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Teoria Geral do Direito Constitucional Aula 02 Título: Interpretação das Normas Constitucionais. O conflito entre direitos e bens constitucionalmente protegidos resulta do fato de a Constituição proteger certos bens jurídicos (saúde pública, segurança, liberdade de imprensa, integridade territorial, defesa nacional, família, idosos, índios etc), que podem vir a envolver-se numa relação de conflito ou colisão. Assim, temos o surgimento das regras de hermenêutica constitucional que auxilia o intérprete da norma. • Hermenêutica: É a técnica de interpretação, em sentido técnico, é a denominação da teoria científica da interpretação, aquela que tem por objetivo o estudo e a sistematização dos métodos e processos aplicáveis para determinar o sentido e a aplicação das normas. A hermenêutica representa a teoria, a interpretação, a prática que aplica os princípios da hermenêutica. – Origem grega/deus Hermes; interprete da vontade divina. • Princípios da hermenêutica constitucional: Gome Canotilho a) Princípio da Unidade da Constituição: como princípio mais importante de interpretação constitucional, ele impõe que a Carta Magna seja estabelecida como unidade de sentido, sem a possibilidade de reconhecimento de hierarquia jurídica entre as normas constitucionais. b) Princípio do efeito integrador: a interpretação constitucional deve favorecer a integração política e social, fim último de uma Constituição. c) Princípio da justeza, correção ou conformidade funcional: a interpretação constitucional deve respeitar o esquema – organizatório/funcional – (princípio da separação dos poderes). d) Princípio da concordância prática ou da harmonização: os bens jurídicos protegidos pela Constituição devem ser harmonizados no caso concreto, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros. e) Princípio da força normativa da Constituição e da máxima efetividade ou da eficiência: esses princípios exigem que a interpretação conceda à norma constitucional o sentido que lhe dê a maior eficácia. f) Princípio da interpretação das leis em conformidade com a Constituição: As leis devem ser interpretadas conforme a Constituição e não o contrário, diante do princípio da supremacia constitucional. Obs: A contradição dos princípios deve ser superada, ou por meio da redução proporcional do âmbito de alcance de cada um deles, ou, em alguns casos, mediante a preferência ou a prioridade de certos princípios. Deve ser fixada uma premissa de que todas as normas constitucionais desempenham uma função útil no ordenamento. Os métodos de interpretação Os principais instrumentos que possui o operador do direito para resolver os problemas de interpretação são os chamados métodos de interpretação, tais como: a) Interpretação gramatical/tradicional ou literal: Esse método busca identificar o significado das palavras pelo legislador, tentando entender o que ele quis ordenar por intermédio da lei. O método gramatical constitui o início da interpretação. Antes de qualquer estado e reflexão, devemos entender as palavras. Segundo Vólia Bomfim Cassar, a interpretação gramatical, parte da premissa que o intérprete deve buscar o significado das palavras, já que o legislador não as teria escolhido em vão. As palavras proclamam a expressão da vontade do legislador. Nesta teoria também chamada de escola exegética, predomina a vontade do legislador. Surgiu na França no século XIX e pugna pelo positivismo, isto é, o excessivo rigor à lei. Pesquisa-se a intenção do legislador pelo dignificado das palavras que fez incluir na norma e conclui-se o que ele quis para um determinado caso. O exegeta apenas aplica a lei em consonância com a interpretação literal das palavras do legislador. A interpretação literal é muito criticada, porque se as palavras, em seu sentido gramatical, traduzissem toda a intenção do legislador, não seria necessário interpretar. Tal qual uma obra de arte, o texto deve ser analisado sob diversos enfoques e com todas as suas conexões e consequências, levando em consideração a influência da época em que foi confeccionada, a época atual, o sistema como um todo, a finalidade etc. Método Jurídico ou hermenêutico clássico Para que se valem desse método, a Constituição deve ser encarada como uma lei e, assim, todos os métodos tradicionais, valendo-se dos seguintes elementos de exegese: a) elemento genético: busca investigar as origens dos conceito utilizados pelo legislador; artigo 195 da CLT Art. 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. ex. insalubridade ex. periculosidade. b) elemento gramatical, filosófico, tradicional ou literal: também chamado de literal ou semântico, pelo qual a análise deve ser realizada de modo textual e literal; Art. 73. Salvo nos casos de revezamento semanal ou quinzenal, o trabalho noturno terá remuneração superior a do diurno e, para esse efeito, sua remuneração terá um acréscimo de 20 % (vinte por cento), pelo menos, sobre a hora diurna. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 9.666, de 1946) § 1º A hora do trabalho noturno será computada como de 52 minutos e 30 segundos. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 9.666, de 1946) § 2º Considera-se noturno, para os efeitos deste artigo, o trabalho executado entre as 22 horas de um dia e as 5 horas do dia seguinte. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 9.666, de 1946) § 5º Às prorrogações do trabalho noturno aplica-se o disposto neste capítulo. (Incluído pelo Decreto-lei nº 9.666, de 1946) Interpretação: Quem trabalha todo o horário noturno (22h às 5h) e prorroga até o diurno, este trabalho executado após as 5h da manhã será considerado também como noturno. Súmula nº 60 do TST ADICIONAL NOTURNO. INTEGRAÇÃO NO SALÁRIO E PRORROGAÇÃO EM HORÁRIO DIURNO I - O adicional noturno, pago com habitualidade, integra o salário do empregado para todos os efeitos. (ex-Súmula nº 60 - RA 105/1974, DJ 24.10.1974) II - Cumprida integralmente a jornada no período noturno e prorrogada esta, devido é também o adicional quanto às horas prorrogadas. Exegese do art. 73, § 5º, da CLT. c) elemento lógico: procura a harmonia lógica das normas constitucionais; art. 1° da Constituição Federal de 1988 c/c art. 170 da CF/88. d) elemento sistemático: busca a análise do todo; Analisa a sequência dos artigos descritos na Constituição ou Códigos. e) elemento histórico: analisa o projeto de lei, a sua justificativa, exposição de motivos, pareceres, discussões, as condições culturais e psicológicas que resultam da elaboração da norma; CLT - Consolidação das leis do trabalho. Art. 195 - A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se-ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. § 2º - Argüida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado, seja por Sindicato em favor de grupo de associado, o juiz designará perito habilitado na forma deste artigo, e, onde não houver, requisitará perícia ao órgão competente do Ministério do Trabalho. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de 22.12.1977) Se fizermos uma interpretação literal deste dispositivo, chegaremos à conclusão de que a perícia é prova obrigatória por lei e portanto e, portanto, obrigatória a todos os pedidos de insalubridade e periculosidade, mesmo que o empregadonão a deseje ou não tenha condições de arcá-la. Aliás, até hoje alguns juízes julgam extinto sem julgamento de mérito todo o processo por ausência de provas. Porém, em um outro contexto, se fizermos uma interpretação histórica do memento em que esta lei foi produzida, antes da compilada a CLT, a imposição pelo legislador da realização da prova pericial seria explicada, pois naquela época a Justiça do Trabalho pertencia ao Poder Executivo, um mero prolongamento do Ministério do Trabalho, que tinha um corpo de peritos médicos e engenheiros do trabalho que poderiam fazer a vistoria local e a perícia sem o encargo financeiro do empregado. Logo, a intenção do legislador não foi a de impossibilitar ou obrigar a uma prova e sim de utilizar os mecanismos existentes à disposição naquela época para facilitar a verificação do direito. Todavia, desde 1946, a Justiça do Trabalho pertence ao Poder Judiciário e não tem mais qualquer relação com o Ministério do Trabalho, não podendo por isso, dispor dos médicos e engenheiros do trabalho que fazem a fiscalização nas empresas. A prova pericial fica a cargo de perito escolhido pelo juiz, de forma onerosa, sendo suportada pelo trabalhador. Por outro lado, a Justiça do Trabalho, atualmente, transformou-se na “Justiça dos Sem Trabalho”, pois hoje só buscam o socorro da Justiça os desempregados. O empregado que recorrer ao Judiciário com seu contrato vigente provavelmente será demitido. Por outro lado, uma análise feita sob o critério histórico-evolutivo possibilita o intérprete dar novo sentido à norma, permitindo que a primitiva pretensão do legislador seja mantida, mas de forma diferente. Com isso, o exegeta pode entender que a prova pericial é facultativa e qualquer outro meio de prova deve ser aceito. Ademais, em se tratando de uma Justiça de desempregados, fácil é concluir que não se pode mais dar a mesma interpretação àquela imposição legal, pois o reclamante, desempregado, não pode e não tem como pagar uma prova pericial. O desapego à literalidade e à interpretação histórica, neste caso, torna-se imperioso no intuito de evitar que injustiças sejam cometidas, fazendo-se uma interpretação histórico-evolutiva. f) Interpretação histórico-evolutiva art. 227, da CLT Art. 227 - Nas empresas que explorem o serviço de telefonia, telegrafia submarina ou subfluvial, de radiotelegrafia ou de radiotelefonia, fica estabelecida para os respectivos operadores a duração máxima de seis horas contínuas de trabalho por dia ou 36 (trinta e seis) horas semanais. Interpretação extensiva do referido dispositivo legal, aplicando o artigo 227 da CLT aos operadores de telemarketing. g)) elemento teleológico ou sociológico: busca a finalidade da norma. LNDB – Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. h) elemento popular: a análise se implementa partindo da participação da massa, dos “corpos intermediários”, dos partidos políticos, sindicatos, valendo-se de instrumentos como o plebiscito, o referendo. i) elemento doutrinário: parte da interpretação feita pela doutrina; j) elemento evolutivo: segue a linha da mutação constitucional.
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