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Meningites


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Geovana Sanches, TXXIV 
MENINGITES 
 
INTRODUÇÃO 
Grande parte das infecções têm sinais e 
sintomas em comum, como a febre. Com isso, ao 
estudarmos infectologia, é importante focarmos 
nas diferenças existentes entre as afecções, e não 
nas semelhanças, o que facilitará o diagnóstico. 
Para a meningite, por exemplo, não focamos na 
febre e dor de cabeça, pois isso é comum a 
diversas patologias, sendo o sintoma mais típico a 
rigidez de nuca. 
 
DEFINIÇÃO 
 Meningite é a inflamação de 
leptomeninges causada por agentes infecciosos 
ou processos não infecciosos. É uma doença muito 
comum na prática médica, de forma que, 
independente da especialidade a ser seguida, 
dificilmente um médico não se deparará com essa 
afecção. 
 
CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA 
 A meningite pode ser classificada entre 
aguda e crônica, de acordo com o tempo de 
instalação da doença. 
• Meningite aguda: os sinais e sintomas se 
desenvolvem em horas ou em no máximo 
5 dias. Após esse período, ela será crônica. 
o Normalmente ocasionadas por 
bactérias ou vírus. 
• Meningite crônica: os sinais e sintomas se 
desenvolvem em semanas ou meses. 
o Normalmente ocasionadas por 
bactérias, micobactérias, fungos 
ou protozoários. 
Ao questionarmos o início dos sintomas, 
sempre devemos perguntar ao paciente há quanto 
tempo ele está doente, não considerando o limite 
máximo da dor/sintoma, mas sim seu início 
propriamente dito. Orienta-se aos médicos que 
realizem um recordatório com o paciente, 
questionando acerca dos sintomas nos dias 
anteriores para definir a data real de instalação. 
ETIOLOGIA 
• Agentes infecciosos: vírus, bactérias, 
fungos e protozoários. 
• Processos não infecciosos: hemorragia 
subaracnóidea, câncer, doenças 
autoimunes (LES), sarcoidose, medicação. 
o Medicações intratecais podem 
gerar inflamação que se manifesta 
por cefaleia e rigidez nucal. 
 
A diferenciação entre meningites 
infecciosas e não infecciosas se inicia pela análise 
de sintomas constitucionais como febre, 
hipotermia e calafrios, os quais normalmente 
estão presentes na meningite ocasionada por 
agentes infecciosos e ausente caso seja 
decorrente de processo não infeccioso. 
 
MENINGITE AGUDA BACTERIANA 
 As bactérias que mais frequentemente 
causam meningite na comunidade são: 
• Haemophilus influenzae 
o Cocobacilo Gram- 
o Aeróbio facultativa 
• Neisseria meningitidis 
o Cocobacilo Gram- 
o Aeróbia 
• Strepcococcus pneumoniae 
o Coco Gram+ 
o Anaeróbia facultativa 
• Listeria monocytogenes 
o Bacilo Gram+ 
o Anaeróbia facultativa 
• Streptococcus agalactiae 
o Coco Gram+ 
o Anaeróbia facultativa 
 Outras bactérias que também podem 
causar meningite são: Staphylococcus aureus 
(gram positiva), E. coli (gram negativa), Klebsiella 
pneumoniae (gram negativa), Pseudomonas spp 
(gram negativa). Todavia, elas não são tão comuns 
na comunidade, sendo mais frequentes no 
ambiente hospitalar. 
Ainda que não saibamos o agente 
etiológico ao certo, é importante diferenciarmos 
se a bactéria é gram positiva ou gram negativa, 
pois isso faz grande diferença na escolha do 
antibiótico. A partir da cultura do líquor, por 
exemplo, é possível identificar a classe da bactéria 
em horas, permitindo que o tratamento seja 
iniciado mais rapidamente. É importante recordar, 
ainda, que para o tratamento da meningite é 
essencial que o antibiótico de escolha seja capaz 
de atravessar a barreira hematoencefálica. 
Etiologia bacteriana x idade 
 A partir de estudos epidemiológicos, 
definiram-se quais são as principais bactérias 
causadoras de meningite de acordo com a faixa 
etária. Dentre todas, Streptococcus pneumoniae, 
um coco gram positivo, é o principal causador de 
Geovana Sanches, TXXIV 
meningite, sendo responsável por cerca de 95 a 
98% dos casos. 
Idade Etiologia bacteriana 
0 – 4 semanas S. agalactiae 
E. coli 
Listeria monocytogenes 
1-3 meses E. coli 
H. influenzae 
N. meningitidis 
3 meses – 4 anos H. influenzae 
N. meningitidis 
S. pneumoniae 
4 – 50 anos Streptococcus pneumoniae 
> 50 anos N. pneumoniae 
 S. pneumoniae 
L. monocytogenes 
Enterobactérias ( > 65 anos) 
 Importante lembrar que os extremos de 
idade, ou seja, recém-nascidos e idosos, 
apresentam imunidade mais frágil. 
História clínica e possíveis etiologias 
 Além de sinais e sintomas típicos de todas 
as meningites, como dor de cabeça, febre e rigidez 
de nuca, a presença de alguns outros pode auxiliar 
na determinação do agente etiológico: 
• Púrpura e petéquias à N. meningitidis 
(meningococcemia) 
• Celulite de face à S. aureus ou H. 
influenzae 
• Otite média, sinusite e pneumonia à S. 
pneumoniae ou H. influenzae 
• Fístula LCR à S. pneumoniae 
o Fístula liquórica é uma área de 
contato da área externa com a 
meninge do paciente. Ocorre 
normalmente em TCE de base de 
crânio sem correção adequada. 
Esses pacientes normalmente 
apresentam meningite de 
repetição (a cada 2 meses ou 
menos), sendo que alguns relatam 
gotejamento intenso de um 
líquido claro do nariz, o qual pode 
ser confundido com rinorreia. 
• Parotidite à vírus da caxumba que migra 
ao SNC, causando meningite 
• Endocardite em tratamento ou com 
diagnóstico anterior ao início dos 
sintomas neurológicos à S. aureus 
• Histórico de neurocirurgia à S. aureus ou 
enterobactérias 
• Infecção por HIV à tuberculose, 
criptocococe ou histoplasmose 
o Infecções meníngeas tipicamente 
crônicas, caso haja histórico de HIV 
e sintomas típicos de meningite 
MENINGITE ASSÉPTICA 
 Meningite asséptica é aquela em que há 
sinais e sintomas de meningite acompanhada por 
pleocitose (discreta elevação do número de 
células) no LCR, sem identificação do agente 
etiológica no exame bacterioscópico e culturas. 
 Alguns patógenos causam inflamação da 
meninge indiretamente, ou seja, apesar de não 
atravessarem a barreira hematoencefálica, alguns 
anticorpos contra eles ou antígenos passam-na e 
geram inflamação meníngea. 
 A meningite asséptica normalmente tem 
como agentes etiológicos os vírus, sendo os 
principais: enterovírus, adenovírus, herpes 
simples, CMV, Echo vírus, caxumba, sarampo, 
coriomeningite linfocitária e HIV. 
Outro agente possível é a bactéria 
Leptospira canicula, causadora de leptospirose 
relacionada principalmente a indivíduos que 
cuidam ou possuem cães de estimação, os quais 
são vacinados contra essa bactéria ainda 
pequenos, mas, caso contrário, podem adquirir a 
doença e transmiti-la ao seu dono, de forma que, 
caso não seja feito o tratamento adequado, 
podem ocorrer manifestações neurológicas. 
MENINGITE CRÔNICA 
• Mycobacterium tuberculosis: 
bactéria causadora da 
tuberculose; 
• Cryptococcus neoformans: 
fungo leviduriforme, muito comum em 
imunosuprimidos. A imagem 
mostra-os em tinta China, 
sendo essa camada externa 
representativa da cápsula, 
estrutura com papel fundamental para 
proteger o fungo contra os antifúngicos. 
• Histoplasma capsulatum: fungo 
dimórfico, muito comum em 
imunosuprimido; 
• Outras. 
EPIDEMIOLOGIA 
• ¾ dos casos de meningite aguda ocorrem 
até 15 anos 
• Meningites bacteriana são responsáveis 
por aproximadamente 10 casos/100.000 
habitantes/ano 
Geovana Sanches, TXXIV 
• Variação sazonal 
o Verão: meningites virais; 
o Inverno: meningites bacterianas. 
• Agentes etiológicos variam de acordo com 
idade e doenças de base. 
• Meningites bacterianas nos EUA: 
o Décadas de 70 e 80 à cerca de 20 
mil casos/ano 
o Anos 90 à redução de 50%, 
relacionado a vacinação por H. 
influenzae, diminuindo morbi-
mortalidade 
o Mediana de idade: 
§ 1986: 15 meses 
§ 1995: 25 anos 
FISIOPATOGENIA 
 O acesso da bactéria ao SNC pode se dar 
por três maneiras: bacteremia, acesso direto ou 
disseminação de foco contíguo. 
Bacteremia 
É a via principal via de acesso das bactérias 
ao sistema nervoso central, ocorrendo em 80 a 
90% dos casos. 
A bactéria se locomove via hematogênica 
devido ao escape de algum local de colonização do 
organismo. Após atingir a corrente, chega ao SNC 
e atravessa abarreira hematoencefálica, a qual 
tem como objetivo impedir a passagem de 
patógenos e substâncias não reconhecidas. Sendo 
assim, essa via depende muito do estado 
imunitário do paciente e dos mecanismos de 
escape da bactéria ao nosso sistema imune. 
Acesso direto 
O acesso direto através da pele ou do trato 
respiratório ocorre por alteração anatômica, como 
por trauma ou procedimento cirúrgico (ruptura da 
pele principalmente, fazendo com que o 
microrganismo alcance o SNC). 
Disseminação de foco contíguo 
 Quando há uma infecção próxima as 
meninges, esta pode, por contiguidade, alcançá-la. 
O principal exemplo é a otite média aguda, 
infecção que quando não é adequadamente 
tratada pode comprometer a mastoide, o qual 
possui em seu interior a endolinfa (constitui o 
labirinto -> via para manter o equilíbrio). Uma vez 
que haja infecção na mastoide, esta pode alcançar 
facilmente a meninge, pois elas estão separadas 
por cerca de 2mm. Esse processo é raro e demora 
algumas semanas para ocorrer. 
 
 
 
 Uma vez que a bactéria alcança o SNC, 
componentes bacterianos da cápsula e 
lipopolissacarídeos são liberados, provocando a 
indução de citocinas. Isso leva a um processo 
inflamatório na meninge, causando uma série de 
transtornos: 
• Vasculite no parênquima cerebral, 
levando a manifestação de sinais 
localizatórios; 
• Migração leucocitária devido a liberação 
de prostaglandinas e metabólitos de O2 
(leva a lesão celular); 
• Injúria celular 
• Aumento da permeabilidade vascular; 
• Redução na absorção de líquor, com 
consequente hidrocefalia. 
o Diariamente, há produção de 150 
a 200 ml de líquor, sendo essencial 
a reabsorção para que não haja 
hidrocefalia. 
Vários mecanismos culminam no edema 
cerebral, o qual se manifesta por alterações da 
consciência, sinais localizatórios (convulsões, 
cefaleia, déficit motor) e herniação (decorrente do 
aumento de pressão intracraniana). 
 
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS 
• Cefaleia 
• Febre 
• Vômitos em jato 
• Rigidez de nuca: resistência involuntária à 
flexão passiva da cabeça devido ao 
espasmo dos músculos cervicais. 
o Para que a rigidez ocorra, é 
necessário que haja irritação 
meníngea, sendo esse sinal muito 
característico da meningite. 
o Eventualmente, não há rigidez 
propriamente dita, mas o paciente 
relata dor à manobra, o que já é 
indicativo. 
o Caso a rigidez nucal não venha 
acompanhada de febre, pode-se 
Geovana Sanches, TXXIV 
tratar de uma neoplasia cerebral 
que atingiu a meninge ou 
hemorragia subaracnóidea. Em 
caso de dúvida, deve-se colher o 
líquor. 
Outros sinais meníngeos são o sinal de 
Kernig (impossibilidade de extensão passiva das 
pernas com paciente em decúbito dorsal; as coxas 
ficam semifletidas, formando ângulo de 90º com o 
tronco) e o sinal de Brudzinski (na flexão passiva 
da cabeça sobre o tronco, nota-se flexão 
involuntária dos joelhos). 
 Caso haja evolução para meningo-
encefalite, há alteração de consciência e sinais 
localizatórios. 
Complicações na fase aguda 
• Alteração no estado de consciência, que 
vai da sonolência ao coma (grau I a IV); 
• Déficit motor: manifesta-se em locais 
específicos, de acordo com o 
comprometimento do parênquima; 
• Convulsões: caso o foco seja irritativo, 
geram-se efeitos elétricos que culminam 
em convulsões 
• Sepse: infecção disseminada 
• Hiponatremia 
o Na urinário alto= desidratação 
o Na urinário baixo= SIADH 
(Síndrome de secreção 
inapropriada de hormônio 
antidiurético) 
• Morte: ocorre principalmente quando há 
demora para o diagnóstico e tratamento. 
Cerca de 30% são decorrentes de infecção 
por Streptococcus pneumoniae. 
Sequelas 
Déficit Frequência aproximada 
Perda auditiva 15 – 30% 
Alterações de 
aprendizado 
5 – 20% 
Consulsões < 5% 
Amaurose cortical < 5% 
Hidrocefalia 2- 3% 
 
DIAGNÓSTICO 
A coleta adequada da história, focando no 
tempo de instalação da doença e o líquor são 
elementos fundamentais para o diagnóstico de 
meningite. Os seguintes procedimentos auxiliam 
no diagnóstico: 
• Exame quimiocitológico de LCR 
o Quimio: proteína, glicose, cloreto 
o Citológico: contagem do número 
de células e diferenciação das 
mesmas 
• Bacterioscopia 
o Tinta da China para fungos 
o Ziehl-neelsen para bactérias 
• Culturas 
o É diferente para bactérias comuns, 
micobactérias e fungos 
• Pesquisa de antígenos 
o Aglutinação em látex 
o Contraimunoeletroforese 
o Látex para Crytcococcus 
• Estudo radiológico do SNC 
Coleta do líquor 
 A coleta do líquor deve ser imediata 
quando há suspeita de meningite. 
Materiais 
• Agulha de coleta de líquor (adulta ou 
infantil) 
• Cabo frenestrado e estéril 
• Luva estéril 
• Álcool 70% 
• Gases 
• 2 tubos para depósito do líquor coletado – 
5 ml em cada 
o Um dos tubos é enviado para a 
análise quimiocitológica (contagem 
e diferenciação das células), 
enquanto o outro vai para análise 
microbiológica 
o Para crianças, bastam 3mL 
Procedimento 
• Posicionar o paciente em decúbito lateral 
ou em posição sentada, com as costas 
fletidas; 
• Fazer assepsia entre L3 e L4 ou entre L4 e 
L5 (abaixo do término da medula) 
• Aplicar anestésico local 
• Realizar punção com a agulha em ângulo 
próximo de 15º, adentrando as diferentes 
camadas (pele, fáscia, segunda fáscia...) 
até sentir um vazio. Ao sentir, retira-se o 
fio-guia da agulha e há gotejamento do 
líquor. Caso a pressão seja boa, podemos 
aspirar os 10ml diretamente. 
• Fechamento dos tubos para enviar ao 
laboratório 
• Realizar pedidos para que o material seja 
adequadamente processado. No pedido 
Geovana Sanches, TXXIV 
deve constar todos os elementos que o 
médico quer se sejam dosados. 
Contra-indicação 
 Para a coleta do liquor, o paciente não 
pode apresentar sinais de localização motora, 
como convulsões ou déficit motor, pois isso pode 
ser manifestação de uma tumoração crescendo 
dentro do parênquima cerebral. Caso o LCR seja 
colhido nessa situação, pode-se gerar um 
herniação (iatrogenia). 
Caso essa herniação ocorra, por exemplo, 
no bulbo, há morte instantânea do paciente, 
tendo em vista que essa estrutura aloca os centros 
que controlam a frequência cardíaca e a função 
respiratória. 
Sendo assim, nesses casos, é necessário 
realizar uma tomografia inicial antes da coleta, a 
fim de excluir a possibilidade da presença de 
tumoração. Se o resultado do exame não 
demonstrar essa presença, podemos colher o 
exame normalmente. Por outro lado, caso seja 
identificada alteração, não é recomendado que o 
médico geral colha o líquor, sendo necessário 
solicitar um neurocirurgião treinado para fazer a 
coleta do líquor através da cabeça. 
Caso esses sinais motores não estejam 
presentes, não é necessário realizar tomografia, 
realizando a coleta do líquor normalmente. 
 
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: ANÁLISE DO LCR 
 A partir da análise do líquido 
cefalorraquidiano, é possível fazer a diferenciação 
entre os tipos de meningite. Vale lembrar que o 
diagnóstico diferencial entre agudo e crônico se dá 
pela história do paciente e não pela análise do LCR. 
Na tabela, entende-se: L= linfócitos, M= 
monócitos, N= neutrófilos. 
 
Líquor normal 
 Inicialmente, deve-se estudar os 
parâmetros do líquor normal, pois a partir deles 
aplicaremos os limites para definir o tipo de 
infecção vigente. O primeiro aspecto a ser 
observado é a coloração, sendo o líquor normal 
um líquido transparente. 
 A pressão intracraniana é medida através 
do manômetro, o qual pode ser acoplado à seringa 
durante o processo de coleta do LCR. 
Normalmente, a pressão é inferior a 20cm de 
água. Quanto as células, é normal que haja de 1 a 
no máximo 5, podendo ser linfócitos ou monócitos 
(não pode haver neutrófilos). A quantidade de 
glicose (glicorraquia) varia de 40 a 60 mg/ml e a de 
proteína (proteinorraquia), de 20 a 40 mg/mL. 
O número de leucócitos presentes no LCR 
depende do grau de resposta do paciente e não 
indica que uma bactéria é mais ou menos grave. 
Para a diferenciação, as células sãocoradas e, 
principalmente a partir do núcleo, identificam-se 
se são linfócitos, monócitos ou neutrófilos. No 
campo diferencial, relata-se a maioria (50% + 1), 
mas no exame normalmente há a porcentagem 
separada de cada uma delas. 
Meningite bacteriana 
Bactérias normalmente consomem glicose 
para seu metabolismo e por isso, no caso de 
meningites bacterianas, identificamos glicose 
diminuída no LCR. A proteína, por sua vez, é 
aumentada por 2 motivos: quando há encontro de 
um neutrófilo e uma bactéria, uma delas ou ambas 
são destruídas; tendo em vista que elas 
apresentam membrana celular (composta por 
lipopolissacarídeos, ou seja, proteínas, lipídeos e 
açúcares), ao romper a célula há aumento da 
proteinorraquia. Além disso, como a reabsorção 
do líquor está comprometida, essas proteínas 
acabam se acumulando no LCR. 
Outro aspecto a ser observado é a 
alteração da coloração do líquor, o qual se torna 
turvo em decorrência do aumento da quantidade 
de proteínas e células. Isso ocorre principalmente 
nas meningites aguda e crônica, pois a coloração é 
decorrente do aumento da quantidade de 
proteínas e células; para as meningites virais, pode 
ocorrer uma resposta mais fraca, sendo que em 
alguns pacientes pode não haver mudança de cor. 
A partir da análise de todas essas 
características, o diagnóstico será fechado e, após 
cerca de 3 dias, com o resultado da cultura, 
saberemos qual o agente etiológico correto. 
Entretanto, para o início do tratamento não é 
preciso ou adequado aguardar o resultado do 
exame: em caso de suspeita de meningite, colhe-
se o líquor e inicia-se a antibioticoterapia empírica, 
de acordo com a história clínica do paciente e a 
epidemiologia. Após o resultado do exame, com a 
identificação do agente etiológico e antibiograma 
em mãos, verifica-se se o tratamento inicial é 
adequado; caso não seja, é necessário entrar em 
contato com o paciente, alterando-o. 
Geovana Sanches, TXXIV 
Meningite viral 
 Do ponto de vista clínico, a meningite viral 
é sempre aguda, com os mesmos sintomas típicos 
(cefaleia, febre, rigidez de nuca e êmese). 
A maior diferenciação com as bacterianas 
está na pressão, a qual, nesse caso, é menor que 
20 (inflamação de meninge mais leve que na 
bacteriana normalmente). Além disso, o licor pode 
ser transparente, porque tem menor quantidade 
de células (normalmente até 100 células). 
Tendo em vista que o vírus é intracelular, 
ele não utiliza a glicose do meio como via do 
metabolismo, de forma que a glicorraquia é 
normal (ponto contra a meningite crônica). Além 
disso, há pouco estímulo ao sistema imunológico, 
de forma que a proteorraquia é normal ou 
levemente aumentada. 
 
TRATAMENTO 
 A meningite sempre é uma doença grave, 
de forma que o paciente deve ser internato, 
independentemente da etiologia da doença. As 
meningites agudas são integralmente tratadas em 
regime hospitalar, enquanto as crônicas podem 
ter dose de ataque em hospital e continuidade 
ambulatorial do tratamento. 
Medidas de suporte clínico 
• Decúbito elevado / jejum 
• Ventilação mecânica (SN) 
• Hidratação 
• Suporte calórico 
Controle da hipertensão craniana 
• Corticosteróides (2-4 dias) 
• Manitol 
• Derivação ventricular 
Antibioticoterapia Empírica 
Idade Antibiótico 
Neonatos a 3 meses Ampicilina + 
cefotaxima ou genta 
3 meses a 50 anos Ceftriaxona ou 
cefotaxima 
> 50 anos Ceftriaxona ou 
cefotaxima + 
ampicilina 
Situações especiais: 
neurocirurgia e TCE 
Ceftazidima + 
vancomicina 
 
PRESCRIÇÕES 
Meningite aguda bacteriana 
 A meningite aguda bacteriana pode ser 
transmitida de pessoa para pessoa, de forma que, 
na suspeita, o médico deve colocar máscara 
cirúrgica para evitar disseminação. Além dos EPIs 
para toda a equipe que for entrar em contato com 
o paciente, é necessário isolamento em leito por 
até 24h após o início do antibiótico (elimina a 
colonização da rinofaringe). Esse isolamento deve 
constar na prescrição e, para o caso de meningite 
aguda bacteriana, como a transmissão é por via 
aérea, solicitaremos: “isolamento respiratório 
para gotículas”. 
 
1. Prescrição da dieta 
• Jejum por ao menos 24h devido ao risco de 
bronco-aspiração. Descrever: paciente em 
jejum até segunda ordem 
• Hidratação e suporte calórico por veia 
periférica: 
o Soro fisiológico para hidratação 
(NaCl): 25 ml/kg/peso/dia é o 
mínimo utilizado 
o Nos casos da infecção, há maior 
necessidade de água e suporte 
energético, então utilizamos no 
mínimo 30 ml/kg/peso/dia. 
o Podemos utilizar o soro glicosado 
(5%, 10% ou 50%), o qual garante 
suprimento hídrico e calórico. Para 
determinar a quantidade que será 
prescrita, calculamos o quanto de 
glicose é necessário para que o 
paciente não ente em hipoglicemia: 
em geral, são 100 a 200g de glicose 
em 24h. 
o Para esse caso: 
§ Soro glicosado de 500mL a 
10% de 6 em 6h 
o Não é adequado a alimentação 
parenteral nesse caso devido a 
necessidade de cateter venoso 
central à custo X benefício. 
2. Medidas de suporte clínico 
• Deixar paciente em decúbito elevado (30 a 
45º): não é adequado deixá-lo em 180º 
devido para facilitar o reflexo do vômito e 
evitar bronco-aspiração 
• Ventilação mecânica, se necessária. É 
usada apenas em casos graves, para 
pacientes sonolentos por exemplo. 
3. Medicações 
• Antibioticoterapia 
o Inicialmente empírica, seguindo os 
critérios: 
§ Dados epidemiológicos 
(idade x bactéria mais 
frequente) 
Geovana Sanches, TXXIV 
§ Atravessar BHE 
§ Formulação endovenosa 
o Como S. pneumoniae é a bactéria 
mais comum, o tratamento 
empírico deve ser eficaz contra 
Gram positiva. 
o Penicilina cristalina: penicilina 
natural, com cerca de 19% que 
atravessa a BHE. Apresentação em 
frascos de 5 milhões de unidades e, 
para o tratamento da meningite, 
são necessários 30 milhões. Não 
pode ser administrada diretamente 
pelo risco de flebite. Meia vida de 1 
a 1,5h. 
§ Penicilina cristalina, 5 
milhões de unidades, 
diluída em 100mL de soro 
fisiológico a cada 4h. Correr 
em 15 minutos 
o Outros antibióticos possíveis são 
ampicilina e cefalosporinas de 1ª e 
2ª geração. 
• Outros medicamentos 
o Anti-emético 
§ Metoclopramida (Plasil®): 1 
ampola EV + água destilada 
10mL. Administração lenta, 
a cada 8h. 
o Anti-pirético 
§ Dipirona 500mg, com 10mL 
de água destilada, EV, caso 
temperatura maior ou igual 
a 37,8º até a cada 6h. 
• Caso o paciente utilize medicamentos 
contínuos para outras doenças, estes 
devem estar contidos na prescrição. 
4. Cuidados gerais: 
• Isolamento respiratório para gotículas, 
com duração de 24h após administração 
do antibiótico. 
o Meningite tuberculosa não é 
transmissível por via aérea e, assim, 
não requer isolamento 
respiratório. 
• Sinais vitais: aferir a cada 6h e, caso 
alterações, em menor intervalo. 
• Cuidados da enfermagem 
 
 
Assinatura e carimbo médico 
 
 O tempo de tratamento antimicrobiano 
varia de acordo com a etiologia da doença, sendo 
aproximadamente 10 dias para H. influenzae e N. 
meningitidis e 10 a 14 dias para S. pneumoniae. É 
importante fazer nova análise de líquor após 10 
dias de antibioticoterapia para verificar se houve 
ou não melhora. Caso ainda haja alterações do 
LCR, estender o tratamento. 
Meningite aguda viral 
 Para a meningite aguda vital, a conduta é 
muito semelhante à anterior, todavia, não é 
necessário administrar antibiótico em caso de 
certeza à se houver dúvida, faz-se a antibiótico-
terapia até o resultado da análise do LCR. 
 Caso confirmada a meningite aguda viral, 
suspende-se o antibiótico. O tratamento antiviral 
é muito restrito, estando disponíveis apenas 
aciclocir e glanciclovir, os quais são úteis apenas 
para o tratamento de herpes simples II, herpes 
zoster e CMV (apenas glanciclovir) – para outros 
agentes, não há antiviral disponível. 
 Esses medicamentos possuem 
apresentação oral e endovenosa, mas para 
meningite é recomendado EV, tendo em vista que 
o paciente normalmente está vomitando. Ambos 
os antivirais disponíveistêm dificuldade em 
atravessar a BHE (passam apenas 20%), sendo 
necessária a prescrição de altas doses: 
• 45 mg/kg/peso/dia a cada 8h 
• Tratamento normalmente varia de 14 a 21 
dias. 
O grande problema desses medicamentos 
é a toxicidade, especialmente mielotoxicidade 
(deprimem a medula óssea). Com isso, o paciente 
pode apresentar diminuição das séries isoladas ou 
pancitopenia. Tendo em vista que o glanciclovir é 
10x mais tóxico que o aciclovir, ele só será 
prescrito em caso de suspeita de CMV. 
Para avaliar essa toxicidade, solicitamos o 
hemograma. Se alterado, caso haja certeza do 
acometimento da meningite, continua a 
medicação, mas transfunde o paciente com a série 
necessária ou com sangue total (caso 
pancitopenia). Caso essa certeza não exista, pode 
ser recomendada a suspensão da medicação. 
• Hemácias e leucócitos abaixo de 50% do 
valor de referência são indicativos para 
retirada da medicação. 
Meningite crônica 
 Caso haja suspeita de infecção por HIV 
(histórico de prosmicuidade, não uso de 
preservativo, uso de drogas injetáveis), soliticita-
Geovana Sanches, TXXIV 
se teste rápido para HIV. O TR é muito sensível, de 
forma que pode dar falso positivo, mas não um 
falso negativo. Em casos positivos, é possível 
solicitar um ELISA para confirmar o HIV, mas o 
resultado demora de 3 a 5 dias. 
 Na suspeita de HIV, pensamos nas três 
etiologias mais comuns que podem cursar com 
meningite crônica: tuberculose (grande parte), 
criptococose e histoplasmose. Para início do 
tratamento, solicitar internação. 
 
1. Dieta: 
• Dieta geral e líquidos a vontade, tendo em 
vista que o paciente está consciente 
• Não é necessário administrar soro 
2. Medicamentos: 
• Anti-emético em caso de náuseas 
• Antipirético para melhor febre 
o Dipirona EV 
o Paracetamol VO 
• Caso o paciente esteja estável, a melhor 
opção é aguardar os resultados dos 
exames, tendo em vista que o tratamento 
é muito longo. Por outro lado, caso esteja 
instável, iniciar tratamento para 
tuberculose, tendo em vista que essa é a 
causa mais comum. 
o Pedido: análise de líquor + cultura 
para fungas em ágar sabouraud + 
cultura com coloração de Ziel-
Nielsen para tuberculose, 
micobactérias, tinta da China para 
Criptococcus e Histoplasma. 
o Principais opções para fungos: 
§ Anfotericina B: utilizar 0,8-1 
mg/kg/dia em dose única, 
por 10 a 12 semanas 
§ Fluconazol: utilizar 200mg 
EV 12/12h, por 10 a 12/14 
semanas 
o Tuberculose: tratamento por 9 a 12 
semanas 
o Histoplasmose: tratamento por 6 
semanas 
3. Medidas gerais: 
• Levantar cabeceira 
• Controle dos sinais vitais 
• Cuidados gerais 
• Não é necessário o isolamento do paciente 
o Tuberculose tem transmissão via 
aerossóis apenas se presente no 
pulmão e laringe; 
PREVENÇÃO 
 Ao suspeitar de meningite, o profissional 
deve colocar a máscara imediatamente. Deve-se 
fazer uma lista da família ou outras pessoas que o 
paciente teve contato prévio, a fim de realizar 
profilaxia; caso a equipe hospitalar não tenha 
tomado os cuidados necessários, os membros 
também devem passar pela profilaxia. Faz-se 
necessário indagar a idade desses indivíduos e, 
caso menores de 13 anos, também é necessário o 
peso. 
 A rifampicina é sempre a primeira opção, 
sendo utilizada dose fixa (600mg/dia) para adultos 
com peso superior a 40kg. Para crianças ou adultos 
com menos de 40kg, a dose é peso-dependente. 
 Em caso de impossibilidade (alergia ou 
hepatopatia por exemplo), indica-se uso de 
ceftriaxona (IM). Em caso de contra-indicação 
desta e também da rifampicina, pode-se utilizar 
ciprofloxacina para adultos. 
 
 
INFECÇÃO MENINGOCÓCICA 
Etiologia 
A infecção meningocócica se dá por 
Neisseria meningitidis, diplococo Gram negativo 
que possui 13 sorotipos: A, B, C, D, 29E, H, I, K, L, 
W-135, X, Y, Z. Entre esses, os que estão 
implicados com doença invasiva são: A, B, C, Y, W-
135. 
Epidemiologia 
• Colonização assintomática da orofaringe 
• Transmissão ocorre de pessoa a pessoa 
através de gotículas respiratórias 
• Ocorre com mais frequência em crianças 
menores que 5 anos 
• Contato íntimo com doentes leva risco 
aumentado de desenvolver infecção 
• Surtos tem ocorrido em comunidades 
semi-fechadas: creches, escolas, campos 
de recrutamento militar. 
• Durante os surtos a doença atinge todas as 
faixas etárias

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