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Atualização da Norma da CIPA

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Atualização do conteúdo da Semana 4 
“Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA)” 
 
O conteúdo do curso é constantemente revisado, não só para acompanhar o surgimento 
de novas legislações e revisões de normativas já existentes, como também para 
melhorar o material disponibilizado na UC – Unidade curricular. As mudanças na última 
revisão da norma que trata sobre a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes ainda 
não foram incluídas no conteúdo “Gestão de CIPA”, então compartilhamos aqui a versão 
que considera essas últimas atualizações dessa norma. 
 
Introdução 
A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Norma Regulamentadora 5 (NR-5) 
tornam a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) uma obrigação legal. 
Devem constituir e manter CIPA, as organizações e os órgãos públicos que possuam 
empregados regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho – CLT ou por outras 
relações jurídicas de trabalho quando previsto em lei. 
 
A importância da CIPA 
A CIPA é um dos mecanismos mais importantes no que se refere à prevenção de 
acidentes e de doenças laborais. O seu objetivo principal é compatibilizar o ambiente de 
trabalho com a preservação da vida e a manutenção integral da saúde física e mental do 
trabalhador. 
Portanto, a CIPA é uma comissão essencial. Ela deve trabalhar em conjunto com os 
demais planos e ferramentas na gestão administrativa das questões de saúde e 
segurança do trabalho (SST). 
Pode-se, inclusive, dizer que a CIPA está em constante utilização nas tarefas exercidas 
dentro da empresa. Por isso, sabemos que os profissionais envolvidos e que fazem parte 
da comissão devem também manter uma comunicação constante com os demais 
profissionais da área de SST dentro e fora da empresa. 
 
Atribuições da CIPA 
A CIPA deve verificar os ambientes de trabalho, acompanhando os processos de 
identificação de perigos, avaliação de riscos e implementação de medidas de prevenção, 
registrando, conforme NR-1, a percepção de risco dos trabalhadores por meio de mapa 
de riscos ou outras técnicas juntamente com o SESMT, onde houver. Pode ainda propor 
a este ou à empresa a análise das condições ou situações de trabalho nas quais 
considere haver risco grave e iminente à segurança e saúde dos trabalhadores e, se for 
o caso, propor a interrupção das atividades até a adoção das medidas corretivas e de 
controle. 
Cabe também a essa comissão elaborar e acompanhar um plano de trabalho que 
possibilite ações preventivas em saúde e segurança do trabalho, além de participar do 
desenvolvimento e implementação de programas relacionados a saúde e segurança do 
trabalho. Os integrantes da CIPA deverão também acompanhar análises de acidentes e 
doenças do trabalho nos termos da NR 1, inclusive requisitando à empresa informações 
relacionadas a saúde e segurança dos trabalhadores incluindo as Comunicações de 
Acidente de Trabalho – CAT emitidas pela organização. 
Por fim, a CIPA deve promover anualmente, em conjunto com o SESMT, onde houver, 
a Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho - SIPAT, conforme 
programação definida pela CIPA. 
 
Dimensionamento da CIPA 
Conforme legislação, uma CIPA será constituída para cada estabelecimento. Ela será 
composta por funcionários da empresa indicados pelo empregador e por representantes 
escolhidos em processo eletivo. O mandato tem duração de um ano, sendo permitida 
uma reeleição. Desde o registro da candidatura até um ano após o mandato, é vedada 
a dispensa arbitrária ou sem justa causa do colaborador que foi eleito para fazer parte 
da comissão, com exceção daqueles cuja dispensa se dá devido ao término de contrato 
com prazo determinado. 
Muitas dúvidas podem surgir sobre o dimensionamento dessa comissão, então deve-se 
seguir algumas regras para fazer isso. A CIPA deve ser composta por dois tipos de 
integrantes, os escolhidos pela organização da empresa e os eleitos pelos trabalhadores. 
Os integrantes de cada tipo devem estar em igual número. O Quadro I da NR-5 mostra 
o número de efetivos e suplentes que cada um desses grupos deve ter. Ou seja, o 
número total de efetivos e suplentes da comissão será o dobro do que o Quadro I 
apresenta. 
A quantidade de membros efetivos e suplentes dependerá da quantidade de empregados 
no estabelecimento e do grau de risco das atividades desempenhadas nele. O primeiro 
passo, então, é saber o número de funcionários da empresa. O segundo é verificar o 
grau de risco da atividade econômica exercida pela empresa (GR). Existe uma 
classificação nacional que estabelece um código para cada atividade econômica, a 
CNAE - Classificação Nacional de Atividades Econômicas. Então precisamos verificar 
qual o código CNAE está indicado na inscrição do CNPJ da empresa - esse código deve 
estar de acordo com as atividades que a empresa de fato desempenha. Sabendo a 
CNAE da empresa em questão, podemos encontrar no Quadro I da NR-4 o grau de risco 
desse tipo de atividade econômica (GR). Assim, tendo em mãos a quantidade de 
empregados e o grau de risco da atividade econômica da empresa (GR), podemos 
consultar no Quadro I da NR–5 para determinar quantos integrantes efetivos e suplentes 
comporão o grupo de integrantes eleitos pelos trabalhadores e o grupo de integrantes 
escolhidos pelo empregador. É importante ressaltar que apesar de terem formas de 
ingresso diferentes, todos os integrantes deverão trabalhar em equipe. 
Exemplo 
Vamos imaginar que uma determinada empresa do ramo de marcenaria conte com 550 
pessoas em seu quadro de funcionários e que sua atividade econômica se enquadre na 
CNAE 16.10-2 (fabricação de produtos de madeira – serrarias com desdobramento de 
madeiras). Antes de dimensionarmos a sua CIPA, precisamos consultar o quadro I da 
NR-4 para descobrir o grau de risco (GR) atribuído a empresas que desempenham esse 
tipo de atividade econômica. No caso, para empresas com CNAE 16.10-2, o grau de 
risco é 3, conforme o quadro a seguir: 
Quadro 1 – Trecho do Quadro I da NR-4 onde aparece o CNAE e grau de risco da 
empresa em questão 
Código Denominação GR 
... ... ... 
16 FABRICAÇÃO DE PRODUTOS DE MADEIRA 
16.1 Desdobramento de madeira 
16.10-2 Desdobramento de madeira 3 
... ... ... 
Fonte: Norma Regulamentadora nº4 
Em seguida, devemos consultar o Quadro I da NR 5 para verificar o número de 
integrantes efetivos e suplentes que a CIPA desta empresa deve ter. É importante 
lembrar sempre que devemos cruzar as informações referentes ao número de 
empregados no estabelecimento e o grau de risco referente ao CNAE da empresa: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Quadro I – Dimensionamento da CIPA 
 NÚMERO DE EMPREGADOS NO 
ESTABELECIMENTO 
 
GRAU 
de 
RISC
O* 
Nº de 
INTEGRA
NTES da 
CIPA 
0 
a 
19 
20 
a 
29 
30 
a 
50 
51 
a 
80 
81 
a 
100 
101 
a 
120 
121 
a 
140 
141 
a 
300 
301 
a 
500 
501 
a 
1000 
1001 
a 
2500 
2501 
a 
5000 
5001 a 
10.000 
Acima de 
10.000 
para 
cada 
grupo de 
2500 
acrescen
tar 
1 
Efetivos 1 1 1 1 2 4 5 6 8 1 
Suplentes 1 1 1 1 2 3 4 5 6 1 
2 
Efetivos 1 1 2 2 3 4 5 6 8 10 1 
Suplentes 1 1 1 1 2 3 4 5 6 8 1 
3 
Efetivos 1 1 2 2 2 3 4 5 6 8 10 12 2 
Suplentes 1 1 1 1 1 2 2 4 4 6 8 8 2 
4 
Efetivos 1 2 3 3 4 4 4 5 6 9 11 13 2 
Suplentes 1 1 2 2 2 2 3 4 5 7 8 10 2 
*Grau de Risco conforme estabelecido no Quadro I da NR-04 - Relação da Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE 
(Versão 2.0), com correspondente Grau de Risco - GR para fins de dimensionamento do SESMT. 
 
O resultado obtido mostra que a CIPA da empresa deverá ter seis membros efetivos e 
quatro membros suplentes eleitos pelos trabalhadores, mais seis membros efetivos e 
quatro membros suplentes indicados pelo empregador. Dessa forma, essa CIPA terá 12 
membros efetivos e 8 membros suplentes no total, sendo 10 membros eleitospelos 
trabalhadores e 10 indicados pelo empregador. 
Já no caso de o estabelecimento não se enquadrar no Quadro I da NR-5 e não ser 
atendido por SESMT, deverá ser indicado um representante da organização entre seus 
empregados para auxiliar na execução das ações de prevenção em saúde e segurança 
do trabalho conforme as exigências da NR-5. Já o microempreendedor Individual (MEI), 
não precisa estabelecer um representante para a CIPA. 
As empresas prestadoras de serviço devem constituir CIPA centralizada quando o 
número total de seus empregados na unidade da Federação se enquadrar no disposto 
no Quadro I da NR-5. No caso das prestadoras de serviço que atuarem por mais de 180 
dias no estabelecimento de contratante e que tiver número e funcionários no 
estabelecimento que se enquadre no Quadro I da NR-5, devem constituir CIPA própria 
no estabelecimento. Caso o grau de risco da empresa contratante for 3 ou 4, deverá ser 
considerado o grau de risco da empresa contratante para dimensionamento dessa CIPA. 
No caso da prestadora de serviços não se enquadrar no Quadro 1 da NR-5 ou a 
prestação de serviços tiver duração inferior a 180 dias, a empresa prestadora de serviço 
precisa ter apenas um representante da CIPA no estabelecimento. 
 
Gestão da CIPA 
Os representantes dos empregados são escolhidos via processo eleitoral e antes da 
posse, tanto efetivos, como suplentes e representantes devem passar por treinamento, 
com exceção de trabalhadores que já tenham recebido esse treinamento a menos de 
dois anos ou façam parte do SESMT. A NR-5 estabelece prazos e regras para o processo 
eleitoral, bem como os conteúdos mínimos e a carga horária do treinamento da CIPA 
conforme o grau de risco da empresa. 
A CIPA deverá ter reunião mensal com exceção de microempresas e empresas de 
pequeno porte, que poderão escolher fazer a reunião a cada dois meses, sendo 
permitido que essas reuniões ocorram de forma remota. A cada reunião deve ser escrita 
uma ata para registro do que foi discutido na mesma. 
 
CIPA da Indústria da construção civil 
A constituição da CIPA da indústria da construção civil é um pouco diferente uma vez 
que é comum que os empregados dessas empresas estejam distribuídos em mais de um 
estabelecimento ou trabalhem curtos períodos em cada estabelecimento, além de ser 
comum que em um canteiro de obras trabalhem, além dos trabalhadores da construtora, 
também muitos empregados terceirizados. No Anexo I da NR5 as situações são divididas 
de acordo com a duração da obra envolvida – mais ou menos de 180 dias -, da 
permanência no local de trabalho – canteiro de obras ou frente de trabalho – e da 
quantidade de trabalhadores. 
No caso das obras de curta duração - 180 dias ou menos - não é preciso constituir CIPA, 
devendo haver apenas um representante da CIPA. No entanto, nesses casos a 
Comunicação Prévia de Obra deve ser enviada ao sindicato dos trabalhadores da 
categoria no prazo máximo de 10 dias a partir do registro eletrônico no Sistema de 
Comunicação Prévia de Obras – SCPO. 
Já no caso das obras de longa duração, com mais de 180 dias: 
Para a empresa responsável pela obra 
 Se for do tipo canteiro de obras e com 20 ou mais trabalhadores, deverá 
constituir CIPA 
 Se for do tipo canteiro de obras e com menos de 20 trabalhadores, deverá 
apenas nomear um representante da CIPA entre os seus empregados. 
 Se for do tipo frente de trabalho, deverá apenas nomear um representante da 
CIPA entre os seus empregados. 
Para a empresa terceirizada, 
 Tanto no caso de frente de trabalho ou em canteiro de obras, tendo cinco ou 
mais trabalhadores, deve nomear um representante da CIPA entre os seus 
empregados, não constituindo a comissão. 
 Para as empresas terceirizadas cuja soma total dos trabalhadores mesmo em 
locais de trabalho diferentes indicar necessidade de CIPA conforme Quadro I da 
NR-5, deverá constituir CIPA centralizada. 
 
Reflexão sobre os desafios da área de segurança 
Ao longo do percurso traçado nas áreas de saúde e segurança do trabalho e higiene 
ocupacional, podemos contar com a contribuição de diversas áreas do conhecimento. 
Buscam-se sempre a preservação e a manutenção da saúde e da integridade física dos 
trabalhadores em seu ambiente laboral. 
No entanto, podemos verificar que várias empresas têm muita dificuldade em 
implementar os sistemas de gestão de segurança e saúde ocupacionais. Não basta 
apenas identificar os fatores de riscos ambientais e estabelecer um programa de 
prevenção, ou até mesmo SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança 
e em Medicina do Trabalho) ou CIPA. A empresa deve estar realmente comprometida 
com a geração de impactos na sua cultura organizacional. Os programas exigem 
movimentação e conscientização nos dois sentidos (horizontal e vertical) dentro da 
organização. 
No segmento industrial, o desafio é ainda mais amplo devido à quantidade e à qualidade 
dos riscos envolvidos. Um dos aspectos mais importantes para o sucesso na 
implementação de sistemas de gestão de segurança no trabalho é a total eliminação da 
cultura do “fatalismo”. Acidentes não podem ser considerados naturais, decorrentes de 
fatalidades, pois isso faz com que não se tomem atitudes para mudar a realidade. 
Sabemos que os acidentes e as doenças de trabalho têm o potencial de causar prejuízo 
a todos os agentes envolvidos no processo: trabalhadores, empresa e governo. 
No caso dos trabalhadores, o prejuízo direto de um acidente ou de uma doença é 
primeiramente a dor física. Depois, há também o sofrimento pessoal e familiar, a redução 
ou a perda de rendimentos e o receio de perder o emprego, além de custos relacionados 
ao cuidado com a saúde. 
Os empregadores têm danos diretamente relacionados a custos, como tarefas não 
realizadas, indenizações e despesas, reparação ou troca da máquina ou equipamento, 
custos administrativos, perda de qualidade de produto e de serviço e redução do moral 
dentro da empresa. Entre os custos indiretos ao empregador, podem-se considerar a 
substituição parcial ou permanente do trabalhador acidentado e a queda de produção. 
Por parte do governo, os custos envolvem indenizações e seguros. 
Atualmente, com o grande espaço da mídia e a velocidade com que as notícias são 
compartilhadas, é importante para a imagem das empresas zelar por seus 
colaboradores. O não comprometimento do estabelecimento com condições de 
segurança do trabalho e os repetidos acidentes podem, inclusive, comprometer o nome 
da empresa perante os consumidores. 
 
Glossário: 
Canteiro de obra: área de trabalho fixa e temporária onde se desenvolvem operações de 
apoio e execução de construção, demolição, montagem, instalação, manutenção ou 
reforma 
Frente de trabalho: área de trabalho móvel e temporária 
 
Referências: 
Consulta de código CNAE por atividade econômica: https://cnae.ibge.gov.br/ 
Consulta de CNAE por CNPJ: 
http://servicos.receita.fazenda.gov.br/Servicos/cnpjreva/Cnpjreva_Solicitacao.asp