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Geovana Sanches, TXXIV MENINGITES INTRODUÇÃO Grande parte das infecções têm sinais e sintomas em comum, como a febre. Com isso, ao estudarmos infectologia, é importante focarmos nas diferenças existentes entre as afecções, e não nas semelhanças, o que facilitará o diagnóstico. Para a meningite, por exemplo, não focamos na febre e dor de cabeça, pois isso é comum a diversas patologias, sendo o sintoma mais típico a rigidez de nuca. DEFINIÇÃO Meningite é a inflamação de leptomeninges causada por agentes infecciosos ou processos não infecciosos. É uma doença muito comum na prática médica, de forma que, independente da especialidade a ser seguida, dificilmente um médico não se deparará com essa afecção. CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA A meningite pode ser classificada entre aguda e crônica, de acordo com o tempo de instalação da doença. • Meningite aguda: os sinais e sintomas se desenvolvem em horas ou em no máximo 5 dias. Após esse período, ela será crônica. o Normalmente ocasionadas por bactérias ou vírus. • Meningite crônica: os sinais e sintomas se desenvolvem em semanas ou meses. o Normalmente ocasionadas por bactérias, micobactérias, fungos ou protozoários. Ao questionarmos o início dos sintomas, sempre devemos perguntar ao paciente há quanto tempo ele está doente, não considerando o limite máximo da dor/sintoma, mas sim seu início propriamente dito. Orienta-se aos médicos que realizem um recordatório com o paciente, questionando acerca dos sintomas nos dias anteriores para definir a data real de instalação. ETIOLOGIA • Agentes infecciosos: vírus, bactérias, fungos e protozoários. • Processos não infecciosos: hemorragia subaracnóidea, câncer, doenças autoimunes (LES), sarcoidose, medicação. o Medicações intratecais podem gerar inflamação que se manifesta por cefaleia e rigidez nucal. A diferenciação entre meningites infecciosas e não infecciosas se inicia pela análise de sintomas constitucionais como febre, hipotermia e calafrios, os quais normalmente estão presentes na meningite ocasionada por agentes infecciosos e ausente caso seja decorrente de processo não infeccioso. MENINGITE AGUDA BACTERIANA As bactérias que mais frequentemente causam meningite na comunidade são: • Haemophilus influenzae o Cocobacilo Gram- o Aeróbio facultativa • Neisseria meningitidis o Cocobacilo Gram- o Aeróbia • Strepcococcus pneumoniae o Coco Gram+ o Anaeróbia facultativa • Listeria monocytogenes o Bacilo Gram+ o Anaeróbia facultativa • Streptococcus agalactiae o Coco Gram+ o Anaeróbia facultativa Outras bactérias que também podem causar meningite são: Staphylococcus aureus (gram positiva), E. coli (gram negativa), Klebsiella pneumoniae (gram negativa), Pseudomonas spp (gram negativa). Todavia, elas não são tão comuns na comunidade, sendo mais frequentes no ambiente hospitalar. Ainda que não saibamos o agente etiológico ao certo, é importante diferenciarmos se a bactéria é gram positiva ou gram negativa, pois isso faz grande diferença na escolha do antibiótico. A partir da cultura do líquor, por exemplo, é possível identificar a classe da bactéria em horas, permitindo que o tratamento seja iniciado mais rapidamente. É importante recordar, ainda, que para o tratamento da meningite é essencial que o antibiótico de escolha seja capaz de atravessar a barreira hematoencefálica. Etiologia bacteriana x idade A partir de estudos epidemiológicos, definiram-se quais são as principais bactérias causadoras de meningite de acordo com a faixa etária. Dentre todas, Streptococcus pneumoniae, um coco gram positivo, é o principal causador de Geovana Sanches, TXXIV meningite, sendo responsável por cerca de 95 a 98% dos casos. Idade Etiologia bacteriana 0 – 4 semanas S. agalactiae E. coli Listeria monocytogenes 1-3 meses E. coli H. influenzae N. meningitidis 3 meses – 4 anos H. influenzae N. meningitidis S. pneumoniae 4 – 50 anos Streptococcus pneumoniae > 50 anos N. pneumoniae S. pneumoniae L. monocytogenes Enterobactérias ( > 65 anos) Importante lembrar que os extremos de idade, ou seja, recém-nascidos e idosos, apresentam imunidade mais frágil. História clínica e possíveis etiologias Além de sinais e sintomas típicos de todas as meningites, como dor de cabeça, febre e rigidez de nuca, a presença de alguns outros pode auxiliar na determinação do agente etiológico: • Púrpura e petéquias à N. meningitidis (meningococcemia) • Celulite de face à S. aureus ou H. influenzae • Otite média, sinusite e pneumonia à S. pneumoniae ou H. influenzae • Fístula LCR à S. pneumoniae o Fístula liquórica é uma área de contato da área externa com a meninge do paciente. Ocorre normalmente em TCE de base de crânio sem correção adequada. Esses pacientes normalmente apresentam meningite de repetição (a cada 2 meses ou menos), sendo que alguns relatam gotejamento intenso de um líquido claro do nariz, o qual pode ser confundido com rinorreia. • Parotidite à vírus da caxumba que migra ao SNC, causando meningite • Endocardite em tratamento ou com diagnóstico anterior ao início dos sintomas neurológicos à S. aureus • Histórico de neurocirurgia à S. aureus ou enterobactérias • Infecção por HIV à tuberculose, criptocococe ou histoplasmose o Infecções meníngeas tipicamente crônicas, caso haja histórico de HIV e sintomas típicos de meningite MENINGITE ASSÉPTICA Meningite asséptica é aquela em que há sinais e sintomas de meningite acompanhada por pleocitose (discreta elevação do número de células) no LCR, sem identificação do agente etiológica no exame bacterioscópico e culturas. Alguns patógenos causam inflamação da meninge indiretamente, ou seja, apesar de não atravessarem a barreira hematoencefálica, alguns anticorpos contra eles ou antígenos passam-na e geram inflamação meníngea. A meningite asséptica normalmente tem como agentes etiológicos os vírus, sendo os principais: enterovírus, adenovírus, herpes simples, CMV, Echo vírus, caxumba, sarampo, coriomeningite linfocitária e HIV. Outro agente possível é a bactéria Leptospira canicula, causadora de leptospirose relacionada principalmente a indivíduos que cuidam ou possuem cães de estimação, os quais são vacinados contra essa bactéria ainda pequenos, mas, caso contrário, podem adquirir a doença e transmiti-la ao seu dono, de forma que, caso não seja feito o tratamento adequado, podem ocorrer manifestações neurológicas. MENINGITE CRÔNICA • Mycobacterium tuberculosis: bactéria causadora da tuberculose; • Cryptococcus neoformans: fungo leviduriforme, muito comum em imunosuprimidos. A imagem mostra-os em tinta China, sendo essa camada externa representativa da cápsula, estrutura com papel fundamental para proteger o fungo contra os antifúngicos. • Histoplasma capsulatum: fungo dimórfico, muito comum em imunosuprimido; • Outras. EPIDEMIOLOGIA • ¾ dos casos de meningite aguda ocorrem até 15 anos • Meningites bacteriana são responsáveis por aproximadamente 10 casos/100.000 habitantes/ano Geovana Sanches, TXXIV • Variação sazonal o Verão: meningites virais; o Inverno: meningites bacterianas. • Agentes etiológicos variam de acordo com idade e doenças de base. • Meningites bacterianas nos EUA: o Décadas de 70 e 80 à cerca de 20 mil casos/ano o Anos 90 à redução de 50%, relacionado a vacinação por H. influenzae, diminuindo morbi- mortalidade o Mediana de idade: § 1986: 15 meses § 1995: 25 anos FISIOPATOGENIA O acesso da bactéria ao SNC pode se dar por três maneiras: bacteremia, acesso direto ou disseminação de foco contíguo. Bacteremia É a via principal via de acesso das bactérias ao sistema nervoso central, ocorrendo em 80 a 90% dos casos. A bactéria se locomove via hematogênica devido ao escape de algum local de colonização do organismo. Após atingir a corrente, chega ao SNC e atravessa abarreira hematoencefálica, a qual tem como objetivo impedir a passagem de patógenos e substâncias não reconhecidas. Sendo assim, essa via depende muito do estado imunitário do paciente e dos mecanismos de escape da bactéria ao nosso sistema imune. Acesso direto O acesso direto através da pele ou do trato respiratório ocorre por alteração anatômica, como por trauma ou procedimento cirúrgico (ruptura da pele principalmente, fazendo com que o microrganismo alcance o SNC). Disseminação de foco contíguo Quando há uma infecção próxima as meninges, esta pode, por contiguidade, alcançá-la. O principal exemplo é a otite média aguda, infecção que quando não é adequadamente tratada pode comprometer a mastoide, o qual possui em seu interior a endolinfa (constitui o labirinto -> via para manter o equilíbrio). Uma vez que haja infecção na mastoide, esta pode alcançar facilmente a meninge, pois elas estão separadas por cerca de 2mm. Esse processo é raro e demora algumas semanas para ocorrer. Uma vez que a bactéria alcança o SNC, componentes bacterianos da cápsula e lipopolissacarídeos são liberados, provocando a indução de citocinas. Isso leva a um processo inflamatório na meninge, causando uma série de transtornos: • Vasculite no parênquima cerebral, levando a manifestação de sinais localizatórios; • Migração leucocitária devido a liberação de prostaglandinas e metabólitos de O2 (leva a lesão celular); • Injúria celular • Aumento da permeabilidade vascular; • Redução na absorção de líquor, com consequente hidrocefalia. o Diariamente, há produção de 150 a 200 ml de líquor, sendo essencial a reabsorção para que não haja hidrocefalia. Vários mecanismos culminam no edema cerebral, o qual se manifesta por alterações da consciência, sinais localizatórios (convulsões, cefaleia, déficit motor) e herniação (decorrente do aumento de pressão intracraniana). MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS • Cefaleia • Febre • Vômitos em jato • Rigidez de nuca: resistência involuntária à flexão passiva da cabeça devido ao espasmo dos músculos cervicais. o Para que a rigidez ocorra, é necessário que haja irritação meníngea, sendo esse sinal muito característico da meningite. o Eventualmente, não há rigidez propriamente dita, mas o paciente relata dor à manobra, o que já é indicativo. o Caso a rigidez nucal não venha acompanhada de febre, pode-se Geovana Sanches, TXXIV tratar de uma neoplasia cerebral que atingiu a meninge ou hemorragia subaracnóidea. Em caso de dúvida, deve-se colher o líquor. Outros sinais meníngeos são o sinal de Kernig (impossibilidade de extensão passiva das pernas com paciente em decúbito dorsal; as coxas ficam semifletidas, formando ângulo de 90º com o tronco) e o sinal de Brudzinski (na flexão passiva da cabeça sobre o tronco, nota-se flexão involuntária dos joelhos). Caso haja evolução para meningo- encefalite, há alteração de consciência e sinais localizatórios. Complicações na fase aguda • Alteração no estado de consciência, que vai da sonolência ao coma (grau I a IV); • Déficit motor: manifesta-se em locais específicos, de acordo com o comprometimento do parênquima; • Convulsões: caso o foco seja irritativo, geram-se efeitos elétricos que culminam em convulsões • Sepse: infecção disseminada • Hiponatremia o Na urinário alto= desidratação o Na urinário baixo= SIADH (Síndrome de secreção inapropriada de hormônio antidiurético) • Morte: ocorre principalmente quando há demora para o diagnóstico e tratamento. Cerca de 30% são decorrentes de infecção por Streptococcus pneumoniae. Sequelas Déficit Frequência aproximada Perda auditiva 15 – 30% Alterações de aprendizado 5 – 20% Consulsões < 5% Amaurose cortical < 5% Hidrocefalia 2- 3% DIAGNÓSTICO A coleta adequada da história, focando no tempo de instalação da doença e o líquor são elementos fundamentais para o diagnóstico de meningite. Os seguintes procedimentos auxiliam no diagnóstico: • Exame quimiocitológico de LCR o Quimio: proteína, glicose, cloreto o Citológico: contagem do número de células e diferenciação das mesmas • Bacterioscopia o Tinta da China para fungos o Ziehl-neelsen para bactérias • Culturas o É diferente para bactérias comuns, micobactérias e fungos • Pesquisa de antígenos o Aglutinação em látex o Contraimunoeletroforese o Látex para Crytcococcus • Estudo radiológico do SNC Coleta do líquor A coleta do líquor deve ser imediata quando há suspeita de meningite. Materiais • Agulha de coleta de líquor (adulta ou infantil) • Cabo frenestrado e estéril • Luva estéril • Álcool 70% • Gases • 2 tubos para depósito do líquor coletado – 5 ml em cada o Um dos tubos é enviado para a análise quimiocitológica (contagem e diferenciação das células), enquanto o outro vai para análise microbiológica o Para crianças, bastam 3mL Procedimento • Posicionar o paciente em decúbito lateral ou em posição sentada, com as costas fletidas; • Fazer assepsia entre L3 e L4 ou entre L4 e L5 (abaixo do término da medula) • Aplicar anestésico local • Realizar punção com a agulha em ângulo próximo de 15º, adentrando as diferentes camadas (pele, fáscia, segunda fáscia...) até sentir um vazio. Ao sentir, retira-se o fio-guia da agulha e há gotejamento do líquor. Caso a pressão seja boa, podemos aspirar os 10ml diretamente. • Fechamento dos tubos para enviar ao laboratório • Realizar pedidos para que o material seja adequadamente processado. No pedido Geovana Sanches, TXXIV deve constar todos os elementos que o médico quer se sejam dosados. Contra-indicação Para a coleta do liquor, o paciente não pode apresentar sinais de localização motora, como convulsões ou déficit motor, pois isso pode ser manifestação de uma tumoração crescendo dentro do parênquima cerebral. Caso o LCR seja colhido nessa situação, pode-se gerar um herniação (iatrogenia). Caso essa herniação ocorra, por exemplo, no bulbo, há morte instantânea do paciente, tendo em vista que essa estrutura aloca os centros que controlam a frequência cardíaca e a função respiratória. Sendo assim, nesses casos, é necessário realizar uma tomografia inicial antes da coleta, a fim de excluir a possibilidade da presença de tumoração. Se o resultado do exame não demonstrar essa presença, podemos colher o exame normalmente. Por outro lado, caso seja identificada alteração, não é recomendado que o médico geral colha o líquor, sendo necessário solicitar um neurocirurgião treinado para fazer a coleta do líquor através da cabeça. Caso esses sinais motores não estejam presentes, não é necessário realizar tomografia, realizando a coleta do líquor normalmente. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: ANÁLISE DO LCR A partir da análise do líquido cefalorraquidiano, é possível fazer a diferenciação entre os tipos de meningite. Vale lembrar que o diagnóstico diferencial entre agudo e crônico se dá pela história do paciente e não pela análise do LCR. Na tabela, entende-se: L= linfócitos, M= monócitos, N= neutrófilos. Líquor normal Inicialmente, deve-se estudar os parâmetros do líquor normal, pois a partir deles aplicaremos os limites para definir o tipo de infecção vigente. O primeiro aspecto a ser observado é a coloração, sendo o líquor normal um líquido transparente. A pressão intracraniana é medida através do manômetro, o qual pode ser acoplado à seringa durante o processo de coleta do LCR. Normalmente, a pressão é inferior a 20cm de água. Quanto as células, é normal que haja de 1 a no máximo 5, podendo ser linfócitos ou monócitos (não pode haver neutrófilos). A quantidade de glicose (glicorraquia) varia de 40 a 60 mg/ml e a de proteína (proteinorraquia), de 20 a 40 mg/mL. O número de leucócitos presentes no LCR depende do grau de resposta do paciente e não indica que uma bactéria é mais ou menos grave. Para a diferenciação, as células sãocoradas e, principalmente a partir do núcleo, identificam-se se são linfócitos, monócitos ou neutrófilos. No campo diferencial, relata-se a maioria (50% + 1), mas no exame normalmente há a porcentagem separada de cada uma delas. Meningite bacteriana Bactérias normalmente consomem glicose para seu metabolismo e por isso, no caso de meningites bacterianas, identificamos glicose diminuída no LCR. A proteína, por sua vez, é aumentada por 2 motivos: quando há encontro de um neutrófilo e uma bactéria, uma delas ou ambas são destruídas; tendo em vista que elas apresentam membrana celular (composta por lipopolissacarídeos, ou seja, proteínas, lipídeos e açúcares), ao romper a célula há aumento da proteinorraquia. Além disso, como a reabsorção do líquor está comprometida, essas proteínas acabam se acumulando no LCR. Outro aspecto a ser observado é a alteração da coloração do líquor, o qual se torna turvo em decorrência do aumento da quantidade de proteínas e células. Isso ocorre principalmente nas meningites aguda e crônica, pois a coloração é decorrente do aumento da quantidade de proteínas e células; para as meningites virais, pode ocorrer uma resposta mais fraca, sendo que em alguns pacientes pode não haver mudança de cor. A partir da análise de todas essas características, o diagnóstico será fechado e, após cerca de 3 dias, com o resultado da cultura, saberemos qual o agente etiológico correto. Entretanto, para o início do tratamento não é preciso ou adequado aguardar o resultado do exame: em caso de suspeita de meningite, colhe- se o líquor e inicia-se a antibioticoterapia empírica, de acordo com a história clínica do paciente e a epidemiologia. Após o resultado do exame, com a identificação do agente etiológico e antibiograma em mãos, verifica-se se o tratamento inicial é adequado; caso não seja, é necessário entrar em contato com o paciente, alterando-o. Geovana Sanches, TXXIV Meningite viral Do ponto de vista clínico, a meningite viral é sempre aguda, com os mesmos sintomas típicos (cefaleia, febre, rigidez de nuca e êmese). A maior diferenciação com as bacterianas está na pressão, a qual, nesse caso, é menor que 20 (inflamação de meninge mais leve que na bacteriana normalmente). Além disso, o licor pode ser transparente, porque tem menor quantidade de células (normalmente até 100 células). Tendo em vista que o vírus é intracelular, ele não utiliza a glicose do meio como via do metabolismo, de forma que a glicorraquia é normal (ponto contra a meningite crônica). Além disso, há pouco estímulo ao sistema imunológico, de forma que a proteorraquia é normal ou levemente aumentada. TRATAMENTO A meningite sempre é uma doença grave, de forma que o paciente deve ser internato, independentemente da etiologia da doença. As meningites agudas são integralmente tratadas em regime hospitalar, enquanto as crônicas podem ter dose de ataque em hospital e continuidade ambulatorial do tratamento. Medidas de suporte clínico • Decúbito elevado / jejum • Ventilação mecânica (SN) • Hidratação • Suporte calórico Controle da hipertensão craniana • Corticosteróides (2-4 dias) • Manitol • Derivação ventricular Antibioticoterapia Empírica Idade Antibiótico Neonatos a 3 meses Ampicilina + cefotaxima ou genta 3 meses a 50 anos Ceftriaxona ou cefotaxima > 50 anos Ceftriaxona ou cefotaxima + ampicilina Situações especiais: neurocirurgia e TCE Ceftazidima + vancomicina PRESCRIÇÕES Meningite aguda bacteriana A meningite aguda bacteriana pode ser transmitida de pessoa para pessoa, de forma que, na suspeita, o médico deve colocar máscara cirúrgica para evitar disseminação. Além dos EPIs para toda a equipe que for entrar em contato com o paciente, é necessário isolamento em leito por até 24h após o início do antibiótico (elimina a colonização da rinofaringe). Esse isolamento deve constar na prescrição e, para o caso de meningite aguda bacteriana, como a transmissão é por via aérea, solicitaremos: “isolamento respiratório para gotículas”. 1. Prescrição da dieta • Jejum por ao menos 24h devido ao risco de bronco-aspiração. Descrever: paciente em jejum até segunda ordem • Hidratação e suporte calórico por veia periférica: o Soro fisiológico para hidratação (NaCl): 25 ml/kg/peso/dia é o mínimo utilizado o Nos casos da infecção, há maior necessidade de água e suporte energético, então utilizamos no mínimo 30 ml/kg/peso/dia. o Podemos utilizar o soro glicosado (5%, 10% ou 50%), o qual garante suprimento hídrico e calórico. Para determinar a quantidade que será prescrita, calculamos o quanto de glicose é necessário para que o paciente não ente em hipoglicemia: em geral, são 100 a 200g de glicose em 24h. o Para esse caso: § Soro glicosado de 500mL a 10% de 6 em 6h o Não é adequado a alimentação parenteral nesse caso devido a necessidade de cateter venoso central à custo X benefício. 2. Medidas de suporte clínico • Deixar paciente em decúbito elevado (30 a 45º): não é adequado deixá-lo em 180º devido para facilitar o reflexo do vômito e evitar bronco-aspiração • Ventilação mecânica, se necessária. É usada apenas em casos graves, para pacientes sonolentos por exemplo. 3. Medicações • Antibioticoterapia o Inicialmente empírica, seguindo os critérios: § Dados epidemiológicos (idade x bactéria mais frequente) Geovana Sanches, TXXIV § Atravessar BHE § Formulação endovenosa o Como S. pneumoniae é a bactéria mais comum, o tratamento empírico deve ser eficaz contra Gram positiva. o Penicilina cristalina: penicilina natural, com cerca de 19% que atravessa a BHE. Apresentação em frascos de 5 milhões de unidades e, para o tratamento da meningite, são necessários 30 milhões. Não pode ser administrada diretamente pelo risco de flebite. Meia vida de 1 a 1,5h. § Penicilina cristalina, 5 milhões de unidades, diluída em 100mL de soro fisiológico a cada 4h. Correr em 15 minutos o Outros antibióticos possíveis são ampicilina e cefalosporinas de 1ª e 2ª geração. • Outros medicamentos o Anti-emético § Metoclopramida (Plasil®): 1 ampola EV + água destilada 10mL. Administração lenta, a cada 8h. o Anti-pirético § Dipirona 500mg, com 10mL de água destilada, EV, caso temperatura maior ou igual a 37,8º até a cada 6h. • Caso o paciente utilize medicamentos contínuos para outras doenças, estes devem estar contidos na prescrição. 4. Cuidados gerais: • Isolamento respiratório para gotículas, com duração de 24h após administração do antibiótico. o Meningite tuberculosa não é transmissível por via aérea e, assim, não requer isolamento respiratório. • Sinais vitais: aferir a cada 6h e, caso alterações, em menor intervalo. • Cuidados da enfermagem Assinatura e carimbo médico O tempo de tratamento antimicrobiano varia de acordo com a etiologia da doença, sendo aproximadamente 10 dias para H. influenzae e N. meningitidis e 10 a 14 dias para S. pneumoniae. É importante fazer nova análise de líquor após 10 dias de antibioticoterapia para verificar se houve ou não melhora. Caso ainda haja alterações do LCR, estender o tratamento. Meningite aguda viral Para a meningite aguda vital, a conduta é muito semelhante à anterior, todavia, não é necessário administrar antibiótico em caso de certeza à se houver dúvida, faz-se a antibiótico- terapia até o resultado da análise do LCR. Caso confirmada a meningite aguda viral, suspende-se o antibiótico. O tratamento antiviral é muito restrito, estando disponíveis apenas aciclocir e glanciclovir, os quais são úteis apenas para o tratamento de herpes simples II, herpes zoster e CMV (apenas glanciclovir) – para outros agentes, não há antiviral disponível. Esses medicamentos possuem apresentação oral e endovenosa, mas para meningite é recomendado EV, tendo em vista que o paciente normalmente está vomitando. Ambos os antivirais disponíveistêm dificuldade em atravessar a BHE (passam apenas 20%), sendo necessária a prescrição de altas doses: • 45 mg/kg/peso/dia a cada 8h • Tratamento normalmente varia de 14 a 21 dias. O grande problema desses medicamentos é a toxicidade, especialmente mielotoxicidade (deprimem a medula óssea). Com isso, o paciente pode apresentar diminuição das séries isoladas ou pancitopenia. Tendo em vista que o glanciclovir é 10x mais tóxico que o aciclovir, ele só será prescrito em caso de suspeita de CMV. Para avaliar essa toxicidade, solicitamos o hemograma. Se alterado, caso haja certeza do acometimento da meningite, continua a medicação, mas transfunde o paciente com a série necessária ou com sangue total (caso pancitopenia). Caso essa certeza não exista, pode ser recomendada a suspensão da medicação. • Hemácias e leucócitos abaixo de 50% do valor de referência são indicativos para retirada da medicação. Meningite crônica Caso haja suspeita de infecção por HIV (histórico de prosmicuidade, não uso de preservativo, uso de drogas injetáveis), soliticita- Geovana Sanches, TXXIV se teste rápido para HIV. O TR é muito sensível, de forma que pode dar falso positivo, mas não um falso negativo. Em casos positivos, é possível solicitar um ELISA para confirmar o HIV, mas o resultado demora de 3 a 5 dias. Na suspeita de HIV, pensamos nas três etiologias mais comuns que podem cursar com meningite crônica: tuberculose (grande parte), criptococose e histoplasmose. Para início do tratamento, solicitar internação. 1. Dieta: • Dieta geral e líquidos a vontade, tendo em vista que o paciente está consciente • Não é necessário administrar soro 2. Medicamentos: • Anti-emético em caso de náuseas • Antipirético para melhor febre o Dipirona EV o Paracetamol VO • Caso o paciente esteja estável, a melhor opção é aguardar os resultados dos exames, tendo em vista que o tratamento é muito longo. Por outro lado, caso esteja instável, iniciar tratamento para tuberculose, tendo em vista que essa é a causa mais comum. o Pedido: análise de líquor + cultura para fungas em ágar sabouraud + cultura com coloração de Ziel- Nielsen para tuberculose, micobactérias, tinta da China para Criptococcus e Histoplasma. o Principais opções para fungos: § Anfotericina B: utilizar 0,8-1 mg/kg/dia em dose única, por 10 a 12 semanas § Fluconazol: utilizar 200mg EV 12/12h, por 10 a 12/14 semanas o Tuberculose: tratamento por 9 a 12 semanas o Histoplasmose: tratamento por 6 semanas 3. Medidas gerais: • Levantar cabeceira • Controle dos sinais vitais • Cuidados gerais • Não é necessário o isolamento do paciente o Tuberculose tem transmissão via aerossóis apenas se presente no pulmão e laringe; PREVENÇÃO Ao suspeitar de meningite, o profissional deve colocar a máscara imediatamente. Deve-se fazer uma lista da família ou outras pessoas que o paciente teve contato prévio, a fim de realizar profilaxia; caso a equipe hospitalar não tenha tomado os cuidados necessários, os membros também devem passar pela profilaxia. Faz-se necessário indagar a idade desses indivíduos e, caso menores de 13 anos, também é necessário o peso. A rifampicina é sempre a primeira opção, sendo utilizada dose fixa (600mg/dia) para adultos com peso superior a 40kg. Para crianças ou adultos com menos de 40kg, a dose é peso-dependente. Em caso de impossibilidade (alergia ou hepatopatia por exemplo), indica-se uso de ceftriaxona (IM). Em caso de contra-indicação desta e também da rifampicina, pode-se utilizar ciprofloxacina para adultos. INFECÇÃO MENINGOCÓCICA Etiologia A infecção meningocócica se dá por Neisseria meningitidis, diplococo Gram negativo que possui 13 sorotipos: A, B, C, D, 29E, H, I, K, L, W-135, X, Y, Z. Entre esses, os que estão implicados com doença invasiva são: A, B, C, Y, W- 135. Epidemiologia • Colonização assintomática da orofaringe • Transmissão ocorre de pessoa a pessoa através de gotículas respiratórias • Ocorre com mais frequência em crianças menores que 5 anos • Contato íntimo com doentes leva risco aumentado de desenvolver infecção • Surtos tem ocorrido em comunidades semi-fechadas: creches, escolas, campos de recrutamento militar. • Durante os surtos a doença atinge todas as faixas etárias