijam quorum qualificado. Caso não exista previsão nesse sentido e fora das hipóteses traçadas, as deliberações serão tomadas por maioria simples, computando- se apenas os votos dos presentes na reunião ou assembléia, nos termos do seu artigo 1.076, III. Verifica-se, assim, mais uma vez, a liberdade aos sócios para formatarem a sociedade limitada de acordo com as suas particularidades. Em uma sociedade com poucos sócios e com grande concentração de capital nas mãos de apenas um, sendo interesse proteger os minoritários, deve-se estabelecer quorum superior ao montante das quotas do majoritário para o maior numero de matérias possível. De outro lado, sendo interesse deixar ampla liberdade ao sócio controlador, porque detentor da maioria do capital social, o controle da lei deve ser o limite, não se prevendo nenhuma outra matéria exigindo o quorum qualificado para deliberar. Nos casos de impetração de concordata preventiva, os administradores poderão, com autorização dos titulares de mais da metade do capital social, requerê-la. A alteração do contrato social, a fusão da sociedade, a incorporação da sociedade em outra (ou vice-versa), enseja o direito de recesso do sócio que tiver dissentido, com prazo decadencial de trinta dias, contado a partir da data da reunião (art. 1.077). Pelo direito de recesso, o sócio receberá da sociedade os seus haveres, que serão apurados em balanço especial, tomando-se como base a data da saída do sócio, devendo a quantia apurada ser paga em dinheiro, no prazo de 90 dias, nos termos do artigo 1.031, remetido pelo artigo 1.077 citado, se outra forma não estiver estipulada contratualmente. 44 Assim, com vistas a proteger minoritários , pode-se prever formais mais justas ou vantajosos de apuração de haveres e prazo menor para o pagamento, ou, sendo interesse evitar um rápido e grande desfalque na sociedade, poderá se prever um prazo mais longo para o reembolso dos haveres. Aqui também as peculiaridades da sociedade e o pólo a ser protegido (do majoritário ou dos minoritários) devem ser relevados para a elaboração do contrato social. Todas as deliberações societárias devem ser tomadas em reunião ou assembléia de sócios, conforme esteja previsto no contrato social, ou seja, a lei nesse tópico também concedeu a liberdade de contratar os ajustes sociais. Contudo, serão sempre deliberadas em assembléia se o numero de sócios for superior a dez, podendo ser dispensadas as assembléias e reuniões caso os sócios decidam, por escrito, sobre as matérias da pauta. k) Convocação para as reuniões e assembléias As reuniões ou assembléias devem ser convocadas pelos administradores, prevendo o artigo 1.073 que elas “podem também ser convocadas: I – por sócio, quando os administradores retardarem a convocação, por mais de sessenta dias, nos casos previstos em lei ou no contrato, ou por titulares de mais de um quinto do capital, quando não atendido, no prazo de oito dias, pedido de convocação fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas; II – pelo Conselho Fiscal, se houver, nos casos a que se referem o inciso V do artigo 1.069” (retardamento por mais de trinta dias da convocação da assembléia anual, ou por motivos graves e urgentes). Ficam dispensadas a s formalidades de convocação, inclusive com publicação em jornais, se todos os sócios comparecerem ou se declararem cientes, por escrito, do local, data, hora e ordem do dia. Caso contrario, a assembléia deve ser convocada mediante anúncio publicado por três vezes, ao menos, com antecedência de oito dias, 45 no mínimo, entre a data da primeira inserção e a data da realização da assembléia, para a primeira convocação, e de cinco dias para as posteriores, nos termos do artigo 1.152, parágrafo 3º, do novo Código Civil. Cumpre ressaltar que ainda restam duvidas se às reuniões deverão ser observadas todas as regras pertinentes às assembléias. A polêmica se travou porque a possibilidade de tomada de decisões em reuniões foi colocada posteriormente e, ao que parece, não foram feitos os ajustes necessários no texto aprovado.A nosso ver, a questão foi também colocada à livre deliberação dos sócios. Havendo previsão contratual no tocante às regras das reuniões (inclusive sobre a necessidade de convocação pela imprensa), afastada estará a incidência das regras atinentes às assembléias estabelecidas pelo novo Código Civil. Nada tendo sido estabelecido pelos sócios no contrato social, optaram eles pelas regras estabelecidas na lei, nos exatos termos do artigo 1.079. A questão deve, assim, ser estabelecida de acordo com as peculiaridades da sociedade. Sociedades limitadas de poucos sócios, de características familiares, não justificam a publicação na imprensa de suas reuniões. Sociedades maiores, com capital atomizado, podem justificá-la. A assembléia se instala com a presença de três quartos do capital social, em primeira convocação, e com qualquer número em segunda, devendo ser lavrada ata dos trabalhos e deliberações em livro de atas, assinada pelos membros da mesa e pelos sócios participantes da reunião, quantos bastem à validade das deliberações, mas sem prejuízo dos que queiram assiná-la, e encaminhada ao registro nos vinte dias subseqüentes. Os sócios podem estar representados por outro sócio ou advogado com mandato especifico, devendo o instrumento ser levado ao registro, juntamente com a ata. l) Aumento e redução do capital social 46 Os aumentos do capital social serão tomados em oportunidades distintas: primeiro se delibera sobre o aumento; na seqüência dá-se o prazo de trinta dias para os sócios exercerem a preferência, na proporção de suas quotas, ou ceder esse direito de preferência, na proporção de suas quotas, ou ceder esse direito de preferência a outro sócio ou a terceiro, desde que não haja proibição nesse sentido no contrato social. No caso de cessão do direito de preferência para terceiro, este somente terá eficácia casão não haja oposição de titulares de mais de um quarto do capital social. Decorrido o prazo de preferência, haverá reunião ou assembléia para a aprovação da modificação do contrato. Nada impede, contudo, a nosso ver, que as etapas sejam realizadas em uma única deliberação e instrumento, com a presença de todos os sócios deliberando sobre todas as questões dispostas no artigo 1.081 do novo Código Civil. O capital poderá ser reduzido se houver perdas irreparáveis ou se for excessivo em relação ao objeto da sociedade, utilizando-se aqui os termos do artigo 1.082 do novo Código Civil. No primeiro caso, haverá diminuição proporcional do valor nominal das quotas e, no segundo, haverá restituição de parte do valor das quotas aos sócios,
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