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IESC SEGUNDO PERÍODO Portaria PNAB 2436 - 21 de setembro de 2017 A Portaria Nacional de Atenção Básica é o resultado do acúmulo de experiências regidas por um conjunto de atores envolvidos historicamente com o desenvolvimento e a consolidação do SUS, por todas as esferas de Governo. A atenção básica é o primeiro ponto de atenção e porta de entrada preferencial do sistema, devendo ter fluxos e contrafluxos ordenados, seja de produtos, pessoas e informações, em todos os pontos da atenção à saúde. Conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivos, promovendo o bem-estar de todos. Os princípios e diretrizes devem ser seguidos, a fim de ressaltar a dinamicidade do território e existência de populações específicas, influenciando no planejamento e a implementação de ações públicas para a proteção da saúde populacional, prevenção, controle de riscos, agravos e doenças, bem como para a promoção da saúde. Equipes multiprofissionais. Atenção básica = porta de entrada. A saúde possui diversos determinantes e condicionantes. Revisa os âmbitos constituintes do SUS, principalmente na atenção básica e RAS, com a intenção de melhorar. Está em consonância com diversas disposições legais. Atenção básica e atenção primária são considerados equânimes. Serão adotadas estratégias para diminuir as desigualdades. Princípios do SUS e da RAS: são valores universalidade: acesso universal, contínuo a serviços de qualidade e resolutivos. A AB nas UBS devem receber e ouvir todas as pessoas que procuram seus serviços , de modo universal, de fácil acesso e sem diferenciações excludentes, construindo ações de acordo com as demandas; equidade: Oferecer o cuidado, reconhecendo as diferenças nas condições de vida e saúde e de acordo com as necessidades das pessoas. Tratar de forma desigual as desigualdades. Fica proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, estado de saúde, condição financeira, escolaridade, limitação física e entre outras; integralidade: É o conjunto de serviços executados pela equipe de saúde que atendem às necessidades da população adscrita. Responsabilização da oferta de serviços; Diretrizes do SUS e RAS: regionalização e hierarquização: A atenção básica é o ponto de comunicação entre as redes de atenção. Considera-se regiões de saúde como um recorte espacial da localidade , de forma estratégica, com a finalidade de planejar, organizar e gerir os pontos de atenção do RAS. A hierarquização é uma forma de organização dos pontos de atenção entre si, com fluxos e referenciais estabelecidos; territorialização e adscrição: de forma a permitir o planejamento, a programação descentralizada e o desenvolvimento de ações setoriais e intersetoriais com foco em um território específico, com impacto na situação, nos condicionantes e determinantes da saúde das pessoas e coletividades que constituem aquele espaço e estão, portanto, adstritos a ele. Para efeitos desta portaria, considera se Território a unidade geográfica única, de construção descentralizada do SUS na execução das ações estratégicas destinadas à vigilância, promoção, prevenção, proteção e recuperação da saúde. Os Territórios são destinados para dinamizar a ação em saúde pública, o estudo social, econômico, epidemiológico, assistencial, cultural e identitário, possibilitando uma ampla visão de cada unidade geográfica e subsidiando a atuação na Atenção Básica, de forma que atendam a necessidade da população adscrita e ou as populações específicas. população adscrita: população que está presente no território da UBS, de forma a estimular o desenvolvimento de relações de vínculo e responsabilização entre as equipes e a população, garantindo a continuidade das ações de saúde e a longitudinalidade do cuidado e com o objetivo de ser referência para o seu cuidado. população que está presente no território da UBS; cuidado centrado na pessoa: aponta para o desenvolvimento de ações de cuidado de forma singularizada, que auxilie as pessoas a desenvolverem os conhecimentos, aptidões, competências e a confiança necessária para gerir e tomar decisões embasadas sobre sua própria saúde e seu cuidado de saúde de forma mais efetiva. O cuidado é construído com as pessoas, de acordo com suas necessidades e potencialidades na busca de uma vida independente e plena. A família, a comunidade e outras formas de coletividade são elementos relevantes, muitas vezes condicionantes ou determinantes na vida das pessoas e, por consequência, no cuidado. resolutividade: reforça a importância da Atenção Básica ser resolutiva, utilizando e articulando diferentes tecnologias de cuidado individual e coletivo, por meio de uma clínica ampliada capaz de construir vínculos positivos e intervenções clínica e sanitariamente efetivas, centrada na pessoa, na perspectiva de ampliação dos graus de autonomia dos indivíduos e grupos sociais. Deve ser capaz de resolver a grande maioria dos problemas de saúde da população, coordenando o cuidado do usuário em outros pontos da RAS, quando necessário. longitudinalidade do cuidado: pressupõe a continuidade da relação de cuidado, com construção de vínculo e responsabilização entre profissionais e usuários ao longo do tempo e de modo permanente e consistente, acompanhando os efeitos das intervenções em saúde e de outros elementos na vida das pessoas , evitando a perda de referências e diminuindo os riscos de iatrogenia que são decorrentes do desconhecimento das histórias de vida e da falta de coordenação do cuidado. coordenação do cuidado: elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos usuários entre os pontos de atenção das RAS. Atuando como o centro de comunicação entre os diversos pontos de atenção, responsabilizando-se pelo cuidado dos usuários em qualquer destes pontos através de uma relação horizontal, contínua e integrada, com o objetivo de produzir a gestão compartilhada da atenção integral. Articulando também as outras estruturas das redes de saúde e intersetoriais, públicas, comunitárias e sociais. ordenação das redes: reconhecer as necessidades de saúde da população sob sua responsabilidade, organizando as necessidades desta população em relação aos outros pontos de atenção à saúde, contribuindo para que o planejamento das ações, assim como, a programação dos serviços de saúde, parta das necessidades de saúde das pessoas. participação da comunidade: estimular a participação das pessoas, a orientação comunitária das ações de saúde na Atenção Básica e a competência cultural no cuidado, como forma de ampliar sua autonomia e capacidade na construção do cuidado à sua saúde e das pessoas e coletividades do território. Considerando ainda o enfrentamento dos determinantes e condicionantes de saúde, através de articulação e integração das ações intersetoriais na organização e orientação dos serviços de saúde, a partir de lógicas mais centradas nas pessoas e no exercício do controle social. A prioridade da atenção básica é a estratégia saúde da família! A Interação da vigilância da saúde e atenção básica é essencial para a integração do setores e da implementação da saúde para a população. ( via de mão dupla) Todos os estabelecimentos de saúde que prestam serviços de AB, no âmbito do SUS, serão denominados UBS. As UBS são potenciais espaços de educação, formação, pesquisa e ensino e avaliação tecnológica. São responsabilidades comuns a todas as esferas de governo: municipal, estadual e federal -> contribuir para a reorientação do modelo de atenção e de gestão com base nos princípios e nas diretrizes; apoiar e estimular a doação da ESF; garantir a infraestrutura adequada e boas condições para o funcionamento das UBS; contribuir com o financiamento tripartite para fortalecimento da AB; contribuir para o acesso universal da população; estabelecer planos, metas e estratégias para a organização da AB; planejamento; fornecer mecanismo da qualificação e formação dos profissionais, além dos direitos trabalhistas; (investimento) implantar sistemas de informação da AB, informatização da saúde; planejar ações da AB nos territórios; estabelecermecanismos de autoavaliação e regulação; divulgar os resultados alcançados pelas equipes e usá-los no planejamento; promover intercâmbio de experiências - troca de ideias entre os setores; estimular a participação popular; garantir espaços físicos adequados para a formação de estudantes; assistência farmacêutica; articulação com o subsistema aindígena; Competências ao Ministério da saúde (federal) : rever as diretrizes da AB; garantir o financiamento, mensal, regular e automático; prestar apoio aos outros gestores; definir estratégias com apoio dos outros gestores; padronizar para manter a qualidade da saúde; articular com o ministério da educação; Competências das secretarias estaduais (estado): compactuar com comissão bipartite; destinar recursos estaduais de modo regular e automático; ser corresponsavel pelo monitoramento das ações de AB; analisar os dados e divulgar; prestar apoio ao município; articular instituições de ensino e serviço; fortalecer a ESF; Competências das secretarias municipais (município): coordenação do componente municipal da atenção básica; organizar os serviços de forma universal, dentro do seu território; programar as ações da atenção básica; organizar o fluxo de pessoas, para garantir a integralidade do cuidado; encaminhar os indivíduos de acordo com as necessidades; manter atualizado os cadastros de equipe; fomentar participação social; destinar recursos financeiros; (tripartite) ATUALIZAÇÃO DE 2020 Política Nacional da Atenção básica - PNAB 2436 Revisão das diretrizes que organizam a atenção básica, no âmbito do SUS; Regulamentação e organização das Redes de Atenção à Saúde (RAS); Foi criada a partir de experiências agregadas; Cuidado focado na necessidade dos usuários; A atenção Básica é o principal ponto de atenção dos usuários; Características gerais da Atenção Básica: A AB e a atenção primária na PNAB são consideradas equivalentes; A atenção básica é um conjunto de ações individuais, familiares e coletivas que agregam a promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, cuidados paliativos, vigilância em saúde, redução de danos e reabilitação. Será a principal porta de entrada e centro de comunicação com o RAS, coordenadora do cuidado e ordenadora das ações e serviços disponibilizados na rede; Será ofertada integralmente e gratuitamente a todas as pessoas, de acordo com suas necessidades e demandas do território, considerando os determinantes e condicionantes de saúde. A maioria dos casos são solucionados na AB, por isso é a principal porta de entrada, porém , não é a única. É proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, raça, etnia, crença, nacionalidade, identidade de gênero, estado de saúde, condição econômica, escolaridade, limitação física, entre outras. A PNAB tem na saúde da família sua estratégia prioritária para a expansão e consolidação da AB. Serão reconhecidas outras estratégias de AB, desde que observados os princípios e diretrizes previstos nos anexos e tenham caráter transitório, devendo ser estimulada a conversão em ESF. Processo progressivo e singular, já que cada território apresenta suas especificidades. Estabelecimentos de saúde que ofertam ações e serviços de atenção primária à saúde no SUS: 1) UBS estabelecimento que não possui equipe de saúde da família; 2) Unidade Saúde da Família (USF) estabelecimento com pelo menos 1 equipe de saúde da família, que possui funcionamento com carga horária mínima de 40 horas semanais , no mínimo 5 dias da semana e nos 12 meses do ano, possibilitando acesso facilitado à população; Tanto a UBS, quanto a USF são potenciais espaços de formação, educação, pesquisa e extensão. A integração entre a vigilância em saúde e atenção básica é condição essencial para o alcance de resultados que atendam as necessidades de saúde da população, na ótica da integralidade da atenção à saúde e visa estabelecer processos de trabalho que considerem os determinantes, os riscos e danos à saúde, na perspectiva da intra e intersetorialidade. Infraestrutura, ambiência e funcionalmente da AB: Adequação física, tecnológica e de recursos humanos das UBS e USF para atender às necessidades da população de cada território. Considerar a densidade demográfica, a composição, atuação e os tipos de equipes, perfil da população e as ações e serviços de saúde a serem realizados. Seguimento das normas sanitárias e as normativas de infraestrutura vigentes - possuir identificação segundo os padrões visuais da AD e do SUS. Unidades cadastradas no sistema de cadastro nacional de estabelecimentos de saúde (SCNES), de acordo com as normas em vigor. Adequação do espaço para formação profissional. Toda UBS e USF devem monitorar a satisfação de seus usuários. Ambiência: espaço físico (projeto arquitetônico), entendido como lugar social, profissional e de relações interpessoais, que deve proporcionar uma atenção acolhedora e humana para as pessoas, além de um ambiente saudável para o trabalho dos profissionais de saúde. (ter identificação dos serviços oferecidos, escala dos profissionais, horário de funcionamento da unidade, espaço adaptados para acessibilidade, equipamentos adequados, materiais suficientes). Unidades ou equipamentos de saúde no âmbito da AB: - unidade básica de saúde/ USF; - unidade básica de saúde fluvial; atende comunidades ribeirinhas. - unidade odontológica móvel; Funcionamento da atenção básica : carga horária mínima: 40 horas semanais, 5 dias na semana e nos 12 meses do ano; horários alternativos de funcionamento: podem ser pactuados através das instâncias de participação social - respeitando a carga horária mínima; população adscrita por equipes da AB e da USF: 2000 a 3500 pessoas, localizada dentro do seu território; 4 equipes por UBS/ USF para que se possa atingir o seu potencial resolutivo; municípios com menos de 2000 hab: 1 equipe de AB ou USF responsável por todo o território; teto máximo de equipes: com ou sem profissionais de saúde bucal , município e Distrito Federal: população/ 2000; (cálculo) A quantidade de verbas está associada à quantidade de equipes cadastradas. Padrões essenciais: São ações e procedimentos básicos relacionados a condições básicas/ essenciais de acesso e qualidade na AB. (OBRIGATÓRIO) Padrões ampliados: São ações e procedimentos considerados estratégicos para se avançar e alcançar padrões elevados de acesso e qualidade na AB, considerando especificidades locais, indicadores e parâmetros estabelecidos nas regiões de saúde. Deverá estar fixado em local visível, próximo à entrada da UBS: - identificação e horário de atendimento; - mapa de abrangência, com cobertura de cada equipe; - identificação de gerente da AB no territòrio e dos componentes de cada equipe da UBS e da USF; - relação de serviços disponíveis; - detalhamento das escalas de atendimento de cada equipe; Programa saúde na hora implementou o horário estendido de funcionamento das USF e UBS no SUS; estipulou o recebimento de incentivos financeiros de custeio aos municípios e ao Distrito Federal que aderirem ao programa; Objetivos: - ampliar o horário de funcionamento das USF e UBS, possibilitando maior acesso dos usuários aos serviços; - ampliar a cobertura das equipes; - ampliar o acesso à ações e serviços considerados essenciais na APS; - ampliar o número de usuários nas ações e nos serviços promovidos das USF e UBS; - reduzir o volume de atendimentos de usuários com condições de saúde de baixo risco em unidades de pronto atendimento e emergências hospitalares; - apresentam equipes da USF, da UBS e de saúde bucal; - unidades que funcionam de 60h até 75h semanais; Tipos de equipes na atenção básica: - equipe saúde da família; estratégia prioritária de atenção à saúde e visa à reorganização da AB no país, de acordo com os preceitos do SUS; estratégia de expansão, qualificação e consolidação de AB; relação de custo-efetividade; composição mínima: ● 1 médico; (de preferência com especialidade em medicina de família e comunidade) ● 1 enfermeiro; ● 1 auxiliar e/ou técnico de enfermagem;● agente comunitário de saúde; ● podem ser acrescentados à composição o Agente de combate a endemias e os profissionais de saúde bucal; (não é obrigatório) Em áreas de grande dispersão territorial, áreas de risco e vulnerabilidade social, RECOMENDA-SE a cobertura de 100% da população com número máximo de 750 por agente comunitário de saúde. obrigatoriedade de carga horária de 40 horas semanais para todos os profissionais de saúde membros da equipe de saúde da família. - equipe de atenção primária; Veio para substituir a equipe de atenção básica; Difere da equipe de saúde da família pela sua composição, de modo a atender às características e necessidades de cada município. Deverá observar as diretrizes da PNAB e os atributos essenciais da APS, como acesso de primeiro contato, longitudinalidade, coordenação e integralidade. Composição mínima da eAP: ● médicos ● enfermeiros Estes profissionais devem estar cadastrados em uma mesma unidade de saúde e preferencialmente especialistas em saúde da família. Não há destinação de quantidades de cada integrante. NÃO HÁ AUXILIAR DE ENFERMAGEM E AGENTE COMUNITÁRIO. 1) MODALIDADE 1 -> carga horária mínima individual de 20h semanais e com população adscrita correspondente a 50%; 2) MODALIDADE 2 -> carga horária mínima individual de 30h semanais e com população adscrita correspondente a 75%; - equipe de saúde bucal; Modalidade que pode compor as equipes que atuam na atenção básica, constituída por um cirurgião-dentista e um técnico em saúde bucal e/ou auxiliar de saúde bucal. Os profissionais de saúde bucal que compõem as equipes de saúde da família e de atenção primária devem estar vinculados a uma UBS ou a uma unidade odontológica móvel. 1) MODALIDADE 1� cirurgião-dentista e auxiliar em saúde bucal ou técnico em saúde bucal; 2) MODALIDADE 2 : cirurgião-dentista, TSB e ASB, ou outro TSB; - núcleo ampliado de saúde da família e a atenção básica (NASF-AB) Equipe multiprofissional e interdisciplinar composta por categorias de profissionais da saúde, complementar às equipes que atuam na AB. Formada por diferentes ocupações da área da saúde. Atua de maneira integrada para dar suporte aos profissionais das equipes de saúde da família e de atenção primária. Não se constituem como serviços com unidades independentes ou especiais. Não são de livre acesso para atendimento individual ou coletivo (estes, quando necessários, devem ser regulados pelas equipes que atuam na AB). Competências específicas -> 1) participar do planejamento conjunto com as equipes que atuam na BA à que estão vinculadas; 2) contribuir para a integralidade do cuidado aos usuários do SUS; 3) realizar discussões de casos, atendimento individual, compartilhado, interconsulta e construção de projetos terapêuticos; 4) ações de prevenção, promoção e discussão do processo de trabalho das equipes; Profissionais que podem fazer parte do NASF: médico acupunturista, assistente social, professor de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, profissional de saúde sanitária, arte educador, médico veterinário, médico do trabalho, clínica médica, geritra, terapeuta ocupacional, psiquiatra, psicólogo, pediatra, nutricionista, homeopata, ginecologista e obstetra. - estratégias de agentes comunitários de saúde; cumprimento de carga horária de 40h semanais por toda a equipe de ACS; Cada ACS tem uma microárea sob sua responsabilidade com até 750 pessoas; Atuação em ações básicas de saúde, visando a integralidade e cuidado no território; Castrar, preencher e informar os dados através dos sistemas de informação em saúde da AB vigente; - equipes de atenção básica para populações específicas; PREVINE BRASIL - FINANCIAMENTO DA APS O programa Previne Brasil foi instituído pela Portaria nº 2.979, de 12 de novembro de 2019. O novo modelo de financiamento altera algumas formas de repasse das transferências para os municípios, que passam a ser distribuídas com base em quatro critérios: captação ponderada, pagamento por desempenho, incentivo para ações estratégicas e incentivo financeiro com base em critério populacional. A proposta tem como princípio a estruturação de um modelo de financiamento focado em aumentar o acesso das pessoas aos serviços da Atenção Primária e o vínculo entre população e equipe, com base em mecanismos que induzem à responsabilização dos gestores e dos profissionais pelas pessoas que assistem. O Previne Brasil equilibra valores financeiros per capita referentes à população efetivamente cadastrada nas equipes de Saúde da Família (eSF) e de Atenção Primária (eAP), com o grau de desempenho assistencial das equipes somado a incentivos específicos, como ampliação do horário de atendimento (Programa Saúde na Hora), equipes de saúde bucal, informatização (Informatiza APS), equipes de Consultório na Rua, equipes que estão como campo de prática para formação de residentes na APS, entre outros tantos programas. O financiamento da Atenção primária à Saúde (APS) é calculado com base em 4 componentes: Captação ponderada; Pagamento por desempenho; Incentivo financeiro com base em critério populacional e Incentivos para ações estratégicas. Cada um desses componentes foi pensado para ampliar o acesso das pessoas aos serviços da APS e promover o vínculo entre população e equipe, com base em mecanismos que induzem à responsabilização dos gestores e dos profissionais pelas pessoas assistidas. Captação ponderada A captação ponderada é uma forma de repasse financeiro da Atenção Primária às prefeituras a ao Distrito Federal, cujo modelo de remuneração é calculado com base no número de pessoas cadastradas. O cadastro deve ser feito pelas equipes de Saúde da Família - eSF, equipes de Atenção Primária – eAP, equipes de Saúde da Família Ribeirinha – eSFR, equipes de Consultório na Rua – eCR ou equipes de Atenção Primária Prisional - eAPP. O componente ‘Capitação Ponderada’ considera fatores de ajuste como a vulnerabilidade socioeconômica, o perfil de idade e a classificação rural-urbana do município, de acordo com o IBGE. Por meio desse cadastro é possível estimar o quantitativo da população que poderá fazer uso dos serviços prestados pela equipe e Unidade Básica de Saúde (UBS)/Unidade de Saúde da Família (USF), o que oferece subsídios ao planejamento das equipes na oferta de serviços e o acompanhamento dos indivíduos, famílias e comunidades. Cadastrando o cidadão O cadastro do cidadão é feito pelo CPF ou Cartão Nacional de Saúde (CNS) e realizado por todos os integrantes das equipes de saúde. As informações colhidas podem ser registradas por meio do sistema de Coleta de Dados Simplificada (CDS), além do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), sistemas próprios das gestões ou contratados de terceiros. Em todos esses casos, os cadastros são monitorados pelo Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (Sisab). Pagamento por Desempenho O pagamento por desempenho é um dos componentes que fazem parte da transferência mensal aos municípios. Nesse componente, a definição do valor a ser transferido depende dos resultados alcançados no conjunto de indicadores monitorados e avaliados no trabalho das equipes de Saúde da Família e de Atenção Primária (eSF/eAP). Os atributos da APS são fortalecidos pelo Pagamento por Desempenho do Programa Previne Brasil, o que induz o aprimoramento dos processos de trabalho e a qualificação dos resultados em saúde, além de otimizar aspectos como periodicidade e método da avaliação. Exemplo disso é que, por meio do monitoramento desses indicadores, podem ser avaliados os acessos, a qualidade e a resolutividade dos serviços prestados pelas eSF/eAP, fornecendo subsídios para medidas de aprimoramento das ações e dando mais transparência aos investimentos na área da saúde para a sociedade. Incentivo financeiro com base em critério populacional O componente Incentivo financeiro com base em critério populacional faz parte da apuração do valor de referência para o financiamento da APS. O valor do incentivo per capita é definido pelo Ministério da Saúde anualmente epublicado em portaria. O aporte estabelecido por município e Distrito Federal leva em conta estimativa populacional mais recente divulgada pelo IBGE. Pagamento por alcance ou indicadores População cadastroda Incentivos para ações estratégicas Os incentivos para ações estratégicas abrangem características específicas de acordo com a necessidade de cada município ou território. Esses incentivos contemplam a implementação de programas, estratégias e ações que refletem na melhoria do cuidado na APS e na Rede de Atenção à Saúde. ● Programa Saúde na Hora; ● Equipe de Saúde Bucal (eSB); ● Unidade Odontológica Móvel (UOM); ● Centro de Especialidades Odontológicas (CEO); ● Laboratório Regional de Prótese Dentária (LRPD); ● Equipe de Consultório na Rua (eCR); ● Unidade Básica de Saúde Fluvial (UBSF); ● Equipe de Saúde da Família Ribeirinha (eSFR); ● Microscopista; ● Equipe de Atenção Básica Prisional (eABP); ● Custeio para o ente federativo responsável pela gestão das ações de atenção integral à saúde dos adolescentes em situação de privação de liberdade; ● Programa Saúde na Escola (PSE); ● Programa Academia da Saúde; ● Programas de apoio à informatização da APS; ● Incentivo aos municípios com residência médica e multiprofissional; ● Outros que venham a ser instituídos por meio de ato normativo específico. As transferências financeiras referentes a cada uma das ações estratégicas observarão as regras previstas nas normas vigentes que regulamentam a organização, o funcionamento e financiamento dos respectivos programas, estratégias e ações. Pagamento por Desempenho O pagamento por desempenho é um dos componentes que fazem parte da transferência mensal aos municípios. Nesse componente, a definição do valor a ser transferido depende dos resultados alcançados no conjunto de indicadores monitorados e avaliados no trabalho das equipes de Saúde da Família e de Atenção Primária (eSF/eAP). Os atributos da APS são fortalecidos pelo Pagamento por Desempenho do Programa Previne Brasil, o que induz o aprimoramento dos processos de trabalho e a qualificação dos resultados em saúde, além de otimizar aspectos como periodicidade e método da avaliação. Exemplo disso é que, por meio do monitoramento desses indicadores, podem ser avaliados os acessos, a qualidade e a resolutividade dos serviços prestados pelas eSF/eAP, fornecendo subsídios para medidas de aprimoramento das ações e dando mais transparência aos investimentos na área da saúde para a sociedade. Indicadores Previne Brasil para o ano de 2022� 1 - Proporção de gestantes com pelo menos 6 (seis) consultas pré-natal realizadas, sendo a 1ª (primeira) até a 12ª (décima segunda) semana de gestação. 2 - Proporção de gestantes com realização de exames para sífilis e HIV. 3 - Proporção de gestantes com atendimento odontológico realizado. 4 - Proporção de mulheres com coleta de citopatológico na APS. 5 - Proporção de crianças de 1 (um) ano de idade vacinadas na APS contra Difteria, Tétano, Coqueluche, Hepatite B, infecções causadas por haemophilus influenzae tipo b e Poliomielite inativada. 6 - Proporção de pessoas com hipertensão, com consulta e pressão arterial aferida no semestre. 7 - Proporção de pessoas com diabetes, com consulta e hemoglobina glicada solicitada no semestre. TERRITORIALIZAÇÃO Um dos direitos básicos do ser humano é o acesso à saúde, a qual é garantida na Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2012). A saúde, além de ser um bem universal, é um dever do Estado (BRASIL, 2012), que, da mesma forma, é responsável pela organização dos serviços em saúde, conforme o território (FARIA, 2013) onde a Unidade Básica de Saúde está inserida. Assim, a saúde está diretamente relacionada com o território e depende da forma com que os serviços em saúde, os equipamentos sociais e as diversas instituições públicas e estabelecimentos estão projetados e organizados nele (FARIA, 2013). Apesar do termo “território” referir-se a um “pedaço de terra” (GONDIM; MONKEN, 2009), apresenta um significado mais amplo no campo da saúde. O território é entendido como um espaço definido e delimitado por e a partir do poder (SOUZA, 1995). Quando, em um mesmo espaço, há várias relações de poder dá-se o nome de territorialidades e ao abrigar, em uma área, várias territorialidades pode ser considerado vários territórios. O termo territorialização, quando empregado no planejamento de ações estratégicas de saúde, refere-se a uma ferramenta metodológica que possibilita o reconhecimento das condições de vida e da situação de saúde da população da área de abrangência de uma Estratégia Saúde da Família (ESF) (GONDIM; MONKEN, 2009) por meio da construção de um modelo de assistência voltado à realidade social (SILVA et al., 2001). No entanto, para se construir um modelo de assistência pautado na necessidade local e na integralidade da atenção é necessário conhecer e compreender as distintas relações sociais , as quais são permeadas pelas condições econômicas, sociais, culturais, de saúde e de vida de uma população, bem Municípios que recebem temuns programas + por UM como identificar os atores sociais e a sua íntima relação com os espaços e lugares de um território (MONKEN; BARCELLOS, 2007). Assim, por meio da caracterização da população e a identificação dos seus problemas de saúde e necessidades peculiares do território pode-se avaliar os efeitos dos serviços sobre os níveis de saúde (MONKEN; BARCELLOS, 2005; SANTOS; RIGOTTO, 2011). Para isso, deve-se investigar e explorar as condições de vida e o acesso à saúde da população no território. Contudo, no que diz respeito a territorialização, tem-se evidenciado que as bibliografias que abordam esse tema não dão suporte suficiente para os profissionais da saúde planejarem e executarem atividades de forma efetiva, durante o processo de conhecimento do território. Diante do exposto, esta pesquisa teve por objetivo resgatar os conceitos e as etapas para a territorialização em saúde e as estratégias para a sua realização. Visando dar subsídio, aos profissionais da saúde, para a compreensão do processo de territorialização e a sua realização, o desenvolvimento deste estudo contempla, de forma didática, as seções: Conceitos; Origem do processo de territorialização em saúde coletiva; Territorialização: etapas e importância no planejamento em saúde; Instrumentos de aplicabilidade de territorialização em saúde. A seção “Conceitos”, permite compreender o significado do termo “território” em saúde. A “Origem do processo de territorialização em saúde coletiva” trata, brevemente, da inserção da territorialização na organização da Atenção Primária à Saúde (APS) e no planejamento das ações das Unidades Básicas de Saúde e da ESF. A “Territorialização: etapas e importância no planejamento em saúde” apresenta as etapas do processo de territorialização, assim como o detalhamento de cada uma, por meio da indicação dos dados a serem obtidos, onde e como coletá-los e a relevância dos mesmos. Além disso, a seção ressalta a importância da territorialização para a definição das ações a serem desenvolvidas pela Unidade Básica de Saúde e a ESF, com vista no atendimento das necessidades da comunidade atendida pela mesma. Na seção “Instrumentos de aplicabilidade de territorialização em saúde” são sugeridos alguns recursos e modelos que auxiliam na obtenção de informações sobre o território. Conceitos: Na contemporaneidade, a problematização sobre a abordagem das práticas na Atenção Básica à Saúde perpassa pela noção de espaço, território, territorialidade e territorialização. A noção de território atende aos preceitos de regionalização, hierarquização e descentralização propostos no Artigo 198, da Constituição de 1988, ao estruturar o Sistema Único de Saúde (SUS). Longe de teorias estanques, a efetivação e transformação da saúde, requer planejamento local e a associação entre poder público e participação social. É nesse cenário que se visualiza uma população específica, vivendo em tempo e espaço determinados, com problemas de saúde definidos e que interagecom distintas unidades prestadoras de serviços de saúde (UNGLERT, 1993). O espaço quando é analisado sob a luz de diversas ciências pode assumir variadas acepções e numerosos qualificativos. Para a geografia, enquanto ciência social, a expressão espaço geográfico ou somente espaço é vaga quando associada a porção da superfície da terra identificada pela natureza, pelo homem que ali imprimiu sua marca ou somente por ser um referencial de localização (CORRÊA, 1995). A partir de outras teorias, Santos (1985) contribuiu de forma positiva ao enunciar que o espaço deve ser analisado considerando-se categorias como: estrutura, processo, função e forma do mesmo que quando analisados em conjunto podem embasar uma teoria sobre os fenômenos espaciais. Os conceitos de espaço e sociedade se inter-relacionam, assim, uma sociedade só se torna concreta através de seu espaço e do espaço que ela produz e, por outro lado, o espaço só é inteligível através da sociedade (CORRÊA, 1995). O espaço representa muito mais que uma superfície geográfica, tendo um perfil demográfico, epidemiológico, administrativo, tecnológico, político e social que o caracteriza e se expressa num território em permanente construção. O território forma-se a posteriori a partir das relações de poder que se estabelecem num determinado espaço (GIL; FERNANDES, 2005). O termo território pode ser associado a pelo menos duas origens: a primeira significa “terra pertencente a”, ou seja, terri (terra) e torrium (pertence a), de origem latina; a segunda, associada a primeira, térreo-territor (aterrorizar – aquele que aterroriza) designou a concepção política de quem aterroriza para dominar e de quem é aterrorizado pelo domínio de uma determinada porção do espaço (HAESBAERT, 2004). O território é carregado de intencionalidades, que se manifestam no espaço. A intenção das pessoas ao escolherem um lugar ou optarem por ficar onde estão, imprimindo nele uma paisagem que reflete essas intenções, corresponde ao território (GIL; FERNANDES, 2005). Pressupõe-se que a ideia de território consiste na relação de poder seja técnico, econômico, social, político ou cultural, proveniente das relações interpessoais ou com a natureza, refletindo a realidade de determinado tempo e espaço. Na tradicional Geografia Política, território surge como o espaço concreto em si (com seus atributos naturais e socialmente construídos) que é apropriado, ocupado, por um grupo social. No processo de implantação das equipes de Unidades Básicas e Saúde da Família, o município pode ser dividido em vários territórios. Cada território possui peculiaridades em respeito a seus usuários e suas equipes, à sua capacidade de estrutura física e recursos financeiros, organização social, conflitos e contradições inerentes ao local em que se encontra inserido (BRASIL, 2009). Segundo Mendes (2011), em saúde, os territórios podem ser: - Território-distrito: Delimita um território administrativo assistencial, contendo um conjunto de pontos de atenção à saúde e uma população adscrita. Visa aproximar poder administrativo público e comunidade. - Território-área: corresponde à área de atuação de uma ou no máximo três equipes de saúde. Com enfoque na vigilância à saúde, planeja as ações, organiza os serviços e viabiliza os recursos para o atendimento das necessidades dos usuários residentes no território. - Território microárea: é uma subdivisão do território-área, corresponde à área de atuação de um Agente Comunitário em Saúde (ACS). Por consequência entende-se que territorialidade é a “razão de ser” dos territórios, conferindo lhes existência, seja material ou imaterial (MOYSÉS; SÁ, 2014), ou seja, consiste na manutenção do mesmo preservando-o por meio do equilíbrio entre as sociedades e a natureza. Para Raffestin (1993) a territorialidade é composta por três elementos: senso de identidade espacial, senso de exclusividade e compartimentação da interação humana no espaço. E ainda, a territorialidade seria um conjunto de relações que se originam num sistema tridimensional, sociedade - espaço - tempo, em vias de atingir a maior autonomia possível, compatível com os recursos do sistema (RAFFESTIN, 1993). A relação de alguns preceitos básicos discorridos é indispensável no entendimento do processo de territorialização em saúde. A territorialização é uma ferramenta importante no planejamento dos serviços de saúde pública, tanto para avaliar quanto para implantar novos projetos. Em outras palavras, o processo de territorialização viabiliza um diagnóstico mais preciso da comunidade. Essa tarefa adquire, no entanto, ao menos três sentidos diferentes e complementares: de demarcação de limites das áreas de atuação dos serviços; de reconhecimento do ambiente, população e dinâmica social existente nessas áreas; e de estabelecimento de relações horizontais com outros serviços adjacentes e verticais com centros de referência (PEREIRA; BARCELLOS, 2006). Para Fuini (2014) a territorialização significa ação, movimento ou processo de construção e criação de territórios pela apropriação, uso, identificação, enraizamento com determinadas extensões do espaço por lógicas políticas, econômicas ou culturais, sendo também sinônimo de qualificação ou organização territorial. Esse foi o modo encontrado para se resolver a questão da definição das áreas de atuação dos serviços de Atenção Primária à Saúde, ou seja, territorializando os serviços e cadastrando (adscrição de clientela, como é chamada) a população no seu interior (FARIA, 2013). Hoje a política nacional de saúde é construída com enfoque regional tendo como questão central a organização das ações e serviços no território. Um dos fundamentos da ESF é a Atenção Básica territorializada, construída sobre uma base territorial espacialmente delimitada e seguindo o modelo de adstrição da clientela. Nessa perspectiva, o território deve ser considerado um espaço vivo capaz de produzir saúde, e por isso um espaço dinâmico em constante transformação nos seus diversos aspectos como, história, demografia, cultura e epidemiologia. Assim, conhecer o processo de territorialização é fundamental no contexto da Atenção Básica ou Atenção Primária à Saúde, pois o mapeamento do território possibilita um atendimento sensível às necessidades da população (SANTOS; RIGOTTO, 2011). Territorialização: etapas e importância no planejamento em saúde Conhecer o território em que a Unidade Básica de Saúde atua é essencial, principalmente para a ESF. As condições sociais da população influenciam diretamente no processo saúde doença e, dessa forma, a territorialização contribui para o planejamento de ações eficazes em saúde e voltadas ao atendimento das necessidades da população deste território (OLIVEIRA et al., 2007). Para que ações em saúde sejam desenvolvidas, deve-se respeitar as etapas que a territorialização exige. Cada etapa que compõe o processo de territorialização permite o acesso, da equipe de saúde, às características do território e sua população (MÔRA et al., 2013). No quadro 1 encontram-se as dez etapas sugeridas para o processo de territorialização, as quais foram adaptadas de alguns autores (MENDES; DONATO, 2003; MONKEN; BARCELLOS, 2005; MÔRA et al., 2013; SILVA et al., 2001). Deve-se ressaltar que o território está em constante processo de transformação (território vivo) e isso implica na necessidade de as equipes de saúde manterem atualizados os dados do território (MENDES; DONATO, 2003). Etapas do processo de territorialização em saúde: 1) Levantamento de informações já disponíveis sobre o território 2) Reconhecimento do território 3) Levantamento de informações com informantes-chave por meio de entrevistas 4) Reconhecimento dos estabelecimentos de interesse para a saúde 5) Reconhecimento da unidade básica de saúde 6) Organização e análise dos dados obtidos 7) Espacialização dos dados 8) Planejamento de ações 9) Execução das ações em saúde 10) Verificação da eficiência das ações em saúde Instrumentos de aplicabilidade de territorialização em saúde A obtenção e gerenciamentode dados no processo de territorialização podem ser desenvolvidos com instrumentos simples, usados junto à comunidade, até tecnologias mais apuradas. Convém iniciar delimitando a macroárea do território sanitário e, depois, as microáreas das quais é composto. Sugere-se abaixo alguns recursos e modelos a serem utilizados. a) Identificar a existência do plano diretor municipal que contenha um mapa-base de identificação do território. b) Buscar dados demográficos e epidemiológicos que sirvam de base para o início da pesquisa ou como comparativo com os novos dados. Pode-se usar como fonte os dados disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Departamento de Informática do SUS (DATASUS), Secretarias Municipais e Estaduais de Saúde, Educação, Meio Ambiente e outras. c) Uso de questionários que possam ser aplicados em diferentes áreas e serviços e com diferentes pessoas do território a ser mapeado. O perfil dos entrevistados deve ser o mais diversificado possível, abrangendo, por exemplo, indivíduos de diferentes classes sociais, ocupações e níveis de escolaridade. REDES DE ATENÇÃO À SAÚDE (RAS) São arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado." Portaria de Consolidação nº 03, de 28 de setembro de 2017. Tem como proposta lidar com projetos e processos complexos de gestão e atenção à saúde, onde há interação de diferentes agentes e onde se manifesta uma crescente demanda por ampliação do acesso aos serviços públicos de saúde e por participação da sociedade civil organizada.As redes temáticas acordadas de forma tripartite As RAS são sistematizadas para responder a condições específicas de saúde, por meio de um ciclo completo de atendimentos (PORTER e TEISBERG, 2007), que implica a continuidade e a integralidade da atenção à saúde nos diferentes níveis Atenção Primária, Secundária e Terciária; Devem ter foco na população, de forma integral, por meio de serviço contínuo de cuidados que visem prioritariamente à promoção da saúde. São Redes Temáticas de Atenção à Saúde: - Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil - Rede Cegonha: A Rede Materno-Infantil visa garantir o fluxo adequado para o atendimento ao planejamento sexual e reprodutivo, pré-natal, parto e nascimento, puerpério e primeira infância com o objetivo de qualificar a assistência e enfrentar a mortalidade materna, infantil e fetal. Está vinculada ao programa federal denominado Rede Cegonha, ao programa estadual Primeira Infância Melhor (PIM) e a outros financiamentos estaduais como: Ambulatório de Gestante de Alto Risco (AGAR), Ambulatório de Egressos de UTI neonatal, incentivo estadual para atendimento de alto risco e casa da gestante, entre outros. - Rede de Atenção às Urgências e Emergências (RUE): Tem a finalidade de ampliar e qualificar o acesso humanizado e integral aos usuários em situação de urgência e emergência de forma ágil e oportuna. A Rede está organizada em dois componentes: o pré hospitalar (móvel e fixo) e o hospitalar. As diretrizes da RUE estão definidas na Portaria GM/MS no 1.600/2011. - Rede de Atenção à Saúde das Pessoas com Doenças Crônicas: Rede de Atenção às Pessoas com Condições Crônicas vem sendo pensada a partir de diferentes tecnologias, estruturadas em serviços territorializados, construídos da seguinte forma: Serviços Assistenciais em Oncologia, Linha de Cuidado de Sobrepeso e Obesidade. - Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência: A Saúde da Pessoa com Deficiência (SPD) no SUS busca proporcionar atenção integral à saúde dessa população, desde a APS até a reabilitação, incluindo o fornecimento de órteses, próteses e meios auxiliares de locomoção, quando necessário. O objetivo é proteger a saúde e reabilitar as pessoas com deficiência em relação a suas capacidades funcionais (física, auditiva, intelectual e visual). A criação da Política Nacional de Saúde da Pessoa com Deficiência (Portaria MS/SAS no 1.060/2002) oportunizou a implantação das Redes Estaduais de Assistência à Pessoa com Deficiência, em especial às ações de reabilitação, através de legislações específicas para habilitação de Serviços de Modalidade Única, ou seja, habilitados para atender apenas uma área de deficiência: auditiva, física, intelectual ou visual - Rede de Atenção Psicossocial : A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), criada pela Portaria GM/MS no 3.088/2011, tem o objetivo de acolher e acompanhar as pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas no âmbito do SUS. CONDIÇÕES DE SAÚDE Tradicionalmente, trabalha-se em saúde com uma divisão entre doenças transmissíveis e doenças crônicas não transmissíveis. Essa tipologia, talhada na perspectiva da etiopatogenia, é largamente utilizada, em especial, pela epidemiologia. É verdade que essa tipologia tem sido muito útil nos estudos epidemiológicos, mas, por outro lado, ela não se presta para referenciar a organização dos sistemas de atenção à saúde. A razão é simples: do ponto de vista da resposta social aos problemas de saúde, o objeto dos sistemas de atenção à saúde, certas doenças transmissíveis, pelo longo período de seu curso, estão mais próximas da lógica de enfrentamento das doenças crônicas que das doenças transmissíveis de curso rápido. Além disso, é uma tipologia que se assenta no conceito de doença e exclui outras condições que não são doenças, mas que exigem uma resposta social adequada dos sistemas de atenção à saúde. Por tudo isso, tem sido considerada uma nova categorização, com base no conceito de condição de saúde, desenvolvida, inicialmente, por teóricos ligados ao modelo de atenção crônica. (VON KORFF et al., 1997; HOLMAN et al., 2011; LORIG et al., 2006), e depois acolhida pela Organização Mundial da Saúde (2003): as condições agudas e as condições crônicas. A categoria condição de saúde é fundamental na atenção à saúde porque, conforme assinalam Porter e Teisberg (2007), só se agrega valor para as pessoas nos sistemas de atenção à saúde quando se enfrenta uma condição de saúde por meio de um ciclo completo de atendimento. As condições de saúde podem ser de nidas como as circunstâncias na saúde das pessoas que se apresentam de forma mais ou menos persistentes e que exigem respostas sociais reativas ou proativas, episódicas ou contínuas e fragmentadas ou integradas, dos sistemas de atenção à saúde, dos pro ssionais de saúde e das pessoas usuárias. Ademais, condição de saúde vai além de doenças por incorporar certos estados fisiológicos, como a gravidez, e os acompanhamentos dos ciclos de vida, como o acompanhamento das crianças (puericultura), o acompanhamento dos adolescentes (hebicultura) e o acompanhamento das pessoas idosas que não são doenças, mas são condições de saúde de responsabilidade dos sistemas de atenção à saúde. Essa tipologia está orientada, principalmente, por algumas variáveis-chave contidas no conceito de condição de saúde: primeira, o tempo de duração da condição de saúde, breve ou longo; segunda, a forma de enfrentamento pelos pro ssionais de saúde, pelo sistema de atenção à saúde e pelas pessoas usuárias, se episódica, reativa e feita com foco nas doenças e na queixa-conduta, ou se contínua, proativa e realizada com foco nas pessoas e nas famílias por meio de cuidados, mais ou menos permanentes, contidos num plano de cuidado elaborado conjuntamente pela equipe de saúde e pelas pessoas usuárias. As condições agudas As condições agudas, em geral, apresentam um curso curto, inferior a três meses de duração, e tendem a se autolimitar (VON KORFF et al., 1997; SINGH, 2008). Comumente, são manifestações de doenças transmissíveis de curso curto, como dengue e gripe, ou de doenças infecciosas, também de curso curto, como apendicite, ou de causas externas, como os traumas. As doenças infecciosas de longo curso, como tuberculose, hanseníase, HIV/Aids são consideradas condições crônicas. Os ciclosde evolução das condições agudas e crônicas são muito diferentes. As condições agudas, em geral, iniciam-se repentinamente; apresentam uma causa simples e facilmente diagnosticada; são de curta duração; e respondem bem a tratamentos específicos, como os tratamentos medicamentosos ou as cirurgias. Existe, tanto para os médicos quanto para as pessoas usuárias, uma incerteza relativamente pequena. O ciclo típico de uma condição aguda é sentir-se mal por algum tempo, ser tratado. A atenção às condições agudas depende dos conhecimentos e das experiências profissionais, fundamentalmente dos médicos, para diagnosticar e prescrever o tratamento correto. Tome-se, como exemplo de condição aguda, uma apendicite. Ela começa rapidamente, com queixas de náusea e dor no abdômen. O diagnóstico, feito no exame médico, leva a uma cirurgia para remoção do apêndice. “Segue-se um período de convalescença e, depois, em geral, a pessoa volta à vida normal com a saúde restabelecida” (LORIG et al., 2006). Condição crônica O ciclo de evolução das condições crônicas têm um período de duração mais ou menos longo, superior a três meses, e nos casos de algumas doenças crônicas, tendem a se apresentar de forma de nitiva e permanente (VON KORFF et al., 1997; SINGH, 2008). As condições crônicas, especialmente as doenças crônicas, iniciam e evoluem lentamente. Usualmente, apresentam múltiplas causas que variam no tempo, incluindo hereditariedade, estilos de vida, exposição a fatores ambientais e a fatores fisiológicos. Normalmente, faltam padrões regulares ou previsíveis para as condições crônicas. Ao contrário das condições agudas nas quais, em geral, pode-se esperar uma recuperação adequada, às condições crônicas levam a mais sintomas e à perda de capacidade funcional. Cada sintoma pode levar a outros, num ciclo vicioso dos sintomas: condição crônica leva à tensão muscular que leva à dor que leva a estresse e ansiedade que leva a problemas emocionais que leva à depressão que leva à fadiga que realimenta a condição crônica (LORIG et al., 2006). Muitas condições agudas podem evoluir para condições crônicas, como certos traumas que deixam sequelas de longa duração, determinando algum tipo de incapacidade que exigirá cuidados, mais ou menos permanentes, do sistema de atenção à saúde. É o caso de certos problemas motores pós-traumáticos. Por outro lado, as condições crônicas podem apresentar períodos de agudização e, nesses momentos discretos, devem ser enfrentadas pelo sistema de atenção à saúde, na mesma lógica episódica e reativa das condições agudas, o campo das redes de atenção às urgências e às emergências. As condições crônicas vão, portanto, muito além das doenças crônicas (diabetes, doenças cardiovasculares, cânceres, doenças respiratórias crônicas, etc.), ao envolverem doenças infecciosas persistentes (hanseníase, tuberculose, HIV/ Aids, doenças respiratórias crônicas, etc.), condições ligadas à maternidade e ao período perinatal (acompanhamento das gestantes e atenção perinatal, às puérperas e aos recém-natos); condições ligadas à manutenção da saúde por ciclos de vida (puericultura, hebicultura e senicultura); distúrbios mentais de longo prazo; de ciências físicas e estruturais contínuas (amputações, cegueiras, de ciências motoras persistentes, etc.); doenças metabólicas; doenças bucais; as condições de saúde caracterizadas como enfermidades (illnesses) em que há sofrimento, mas não doenças que se inscrevam nos padrões biomédicos. Se, de um lado, as condições agudas manifestam-se inequivocamente por eventos agudos, percebidos subjetiva e/ou objetivamente, as condições crônicas podem apresentar, em determinados períodos de sua história, eventos agudos, também percebidos objetiva ou subjetivamente, muitas vezes causados pelo mau manejo dessas condições crônicas, especialmente na APS. Por exemplo, manifestações de emergências hipertensivas. Portanto, os eventos agudos são diferentes de condições agudas e é comum que ocorram, também, nas condições crônicas. As condições agudas manifestam-se, em geral, por eventos agudos; as condições crônicas, também, podem se manifestar, em momentos episódicos e de forma exuberante, sob a forma de eventos agudos. O cuidado das condições agudas A lógica da organização das respostas dos sistemas de atenção à saúde às condições agudas e, também, aos eventos agudos, decorrentes de agudizações das condições crônicas é identificar, no menor tempo possível, com base em sinais de alerta, a gravidade de uma pessoa em situação de urgência ou emergência e de nir o ponto de atenção adequado para aquela situação, considerando-se, como variável crítica, o tempo de atenção requerido pelo risco classi cado, ou seja, o tempo-resposta do sistema. Isso implica adotar um modelo de classificação de risco nas redes de atenção à urgência e emergência. O enfrentamento da organização do sistema de atenção à saúde, para responder às necessidades impostas pelas condições agudas e pelos eventos agudos das condições crônicas, implica, na perspectiva das Redes de Atenção à Saúde (RAS), a construção de uma linguagem que permeia todo o sistema, estabelecendo o melhor local para a resposta a uma determinada situação. As experiências mundiais vêm mostrando que essa linguagem estrutura se em diretrizes clínicas codi cadas num sistema de classificação de risco, como base de uma rede de atenção às urgências e às emergências (CORDEIRO JÚNIOR, 2008). Os modelos de triagem em urgências e emergências apresentam grande variação, de acordo com as várias experiências, mas têm em comum uma triagem de risco. Há modelos que utilizam de dois a cinco níveis de gravidade, sendo os últimos os mais aceitos. Os modelos de triagem mais avançados e que passaram a ter uma concepção sistêmica, ou seja, são utilizados por uma rede de serviços, são: o modelo australiano (Australasian TriageScale – ATS), o modelo pioneiro e que usa tempos de espera de acordo com gravidade; o modelo canadense (Canadian Triage Acuity Scale – CTAS) que é muito semelhante ao modelo australiano, mas é mais complexo; o modelo americano (Emergency Severity Index – ESI) que trabalha com um único algoritmo e que se foca mais na necessidade de recursos para o atendimento; o modelo de Andorra (Model Andorràdel Trialge – MAT) que se baseia em sintomas, discriminantes e algoritmos, mas é de uso complexo e demorado; e o Sistema Manchester de Classi cação de risco que opera com algoritmos e determinantes, associados a tempos de espera simbolizados por cores e que é usado em vários países da Europa (CORDEIRO JÚNIOR, 2008). A classificação de riscos é fundamental para organizar a rede de atenção às urgências e às emergências , em razão dos riscos, o local certo para a atenção e o tempo-resposta do sistema de atenção à saúde. O sistema de classificação de risco de Manchester, ainda que desenvolvido para utilização em pontos de atenção secundários e terciários, especialmente hospitalares, tem sido aplicado na Atenção Primária à Saúde – APS, em diferentes lugares, no SUS. O sistema Manchester de classificação de risco apresenta várias características: uma escala em cinco níveis, uma utilização ampla em vários países, é baseado em categorias de sintomas, em discriminantes-chave e em algoritmos clínicos e apresenta um tempo de execução curto. Esse sistema apresenta alguns critérios de validade: ele garante critérios uniformes ao longo do tempo e com diferentes equipes de saúde; ele acaba com a triagem sem fundamentação cientí ca; ele pode ser feito por médicos e enfermeiros; ele garante a segurança das pessoas usuárias e dos pro ssionais de saúde; ele é rápido; e ele pode ser auditado (CORDEIRO JÚNIOR, 2008). A aplicação do sistema Manchester de classificação de risco nas unidades de APS tem provocado resultados muito positivos, especialmente na redução das filas de espera para o atendimento. Além disso, tem sido muito bem avaliada pela população. A organização dos serviços de urgência e emergência foi pensada, internacional e nacionalmente, a partir do hospital e com apoiode um sistema de logística que propicia às pessoas chegarem ao hospital mais próximo, no menor tempo possível. Tem sido, por consequência, uma organização instituída numa lógica hospitalocêntrica. É o que se manifestou, no Brasil, numa organização do sistema de atenção às urgências e às emergências em atenção pré-hospitalar, móvel, atenção hospitalar e atenção pós-hospitalar. Essa concepção tem um problema porque não considerou a APS como um ponto de atenção fundamental das urgências menores. A introdução da APS como um ponto de atenção à saúde fundamental nas redes de atenção às urgências e às emergências é uma condição para se organizar esse sistema. Se isso não é feito, não se retiram as urgências menores dos hospitais e essa é uma das causas das longas filas e das macas nos corredores, o que torna impossível organizar a atenção hospitalar às urgências maiores. A organização do sistema de atenção às urgências e às emergências na perspectiva de Rede de Atenção à Saúde – RAS e a valorização da APS como um ponto de atenção dessa rede – o que inclui classi car risco nas unidades de cuidados primários e adensa-las para atender às urgências menores e para fazer o primeiro atendimento das urgências maiores, impõe-se para dar e cácia ao atendimento das condições e eventos agudos. A lógica de um modelo de atenção às condições agudas, representada na Figura 2, está na classi cação de risco de uma pessoa em situação de urgência para que, a partir do risco de nido, se estabeleçam o tempo-resposta e o local adequado do atendimento que poderá ser um hospital, em seus diferentes tipos, uma Unidade de Pronto Atendimento – UPA ou a APS. O cuidado das condições crônicas Os modelos de atenção às condições crônicas são modelos muito mais complexos, em que a variável-chave não é o tempo-resposta em função dos riscos. A melhoria da saúde das pessoas portadoras de condições crônicas requer transformar um sistema de atenção à saúde que é essencialmente fragmentado, reativo e episódico, respondendo às demandas de condições e eventos agudos, focado na doença, em um outro sistema que seja proativo, integrado, contínuo, focado na pessoa e na família e voltado para a promoção e a manutenção da saúde. Isso exige O CUIDADO DAS CONDIÇÕES CRÔNICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE. Não somente determinar que atenção à saúde seja necessária, mas de nir papéis e tarefas para assegurar que as pessoas usuárias tenham uma atenção estruturada, planejada e provida por uma equipe multipro ssional. Signi ca introduzir novas formas de atenção que vão além da consulta presencial face a face, como atenção compartilhada a grupo, atenção contínua, atenção por pares e atenção à distância. Requer, também, um monitoramento padronizado e regular, para que as pessoas usuárias não sejam abandonadas depois de deixar uma unidade de saúde. Há que se buscar o incremento dos atendimentos previamente programados em relação aos não programados, feitos por demanda espontânea. As pessoas portadoras de condições de saúde de maiores riscos e complexidades necessitam de cuidados mais intensivos. A alfabetização sanitária e a sensibilidade cultural são dois conceitos centrais na atenção à saúde. Os prestadores de serviços de saúde devem responder efetivamente às diversidades culturais das pessoas usuárias. As decisões clínicas devem ser tomadas com base em diretrizes clínicas construídas com base em evidências científicas. As diretrizes clínicas necessitam ser discutidas com as pessoas usuárias de forma que possam compreender melhor a atenção à saúde prestada. Os profissionais de saúde devem ser permanentemente educados para que estejam em dia com as novas evidências, o que exige métodos educacionais que substituam a educação continuada tradicional e permitam mudar os comportamentos desses profissionais. Para mudar as práticas, as diretrizes clínicas devem estar integradas com sistemas de lembretes, de alertas e de feedbacks ofertados em tempo real. O envolvimento de especialistas como suporte às equipes de APS, para o cuidado das pessoas portadoras de condições crônicas de maiores riscos ou complexidades, é fundamental (WAGNER, 2002). No nível 1, as intervenções são de promoção da saúde, em relação à população total e com foco nos determinantes sociais intermediários. O modo de intervenção é por meio de projetos intersetoriais que articulem, no espaço micro, ações de serviços de saúde com ações de melhoria habitacional, de geração de emprego e renda, de ampliação do acesso ao saneamento básico, de melhoria educacional, melhoria na infraestrutura urbana, etc. Os projetos intersetoriais geram sinergias entre as diferentes políticas públicas, produzindo resultados positivos na saúde da população . No nível 2, as intervenções são de prevenção das condições de saúde e com foco nos determinantes proximais da saúde ligados aos comportamentos e aos estilos de vida. Utiliza-se a expressão prevenção das condições de saúde e não prevenção das doenças, porque se podem prevenir condições de saúde, como gravidez nas mulheres e incapacidade funcional das pessoas idosas, que não são doenças. Esses determinantes são considerados fatores de risco modificáveis e são potenciados pelos determinantes sociais intermediários e distais. Os mais importantes são o tabagismo, a alimentação inadequada, a inatividade física, o excesso de peso e o uso excessivo de álcool. Até o segundo nível, não há uma condição de saúde estabelecida ou a manifestação de um fator de risco biopsicológico, à exceção dos riscos por idade ou gênero. Somente a partir do nível 3 é que se vai operar com um fator de risco biopsicológico e/ou com uma condição de saúde cuja gravidade, expressa na complexidade, convoca intervenções diferenciadas do sistema de atenção à saúde. Por isso, as intervenções relativas às condições de saúde estabelecidas implicam a estrati cação dos riscos. Os níveis 3, 4 e 5 estão vinculados aos indivíduos com suas características de idade, sexo, fatores hereditários e fatores de risco biopsicológicos. As intervenções são predominantemente clínicas, operadas por tecnologias de gestão da clínica, a partir da gestão baseada na população. Aqui é o campo privilegiado da clínica no seu sentido mais estrito. A partir do nível 3, exige-se a de nição de subpopulações recortadas segundo a estrati cação de riscos da condição de saúde. No nível 3, estruturam-se as intervenções sobre os fatores de risco biopsicológicos como idade, gênero, hereditariedade, hipertensão arterial, dislipidemias, depressão, pré-diabetes e outros. Ademais, vai-se operar com subpopulações da população total que apresentam uma condição crônica simples, de baixo ou médio risco, em geral prevalente na grande maioria dos portadores da condição de saúde, por meio da tecnologia de gestão da condição de saúde. A estrati cação dos riscos de cada condição crônica é feita nas linhas-guia respectivas (por exemplo, hipertensão de baixo, médio, alto e muito alto risco ou gestante de risco habitual e gestante de alto risco). Ainda que os níveis 3 e 4 sejam enfrentados pela mesma tecnologia de gestão da condição de saúde, a lógica da divisão em dois níveis explica-se pela linha transversal que cruza o Modelo, representada na Figura 3, e que expressa uma divisão na natureza da atenção à saúde prestada às pessoas usuárias. Isso decorre de evidências Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde da pirâmide de risco que demonstram que 70% a 80% dos portadores de condições crônicas de baixo ou médio risco são atendidos, principalmente, por tecnologias de autocuidado apoiado, com baixa concentração de cuidados pro ssionais. Assim, no nível 3, vai-se operar principalmente por meio das intervenções de autocuidado apoiado, ofertadas por uma equipe da APS, com ênfase na atenção multipro ssional; já no nível 4, opera-se equilibradamente entre o autocuidado apoiado e o cuidado pro ssional e, nesse nível é que se necessita de uma atenção cooperativa dos generalistas da APS e dos especialistas. O nível 5 destina-se à atençãoàs condições crônicas muito complexas e que estão, também, relacionadas nas linhas guia das respectivas condições de saúde. Essas condições muito complexas são aquelas previstas na lei da concentração dos gastos e da severidade das condições de saúde que de ne que uma parte pequena de uma população, em razão da gravidade de suas condições de saúde, determina os maiores dispêndios dos sistemas de atenção à saúde. Além disso, e principalmente, são as pessoas que mais sofrem. Por isso, as necessidades dessas pessoas convocam uma tecnologia específica de gestão da clínica, a gestão de caso. Há, aqui, uma alta concentração de cuidado pro ssional. Um gestor de caso (um enfermeiro, um assistente social ou uma pequena equipe de saúde) deve coordenar a atenção recebida pela pessoa em todos os pontos de atenção à saúde e nos sistemas de apoio, ao longo do tempo (MENDES, 2007). VIGILÂNCIA EM SAÚDE A PNVS é definida como uma política pública de Estado e função essencial do SUS, de caráter universal, transversal e orientadora do modelo de atenção à saúde nos territórios. Sua efetivação depende de seu fortalecimento e articulação com outras instâncias do sistema de saúde, enquanto sua gestão é de responsabilidade exclusiva do poder público. ● Art. 2º A Política Nacional de Vigilância em Saúde é uma política pública de Estado e função essencial do SUS, tendo caráter universal, transversal e orientador do modelo de atenção nos territórios, sendo a sua gestão de responsabilidade exclusiva do poder público. ● Art. 3º - Parágrafo único. A análise de situação de saúde e as ações laboratoriais são atividades transversais e essenciais no processo de trabalho da Vigilância em Saúde. ● Art. 4º - Parágrafo único. A PNVS deve contribuir para a integralidade na atenção à saúde, o que pressupõe a inserção de ações de vigilância em saúde em todas as instâncias e pontos da Rede de Atenção à Saúde do SUS, mediante articulação e construção conjunta de protocolos, linhas de cuidado e matriciamento da saúde, bem como na definição das estratégias e dispositivos de organização e fluxos da rede de atenção. ● Art. 5º - A PNVS deverá contemplar toda a população em território nacional, priorizando, entretanto, territórios, pessoas e grupos em situação de maior risco e vulnerabilidade, na perspectiva de superar desigualdades sociais e de saúde e de buscar a equidade na atenção, incluindo intervenções intersetoriais. ● Parágrafo único. Os riscos e as vulnerabilidades de que trata o caput devem ser identificadas e definidas a partir da análise da situação de saúde local e regional e do diálogo com a comunidade, trabalhadores e trabalhadoras e outros atores sociais, considerando-se as especificidades e singularidades culturais e sociais de seus respectivos territórios. Abrangência Art. 2º - Parágrafo 2. A PNVS incide sobre todos os níveis e formas de atenção à saúde, abrangendo todos os serviços de saúde públicos e privados, além de estabelecimentos relacionados à produção e circulação de bens de consumo e tecnologias que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde. Composição Art. 3º A PNVS compreende a articulação dos saberes, processos e práticas relacionados à vigilância epidemiológica, vigilância em saúde ambiental, vigilância em saúde do trabalhador e vigilância sanitária e alinha-se com o conjunto de políticas de saúde no âmbito do SUS, considerando a transversalidade das ações de vigilância em saúde sobre a determinação do processo saúde doença. Finalidade Art. 4º A PNVS tem como finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados pelas três esferas de gestão do SUS, para o desenvolvimento da vigilância em saúde, visando a promoção e a proteção da saúde e a prevenção de doenças e agravos, bem como a redução da morbimortalidade, vulnerabilidades e riscos decorrentes das dinâmicas de produção e consumo nos territórios. Definições Art. 2º - Parágrafo 1. Entende-se por Vigilância em Saúde o processo contínuo e sistemático de coleta, consolidação, análise de dados e disseminação de informações sobre eventos relacionados à saúde, visando o planejamento e a implementação de medidas de saúde pública, incluindo a regulação, intervenção e atuação em condicionantes e determinantes da saúde, para a proteção e promoção da saúde da população, prevenção e controle de riscos, agravos e doenças. Art. 6º - Para efeito desta Política serão utilizadas as seguintes definições: I – Ações laboratoriais: aquelas que propiciam o conhecimento e a investigação diagnóstica de doenças e agravos e a verificação da qualidade de produtos de interesse de saúde pública e do padrão de conformidade de amostras ambientais, mediante estudo, pesquisa e análises de ensaios relacionados aos riscos epidemiológicos, sanitários, ambientais e do processo produtivo. II – Ações de promoção da saúde: estimular a promoção da saúde como parte da integralidade do cuidado na Rede de Atenção à Saúde, articuladas com as demais redes de proteção social, abrangendo atividades voltadas para adoção de práticas sociais e de saúde centradas na equidade, na participação e no controle social, para o favorecimento da mobilidade humana e a acessibilidade e promovendo a cultura da paz em comunidades, territórios e municípios. III – Análise de situação de saúde: ações de monitoramento contínuo da situação de saúde da população do País, Estado, Região, Município ou áreas de abrangência de equipes de atenção à saúde, por estudos e análises que identifiquem e expliquem problemas de saúde e o comportamento dos principais indicadores de saúde, contribuindo para um planejamento de saúde abrangente. IV – Centro de Informação e Assistência Toxicológica: Estabelecimento de saúde ou serviço de referência em Toxicologia Clínica com atuação em regime de plantão permanente, podendo prestar atendimento via teleatendimento exclusivo ou via teleatendimento e presencial, provendo informações toxicológicas aos profissionais da saúde, à população e a instituições, relativas a intoxicações agudas e crônicas e acidentes com animais peçonhentos. V – Emergência em saúde pública: situação que demanda o emprego urgente de medidas de prevenção, controle e contenção de riscos, danos e agravos à saúde pública. VI – Integralidade da atenção: um conjunto articulado de ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema. Deve compreender o acesso às ações, serviços e produtos seguros e eficazes, indispensáveis para as necessidades de saúde da população, objetivando promover a qualidade de vida e reduzir a vulnerabilidade e os riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes. VII – Linha de Cuidado (LC): uma forma de articulação de recursos e das práticas de produção de saúde, orientadas por diretrizes clínicas, entre as unidades de atenção de uma dada região de saúde, para a condução oportuna, ágil e singular, dos usuários pelas possibilidades de diagnóstico e terapia, em resposta às necessidades epidemiológicas de maior relevância. VIII – Modelo de Atenção à Saúde: sistema lógico que organiza o funcionamento das redes de atenção à saúde, articulando, de forma singular, as relações entre os componentes da rede e as intervenções sanitárias, definido em função da visão prevalecente da saúde, das situações demográfica e epidemiológica e dos determinantes sociais da saúde, vigentes em determinado tempo e em determinada sociedade. IX – Rede de Atenção à Saúde: arranjos organizativos de ações e serviços de saúde, de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas técnico, logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado. X – Vigilância em saúde ambiental: conjunto de ações e serviços que propiciam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que interferem na saúde humana, com a finalidade de recomendar e adotar medidas de promoção à saúde, prevenção e monitoramento dos fatores deriscos relacionados às doenças ou agravos à saúde. XI – Vigilância em saúde do trabalhador e da trabalhadora: conjunto de ações que visam promoção da saúde, prevenção da morbimortalidade e redução de riscos e vulnerabilidades na população trabalhadora, por meio da integração de ações que intervenham nas doenças e agravos e seus determinantes decorrentes dos modelos de desenvolvimento, de processos produtivos e de trabalho. XII – Vigilância epidemiológica: conjunto de ações que proporcionam o conhecimento e a detecção de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças, transmissíveis e não-transmissíveis, e agravos à saúde. XIII – Vigilância sanitária: conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços do interesse da saúde. Abrange a prestação de serviços e o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo e descarte. XIV – Vulnerabilidade: designa tanto os processos geradores quanto as características das populações e territórios que possuem maiores dificuldades em absorver os impactos decorrentes de diferentes e variados graus de eventos de risco XV – Risco: Compreende a probabilidade de ocorrência de evento adverso ou inesperado, que cause doença, danos à saúde ou morte em um ou mais membros da população, em determinado lugar, num dado período de tempo. Princípios Art. 7º A PNVS tem como princípios: I – Conhecimento do território: utilização da epidemiologia e da avaliação de risco para a definição de prioridades nos processos de planejamento, alocação de recursos e orientação programática. II – Integralidade: Articulação das ações de vigilância em saúde com as demais ações e serviços desenvolvidos e ofertados no SUS para garantir a integralidade da atenção à saúde da população. III – Descentralização político-administrativa, com direção única em cada esfera de governo. IV – Inserção da vigilância em saúde no processo de regionalização das ações e serviços de saúde. V – Equidade: Identificação dos condicionantes e determinantes de saúde no território, atuandode forma compartilhada com outros setores envolvidos. VI – Universalidade: Acesso universal e contínuo a ações e serviços de vigilância em saúde, integrados a rede de atenção à saúde, promovendo a corresponsabilização pela atenção às necessidades de saúde dos usuários e da coletividade. VII – Participação da comunidade de forma a ampliar sua autonomia, emancipação e envolvimento na construção da consciência sanitária, na organização e orientação dos serviços de saúde e no exercício do controle social. VIII – Cooperação e articulação intra e intersetorial para ampliar a atuação sobre determinantes e condicionantes da saúde. IX – Garantia do direito das pessoas e da sociedade às informações geradas pela Vigilância em Saúde, respeitadas as limitações éticas e legais. X – Organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idênticos. Diretrizes Art. 8º A PNVS tem as seguintes diretrizes: I – Articular e pactuar responsabilidades das três esferas de governo, consonante com os princípios do SUS, respeitando a diversidade e especificidade locorregional. II – Abranger ações voltadas à saúde pública, com intervenções individuais ou coletivas, prestadas por serviços de vigilância sanitária, epidemiológica, em saúde ambiental e em saúde do trabalhador, em todos os pontos de atenção. III – Construir práticas de gestão e de trabalho que assegurem a integralidade do cuidado, coma inserção das ações de vigilância em saúde em toda a Rede de Atenção à Saúde e em especial na Atenção Primária, como coordenadora do cuidado. IV – Integrar as práticas e processos de trabalho das vigilâncias epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental e em saúde do trabalhador e da trabalhadora e dos laboratórios de saúde pública, preservando suas especificidades, compartilhando saberes e tecnologias, promovendo o trabalho multiprofissional e interdisciplinar. V – Promover a cooperação e o intercâmbio técnico científico no âmbito nacional e internacional. VI – Atuar na gestão de risco por meio de estratégias para identificação, planejamento, intervenção, regulação, comunicação, monitoramento de riscos, doenças e agravos. VII – Detectar, monitorar e responder às emergências em saúde pública, observando o Regulamento Sanitário Internacional, e promover estratégias para implementação, manutenção e fortalecimento das capacidades básicas de vigilância em saúde. VIII – Produzir evidências a partir da análise da situação da saúde da população de forma a fortalecer a gestão e as práticas em saúde coletiva. IX – Avaliar o impacto de novas tecnologias e serviços relacionados à saúde de forma a prevenir riscos e eventos adversos. Estratégias para organização Art. 9º As estratégias para organização da Vigilância em Saúde devem contemplar: I – A articulação entre as vigilâncias, que pressupõe: 1. a) planejamento conjunto entre as vigilâncias, com identificação de prioridades para atuação integrada, com base na análise da situação de saúde, e no mapeamento das atividades de produção, consumo e infraestrutura e com potencial impacto no território. 2. b) produção conjunta, sempre que necessário, de protocolos, instrumentos, normas técnicas e atos normativos, com harmonização de parâmetros e indicadores no desenvolvimento das ações de vigilância. 3. c) harmonização e, no que couber, unificação dos instrumentos de registro e notificação de doenças, agravos e eventos de interesse comum aos componentes da vigilância. 4. d) proposição e produção de indicadores conjuntos para monitoramento e avaliação da situação de saúde. 5. e) investigação conjunta de surtos e eventos inusitados ou situação de saúde decorrentes de potenciais impactos ambientais de processos e atividades produtivas nos territórios, envolvendo as vigilâncias epidemiológica, sanitária, em saúde ambiental, em saúde do trabalhador e da trabalhadora e a rede de laboratórios de saúde pública. 6. f) produção conjunta de metodologias de ação, investigação, tecnologias de intervenção, monitoramento e avaliação das ações de vigilância. 7. g) revisão e harmonização dos códigos de saúde, com inserção de disposições sobre a vigilância em saúde e atribuição da competência de autoridade sanitária às equipes de vigilância em saúde, nos Estados, Municípios e Distrito Federal. II – Processos de trabalho integrados com a atenção à saúde, que devem: 1. a) ser pautados pelo conhecimento epidemiológico, sanitário, social, demográfico, ambiental, econômico, cultural, político, de produção, trabalho e consumo no território, e organizados em diversas situações. 2. b) considerar o planejamento integrado da atenção, que contempla as ações de vigilância e assistência à saúde, como ferramenta para a definição de prioridades comuns para atuação conjunta, tomando como base a análise da situação de saúde e a avaliação dos riscos e vulnerabilidades do território. 3. c) considerar a colaboração necessária para a integralidade em seus vários aspectos, a saber: integração das diversas ações e serviços que compõem a rede de atenção à saúde; articulação das ações de promoção e proteção à saúde, prevenção de doenças e agravos e do manejo das diversas tecnologias de cuidado e de gestão necessárias à detecção, prevenção, tratamento e reabilitação; nas demais responsabilidades específicas da vigilância em saúde, bem como a articulação intersetorial. III – A regionalização das ações e serviços de vigilância em saúde articuladas com a atenção em saúde no âmbito da região de saúde. IV – A inserção da vigilância em saúde na Rede de Atenção à Saúde (RAS), que deve contribuir para a construção de linhas de cuidado que agrupem doenças e agravos e determinantes de saúde,identificando riscos e situações de vulnerabilidade. V – O estímulo à participação da comunidade no controle social, o que pressupõe: 1. a) acolhimento e resposta às demandas dos representantes da comunidade e do controle social. 2. b) articulação com entidades, instituições, organizações não governamentais, associações, cooperativas e demais representações das comunidades presentes no território, inclusive as populações em situação de vulnerabilidade. 3. d) apoiar o funcionamento das Comissões Intersetoriais de Vigilância em Saúde dos Conselhos de Saúde, nas três esferas de gestão do SUS. 4. e) inclusão da comunidade e do controle social nos programas de capacitação e educação permanente em vigilância em saúde, sempre que possível, e inclusão de conteúdos de vigilância em saúde nos processos de capacitação permanente voltados para a comunidade e o controle social. 5. f) inclusão de grupos de populações em situação de vulnerabilidade, com vistas às ações de proteção e promoção da saúde. 6. g) assegurar o acesso às informações aos representantes da comunidade e do controle social. VI – A gestão do trabalho, o desenvolvimento e a educação permanente, o que pressupõe: 1. a) estar em consonância com as necessidades locais de modo a qualificar os profissionais de vigilância e de todos os níveis de atenção. 2. b) a adoção de estratégias para a progressiva desprecarização dos vínculos de trabalho das equipes de vigilância em saúde, que exercem função típica de Estado, nas três esferas de gestão do SUS, mediante concurso público. 3. c) a valorização dos trabalhadores e das trabalhadoras por meio de planos de cargos, carreiras e salários que contemplem, dentre outros, o regime de dedicação exclusiva a que estão expostos os trabalhadores de vigilância em saúde, por determinação legal. 4. d) investimento na qualificação e capacitação integradas das equipes dos diversos componentes da vigilância em saúde, com incorporação de conteúdos específicos, comuns e afins, nos processos formativos e nas estratégias de educação permanente de todos os componentes da Vigilância em Saúde. 5. e) inserção de conteúdos de vigilância em saúde nos diversos processos formativos e estratégias de educação permanente, cursos e capacitações, para profissionais de nível superior e nível médio, com destaque àqueles destinados às equipes de Vigilância em Saúde, à Saúde da Família e aos gestores. 6. f) articulação intersetorial com Ministérios e Secretarias de Governo, especialmente com o Ministério da Educação, para fins de inclusão de conteúdos temáticos de vigilância em saúde nos currículos do ensino fundamental e médio, da rede pública e privada, em cursos de graduação e de programas específicos de pós-graduação em sentido amplo e estrito, possibilitando a articulação ensino, pesquisa e extensão. 7. g) apoio à capacitação voltada para os interesses do movimento social e controle social, em consonância com as ações e diretrizes estratégicas do SUS e com a legislação vigente. VII – Apoio ao desenvolvimento de estudos e pesquisas, o que pressupõe: 1. a) articulação estreita entre os serviços e instituições de pesquisa e universidades, com envolvimento de toda a rede de serviços do SUS na construção de saberes, normas, protocolos, tecnologias e ferramentas, voltadas à produção de respostas aos problemas e necessidades identificadas pelos serviços, profissionais, comunidade e controle social. 2. b) articulação, quando necessário, com organismos internacionais de saúde para o desenvolvimento de estudos e pesquisas. 3. c) adoção de critérios epidemiológicos e de relevância social para a identificação e definição das linhas de investigação, estudos e pesquisas, de modo a fornecer respostas e subsídios técnico-científicos para o enfrentamento de problemas prioritários no contexto da vigilância em saúde. 4. d) desenvolvimento de projetos de pesquisa-intervenção que possam ser estruturantes para a vigilância em saúde que resultem em produção de tecnologias de intervenção em problemas prioritários para cada território. 5. e) definição de linhas prioritárias de pesquisa para a produção de conhecimento e de respostas às questões teórico-conceituais do campo da vigilância em saúde, incluindo os grupos populacionais em vulnerabilidade e as doenças negligenciadas, de modo a preencher lacunas e produzir modelos teóricos que contribuam para a melhoria da promoção, da vigilância e da proteção à saúde. 6. f) estabelecimento de mecanismos que garantam a participação da comunidade no desenvolvimento dos estudos e pesquisas, incluindo a divulgação e aplicação dos seus resultados. 7. g) observância dos preceitos éticos no desenvolvimento de estudos e pesquisas realizados no âmbito da rede de serviços do SUS, mediante a participação dos Comitês de Ética em Pesquisa nesses processos. VIII – Sistemas de informação integrados com potencialidade para a coleta, consolidação, análise de dados e a geração e disseminação de informações que contribuem para aprimorar e consolidar a gestão da Vigilância em Saúde, notadamente nas atividades de planejamento, monitoramento e avaliação, em tempo oportuno. IX – A comunicação, que desempenha as seguintes funções: 1. a) o alerta de risco sanitário, que consiste na divulgação de informações sobre a ocorrência de eventos com potencial de risco à saúde, com detalhada descrição da situação, de cuidados e medidas necessários à redução ou eliminação do risco. Pode ser direcionada a determinados grupos populacionais ou à população em geral. Objetiva a mudança imediata de comportamentos individuais ou a implementação de medidas de caráter coletivo. Exige a utilização de diferentes veículos de comunicação de forma a atingir, em tempo oportuno, o público-alvo. 2. b) a comunicação do risco, que consiste em um processo interativo de troca de informação e opiniões entre indivíduos, grupos e instituições, relativa a acontecimentos ou situações que ameaçam a saúde humana ou a segurança dos indivíduos ou das comunidades. Deve ser oportuno e transparente na veiculação de informação veiculada no decurso do processo de comunicação do risco em saúde, no que se refere à natureza, magnitude, significância e medidas de controle do risco. 3. c) a disponibilização de material técnico-científico, voltado para a disseminação do conhecimento, de dados, informações, normativas, com o objetivo de aperfeiçoamento das ações voltadas para a Vigilância em Saúde. Deve ser uma ação de rotina, sempre atualizada, dirigida para públicos específicos e utilizando os meios mais adequados para alcançar sua finalidade. 4. d) a mobilização social, por meio da disseminação de informações, dados, análise de situação de saúde, entre outras ações, com o objetivo de possibilitar a ampliação do comprometimento da população com a eliminação ou redução dos riscos à saúde. X – Respostas, de forma oportuna e proporcional, às emergências em saúde pública, com o estabelecimento de plano de resposta, a ser elaborado por cada esfera de gestão, considerando as vulnerabilidades do seu território e cenários de risco. Na resposta à emergência em saúde pública, é necessária uma atuação coordenada entre as diversas organizações governamentais e não governamentais envolvidas, articulando e organizando o esforço para a minimização de seus efeitos. XI – O planejamento, a programação e a execução de ações de vigilância em saúde, que devem ter como base a análise da situação de saúde, identificando os fatores condicionantes e determinantes, as necessidades de saúde no território, o grau e a forma de urbanização, produção, consumo e trabalho, as diferenças socioeconômicas, culturais e ambientais, entre outras, que interferem no risco de ocorrência de várias doenças e agravos. XII – O monitoramento e a avaliação devem ser utilizados nas três esferas de governo como ferramentas capazes de identificar problemas e possibilitar a revisão das estratégias definidas. Responsabilidades compartilhadas Art. 10 São responsabilidades da União, dos Estados, do Distrito Federale dos Municípios, em seu âmbito administrativo, além de outras que sejam pactuadas pelas Comissões Intergestores: I – assegurar a oferta de ações e de serviços de vigilância em saúde, considerando o âmbito regional. II – garantir a transparência, a integralidade e a equidade no acesso às ações e aos serviços de Vigilância em Saúde. III – orientar e ordenar os fl uxos das ações e dos serviços de vigilância em saúde. IV – monitoraro acesso às ações e aos serviços de vigilância em saúde. V – estabelecer e garantir a articulação sistemática entre os diversos setores responsáveis pelas políticas públicas, para analisar os diversos problemas que afetam a saúde e pactuar agenda prioritária de ações intersetoriais. VI – desenvolver estratégias para identificar situações que resultem em risco ou produção de agravos à saúde, adotando e ou fazendo adotar medidas de controle quando necessário. VII – promover a formação e capacitação em vigilância em saúde para os profissionais de saúde do SUS, respeitadas as diretrizes da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde, bem como estimular a parceria entre os órgãos e instituições pertinentes para formação e capacitação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, em consonância com a legislação vigente. VIII – elaborar, em seu âmbito de competência, perfil epidemiológico, a partir de fontes de informação existentes e de estudos específicos, com vistas a subsidiar a programação e avaliação das ações de atenção à saúde. XIX – promover, fortalecer e articular a atuação dos Centros de Informação e Assistência Toxicológica no apoio técnico a profissionais de saúde e a pessoas expostas ou intoxicadas por substâncias químicas e medicamentos ou acidentes com animais peçonhentos. RESPONSABILIDADES DA UNIÃO Art. 11 São responsabilidades da União, e compete ao Ministério da Saúde, por intermédio da Secretaria de Vigilância em Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a gestão da vigilância em saúde no âmbito da União, compreendendo: I – coordenar, em âmbito nacional: 1. a) a implementação da Política Nacional de Vigilância em Saúde. 2. b) a formulação de diretrizes e prioridades em vigilância em saúde no âmbito nacional, em consonância com esta política e de forma articulada com as demais esferas de governo. 3. c) as ações de vigilância em saúde, com ênfase naquelas que exigem simultaneidade nacional ou regional. 4. d) as ações de monitoramento da qualidade e segurança dos bens, produtos e serviços sujeitos à vigilância sanitária. 5. e) as ações de laboratório necessárias para a vigilância em saúde. 6. f) as ações de promoção da saúde. 7. g) programas estratégicos nacionais voltados à atuação da vigilância em saúde. 8. h) as ações de vigilância em saúde, nas emergências em saúde pública de importância nacional e internacional, em consonância com o Regulamento Sanitário Internacional, bem como cooperação com Estados, Distrito Federal e Municípios em situação de emergências em saúde pública, quando pertinente. II – conduzir as negociações nas instâncias do SUS, visando inserir ações, metas e indicadores de vigilância em saúde no Plano Nacional de Saúde e na Programação Anual de Saúde, a partir de planejamento estratégico em consonância com esta política. III – participar do financiamento das ações de vigilância em saúde, alocando recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política. IV – desenvolver estratégias visando o fortalecimento da participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, incluindo o apoio e fortalecimento da Comissão Intersetorial de Vigilância em Saúde do Conselho Nacional de Saúde (CIVS/CNS); V – apoiar tecnicamente as Secretarias de Saúde dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na implementação e execução da Política Nacional de Vigilância em Saúde. VI – promover a incorporação de ações e procedimentos de vigilância em saúde junto à Rede de Atenção à Saúde, considerando os diferentes níveis de complexidade, tendo como centro ordenador a Atenção Primária em Saúde. VII – monitorar, em conjunto com as Secretarias de Saúde Estaduais, Municipais e do Distrito Federal, os indicadores pactuados para avaliação das ações e serviços de vigilância em saúde. VIII – implementar a gestão dos sistemas nacionais de informação de interesse da vigilância em saúde. IX – estabelecer rotinas de sistematização, processamento, análise e divulgação dos dados gerados nos Municípios e nos Estados a partir dos sistemas de informação em saúde. X – elaborar normas pertinentes à vigilância em saúde. XI – regular, controlar, avaliar e fiscalizar procedimentos, produtos, substâncias e serviços de saúde e de interesse para a saúde. XII – promover a harmonização dos procedimentos sanitários no âmbito da vigilância sanitária. XIII – executar as ações de vigilância em saúde de forma complementar à atuação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, podendo atuar de forma suplementar no âmbito da vigilância sanitária. XIV – executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo ser compartilhada com Estados, Distrito Federal e Municípios. XV – promover a cooperação e o intercâmbio técnico-científico com organismos governamentais e não governamentais, de âmbito nacional e internacional, na área de vigilância em saúde. XVI – promover e realizar estudos, pesquisas e avaliação de tecnologias que contribuam para o aperfeiçoamento das ações e incorporação de inovações na área de vigilância em saúde. XVII – promover e desenvolver estratégias que contribuam para a participação e o controle social em vigilância em saúde. XIX – desenvolver estratégias e implementação de ações de educação, comunicação e mobilização social referente à vigilância em saúde. XX – conduzir a revisão periódica da Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de Saúde Pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional. XXI – prover os insumos estratégicos conforme termos pactuados na Comissão Intergestores Tripartite (CIT). XXII – gerir os estoques nacionais de insumos estratégicos, de interesse da vigilância em saúde. XXIII – regular, monitorar, avaliar e auditar as ações e serviços de vigilância em saúde, no âmbito de sua competência. RESPONSABILIDADES DOS ESTADOS E DO DF Art. 12 São responsabilidades dos Estados, e compete às Secretarias de Saúde, a gestão da vigilância em saúde no âmbito estadual, compreendendo: I – coordenar, em âmbito estadual: 1. a) a implementação da Política Nacional de Vigilância em Saúde. 2. b) definição de prioridades com base nas políticas e diretrizes na área de vigilância, no âmbito de seus limites territoriais. 3. b) as ações relacionadas a esta política, com ênfase naquelas que exigem simultaneidade estadual, regional e municipal. 4. e) ações de vigilância, nas emergências em saúde pública de importância estadual, bem como cooperação com Municípios em situação de emergências em saúde pública de importância municipal, quando indicado e com outras unidades federadas quando solicitado. II – coordenar e executar, em âmbito estadual: 1. a) as ações laboratoriais, sob sua competência, necessárias para a vigilância em saúde, de forma articulada com a Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública. 2. b) programas estratégicos estaduais voltados à atuação da vigilância em saúde. III – conduzir as negociações nas instâncias estaduais do SUS, visando inserir ações, metas e indicadores de vigilância em saúde no Plano Estadual de Saúde e na Programação Anual de Saúde. IV – participar do financiamento das ações de vigilância em saúde, alocando recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política. V – desenvolver estratégias visando o fortalecimento da participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, incluindo a criação, o apoio e o fortalecimento de comissões de vigilância em saúde nos Conselhos Estaduais de Saúde. VI – apoiar tecnicamente e atuar de forma integrada com as SecretariasMunicipais de Saúde na implementação das ações de vigilância em saúde. VII – organizar as ações de vigilância em saúde nas regiões de saúde, considerando os diferentes níveis de complexidade, tendo como centro ordenador a Atenção Primária em Saúde, definindo, em conjunto com os municípios, e de forma articulada com a União, os mecanismos e os fluxos de referência, contra-referência e de apoio matricial, além de outras medidas, para assegurar o desenvolvimento de ações de vigilância em saúde. VIII – realizar a pactuação regional e estadual das ações e dos indicadores de vigilância em saúde. IX – elaborar normas pertinentes à vigilância em saúde complementar à disciplina nacional. X – regular, controlar, avaliar e fi scalizar procedimentos, produtos, substâncias e serviços de saúde e de interesse para a saúde. XI – executar as ações de vigilância de forma complementar a atuação dos Municípios. XII – colaborar com a União na execução das ações sob vigilância sanitária de Portos, Aeroportos e Fronteiras, conforme pactuação tripartite. XIII – monitorar e avaliar as ações de vigilância em seu âmbito territorial, bem como regular e auditar as ações e a prestação de serviços de vigilância em saúde, no âmbito de sua competência. XIV – implementar a gestão dos sistemas de informação de interesse da vigilância em seu âmbito territorial. XV – monitorar, em conjunto com as Secretarias Municipais de Saúde, os indicadores pactuados para avaliação das ações e serviços de vigilância em saúde. XVI – promover e desenvolver ações e estratégias que contribuam para a participação e o controle social em vigilância em saúde. XVII – promover a cooperação e o intercâmbio técnico científico com organismos governamentais e não governamentais, de âmbito estadual, nacional e internacional. XVIII – implementar, na Rede de Atenção à Saúde do SUS, e na rede privada, o registro de doenças e agravos de notificação compulsória, inclusive aqueles relacionados ao trabalho, assim como de outros dados pertinentes à vigilância em saúde no conjunto dos sistemas de informação em saúde. XIX – desenvolver estratégias e implementação de ações de educação, comunicação e mobilização social referente à vigilância em saúde. XX – definir e executar projetos especiais em questões de interesse locorregional, em conjunto com as equipes municipais, quando e onde couber. XXI – prover os insumos estratégicos conforme termos pactuados nas Comissões Intergestores Tripartite e Bipartite. XXII – gerir os estoques estaduais de insumos estratégicos de interesse da vigilância em saúde. RESPONSABILIDADES DOS MUNICÍPIOS E DO DF Art. 13 São responsabilidades dos Municípios, e compete às Secretarias de Saúde, a gestão da vigilância em saúde no âmbito municipal, compreendendo: I – coordenar em âmbito municipal a implementação da Política Nacional de Vigilância em Saúde: II – coordenar e executar, em âmbito municipal: 1. a) as ações e serviços de vigilância em saúde sob sua competência. 2. b) as ações de laboratório sob sua competência, necessárias para a vigilância em saúde, de forma articulada com a Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública. 3. c) os programas estratégicos municipais voltados a atuação da vigilância em saúde. 4. d) as ações de vigilância, nas situações de emergências em saúde pública de importância municipal. III – participar da pactuação regional e estadual das ações e dos indicadores de vigilância em saúde. IV – conduzir as negociações nas instâncias municipais do SUS, visando inserir ações, metas e indicadores de vigilância em saúde no Plano Municipal de Saúde e na Programação Anual de Saúde, a partir de planejamento estratégico que considere a Política Nacional de Vigilância em Saúde. V – pactuar e alocar recursos orçamentários e financeiros para a implementação da Política Nacional de Vigilância em Saúde. VI – desenvolver estratégias visando o fortalecimento da participação da comunidade, dos trabalhadores e do controle social, incluindo a criação, o apoio e o fortalecimento de comissões de vigilância em saúde nos Conselhos Municipais de Saúde. VII – elaborar normas pertinentes à vigilância em saúde complementares às disciplinas estadual e nacional. VIII – regular, controlar, avaliar e fiscalizar procedimentos, produtos, substâncias e serviços de saúde e de interesse para a saúde. IX – colaborar com a União na execução das ações sob vigilância sanitária de Portos, Aeroportos e Fronteiras, conforme pactuação tripartite. X – monitorar e avaliar as ações de vigilância em seu território, incluindo os indicadores pactuados para avaliação das ações de vigilância em saúde. XI – implementar a gestão e a alimentação, no âmbito municipal, dos sistemas de informação de interesse da vigilância. XII – promover a cooperação e o intercâmbio técnico-científico com organismos governamentais e não governamentais de âmbito municipal, intermunicipal, estadual, nacional e internacional. XIII – participar, em conjunto com o Estado e com a União, da definição dos mecanismos e dos fluxos de referência, contra-referência e de apoio matricial, além de outras medidas, para assegurar o desenvolvimento de ações de promoção, vigilância e assistência. XIV – articular-se regionalmente para integrar a organização, o planejamento e a execução de ações e serviços de saúde quando da identificação de problemas e prioridades comuns. XV – implementar, na Rede de Atenção à Saúde do SUS, e na rede privada, o registro de doenças e agravos de notificação compulsória, inclusive aqueles relacionados ao trabalho, assim como de outros dados pertinentes à vigilância em saúde no conjunto dos sistemas de informação em saúde. XVI – desenvolver estratégias e implementação de ações de educação, comunicação e mobilização social referentes à vigilância em saúde. XVII – monitorar e avaliar as ações de vigilância em seu território, bem como regular, e auditar as ações e a prestação de serviços em vigilância em saúde, no âmbito de sua competência. XVIII – prover insumos estratégicos, conforme termos pactuados nas Comissões Intergestores Tripartite e Bipartite. XIX – gerir o estoque municipal de insumos de interesse da vigilância em saúde. XX – participar do financiamento das ações de vigilância em saúde, alocando recursos orçamentários e financeiros para a implementação desta Política. XXI – promover e desenvolver ações e estratégias que contribuam para a participação e o controle social em vigilância em saúde. Monitoramento e avaliação Art. 15 As metas e os indicadores para avaliação e monitoramento da Política Nacional de Vigilância em Saúde devem estar contidos nos instrumentos de gestão definidos pelo sistema de planejamento do SUS: I – Planos de Saúde; II – Programações Anuais de Saúde; e III – Relatórios Anuais de Gestão. ● §1º O planejamento estratégico deve contemplar ações, metas e indicadores de promoção e proteção da saúde, de prevenção de doenças e redução da morbimortalidade, vulnerabilidades e riscos nos moldes de uma atuação permanentemente articulada e sistêmica. ● §2º Os conselhos de saúde devem ser protagonistas no processo de avaliação e monitoramento da PNVS. Financiamento Art. 16 O financiamento das ações da vigilância em saúde, garantido de forma tripartite, deve ser específico, permanente, crescente e sufi ciente para assegurar os recursos e tecnologias necessários ao cumprimento do papel institucional das três esferas de gestão, bem como deve contribuir para o aperfeiçoamento e melhoria da qualidade de suas ações. SISTEMA DE INFORMAÇÃO EM SAÚDE 1. Sinasc O Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) foi implantado oficialmente a partir de 1990, com o objetivo de coletar dados sobre os nascimentos ocorridos em todo o território nacional e fornecer informações sobre natalidade para todos os níveis do Sistema de Saúde. A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS) é gestora do SINASC no Nível Nacional, sendo de sua responsabilidade, mais especificamente da Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) e do Departamento deAnálise em Saúde e Vigilância das Doenças Não Transmissíveis (DASNT), as alterações de layout bem como providências para impressão e distribuição dos formulários de Declaração de Nascido Vivo (DN) e dos manuais do Sistema. A implantação do SINASC ocorreu de forma gradual em todas as Unidades da Federação e já vem apresentando em muitos municípios, desde o ano de 1994, um número maior de registros do que o publicado pelo IBGE com base nos dados de Cartórios de Registro Civil. O Sistema possibilita, também, a construção de indicadores úteis para o planejamento de gestão dos serviços de saúde. Como são coletados os dados que alimentam o SINASC O documento padrão de uso obrigatório em todo o território nacional e essencial à coleta de dados de nascidos vivos no Brasil é a DECLARAÇÃO DE NASCIDOS VIVOS (DN), considerado como documento hábil para os fins do Art. 51 da Lei nº 6.015/1973, para a lavratura da Certidão de Nascimento pelo Cartório de Registro Civil (Art. 11 da Portaria nº 116 MS/SVS/2009) e do inciso IV do Art. 10 da Lei nº 8.069/1990. A DN é impressa e preenchida em três vias pré-numeradas sequencialmente. Sua emissão e distribuição para os estados são de competência exclusiva do Ministério da Saúde. A distribuição para os municípios fica a cargo das Secretarias Estaduais de Saúde. Às Secretarias Municipais de Saúde cabe o controle na distribuição das DN entre os estabelecimentos de saúde e Cartórios do Registro Civil. Além disso, a Portaria nº 116 MS/SVS/2009 prevê também a distribuição de formulários para profissionais de saúde e parteiras tradicionais (estas apenas quando reconhecidas e vinculadas a unidade de saúde), que realizem atendimento a parto domiciliar, mediante cadastramento e controle da Secretaria Municipal de Saúde. Como são obtidos e processados os dados do SINASC As DN são preenchidas pelos profissionais de saúde, ou parteiras tradicionais responsáveis pela assistência ao parto ou ao recém-nascido (reconhecidas e vinculadas a unidades de saúde), no caso dos partos hospitalares ou domiciliares com assistência e recolhidas, regularmente, pelas Secretarias Municipais de Saúde. Nas Secretarias Municipais de Saúde, as DN são digitadas, processadas, criticadas e consolidadas no SINASC local. Em seguida, os dados informados pelos municípios sobre os nascimentos no nível local são transferidos à base de dados do nível estadual que os agrega e os envia ao nível federal. Tais transferências são realizadas via WEB (internet) e ocorrem, simultaneamente, nos três níveis de gestão. NascidosVivos No nível federal, a SVS/MS - gestora do SINASC - conta, na sua estrutura funcional, com a Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE). Subordinada ao Departamento de Análise em Saúde e Vigilância das Doenças Não Transmissíveis (DASNT), a CGIAE trata da análise, avaliação e distribuição das informações sobre o SINASC, agregando-as por Unidade da Federação, e elaborando relatórios analíticos, painéis de indicadores e outros instrumentos estatísticos de informações sobre natalidade que são disseminados para todo o país. A importância dos dados do SINASC para a gestão em Saúde O Ministério da Saúde, através da CGIAE/DASNT/SVS, incentiva os gestores municipais e estaduais a fazerem uso do potencial de dados contido no SINASC, para a formulação de indicadores epidemiológicos como instrumentos estratégicos de suporte ao planejamento das ações, atividades e programas voltados à gestão em saúde. O nascimento é um dos eventos vitais e seu monitoramento pode contribuir para o conhecimento da situação de saúde de uma população e para a avaliação de políticas e ações de vigilância e atenção à saúde na área da saúde materno-infantil. O acesso às informações sobre natalidade estão disponível nos seguintes endereços e formas: O Sinasc dispõe de um ambiente de compartilhamento de informações on-line com diversas utilidades e aplicações. Abaixo, algumas delas: ● Declaração de nascido vivo informatizada; ● Geração de arquivos de dados em várias extensões para análises em outros aplicativos; ● Retroalimentação das informações ocorridas em municípios diferentes da residência do indivíduo; ● Controle de distribuição das declarações de nascido vivo (Municipal, Regional, Estadual e Federal); ● Transmissão de dados automatizada utilizando a ferramenta Sisnet gerando a tramitação dos dados de forma ágil e segura entre os níveis municipal > estadual > federal; ● Backup on-line dos níveis de instalação (Municipal, Regional e Estadual); ● Entre outras funcionalidades. ● O acesso a este ambiente é restrito a pessoas cadastradas, para garantir a confidencialidade dos dados pessoais dos envolvidos nos registros. O Ministério da Saúde é responsável por cadastrar gestores estaduais. Os gestores estaduais são responsáveis pelo cadastro de novos usuários estaduais, e usuários regionais e municipais. E os gestores municipais fazem o cadastramento de outros usuários municipais. Cada um com acessos limitados às suas áreas de responsabilidade. O cadastro deve ser obtido mediante contato com estes interlocutores, e assinatura de termo de responsabilidade. 1.2 Sinan O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) foi desenvolvido entre 1990 e 1993, e regulamentado em 1998, por meio da portaria n°1.882/97, tornando obrigatória a alimentação regular da base de dados nacional pelos municípios, estados e Distrito Federal. Este sistema é alimentado, principalmente, pela notificação e investigação de casos de doenças e agravos que constam na lista nacional de doenças de notificação compulsória, conforme a portaria nº 1.061, de 18 de maio de 2020, mas é facultado a estados e municípios incluir outros problemas de saúde importantes em sua região. A entrada de dados ocorre pela utilização de formulários padronizados para a notificação e investigação dos casos de doenças e agravos de interesse nacional. A Ficha Individual de Notificação é preenchida pelas unidades assistenciais para cada paciente quando da suspeita da ocorrência de problema de saúde de notificação compulsória ou de interesse nacional, estadual ou municipal, e contém os atributos comuns a todos os agravos, tais como, dados gerais sobre o agravo e unidade notificadora, dados do paciente (nome, idade, sexo, escolaridade, etc.) e dados de residência do paciente. Ela deve ser utilizada para registro de notificação negativa, notificação individual por agravo, notificação de surto e de Inquérito de Tracoma. O registro da notificação no Sinan é realizado por meio de dois módulos: ● Individual/Investigação - agravos compulsórios e agravos de interesse nacional que apresentam a Ficha de Notificação e de Investigação padronizados pela Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS); ● Individual/Conclusão - agravos de interesse estadual e municipal que apresentam a Ficha de Notificação e o módulo de conclusão. A versão vigente do sistema, denominada de Sinan NET, foi desenvolvida para permitir maior flexibilidade na operacionalização e o uso desde a Unidade Básica de Saúde (UBS). No entanto, dadas as condições estruturais dessas UBS e algumas situações das secretarias municipais, o sistema possibilitou a operacionalização a partir de outras esferas de gestão administrativa como a Regional de Saúde ou diretamente da Secretaria de Saúde do Estado, dando mais flexibilidade aos gestores locais e tornando o sistema adaptável a cada situação estrutural. As notificações e investigações de casos de doenças e agravos de notificação compulsória registrados no Sinan NET geram uma tabela única que armazena as notificações de todos os agravos, e uma tabela para cada agravo, que armazena dados das investigações, compondo o banco de dados do Sinan NET. O Sinan Net possui um recurso que disponibiliza a opção de gerar o arquivo de transferência, configurado para ser transmitido ou não pelo Sisnet. O fluxo correto dos lotes de um nível ao outro depende dessa configuração no Sinan NET. Desde a implantação da versão NET, em janeirode 2007, o sistema sofreu algumas modificações e correções. Ao final de 2010 foi apresentada uma versão online do sistema de informação, no entanto seu desempenho não atendeu às expectativas e o modelo de desenvolvimento não foi totalmente adequado às exigências do Sistema Único de Saúde (SUS), principalmente em relação à gestão das bases locais. Diante disso, o projeto foi interrompido e atualmente o sistema permanece em vigência apenas para a notificação de registros de Febre de Chikungunya e Dengue. A base de dados do Sinan contém informações relevantes e constantemente utilizadas para a avaliação local, municipal e nacional da Vigilância Epidemiológica. Sua utilização plena possibilita a obtenção dos dados indispensáveis ao cálculo dos principais indicadores necessários para o monitoramento das doenças e agravos de notificação compulsória, gerando instrumentos para a formulação e avaliação das políticas, planos e programas de saúde, subsidiando o processo de tomada de decisões e contribuindo para a melhoria da situação de saúde da população. 1.3 e-SUS Notifica O sistema e-SUS Notifica foi lançado em 27 de março de 2020 para receber notificações de Síndrome Gripal (SG) suspeita e confirmada de Covid-19 no Brasil. Trata-se de um sistema online com infraestrutura de alta performance a fim de garantir agilidade no processo de notificação. Por ser online, possibilita que todos os níveis de gestão, profissionais e unidades de saúde tenham acesso em tempo real às notificações realizadas. Com o avanço da pandemia da Covid-19 no Brasil, junto ao aumento expressivo no volume de dados no e-SUS Notifica e com o objetivo de auxiliar no controle da epidemia no país, o sistema vem passando por várias modificações em prol de melhorias e adequações na operacionalização do processo de trabalho, inclusive a criação de diferentes módulos, além do primeiro módulo, o de ‘Notificação Covid-19’, tais como: ‘Internações SUS’, ‘Notificações EAPV’, ‘Dados de Vacinação’ e ‘Monitoramento de Contatos’. Neste sentido, a responsabilidade da gestão nacional do sistema é compartilhada entre três secretarias do Ministério da Saúde, a saber: Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), Secretaria de Atenção Especializada à Saúde (SAES) e Secretaria Executiva (SE). Assim, os módulos de ‘Notificação Covid-19’ e ‘Monitoramento de Contatos’ estão sob a gestão da SVS, mais especificamente da Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE). Os módulos de ‘Notificação EAPV’ (Eventos Adversos Pós Vacinais de Covid-19) e ‘Dados de Vacinação’ são de responsabilidade também da SVS, mas especificamente da Coordenação Geral do Programa Nacional de Imunizações (CGPNI). E o módulo de ‘Internações SUS’ é de responsabilidade da SAES. Vale destacar que a SE, por meio do Departamento de Informática do SUS (DATASUS), tem a corresponsabilidade em todos os módulos do sistema. O DATASUS disponibiliza uma equipe de suporte para auxiliar o usuário no esclarecimento de dúvidas. O suporte é realizado por meio do e-mail esusve.suporte@saude.gov.br Além disso, foi criada a página Wiki do e-SUS Notifica em que são compartilhadas informações gerais e dúvidas específicas sobre o sistema e seus módulos. e-SUS Notifica - Módulo de ‘Notificação Covid-19’ Este módulo foi implementado devido à pandemia de Covid-19 para auxiliar a vigilância epidemiológica na identificação e monitoramento dos casos no território, bem como das demais autoridades sanitárias. Nele, devem ser registrados todos os casos leves de Síndrome Gripal (SG) suspeito ou confirmado de Covid-19, além dos resultados individuais de todos os testes laboratoriais com resultado positivo ou negativo para Covid-19. Todo profissional e estabelecimento de saúde pode realizar notificações a que se destina o módulo, após cadastro prévio. O módulo foi constituído com a proposta de quatro perfis de acesso: autocadastro, gestor municipal, gestor estadual e gestor federal. O autocadastro visualiza somente os registros digitados pelo seu login de acesso e pode notificar e editar uma notificação realizada por ele mesmo, incluindo dados de identificação da pessoa, dados clínicos e dados de resultados de exames. Os gestores municipais e estaduais podem visualizar os registros digitados por usuários notificados e residentes em sua área de abrangência, além de poder notificar, editar e sobretudo encerrar uma notificação, incluindo informações sobre a classificação final, evolução do caso e data de encerramento. Os perfis de gestores municipal e estadual também podem autorizar novos usuários e habilitar perfis para seus territórios. Já o gestor federal visualiza os registros digitados por usuários de todo o território nacional e pode também habilitar qualquer outro perfil. Módulo de ‘Monitoramento de contatos: Em maio de 2021 foi lançado o módulo de ‘Monitoramento de contatos’, em que é possível monitorar indivíduos que tiveram contato com caso suspeito ou confirmado de Covid-19, e que foram registrados previamente no módulo ‘Notificação Covid-19’. O módulo objetiva rastrear e monitorar o maior número possível de contatos de pessoas que estiveram com caso suspeito ou confirmado de Covid-19 no período de transmissibilidade da doença, mesmo que ainda estejam assintomáticas. Nele, é possível registrar informações de identificação do contato como nome, CPF, telefones, e sobretudo especificar o tipo de relação do contato com o caso suspeito ou confirmado e data do último contato, de modo a possibilitar monitorar os contactantes no período de transmissibilidade e rastrear ou desencadear novas investigações. O acesso ao módulo pode ser permitido a todo profissional e estabelecimento de saúde habilitado no módulo pelo gestor municipal, permitindo monitorar os contatos após cadastro prévio. Os dados estão disponíveis aos gestores municipais e estaduais. O usuário encontrará os materiais técnicos, como ficha de notificação, instrutivo de preenchimento, dicionário de dados e tutorial de navegação do sistema e-SUS Notifica, módulo notificação. Os dados nominais estão disponíveis aos gestores municipais e estaduais e os dados abertos estão disponíveis ao cidadão no portal OpenDataSUS para download das planilhas em formato .csv disponibilizadas por Unidade Federada ou para consumo dos dados via API. 1.4 RESP-Microcefalia O Registro de Eventos em Saúde Pública foi desenvolvido com o objetivo de registrar as emergências de saúde pública, tendo em vista que as ações de vigilância relacionadas a esses eventos precisam ser realizadas com urgência, permitindo assim a consolidação, caracterização e enfrentamento oportuno frente à emergência. Em 2015, tendo em vista a alteração do padrão de ocorrência de microcefalia e/ou alterações do sistema nervoso central (SNC) associadas à infecção congênita pelo vírus Zika no Brasil, o Ministério da Saúde (MS) declarou a situação uma Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN), através da Portaria 1.813 de 11 de novembro de 2015. Em função da necessidade de se monitorar a ocorrência dos casos de microcefalia e alterações do SNC, o Ministério da Saúde, em parceria com o DATASUS, desenvolveu um formulário online no RESP, denominado RESP-Microcefalia. Atualmente, o conjunto de alterações de saúde causadas pelo vírus Zika é chamado de Síndrome Congênita associada à infecção pelo vírus Zika (SCZ) e o RESP-Microcefalia constitui o principal instrumento para a vigilância da SCZ no Brasil, onde casos suspeitos da doença continuam sendo notificados mesmo após o encerramento oficial do período epidêmico. A investigação destes casos e sua classificação final também ocorre através deste sistema, sendo realizadas por profissionais de saúde previamente cadastrados, O RESP-Microcefalia está, atualmente, sob a gestão da Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância das Doenças Não Transmissíveis (DASNT) da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) do Ministério da Saúde. Como são coletados os dados quealimentam o RESP-Microcefalia? Todos os casos suspeitos ou confirmados de SCZ devem ser notificados no RESP-Microcefalia, sendo que o acesso a este formulário online é livre, ou seja, qualquer pessoa pode notificar um caso suspeito, sendo ou não um profissional de saúde. No formulário, é possível a notificação de crianças, recém-nascidos, óbitos fetais/natimortos, abortos espontâneos, fetos suspeitos ou fetos em risco. Este instrumento é composto por 89 variáveis divididas em 10 blocos, nos quais são solicitadas informações relacionadas à identificação da gestante/mãe e do nascido-vivo, dados da gestação, dados clínicos e epidemiológicos, resultados de exames, evolução do caso para óbito, entre outras. Após o preenchimento e envio do formulário, os casos suspeitos de SCZ notificados aparecem “ativos” no sistema RESP-Microcefalia e são então investigados pelos profissionais de saúde para que obtenham uma classificação final, que pode ser confirmado, provável, inconclusivo, descartado ou excluído. Atualmente existem três diferentes perfis de acesso ao RESP-Microcefalia. Os usuários municipais, estaduais e federais são aqueles que editam os dados referentes a cada caso, podendo tanto qualificar as informações dos casos em sua esfera de atuação (município, estado, federação) quanto incluir novas informações com base na investigação e, posteriormente, fazer a classificação final destes casos. Os leitores municipais, estaduais e federais são aqueles usuários que apenas visualizam os dados, sem autorização para editá-los. Já os perfis de gestor estadual e federal são responsáveis por autorizar o acesso dos perfis acima citados. Como são obtidos e processados os dados do SIM RESP-Microcefalia? Para exportação da base de dados do RESP-Microcefalia, incluindo todos os casos notificados no sistema, foi desenvolvida uma ferramenta utilizando os conceitos de Business Intelligence (BI). Esta ferramenta online, chamada de BI-Microcefalia, também tem acesso controlado e restrito aos profissionais de saúde que atuam na vigilância da SCZ nas três esferas de governo (municipal, estadual e federal), sendo possível acessá-la através do seguinte endereço: http://ads.saude.gov.br/servlet/mstrWeb. Os usuários autorizados podem também analisar os dados a partir de relatórios específicos produzidos pelo próprio BI-Microcefalia. O acesso da população em geral ao banco de dados anonimizado do RESP-Microcefalia se dá através das plataformas TabNet e TabWin . Para mais informações sobre o uso do RESP-Microcefalia e do BI-Microcefalia acesse os documentos abaixo: ● Manual de Operação do RESP-Microcefalia e BI-Microcefalia (em fase de revisão). ● Dicionário de dados para o BI (disponível em pdf para inclusão no site). Importância do RESP-Microcefalia para a vigilância, assistência à saúde e pesquisa Os dados coletados através do sistema RESP-Microcefalia permitem que se atualize, periodicamente, o cenário epidemiológico da SCZ no país, e nas diferentes Unidades Federativas, auxiliando na identificação de regiões e locais que necessitam de ações mais robustas na área de assistência à saúde e assistência social e, consequentemente, fornecendo subsídios para a formulação de políticas públicas nestas áreas. Além disso, os dados deste sistema são uma importante fonte para pesquisas científicas que visam compreender a SCZ através de diferentes perspectivas e abordagens, considerando tanto os fatores associados com a ocorrência desta doença, quanto os desfechos associados à ela, por exemplo. A fim de orientar os profissionais de saúde sobre a vigilância da SCZ, bem como apresentar os dados desta vigilância, realizada através do RESP-Microcefalia, publicações técnico-científicas vêm sendo elaboradas: ● Guia de Vigilância 2020 (em diagramação – contém capítulo sobre a SCZ); ● Saúde Brasil Tradicional 2020 (em diagramação – contém capítulo sobre a SCZ). 1.5 SIM O Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM), desenvolvido pelo Ministério da Saúde em 1975, é resultado da unificação de mais de quarenta modelos de instrumentos utilizados, ao longo dos anos, para coletar dados sobre mortalidade no país. Possui variáveis que permitem, a partir da causa mortis atestada pelo médico, construir indicadores e processar análises epidemiológicas que contribuam para a eficiência da gestão em saúde. O SIM foi informatizado em 1979. Doze anos depois, com a implantação do SUS e sob a premissa da descentralização, a coleta de dados foi repassada à atribuição dos estados e municípios, através das suas respectivas Secretarias de Saúde. Com a finalidade de reunir dados quantitativos e qualitativos sobre óbitos ocorridos no Brasil, o SIM é considerado uma importante ferramenta de gestão na área da saúde que subsidia a tomada de decisão em diversas áreas da vigilância e assistência à saúde. No nível federal, sua gestão é de responsabilidade da Secretaria de Vigilância à Saúde. O SIM dispõe de um ambiente de compartilhamento de informações on-line com diversas utilidades e aplicações. O acesso a este ambiente é restrito às pessoas cadastradas, para garantir a confidencialidade dos dados pessoais dos envolvidos nos registros. Como são coletados os dados que alimentam o SIM? O documento básico e essencial à coleta de dados da mortalidade no Brasil é a DECLARAÇÃO DE ÓBITO (DO) que, consequentemente, alimenta o SIM. A responsabilidade na emissão da DO é do médico, conforme prevê o artigo 115 do Código de Ética Médica, Artigo 1º da Resolução nº 1779/2005 do Conselho Federal de Medicina e a Portaria SVS nº 116/2009. A DO deve ser enviada aos Cartórios de Registro Civil para liberação do sepultamento, bem como para a tomada de todas as medidas legais em relação à morte. A DO é impressa e preenchida em três vias pré-numeradas sequencialmente. Sua emissão e distribuição para os estados são de competência exclusiva do Ministério da Saúde. A distribuição para os municípios fica a cargo das Secretarias Estaduais de Saúde. Às Secretarias Municipais de Saúde cabe o controle na distribuição das DO entre os estabelecimentos de saúde, Institutos de Medicina Legal, Serviços de Verificação de Óbitos, Cartórios do Registro Civil, profissionais médicos e outras instituições que dela façam uso legal e permitido. Compete às Secretarias de Saúde (estaduais e municipais) o recolhimento das primeiras vias da DO, junto aos Estabelecimentos de Saúde e aos cartórios. Como são obtidos e processados os dados do SIM? A mais recente publicação sobre coleta de dados, fluxo e periodicidade de envio das informações acerca dos óbitos, e também dos nascidos vivos, para os Sistemas de Informações geridos pela Secretaria de Vigilância à Saúde é a Portaria SVS nº 116, de 11/02/2009. Esta Portaria revoga a Portaria SVS nº 20/2003. As DO são preenchidas pelas unidades notificantes do óbito (habitualmente no local de ocorrência do óbito) e recolhidas, regularmente, pelas Secretarias Municipais de Saúde (SMS). Nas SMS, as DO são digitadas, processadas, criticadas e consolidadas no SIM local. Em seguida, os dados informados pelos municípios sobre mortalidade no nível local são transferidos à base de dados do nível estadual que os agrega e os envia ao nível federal. Tais transferências são realizadas via WEB (internet) e ocorrem, simultaneamente, nos três níveis de gestão. No nível federal, a SVS - gestora do SIM - conta, na sua estrutura funcional, com a Coordenação Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE). Subordinada ao Departamento de Análise em Saúde e Vigilância das Doenças Não Transmissíveis (DASNT), a CGIAE trata da análise, avaliação e distribuição das informações sobre o SIM, agregando-as por Unidade da Federação, e elaborando relatórios analíticos, painéis de indicadores e outros instrumentos estatísticos de informações sobre mortalidade que são disseminados para todo o país. A importância dos dados do SIM para a gestão em Saúde O Ministério da Saúde, através da CGIAE/DASNT/SVS, incentiva os gestores municipais e estaduais a fazerem uso do potencial de dadoscontidos no SIM para a formulação de indicadores epidemiológicos como instrumentos estratégicos de suporte ao planejamento das ações, atividades e programas voltados à gestão em saúde. A redução da mortalidade por causas preveníveis ou evitáveis e a consequente melhoria na qualidade dos dados captados pelo SIM, inclusive em relação à ausência ou má definição de causas mortis são alguns dos resultados esperados com o uso desse sistema. Neste sentido, o Ministério da Saúde, por meio das áreas técnicas da SVS, vem atuando tanto na capacitação técnica de profissionais de saúde das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, como na disseminação de indicadores de mortalidade construídos a partir do SIM, gerando linhas de base que parametrizam muitas das diretrizes utilizadas na gestão tripartite do SUS. O SIM funciona como fonte de dados e de informações que subsidiam a tomada de decisão em diversas áreas da assistência à saúde. Isoladamente ou associado a outras fontes, como o Sistema de Informação Hospitalar, possui um bom grau de confiabilidade e permite a formulação de indicadores sobre mortalidade geral e específica usados, inclusive, pelo IDB (Indicadores e Dados Básicos de Saúde) definidos pela Rede Interagencial para a informação em Saúde (RIPSA). A título de exemplo, lista-se, a seguir, alguns dos indicadores específicos de mortalidade que podem ser construídos a partir do SIM: Em relação à Mortalidade Infantil: ● Taxa de mortalidade infantil; ● Taxa de mortalidade neonatal precoce; ● Taxa de mortalidade neonatal tardia; ● Taxa de mortalidade pós-neonatal; ● Taxa de mortalidade perinatal. Em relação à Mortalidade Específica: ● Taxa de mortalidade materna; ● Taxa de mortalidade proporcional por grupo de causas; ● Taxa de mortalidade proporcional por causas mal definidas; ● Taxa de mortalidade proporcional por doenças diarreicas agudas em menores de 5 anos; ● Taxa de mortalidade proporcional por doenças do aparelho circulatório; ● Taxa de mortalidade proporcional por causas externas; ● Taxa de mortalidade proporcional por neoplasias malignas; ● Taxa de mortalidade proporcional por acidente de trabalho; ● Taxa de mortalidade proporcional por diabetes mellitus; ● Taxa de mortalidade proporcional por cirrose hepática; ● Taxa de mortalidade proporcional por AIDS; ● Taxa de mortalidade proporcional por afecções originadas do período perinatal. Além desses exemplos, o SIM permite a formulação de indicadores de mortalidade por causas específicas de interesse à análise e avaliação dos sistemas locais, microrregionais, estaduais e nacional de saúde, possibilitando a comparação do perfil epidemiológico do Brasil com o de outros países, a partir de informações sobre mortalidade. O SIM vem sendo também muito utilizado como instrumento de pesquisa. O Ministério da Saúde coloca à disposição da comunidade dados conclusivos sobre os óbitos registrados desde 1979. Além desses acessos, a Coordenação-Geral de Informações e Análises Epidemiológicas (CGIAE) do Departamento de Análise de Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DASNT) - na Secretaria de Vigilância à Saúde está à disposição para disponibilizar tabulações especiais que não estejam disponíveis nos acessos informados. A confiabilidade dos dados informados no SIM O SIM foi avaliado pela OMS como um sistema de qualidade intermediária, em um estudo publicado em 2005, que analisou sistemas de mortalidade de vários países, adotando conceitos de qualidade alta, intermediária e baixa. Apenas 23 países alcançaram o conceito de alta qualidade. O Brasil ficou no mesmo bloco de países como França, Itália, Bélgica, Alemanha, Dinamarca, Rússia, Holanda, Suíça, entre outros que constituem o bloco dos países ricos. Os dados brasileiros avaliados pelo estudo supracitado antecedem às várias iniciativas adotadas pelo Ministério da Saúde a partir de 2005, visando ao aprimoramento da qualidade e da cobertura do SIM. Dentre estas iniciativas, destaques devem ser dados (1) ao projeto de redução da proporção de óbitos com causas mal definidas, (2) desenvolvimento de novos aplicativos informatizados, (3) administração de curso de formação e de capacitação para codificadores de causas básicas, dentre outros. Os resultados derivados das iniciativas de aprimoramento do SIM, adotadas pelo Ministério da Saúde, indicam melhoria na qualidade da informação sobre mortalidade no Brasil. A redução na proporção de óbitos por causas mal definidas; a diminuição na proporção de registros com campos ignorados ou em branco em diversas variáveis; a redução no intervalo de tempo entre a ocorrência de eventos, sua captação pelo sistema e a transferência para o Ministério da Saúde, são indicadores que revelam resultados inequívocos de qualidade do sistema. O SIM, com sua longa série histórica, de 1979 a 2009 é, certamente, um dos grandes bens públicos que o Brasil preserva. Motivo de orgulho para gestores, profissionais, cidadãos brasileiros que não medem esforços para torná-lo cada vez melhor, dando-lhe a necessária centralidade na agenda permanente do Sistema Único de Saúde (SUS). VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA A Vigilância Epidemiológica é definida pela Lei n° 8.080/90 como “um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. O objetivo principal é fornecer orientação técnica permanente para os profissionais de saúde, que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos fatores que a condicionam, numa área geográfica ou população definida. EDUCAÇÃO EM SAÚDE Inicialmente, deve-se localizar a temática da educação em saúde como um campo de disputas de projetos de sociedade e visões de mundo que se atualizam nas formas de conceber e organizar os discursos e as práticas relativas à educação no campo da saúde. Como nos lembra Cardoso de Melo (2007), para se compreender as concepções de educação em saúde é necessário buscar entender as concepções de educação, saúde e sociedade a elas subjacentes. De nossa parte, acrescentamos, também, a necessidade de se compreender essas concepções na interface com as concepções a respeito do trabalho em saúde e suas relações com os sujeitos do trabalho educativo. Neste verbete, educação, saúde e trabalho são compreendidos como práticas sociais que fazem parte do modo de produção da existência humana, precisando ser abordados historicamente como fenômenos constituintes - produtores, reprodutores ou transformadores - das relações sociais. Nas sociedades ocidentais, tem predominado a compreensão da educação como um ato normativo, no qual a prescrição e a instrumentalização são as práticas dominantes. Essa forma de conceber a educação, baseada numa pretensa objetividade e neutralidade do conhecimento, produzido pela razão cientificamente fundada, guarda correspondência com uma compreensão da saúde como fenômeno objetivo e produto de relações causais imediatamente apreensíveis pela ciência hegemônica no campo, a biologia. A busca por uma objetivação das ações humanas, fruto de um racionalismo de ímpeto controlador, tanto na educação quanto na saúde, acaba contribuindo para um processo de objetivação dos próprios sujeitos destas ações. Assim, o professor pode reduzir-se a um transmissor das informações, e o aluno, um seu correspondente, um mero receptor passivo das informações educativas. Por sua vez, o profissional de saúde pode tornar-se um operador de protocolos e condutas, e o ‘ doente’, um corpo onde se dá a doença e, conseqüentemente, o ato médico. Em geral, homens desempenhando um papel pré-defindo e apassivado nas relações professor-aluno e profissional de saúde-doente. Outros resultados não menos importantes desse processo são, no caso da educação,a adaptação dos educandos à realidade social apresentada como a ordem natural das coisas, como única forma de existência possível e racional; assim como, no caso do processo saúde-doença, a compreensão deste como o percurso natural do desenvolvimento da doença, seja esta compreendida como um fenômeno unicausal ou multicausal. Poderíamos situar o final do séc. XIX e o início do século XX como um momento histórico importante na construção de concepções e práticas de educação e saúde que tiveram em sua base a Higiene, enquanto um campo de conhecimentos que se articulam, produzindo uma forma de conceber, explicar e intervir sobre os problemas de saúde. Nesse momento histórico, a Higiene está fortemente associada à ideologia liberal, encontrando neste pensamento os seus fundamentos políticos. Destarte, a Higiene centrava-se nas responsabilidades individuais na produção da saúde e construía formas de intervenção caracterizadas como a prescrição de normas, voltadas para os mais diferentes âmbitos da vida social (casa, escola, família, trabalho), que deveriam ser incorporadas pelos indivíduos como meio de conservar a saúde. Arouca (2003), ressalta que a Higiene acaba por reduzir à aplicação de medidas higiênicas a solução dos problemas de saúde, que se constituem a partir das condições de existência. É nesse período que a filosofia da educação de John Dewey, formulada em estreito diálogo com a psicologia experimental e com o evolucionismo biológico, sofre grande apropriação pelo pensamento e pelas práticas de educação para a saúde. Muitos elementos merecem ser destacados do pensamento filosófico de Dewey, mas é a ênfase que este pensador atribui à primazia das características dos indivíduos para o desenvolvimento do processo educativo e o fato de tomar a construção de hábitos como um norte para a educação que são claramente identificáveis no que denominamos como educação sanitária. O desenvolvimento da educação sanitária, a partir dos EUA, deu-se de forma associada à saúde pública, tendo sido instrumento das ações de prevenção das doenças, caracterizando-se pela transmissão de conhecimento. Mesmo que realizada de forma massiva, como no caso das campanhas sanitárias no Brasil, a perspectiva não contemplava a dimensão histórico-social do processo saúde-doença. Cardoso de Melo (1976), no bojo do movimento pela Reforma Sanitária no Brasil, fez uma crítica severa aos efeitos do distanciamento da saúde pública em relação ao social, afirmando que “como o social não é considerado na prática da saúde pública, senão em perspectiva restrita, a educação passa a ser uma atividade paralela, tendo como finalidade auxiliar a efetivação dos objetivos eminentemente técnicos dos programas de saúde pública” (p. 13). Entretanto, numa perspectiva crítica, a educação parte da análise das realidades sociais, buscando revelar as suas características e as relações que as condicionam e determinam. Essa perspectiva pode ater-se à explicação das finalidades reprodutivistas dos processos educativos ou trabalhar no âmbito das suas contradições, buscando transformar estas finalidades, estabelecendo como meta a construção de sujeitos e de projetos societários transformadores. Da mesma forma, no campo da saúde, a compreensão do processo saúde-doença como expressão das condições objetivas de vida, isto é, como resultante das condições de “habitação, alimentação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde” (Brasil, 1986, p. 04) descortina a saúde e a doença como produções sociais, passíveis de ação e transformação, e aponta também para um plano coletivo e, não somente individual de intervenção. Essa forma de conceber a saúde tem sido caracterizada como um ‘conceito ampliado’, pois não reduz a saúde à ausência de doença, promovendo a idéia de que uma situação de vida saudável não se resolve somente com a garantia do acesso aos serviços de saúde – o que também é fundamental –, mas depende, sobretudo, da garantia de condições de vida dignas que, em conjunto, podem proporcionar a situação de saúde. Nesse sentido, são indissociáveis o conceito de saúde e a noção de direito social. Na interface da educação e da saúde, constituída com base no pensamento crítico sobre a realidade, torna-se possível pensar educação em saúde como formas do homem reunir e dispor recursos para intervir e transformar as condições objetivas, visando a alcançar a saúde como um direito socialmente conquistado, a partir da atuação individual e coletiva de sujeitos político-sociais. Quanto ao trabalho em saúde, a forma histórica hegemônica por ele assumida estruturou-se a partir da biomedicina, organizando o processo de trabalho de forma médico-centrada, caracterizando-se pela hierarquização, reproduzindo a divisão intelectual e social do trabalho e do saber em saúde. Dessa forma, a educação em saúde, produzida no âmbito dos serviços de saúde, esteve muito subordinada a esse modelo, assim como, as práticas de educação sanitária, dirigidas à sociedade em geral e suas instituições, reproduziram em larga escala o poder biomédico, tendo funcionado, muitas vezes, como braços do controle estatal sobre os indivíduos e as relações sociais. Stotz (1993), ao analisar os diferentes enfoques no campo da educação e saúde, coloca em evidência a predominância histórica do padrão médico na forma de conceber e organizar as atividades conhecidas pelo nome de educação sanitária. Esse padrão, que chamaremos de enfoque ou modelo biomédico, tornou-se alvo de intensas críticas, a partir da crise do sistema capitalista iniciada ao final da década de 60. Foram denunciadas, principalmente, a incapacidade do modelo biomédico de responder às necessidades de melhoria das condições de saúde da população; a medicalização dos problemas de caráter socioeconômicos; a iatrogenia; e o caráter corporativo da atuação dos profissionais. O autor relaciona as críticas dirigidas ao modelo biomédico às críticas feitas aos paradigmas do cientificismo, às idéias de neutralidade e atemporalidade da ciência concebida como universal. Nessa perspectiva histórica, Stotz localiza as mudanças ocorridas na década de 70, quando o Estado capitalista incorporou parte das propostas formuladas pelos movimentos críticos na área da saúde, mas o fez segundo seus objetivos de racionalização de custos. Esse mesmo autor, apoiado no trabalho de Tones (1987, apud Stotz, 1993), nos auxilia também a compreender as diferentes concepções que se constituíram, mais recentemente, nas formas de abordar a educação e saúde, definindo-as quanto ao seu objetivo, ao sujeito da ação, ao âmbito da ação, ao princípio orientador, à estratégia e ao pressuposto de eficácia. A seguir, reproduzimos o quadro no qual essas concepções são sistematizadas segundo esses critérios: Em relação aos critérios analisados, pode-se notar que o papel atribuído ao indivíduo e ao social varia entre essas concepções. Talvez seja em relação ao peso relativo atribuído a esses pólos (indivíduo e sociedade) que se possa melhor discriminar os projetos e as ações educativas desenvolvidas segundo essas concepções. Acrescentamos também a dimensão do Estado e o papel a ele atribuído na solução, na prevenção e na recuperação dos processos de saúde-doença, assim como, no desenvolvimento de projetos educativos no campo da saúde. Atualmente, considerando a importância adquirida pelo projeto de promoção da saúde, que busca capilarizar-se em várias dimensões da vida social (família, escola, comunidade) e individual (cuidados com o corpo, desenvolvimento de hábitos saudáveis), a discussão sobre as dimensões individuais e coletivas da saúde/doença torna-se oportuna e particularmente importante. O modelo da promoção, no qual a educação em saúde se apresenta como um dos seus eixos de sustentação, vê-se diante do desafio de não reproduzir, a partir da incorporação instrumental da categoria de risco e da ênfase na mudança de comportamento, a mesma redução operada pelo higienismo, queao responsabilizar o indivíduo pela reversão da sua dinâmica de adoecimento, acabou por culpabilizá-lo, esvaziando a compreensão da dimensão social do processo saúde/doença. No movimento constante em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) como projeto de um sistema universal, público, equânime, integral e democrático, encontra-se a necessidade de se buscar uma concepção da relação educação e saúde que se configura como resultado da ação política de indivíduos e da coletividade, com base no entendimento da saúde e da educação em suas múltiplas dimensões: social, ética, política, cultural e científica. Essa construção passa necessariamente pela redefinição do processo de trabalho em saúde e das atribuições e responsabilidades entre os trabalhadores, assim como, pela transformação do papel desempenhado por estes trabalhadores nos encontros com a população. Compreendendo a potencialidade educativa dos vários atos promovidos nas ações e nos serviços de saúde, pode-se compreender todos os trabalhadores da saúde como educadores, e estes, junto com a população atendida, sujeitos do processo de produção dos cuidados em saúde. A categoria práxis tem centralidade nessa perspectiva, uma vez que estabelece uma relação de continuidade e complementaridade entre a teoria e a prática, compreendendo o conhecimento e as técnicas como uma produção social, historicamente constituídos e implicados entre si, não-neutros, isto é, orientados por um projeto societário transformador. Nesse sentido, os sujeitos da ação-reflexão não são redutíveis a objeto e não são considerados senão nas suas várias dimensões, como sujeitos históricos, políticos e sociais. O potencial da educação como processo emancipatório, na interface com os movimentos sociais, tem na categoria de práxis social, criadora/transformadora da realidade, um aspecto central que está presente nas teses que permeiam o pensamento de Paulo Freire. Esse pensador exerceu forte influência no Movimento da Educação Popular em Saúde, na América Latina e, particularmente, no Brasil. São marcas da pedagogia freireana a concepção de processo ensino-aprendizagem como uma troca, como um processo dialógico entre educador e educando, que se dá numa realidade vivida. O conhecimento advém da reflexão crítica sobre essa realidade, construindo-se, ao mesmo tempo em que o homem vai se constituindo e se posicionando como um ser histórico. Nesse sentido, não cabem relações verticais entre educador e educando, ou a transferência de conhecimentos e a normatização de hábitos, que marcaram o pensamento hegemônico da educação sanitária no século passado e que ainda hoje estão presentes nas práticas educativas em saúde. Como campo de disputas, a educação em saúde é permeada por essas várias concepções que se enfrentam, ainda hoje, nas práticas dos diversos trabalhadores da saúde que realizam o SUS. Em certa medida, cumpre reforçar que não são somente perspectivas ou correntes educacionais ou sanitárias que se defrontam, mas formas de conceber os homens, a relação entre estes, as formas de organizar a sociedade e partilhar os bens por ela produzidos.