Buscar

Prévia do material em texto

AULA 12 – CONCURSO DE CRIMES E CONTINUIDADE DELITIVA
1. Concurso material:
Art. 69 – CP: Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se primeiro aquela. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
O concurso de crimes corresponde à pluralidade de crimes, podendo coexistir ou não acompanhado de concurso de pessoas. 
Consoante o artigo supratranscrito, são necessárias algumas ponderações ao concurso material de crimes: 
· Mais de uma ação ou omissão (não basta a pluralidade de atos);
· Dois ou mais crimes: Tais condutas devem apresentar uma correspondente no tipo incriminador (mais de uma ação ou omissão típica); 
· Idênticos (concurso material homogêneo) ou não (concurso material heterogêneo);
· Consequência: Somatório da penas (critério do cúmulo material);
Para que se fale em concurso de crimes na modalidade material, é indispensável que a pluralidade de crimes tenha derivado de uma pluralidade de condutas típicas (seja por ação, seja por omissão), não sendo suficiente pluralidade de atos. 
	PLURALIDADE DE ATOS
	PLURALIDADE DE CONDUTAS (AÇÃO/OMISSÃO)
	Ex: A golpeia B com várias facadas até alcançar o objetivo de morte da vítima. Aqui se tem um único crime (vários atos que integram uma só ação/conduta típica). 
Aplica-se os princípios que resolvem o conflito aparente de normas. A não responderá por lesão corporal + homicídio, mas somente por homicídio. 
	Ex: A estupra B e, após concretizar seu intento, decide matar a vítima a fim de que ela não o denuncie. Aqui tem-se uma pluralidade de crimes, respondendo A tanto pelo homicídio quanto pelo estupro. 
Fala-se, nesse cenário, de concurso de crimes em razão da pluralidade de condutas típicas (no caso, dois tipos penais). 
É possível a pluralidade de um mesmo crime, variando a depender do lapso temporal (contexto) entre as condutas. Ex: A dá um tapa em B certo dia (lesão corporal) e, na semana seguinte, dá outro tapa (mais uma lesão corporal). 
OBS: Concurso de crimes x Penas restritivas de direito – 
Art. 69 – CP:
§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade, não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art. 44 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
· Cada um dos crimes autoriza a substituição por restritiva (cumprimento simultâneo ou cumprimento sucessivo): O juiz deve analisar a compatibilidade, sendo possível, desde que viável, a execução simultânea de mais de uma restritiva de direitos;
· Uma ou mais condenações são incompatíveis com a restritiva: Converte-se a restritiva em privativa de liberdade;
2. Concurso formal:
Art. 70 – CP: Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. 
Acerca do concurso formal, são necessárias as seguintes ponderações:
· Uma só ação (ainda que mediante pluralidade de atos);
· Dois ou mais crimes;
· Idênticos (homogêneo) ou não (heterogêneo);
· Consequência jurídica: Depende da espécie de concurso formal; 
A diferença essencial entre concurso formal e concurso material pode ser assim sintetizada:
	CONCURSO MATERIAL
	CONCURSO FORMAL
	Art. 69, CP;
Mais de uma ação ou omissão;
Não basta pluralidade de atos; 
Consequência jurídica: Cúmulo material (somatória das penas); 
Ex: A furta B e estupra C. A pratica furto e estupro em concurso material heterogêneo (penas somadas). 
	Art. 70, CP;
Uma só ação ou omissão, ainda que mediante pluralidade de atos; 
Consequência jurídica: Concurso material (concurso formal impróprio) ou exasperação (concurso formal próprio);
Ex: A coloca B, C, D e E em uma câmara de gás, asfixiando todos. A pratica quatro homicídios em concurso formal impróprio;
3. As espécies de concurso formal:
	CONCURSO FORMAL PRÓPRIO OU PERFEITO
	CONCURSO FORMAL IMPRÓPRIO OU IMPERFEITO
	Unidade de desígnio (o agente só quis um dos resultados causados) ou ausência de desígnios (o agente não quis nenhum dos resultados causados). 
Critério da exasperação (art. 70, parte inicial – CP): Aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até a metade.
Ex: A atira para matar B e, além da morte da vítima, o tiro causa lesão culposa em C. Tem-se a aplicação dos arts. 121 (pena 6-20 anos) e 129, § 6º (pena 2 meses – 1 ano). A exasperação, na melhor das hipóteses, 6 + 1/6 . 6 = 6 + 1 = 7 anos. Neste caso, a exasperação é mais maléfica em comparação ao somatório da pena em virtude das penas serem muito díspares. Assim, aplica-se o critério do cúmulo material, de forma que beneficie o réu.
Consoante o parágrafo único do art. 70, aplica-se o concurso material benéfico (aplicação do somatório no concurso formal próprio a fim de beneficiar o agente): Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. 
	Desígnios autônomos (o agente quis cada um dos resultados que ele produziu). 
Nada mais justo do que o agente sofrer em cada uma das imputações. 
Critério do cúmulo material (art. 70, parte final – CP): As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos. 
4. Continuidade delitiva ou crime continuado:
Art. 71 – CP: Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Nessa perspectiva, o crime continuado é caracterizado por:
· Mais de uma ação/omissão;
· Dois ou mais crimes;
· Idênticos; 
· Circunstâncias semelhantes (tempo, lugar, maneira de execução e outras semelhanças);
OBS: Toda a continuidade delitiva envolve um concurso material homogêneo (crimes idênticos) em sua essência. Entretanto, a recíproca não é verdadeira: nem todo concurso material homogêneo implica em continuidade delitiva. 
É importante desenvolver algumas observações: 
· Mesma espécie = mesmo tipo incriminador. Ex: Furto simples + Furto qualificado + Furto qualificado + Furto simples (mantém a continuidade delitiva, mesmo havendo divergências de qualificadoras, privilégios, aumentos ou diminuição de pena). 
· Para o STJ, não cabe falar em continuidade delitiva entre roubo e latrocínio, só do argumento de ser crime de espécies distintas, ainda que atinentes ao mesmo tipo incriminador. Daniela Portugal discorda do STJ ao afirmar que se tratam de uma mesma espécie(ambos tipificados no art. 157 – CP).
· Mesma circunstância de tempo: Entre as infrações pode haver intervalo máximo de 1 mês. Não se reconhece, portanto, como regra, a continuidade delitiva entre infrações separadas por lapsos superior a 30 dias. Contudo, há exceções, vide a sonegação de imposto de renda (permite a continuidade delitiva por mais de 30 dias). Como o imposto de renda é pago anualmente, a continuidade delitiva só pode ser apreciada no prazo mínimo de um ano. 
· Mesma circunstância de legal: Em regra, na mesma cidade. Os tribunais, todavia, mantêm o reconhecimento da continuidade entre cidades vizinhas ou próximas. Ex: A explodiu um caixa-rápido em Salvador e, na semana seguinte, em Lauro de Freitas e, na outra semana, em Camaçari. 
· Mesma forma de execução: Padrão no modo de agir. 
Pesquisa para a próxima aula: É possível falar em padrão de execução quando ocorre a variação de comparsas e/ou variação dos papéis desempenhados na execução? + Teorias.

Mais conteúdos dessa disciplina