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AULA 12 - DIR FAMÍLIAS

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AULA 12 – PARENTESCO
1. Parentesco – noções introdutórias:
É a relação jurídica de Direto de Família que vincula 2 ou mais pessoas por laços de consanguinidade, afinidade, adoção ou afetividade.
O parentesco pode ser: 
· Consanguíneo;
· Afinidade;
· Adoção;
· Socioafetivo; 
Usamos, na linguagem coloquial, afinidade com sinônimo de afetividade. Todavia, para o direito, afinidade significa ter parentesco por afinidade, o que não implica, necessariamente, em afetividade. 
OBS: O parentesco socioafetivo não gera deveres obrigacionais Quanto ao parentesco socioafetivo, temos implicações recentes. 
Enunciado 256 CJF (Conselho da Justiça Federal): “A posse do estado de filho (parentalidade socioafetiva) constitui modalidade de parentesco civil”. 
Essa orientação não é súmula e, também, não é vinculante. Trata-se de uma recomendação.
Ex: A casado com B. 2 filhos ab e ba. A é bem rico. A morre. B, viúva, é tia e madrinha de cd. B resolve trazer cd para morar com a família, já que cd não possui tamanha condição financeira. Passam-se dez anos. B morre com cd já adulta e formada. cd, no inventário, diz: “ela me tratava como filha – B tinha para comigo estado de posse de filiação”. B não adotou cd e nem registrou, mas, de fato, tinha o tratamento de filha para com cd. Embora não haja previsão legal da relação de socioafetividade, o juiz competente poderá reconhecer tal relação de parentesco. 
Hoje, uma das principais discussões gira em torno da monetização do afeto, o que Camilo Colani não considera a solução ideal. Há uma imensa subjetividade no que tange à mensuração do afeto. A obrigação moral de dar afeto não deveria se confundir com uma obrigação civil de dar afeto. Sabemos, ademais, que o abandono parental ainda é bem presente na sociedade brasileira, bem como do número de pessoas que não apresentam o nome do pai no registro. Camilo Colani aponta para a necessidade de positivação normativa.
Ex: A casado com B. 2 filhos ab e ba. A morre. B, viúva, é tia e madrinha de cd. B morre 10 anos depois. ab e ba, no inventário, dizem: “B tinha para com cd estado de posse de filiação”. Aqui há uma solução mais pacífica da questão, uma vez que ab e ba reconhecem, de antemão, o direito de cd de participar do inventário.
2. Regras gerais de parentesco:
Art. 1591 – CC: São parentes em linha reta as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes. 
OBS: Este artigo explicita quais são os parentes na linha reta. 
	ASCENDENTES
	DESCENDENTES
	Pai (mãe)
Avô (avó)
Bisavô (bisavó)
Trisavô (trisavó)
	Filho/Filha
Neto/Neta
Bisneto/Bisneta
Trineto/Trineta
Art. 1592 – CC: São parentes em linha colateral ou transversal, até o quarto grau, as pessoas provenientes de um só tronco, sem descenderem uma da outra.
Transversal é sinônimo de colateral, assim como oblíquo.
Em síntese, são parentes em linha colateral/transversal/oblíquo: Irmãos, sobrinhos, tios, primos, tios-avós, sobrinhos-netos. 
Art. 1593 – CC: O parentesco natural ou civil, conforme resulte da consanguinidade ou outra origem. 
O parentesco natural é o consanguíneo. Todo aquele parentesco que não for natural (ex: afetividade, afinidade, adoção) é chamado de parentesco civil. 
A título de curiosidade, na língua inglesa chamamos cunhado de brother in law, sogra de mother in law, cunhada de brother in law, sogro de father in law e, assim sucessivamente.
 
Art. 1.594 – CC: Contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente.
Art. 1.595 – CC: Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.
§ 1 o O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro.
§ 2 o Na linha reta, a afinidade não se extingue com a dissolução do casamento ou da união estável. 
O art. 1595, caput, é um dos principais argumentos utilizados para sustentar a corrente de que o casamento não é um contrato, uma vez que o negócio jurídico concede uma margem de liberdade às partes. Logo, casamento seria uma instituição pela qual não se pode mexer. Camilo Colani discorda da visão do casamento enquanto instituição, contudo, considera válido tal argumento pautado no artigo supratranscrito. 
Consoante o art. 1595, § 1º, sobrinhos, tios e primos não são parentes por afinidades. 
O jogador Hulk se casou com a sobrinha da ex-mulher. Embora considerado “comedor de sobrinha” por alguns torcedores, Hulk não se casou com a sobrinha, uma vez que ela nada era dele. Ela era sobrinha da ex-cônjuge de Hulk. Logo, não houve casamento avuncular e não foi necessário o estudo técnico de viabilidade da prole. 
3. Filiação – presunção de paternidade:
Não é necessário se discutir a maternidade, uma vez que é só constatar quem pariu a criança. 
a) Princípio da igualdade entre os filhos:
Art. 1596 – CC: Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. 
Art. 227, § 6º - CF: 
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
O referido artigo do Código Civil mostra-se de extrema importância, já que outrora existia uma distinção entre “filho legítimo” e “filho ilegítimo”, bem como diferenças entre os direitos dos filhos adotivos e consanguíneos. 
Não cabe compensação de obrigação alimentícia – o que será estudado mais para frente do curso. 
Se a morte foi antes da CF/88, consoante a referida decisão, não se pode aplicar a igualdade expressa no art. 1596, CC.
b) Presunção de paternidade:
Regra: “pater is est quem nuptiae demonstrant” (pai é o marido na constância do casamento). 
Trata-se de uma aplicação somente para homens casados, existindo, portanto, outra regra para a união estável.
Art. 1.597 – CC: Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos:
I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;
II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento;
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga;
V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. 
Art. 1.598 – CC: Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto no inciso II do art. 1.523, a mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos trezentos dias a contar da data do falecimento deste e, do segundo, se o nascimento ocorrer após esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do art. 1597.
4. Reconhecimento da paternidade:
a) Aplicação:
Homem não casados: 
Art. 1607 – CC: O filho havido fora do casamento pode ser reconhecido pelos pais, conjunta ou separadamente.
A investigação de paternidade é a forma forçada de um pai reconhecer o filho, já que há a forma de reconhecer voluntariamente. 
b) Reconhecimento voluntário da paternidade:
Art. 1.609 – CC: O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito:
I - no registro do nascimento;
II - por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório;
III - por testamento, ainda que incidentalmente manifestado;
IV - por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém.
Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. 
Irrevogável vem de vogar, que significa falar. Revogar é falar para trás, se arrepender. Irrevogar = não poder falarpara trás/não poder se arrepender. 
· Casado, registrou a filha e depois descobriu que não é o pai biológico Revogável (pode negar a paternidade); 
· Não casado, registrou a filha e depois descobriu que não é o pai biológico Irrevogável;
Inciso I: Caso comum. Registra o nascimento com o nome do pai. 
Inciso II: Pode ocorrer que a mãe registre o filho sem o pai. Pode-se, contudo, realizar uma escritura pública que vem a incluir o pai na certidão do nascimento já registrada. 
Inciso III: Pode-se reconhecer a paternidade a partir de testamento. Nesse sentido, ao ler o testamento após a morte do pai, constata-se a presença de um filho até então desconhecido pelos familiares. Trata-se de um reconhecimento covarde na óptica de Camilo Colani. Há uma menção a essa hipótese no parágrafo único do citado artigo. 
Inciso IV: Há a possibilidade, por exemplo, de durante uma audiência, o pai reconheça o filho (ao constatar, por exemplo, a semelhança entre as fisionomias). Assim, uma decisão que não seria voluntária torna-se. Trata-se de uma situação rara, mas “abençoada” devido à paz resultante. 
c) Outras regras incidentes no reconhecimento voluntário:
Art. 1.610 – CC: O reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em testamento.
Art. 1.611 – CC: O filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges, não poderá residir no lar conjugal sem o consentimento do outro.
Art. 1.612 – CC: O filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu, e, se ambos o reconheceram e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor. 
Art. 1.613 – CC: São ineficazes a condição e o termo apostos ao ato de reconhecimento do filho.
Art. 1.614 – CC: O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.
É necessário proteger os menores, tendo em vista o índice de violência doméstica envolvendo madrastas e padrastos para com as crianças. 
O art. 1611, CC constata uma questão óbvia, porém importante. É necessário garantir animosidade no lar familiar. 
Consoante o art. 1614 do Código Civil, o filho maior de idade e, consequentemente, capaz, pode negar a paternidade, bem como o filho menor nos quatro anos seguintes a completar a maioridade.

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