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PEDIATRIA Politraum� e� Pediatri� - Aul� Prof. Fernand� Definição Politrauma é um conjunto de lesões traumáticas simultaneas em diversas regiões, órgãos ou sistemas do corpo, em que pelo menos uma delas pode colocar o paciente em risco de morte Epidemiologia O TCE é a principal causa de óbito na população infanto-juvenil, possuindo uma morbimortalidade significativa As principais causas traumáticas que levam ao óbito são: ● Atropelamento ● Quedas ● Afogamentos ● Suicídio e homicídio em adolescentes O atendimento pré-hospitalar impacta muito no prognóstico do paciente, logo, devemos ter conhecimentos das condutas que serão necessárias em cada um dos casos. Sistematização do Tratamento O atendimento a uma criança politraumatizada precisa ser sistematizado visando uma avaliação rápida das lesões e a administração de medidas para suporte efetivo de vida. A primeira hora do atendimento é chamado de hora de ouro, uma vez que influencia muito no seu prognóstico, reforçando mais uma vez a importância do atendimento na fase pré-hospitalar. Particularidades da Criança - Anatomia e Fisiologia A cabeça é muito grande em relação ao corpo (bate primeiro quando cai ou sofre trauma) O pescoço é curto (dificuldade de palpação de pulso carotídeo e de ventilação) Musculatura cervical mal desenvolvida (maior risco de lesões cervicais por falta de proteção) Cavidade oral é pequena em proporção com sua língua A laringe possui uma posição mais cefálica (anteriorizada), com traqueia curta Os lactentes possuem a respiração predominantemente nasal Caixa torácica menos enrijecida, conferindo uma proteção reduzida dos órgãos nobres PEDIATRIA Os grandes vasos e o mediastino não estão fixos, aumentando a chance de lesão em trauma A superfície corpórea na criança é maior, aumentando sua perda de calor e o risco de acidose Maior dificuldade de interação com a criança Aspectos da criança politraumatizada Em relação aos óbitos, temos a divisão em: Imediatos (associados a lesões de grandes vasos, lesões cardíacas e de cervical alta) Posteriores a 4 horas (associados a traumas abdominais fechados e TCE) Tardios (associados a grande permanência na UTI, choque séptico, pneumonia associada à ventilação mecânica e complicações inerentes do trauma da criança) A maioria das lesões são consideradas tratáveis entre o trauma e o atendimento hospitalar, mostrando a importância do atendimento pré-hospitalar. Atendimento Pré-hospitalar ● Manutenção de vias aéreas ● Controle de sangramentos externos e do choque ● Imobilização do paciente ● Transporte imediato ao hospital apropriado mais próximo Como metas, temos: ● Otimizar o tratamento no local do trauma ● Notificar o hospital que admitirá o paciente ● Preferência para o centro de trauma pediátrico ● Abreviar permanência da criança no local do trauma ● Em situações de desastres, devemos sempre privilegiar os que têm maior possibilidades de sobrevida Exame primário A - Manutenção de vias aéreas + proteção da coluna cervical Componente mais crítico, onde devemos limpar e aspirar corpos estranhos. Atentar-se a fraturas faciais, mandibulares ou traqueos laríngeas. Não devemos hiperestender, hiperfletir ou rodas cabeça e pescoço. Elevar a mandíbula ou levantar o queixo. Como indicações de intubação, temos a parada respiratória, a falência respiratória, a obstrução de vias aéreas, ECG menor ou igual a 8 e necessidade de suporte ventilatório prolongado. Se indicada, a intubação deve preceder a ventilação com bolsa-máscara e oxigênio. A sedação e analgesia adequada é essencial, utilizando a sequência básica de intubação PEDIATRIA (lembrar dos riscos de analgesia e sedação se o paciente já está com baixa competência cardiorespiratória). Em trauma facial grave, fazemos o uso de cricotireoidostomia). Devemos manter cuidados com a coluna cervical, uma vez que sua lesão acarreta em comprometimentos anatômicos (lesão óssea vertebral) e funcionais (lesão de medula espinhal sem anormalidade radiológica, uma importante causa de óbito pré-hospitalar) B - Respiração e ventilação É importante manter as vias aéreas pérvias e a ventilação adequada, observando o correto funcionamento de pulmões e a expansividade da parede torácica, lançando mão de inspeção, percussão e ausculta. A cânula utilizada será dada pela fórmula: Sem cuff: Idade/4 + 4 Com cuff: Idade/4 + 3,5 A fixação correta da cânula se dá pelo número da cânula X 3 A drenagem torácica é indicada em casos de hemotórax e pneumotórax hipertensivo. Fazemos uma punção de alívio (toracocentese - suspeita de pneumotórax hipertensivo), onde achamos o segundo espaço intercostal na linha hemiclavicular, utilizando agulha com abocath. A drenagem definitiva é feita no quarto ou quinto espaço intercostal na linha axilar média, utilizando dreno proporcional à criança No paciente grave em que se está fazendo VPP com máscara, devemos evitar a distensão gástrica, passando sempre uma sonda naso/orogástrica para descomprimir o estômago, exceto em casos de trauma crânio facial grave em que temos risco de migração da sonda para SNC. Sempre pegar o oxímetro de pulso e o monitor de frequência cardíaca. C - Circulação com controle da hemorragia Como objetivos temos o controle de hemorragias externas, o suporte da função cardiovascular e perfusão sistêmica e a restauração/manutenção do volume sanguíneo adequado. Devemos lembrar que a falta de diagnóstico no manejo de sangramentos internos constituem a principal causa de óbitos passível de ser evitada, como o trauma abdominal fechado. Intervenção cirúrgica pode ser necessária em ambiente hospitalar para controle definitivo de hemorragias internas. Em hemorragias externas devemos fazer compressão direta sobre os ferimentos, fraturas desalinhadas de ossos longos e lesões tegumentares. Devemos nos atentar para alguns sinais clínicos, uma vez que esses sinais aparecem geralmente quando temos sangramento com perda maior que 15% do volume sanguíneo: ● Aumento de FC ● Diminuição de pulsos periféricos ● Aumento de tempo de enchimento capilar PEDIATRIA ● Extremidades frias ● Diminuição do nível de consciência Devemos manter a diurese em torno de 1mL/kG/hora → sondagem de demora A hipotensão é um sinal tardio, ocorrendo com perda de 30% de volume sanguíneo, portanto, a reanimação fluídica deve ocorrer antes da hipotensão! O acesso vascular deve ser feito de maneira rápida em 2 cateteres de grosso calibre preferencialmente em membros superiores, sendo possível fazer intraóssea caso via venosa periférica não possa ser obtida. Em pacientes muito graves podemos fazer um acesso venoso central com a técnica de Seldinger em sítios de jugular, subclávia e femoral ou dissecção com cirurgião. Quando temos perfusão sistêmica inadequada com PA normal o paciente está com EC acima de 3 segundos, oligúrico e com alteração de nível de consciência, ou seja, está em choque compensado. Aplicamos bolus cristalóides a 20mL/Kg de 10 a 20 minutos com reavaliações. Caso o choque permaneça após 2 bolus cristalóides, fazemos concentrado de hemácias 10 mL/Kg. Se o choque persistir após reposição volêmicae controle de hemorragias externas, devemos investigar hemorragias internas, principalmente os relacionados com tórax, abdome e pelve. No hemotórax devemos fazer exame clínico e radiológico; na pelve teremos instabilidade com alargamento lateral de sínfise púbica e no abdômen fazemos US FAST e LPD em ausência de FAST, porém não utilizado mais por falso positivo D - Avaliação neurológica Exame sumário das pupilas ECG, se menor que 8, temos um risco maior de mortalidade e de sequelas neurológicas graves. O rebaixamento do nível de consciência pode ser resultado de trauma direto no cérebro ou por má perfusão cerebral. E - Exposição/controle ambiente/despirpaciente/prevenir hipotermia Retirar roupas para facilitar execução de procedimentos e visualização de lesões e/ou deformidades. Realizamos exame completo dos segmentos corpóreos e monitoramos a temperatura, uma vez que por sua maior superfície corpórea há rápida perda de calor. Devemos oferecer calor radiante e cobertores elétricos se necessário. Para evitar erros, temos algumas considerações: ● Cada serviço deve ter um checklist do trauma ● Alguns erros comuns são relacionados a não retirar roupas, estimar o peso erroneamente, não imobilizar pescoço, infundir líquidos sem aquecimento e não ofertar oxigênio nos primeiros minutos ● Devemos fazer monitorização cardíaca contínua PEDIATRIA ● Sondagem vesical contínua, salvo algumas contraindicações, como sangue meato peniano, equimose perineal, sangue no escroto e fratura pélvica. Exame secundário Deve ser iniciado após término do ABCDE, aliando história clínica e exame físico completo. Devemos reavaliar todos os sinais, buscar comorbidades, alergias e uso de fármacos anteriores. Solicitar raio X seguindo protocolo cervical, tórax e bacia; palpar ossos para identificar fraturas ocultas e avaliar e tratar a dor sem sedar o paciente. Transporte da Criança Politraumatizada Tem como objetivos: ● Atendimento adequado no menor tempo possível ● Assegurar vias aéreas pérvias e acesso venoso ● Monitorizar parâmetros vitais ● Evitar deterioração do paciente Situações que indicam transferência em UTI ● Via respiratória instável ● Comprometimento respiratório ● Choque descompensado/hemorragia contínua ● Risco significativo de hemorragia ● ECG menor que 12 ● Monitorização intracraniana → cateter de PIC (pressão ideal é em torno de 20 mmHg) ● Fratura instável vertebral ● Trauma de extremidade com possível comprometimento arterial do membro
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