Prévia do material em texto
Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS PSICOLOGIA NA ENGENHARIA DE SEGURANÇA, COMUNICAÇÃO E TREINAMENTO Autora: Aline Inês Hendges 158.2 H497p Hendges, Aline Inês Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento / Aline Inês Hendges. Indaial : Uniasselvi, 2013. 88 p. : il ISBN 978-85-7830-739-4 1. Psicologia. 2. Relações humanas. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Prof. Márcio Moisés Selhorst Revisão de Conteúdo: Profa. Aline Maiochi Beirão Revisão Gramatical: Profa. Sandra Pottmeier Revisão Pedagógica: Profa. Patrícia Cesário Pereira Offial Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © Editora UNIASSELVI 2013 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial. Possui Graduação em Psicologia pela UNIASSELVI/FAMEBLU (2011). Especialização em Psicopedagogia pela UNIASSELVI (2012). Atua na educação superior e responsável pelo Núcleo de Apoio Psicopedagógico do Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI. Aline Inês Hendges Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7 CAPÍTULO 1 A Psicologia como Ciência e Suas Aplicações na Engenharia de Segurança ...................................................... 9 CAPÍTULO 2 Aspectos Psicológicos do Trabalho ...................................... 37 CAPÍTULO 3 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho ........... 73 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Seja bem vindo (a)à disciplina de Psicologia na Engenharia de Segurança, Comunicação e Treinamento. Esta disciplina está dividida em três capítulos e tem como objetivo oferecer- lhe um suporte no que diz respeito ao comportamento humano e às relações estabelecidas no ambiente de trabalho: O capítulo um aborda a psicologia como ciência e suas aplicações na Engenharia de Segurança – apresenta uma introdução à Psicologia para que você entenda de que forma a Psicologia pode contribuir com o seu trabalho como engenheiro de segurança. No capítulo dois discutimos os aspectos psicológicos do trabalho – trabalhar é uma necessidade humana, uma questão de sobrevivência. Passamos a maior parte do nosso dia no trabalho. A relação que estabelecemos com nossas atividades profissionais está diretamente relacionada com a nossa qualidade de vida. Você sabia que a maioria dos acidentes de trabalho acontece devido à falta de atenção ou negligência do trabalhador que, por interferência de sentimentos negativos decorrentes das mais variadas situações, deixam-se afetar comprometendo sua atenção para com a função que executam no trabalho? Conhecendo os aspectos psicológicos que podem afetar negativamente o trabalhador, você será capaz de intervir, prevenindo que o mesmo se coloque em situações de risco. O Capítulo três você irá estudar a comunicação e expressão no ambiente de trabalho – Este capítulo aborda aspectos relevantes acerca do ato de comunicar, o qual precisamos estar atentos, pois comunicar-se de forma eficaz evita muitos conflitos no ambiente de trabalho, pois a comunicação é o meio através do qual nos relacionamos com as pessoas e dela depende o bom funcionamento da organização. Bons estudos! A autora. CAPÍTULO 1 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de Segurança A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Compreender o desenvolvimento da Psicologia como ciência. 9 Entender como se dá a aplicação do conhecimento científico da Psicologia no cotidiano das pessoas. 9 Identificar as áreas da Engenharia de Segurança que podem ser beneficiadas pela aplicação do conhecimento psicológico. 9 Criar estratégias para aplicação do conhecimento da Psicologia em situações cotidianas do fazer do engenheiro de segurança. 9 Desenvolver estratégias para lidar com os mais variados tipos de personalidades existentes no ambiente de trabalho. 10 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento 11 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 Contextualização Caro (a) pós-graduando (a), você deve estar se perguntando por que tem de estudar Psicologia dentro da Engenharia de Segurança, não é mesmo? Pois bem, este primeiro capítulo do nosso caderno de estudos tem o objetivo de apresentar a Psicologia como ciência levando-o a refletir acerca de sua aplicação no seu ambiente de trabalho. No desenvolvimento de suas atividades como engenheiro de segurança seu olhar sempre estará voltado para o bem-estar do funcionário e aqui encontramos o primeiro ponto em comum entre a Psicologia e a Engenharia de Segurança. Tanto o psicólogo quanto o engenheiro de segurança trabalham no sentido de minimizar os riscos à saúde do trabalhador. Os dados sobre os acidentes de trabalho no Brasil são alarmantes. O custo dos acidentes e doenças do trabalho para o Brasil chega a R$ 71 bilhões por ano, o equivalente a quase 9% da folha salarial do País, da ordem de R$ 800 bilhões. O cálculo é do sociólogo José Pastore, professor de Relações do Trabalho da Universidade de São Paulo (USP). Trata-se de uma cifra colossal que se refere a muito sofrimento e perda de vidas humanas (JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO et al, 2012). Estas vidas precisam ser preservadas. Os trabalhadores devem ser conscientizados dos cuidados necessários para execução de atividades de risco. E você, no exercício de sua função como engenheiro de segurança precisa desenvolver habilidades que favoreçam essa conscientização, portanto, faz-se necessário estudar o comportamento humano para que você seja capaz de contribuir para com os funcionários de sua empresa criando comportamentos funcionais e seguros ao realizar suas atividades laborais. A partir deste momento iremos iniciar uma exploração ao mundo da Psicologia para descobrir como essa ciência pode ajudá-lo no desenvolvimento do seu trabalho. De uma forma geral, cada um de nós tem concepções diferentes sobre a Psicologia ou citando BOCK (2008, p.15) “as pessoas em geral tem sua psicologia”, aquela aplicada no cotidiano das pessoas, porém, a Psicologia científica possui métodos, técnicas e teorias específicas desenvolvidos após anos de pesquisa e é a esta Psicologia que nos voltaremos a partir de agora. Estamos nos referindo à Psicologia como ciência, mas você sabe o que torna um conhecimento cientifico? Ou seja, o que faz este conhecimento ser reconhecido no mundo da ciência? No desenvolvimento de suas atividades como engenheiro de segurança seu olhar sempre estará voltado para o bem- estar do funcionário e aqui encontramos o primeiro ponto em comum entre a Psicologia e a Engenharia de Segurança. Tanto o psicólogo quanto o engenheiro de segurança trabalham no sentido de minimizar os riscos à saúde do trabalhador. 12 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento A ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira à objetividade. Suas conclusões devem ser passiveis de verificação e isentas de emoção, para, assim, tornarem-se válida para todas. Objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas específicas, processo cumulativo do conhecimento e objetividade fazem da ciência uma forma de conhecimento que supera em muito o conhecimento espontâneo do senso comum. Esse conjunto de características é o que permite que denominemos de cientificoum conjunto de conhecimentos (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA et al, 2008, p. 20, grifo do autor). Conforme podemos constatar a ciência psicológica foi sendo construída ao longo dos anos movida pela curiosidade de diversos cientistas que dedicaram seu tempo a comprovar a aplicabilidade prática desta ciência. Posteriormente, iremos nos ater ao contexto histórico que favoreceu a criação e o desenvolvimento da Psicologia. Fundamentos Históricos da Psicologia A Psicologia é a ciência que estuda os processos mentais e o comportamento humano. Para entender o seu desenvolvimento como ciência precisamos nos voltar ao contexto histórico que favoreceu a sua criação. A história da Psicologia está relacionada com diferentes momentos históricos da humanidade, conforme citado por BOCK (2008) às exigências do conhecimento da humanidade, às demais áreas do conhecimento humano, aos novos desafios colocados pela realidade econômica e social e à insaciável necessidade do homem de compreender a si mesmo. A Filosofia foi o ponto de partida para o desenvolvimento da ciência de uma forma geral, inclusive da ciência psicológica. Ainda citando BOCK (2008), a filosofia originou-se na Grécia Antiga. Historicamente, o povo grego era o mais evoluído da época. A criação das primeiras cidades-estados (pólis), por volta do ano 700 A.C. fez surgir a necessidade de mais riquezas para manter as pólis, demandando conquistas de novos territórios, gerando crescimento e riquezas. Este contexto promoveu a exigência de novas soluções práticas para a arquitetura, agricultura e para a própria organização social impulsionando avanços na física e geometria, permitindo também que os cidadãos se ocupassem das coisas do “espírito”, dando início ao conhecimento filosófico. A Filosofia foi o ponto de partida para o desenvolvimento da ciência de uma forma geral, inclusive da ciência psicológica. 13 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 O termo Psicologia deriva do Grego: Psyché – Alma, Logos – razão = “estudo da alma”. A alma seria o lugar dos pensamentos, sentimentos, desejos, sensações e percepção. Os filósofos foram os primeiros a preocupar-se em entender a relação do homem com o mundo através da percepção. Entre eles destacam-se: Sócrates, Platão e Aristóteles. Você deve estar se perguntando de que forma estes filósofos impulsionaram a criação da Psicologia, não é mesmo? A tabela a seguir aponta as contribuições de cada um deles. Quadro 1 - Contribuições da Filosofia para a Psicologia FILÓSOFO CONTRIBUIÇÕES PARA A PSICOLOGIA Sócrates Preocupou-se com o limite que separava o homem dos animais e concluiu que a essência do ser humano é a razão. Abriu caminho para um aspecto que viria a ser muito estudado pela Psicologia: a consciência. Platão (Discípulo de Sócrates) Procurou definir um “lugar” para a razão no próprio corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça. A Medula seria o elo entre a alma e o corpo. Esse elemento de ligação era necessário porque conce- bia-se alma e corpo separados (concepção dualista). Aristóteles (Discípulo de Platão) Inovou trazendo uma concepção monista: alma e corpo não podem ser dissociados. Entendia a Psyché como princípio ativo da vida, ou seja, tudo aquilo que cresce, se reproduz e se alimenta possui a sua Psyché. Escreveu Da Anima “Da Alma” (402 a.C.) – considerado o primeiro Tratado de Psicologia da História. Fonte: Adaptado a partir de BOCK, FURTADO e TEIXEIRA (2008). 14 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Figura 1 - Filósofos que contribuíram para o surgimento da Psicologia Fonte: Disponível em: <http://causasbrasil.wordpress.com/2011/05/13/conceito- de-verdade-segundo-os-filosofos-classicos/>. Acesso em: 10 mar. 2013. É importante ressaltar que a Filosofia preocupou-se com estudos e discussões acerca da alma humana milhares de anos antes do advento da Psicologia científica. O que os filósofos discutiam na Grécia Antiga não era Psicologia, mas sim a tentativa de entender como o homem se relacionava com omundo em que vivia. Outro filósofo importante na relação entre Filosofia e Psicologia foi Galeno. Segundo Ito e Guzzo (2002) Galeno desenvolveu a primeira tipologia do temperamento, descrita em sua monografia “De Temperamentis” (1545), onde distinguiu e descreveu nove temperamentos, sendo que os mais difundidos entre teóricos e leigos são os quatro temperamentos primários, nomeados de acordo com os humores predominantes no corpo: Tipo sanguíneo, caracterizado por indivíduos atléticos e vigorosos, nos quais o humor corporal predominante era o sangue. 2) tipo colérico, indivíduos facilmente irritáveis, nos quais predominava a bile amarela. 3) tipo melancólico, indivíduos tristes e melancólicos que exibiam excesso de bile negra. 4) tipo fleumático, indivíduos cronicamente cansados e lentos em seus movimentos, que possuíam excesso de fleuma (ITO; GUZZO, p. 91-100, 2002 apud AIKEN, 1991). Quando falamos da história da Psicologia, além dos filósofos que viveram na Grécia Antiga precisamos citar outros dois que se destacaram na Idade Média: Santo Agostinho e São Tomás de Aquino. Às vésperas da Era Cristã, surge um novo império que iria dominar a Grécia, parte da Europa e o Oriente Médio: o Império Romano. Uma das principais características desse período é o aparecimento e o desenvolvimento do cristianismo – uma força religiosa que passa a força política dominante. A Filosofia preocupou-se com estudos e discussões acerca da alma humana milhares de anos antes do advento da Psicologia científica. O que os filósofos discutiam na Grécia Antiga não era Psicologia, mas sim a tentativa de entender como o homem se relacionava com omundo em que vivia. 15 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 Mesmo com as invasões bárbaras, por volta de 400 d.C., que levam à desorganização econômica e ao esfacelamento dos territórios romanos, o cristianismo sobreviveu e até se fortaleceu, tornando-se a religião principal da Idade Média, período que então se inicia. As ideias sobre o mundo psicológico, nesse período, estão relacionadas de perto ao conhecimento religioso, já que, ao lado do poder econômico e político, a Igreja Católica também monopolizava o saber (BOCK: FURTADO; TEIXEIRA et al, 2008, p. 34). Assim como Platão, Santo Agostinho era adepto da concepção dualista, ou seja, fazia uma cisão entre alma e corpo e ainda, segundo Bock (2008) para ele, a alma era a prova de uma manifestação divina no homem. Ela seria a ligação entre o homem e Deus, portanto, a alma seria imortal. São Tomás de Aquino inspirou-se em Aristóteles: Assim como o filósofo grego, ele considera que o ser humano, em sua essência, busca a perfeição por meio de sua existência. Porém, introduzindo o ponto de vista religioso, ao contrário de Aristóteles, afirma que somente Deus seria capaz de reunir a essência e a existência em termos de igualdade. Portanto, a busca de perfeição pelo homem seria a busca de Deus (BOCK; FURTADO; e TEIXEIRA et al, 2008, p. 35). Lembrando que este era o período em que a Igreja Católica estava testemunhando o aparecimento do movimento Protestante e o conhecimento disseminado pela Igreja começou a ser questionado. Já passamos pela Grécia Antiga e pela Idade Média. Chegamos agora ao Renascimento, período de transição para o capitalismo. Foi neste período histórico que grandes personalidades como Leonardo da Vinci, Boticelli, Michelangelo e Maquiavel produziram grandes obras. Este também foi um período em que a ciência avançou de forma bastante significativa. Em 1543, Copérnico revolucionou o conhecimento da época ao mostrar que a Terra não era o centro do Universo. Em 1610, Galileu realizava as primeiras experiências da Física. O conhecimento científico começa a estabelecer seus métodos e regras e ganha força, dando origem ao objeto de estudo da Psicologia Científica:a subjetividade humana. Em síntese, podemos perceber que foram as condições socioculturais da época que contribuíram para o surgimento da Psicologia como ciência: Para que exista um interesse em conhecer cientificamente o “psicológico”, são necessárias duas condições (além, naturalmente, da crença de que a ciência com seus métodos e técnicas rigorosas é um meio insubstituível para o conhecimento) a) uma experiência muito clara de subjetividade privatizada; e b) a experiência da crise dessa subjetividade. 16 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Isso, à primeira vista, pode parecer muito obscuro, mas trataremos de clarificar essas ideias. Ter uma experiência da subjetividade privatizada bem nítida é para nós muito fácil e natural: todos sentem que parte de suas experiências é íntima, que mais ninguém tem acesso a ela. É possível, por exemplo, ficar um longo tempo pensando se vamos ou não fazer uma coisa, quase decidir por uma e, no final, acabar fazendo outra, sem que ninguém fique sabendo de nada. Com frequência, sentimos alegrias e tristezas intensas e procuramos escondê- las. A possibilidade de mantermos nossa privacidade é altamente valorizada por nós e relacionada ao nosso desejo de sermos livres para decidir nosso destino. A experiência da solidão, ansiada ou temida, é também altamente expressiva daquilo que acreditamos ser nossa individualidade. Ainda com maior frequência temos a sensação de que aquilo que estamos vivendo nunca foi vivido antes por mais ninguém, de que nossa vida é única, de que o que sentimos e pensamos é totalmente original e quase incomunicável. Pois bem, historiadores e antropólogos com suas pesquisas mostram que essas formas de pensarmos e sentirmos nossa própria existência não são universais. Essa experiência de sermos sujeitos capazes de decisões, sentimentos e emoções privados só se desenvolve, se aprofunda e se difunde amplamente numa sociedade com determinadas características. Ao lermos com atenção as obras de historiadores, veremos que as grandes irrupções da experiência subjetiva ocorrem em situações de crise social, quando uma tradição cultural (valores, normas, costumes) é contestada e surgem novas formas de vida (FIGUEIREDO; SANTI, 2010, p. 19). Entende-se que a subjetividade diz respeito a uma experiência singular, pessoal e única e de cada um de nós. E que o contexto e a sociedade em que vivemos são fatores importantes na determinação das experiências que vivenciamos ao longo da vida. Abordaremos a Psicologia Científica e seu objeto de estudo de forma mais precisa no próximo tópico. Atividade de Estudos: 1) Descreva de que forma a Filosofia contribuiu para o surgimento da Psicologia: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 17 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O Surgimento da Psicologia Científica Pense na palavra ciência... O que vem à sua cabeça? Provavelmente você deve ter pensado em laboratório, testes, experiências... Algo que possa comprovar alguma teoria e por aí vai, certo? Segundo a definição do dicionário Aurélio on line (2012), ciência é um conjunto de conhecimentos fundados sobre princípios certos. Saber, mensuração, conhecimentos vastos ou ainda, conhecimento fundado em informações fidedignas. Existem alguns critérios que caracterizam um conhecimento como científico, ou seja, que o tornam científico. Trata-se um conhecimento diferente daquele que utilizamos no nosso dia a dia. O conhecimento cotidiano é aquele que passa de geração para geração. Você lembra do chá que sua avó indicava quando alguém estava com dor de estômago, por exemplo? Este é o conhecimento que chamamos de senso comum. O que sua avó sabia sobre o chá era baseado em experiências subjetivas, não havia nenhum estudo científico acerca da eficácia do chá, mas ainda assim a informação passava para todas as gerações da família. O texto complementar apresentado a seguir aborda as distinções entre o conhecimento do senso comum e o conhecimento científico. Você lembra do chá que sua avó indicava quando alguém estava com dor de estômago, por exemplo? Este é o conhecimento que chamamos de senso comum. O que sua avó sabia sobre o chá era baseado em experiências subjetivas, não havia nenhum estudo científico acerca da eficácia do chá, mas ainda assim a informação passava para todas as gerações da família. 18 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Características do senso comum Um breve exame de nossos saberes cotidianos e do senso comum de nossa sociedade revela que possuem algumas características que lhes são próprias: • São subjetivos, isto é, exprimem sentimentos e opiniões individuais e de grupos, variando de uma pessoa para outra, ou de um grupo para outro, dependendo das condições que vivemos. • São qualitativos, isto é, as coisas são julgadas por nós como grandes ou pequenas, doces ou azedas, pesadas ou leves, novas ou velhas. • São heterogêneos, isto é, referem-se a fatos que julgamos diferentes, porque os percebemos como diversos entre si. • São individualizadores por serem qualitativos e heterogêneos, isto é, cada coisa ou cada fato nos aparece como um indivíduo ou como um ser autônomo: a seda é macia, a pedra é rugosa. • Mas também são generalizadores, pois tendem a reunir numa só opinião ou numa só ideia coisas e fatos julgados semelhantes: falamos dos animais, das plantas, dos seres humanos, dos astros. • Em decorrência das generalizações, tendem a estabelecer relações de causa e efeito entre as coisas ou entre os fatos: “onde há fumaça, há fogo; mulher menstruada não deve tomar banho frio; ingerir sal quando se tem tontura é bom para a pressão; menino de rua é delinquente” etc. • Não se surpreendem nem se admiram com a regularidade, constância, repetição e diferença das coisas, mas, ao contrário, a admiração e o espanto de dirigem para o que é imaginado como único, extraordinário, maravilhoso ou miraculoso, justamente por isso, em nossa sociedade, a propaganda e a moda estão sempre inventando o “extraordinário”, o “nunca visto”. • Pelo mesmo motivo e não por compreenderem o que seja investigação científica, tendem a identificá-la como magia, considerando que ambas lidam com o misterioso, o oculto, o incompreensível. 19 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 • Costumam projetar nas coisas e no mundo sentimentos de angústia e de medo diante do desconhecido. Assim, durante a Idade Média, as pessoas viam o demônio em toda a parte e, hoje, enxergam discos voadores no espaço. • Por serem subjetivos, generalizadores, expressões de sentimentos de medo e angústia, e de incompreensão quanto ao trabalho científico, nossas certezas cotidianas e o senso comum de nossa sociedade ou de nosso grupo social cristalizam-se em preconceitos com os quais passamos a interpretar toda a realidade que nos cerca e todos os acontecimentos. A atitude científica O que distingue a atitudecientífica da atitude costumeira ou do senso comum? Antes de qualquer coisa, a ciência desconfia da veracidade de nossas certezas, de nossa adesão imediata às coisas, da ausência de crítica e da falta de curiosidade. Por isso, ali onde vemos as coisas, fatos e acontecimentos, a atitude científica vê problemas e obstáculos, aparências que precisam ser explicadas e, em certos casos, afastadas. Sob quase todos os aspectos, podemos dizer que o conhecimento científico opõe-se ponto por ponto às características do senso comum: • É objetivo, isto é, procura as estruturas universais e necessárias as coisas investigadas. • É quantitativo, isto é, busca medidas, padrões, critérios de comparação e avaliação para as coisas que parecem ser diferentes. • É homogêneo, isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenômenos, que são as mesmas para fatos que nos parecem diferentes. • É generalizador, pois reúne individualidades, percebidas como diferentes, sob as mesmas leis, os mesmos padrões ou critérios de medida, mostrando que possuem a mesma estrutura. • São diferenciadores, pois não reúnem nem generalizam por semelhanças aparentes, mas distinguem os que parecem iguais, desde que obedeçam a estruturas diferentes. 20 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento • Só estabelecem relações causais depois de investigar a natureza ou estrutura do fato estudado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes. • Surpreende-se com a regularidade, a constância, a frequência, a repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o maravilhoso, o extraordinário ou o “milagroso” é um caso particular do que regular, normal, frequente. Um eclipse, um terremoto, um furacão, embora excepcionais, obedecem às leis da física. Procura, assim, apresentar explicações racionais, claras, simples e verdadeiras para os fatos, opondo-se ao espetacular, ao mágico e ao fantástico. • Distingue-se da magia. A magia admite uma participação ou simpatia secreta entre coisas diferentes, que agem umas sobre as outras por meio de qualidades ocultas e considera o psiquismo humano uma força capaz de ligar-se a psiquismos superiores (planetários, astrais, angélicos, demoníacos) para provocar efeitos inesperados nas coisas e nas pessoas. A atitude científica, ao contrário, opera um desencantamento ou desenfeitiçamento no mundo, mostrando que nele não agem forças secretas, mas causas e relações racionais que podem ser conhecidas e que tais conhecimentos podem ser transmitidos a todos. • Afirma que, pelo conhecimento, o homem pode libertar-se do medo e das superstições, deixando de projetá-los no mundo e nos outros. Procura renovar-se e modificar-se continuamente, evitando a transformação das teorias em doutrinas, e destas em preconceitos sociais. O fato científico resulta de um trabalho paciente e lento de investigação e de pesquisa racional, aberto a mudanças, não sendo nem um mistério incompreensível nem uma doutrina geral sobre o mundo. Fonte: CHAUÍ, 2008. A tabela a seguir apresenta um comparativo entre os conhecimentos do senso comum e científico para que possamos visualizar de forma mais clara as principais diferenças entre eles: 21 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 Quadro 2 – Comparativo entre as características do conhecimento do senso comum e conhecimento científico SENSO COMUM CONHECIMENTO CIENTÍFICO Subjetivo. O conhecimento varia de uma pessoa para outra dependo do contexto em que ela vive. Objetivo. Utiliza-se de estruturas universais e muito bem definidas para a construção do conhecimento (o conhecimento pode ser com- provado cientificamente). Qualitativo. As coisas são julgadas (interpre- tadas) por nós como grandes ou pequenas, doces ou azedas, pesadas ou leves, novas ou velhas. Quantitativo. Estabelece medidas, padrões e critérios de comparação e avaliação para as coisas que parecem ser diferentes. Heterogêneo. Refere-se a fatos que julga- mos diferentes, porque os percebemos como diversos entre si (é novamente uma questão de interpretação, de ponto de vista. Eu e você podemos ter interpretações diferentes de um mesmo fato). Homogêneo. Busca leis gerais para o funcio- namento dos fenômenos, que são as mesmas para os fatos que nos parecem diferentes. Tende a estabelecer relações de causa e efeito entre as coisas ou entre os fatos: “onde há fumaça, há fogo; ingerir sal quando se tem tontura é bom para a pressão”. Só estabelece relações causais depois de investigar a natureza ou estrutura do fato estu- dado e suas relações com outros semelhantes ou diferentes. Não se surpreende nem se admira com a regularidade, constância, repetição e diferen- ça das coisas. A admiração e o espanto se dirigem para o que é imaginado como único, extraordinário e maravilhoso. Surpreende-se com a regularidade, a cons- tância, a freqüência, a repetição e a diferença das coisas e procura mostrar que o maravi- lhoso e o extraordinário tem uma explicação: um terremoto ou um furacão obedecem às leis da física (procura apresentar explicações racionais, claras e verdadeiras para os fatos, opondo-se ao espetacular, ao mágico e ao fantástico). Fonte: Adaptado de BOCK; FURTADO E TEIXEIRA, 2008. 22 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Os fatos ou objetos científicos não são dados empíricos espontâneos de nossa experiência cotidiana, mas são construídos pelo trabalho de investigação científica. Esta é um conjunto de atividades intelectuais, experimentais e técnicas, realizadas com base em métodos que permitem e garantem: • Separar os elementos subjetivos e objetivos de um fenômeno. • Construir um fenômeno como um objeto do conhecimento, controlável, verificável, interpretável e capaz de ser retificado e corrigido por novas elaborações. • Demonstrar e provar resultados obtidos durante a investigação, graças ao rigor das relações definidas entre os fatos estudados; a demonstração deve ser feita não só para verificar a validade dos resultados obtidos, mas também para prever racionalmente novos fatos como efeitos dos já estudados. • Relacionar com outros fatos um fato isolado, integrando-o numa explicação racional unificada, pois somente essa integração transforma o fenômeno em objeto científico, isto é, em fato explicado por uma teoria. • Formular uma teoria geral sobre o conjunto de fenômenos observados e dos fatos investigados, isto é, formular um conjunto sistemático de conceitos que expliquem e interpretem as causas e os efeitos, as relações de dependência, identidade e diferença entre todos os objetos que constituem o campo investigado. Delimitar ou definir os fatos a investigar, separando-os de outros semelhantes ou diferentes; estabelecer os procedimentos metodológicos para observação, experimentação e verificação dos fatos; construir instrumentos técnicos e condições de laboratório específicas para a pesquisa; elaborar um conjunto sistemáticos de conceitos que formem a teoria geral dos fenômenos estudados, que controlem a guiem o andamento da pesquisa, além de ampliá-la com novas investigações, e permitam a previsão de fatos novos a partir dos já conhecidos: esses são os pré-requisitos para a constituição de uma ciência e as exigências da própria ciência. A ciência distingue-se do senso comum porque este é uma opinião baseada em hábitos, preconceitos, tradições cristalizadas, enquanto a primeira baseia-se em pesquisas, investigações 23 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 metódicas e sistemáticas e na exigência de que as teorias sejam internamente coerentes e digam a verdade sobre a realidade. A ciência é conhecimento que resulta de um trabalho racional. Fonte: CHAUÍ, 2008. Atividade de Estudos: 1) Cite quais são as características do conhecimento científico: ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Agora que sabemos o que torna um conhecimento científico e o que o diferencia do senso comum, vamos nos voltar ao entendimento de como a Psicologia adquiriu o seu status de ciência. Conforme já estudamos, foram os filósofos da Grécia Antiga que desenvolveram as primeiras teorias sobre a forma como o homem se relacionava com o mundo, sua consciência e percepções. Porém em 1859 as teorias filosóficas deram espaço às teorias científicas a partir da publicação de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin. Nesse livro, ele propõe uma teoria da evolução baseada no processo de seleção natural. Em 1859 as teorias filosóficas deram espaço às teorias científicas a partir da publicação de “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin. 24 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Naturalistas e filósofos mais antigos, incluindo seu avô Erasmus Darwin, tinham todos discutido a possibilidade de as espécies evoluírem, mas foi só depois que Charles Darwin apareceu que os mecanismos da evolução se tornaram claros (GAZZANIGA; e HEATHERTON et al, 2005, p. 48). Após Darwin dar início à evolução da ciência, surge o positivismo de Augusto Comte, que defendia que o único conhecimento verdadeiro é o científico, ou seja, uma teoria só está correta se ela pode ser comprovada através de métodos e testes específicos da ciência. Segundo Bock et al (2008), dessa forma Comte propunha o método da ciência natural, a Física como modelo de construção de conhecimento. O conhecimento que até então era preocupação dos filósofos passou a ocupar também as investigações de fisiologistas e neurofisiologistas. O interesse destes cientistas pelos fenômenos psicológicos deu origem à Psicofísica. Por volta de 1860, temos a formulação de uma importante lei no campo da psicofísica. É a lei de Fechner-Weber, que estabelece a relação entre estímulo e sensação, permitindo a sua mensuração. Segundo Fechner e Weber, a diferença que sentimos ao aumentar a intensidade de iluminação de uma lâmpada de 100 para 110 watts será a mesma sentida quando aumentamos a intensidade de iluminação de 1000 para 1100 watts, isto é, a percepção aumenta em progressão aritmética, enquanto o estímulo varia em progressão geométrica. Essa lei teve muita importância na história da Psicologia porque instaurou a possibilidade de medida do fenômeno psicológico, o que até então era considerado impossível (BOCK; FURTADO; e TEIXEIRA et al, 2008, p. 38). Embora tenham sido vários os nomes que contribuíram para o avanço da ciência psicológica existe um que é considerado o pai da psicologia científica: Wilhelm Wundt (1832-1926). Wundt foi o responsável pela criação do primeiro laboratório de psicologia experimental em no ano de 1879 em Leipzig, na Alemanha. O método desenvolvido por ele foi a introspecção. Por exemplo, uma estimulação física, como uma picada de agulha na pele de um indivíduo, seria responsável por produzir um registro em sua mente. Nesse método, o experimentador pergunta ao sujeito, especialmente treinado para a auto-observação, os caminhos percorridos no seu interior por uma estimulação sensorial (a picada da agulha) (BOCK, 2008). O sujeito era cuidadosamente treinado no laboratório para descrever com máxima riqueza de detalhes as sensações provocas pelos estímulos. Com o desenvolvimento das pesquisas científicas a Psicologia precisava ainda definir o seu objeto de estudo, pois todo o conhecimento científico precisa ter um objeto de estudo bem definido. Wundt ateve-se às sensações e percepções. O pai da psicologia científica: Wilhelm Wundt (1832- 1926). Wundt foi o responsável pela criação do primeiro laboratório de psicologia experimental em no ano de 1879 em Leipzig, na Alemanha. 25 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 Tivemos ainda o Inglês Edward B. Titchener que estudou “os estados elementares da consciência como estruturas do sistema nervoso central” e o americano Willian James que, em linhas gerais preocupava-se com “o que fazem os homens e por que o fazem” (BOCK, 2008). A conclusão de todos os referidos estudos científicos apontava para um mesmo objeto: a subjetividade humana, ou seja, sensações, percepções, estados de consciência, como fazer as coisas e por que fazê-las tudo isso é subjetivo. Subjetividade nada mais é do que a singularidade humana, as particularidades de cada ser humano. E é com a subjetividade humana como objeto de estudo que a psicologia construiu todas as suas teorias. É importante ressaltar que somente em 1962 a profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil com a criação da Lei nº.4.119 de 27 de Agosto. Entendido o caminho percorrido até se chegar à psicologia científica, vamos investigar agora de que forma a ciência psicológica pode auxiliá- lo no desenvolvimento de suas atividades na Engenharia de Segurança. A Psicologia e a Engenharia de Segurança Caro (a) pós-graduando (a), a partir de agora vamos voltar nossos estudos no sentido de identificar as áreas da Engenharia de Segurança que podem ser beneficiadas pela aplicação do conhecimento psicológico, ou seja, como se dá a aplicação do conhecimento da Psicologia em situações cotidianas do fazer do Engenheiro de Segurança e ainda identificar situações de sofrimento psicológico que interfiram na segurança do trabalhador. Já estudamos anteriormente que o objeto de estudo da Psicologia é a subjetividade humana, certo? O fato de trabalharmos com um objeto de estudo tão amplo permitiu que a Psicologia desenvolvesse várias teorias e campos de atuação diferentes. A diversidade da Psicologia permitiu que a mesma fosse dividida em diferentes áreas de atuação a fim de compreender os mais diversos fenômenos vivenciados pelo ser humano. Dentre eles o trabalho, uma necessidade humana, a qual se atribui os mais diversos significados. A necessidade de trabalhar e a relação que o ser humano constrói com seu trabalho é, sem dúvida, uma das características mais marcantes do homem Subjetividade nada mais é do que a singularidade humana, as particularidades de cada ser humano. E é com a subjetividade humana como objeto de estudo que a psicologia construiu todas as suas teorias. Em 1962 a profissão de psicólogo foi regulamentada no Brasil com a criação da Lei nº.4.119 de 27 de Agosto. 26 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento moderno. Como engenheiro de segurança você atua diretamente no ambiente de trabalho das pessoas, com o objetivo de prevenir acidentes e zelar pela segurança do trabalhador. Para tanto, você precisa voltar o seu olhar para a forma como as pessoas fazem as coisas, ou seja, estar atento ao comportamento do trabalhador para identificar e intervir junto a situações que coloquem em risco a sua segurança. É justamente aqui que a ciência psicológica vem contribuir com o seu trabalho, no sentido de auxiliá-lo a perceber situações que exigem a sua intervenção. É muito comum que no ambiente de trabalho apareçam as dificuldades, as angústias, as frustrações, os desentendimentos e os conflitos entre as pessoas. No exercício de suafunção como engenheiro de segurança você também irá trabalhar com o intuito de melhorar o comportamento humano dentro da empresa, visando o bem comum da organização e das pessoas. Sendo a empresa constituída de pessoas, este olhar cuidadoso voltado ao trabalhador é essencial para o seu funcionamento eficaz, favorecendo a satisfação das pessoas envolvidas, buscando melhor desempenho e melhor qualidade de vida dos colaboradores. Já percebemos que a intervenção do engenheiro de segurança é fundamental para garantir o bom andamento das atividades da empresa, bem como o bem-estar do colaborador. A seguir sugerimos algumas ações concretas que você pode desenvolver na sua empresa. Reflita se é possível aplicá-las em seu ambiente de trabalho: • Criar programas de recompensa para funcionários que cumprirem rigorosamente as medidas de segurança. A recompensa costuma funcionar muito bem como fator de motivação; • Desenvolver trabalhos em parceria com os gerentes de cada área, visando as necessidades específicas de cada setor; • Orientar os gerentes em suas dificuldades e dúvidas, de forma a garantir que o perfil de cada trabalhador seja o mais indicado para determinada função, estando relacionado aos objetivos e política da empresa e à cultura da qualidade; Desenvolver treinamentos, que são programados a partir do levantamento de necessidades da empresa; • Realizar pesquisas e ações relacionadas à saúde do trabalhador e suas condições de trabalho. Você precisa voltar o seu olhar para a forma como as pessoas fazem as coisas, ou seja, estar atento ao comportamento do trabalhador para identificar e intervir junto a situações que coloquem em risco a sua segurança. É justamente aqui que a ciência psicológica vem contribuir com o seu trabalho, no sentido de auxiliá- lo a perceber situações que exigem a sua intervenção. 27 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 É fundamental que você crie uma relação de confiança com os colaboradores de sua empresa, estar próximo do trabalhador facilita a adesão dele por uma forma segura de desenvolver o trabalho. Outro aspecto para o qual precisamos estar atentos quando falamos em segurança no trabalho é a forma como cada indivíduo lida com suas emoções, pois os aspectos emocionais podem exercer influencia positiva ou negativa sob o sujeito, dependendo da habilidade dele para lidar com diferentes situações. A seguir apresentamos um texto de Soto (2005, p. 44-53) sobre como acontecem os processos emocionais: A Emoção e Personalidade A emoção é definida como qualquer agitação e transtorno da mente, o sentimento, a paixão; qualquer estado mental veemente ou excitado. A seguir utilizaremos o termo “emoção” como variável para analisar o comportamento humano nas organizações. Na opinião de Buss e Plomin, e emotividade é um temperamento que está relacionado com a combinação da facilidade e da intensidade com que se ativam as emoções negativas. Contudo, os reagentes que esses pesquisadores utilizaram para avaliar a emotividade correspondem principalmente à facilidade de ativação, razão pela qual é provável que o que mensuraram se relacionasse sobretudo com a frequência das emoções negativas. Larsen e Diener adotaram uma abordagem diferente; concentraram-se muito mais na intensidade das emoções que na frequência em que estas ocorriam. Esses autores sugerem que as pessoas diferem na intensidade do afeto que expressam em todos os sentimentos e não somente no temor, na ira e na aflição. Ao medir durante várias semanas o estado de ânimo dos seus sujeitos, descobriram que os que têm estados positivos intensos são os mesmos que asseguram ter estados fortemente negativos. Aqueles cujos sentimentos positivos tendiam a ser débeis também costumavam ter sentimentos negativos débeis. Larsen, Diener É fundamental que você crie uma relação de confiança com os colaboradores de sua empresa, estar próximo do trabalhador facilita a adesão dele por uma forma segura de desenvolver o trabalho. 28 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento e Emmons afirmam que a intensidade dos sentimentos pode se separar de sua frequência e conseguiram evidências que as apoiam. Assim, as equipes de pesquisadores concentram-se em aspectos diferentes da experiência da emoção: Larsen e Diener na intensidade, Buss e Plomin na facilidade ou frequência da ativação. Que ponto de vista é mais sensato ou útil? É difícil ter certeza. Larsen e Diener obtiveram evidências consideráveis de que o constructo da intensidade do afeto é uma boa ferramenta para compreender e prever tanto a conduta como as experiências das pessoas na vida cotidiana, o que não ocorreu com o constructo de Buss e Plomin. Por outro lado, há evidências importantes de que as qualidades que Buss e Plomin medem como emotividade são herdadas, enquanto as evidências sobre esse ponto para o constructo de Larsen e Diener são muito menos diretas. Para nossos atuais propósitos, o mais importante é que existem dois temas fundamentais que separam essas teorias. Um se refere a se os pesquisadores e teóricos teriam de concentrar-se a intensidade dos sentimentos, em sua frequência ou em ambos. Outro tema consiste em saber se a palavra emotividade deveria se referir unicamente à ativação de emoções relacionadas com a aflição ou a tendência mais geral à experiência de qualquer emoção. A emoção é conhecida geralmente com os termos sentimento ou estado de ânimo, mesmo que alguns estudiosos os concebam como categorias diferenciadas, reveladoras de situações pró-emocionais. A emoção é um estado interno (fisiológico e mental) do organismo que pode ser analisado a partir de uma dupla perspectiva provocada pela resposta interna do sujeito diante de um estímulo percebido como agradável ou desagradável. • Reação emotiva, caracterizada por um elevado estado de alerta ou de atenção. Trata-se de um processo fisiológico, um fenômeno simples de reação física. • Experiência emotiva, associada com situações de agrado ou desagrado. Esse processo cognitivo de associação é um fenômeno complexo. • A grande ressonância interior da experiência emotiva a faz aparecer como a única experiência verdadeira, enquanto 29 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 a experiência cognitiva, própria do processo de aquisição do conhecimento ou atividade do intelecto, apenas origina ressonâncias interiores importantes, devido ao fato de que a maioria dos conhecimentos humanos é adquirida de um modo emotivamente neutro. ... um estimulo produtor de emoção origina: • Um resposta emotiva (reação interna) que, por sua vez, atua como • Um estimulo motivador, que conduz a • Uma expressão de emoção que é a reação externa ou conduta emotiva A resposta fisiológica tem uma origem filogenética, pois foi gerada ao longo da evolução da vida. Esse tipo de resposta provavelmente se formou em situações de privação extrema, o que originou o traço característico de alerta ou atenção. A origem da emoção manifesta-se no caráter primário da conduta emotiva, quando a emoção é intensa e não existe o freio social, por exemplo, quando se produzem ataques, risos, gritos etc. Traços da personalidade Algumas das características populares do ser humano são agressividade, submissão, preguiça, ambição, lealdade e timidez. Quando essas características se manifestam em inúmeras situações, são conhecidas como traços da personalidade. Quanto mais consistente a característica e maior a frequência em diferentes situações, mais importante é o traço para descrever o individuo. Os traços da personalidade são inumeráveis; em um estudo foram identificados mais de 17.000, o que mostra ser quase impossível prever a conduta quando se devem levar em conta tantos traços. Finalmente, outro pesquisador isolou 171 traços, porém chegou a conclusão de que eram superficiais e nãoeram descritivos. Como esse tipo de estudo buscava uma seria reduzida de traços que identificassem os padrões básicos, foram identificados 16 fatores da personalidade que foram chamados de “traços fortes” ou “primários”. 30 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Figura 2 - Modelo dos cinco grandes fatores da personalidade Fonte: SOTO, 2005. Na figura 2 apresentam-se somente aquelas incidências mais relevantes que provocam mudanças de conduta no trabalho; a primeira relaciona-se com o lugar de controle na vida de um indivíduo. As outras são o maquiavelismo, o autocontrole, a propensão em assumir riscos e a personalidade tipo A da figura “3”. Uma grande parte das investigações que comparam traços internos com os externos demonstrou de forma consciente que quem obtém uma alta qualificação em externalidade está menos satisfeito com o seu trabalho, tem um absenteísmo maior, está mais alinhado com o local de trabalho e menos envolvido em seu trabalho que os indivíduos considerados internos. Por que os sujeitos que apresentam traços externos tendem a estar mais insatisfeitos? A resposta é provavelmente porque percebem a si mesmos com pouco controle sobre os resultados organizacionais que são importantes para eles. Os que apresentam traços internos, pelo contrario, enfrentam a mesma situação, mas atribuem os resultados organizacionais as suas próprias ações. Se a 31 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 situação não é atrativa, acreditam que não há ninguém a quem culpar a não ser eles mesmos. O sujeito insatisfeito internamente mais provavelmente renunciara ao seu trabalho se este não o satisfizer. Figura 3 - Atributos da personalidade que incidem no comportamento nas organizações Fonte: SOTO, 2005. Figura 4 - Disposição para assumir riscos Fonte: SOTO, 2005. 32 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Personalidade tipo A Está agressivamente envolvida em uma luta crônica e incessante para conseguir mais e mais em menos tempo e, se for necessário, contra os esforços de outras coisas ou com outras pessoas. Personalidade tipo B Raramente deseja obter um número maior de coisas ou participar em uma série eternamente crescente de eventos, em uma quantidade de tempo decrescente. Você compreende agora que devemos olhar o ser humano como um todo? Ele é fruto do que acontece em seu ambiente, combinado com fatores internos (emoções), que lhe são próprias, ou seja, subjetivas. As emoções têm um papel fundamental na relação que o indivíduo estabelece com seu trabalho (fazendo com que trabalhe em segurança ou colocando-o em risco). Estar atento ao aspecto emocional do trabalhador pode ajudá-lo a identificar situações que demandam sua intervenção a fim de garantir a segurança do mesmo. Processos Psicológicos Básicos Além das emoções e da personalidade, é importante que você conheça outros fenômenos psicológicos básicos que estão diretamente relacionados com a nossa forma de ver o mundo. São eles: percepção, atenção, memória, inteligência, pensamento e linguagem. Percepção: é um processo cognitivo, uma forma conhecer o mundo. É “o ponto em que a cognição e a realidade encontram-se” e talvez “a atividade cognitiva mais básica da qual surgem todas as outras” (DAVIDOFF, 2001, p. 141 apud NEISSER, 1976, p. 9). De uma forma geral, podemos dizer que a percepção é o modo como você percebe o mundo, como você o enxerga. É um processo que depende tanto do meio em que a pessoa está inserida como da pessoa que o percebe. Atenção: “é a tomada de posse da mente, em uma forma clara e vivida, de um dos diversos objetos ou séries de pensamentos que parecem simultaneamente possíveis... Implica o abandono de algumas coisas, a fim de ocupar-se 33 A Psicologia como Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 efetivamente de outras” (Willian James, ano, Principles of Psychology). Vamos explicar isso melhor: A atenção é o fenômeno pelo qual processamos ativamente uma quantidade limitada de informações do enorme montante de informações disponíveis através dos nossos sentidos, de nossas memórias armazenadas e de outros processos cognitivos (STERNBERG, 2000, p. 78). Memória: A memória está relacionada com os vários processos e estruturas envolvidos no armazenamento e recuperação de experiências. Envolve três procedimentos: codificação, armazenamento e recuperação. O conteúdo destinado ao armazenamento é primeiramente codificado. Codificação ou aquisição refere-se a todo o processo de preparar as informações para armazenamento. Durante a codificação, podemos traduzir os conteúdos de uma forma para outra. Conforme lemos, por exemplo, vemos “sinais” pretos na página. Podemos codificar essas informações como uma “imagem”, como sons ou como ideias que tenham significado (DAVIDOFF, 2001, p. 205). Inteligência: não há um conceito único para definir o que é inteligência, mas de uma forma geral “a inteligência é a capacidade para aprender a partir da experiência usando processos metacognitivos para melhorar a aprendizagem, e a capacidade para adaptar-se ao ambiente circundante, que pode exigir diferentes adaptações dentro de diferentes contextos sociais e culturais” (STERNBERG, 2000 p. 400). Você sabe o que é metacognição? Etimologicamente, a palavra metacognição significa ir além da cognição, isto é, refletir sobre a maneira como se aprende, analisar os próprios pensamentos. Pensamento: é através do pensamento que o ser humano distingue-se de qualquer outro animal, somos seres pensantes. O pensamento está diretamente relacionado com outros processos mentais. De uma forma geral, podemos dizer que o pensamento reflete nossa capacidade de entender, comparar, sintetizar e analisar tudo aquilo nos é apresentado através de outros processos mentais como a percepção, atenção, memória, inteligência e linguagem. Linguagem: Segundo Sternberg (2000) a linguagem compreende o uso de um meio organizado de combinar as palavras para fins de comunicação, 34 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento possibilitando que nos comuniquemos com aqueles que nos rodeiam através da fala, escrita, leitura etc. De acordo com Gazzaniga e Heatherton GAZZANIGA e HEATHERTON (2005), a aquisição da linguagem é um processo que depende tanto da maturação fisiológica da criança, quanto do contexto em que ela vive. Quanto mais estímulos a criança recebe mais recursos ela tem para aprender desenvolver mecanismos de comunicação. Não podemos esquecer que os processos psicológicos básicos não ocorrem isoladamente. Eles se complementam e ocorrem simultaneamente, suprindo nossas necessidades de compreensão de tudo o que acontece. Algumas Considerações Neste primeiro capítulo, estudamos um pouco da história da Psicologia e identificamos o caminho percorrido até a mesma adquirir o seu status de ciência. Também nos voltamos ao entendimento da forma como as emoções podem influenciar o desenvolvimento do trabalho das pessoas, bem como aspectos da personalidade aos quais você como engenheiro de segurança pode ficar atento no sentido de identificar situações que podem colocar em risco a segurança do trabalhador. No próximo capítulo abordaremos os aspectos psicológicos do trabalho, onde conseguiremos explorar ainda mais a aplicação dos conhecimentos da ciência psicológica no seu trabalho na Engenharia de Segurança. Referências BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair e TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.. Psicologias: Uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo: Saraiva, 2008. DAVIDOFF, Linda L. Introdução à Psicologia. São Paulo: Pearson Makron Books, 2001. FIGUEIREDO, Luís Claudio M.; SANTI, Pedro Luiz Ribeiro. Psicologia – Uma (nova) introdução. São Paulo: EDUC, 2010. GAZZANIGA, Michael S.; HEATHERTON, Todd F. Ciência psicológica – Mente, Cérebro e Comportamento. Porto Alegre: Artmed, 2005. 35 A Psicologiacomo Ciência e suas Aplicações na Engenharia de SegurançaCapítulo 1 ITO, Patrícia do Campo Pereira; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Diferenças individuais: temperamento e personalidade; importância da teoria. Est. Psicol. (Campinas) [online]. São Paulo, vol. 19, n. 1, p. 91-100, 2002. PASTORE. Notícia de jornal. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/ impresso,pais-gasta-r-72-bilhoes-por-ano-com-acidente-de-trabalho-,825342,0. htm>. Acesso em: 30 set. 2012. SOTO, Eduardo. Comportamento Organizacional – O impacto das emoções. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2005. STERNBERG, Robert J. Psicologia Cognitiva. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. 36 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento CAPÍTULO 2 Aspectos Psicológicos do Trabalho A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Conhecer os aspectos psicológicos envolvidos no trabalho. 9 Entender como o estresse interfere na qualidade de vida e saúde do trabalhador. 9 Compreender as implicações de um acidente de trabalho tanto para o trabalhador acidentado quanto para a empresa. 9 Criar condições de trabalho que contribuam para a qualidade de vida do trabalhador. 9 Utilizar estratégias para minimizar as situações de estresse no dia a dia do trabalho. 9 Prevenir comportamentos de risco que interferem na segurança do trabalhador. 38 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento 39 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Contextualização Atualmente o trabalho ocupa uma posição de extrema importância na vida das pessoas. Para muitos, constitui o aspecto mais importante da vida, ficando acima de interesses pessoais e familiares. Trata-se de uma questão de sobrevivência. Quantas pessoas você conhece que podem optar por não trabalhar? Creio que nenhuma ou pouquíssimas, não é mesmo? Isto porque trabalhar é uma necessidade do ser humano. É o que garante o seu sustento, a manutenção de um lar e de uma família. São muitos os aspectos envolvidos no ato de trabalhar. Talvez o mais importante deles seja a relação que estabelecemos com nosso trabalho. Pense comigo: passamos a maior parte do nosso dia trabalhando, certo? Acabamos convivendo muito mais com nossos colegas de trabalho do que com nossa família e amigos, por exemplo. Justamente por isso é que as relações com as pessoas que trabalham conosco, bem como com o ambiente e a função que exercemos precisam ser relações saudáveis e não prejudiciais à nossa saúde. A forma como lidamos com o trabalho está diretamente relacionada com a nossa qualidade de vida. Sentir-se incomodado ou desconfortável com alguma situação que aconteceu no trabalho é absolutamente comum. Não há como passar por determinadas situações sem experimentar, eventualmente, alguma sensação de aborrecimento. O problema é quando você não consegue superar o ocorrido e passa a sentir-se constantemente incomodado, contribuindo para que seus problemas de trabalho afetem sua vida como um todo. A grande maioria dos acidentes de trabalho acontece devido à falta de atenção ou negligência do trabalhador que, por interferência de sentimentos negativos decorrentes das mais variadas situações, deixam-se afetar, comprometendo sua atenção para com a função que executa no trabalho. E você como engenheiro de segurança, conhecendo os aspectos psicológicos que podem interferir na segurança do trabalhador, pode incentivar a criação de uma relação saudável com as atividades diárias que precisam ser executadas com segurança, visando o bem-estar e a qualidade de vida do colaborador. Relações Humanas no Trabalho Antes de entrarmos no campo dos aspectos psicológicos do trabalho, precisamos conhecer os fatos históricos que contribuíram para a criação do cenário que encontramos atualmente nas organizações. A forma como lidamos com o trabalho está diretamente relacionada com a nossa qualidade de vida. 40 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Quando falamos em trabalho faz-se necessário um resgate histórico de um fato importante que deu início às transformações ocorridas neste campo: A Revolução Industrial, que teve seu início na Inglaterra e ocorreu nos séculos XVIII e XIX. Compreender as relações entre os processos sociocomportamentais e os processos de produção ganhou status de uma necessidade crescente desde a implantação da tecnologia do vapor, em meados do século XVIII. A adaptação do desempenho humano a fluxos racionalizados de produção demandava domínio mais profundo e sistematizado sobre a relação entre os fluxos de produção e o contexto (ZANELLI, 2004, p. 13). A Revolução Industrial trouxe consigo mudanças significativas aos meios de produção. Tecnologias começaram a ser empregadas e o trabalho que anteriormente era realizado artesanalmente e muitas vezes em casa, próximo da família, passou a ser realizado em organizações, utilizando-se de novas tecnologias para a produção. Consequentemente este cenário provocou a necessidade de trabalhar em equipe e não mais individualmente, bem como adaptar-se às novas tecnologias. O novo modelo de produção trouxe uma série de implicações para a organização da vida e da sociedade. Por exemplo, separou os ambientes domésticos e de trabalho; reuniu um número imenso de pessoas em um mesmo lugar (a fábrica), em torno de uma única atividade econômica; intensificou o crescimento das cidades e sua separação do campo. No mundo delimitado da fábrica, a “cooperação” trouxe variadas novidades no planejamento, na organização e na execução do próprio trabalho, como a necessidade de padronizar (homogeneizar) a qualidade dos produtos e dos procedimentos, bem como adoção de uma disciplina etc. Estas novidades justificaram e promoveram o surgimento das funções de direção e supervisão (gerência), para fiscalizar e controlar o trabalho. A adaptação do trabalhador a tal realidade não ocorreu de forma simples (ZANELLI; BORGES-ANDRADE e BASTOS 2004, p. 30). Pode-se imaginar o impacto que essas mudanças causaram na vida das pessoas na época, não é mesmo? Além da adaptação às novas tecnologias empregadas no exercício de sua função, o trabalhador passou a ter de compreender também as diferenças individuas das pessoas com quem trabalhava para garantir que o trabalho fosse executado da maneira correta. Sabe-se que trabalhar em um ambiente de tensão contribui significativamente para a criação de fenômenos causadores de sofrimento psíquico, como estresse, depressão e alcoolismo (que veremos mais adiante). O contexto atual do mundo do trabalho leva-nos inevitavelmente a reflexões sobre a importância que damos à carreira profissional e a quanto de nossos esforços físicos e psicológicos temos empregados em função disso. 41 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Frequentemente presenciamos alguém dizendo “o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo”, “precisamos estar sempre atualizados e trabalhando muito”, “se você quiser um bom emprego vai ter que se dedicar muito, não está fácil para ninguém”, frases estas que ilustram o contexto atual que vivemos. Já vimos que a Revolução Industrial marcou o início das modificações no mundo do trabalho e podemos citar também outros fatores: as novas tecnologias, por exemplo, continuam sendo um fator importante no trabalho, pois são superadas muito rapidamente (a cada dia surgem novos mecanismos para serem aplicados na produção de uma infinidade de produtos) o que exige atualização constante. Vejam: estamos falando em atualização constante e não esporádica! A velocidade com que as informações chegam em nossas mãos é impressionante, o que também exige que estejamos atentos a tudo que acontece ao nosso redor (novamente a necessidade de atualização constante), sem contar que é fato que o mundo do trabalho é competitivo e exige que nós, trabalhadores, também sejamos. Este é o cenário. Precisamos encontraruma forma de fazer nosso trabalho, sem que o mesmo se torne uma fonte de sofrimento ao invés do sentimento prazeroso que deveria produzir em que o realiza (no final deste capítulo abordaremos esta questão mais profundamente quando discutirmos a qualidade de vida no trabalho). As contribuições da Engenharia para a Psicologia Organizacional O campo da Psicologia que estuda os fenômenos psicológicos presentes nas organizações, bem como as relações de trabalho chama-se Psicologia Organizacional. Você sabia que o desenvolvimento desta área foi influenciado pelos estudos desenvolvidos por um engenheiro? Vamos explicar de que forma isso ocorreu: A principal influência sobre o campo da Psicologia Organizacional foi o trabalho de Frederick Winslow Taylor, um engenheiro que estudou longamente a produtividade de funcionários em sua carreira durante o final do século XIX e início do século XX. Taylor desenvolveu o que ele chamava de administração científica como uma abordagem para manejar os operários da produção em fábricas. A administração científica inclui diversos princípios para guiar as práticas organizacionais. Em seus escritos, Taylor (1911) sugeriu o seguinte: 42 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento 1. Cada trabalho deve ser atentamente analisado, para que o modo otimizado de executar as tarefas possa ser especificado; 2. Os funcionários devem ser selecionados (contratados) de acordo com as características relacionadas ao desempenho no trabalho. Os gerentes devem estudar os funcionários para descobrir quais características pessoais são importantes; 3. Os funcionários devem ser cuidadosamente treinados para executar suas tarefas; 4. Os funcionários devem ser recompensados por sua produtividade para incentivar a melhoria do desempenho. Apesar dos ajustes efetuados ao longo dos anos, estas ideias são consideradas importantes até hoje. Outra influência do campo da Engenharia pode ser observada no trabalho de Frank e Lillian Gilbreth, marido e mulher que estudaram maneiras de desempenhar tarefas eficientemente. Eles combinaram itens do campo da Engenharia e da Psicologia (Frank era engenheiro e Lillian, psicóloga) ao estudar a forma pela qual as pessoas executam tarefas. Sua melhor contribuição foi o estudo do tempo e movimento, que envolveu a medição e a sincronização das ações executadas pelas pessoas durante as tarefas, com o objetivo de desenvolver uma forma mais eficiente de trabalhar. Embora a ideia básica fosse de Taylor, os Gilbreth aperfeiçoaram o processo e utilizaram novas técnicas para ajudar muitas organizações. Alguns historiadores sustentam que Lillian foi a primeira a receber o título de Ph.d. em Psicologia Organizacional, em 1915, mas muitos apontam que esta distinção pioneira foi dada a Bruce V. Moore, em 1921. O trabalho do Gilberth serviu de fundamento para o que mais tarde se transformaria no campo do fator humano, que estuda como melhor projetar a tecnologia para as pessoas. Nos últimos anos, Lillian voltou sua atenção para a área de produtos de consumo, tendo inventado o pedal para lixeiras e as prateleiras para portas de geladeira, entre outros itens. Entretanto os Gilbreth ficaram mais conhecidos como tema do filme Cheaper by the Dozen, que conta suas vidas como atarefados pais de 12 crianças (SPECTOR, 2010, p. 15). 43 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Atividade de Estudos: 1) Faça uma pausa para refletir sobre como você lida com situações estressantes que acontecem no seu ambiente de trabalho, bem como sobre qual é o significado do trabalho em sua vida. Anote suas impressões: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A Interferência do Estresse na Qualidade de Vida e Saúde do Trabalhador Você já presenciou algum colega de trabalho reclamando que está estressado? Ou você mesmo já se sentiu ou sente-se assim em algum momento? Provavelmente sim. Dizer que fulano está estressado tornou-se comum. Mas o que exatamente significa estresse? Vamos entender isso melhor... 44 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento A definição precisa da Física (da qual o conceito de estresse se origina) refere-se a uma força de resistência interna oferecida pelos materiais sólidos ante as forças externas (cargas). Mas esta não se mantém nas outras áreas que adotaram o conceito. Na medicina e na psicologia, assim como no seu uso popular, estresse aparece tanto para denominar condições externas, ou uma força imposta ao organismo, como para fazer referência às respostas desse mesmo organismo ante a estas forças, o que estaria mais próximo ao sentido original. (ZANELLI; BORGES-ANDRADE e BASTOS 2004, p. 280). De uma forma geral, podemos dizer que trata-se de uma dificuldade de adaptação a uma situação específica em que frequentemente o indivíduo sente-se sob pressão e não consegue lidar com isso. Ou ainda, vai acumulando pequenas situações mal resolvidas que resultam em estados de estresse que trazem consequências tanto para sua saúde física quanto psicológica. Apresenta-se abaixo a primeira definição do termo: Hans Selye, médico endocrinologista, foi o primeiro cientista a utilizar o termo “stress” na área da saúde. Ele observou que muitas pessoas sofriam de doenças físicas e reclamavam de sintomas comuns. Tais observações o levaram a investigações científicas em laboratórios, com animais, e, em 1936, a definir «stress» como «o resultado inespecífico de qualquer demanda sobre o corpo, seja de efeito mental ou somático, e «estressor», como todo agente ou demanda que evoca reação de estresse, seja de natureza física, mental ou emocional». Em seus estudos, Selye observou que o estresse produzia reações de defesa e adaptação frente ao agente estressor. A partir dessas observações, ele descreveu a Síndrome Geral de Adaptação (SAG), que pode ser entendida como «o conjunto de todas as reações gerais do organismo que acompanham a exposição prolongada do estressor» (SELYE, 2004 apud CAMELO; AGERAMI, 2004 p.15). A maior estudiosa do estresse no Brasil é a autora Marilda Lipp, que define o estresse da seguinte forma: Estresse é uma reação do organismo que ocorre quando ele precisa lidar com situações que exijam um grande esforço emocional para serem superadas. Quanto mais a situação durar ou quanto mais grave ela for, mais estressada a pessoa pode ficar. Porém, há meios de se aprender a lidar com o stress de modo que mesmo nos piores momentos o organismo não entre em colapso (LIPP, 2010). Na medicina e na psicologia, assim como no seu uso popular, estresse aparece tanto para denominar condições externas, ou uma força imposta ao organismo, como para fazer referência às respostas desse mesmo organismo ante a estas forças, o que estaria mais próximo ao sentido original. 45 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Mas quais sãoos fatores causadores do estresse? A Tabela 1 apresenta os resultados de uma pesquisa sobre estresse no trabalho que, de acordo com (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; e BASTOS, 2004) permitem perceber que essa vertente de estudo representa uma tentativa importante de aproximação dos possíveis efeitos do trabalho sobre o indivíduo. O referido estudo realizado por Fernandes, Silvany Neto, Miranda e colaboradores (2002) tinha com objetivo investigar as possíveis relações entre condições de trabalho e saúde em agentes penitenciários em oito unidades do serviço penitenciário da Região Metropolitana de Salvador (BA). Tabela 1 - Resultados da pesquisa de Fernandes Apenas 15,8% dos entrevistados relataram a disponibilidade de equipamento de proteção individual no trabalho da penitenciária. A prevalência de Distúrbios Psíquicos Menores (DPM) foi de 30,7%; de estresse passageiro, 7,4%; de estresse intermediário, 7,4%; e de estresse persistente, 15,1%. Queixas de doenças foram feitas por 91,6% dos agentes penitenciários (53,1% apresentaram até cinco queixas e 38,5%, mais de cinco queixas). Houve suspeita de alcoolismo em 15,6% dos entrevistados. Discussão e conclusões Mais da metade dos agentes afirmou não ter sido treinada para a função. Diante da complexidade de suas atividades, o agente necessita de um grande preparo para lidar com indivíduos infratores que, isoladamente do grupo, tendem questionar constantemente sua autoridade. Trata-se de um ambiente de trabalho bastante especial do ponto de vista das relações interpessoais e da autoridade exigida do agente penitenciário. Um treinamento adequado seria indispensável para que o trabalhador pudesse exercer sua autoridade sem utilizar-se do recurso da violência constante ou de deixar descer ou corromper diante de ameaças e propostas feitas. Muitos agentes trabalham nos dias de folga, possivelmente para aumentar sua renda. Além disso, muitos agentes costumam dobrar o turno, o que também pode indicar um esforço para melhorar o salário. Viu-se que as condições infraestruturais do trabalho, as dificuldades para a realização das atividades, a jornada excessiva, entre outros aspectos relacionados à organização do trabalho, e um tempo maior no sistema, também estavam associados a maiores prevalências de DPM. São, portanto, aspectos que também parecem contribuir para o desgaste da saúde mental dos agentes. As maiores prevalências de DPM, associadas à indisponibilidade de tempo para o lazer e a ausên- cia de prática de esportes, podem revelar a importância destas atividades para o alívio das tensões existentes no ambiente desses trabalhadores. Fonte: Silvany Neto, Miranda e colaboradores (2002). 46 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Percebe-se que é no ambiente de trabalho que os sintomas do estresse ficam evidentes devido a diversos fatores. Como vimos na pesquisa anterior falta de treinamento, baixa remuneração e jornada de trabalho excessiva são causadores de estresse. É importante ressaltar que cada pessoa reage de forma diferente frente às situações que precisa enfrentar. Se a situação irá lhe influenciar positiva ou negativamente depende de cada um. É subjetivo (você lembra do conceito de subjetividade que vimos no 1º capítulo do nosso caderno de estudos?). Porém, existem outros fatores que costumam contribuir para um estado de estresse. Vamos conhecer alguns deles: • Estados de ansiedade que são característicos do próprio indivíduo, ou seja, ser uma pessoa ansiosa faz com que a mesma sofra por antecipação, deixando-se afetar mais facilmente diante de situações difíceis. • Dificuldade de relacionamento interpessoal, que acaba gerando conflitos entre colaboradores. • Ausência de atividades físicas, sociais e de lazer. Não fazer outra coisa além de trabalhar acaba gerando cansaço físico e mental excessivo. • Ambiente de trabalho inadequado e aversivo, ou seja, não gostar do seu ambiente de trabalho favorece aborrecimentos. Você precisa se sentir bem e confortável enquanto trabalha. • A pressão do dia a dia por metas que precisam ser cumpridas. • Dificuldade de adaptação às mudanças. O mercado de trabalho muda com uma velocidade incrível. Precisamos nos adaptar para continuar exercendo nossa atividade profissional. • Prazos apertados para a realização de determinadas atividades. O que contribui para o aumento da jornada de trabalho. • A responsabilidade imposta que função que exerce na empresa. • Fatores pessoais que geram emoções negativas que são levadas para o ambiente de trabalho e se misturam com as atividades profissionais. • Carga horária de trabalho extensa (pois pode reduzir o tempo de lazer e convivência social, influenciando no desenvolvimento do estresse). De uma forma geral, o indivíduo que se encontra em um estado de estresse apresenta alguns sintomas que geralmente são percebidos por colegas de trabalho ou familiares, por exemplo: intensa sensação de cansaço físico, falta de disposição para realizar atividades rotineiras, irritabilidade, agressividade e dificuldade para dormir, por exemplo, porém, os sintomas variam de acordo com a fase de estresse que o indivíduo encontra-se: O indivíduo que se encontra em um estado de estresse apresenta alguns sintomas que geralmente são percebidos por colegas de trabalho ou familiares, por exemplo: intensa sensação de cansaço físico, falta de disposição para realizar atividades rotineiras, irritabilidade, agressividade e dificuldade para dormir, por exemplo, porém, os sintomas variam de acordo com a fase de estresse que o indivíduo encontra- se. 47 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 O estresse se desenvolve em 4 estágios. Inicialmente a pessoa entra no processo de stress pelo estágio de alerta. Esta é a fase boa do stress, onde produzimos adrenalina e ficamos cheios de energia e de vigor, prontos para, se necessário, varar a noite ou despender grande quantidade de energia se tivermos que lidar com uma emergência. Durante esta fase, podemos também sentir tensão ou dor muscular, azia, problemas de pele, irritabilidade sem causa aparente, nervosismo, sensibilidade excessiva, ansiedade e inquietação. Caso o que nos causa stress desapareça, saímos do processo de stress sem sequelas. Porém, se o estressor continua ou se algo mais acontece para nos desafiar, podemos entrar no estágio de resistência, que significa a etapa em que tentamos resistir ao stress. Nesta fase, dois sintomas mais importantes surgem: dificuldades com a memória e muito cansaço. Se nosso esforço for suficiente para lidar com a situação, o stress é eliminado e saímos do processo de stress. O problema maior começa a ocorrer quando não conseguimos resistir ou nos adaptar e nosso organismo começa a sofrer um colapso gradual. Entramos na fase de quase-exaustão, onde podem surgir os problemas mencionados a seguir (LIPP, 2010). Sintomas da fase de quase-exaustão do estresse • Cansaço mental; • Dificuldade de concentração; • Perda de memória imediata; • Apatia ou indiferença emocional; • Impotência sexual ou perda da vontade de ter sexo; • Herpes; • Corrimentos; • Infecções ginecológicas; • Aumento de prolactina; • Tumores; • Problemas de pele; • Queda de cabelo; • Gastrite ou úlcera; • Perda ou ganho de peso; • Desânimo, apatia ou questionamento frente a vida; • Autodúvidas; • Ansiedade; • Crises de pânico; • Pressão alta; • Alteração dos níveis de colesterol e triglicérides; • Distúrbios de menstruação; • Queda na qualidade de vida. 48 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Ainda citando LIPP (2010), apresentamos abaixo uma tabela com as dificuldades apresentadas pelas pessoas em cada fase do estresse: Tabela 2 - Fases do Estresse Fase de Alerta Fase de Resistência Fase de Quase-exaustão Fase de Exaustão SONO: Dificuldade em dormir muito acentuada devido à adrenalina. SEXO: Libido (vontade de ter sexo) alta. Muita energia. O sexo ajuda a relaxar.TRABALHO: Grande produtividade e criati- vidade. Pode varar a noite sem dificuldade. CORPO: Tenso. Mús- culos retesados. No inicio da fase, aparece a taquicardia (coração disparado). Sudorese. Sem fome e sem sono. Mandíbula tensa. Res- piração mais ofegante do que o normal. No todo, o organismo reage em uma perfeita união entre mente e corpo. A tensão do cor- po encontra correspon- dência na mente. HUMOR: Eufórico. Pode ter grande irritabilidade devido à tensão física e mental experimentada. SONO: Normalizado. SEXO: Libido (vontade de ter sexo) começa a baixar. Pouca energia. O sexo não apresenta interesse. TRABALHO: A produti- vidade e a criatividade voltam ao usual, mas às vezes não consegue ter novas ideias. CORPO: Cansado, mesmo tendo dormido bem. O esforço de re- sistir ao stress se ma- nifesta em uma certa sensação de cansaço. A memória começa a falhar. Mesmo não estando com alguma doença, o organismo se sente “doente”. HUMOR: Cansado. Só se preocupa com a fonte de seu stress. Repete o mesmo assunto e se torna tedioso. SONO: Insônia. Acorda muito cedo e não consegue voltar a dormir. SEXO: Libido (vontade de ter sexo) quase desaparece. A energia para o sexo está sendo usada na luta contra o stress e a pessoa perde o interesse. TRABALHO: A produtividade e a criatividade caem dramatica- mente. Consegue somente dar conta da rotina, mas não cria e nem tem ideias originais. CORPO: Cansado. Uma sen- sação de desgaste aparece. A memória é muito afetada e a pessoa esquece fatos corriqueiros, até mesmo seu próprio telefone. Doenças começam a surgir. As mulhe- res apresentam dificuldades na área ginecológica. Todo o organismo se sente mal. Ansiedade passa a ser sentida quase que todo dia. HUMOR: A vida começa a perder o brilho. Não acha graça nas coisas. Não quer socializar. Não sente von- tade de aceitar convites ou de convidar. Considera tudo muito sem graça e as pessoas tediosas. SONO: Dorme pouco. Acorda cedíssimo e não se sente revigorado pelo sono. SEXO: Libido (vontade de ter sexo) desaparece quase que completa- mente. TRABALHO: Não consegue mais trabalhar como normalmente. Não produz. Não consegue se concentrar e nem decidir. O trabalho perde o interesse. CORPO: Desgastado e cansado. Doenças graves podem ocorrer, como de- pressão, úlceras, pressão alta, diabetes, enfarte, psoríase etc. Não há mais como resistir ao stress. A batalha foi perdida. A pessoa necessita de ajuda médica e psicológi- ca para se recuperar. Em casos mais graves, pode ocorrer a morte. HUMOR: Não socializa. Foge dos amigos. Não vai a festas. Perde o senso de humor. Fica apático. Muitas pessoas têm vontade de morrer. Fonte: LIPP (2010). Cada ser humano reage de uma forma diferente diante das situações que vivência (o que é estressante para mim, pode não ser para você, por exemplo). Isso significa dizer que cada um de nós é responsável pelo estilo de vida que irá 49 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 adotar. Mesmo vivendo em um ambiente estressante, a forma como você lida com cada situação, ou seja, o seu jeito de encarar a vida é que vai determinar se você irá adoecer ou não. Atividade de Estudos: 1) Sabemos que quanto mais estressado o trabalhador estiver maior é a probabilidade de cometer erros que coloquem em risco sua saúde e segurança. De que forma o engenheiro de segurança pode contribuir para a redução do nível de estresse e consequentemente promover a qualidade de vida dos colaboradores da sua empresa? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Dentre várias doenças provocadas pelo estresse no trabalho (transtornos de ansiedade e depressão, por exemplo) temos ainda a Síndrome de Burnout cada vez mais comum entre trabalhadores. 50 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Texto complementar: A Síndrome de Burnout, ou Síndrome do Esgotamento Profissional, é um distúrbio psíquico descrito em 1974 por Freudenberger, um médico americano. O transtorno está registrado no Grupo V da CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Sua principal característica é o estado de tensão emocional e estresse crônicos provocados por condições de trabalho físicas, emocionais e psicológicas desgastantes. A síndrome se manifesta especialmente em pessoas cuja profissão exige envolvimento interpessoal direto e intenso. Profissionais das áreas de educação, saúde, assistência social, recursos humanos, agentes penitenciários, bombeiros, policiais e mulheres que enfrentam dupla jornada correm risco maior de desenvolver o transtorno. Sintomas O sintoma típico da Síndrome de Burnout é a sensação de esgotamento físico e emocional que se reflete em atitudes negativas, como ausências no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa autoestima. Dor de cabeça, enxaqueca, cansaço, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, crises de asma, distúrbios gastrintestinais são manifestações físicas que podem estar associadas à síndrome. Diagnóstico O diagnóstico leva em conta o levantamento da história do paciente e seu envolvimento e realização pessoal no trabalho. Respostas psicométricas a questionário baseado na Escala Likert também ajudam a estabelecer o diagnóstico. 51 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Tratamento O tratamento inclui o uso de antidepressivos e psicoterapia. Atividade física regular e exercícios de relaxamento também ajudam a controlar os sintomas. Recomendações • Não use a falta de tempo como desculpa para não praticar exercícios físicos e não desfrutar momentos de descontração e lazer. Mudanças no estilo de vida podem ser a melhor forma de prevenir ou tratar a Síndrome de Burnout; • Conscientize-se de que o consumo de álcool e de outras drogas para afastar as crises de ansiedade e depressão não é um bom remédio para resolver o problema; • Avalie quanto as condições de trabalho estão interferindo em sua qualidade de vida e prejudicando sua saúde física e mental. Avalie também a possibilidade de propor nova dinâmica para as atividades diárias e objetivos profissionais. Fonte: Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/doencas-e- sintomas/sindrome-de-burnout/)>. Acesso em: 15 out. 2012. Atividade de Estudos: 1) Descreva quais são os sintomas que o indivíduo apresenta quando se encontra em um estado de estresse em fase de quase- exaustão. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 52 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Depressão Vamos conhecer agora mais duas patologias que atingem diretamente a capacidade produtiva dos indivíduos, provocando afastamento do trabalho: A depressão e o alcoolismo. Pesquisa inédita da Universidade de Brasília (PORTAL UNB, 2011) mapeou as principais doenças que causam afastamento do trabalho no Brasil. Em 2008, 4% dos 32,5 milhões de trabalhadores brasileiros receberam o auxílio-doença – benefício concedido pelo Ministério da Previdência Social a quem recebe atestado médico por mais de 15 dias consecutivos. Os principais motivos estão ligados a lesões, como fraturas de pernas, punhos e braços; doenças oesteomusculares, como dores na coluna; e doenças mentais, como depressão e alcoolismo (grifo meu). O custo aos cofres públicos foi de R$ 669 milhões. Você já ouviu alguém dizer que está deprimido? Provavelmente sim e mais de uma vez, não é mesmo? “Estar deprimido”, “estar com depressão” virou algo frequente em nossa sociedade nos últimos anos. Porém, aqui cabe uma ressalva importante: tristeza não é depressão. Sentir-se triste não significa estar com depressão. A depressão é um transtorno mental reconhecido, ou seja, é diagnosticada e classificada como um transtorno mental. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 2002), para que o indivíduo seja diagnosticado com depressão, ele precisa apresentar cinco (ou mais) (grifo meu) dos seguintes sintomas durante o período de 2 semanas (grifo meu): (1) humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, indicado por relato subjetivo (por ex., sente-se triste ou vazio) ou observação feita por outros (por ex., chora muito). Nota: Em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável. (2) interesse ou prazer acentuadamente diminuídos por todas ou quase todas as atividades. (3) perda ou ganho significativo de peso sem estar em dieta (por ex., mais de 5% do peso corporal em 1 mês), ou diminuição ou aumento do apetite quase todos os dias. Nota: Em crianças, considerar falha em apresentar os ganhos de peso esperados. 53 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 (4) insônia ou hipersonia quase todos os dias. (5) agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias (observáveis por outros, não meramente sensações subjetivas de inquietação ou de estar mais lento). (6) fadiga ou perda de energia quase todos os dias. (7) sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada (que pode ser delirante), quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente). (8) capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se, ou indecisão, quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outros). (9) pensamentos de morte recorrentes (não apenas medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio. O tratamento mais indicado para a depressão utiliza medicamentos (anti- depressivos) associados ao acompanhamento psicológico, para que a pessoa encontre um novo significado para o que sente e aprenda a superar os sentimentos negativos. Sentimentos estes que começam aparecer gradativamente, portanto, o ambiente de trabalho é um dos lugares em que estes sentimentos podem aparecer. Por conta da convivência diária com as pessoas que trabalham conosco, conseguimos perceber quando alguém não está bem, está triste ou desanimada, por exemplo. É comum que aconteçam situações que nos deixam tristes, ou coisas com as quais não estamos preparados para lidar, porém se o sentimento de tristeza ou desânimo é o sentimento que predomina, causando prejuízos para vida do indivíduo (como faltar ao trabalho porque não tem ânimo para sair de casa, ou deixar de sair com os amigos, abandonar os estudos ou outra atividade que gostava muito, etc.) é importante que estejamos atentos para orientar a procura de uma avaliação médica ou psicológica. Alcoolismo Discutir a questão do alcoolismo não obstante torna-se delicado, pois estamos falando de uma droga lícita, cujo consumo é inclusive incentivado em nossa sociedade. Basta assistir as propagandas das grandes marcas de cerveja, por exemplo, onde o que se vê são pessoas lindas, cercadas de amigos em um local paradisíaco em que todos estão muito felizes e no final sempre aparece a indicação 54 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento “beba com moderação”. Porém qual é o limite que separa “beber com moderação” de ter problemas sérios por conta do consumo exagerado de álcool? Apresentaremos a seguir alguns dados para nos ajudar a refletir acerca desta questão. A estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de que a ingestão excessiva de álcool é a terceira causa de morte no mundo, depois do câncer e das cardiopatias. Em 1948, a Organização Mundial de Saúde incluiu o alcoolismo propriamente dito como um item diferenciado da intoxicação alcoólica ou de psicoses alcoólicas, na Classificação Internacional de Doenças (CID). Em 1956, a Associação Médica Americana declarou formalmente que o alcoolismo era uma doença. Em 1960, essa concepção passou a ser mais aceita no mundo inteiro com a publicação de The disease concept of alcoholism, de Jellinek, considerada obra clássica sobre o tema (VAISSMAN, 2004, p. 20). Atualmente o alcoolismo está descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) como abuso de álcool e dependência de álcool. O texto completar abaixo aponta as características da dependência e abuso de álcool: Dependência de álcool A dependência fisiológica de álcool é indicada por evidências de tolerância ou sintomas de abstinência. Especialmente se associada a um histórico de abstinência, a dependência fisiológica é indicativa de uma evolução clínica mais grave. A abstinência de álcool é caracterizada pelo desenvolvimento de sintomas de abstinência, mais ou menos quatro à doze horas após a redução de consumo pesado e prolongado de álcool. Uma vez que a abstinência de álcool pode ser desagradável e intensa, os indivíduos com dependência de álcool podem continuar ingerindo álcool apesar das consequências adversas, muitas vezes para evitar ou atenuar os sintomas de abstinência. Alguns sintomas (por exemplo, problemas para dormir) podem persistir em intensidade menos durante meses. Uma boa parcela dos indivíduos com dependência de álcool jamais experimenta níveis clinicamente relevantes de abstinência de álcool, e apenas cerca de 5% dos indivíduos com dependência de álcool chegam a ter graves complicações da abstinência (por exemplo, 55 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 delirium, convulsões de grande mal). Uma vez que se desenvolva um padrão de uso compulsivo, os indivíduos com dependência podem dedicar um tempo substancial à obtenção e ao consumo de bebidas alcoólicas. Esses indivíduos frequentemente continuam ingerindo álcool, apesar das evidentes consequências psicológicas ou físicas adversas (por exemplo, depressão, apagões, doença hepática ou outras sequelas). Abuso de álcool O abuso de álcool requer menos sintomas e, portanto, pode ser menos grave do que a dependência, e somente é diagnosticado quando for estabelecia a ausência de dependência. Os desempenhos escolar e ocupacional podem sofrer tanto pelos efeitos posteriores da ingestão de álcool quanto pela intoxicação durante o trabalho ou na escola: as responsabilidades envolvidas em cuidar dos filhos ou da casa podem ser negligenciadas, e faltas relacionadas ao álcool podem ocorrer na escola ou no trabalho. O indivíduo pode usar o álcool em circunstâncias fisicamente contra indicadas (por exemplo, dirigir veículo ou operar máquinas estando embriagado). Dificuldades legais podem decorrer do usode álcool (por exemplo, detenções por comportamento intoxicado ou por dirigir alcoolizado). Finalmente, os indivíduos com abuso de álcool podem continuar ingerindo álcool, apesar de saberem que o consumo continuado lhes trás problemas sociais ou interpessoais significativos (por exemplo, discussões violentas com o cônjuge quanto intoxicado, maus tratos para com os filhos). Quando estes problemas são acompanhados por evidências de tolerância, abstinência ou comportamento compulsivo relaciona ao uso de álcool, um diagnóstico de dependência de álcool, em vez de abuso de álcool, deve ser considerado. Entretanto, uma vez que alguns sintomas de tolerância, abstinência ou uso compulsivo podem ocorrer em indivíduos com abuso, mas sem dependência, é importante determinar se todos os critérios para dependência são satisfeitos. Critérios diagnósticos para Dependência de substância Um padrão mal adaptativo de uso de substância, levando a comprometimento ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por três (ou mais) dos seguintes critérios, ocorrendo em qualquer momento no mesmo período de doze meses: 56 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento (1) Tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos: (a) Necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância, para obter a intoxicação ou o efeito desejado, (b) Acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância. (2) Abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos: (a) Síndrome de abstinência característica da substância, (b) A mesma substância (ou uma substância estreitamente relacionada) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência. (3) A substância é frequentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido. (4) Existe um desejo persistente ou esforços mal sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância. (5) Muito tempo é gasto em atividades necessárias para obtenção da substância (por exemplo, consultas a vários médicos ou longas viagens de automóvel), na utilização da substância (por exemplo, beber em grupo) ou na recuperação de seus efeitos. (6) Importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância. (7) O uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por exemplo, consumo continuado de bebidas alcoólicas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou devido ao consumo de álcool). Critérios diagnósticos para abuso de substância A. Um padrão mau adaptativo de uso de uma substância levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por um (ou mais) dos seguintes aspectos ocorrendo dentro de um período de doze meses: 57 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 (1) Uso recorrente da substância acarretando fracasso em cumprir obrigações importantes no trabalho, na escola ou em casa (por exemplo, repetidas ausências ou fraco desempenho ocupacional relacionados ao uso de substância; faltas, suspensões ou expulsões da escola relacionadas à utilização da substancia; negligência dos filhos ou dos afazeres domésticos) (2) Uso recorrente da substância em situações nas quais isto representa perigo para a integridade física (por exemplo, dirigir veículo ou operar máquina quando prejudicado pelo uso da substância) (3) Problemas legais recorrentes relacionados à substância (por exemplo, discussões com o cônjuge a cerca das consequências da intoxicação, lutas corporais). (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM IV, 2002, p. 226). Agora que conhecemos os sintomas do alcoolismo, vamos nos voltar aos fatores de risco que contribuem para a manifestação desta condição no ambiente de trabalho. Araújo (1986) classifica alguns fatores que contribuem para maior risco profissional em relação ao consumo excessivo de bebidas, os quais têm sido referendados por outros autores brasileiros, como Vaissman (1995) e Campana (1997). São eles: - Disponibilidade ao álcool. Em certas formas de ocupação o acesso ao álcool ocorre quando se trabalha. - Pressão social para beber. Em certas profissões, há uma tradição quanto a se beber muito. - Separação da norma social. Quando ocorrem situações de solidão ou de falta de suportes sociofamiliares. - Ausência de supervisão. Quando ocorrem posições de comando de “alto status” ou sem chefias. - Alta ou baixa renda. Envolvendo indivíduos em pólos sociais extremos, capazes de beber muito. - Tensão, estresse e perigo. Empregos com essas características costumam facilitar o uso de bebidas. - Pré-seleção de população de alto risco. Algumas profissões atraem pessoas propensas a se tornarem bebedores excessivos, como na Medicina (pelo estresse do trabalho médico) (VAISSMAN, 2004, p. 24). 58 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Você saberia identificar se algum colaborador de sua empresa vem apresentando problemas em relação ao consumo de álcool? Vaisman (2004) nos alerta para alguns “sinais” apresentados pelo indivíduo que faz uso abusivo de bebidas alcoólicas: • Absenteísmo, ou seja, faltas não autorizadas, licenças por doenças, faltas de curta duração (com ou sem comprovação médica), flats frequentes nas segundas, sextas-feiras e nos dias que antecedem ou sucedem feriados, dias de trabalho extras para compensar faltas, faltas por doenças vagas como gripes, resfriados. • Atrasos excessivos após o almoço ou intervalos, saídas antecipadas, idas frequentes ao bebedouro ou banheiro. • Queda na produtividade e qualidade do trabalho, falta a compromissos, necessidade de um tempo maior para realizar as atividades, desperdício de materiais de expediente, perda ou estrago de equipamentos, dificuldade para seguir instruções e realizar procedimentos, dificuldade de reconhecer erros. • Apresentar-se ao trabalho bêbado ou com discurso vago e confuso e ainda descuidar-se da higiene pessoal. Diante das consequências e prejuízos acarretados pelo alcoolismo, a prevenção continua sendo o melhor caminho. Informação e educação são bons aliados da organização. A empresa pode promover palestras e treinamentos, por exemplo, com o objetivo de conscientizar seus colaboradores quanto aos riscos e consequências do consumo de bebidas alcoólicas tanto para a carreira quanto para a vida pessoal do indivíduo. E ainda, treinar colaboradores para que estejam aptos a identificar situações que exigem uma intervenção. Sabemos que o alcoolismo é um problema de saúde que precisa ser tratado, portanto, o colaborador que estiver nesta condição precisa ser encaminhando para um tratamento adequado. Qualidade de Vida no Trabalho Você já reparou em que momentos você produz mais ou trabalha melhor? Provavelmente quando sente-se bem e feliz, não é mesmo? 59 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Para que o colaborador seja produtivo é fundamental que suas habilidades para o trabalho sejam respeitadas, ou seja, que o trabalho seja condizente com o que ele sabe fazer melhor ou gosta mais de fazer. Sabe-se que a qualidade do produto é importante, mas além da preocupação com a qualidade do produto, a empresa precisa estar atenta também à qualidade de vida do seu trabalhador, pois se o mesmo estiver se sentindo bem na empresa, produzirá mais e melhor (e ambos saem ganhando). De acordo com Gil (2011) para que sejam produtivos os empregados devem sentir que o trabalho que executam é adequado as suas habilidades e que são tratados como pessoas. Não se pode esquecer que parte significativa da vida das pessoas é dedicada ao trabalho e que para muitas o trabalho constitui a maior fonte de identificação pessoal. Portanto, é natural que o indivíduo sinta a necessidade de identificar-se com o trabalho que realiza. Justamentepelo caráter de importância que o trabalho ocupa em nossas vidas, é cada vez mais frequente que o trabalhador escolha atuar em uma empresa que esteja preocupada com sua qualidade de vida. As pessoas querem trabalhar em lugares agradáveis. Assim, as empresas são desafiadas a investir no ambiente, tanto para atrair talentos, quanto para melhorar a produtividade do trabalho, mais do que isso, as empresas são desafiadas a implantar programas de qualidade de vida no trabalho que envolvam também as dimensões relacionadas ao estilo gerencial, à liberdade e autonomia para tomada de decisões e o oferecimento de tarefas significativas (GIL, 2011, p. 46). Selecionar a pessoa certa para executar uma função que esteja de acordo com suas habilidades é uma estratégia que contribui significativamente para obtenção de qualidade de vida no trabalho. Uma das teorias que pode ser utilizada para fazer isso está contemplada no texto complementar que veremos a seguir: A Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner Howard Gardner propôs sua teoria das inteligências múltiplas em 1983. Afastando-se da noção unitária da inteligência (a inteligência é uma capacidade unitária de raciocínio lógico do tipo exemplificado pelos matemáticos, cientistas e lógicos), Gardner defende vigorosamente várias inteligências relativamente autônomas. Ele define uma Inteligência como a “capacidade de resolver problemas ou criar produtos que são importantes num determinado ambiente cultural ou comunidade” (GARDNER, 1993, p. 15). Em 60 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento sua apresentação original da teoria, Gardner propôs sete dessas inteligências, mas observou que pode haver um número maior ou menor. O ponto essencial é que não existe apenas uma capacidade mental subjacente. Ao invés, várias inteligências, funcionando em combinação, são necessárias para explicar como os seres humanos assumem papéis diversos. 1. Inteligência linguística: é provavelmente a competência humana mais exaustivamente estudada, as evidências dessa inteligência vem da psicologia desenvolvimental, que revela uma capacidade para fala, universal e de rápido desenvolvimento, entre as pessoas normais. A neuropsicologia tem casos documentados de colapso e preservação da fala entre pacientes que sofreram dano cerebral. A neurobiologia também ajuda a destacar mecanismos centrais de processamento da informação associados a essa inteligência. Eles incluem os mecanismos dedicados a fonologia (sons da fala), sintaxe (gramática), semântica (significado) e pragmática (implicações e usos da linguagem em vários ambientes). A inteligência linguística é exemplificada pelos poetas, que são profundamente sintonizados com o som e os ricos significados da língua que usam. Ela também é um recurso crucial para jornalistas, publicitários e advogados. 2. Inteligência musical: permite as pessoas criar, comunicar e compreender significados compostos por sons. Diferentemente da inteligência linguística, que se desenvolve em alto grau nas diferentes culturas, sem instrução formal, uma inteligência musical de alto nível pode exigir uma exposição mais intensiva; no Ocidente, poucas pessoas atingem grande habilidade sem anos de treinamento. Estudos sobre prodígios indicam que essa inteligência é autônoma em relação a outras capacidades: ela pode manifestar-se num alto nível em uma pessoa cujas outras capacidades são médias ou mesmo deficientes (MILLER Miller, 1989; TREFFERT Treffert, 1989). Estudos neuropsicológicos e outros estudos do cérebro mostram que as áreas cerebrais dedicadas ao processamento da música são distintas daquelas destinadas ao processamento da linguagem. Componentes cruciais do processamento da informação incluem tom, ritmo e timbre (qualidade do som). A inteligência musical se manifesta claramente em compositores, maestros e instrumentistas, assim como em peritos em acústica e engenheiros de áudio. 61 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 3. Inteligência lógico-matemática: envolve usar e avaliar relações abstratas [...] uma operação central nessa inteligência é a numeração – a capacidade de atribuir um numeral correspondente a um objeto numa série de objetos. Existem evidências de relativa autonomia da inteligência lógico-matemática em seu aparecimento isolado em alguns savants (sábios), que são capazes de realizar façanhas matemáticas na ausência de outras capacidades, e na existência de prodígios matemáticos. Estados finais que dependem imensamente da inteligência lógico-matemática incluem matemáticos, programadores de computador, analistas financeiros, contadores, engenheiros e cientistas. 4. Inteligência espacial: refere-se a capacidade de perceber informações visuais ou espaciais, de transformar e modificar essas informações, e de recriar imagens visuais mesmo sem referência a um estímulo físico original. Essa inteligência é necessária para elaborar os problemas ilustrados na Figura 1. A inteligência espacial não depende da sensação visual. Pessoas cegas também a utilizam (Landau, Gleitman e Spelke, 1981), por exemplo, para construir uma imagem mental de suas casas ou encontrar o caminho para o trabalho. Capacidades centrais nessa inteligência incluem a capacidade de construir imagens em três dimensões e de mover e rotar essas representações. Na maioria dos ocidentais, o desenvolvimento desta inteligência, pelo menos conforme aplicada nas artes visuais, cessa na infância média, a menos que sejam oferecidos apoio e educação (DAVIS, 1991; LOWENFELD; BRITTAIN, (1982); WINNER, 1982). Entretanto, essa inteligência também é utilizada fora das artes visuais, por exemplo, entre os geógrafos, cirurgiões e navegadores. Mesmo que as habilidades lógico-matemáticas e espaciais se desenvolvam a partir da percepção de objetos, a pesquisa neurológica apoia a autonomia da inteligência espacial. A inteligência espacial é “controlada’ pelo cérebro. Ela requer o funcionamento intacto dos lobos parietal e temporal direitos, e conexões entre essas e outras regiões do cérebro. 5. Inteligência corporal-cinestésica: [...] Envolve o uso de todo o corpo ou de partes do corpo para resolver problemas ou criar produtos. Operações centrais associadas a essa inteligência são o controle das ações motoras amplas e finas e a capacidade de manipular objetos externos. Os fundamentos biológicos dessa inteligência são complexos. Esses incluem coordenação entre 62 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento sistemas neurais, musculares e perceptuais. A existência de uma inteligência corporal cinestésica é apoiada pelas apraxias – síndromes neurológicas tipicamente relacionadas a lesão no hemisfério esquerdo. Pessoas com apraxias são incapazes de realizar sequências de movimentos apesar da capacidade de compreender um pedido de que realizem uma sequência de movimentos e da capacidade física de executar cada movimento dessa sequência. Gardner especula que o desenvolvimento da inteligência corporal-cinestésica avança de reflexos iniciais, como sugar, para atividade cada vez mais intencionais, para a capacidade de imitar e criar, usando o movimento. Dançarinos, alpinistas, malabaristas, ginastas e outros atletas exemplificam a inteligência corporal-cinestésica. 6. Inteligência intrapessoal: depende de processos centrais que permitem às pessoas diferenciar os próprios sentimentos. Gardner vê essa inteligência como desenvolvendo-se a partir de uma capacidade de distinguir o prazer da dor e de agir em função dessa discriminação. Em seu nível mais elevado, as discriminações entre os próprios sentimentos, intenções e motivações trazem um profundo autoconhecimento, como aquele utilizado pelas pessoas mais velhas quando tomam uma decisão crucial ou quando aconselham outras em sua comunidade. Mais recentemente, Gardner enfatizou o papel desempenhado por essa inteligência para permitir que os indivíduos construamum modelo acurado de si mesmos e utilizem esse modelo para tomar boas decisões em suas vidas. Assim, essa inteligência pode agir como uma “agência central de inteligências”, permitindo que os indivíduos conheçam as próprias capacidades e percebam a melhor maneira de usá-las (KORNHABER; GARDNER, 1991). 7. Inteligência interpessoal: emprega capacidade centrais para reconhecer e fazer distinções entre os sentimentos, as crenças e as intenções dos outros. No início do desenvolvimento, essa inteligência é vista como a capacidade das crianças pequenas de discriminar entre os indivíduos de seu meio ambiente e perceber o humor dos outros. Em suas formas mais desenvolvidas, a inteligência interpessoal se manifesta na capacidade de compreender os sentimentos e atitudes dos outros, agir em função deles e moldá-los, para o bem ou para o mal. Essa inteligência possibilitou que Madre Teresa, Mao Tse-Tung e Martin Luther King executassem seu trabalho. Essa inteligência é amplamente utilizada por terapeutas, pais e professores dedicados. 63 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Quer descobrir qual é sua inteligência predominante? Faça o teste a seguir e descubra! TESTE DE INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS Para cada frase, dê pontos, de acordo com o quanto você as considera adequadas ao seu perfil: “eu não sou nada parecido com essa descrição” = 0 “Sou um pouco parecido” = 1 “Sou bem parecido” = 2 “A frase me descreve com perfeição” = 3 TIPO A ( ) aprendo facilmente com livros e textos diversos ( ) entendo bem o que as pessoas me dizem. Elas também me entendem com bastante facilidade ( ) tenho boa memória para trivialidades ( ) para mim, é importante que existam regras TIPO B ( ) tenho facilidade com cálculos ( ) gosto de usar o computador ( ) gosto de resolver charadas ( ) sou organizado TIPO C ( ) leio com facilidade mapas, esquemas e diagramas ( ) tenho memória fotográfica ( ) crio com meus pensamentos imagens muito vívidas TIPO D ( ) sei de tudo que acontece, pelos sons que ouço ( ) lembro bem mais o que o professor diz do que o que ele escreve ( ) emociono-me com facilidade com músicas 64 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento TIPO E ( ) preciso praticar para entender melhor um assunto ( ) tenho facilidade para perceber o ambiente físico ( ) gosto de praticar esportes, de representar, dançar ou de tocar algum instrumento ( ) não suporto as aulas longas. Preciso de várias pausas. TIPO F ( ) gosto de trabalhar em grupo ( ) sou bom para ajudar a resolver conflitos ( ) comunico-me bem, compreendo facilmente situações sociais TIPO G ( ) sou automotivado ( ) conheço muito bem minhas qualidades e limitações ( ) tenho intuição desenvolvida, embora nem sempre valorizada ( ) respeito muito os objetivos e valores dos outros RESPOSTA DO TESTE TIPO A – inteligência linguística: a palavra é fundamental. Quem tem esse tipo de perfil tem talento com as linguagens escrita e falada, seja para compreender ou para se expressar. TIPO B – inteligência lógico-matemática: talento para o raciocínio, a investigação, caracterizado pela facilidade para lidar com números. TIPO C – inteligência espacial: coisa de quem sabe lidar com a imagem seja para decodificá-la rapidamente, seja para conseguir visualizá-la mesmo que não esteja impressa. TIPO D – inteligência musical: tem facilidade para identificar sons. Pode ser um talento musical. É como se a pessoa enxergasse através de sons. TIPO E – inteligência corporal-cinestésica: o corpo é a ferramenta, o instrumento, ou seja, o contato físico é básico. TIPO F – inteligência interpessoal: é bom em se relacionar com as pessoas: conhece bem o outro e sabe como tirar de cada um o que precisa. TIPO G – inteligência intrapessoal: é o tipo de pessoa que se conhece muito bem (seus limites e possibilidades), tendo 65 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 capacidade de automotivação. Reservada, ela também é considerava um bom ouvinte. Fonte: PEIXOTO, 2006. Disponível em: <http://www.aecambui.com. br/?menu=07&id_reg=10&id_reg2=313>. Acesso em: 20 fev. 2013. O Acidente de Trabalho e suas Implicações De uma forma geral, podemos dizer que acidente de trabalho é todo o acidente que ocorre durante o exercício da atividade profissional do indivíduo certo? Mas você sabia que existe uma legislação específica para tratar destes casos? De acordo com a Lei 8.213/91, «acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho». Ao lado da conceituação acima, de acidente de trabalho típico, por expressa determinação legal, as doenças profissionais e/ ou ocupacionais equiparam-se a acidentes de trabalho. Os incisos do art. 20 da Lei nº 8.213/91 as conceitua: - doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social; - doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I. O art. 21 da Lei nº 8.213/91 equipara ainda a acidente de trabalho: Acidente de trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do art. 11 desta lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho. 66 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação; II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão; e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho: a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa; b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado; d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado. §1º Nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho. 67 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Fonte: Disponível em: <http://www.tst.jus.br/web/trabalhoseguro/ resolucao – Acesso em: 15 out. 2012>. Acesso em: 15 out. 2012. Agora que você já conhece a legislação que trata dos acidentes de trabalho, vamos voltarnossa atenção para as implicações destes acidentes. O número de acidentes de trabalho no Brasil cresce a cada ano, conforme podemos perceber na reportagem que segue: Crescem Acidentes de Trabalho em 2011 no Brasil A retomada das obras de infraestrutura e construção imobiliária elevou o número de acidentes de trabalho que resultam em mutilações ou mortes no Brasil. Entre janeiro e outubro de 2011, pelo menos 40.779 trabalhadores foram vítimas de acidentes graves de trabalho, dos quais 1.143 morreram, segundo o Ministério da Saúde. O número é 10% maior que em igual período do ano passado (37.035). Os dados do Mministério englobam trabalhadores de diversos setores de atividade, mas se referem apenas aos atendimentos na rede de serviços de saúde credenciada do Sistema de Agravos de Notificação (Sinan). Desde 2004, uma determinação do ministério obriga os médicos a notificarem os casos graves de acidentes de trabalho. Boa parte do aumento de casos fatais resultou de acidentes na construção civil. Por exemplo, até meados de dezembro, 14 trabalhadores do setor morreram na cidade de São Paulo, mais que o dobro do número de todo o ano anterior (6). Entre eles, o operário Alex Sandro dos Santos, de 30 anos, que trabalhava na obra de expansão do Hospital Oswaldo Cruz, na Bela Vista, centro da cidade. No dia 30 de novembro, Santos caiu de um andaime da altura de oito andares. O cinto de segurança que ele usava não estava fixado ao prédio. Outros dois operários ficaram pendurados, mas não tiveram ferimentos. “Casos tristes como esse a gente vê diariamente na construção civil”, diz Antônio de Sousa Ramalho, presidente do Sindicato dos 68 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Trabalhadores da Construção Civil de São Paulo. “Na maioria dos casos, é gente que vem de outras partes do País tentar melhorar a vida na cidade grande e se aventura em trabalhos perigosos sem treinamento ou qualquer experiência profissional.” Os números oficiais de acidentes de trabalho no País são bem maiores que os do Ministério da Saúde, porém, são divulgados com atraso de quase um ano pelo Ministério da Previdência Social. Em 2010, foram 701.496 acidentes, 31,8 mil a menos do que em 2009. O número de mortes, no entanto, aumentou de 2.650 para 2.712. Mas ele é ainda maior. As estatísticas da Previdência Social só consideram os trabalhadores formais, que têm carteira de trabalho e pagam o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Ficam de fora cerca de 20 milhões de brasileiros que não contribuem para a Previdência, os chamados trabalhadores da economia informal. “Os próprios sindicatos patronais reconhecem que a informalidade é muito grande na construção civil”, diz Luiz Carlos José de Queiroz, vice-presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores da Construção e da Madeira, filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT). As grandes construtoras não costumam trabalhar com informais, mas elas repassam os trabalhos para empresas menores que, por sua vez, subcontratam outras empresas para tocar partes das obras. “Na construção, 95% da mão-de-obra é terceirizada, quarterizada ou quinterizada”, afirma Ramalho. “A maioria é informal.” O problema é que vários estudos apontam que os acidentes de trabalho são mais comuns entre funcionários de empresas terceirizadas. Uma pesquisa divulgada recentemente pela CUT mostra que quatro em cada cinco acidentes de trabalho, inclusive os que resultam em mortes, envolvem trabalhadores terceirizados. Para Antonio de Souza Ramalho, o número de acidentes de trabalho não para de aumentar no setor porque os operários passaram a trabalhar em regime de empreitada, com excesso de carga horária por causa da falta de mão-de-obra especializada. “Pela lei, a jornada é de 44 horas semanais, mas sabemos que o pessoal quase dobra isso”, argumenta o sindicalista. “É uma forma de o camarada conseguir mais que o triplo do dinheiro que ele deveria 69 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 levar para casa, mas correndo o risco de ficar mutilado e até perder a vida, o que não vale a pena.” O governo acaba de criar a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho, fruto de amplo debate e organização da comissão tripartite formada pelas centrais sindicais, representantes do governo (Ministérios da Saúde, Trabalho e Previdência Social) e entidades patronais. “Um dos principais indicadores que ela traz é a necessidade de que as ações governamentais nesse campo passem a se articular para serem mais eficientes e atingir o maior número de trabalhadores”, destaca Carlos Augusto Vaz de Souza, coordenador- geral de saúde do trabalhador do Ministério da Saúde. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. Fonte: Disponível em: <http://blogsegurancatotal.blogspot.com.br/ 2012/01/crescem-acidentes-de-trabalho-em-2011.html>. Acesso em: 15 out. 2012. O crescente número de acidentes de trabalho faz com que a figura do engenheiro de segurança seja indispensável no que diz respeito ao planejamento de estratégias para evitar que vidas sejam colocadas em risco por negligência ou falta de orientação adequada para execução de determinados serviços. E como prevenir que os acidentes de trabalho aconteçam? Para Soares et al (2008), existem dois fatores que, quando identificados, poderão evitar acidentes e prevenir doenças, sendo estes: fatores pessoais, destacando-se a capacidade física ou mental inadequada e a falta de conhecimento ou habilidade para a realização da tarefa, a motivação inadequada para o trabalho seguro (aceitar e seguir exemplos inadequados ou impróprios); e fatores de trabalho, caracterizados pela instrução, orientação ou treinamento insuficientes, projeto inadequado, identificação ou monitoração deficiente dos riscos, manutenção deficiente, estresse e falta de habilidade para execução de tarefas. Portanto, entende-se que é de suma importância que os trabalhadores sejam selecionados para a função de forma extremamente criteriosa e cuidadosa, levando-se em consideração se o indivíduo possui as habilidades necessárias para executar o trabalho de forma segura. É de suma importância que os trabalhadores sejam selecionados para a função de forma extremamente criteriosa e cuidadosa, levando-se em consideração se o indivíduo possui as habilidades necessárias para executar o trabalho de forma segura. 70 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Outro ponto que deve ser constantemente aprimorado é o treinamento do trabalhador para a função. A forma segura de execução do trabalho tem de ficar muito clara para ele. Quanto mais informações sobre o processo de produção o trabalhador obtiver no treinamento menor será a probabilidade de que cometa erros que coloquem sua segurança em risco. Não podemos esquecer o uso dos EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), definidos pela Norma Regulamentadora 06 da Portaria GM nº 3.214 como qualquer dispositivo ou produto utilizado individualmente por cada trabalhador, com a intenção de protegê-lo de riscos que estejam ameaçando a segurança e a saúde no trabalho. Ainda de acordo com a Norma Regulamentadora 06 a empresa é obrigada a fornecer aos empregados, gratuitamente, EPI adequado ao risco, em perfeito estado de conservação e funcionamento, nas seguintes circunstâncias: • Sempre que as medidas de ordem geral não ofereçam completa proteção contra os riscos de acidentes do trabalho ou de doenças profissionais e do trabalho; • Enquanto as medidas de proteção coletiva estiverem sendo implantadas; e para atender a situações de emergência. Exemplos de EPIs: • Proteção auditiva: abafadores de ruídos ou protetores auriculares; • Proteção respiratória: máscaras e filtro; • Proteção visual e facial: óculos e viseiras; • Proteção da cabeça: capacetes; • Proteção de mãos e braços: luvas e mangotes; • Proteção de pernas e pés: sapatos, botas e botinas; • Proteção contraquedas: cintos de segurança e cinturões. Como diz o velho ditado: “é melhor prevenir do que remediar”. Essa é uma premissa básica. Selecionando o indivíduo adequado para cada função, proporcionando treinamento específico e orientação ao mesmo e fornecendo a ele todo o equipamento necessário para sua segurança você reduzirá significativamente o risco de acidentes de trabalho. 71 Aspectos Psicológicos do Trabalho Capítulo 2 Atividade de Estudos: 1) Cite quais são as estratégias que podem ser utilizadas para a prevenção de acidentes de trabalho: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Esperamos que você possa utilizar-se dos conhecimentos e estratégias apresentados neste capítulo para aprimorar ainda mais o seu trabalho como Engenheiro de Segurança. No próximo capítulo trabalharemos outra questão muito importante para o seu trabalho: a comunicação. Referências CAMELO, Silvia H. Henriques; ANGERAMI, Emília Luigia Saporiti. Sintomas de estresse nos trabalhadores atuantes em cinco núcleos de saúde da família. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0104-11692004000100003>. Acesso em: 15 out. 2012. DSM-IV-TR. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. Trad. Cláudia Dorneles. Porto Alegre: Artmed, 2002. GARDNER, Howard. Inteligência – múltiplas perspectivas. Artmed, 1991. 72 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento GIL, Antonio Carlos. Gestão de pessoas – Enfoque nos papéis profissionais. São Paulo: Atlas, 2011. LIPP, Marilda. O percurso do Stress: suas etapas. Disponível em: <http://www. estresse.com.br/publicacoes/o-percurso-do-stress-suas-etapas>. Acesso em: 02 fev. 2013. PEIXOTO, Maurício. Qual é o seu tipo de inteligência? Revista o Empresário nº.99, 2006 Disponível em: <http://www.aecambui.com.br/?menu=07&id_ reg=10&id_reg2=313>. Acesso em: 02 fev. 2013. SOARES, Carlos Henrique Gomes; SILVA, Dnilson Matuzinho; MARRA, Kelen Karla; MOURÃO, Tatiana de /castro Mello et al. O Trabalho na Sociedade Contemporânea. Saúde no Trabalho. Belo Horizonte, 2008. Disponível em: <http://www.unihorizontes.br/proj_inter20081/adm/saude_no_trabalho.pdf>. Acesso em: 10 out. 2012. UNB Agência. Principais causas de afastamento do trabalho. Disponível em: <http://www.unb.br/noticias/unbagencia/unbagencia.php?id=4834>. Acesso em: 02 fev. 2013. VAISSMAN, Magda. Alcoolismo no trabalho. Rio de Janeiro: Garamond, 2004. ZANELLI, José Carlos; BORGES-ANDRADE, Jairo Eduardo; BASTOS, Antonio Virgílio Bittencourt. Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004. http://www.aecambui.com.br/?menu=07&id_reg=10&id_reg2=313 http://www.aecambui.com.br/?menu=07&id_reg=10&id_reg2=313 http://www.unihorizontes.br/proj_inter20081/adm/saude_no_trabalho.pdf CAPÍTULO 3 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: 9 Refletir sobre a importância da comunicação nas relações de trabalho. 9 Entender o processo de comunicação e expressão como ferramenta de trabalho. 9 Aprender a comunicar-se de forma eficaz. 9 Desenvolver habilidades que facilitem a comunicação no ambiente de trabalho. 9 Identificar e intervir junto a situações em que o processo de comunicação não acontece de forma eficaz. 9 Ministrar treinamentos de acordo com as necessidades da empresa. 74 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento 75 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho Capítulo 3 Contextualização Comunicar-se é acima de tudo uma necessidade humana. Desde o nascimento já começamos a estabelecer formas de comunicação com nossos familiares e com o decorrer do tempo vamos estabelecendo novas relações até atingir níveis mais complexos de comunicação. O termo comunicação vem do latim communicatio, do qual distinguimos três elementos: uma raiz munis, que significa “estar encarregado de”, que acrescido do prefixo co, o qual expressa simultaneidade, reunião, temos a ideia de uma “atividade realizada conjuntamente”, completada pela terminação tio, que por sua vez reforça a ideia de atividade. E, efetivamente, foi este o seu primeiro significado no vocabulário religioso aonde o termo aparece pela primeira vez (HOLFELDT, MERTINO, e FRANÇA, 2001, p. 12). Embora o conceito de comunicação seja amplo e nos permita aprofundar vários aspectos, neste capítulo vamos nos ater à comunicação no ambiente de trabalho e suas implicações, pois é neste ambiente em especial, que costumam ocorrer prejuízos causados por falhas na comunicação. A Importância da Comunicação nas Relações de Trabalho A comunicação é uma premissa básica do relacionamento humano. É o meio através do qual nos relacionamos com as pessoas. No contexto de trabalho ela torna-se ainda mais importante, pois o bom funcionamento da organização depende da forma como os colaboradores se comunicam para realizar suas atividades. Vamos explicar isso melhor: Comunicação é a transmissão de uma informação de uma pessoa para a outra ou de uma organização para a outra. A comunicação é o fenômeno pelo qual um emissor influencia e esclarece um receptor, mais do que isso, comunicação é o processo pelo qual a informação é intercambiada, compreendida e compartilhada por duas ou mais pessoas, geralmente com a intenção de influenciar um comportamento. Assim, a comunicação não significa apenas enviar uma informação ou mensagem, mas torná- la comum entre as pessoas envolvidas. Essa diferença – O termo comunicação vem do latim communicatio, do qual distinguimos três elementos: uma raiz munis, que significa “estar encarregado de”, que acrescido do prefixo co, o qual expressa simultaneidade, reunião, temos a ideia de uma “atividade realizada conjuntamente”. 76 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento apenas enviar ou compartilhar é crucial para a comunicação eficaz. Para que haja comunicação, é necessário que o destinatário da informação a receba e a compreenda. A informação simplesmente transmitida – mas não recebida ou não compreendida – não foi comunicada. Comunicar significa tornar comum a uma ou mais pessoas determinada informação ou mensagem (CHIAVENATO, 2010, p. 315). É preciso ficar claro que comunicar não significa apenas transmitir a informação, precisamos nos certificar de que a mensagem foi compreendida pelo receptor, ou seja, precisamos ter certeza de que ele entendeu a mensagem. Veja o conceito aplicado por Chiavenato: Pode-se definir a comunicação como sendo transmissão de informação e compreensão mediante uso de símbolos comuns. Os símbolos comuns podem ser verbais e não-verbais. Assim, a comunicação é a transferência de informação e significado de uma pessoa para outra. É o processo de passar informação e compreensão entre duas ou mais pessoas ou de se relacionar com outras pessoas por meio de ideias, fatos pensamentos, valores e mensagens (CHIAVENATO, 2010, p. 316). Você consegue perceber como o processo de comunicação acaba dependendo de diversos fatores? Falamos em processo de comunicação, porque não são fatos isolados que compõem o ato de comunicar, e sim a relação entre alguns fatores específicos, conforme apresentamos nafigura 5. Figura 5 - O processo de comunicação Fonte: CHIAVENATTO, 2010 p.319 Comunicar significa tornar comum a uma ou mais pessoas determinada informação ou mensagem. 77 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho Capítulo 3 1) Fonte: é o emissor ou comunicador que inicia a comunicação através da codificação de um pensamento. A fonte envia uma mensagem. A mensagem é o produto físico codificado pelo emissor. A mensagem supoe ser a fala ou o texto escrito. A mensagem também pode ser representada por uma música, ou pelas nossas expressões faciais e corporais (riso ou choro). A mensagem é afetada pelo código ou grupo de símbolos que usamos para transmitir o significado. Cada mensagem precisa ter um conteúdo e um código para ser transmitida. 2) Codificação: para que a mensagem seja transmitida, ela precisa ser codificada, ou seja, seus símbolos devem ser traduzidos em uma forma que possa ser transmitida adequadamente através do canal escolhido. 3) Canal: é o veículo ou a mídia pela qual a mensagem é encaminhada. O canal é o portador da mensagem e é selecionado pelo emissor. O menu de opções para a escolha do melhor veículo para cada mensagem nunca foi tão grande e variado. O veículo pode ser o discurso oral, que utiliza a audição, documentação escrita, que utiliza a visão ou o tato, e a comunicação não-verbal, que utiliza os sentidos básicos. A tecnologia da informação – como aparelhos de fax, correio eletrônico (e-mail), Internet e telefone celular – está produzindo enorme impacto nas comunicações. O canal pode ser formal – quando estabelecido pela organização para transmitir mensagens que se referem às atividades relacionadas com o trabalho de seus membros e que seguem a rede de autoridade dentro da organização – ou informal – como as redes sociais ou pessoais que são espontâneas e nada têm a ver com a organização. 4) Decodificação: para que a mensagem seja recebida, seus símbolos devem ser traduzidos para que possam ser compreendidos pelo receptor. A decodificação é um processo no qual a mensagem é traduzida na mente do receptor. Quando a comunicação é correta, a ideia ou a imagem mental resultante corresponde à ideia ou imagem mental do emissor. 5) Receptor: é o sujeito a quem a mensagem se dirige. É o destino final da comunicação. Pode ser chamado também de destinatário. 6) Retroação: é o elo final do processo de comunicação. A retroação – ou feedback – faz a verificação do sucesso na transmissão da mensagem, como originalmente pretendida. A retroação determina se a compreensão foi ou não alcançada. 7) Ruído: referem-se aos fatores que podem distorcer uma mensagem. O ruído pode ocorrer em qualquer etapa do processo de comunicação. Ruído significa uma perturbação indesejável que tende a deturpar, distorcer ou alterar, de maneira imprevisível, a mensagem transmitida. 78 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento O ruído representa as falhas que ocorrem no processo de comunicação. Mais adiante vamos verificar estratégias para diminuir a ocorrência dessas falhas. Atividade de Estudos: 1) Descreva uma situação que você tenha presenciado no seu local de trabalho em que foi possível identificar falhas na comunicação: __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Texto complementar: Habilidades sociais de comunicação A comunicação é um mecanismo essencial da vida e da evolução, a começar pela mensagem dos genes que informam, através das propriedades físico-químicas das moléculas alterações nas suas estruturas. Na sociedade, a comunicação é responsável pela formação de extensas redes de troca social que mantêm a alteram a cultura e, consequentemente, a realidade social. [...] As habilidades de comunicação interpessoal podem ser classificadas como verbais e não verbais [...]. A comunicação verbal é mais consciente, explícita e racional, dependendo, entre outros fatores, do domínio da língua e das normais sociais de seu uso. 79 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho Capítulo 3 A comunicação não verbal complementa, ilustra, regula, substitui e algumas vezes se opõe à verbal. Posturas, gestos, expressões faciais e movimentos do corpo adquirem diferentes significados em função do contexto verbal e situacional em que ocorrem. Por exemplo, batemos na testa quando nos esquecemos de alguma coisa, encolhemos os ombros para manifestar indiferença e assim por diante. Uma pessoa com boa competência social consegue articular de maneira coerente os significados da comunicação não verbal aos da comunicação verbal [...]. Algumas das principais habilidades de comunicação, que fazem parte dessa classe geral, tais como iniciar e encerrar conversação, fazer e responder perguntas, gratificar e elogiar, dar e receber feedback. Fonte: DELPRETTE, Almir; DELPRETTE, Zilda A. P. (2008, p. 63-72) Fazer e responder perguntas A habilidade de formular perguntas é importante na maioria das situações e pode ser considerada essencial em algumas atividades, por exemplo, na entrevista. Embora aparentemente simples, essa habilidade envolve discriminação e flexibilidade para utilizar as perguntas com diferentes formas, conteúdos e funções. Com relação à forma, aspectos não verbais e paralinguísticos como entonação, volume da voz, expressão facial e gesticulação podem dar diferentes funções a uma pergunta, tais como pedido, sugestão, ordem e intimidação. As perguntas podem, ainda, ser classificadas em abertas e fechadas, difusas (a qualquer pessoa) ou dirigidas (a uma pessoa em particular). As perguntas abertas tendem a gerar maior quantidade de informação; as fechadas podem gerar respostas mais objetivas e precisas mas restringem-se às informações nela indicadas. As difusas estimulam apenas as pessoas que apresentam maior prontidão e agilidade verbal para responder; as dirigidas garantem a fonte de informação selecionada. Além dos aspectos formais, as variações no conteúdo das perguntas também podem conferir-lhes diferentes funções, tais como: a) avaliativas, que buscam verificar o conhecimento ou compreensão do ouvinte; b) estimuladoras da verbalização ou do pensamento crítico do outro que podem funcionar como um tipo de ajuda verbal mínima (maiêutica); c) retóricas, cujo objetivo é o de dar 80 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento encaminhamento ao próprio discurso e manter a atenção ao ouvinte; d) esclarecedoras, de ampliação ou complementação da própria verbalização; e) confrontadoras, visando apontar contradições em uma exposição. As perguntas avaliativas podem ainda variar conforme a expectativa de maior ou menor elaboração da resposta requerida, respectivamente: a) análise, síntese, interpretação, avaliação ou exemplificação de algum aspecto ou b) apenas a reprodução ou repetição de um conteúdo já disponível a um ou a todos os interlocutores. A habilidade de responder perguntas depende da decodificação de sua forma, conteúdo e função. Adicionalmente, o receptor precisa identificar, em seu repertório, a disponibilidade da resposta e decidir se: a) responde ao que foi explicitamente perguntado; b) responde ao que foi implicitamente colocado (no caso de funções mais sutis como a de confronto e provocação); c)ignora a pergunta, como um todo ou parte dela, em função das avaliações anteriores; d) expressa a própria dificuldade em responder. Ao lado da resposta direta e aberta, muitas outras possibilidades se abrem tais como: o silêncio, a recusa em responder, a resposta não pertinente, o humor como forma de fugir à pergunta, a devolução, a evasiva, o desvio do assunto entre outras. A alternativa considerada mais competente dependerá dos objetivos, da leitura, do contexto e das demandas presentes. Gratificar e elogiar Os homens admiram a altura dos montes, as imensas ondas do mar, as vertiginosas correntes dos rios, a latitude interminável dos oceanos, o curso dos astros, e se esquecem do muito que tem de admirar a si mesmos (Santo Agostinho.) A competência para gratificar tem sido tradicionalmente associada a pessoas carismáticas, populares e líderes. Trata-se, sem dúvida, de um ingrediente relevante nas relações sociais satisfatórias e equilibradas. Nas relações profissionais e educativas, a eficiência do instrutor, do professor, dos pais, e dos agentes educativos em geral, enquanto modelos de condutas, cresce com essa habilidade [...]. O elogio é entendido como qualquer comentário positivo em direção a e sobre outra pessoa ou a alguma coisa feita por ela. Em nossa sociedade, o elogio costuma ser avaliado positivamente, quando percebido como sincero e pertinente, mas negativamente, quando objetiva a manipulação ou bajulação. Por isso mesmo, a 81 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho Capítulo 3 competência em fazer elogio implica coerência entre o pensar, o sentir e o agir e depende de uma acurada discriminação sobre o que, a quem, como e quando elogiar. Reagir a elogios e cumprimentos é uma habilidade aparentemente simples, que envolve apenas aceitar e agradecer a referência. Apesar disso, muitas pessoas, principalmente as tímidas, têm dificuldade em responder a elogios recebidos, devido a vários fatores, entre os quais: baixa autoestima, ansiedade social e reações fisiológicas condicionadas (rubor, taquicardia, sudorese). Por outro lado, pessoas que se avaliam irrealisticamente lidam mal com os elogios. As que se supõem superiores tendem a achar que os elogios não lhes fazem justiça. Ao contrário, as que se sentem inferiores quase sempre não acreditam nos elogios recebidos. Pedir e dar feedback nas relações sociais Ouvir do outro o que se sabe verdadeiramente sobre si mesmo jamais é a mesma coisa (A. Huxley) Dar e pedir feedback constituem habilidades essenciais para regularmos nossos desempenhos e os das pessoas com quem convivemos visando relações saudáveis e satisfatórias. Esse termo vem se popularizando bastante nos últimos anos, mas ainda existem alguns equívocos. Confundir feedback com reforço ou elogio (se positivo) ou com críticas (se negativo) é mais frequente do que seria desejável. As pessoas socialmente competentes tendem a substituir ou a associar o elogio ao feedback positivo, tornado suas referências mais objetivas e mais facilmente aceitas e valorizadas pelos demais. Na teoria dos sistemas o feedback é o mecanismo de retroalimentação de informações necessário para reequilibrar um sistema ou o funcionamento das partes que o afetam. Nas relações sociais, o conceito de feedback pode ser entendido como um mecanismo de regulação de desempenhos que geram determinados resultados e que é acionado em caso de desequilíbrio entre o processo (conjunto de desempenhos) e o produto (resultados). O feedback pode, nesse caso, permitir a correção, manutenção e melhoria dessa relação processo-produto. Sem o feedback, não só o mundo físico, mas também o social seriam confusos e, em muitas situações, as pessoas não saberiam como se comportar. Utilizado de maneira intencional, o feedback pode ser entendido como uma descrição verbal ou escrita sobre o desempenho de uma pessoa [...]. 82 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento [...] a habilidade de promover feedback supõe como requisitos, as habilidades de ouvir e prestar atenção ao comportamento do outro. Além disso, alguns componentes funcionais e formais caracterizam a competência nessa habilidade, tais como: a) Falar diretamente à pessoa à qual se dá o feedback, chamando-a pelo nome, mantendo contato visual e usando tom de voz calmo, porém audível; b) Apresentá-lo o mais imediatamente possível à emissão do comportamento; c) Descrever o desempenho observado ao invés de avaliá-lo; d) Referir-se ao comportamento emitido no momento sem atribuí-lo como característica da pessoa; e) Primar pela parcimônia. A dificuldade em dar e receber feedback pode acontecer devido a vários fatores, inclusive a ausência de uma prática cultural. Uma das maiores dificuldades em receber feedback está relacionada ao excesso de defensividade que, por seu turno, revela o medo da perda de autoestima e status adquirido. O feedback não deve, no entanto, ser utilizado como recurso punitivo nem como comunicação unilateral. Entre as dificuldades para apresentar feedback estão a incapacidade de compreender as necessidades do outro, a falha em observar e/ou descrever o comportamento e a pretensão do uso do feedback como forma de exercício de poder. Iniciar, manter e encerrar conversação Aquele que sabe falar, sabe também quando fazê-lo. (Arquimedes) Nem todas as pessoas obtêm êxito nas tentativas de iniciar uma conversação. As dificuldades podem estar relacionadas a diversos fatores: a) da situação (o local onde o contato ocorre); b) do interlocutor (disponibilidade de tempo, estado de humor); c) da própria pessoa (excesso de ansiedade interpessoal). Essa é uma habilidade e um requisito de muitas outras e, em geral, as pessoas adquirem algumas estratégias que são aceitas nas subculturas. Pode-se iniciar o contato com um cumprimento, seguindo-se da 83 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho Capítulo 3 apresentação pessoal ou da explicação do objetivo do encontro. A comunicação não verbal, nesse caso, é de grande ajuda. A saudação com a mão voltada para o interlocutor, o inclinar o corpo, o sorriso etc., podem facilitar o processo inicial de conversação. Quando já existe um conhecimento prévio entre as pessoas, um leve toque no braço com uma expressão do tipo E então? Podem ser suficientes para dar início a um diálogo. Entre as habilidades de iniciar conversação destacam-se as de aproximar-se da pessoa ou grupo no momento mais apropriado, apresentar-se, observar, ouvir o outro, discriminar seus interesses, fazer perguntas abertas e fechadas, parafrasear, demonstrar senso de humor, pedir e expressar opinião, expressar sentimentos positivos, fazer pedidos ou propostas, apresentar feedback positivo e elogiar [...]. Para muitas pessoas, encerrar a conversação é uma tarefa tão difícil que frequentemente a deixam a cargo do interlocutor. Isso pode causar vários problemas e situações constrangedoras quando o outro também apresenta essa dificuldade ou não tem interesse em encerrar o encontro. Usualmente, as pessoas oferecem sinais verbais e não verbais indicativos de sua necessidade de encerrar uma interação e sair de um grupo de conversação. Gestos, mudanças de postura, alterações na direção do olhar, redução do contato visual, verbalizações e entonação típica são indicadores reconhecidos na maioria das culturas. Olhar o relógio, ajeitar a roupa, apanhar a bolsa ou as chaves, modificar a postura e certas verbalizações (bem, então ficamos assim...; Está certo! Eu agora vou fazer isso...) são comuns. Fonte: DELPRETTE, Almir; DELPRETTE, Zilda A. P. (2008, p. 63-72) Outro fator que contribui para a comunicação eficaz é a empatia, que compreende o exercício de colocar-se no lugar do outro para, segundo Chiavenato (2010), perceber como a mensagem será provavelmente decodificada. Não podemos esquecer também que a percepção do receptor será determinante para a compreensão da mensagem, ou seja, o modo como ele recebee interpreta a mensagem dependerá da interpretação que ele faz da mesma, portanto, os canais escolhidos para a transmissão da mensagem precisam favorecer a percepção do receptor. 84 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Quando queremos que uma comunicação alcance o maior número de pessoas, temos que diversificar os canais para transmitir a mensagem. Ex.: Em uma empresa o engenheiro quer divulgar mudanças nas normativas de segurança do trabalho. Ele quer que desde a diretoria até o chão de fábrica tenham acesso a essas informações. Sabemos que as pessoas têm diferentes formas de acesso aos espaços, à tecnologia, à Internet, além das diferenças de subjetividade. O mais cômodo seria encaminhar um e-mail para todos os funcionários, mas será que isso garantiria que a informação chegaria a todos, e que todos a compreenderiam corretamente? Agora, se o engenheiro optasse por utilizar vários canais: e-mail, comunicação verbal nos setores, distribuir folders, cartazes, anexar informativo à folha de pagamento etc. Com certeza aumentam as chances de eficácia na comunicação. Atividades de Estudos: Responda as questões abaixo para testar os seus conhecimentos. 1) Existem dois tipos de habilidades de comunicação interpessoal. Descreva quais são eles. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Quais são as principais habilidades de comunicação que precisam ser desenvolvidas para evitar que ocorram falhas na comunicação? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 85 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho Capítulo 3 __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 3) Quais são os aspectos importantes aos quais precisamos estar atentos com relação à forma como fazemos uma pergunta? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Explique a importância do elogio para as relações sociais. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5) O que é feedback e por que ele é importante? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 6) Descreva quais são as formas adequadas de se iniciar uma conversa. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 86 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Você percebeu como existem algumas estratégias simples que podem tornar a comunicação mais eficiente? Você pode aplicá-las também no seu ambiente de trabalho.Você pode inicialmente observar como as pessoas se comunicam e a partir desta observação identificar as falhas que acontecem e que podem ser um fator importante de geração de conflitos dentro de uma organização. Por fim, é possível realizar um treinamento abordando as questões levantadas na observação feita inicialmente. Os treinamentos costumam ter resultados bem positivos no que diz respeito à mudanças de comportamento, e ainda, contribui para a integração da equipe de trabalho. A Importância do Treinamento Ao longo dos anos o treinamento vem se consolidando como uma excelente estratégia para desenvolver e aprimorar as habilidades dos colaboradores em prol da melhoria da qualidade dos produtos e serviços ofertados pela empresa. De acordo com FIDELIS (2008), as empresas reconhecem o treinamento e o desenvolvimento de pessoas e carreira como estratégias capazes de agregar aos projetos pessoais e empresariais vantagens recíprocas, causando a mudança dos conceitos para os trabalhadores e fortalecendo os objetivos e as ações empresariais a ensinando as empresas a aprenderem continuamente. E ainda: O treinamento de pessoas proporciona o crescimento profissional e pessoal, tendo em vista o futuro do trabalhador e da empresa. Treinar é conscientizar e desenvolver a capacidade das pessoas por meio da aquisição de novas linhas de raciocínio, técnico ou teórico, novas maneiras de comportamentos que venham proporcionar a continuidade no processo de empregabilidade. Os bons profissionais desejam aumentar a sua capacidade de aprendizado através do treinamento, pois sabem que podem evoluir na empresa e também no mercado de trabalho. As empresas que não percebem o valor desta iniciativa não conseguem o pleno comprometimento destes bons profissionais. O treinamento e o desenvolvimento devem ser projetados como um esforço planejado e organizado para ajudar os profissionais a desenvolverem melhor suas capacidades dentro das estruturas 87 Comunicação e Expressão no Ambiente de Trabalho Capítulo 3 empresariais. Além disso, as empresas devem reconhecer que elas são responsáveis por essa transformação, promovendo recursos e informações necessárias para tingir os seus próprios resultados (FIDELIS, 2008, p. 4). Não podemos esquecer que o treinamento visa atingir os objetivos e metas da empresa, contempladas no planejamento estratégico da mesma. Portanto, para definir de que forma os treinamentos serão ofertados e executados é necessário observar cuidadosamente quais são as necessidades da empresa naquele momento. Outra premissa fundamental do treinamento é atingir o seu público alvo, ou seja, a pessoa responsável por ministrar o treinamento precisa fazer com que o conteúdo atinja o trabalhador, utilizando uma linguagem que seja entendida por ele e ainda aliar a teoria e prática em atividades que permitam que o indivíduo execute os conteúdos ministrados no treinamento como estratégia de aprendizagem. No seu trabalho como engenheiro de segurança, você pode utilizar- se da estratégia de oferecer treinamentos aos colaboradores.Para tanto, sugere-se que você faça o planejamento do treinamento em parceria com os supervisores responsáveis pelos setores envolvidos para que o mesmo contemple as necessidades específicas do setor. Você pode utilizar palestras, vídeos explicativos, exercícios práticos ou ainda a presença de um profissional responsável por cada área para esclarecer todas as dúvidas dos colaboradores. Atividade de Estudos: 1) A partir do conteúdo apresentado na parte final deste capítulo, crie uma proposta de treinamento baseado nas necessidades da sua empresa. Você pode dividi-lo em alguns encontros ou realizar uma única atividade, dependendo dos objetivos que você quer atingir. Lembre-se que a proposta precisa apresentar os objetivos que você pretende alcançar com o treinamento. Bom trabalho! 88 Psicologia na engenharia de segurança, comunicação e treinamento Referências Bibliográficas CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento organizacional – a dinâmica do sucesso nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. DELPRETTE, Almir; DELPRETTE, Zilda A. P. Psicologia das relações interpessoais – vivências para o trabalho em grupo. Petrópolis – RJ: Vozes, 2008. FIDELIS, Gilson José. Treinamento e Desenvolvimento de Pessoas e Carreira. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008. HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera Veiga. Teorias da comunicação - Conceitos, escolas e tendências. Petrópolis – RJ: Vozes, 2001.