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A PREEMINÊNCIA DOS TRAUMAS EXTERNOS NA INFÂNCIA E OS PARADIGMAS DOS CUIDADOS DE ENFERMAGE RESUMO 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 2. OBJETIVOS .................................................................................................................. 3. LEVANTAMENTO LITERÁRIO ............................................................................... 3.1. Quadro Sinóptico.............................................................................................. 4. RESULTADOS .............................................................................................................. 4.1. Análise Epidemiológica .................................................................................... 4.2. Fisiopatologia .................................................................................................... 4.3. Condutas Iniciais Em Atendimento A Traumas Pediátricos........................................................................................................... 4.4. Medidas preventivas e estratégias de promoção em relação à traumas pediátricos .......................................................................................................... 4.5. Tabela 1_ Principais fatores de risco/situações de risco, medidas de prevenção e condutas diante de um trauma pediátrico.................................. 5. CONCLUSÃO ……………………………………...……………………………….... 6. REFERÊNCIAS …………………………………………………………………….... RESUMO O presente documento é uma revisão bibliográfica que parte da compreensão da preeminência de traumas pediátricos e os paradigmas do cuidado de enfermagem. O trauma está relacionado a acontecimentos indesejáveis, que produzem lesões ou danos físicos. No contexto infantil, o trauma é uma problemática cada vez mais frequente no cotidiano dos serviços de urgência e emergência. Estima-se que todos os anos morrem no mundo cerca de um milhão de crianças vítimas de acidentes, dos quais 90% são resultantes de lesões não intencionais. Dessa forma, o objetivo deste conteúdo é abordar as medidas de prevenção e estratégias de promoção à saúde, além de ampliar o conhecimento e compreensão sobre traumas na infância, direcionar estudantes da área da saúde ao foco no desenvolvimento profissional através de técnicas e métodos corretos para o atendimento de vítimas pediátricas com maior eficácia e qualidade. Tendo em conta esses aspectos, as informações demonstradas nesta revisão bibliográfica são de suma importância social, uma vez que os traumas infantis são possivelmente evitáveis e quando acontecem se torna indispensável até o mínimo de conhecimento prévio de primeiros socorros em atendimento a traumas infantis Descritores: Trauma Infantil; Epidemiologia, Prevenção de Acidentes, Urgência e Emergência. 1. Introdução A palavra trauma é de origem grega e possui significado de ferida, apresenta julgamentos relacionados a acontecimentos indesejáveis, que produzem lesões ou danos em conjunto de perturbações de agentes físicos, como etiologia e natureza diversificadas (SALVADOR et al., 2012). No contexto infantil, o trauma é uma problemática cada vez mais frequente no cotidiano dos serviços de urgência e emergência em saúde, principalmente em crianças de 0-9 anos de idade, onde as maiorias dos traumas acontecem, com repercussão progressiva na última década, com altos índices de morbimortalidade (MIRANDA, et al., 2019). Todos os anos morrem no mundo cerca de 1 milhão de crianças vítimas de acidentes, dos quais 90% são resultantes de lesões não intencionais. Mais de 10 milhões dessas vítimas precisam de tratamento hospitalar devido a acidentes não fatais e muitas delas ficam com incapacidade física ou danos cerebrais (UNICEF, 2010). Observa-se que dentre os principais acometimentos físicos por queda, segundo Fujiwara e Oliveira (2016) o trauma crânio encefálico (TCE) está presente em maior repercussão, sendo em sua maioria em nível leve, todavia requer um manejo diferenciado e rápido, pois pode trazer prejuízos secundários. Ainda de acordo com a fala de Fujiwara e Oliveira (2016) a abordagem no trauma pediátrico requer um manejo diferenciado, pois possui singularidades que demandam conhecimento preciso, assertivo e em determinadas situações, uma interpretação sistêmica, pois possibilita assim, um socorro mais eficaz e efetivo. Sendo alvo de apreensão de saúde pública mundial, denominada pela ONU em 1982, além das diretrizes que pudessem viabilizar formas de fomentar a proteção da criança, o protocolo de Suporte avançado de Vítima de Trauma (ATLS), sedimentou diretrizes de abordagem que tornou mais eficaz o cuidado com crianças vítimas de trauma físico, preconizando o ABCDE do trauma e posteriormente reformulou em 2012 na 9º edição, para o XABCDE (GARCIA, et al, .2020). Fundamentando-se na base de dados dos artigos pré-selecionados, é possível compreender que o conhecimento prévio das adversidades em acidentes infantis, exige um domínio amplo e complexo nos serviços de saúde, família e comunidade, pois se torna imprescindível o debate das principais causas e fatores de risco, melhorando assim a qualidade de vida, além do prognóstico da saúde infantil no que tange os acidentes externos. 2. Objetivo da pesquisa Realizar uma revisão de literatura abordando o papel da enfermagem diante de determinados traumas pediátricos, a fim de promover o conhecimento, abordando conceitos, etiologias, incidências, técnicas, práticas e cuidados. Dessa forma, desenvolver o assunto proposto através de pesquisas baseadas em artigos científicos, possibilitando a ampliação do conhecimento e compreensão das informações citadas a cada trauma mencionado, direcionado aos estudantes da área da saúde o foco no entendimento e desenvolvimento profissional através de técnicas e métodos corretos para o atendimento das vítimas pediátricas com maior eficácia e qualidade. 3. Levantamento Literário 3.1. Quadro sinóptico para apresentação dos artigos utilizados sobre traumas pediátricos Título Autor/ Ano Metodologi a/nível de evidência Periódico Resposta à questão norteadora Acidentes na infância: casuística de um serviço terciário em uma cidade de médio porte do Brasil GONÇALVES, Anderson César et al., 2019 Estudo observacional, transversal, retrospectivo, descritivo e analítico Revista Colégio Brasileiro de Cirurgiões Os acidentes foram responsáveis por grande parcela dos atendimentos de urgência. A elevada taxa de pacientes com registros de acidentes prévios indica a exposição repetida destas crianças às situações de risco. Trauma pediátrico grave-Análise da prevalência em Hospital Terciário do Distrito Federal SILVA, Valéria Batista da., 2017 Estudo epidemiológico exploratório descritivo, quantitativo, com delineamento transversal Repositório Institucional da UNB-FS Os resultados gerados e analisados possibilitaram conhecer as causas e desfechos dos agravos relacionados às crianças vítimas de trauma grave assistidas em hospital terciário. Nueva valoración inicial al paciente con trauma grave: del ABCDE al XABCDE MORENO GARCÍA, Beatriz et al., 2020 meta-análise e revisões sistemáticas Universidad de Salamanca Existem evidências científicas suficientes para determinar que, a sequência de ações que devem guiar a avaliação no tratamento primário a um paciente politraumatizado é o “XABCDE”. Embora seja descrito em sucessão, sempre que disponível pessoal qualificado, as fases serão avaliadas simultaneamente. Traumas na Infância: Análise Epidemiológica MIRANDA, Natália Figueiredo et al., 2019 Estudo retrospectivo e descritivoRevista Ciência e Estudos Acadêmicos de Medicina Levando em consideração os dados apresentados neste trabalho são de suma importância social, visto que traumas infantis são na grande maioria das vezes evitáveis e quando acontecem podem gerar sequelas à criança e sua família muitas vezes perdurando por toda a vida. Perfil epidemiológico dos traumatismos crânio encefálicos em um hospital pediátrico da Serra Catarinense SIMAS, L. I.P. de; MARQUES, F.M.; FRANCESCHI, J.; SOUZA, P. A. de., 2020 Estudo retrospectivo, quantitativo e descritivo Universidade do Planalto Catarinense, Brasil. O perfil desses pacientes aponta para a necessidade de implantação de medidas de prevenção como a retirada dos fatores de risco e a elaboração de um protocolo mais atualizado de atendimento aos pacientes vítimas desse agravo. Principais dificuldades do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência do Distrito Federal no atendimento inicial da criança traumatizada FUJIWARA, Maria Grazienni Castro Costa; OLIVEIRA, Wender Antônio, 2016 Estudo observacional, transversal, descritivo com abordagem quantitativa e prospectiva Revista de Saúde-RSF O principal fator de interferência durante o atendimento inicial é o familiar, pois a comoção e o sentimento de culpa transparecem em forma de agressividade e impaciência com os profissionais atuantes durante o evento. Estes profissionais também se julgaram inaptos para realizar este tipo de transporte o que podemos levar em consideração que se houver a necessidade de uma intervenção durante o trajeto, pouco poderá ser feito. 4. Resultados 4.1. Análise Epidemiológica Com base nos artigos estudados, constatou-se que os traumas infantis representam um problema mundial para o sistema de saúde pública. Destacando que, as lesões não intencionais são as maiores causas de morbidade e mortalidade na infância, correspondendo cerca de 25% das causas de morte entre crianças com faixa etária de cinco e nove anos. (GONÇALVES et al., 2019) Consoante aos dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, no ano de 2015 foram 2.441 mortes de crianças de 0 a 14 anos, devido a causas acidentais. No mesmo ano de análise, 1.440 crianças e adolescentes até 14 anos morreram devido a acidentes de trânsito. No Brasil, os acidentes de trânsito e os afogamentos são as principais causas de mortalidade, seguidos por sufocação, queimaduras, quedas e intoxicações. (GONÇALVES et al., 2019). Diante de um estudo observacional, transversal, retrospectivo, descritivo e analítico realizado por Gonçalves e outros colaboradores (2019) nos dois serviços de urgência do complexo hospitalar do HC-FMB-UNESP em São Paulo, foi possível observar que, dentre 3.612 atendimentos médicos de urgência envolvendo crianças, no ano de 2016, novecentos e trinta e seis atendimentos estavam relacionados a acidentes. Destes, 588 (62,8%) ocorreram em pacientes do sexo masculino e 348 (37,2%) em pacientes do sexo feminino. Não obstante, pode-se correlacionar os dados apresentados ao estudo descritivo e retrospectivo realizado por Miranda e outros colaboradores (2019), tendo como base o tema “traumas na infância”, o qual aborda que dentre 543 prontuários de acidentes envolvendo crianças de zero até dez anos, sendo 305 do ano de 2013 e 238 do ano de 2014, apresentou também predomínio do sexo masculino (59,12%). Corroborando, Gonçalves e outros colaboradores (2019) descrevem que a faixa etária mais acometida pelos acidentes envolveu crianças com até cinco anos de idade. Já nos estudos realizados por Miranda e outros colaboradores, pode-se destacar que, os acidentes envolvendo menores de 12 meses representou um percentual de 10,5% da amostra total, enquanto que crianças maiores de um ano de idade corresponderam a 89,5%, devido a um aumento da incidência proporcional à faixa etária. Durante a avaliação das causas no estudo realizado por Miranda e outros colaboradores, foi possível observar a maior incidência de traumas decorrentes aos acidentes de trânsito (74%) e quedas infantis (26%), as quais foram divididas em queda de plano elevado (15,5%) e queda de mesmo nível (10,5%). Vale salientar que, o afogamento/asfixia foi a principal causa de acidente nos bebês de até seis meses de idade e queda de plano elevado liderou em crianças de seis meses até um ano. Segundo o programa “Criança Segura”, uma organização não governamental, no Brasil a sufocação (asfixia), seja por brinquedos, alimentos pequenos, objetos macios ou até mesmo conteúdo gástrico, é a principal causa de morte acidental de bebês de até 1 ano de idade. No entanto, em 2018, 791 crianças de até 14 anos morrerem vítimas de sufocação, sendo que 600 (75,85%) crianças possuíam uma idade inferior a um ano de idade. Destaca-se que, crianças menores de quatro anos estão mais susceptíveis a sufocações e engasgamento. (CRIANÇA SEGURA, 2018) Averígua-se que, os afogamentos são a segunda causa de morte no país por motivos acidentais, entre crianças de 0 a 14 anos de idade, tendo em média 2,3 óbitos por dia. Vale salientar que, os números de mortalidade em crianças frente a esse acidente é alto, mas o índice de ocorrência e hospitalização acerca dos afogamentos é de baixo percentual. (CRIANÇA SEGURA, 2018) Nota-se que, diante de um estudo multicêntrico e prospectivo com 846 pacientes de 3 a 16 anos atendidos após acidente de bicicleta foi possível identificar o TCE como principal causa de admissão, sendo que 77,9% não faziam uso de capacete e 72,9% eram do sexo masculino. (PACHECO et al., 2014). Conforme um estudo de coorte, realizado por Guerra e outros colaboradores (2010), foi possível analisar 132 crianças que receberam monitorização da PIC (pressão intracraniana) decorrente de um quadro de traumatismo crânio encefálico, sendo os acidentes de trânsito o principal mecanismo de trauma. Ademais, a maior parte dos pacientes dessa amostra apresentava múltiplas lesões intracranianas. Em um estudo de pesquisa de campo e documental em prontuários, foram analisados 50 prontuários de crianças na primeira infância com registros de internação no setor de pediatria do HUV no período de Julho a Setembro de 2018. Nesse linear, em relação aos tipos de acidentes, a amostra demonstrou que 68% das internações foram devido à queda com o diagnóstico de TCE (traumatismo crânio encefálico), 10% queimadura 2°grau, 10% ingestão de corpo estranho, 6% asfixia, 4% picada de escorpião e 2% intoxicação exógena. (SIMAS et al. 2019). Somando-se ao exposto, Matsubara e outros colaboradores (2018) em um estudo retrospectivo, discorrem que o TCE em crianças com faixa etária inferior a 5 anos está relacionado a um mau prognóstico, o qual requer acompanhamento e monitorização frequente da equipe de saúde com o paciente. No estudo integrativo realizado por Gonçalves e outros colaboradores (2019), a queda representou 95,65% como mecanismo de trauma, principalmente em crianças com idade inferior a três anos, enquanto que, 6,45% foram decorrentes de acidentes de trânsito. Além disso, o Ministério da Saúde esclarece que, as quedas são os acidentes que mais causam internações. Já em segundo lugar, está as queimaduras, um trauma altamente doloroso e traumatizante para a criança. No Brasil, a maioria dos acidentes envolvendo queimaduras ocorre em ambiente domiciliar, sendo aproximadamente 50% das ocorrências acomete as crianças. (CARNEIRO et al., 2020) Consoante um estudo descritivo, retrospectivo e transversal realizado no hospital infantil da Serra Catarinense, no período de 2013 a dezembro de 2018, foi possível averiguar que 78 pacientes foram vítimas de queimaduras, na faixa etária de 0 a 15 anos, tendo um predomínio de crianças menores de 5 anos (72%) e indivíduos do sexo masculino (60,3%). Dando continuidade aos dados referentes aostraumas pediátricos, denota-se que, os afogamentos são a segunda causa de morte no país por motivos acidentais, entre crianças de 0 a 14 anos de idade, tendo em média 2,3 óbitos por dia. Vale salientar que, os números de mortalidade em crianças frente a esse acidente é alto, mas o índice de ocorrência e hospitalização acerca dos afogamentos é de baixo percentual. (CRIANÇA SEGURA, 2018) Os acidentes são a principal causa de morte de crianças com até 14 anos no Brasil. Nesse limiar, mais de 3.000 meninas e meninos morrem por esse motivo e outras 112 mil crianças ficam hospitalizadas em estado grave. Concomitantemente, após a avaliação dos aspectos relacionados aos principais tipos de acidentes e os agentes envolvidos, é de suma importância a implementação de propostas de prevenção, a fim de amenizar os traumas pediátricos e os seus possíveis agravos. 4.2. Fisiopatologia Diante da sociedade contemporânea, pode-se destacar que, a principal etiologia responsável por inúmeras mortes e sequelas na infância está associada aos traumas pediátricos. O qual em relação à morbidade e mortalidade ultrapassa todas as principais doenças em crianças e adolescentes. Nesse cenário, observa-se um grande problema na saúde pública e no atendimento a esses indivíduos. (ATLS, 2018, p.188) Consoante aos princípios do Advanced trauma Life Support (ATLS, 2018)), o atendimento à criança traumatizada tem impacto significativo na sobrevida final. Dessa forma, cabe aos profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, ter a habilidade e conhecimento teórico-prático para garantir um atendimento adequado, com a finalidade de amenizar os riscos que ameaçam a vida do paciente. Para isso, é de suma importância que o profissional tenha o domínio dos mecanismos fisiopatológicos e anatômicos, sabendo proceder com as condutas adequadas frente a um trauma pediátrico. (ANTUNES, et al. 2017) De acordo com o Prehospital Trauma Life Support (PHTLS, 2020), as três maiores causas de morte imediata em crianças são a hipóxia, as hemorragias e os traumas significativos no sistema nervoso central (SNC). A diminuição na oxigenação merece atenção, pois a criança pode apresentar alterações significativas do nível de consciência. Dando prosseguimento, a maior parte das lesões pediátricas não causa exsanguinação imediata. Todavia, as crianças com lesões que provocam grande perda sanguínea, frequentemente, veem a óbito, sendo essas fatalidades decorrentes de múltiplos ferimentos de órgãos internos, com pelo menos um ferimento significativo causando a perda aguda de sangue. Destaca-se que, esse sangramento pode ser discreto, por exemplo, simples laceração ou contusão, ou pode ser uma hemorragia letal, como a ruptura do baço, a laceração do fígado ou avulsão renal. Deve-se ressaltar que, as crianças possuem uma melhor capacidade de compensar a perda de volume por mais tempo do que os adultos, mas quando descompensam, elas deterioram, de forma rápida e grave. Paralelamente, as alterações fisiopatológicas decorrentes de um trauma do SNC iniciam-se em minutos. Embora algumas lesões no sistema nervoso central sejam letais na maior parte dos casos, averígua-se que, muitas crianças com lesões neurológicas graves evoluem para uma recuperação completa e funcional, desde que, a reanimação precoce e adequada seja primordial no atendimento inicial, com a finalidade de assegurar o aumento da sobrevida da criança traumatizada. (PHTLS, 2020) O trauma automobilístico é responsável por uma das principais causas de morte de crianças em todas as idades, seja como ocupante do veículo, pedestre ou ciclista. (ATLS, 2018, p. 188) De acordo com o programa “Criança Segura”, a população infantil está mais suscetível a acidentes de trânsito, pois possuem corpos mais frágeis e que ainda estão em desenvolvimento. Além disso, as crianças apresentam certa dificuldade em enxergar por cima dos carros estacionados, devido à baixa estatura. Ademais, o campo de visão é mais estreito em comparação com o dos adultos, dificultando visualizar quando um carro está se aproximando. Em síntese, a criança apresenta uma menor massa corpórea. Por isso, diante de um acidente automobilístico, o impacto da energia exercida seja por paralamas, para-choques e/ou de quedas, resulta em uma maior força aplicada por unidade de área corporal. Salienta-se que, essa energia mais intensa é transmitida para um corpo com menor percentual de gordura e tecido conjuntivo e maior proximidade entre os órgãos. Concomitantemente, esses aspectos justificam a alta incidência de lesões múltiplas avaliadas na população pediátrica. (ATLS, 2018, p. 189) Pode-se destacar que, a cabeça é proporcionalmente maior em crianças mais novas, ocasionando alta incidência de lesões cerebrais contusas. (ATLS, 2014, p. 248) Paralelamente, nos acidentes de trânsito envolvendo crianças se destacam os traumas cranioencefálico (TCE), trauma raquimedular, toracoabdominal e traumas ortopédicos. (PIRES apud PIRES et al. 2019) A obstrução de vias aéreas por corpo estranho (OVACE), conhecida popularmente como engasgo, ocorre principalmente pela falha no reflexo de fechamento da laringe, controle inadequado da deglutição e aspiração de objetos. (JONGE, et al. 2020) Nesse contexto, o engasgo/OVACE trata-se de um evento causado pela oclusão parcial ou completa da passagem de ar entre as vias aéreas superiores e a traqueia por um corpo estranho, o qual pode ser um alimento, moeda, balão ou brinquedo. (COSTA, et al. 2020) Conforme o programa “Criança Segura”, indivíduos menores de quatro anos estão mais propensos a sufocação e engasgamentos, porque suas vias aéreas superiores são pequenas e, nessa fase, têm a tendência natural de colocar objetos na boca e pouca experiência em mastigar e engolir. A sufocação ocorre quando há cobertura total ou parcial do nariz e/ou da boca do indivíduo, resultando em quadro dispneico que pode evoluir para uma apneia. Em consonância com a Sociedade de Pediatria de São Paulo, a cavidade bucal do lactente tem uma menor distância entre os dentes incisivos e a base da língua, a qual aumenta com o desenvolvimento da face. Nesse linear, destaca-se que, as crianças apresentam uma frequência respiratória mais alta (30 a 60 irpm), a qual faz com que os alimentos lisos e escorregadios, por exemplo, sementes de uva e amendoim, deslizam com maior facilidade para a laringe, provocando uma broncoaspiração ou asfixia. No âmbito de traumas pediátricos, pode-se abordar também o afogamento, o qual é responsável pela segunda maior causa de morte e a sétima de hospitalização em crianças, no Brasil. No entanto, o afogamento se dá pelo comprometimento respiratório à medida que as vias respiratórias se colocam abaixo da superfície do líquido, denominado como submersão, ou por meio de respingos de água no rosto, conhecido como imersão. (CRIANÇA SEGURA, 2018; VAN BEECK apud FREITAS et al. 2020) Conforme David Szpilman (2017), quando um indivíduo está com dificuldades na água e não é possível manter as vias aéreas livres, a água que entra na boca pode ser aspirada para o sistema respiratório, ocorrendo então, uma resposta reflexa, a tosse. Portanto, é de suma importância, realizar o resgate da criança no meio inserido o mais rápido possível, pois a aspiração de água pode levar a hipoxemia, que em segundos/minutos o indivíduo irá apresentar perda de consciência e apnéia. Em continuidade, a taquicardia agrava a bradicardia, a criança irá apresentar uma atividade elétrica sem pulso, e evoluir para uma assistolia. Pode-se acrescentar que, a água presente nos alvéolos provoca a inativação do surfactante, não obstante, o efeito osmótico na membrana alvéolo-capilar rompe em parte a sua integridade, aumenta a sua permeabilidade e por consequência provoca a sua disfunção. Em síntese, dando sequência as diretrizes de Ressuscitação (2017),é possível denotar que, a alteração na membrana alveolar-capilar se traduz em edema pulmonar, o qual é responsável pela diminuição, principalmente, da troca de oxigênio e pouco afeta a troca de gás carbônico. Dessa forma, é imprescindível que a criança seja resgatada imediatamente, pois o prognóstico do indivíduo está diretamente relacionado com a quantidade de líquido aspirado, temperatura da água, tempo de submersão e o modo de realização do atendimento inicial. (KATAYAMA & ZAMATRO apud FREITAS et al. 2020) No contexto pediátrico, visa-se destacar também as queimaduras, as quais são lesões decorrentes de agentes que geram um calor excessivo, causando danos aos tecidos do corpo e, consequentemente, a morte celular. (BRASIL apud FREITAS et al 2020) É de extrema importância, o profissional de saúde ter o discernimento ao realizar o atendimento inicial à criança com queimaduras. Deve-se avaliar a lesão, a profundidade, o causador, sua extensão, local e outros fatores relacionados. (SHAD apud FREITAS et al 2020) Quando ocorre uma queimadura, é perceptível destacar que, haverá uma intensa resposta metabólica, sendo maior que em outros traumas e lesões. No entanto, o corpo perde grande quantidade de fluidos, ocasionando a desidratação. Contudo, haverá a liberação de diversos mediadores químicos, os quais aumentam a permeabilidade vascular. Com isso, há formação de edema, o qual é formado também em tecidos que não foram queimados, devido à perda de proteínas oriunda da queimadura. Observa-se que, a criança irá apresentar uma queda na pressão arterial sistêmica (PAS), diminuição do débito cardíaco (DE) e débito urinário (DU), declínio da temperatura corporal e baixo consumo de oxigênio. Todos esses parâmetros estão interligados com as perdas excessivas de líquidos, o que leva à hipoperfusão, hipovolemia e acidose láctica. Ademais, o paciente pode apresentar um aumento da resistência à insulina, aumento do metabolismo e reações inflamatórias. (FREITAS et al 2020, p. 274) Dando prosseguimento à fisiopatologia dos traumas pediátricos, nota-se que, as quedas são a principal causa de internação por motivos acidentais de crianças e adolescentes. As crianças aprendem a ficar de pé, caminhar, correr e pular, e o cair faz parte do desenvolvimento infantil, pois esses indivíduos ainda estão em formação, principalmente, em relação à coordenação motora. A maioria dos “tombos” tem consequências pequenas, por exemplo, um ferimento, uma escoriação do joelho ou um hematoma subgaleal, conhecido como “galo” na cabeça. Mas, em contrapartida, algumas quedas podem causar sérias lesões na criança, e até mesmo vir a óbito. (CRIANÇA SEGURA, 2018) A priori as crianças apresentam um corpo mais frágil, órgãos internos em formação, o crânio não está completamente fechado e um tecido epitelial mais sensível. Além disso, as crianças possuem uma menor capacidade de absorver o impacto de uma queda. (CRIANÇA SEGURA, 2018) Segundo o ATLS (2018), uma criança pode apresentar múltiplas lesões decorrentes de um trauma. Nota-se que, em uma queda de altura de nível baixo, o indivíduo pode apresentar fraturas de MMSS (membros superiores). Ademais, o mesmo pode ter lesões de cabeça e pescoço, fraturas de MMII (membros inferiores) e MMSS, quando se trata de uma queda de nível médio. Já em uma queda de nível alto, o paciente pode apresentar múltiplos traumatismos, lesões de cabeça e pescoço, fraturas de MMSS e MMII. Nota-se que, o cérebro da criança é diferente do adulto, anatomicamente. Por volta dos seis meses de vida do lactente o tamanho do cérebro é duplicado e por volta dos dois anos de idade atinge 80% do tamanho do cérebro adulto. No entanto, o espaço subaracnóide é relativamente menor, oferecendo menos proteção ao cérebro devido à menor flutuabilidade. Dessa forma, é maior a probabilidade de lesão estrutural do parênquima cerebral. (ATLS, 2018, p. 202) Salienta-se que, o traumatismo cranioencefálico (TCE) ainda é uma causa importante de morbidade e mortalidade em crianças e está diretamente relacionado às quedas da própria altura, acidentes domésticos e acidentes automobilísticos. Contudo, o prognóstico neurológico destas crianças é determinado pela lesão inicial e pelos eventos fisiopatológicos secundários à injúria inicial. Logo após a ocorrência TCE, os mecanismos compensatórios são ativados na tentativa de manter o fluxo sanguíneo cerebral (FSC) e a pressão de perfusão cerebral (PPC), a qual depende da pressão intracraniana (PIC). (CLÍNICO, 2019) Por conseguinte, o resultado final de uma criança traumatizada está diretamente relacionado à qualidade do atendimento prestado nos primeiros instantes após a ocorrência de um trauma. Contudo, a melhor medida a ser feita para evitar morbidade desnecessária e impedir o negligenciamento de uma lesão fatal é realizar uma avaliação primária sistemática e coordenada. Diante do exposto, na primeira avaliação do paciente traumatizado, deve-se seguir a sequência inicial “XABCDE” do protocolo de atendimento do trauma: X – Exsanguinação; A – Aberturas de vias aéreas; B – Ventilação e respiração; C – Circulação com controle de Hemorragias; D – Exames Neurológicos; E – Exposição e controle de hipotermia. (PHTLS, 2020) 4.3 Condutas iniciais em atendimento a traumas pediátricos As maiorias dos traumas considerados fatais em crianças poderiam evoluir com prognósticos diferentes se devidamente abordados logo nos primeiros instantes após o acidente, principalmente no que diz respeito à imobilização, assistência respiratória, controle imediato da hemorragia e encaminhamento da vítima para uma unidade de pronto atendimento. Dessa forma, é imprescindível que a equipe de saúde conheça os pontos fundamentais para um atendimento eficiente à criança traumatizada, entre estes pode-se destacar os primeiros socorros prestados à vítima e a habilidade da equipe na atuação interdisciplinar conjunta (SILVA, 2018) É essencial realizar uma avaliação completa e rápida. A primeira meta na avaliação é determinar a condição atual da criança através do estabelecimento inicial de uma impressão geral do seu estado respiratório, circulatório e neurológico. Em seguida, são rapidamente encontradas as condições com potencial risco de vida, e iniciam-se intervenção urgente e possível reanimação...(SILVA, 2018) Neste contexto é feita uma avaliação detalhada de lesões sem risco de vida ou lesões que comprometem algum membro através do exame físico, que inclui: Inspeção, que consiste em um exame visual minucioso que pode revelar escoriações, lacerações, distensão de veias do pescoço, desvio de traquéia, enfisema subcutâneo, ferimentos abertos em tórax, assimetria de expansão ou movimentação da parede torácica. É preciso estar atento à presença de cianose, pois é um sinal tardio de hipóxia. Palpação, que deve ser feita pesquisando a presença de pontos dolorosos, crepitação óssea, enfisema subcutâneo e segmento instável da parede torácica através do toque. Ausculta, avaliando o pescoço, os pulmões e o abdômen, verificando presença de sopros e frêmitos no trajeto das carótidas, alteração dos ruídos, presença ou ausência de murmúrios vesiculares, o volume inspirado e a simetria do fluxo de ar. Diminuição ou ausência de murmúrio vesicular em um lado do tórax da vítima de trauma pode indicar a presença de ar ou sangue no espaço pleural. Percussão, observando o tórax e o abdômen após o trauma com o objetivo verificar a presença de sons timpânicos ou de maciez. (PORTO, 2017) O trauma leva com frequência a hipóxia tecidual, resultado de um ou mais fatores associados, como: queda do volume sanguíneo circulante; distúrbio na ventilação pulmonar; contusão pulmonar e alterações do espaço pleural. Desta forma, é indispensável a atenção da equipe para com a criança traumatizada, visto que os fatores mencionados podem levar a uma maiorgravidade do quadro clínico. (PORTO 2017) A assistência de enfermagem à criança vítima de trauma se resume em uma avaliação total e imediata, numa sequência rápida em áreas vitais do corpo, avaliando o sistema respiratório, sua frequência e se está ocluído; a posição da traqueia ou se existe dificuldade para respirar; bem atentar para presença de cianose e evidências externas de lesão no tórax. Em seguida o sistema cardiovascular como pulso palpável em carótida, ritmo, pressão e perfusão, assim como também o sistema nervoso central evidenciado por sua capacidade verbal, habilidade motora, reação pupilar à luz considerando três formas de lesão cerebral: comoção (perturbação funcional reversível); contusão (substância cerebral atingida); compressão (hemorragias intracranianas). Após a avaliação que deve ser feita de maneira conjunta ao atendimento inicial, a enfermagem pode classificar a vítima de acordo com uma das três condições: paciente instável, quando há depressão do nível de consciência, insuficiência respiratória e sinais de choque; paciente potencialmente instável que possui anormalidades hemodinâmicas e respiratórias moderadas que produzem uma sensação de baixa gravidade, mas ainda assim apresenta risco; e estável, onde o paciente está relativamente bem do ponto de vista hemodinâmico e respiratório. (PORTO, 2017) Salienta-se a importância de conhecer e ter habilidade na avaliação primária e secundária a fim de atender adequadamente a criança, e na ausência de um médico poder preservar a vida da vítima identificando as necessidades de cada lesão com o intuito de determinar as prioridades da assistência, além de trabalhar intensamente na profilaxia destes traumas, agindo como educadores na prevenção de acidentes. (SILVA, 2018) 4.4 Medidas preventivas e estratégias de promoção em relação à traumas pediátricos Em conformidade com Waksman e Blank (2014) os determinantes socioambientais em saúde podem ser objetos de estudos que definirão medidas efetivas de prevenção. Dentre esses determinantes se destaca a falta de informação, fator econômico, desemprego, uso de drogas, alcoolismo, moradia precária, entre outras. Segundo este mesmo autor, pode-se considerar que uma parte significativa dos traumas infantis poderiam ser evitados através de medidas preventivas e de estratégias de promoção à saúde que proporcionem informações, treinamentos, instruções sobre a adesão de acessórios que oferecem proteção extra (principalmente em acidentes de trânsito onde a vítima é lançada para fora do veículo quando não há a utilização correta do cinto de segurança, cadeirinha e/ou assentos adequados para a idade da criança), propor regras e instruções aos pedestres, ciclistas e patinadores sobre os cuidados e medidas de segurança para circulação, além de contar também com a responsabilidade do motorista que conduz através das boas práticas e obedece às leis de trânsito, evitando dessa forma o crescimento do alto índice de atropelamentos. Uma das condicionantes aos cuidados e prevenção dos acidentes domésticos é o conhecimento dos pais de como proceder diante dos acidentes domésticos, estabelecendo assim formas de evitá-los. Pois em sua grande maioria, quando nos deparamos com um atendimento de trauma no ambiente doméstico, nota-se na maioria das vezes um despreparo dos primeiros socorros prestados, tornando assim maiores os danos e sequelas. Como quando utilizam insumos caseiros não indicados, deslocamento da vítima acarretando em uma maior gravidade do trauma, além de injúria física. Pois quando não é realizada uma inspeção semiológica precisa, contribui para evolução de maiores danos à criança (Durães, Toriyama e Maia 2012). A promoção à saúde na prevenção de traumas pediátricos embora seja de livre acesso a todas as pessoas por se tratar de um conteúdo informativo dirigido ao público leigo, é principalmente direcionada às crianças em idade escolar (especialmente as de seis a nove anos de idade), professores, pais, familiares e cuidadores, considerando que sua ampla difusão pode ser útil à saúde da população (PITOL, 2018, p.41). Para obter sucesso, as medidas de prevenção englobam todos os envolvidos diretamente com crianças e devem contar com a participação do governo local, além do apoio de outros setores e da sociedade nas estratégias de promoção. Pitol (apud LIAO & ROSSIGNOL, 2000; EHIRI & PROWSE, 1999; DELGADO et al., 2002; ONUBA). Além da educação parental, os profissionais da saúde devem ser capacitados para atuarem como agentes de promoção, implementando programas e estratégias de prevenção a traumas infantis, em adição à habilidade de reconhecer precocemente sinais de alerta, prevenindo assim o surgimento de agravos. (LOPES, Nahara RL; EISENSTEIN, Evelyn; WILLIAMS, Lúcia CA, 2013, p.431). Neste contexto, o papel do enfermeiro é de total relevância na prevenção de traumas infantis, pois por manterem um contato próximo com a família no acompanhamento do desenvolvimento das crianças, este possui também autonomia para realizar ações e orientações como as palestras educativas, seja no cuidado domiciliar, consultas de enfermagem inseridas nos programas de atenção à saúde da criança e adolescente bem como também nos atendimentos e tratamentos hospitalares. Souza e Barroso 1999, Souza, Rodrigues, Barroso 2000 (aput DA SILVA, Lorena Sabbadini; VALENTE, Geilsa Soraia Cavalcanti, 2011, pág.1988). A assistência prestada pelo enfermeiro deve ser completa e qualificada de forma a ampliar e complementar o conhecimento de todos os envolvidos com as crianças, proporcionando uma melhor qualidade de vida e completo desenvolvimento delas, isentando-as de fatores de risco facilmente elimináveis a partir do devido processo educativo (Passos DA, Santos WL). Como forma de ensinar e conscientizar as crianças a respeito de prevenção dos traumas, se faz necessário a utilização de estratégias mais didáticas e lúdicas, através de vídeos animados, canções e ilustrações, jogos e até mesmo brincadeiras com o objetivo de melhorar a compreensão. Sendo assim, a divulgação do material por mídias digitais, TV e rádios se mostra mais eficaz para alcançar o público adulto. Cabe situar que, diante do atendimento à criança traumatizada, as literaturas apontam o enfermeiro como um profissional capaz de intervir na promoção de cuidados e no tratamento dos vitimados, através de conhecimentos em saúde, capacidade e habilidade técnica em enfermagem (BERTONCELLO; CAVALCANTI; ILHA, 2013, BIASUZ; BÖECKEL, 2012). Portanto, no que tange a prevenção do “OVACE”, ou mais conhecido como engasgo, o enfermeiro tem um papel muito importante como educador e orientador, promovendo e disseminando conhecimento. Uma vez que nessa classe de trauma infantil a ocorrência é maior em crianças menores de um ano de idade, que muitas vezes acontece durante a amamentação e/ou outras vezes por ingestão de alimentos ou brinquedos (Passos DA, Santos WL). Como formas para prevenir o engasgamento de bebês em idade de amamentação, as estratégias por meio da educação em saúde, buscam contribuir para a ampliação do conhecimento das mães sobre temas relacionados ao momento pré e pós puerpério, tais como: amamentação, autocuidado e cuidados básicos ao recém-nascido. (SANTOS; SILVA; SILVA, 2013). Já em traumas considerados de grande especificidade como o TCE, o conhecimento da sua etiologia possibilita estabelecer estratégias de prevenção a nível das categorias primária e/ou secundária. A prevenção primária é a retirada dos fatores de risco que causam o TCE, enquanto que a prevenção secundária é minimizar os efeitos do mesmo, ambas as medidas estão descritas na tabela 1. SIMAS; MARQUES; FRANCESCHI; SOUZA. (aput Papa et al., 2013). Tabela 1_ Principais fatores de risco/situações de risco, medidas de prevenção e condutas diante deum trauma pediátrico. PRINCIPAIS SITUAÇÕES DE RISCO MEDIDAS DE PREVENÇÃO CONDUTAS ACIDENTE DOMÉSTICO QUEDA - Não deixar as crianças desacompanhadas em locais altos e sem proteção. - Instalar grades ou telas em locais altos e corrimão em escadas. - Supervisionar quando uma criança menor estiver no colo do irmão mais velho, sendo sempre importante ter um adulto por perto; - Manter fechado janelas e portas de acesso a varanda ou terraço; - Manter o ambiente, o qual a criança circula, com o chão seco e não fazer o uso de produtos que favorecem o seu escorregamento como ceras, plásticos e tapetes mal instalados. - No momento do banho, deve-se colocar um tapete antiderrapante e no caso de banheiras, não utilizá-la mais apenas sobre o suporte de metal. - Remover móveis que facilitem o acesso da criança a janelas. - Levar a criança para o hospital se for menor de 2 anos ou caso apresentar convulsões, perda de consciência ou vômito. - Observar alterações no comportamento da criança (sono fora do comum e apatia), caso necessário procure atendimento médico. FERIMENTO - Remover móveis com bordas cortantes ou adicionar protetores de quina em material emborrachado. - Oferecer utensílios de plástico para as crianças. - Mantenha objetos cortantes fora do alcance das crianças. - Verifique sempre se não há brinquedos quebrados ou com pontas que possam ferir. -Ferimentos leves: lave o local lesionado com água e sabão, seque-o e mantenha a ferida aberta. - Ferimentos graves: pare o sangramento com panos limpos e leve ao atendimento hospitalar ou chame auxílio (192). ACIDENTE DE TRÂNSITO - Utilizar dispositivos de segurança (bebê conforto - até 1 ano / cadeirinha - de 1 a 4 anos / assento de elevação - de 4 a 7 anos / cinto de segurança - acima de 7 anos). - Não deixar as crianças desacompanhadas em locais com grande fluxo de carros. - Colocar nas crianças os acessórios de segurança durante o passeio de bicicleta, patins, skate e/ou similares, além de sempre supervisioná-las. - Crianças menores de 10 anos devem sentar apenas nos bancos traseiros dos veículos. -Respeitar as leis de trânsito. -Sinalizar a cena para evitar mais acidentes. -Não mover a vítima do local do acidente. -Manter a calma e ligar para o SAMU (192). AFOGAMENTO - Recomenda-se que as crianças iniciem aulas de natação a partir dos 4 anos de idade. - Supervisionar as crianças quando estiverem próximas ou dentro da água. - Optar pelo uso de coletes salva-vidas, pois são acessórios mais seguros para evitar afogamento. - Ensinar as crianças que não devem fazer brincadeiras dentro ou perto da piscina, como afundar e empurrar um ao outro. - Não deixar brinquedos ou objetos dentro de piscinas para não chamar atenção das crianças. - Cobrir reservatórios de água, equipamentos para flutuação - Instalar portões apropriados para impedir o acesso de crianças à piscina. -O primeiro passo é retirar a vítima da água e mantê-la aquecida até a chegada de ajuda médica. - Caso ela esteja inconsciente, ligue para o 192 ou 193 e siga as instruções. - Caso ela não esteja respirando, deite a vítima de barriga para cima em uma superfície reta e comece a reanimação Cardiopulmonar (RCP) até a chegada de uma equipe médica. ASFIXIA - Ofereça sempre alimentos cortados em pedaços pequenos para as crianças. - Estimule a criança a comer sempre sentada e a não falar com alimentos na boca -Ofertar para a criança brinquedos que são recomendados para a sua faixa etária. -Sempre inspecionar os brinquedos para identificar se não há peças soltas ou pedaços quebrados que possam ser engolidos. - Se houver irmão mais velho, fique atento se os brinquedos dele não são perigosos para o menor. - Mantenha a calma - Faça as Manobras de Heimlich para desengasgar a criança - Caso não saiba como agir, acione o 192 e siga as orientações - Acione o 192, se perceber que a criança não está conseguindo respirar ou se a respiração está limitada QUEIMADURA - Não deixar líquidos quentes e/ou inflamáveis ao alcance de crianças. - Virar cabos de panelas para a parte interna do fogão. - Testar a temperatura da água do banho antes de colocar a criança. - Testar a temperatura dos líquidos antes de oferecer à criança. - Não deixar o ferro de passar ao alcance da criança - Verificar se a cadeirinha do veículo e suas fivelas não estão quentes (devido a exposição ao sol) antes de colocar a criança. - Realizar manutenção periódica dos detectores de fumaça, padrões de segurança para acendedores. - Tampar tomadas e vedar fios desencapados. - Queimaduras leves e superficiais: lave com água corrente e mantenha a ferida limpa, seca e aberta - Queimaduras extensas e profundas: lave com água corrente e leve a criança para atendimento hospitalar ou chame o SAMU (192) Prevenção de Traumas em Crianças – Você precisa saber evitar. SBAIT (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado à Criança), em parceria com o CoBraLT (Comitê Brasileiro das Ligas de Trauma). CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta revisão bibliográfica permite concluir que, a faixa etária mais acometida nos traumas infantis envolveu crianças entre cinco a nove anos. Este dado é justificado pelo fato de que as crianças desta idade possuem pouco entendimento sobre possíveis perigos. Normalmente apresentam suas próprias ideias de interpretação do ambiente e pensamentos imaginários, fatores estes que contribuem para a ocorrência de diversos acidentes. Os dados apontados dos atendimentos em urgência e emergência a crianças vítimas de traumas, demonstram que os indivíduos de ambos os sexos estão expostos de igual maneira a eventuais danos físicos, sejam causados por acidentes domésticos, acidentes de trânsito, afogamento, asfixia/OVACE ou quedas. Entretanto, é importante notar que a maior parte dos pacientes desses atendimentos era do sexo masculino. Isso pode ser explicado pelo fato de que as brincadeiras praticadas pelos meninos, geralmente envolvem maior força física e velocidade. Em virtude dos fatos mencionados, foi possível observar que o significativo índice de vítimas de agravos por causas externas está relacionado a repetidas exposições às situações de perigo. E permitiu também perceber que a falta de conhecimento por parte dos responsáveis pelas crianças, na maioria das vezes influencia diretamente nesta incidência. Dessa forma, o principal objetivo da prevenção é desenvolver estratégias que minimizem este tipo de riscos. Em função disso, consideramos a importância de se realizar um levantamento periódico de dados a respeito dos traumas infantis, relacionando-os à elaboração de estratégias de promoção à saúde e medidas de prevenção que possam alcançar pais, familiares, educadores e a comunidade. Por conseguinte, compreende-se que é competência dos profissionais da saúde, em especial os enfermeiros, orientar aos envolvidos com as crianças através de práticas educativas, a fim de prevenir acidentes e estimular melhor qualidade de vida das crianças e seus familiares, uma vez que estes profissionais além de zelar pela vida também são educadores em saúde. Em situações de emergência, o enfermeiro administra a equipe de enfermagem e é responsável pela disponibilidade e qualidade dos recursos materiais que permitem à equipe trabalhar no atendimento de urgência. Como parte dessa organização, a função do enfermeiro de monitorar a criança e avaliá-la durante uma PCR é fundamental no atendimento emergencial, pois possibilita coleta de dados que permite evoluir com medidas eficientes de RCP. Além da manutenção da sala de emergência, o enfermeiro possui presença importante na atenção à criança, tendo um papel decisivo junto à equipe médica,contribuindo na realização de procedimentos de alta complexidade e garantindo atendimento eficaz às situações de risco iminente à vida. Nesse sentido, se faz necessário que esses profissionais sejam habilitados a atuarem com crianças vítimas de traumas, a fim de minimizar as dificuldades na avaliação inicial e garantir a exatidão do atendimento. Contudo, os dados permitem compreender que a prevenção de traumas deve ser contínua e requer a participação do governo local e da sociedade. Para obter sucesso nas medidas de prevenção, é imprescindível que as pessoas tenham oportunidade de fala e assumam uma participação social ativa, além de que as modificações de hábitos, readaptações de ambientes de convivência e outras atividades educativas de prevenção sejam discutidas com a comunidade. Tendo em conta esses aspectos, as informações demonstradas nesta revisão bibliográfica são de suma importância social, uma vez que os traumas infantis são possivelmente evitáveis e quando acontecem se torna indispensável até o mínimo de conhecimento prévio de primeiros socorros em atendimento a traumas infantis. REFERÊNCIAS COMITÊ DE TRAUMA DO COLÉGIO AMERICANO DE CIRURGIÕES; Advanced Trauma Life Support (ATLS), 10ª Ed 2018. PIRES, LOEDI DOS SANTOS et al. Assistência emergencial à vitimas pediátricas decorrente de acidentes automobilístico. Revista Jurídica Uniandrade, v. 30, n. 2, p. 59-71, 2020. PIRES, Maria Raquel Gomes Maia et al. A utilização dos serviços de atenção básica e de urgência no SUS de Belo Horizonte: problema de saúde, procedimentos e escolha dos serviços. Saúde e Sociedade, v. 22, p. 211-222, 2013. DE JONGE, Andressa Lima et al. Conhecimentos de profissionais de educação infantil sobre obstrução de vias aéreas por corpo estranho. 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