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Prevenção ao suicídio na adolescência no contexto escolar - LAPEE leitura da quinzena

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Prevenção ao suicídio na adolescência
O suicídio é considerado um problema de saúde pública, pois, apesar de muitas vezes ficar restrito a esfera individual, ele é considerado um fenômeno social. 
Durante o período da adolescência, temos observado uma tendência de aumento nas taxas de tentativas e suicídios consumados. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2016), no Brasil, 4,5/100.000 habitantes entre 15 a 19 anos cometeu suicídio naquele ano, tendo sido considerada a terceira causa de morte para essa faixa etária (seguida de acidente de trânsito e violência interpessoal). Além disso, segundo o mapa da violência (WAISELFISZ, 2014) está ocorrendo um aumento progressivo de suicídios entre jovens: nos anos 80 esse aumento foi de 2,7%, nos anos 90 de 18,8% e entre 2000 e 2012, foi de 33,3%.
Além disso, existe um fenômeno denonimado de subnotificação. Ele ocorre ainda devido ao suicídio ser um grande tabu e muitas vezes haver erros no preenchimento de notificações de atestados de óbito, por exemplo. Portanto, acredita-se que o número de suicídios conhecidos mundialmente hoje seja pelo menos 10% maior (OMS, 2014).
Ao olhar para esses dados alarmantes e entendendo o papel preventivo que a saúde pública tem, podemos nos questionar…. Quais são as estratégias possíveis para prevenir? 
Primeiramente, é necessário entender quais são os fatores de proteção e de risco para o comportamento suicida, ou seja, os recursos (pessoais ou sociais) que podem diminuir o risco de um determinado problema acontecer, nesse caso, o suicídio. 
Para os adolescentes, a OMS (2000) descreveu diversos fatores e os dividiu em: familiares, personalidade e estilo cognitivo, fatores culturais e sociodemográficos, transtornos psiquiátricos e eventos de vida estressores.
Dessa forma, o planejamento de uma intervenção deve ser baseado nos fatores de proteção ou risco, em uma busca de fortalecer os primeiros ou diminuir os segundos. Algumas pesquisas têm mostrado que programas que priorizam o fortalecimento de fatores de proteção em vez de focar em fatores e comportamentos de risco, têm se mostrado mais eficazes (TAVARES, LORDELLO e MONTENEGRO, 2015).
Dentre os fatores de proteção para o comportamento suicida na adolescência, temos: bom relacionamento e apoio na família, presença de habilidades e relações sociais saudáveis, autoconfiança, habilidade para pedir ajuda quando necessário, integração social, participação ativa em grupos sociais, bom relacionamento com colegas e professores na escola e aceitação de auxílio de outras pessoas quando necessário (sejam adultos ou pares). Portanto, esses fatores serão alguns dos pontos que deverão ser focalizados ao se desenhar uma intervenção, mas não necessariamente todos eles, a depender das especificidades do público, do recurso disponível e da estratégia utilizada. 
Além disso, quando pensamos em programas de prevenção para os adolescentes, temos um fator facilitador da aplicação, que são as escolas. Essas instituições são os locais aonde os jovens (ou a grande maioria deles) vai diariamente. Também é um espaço que se configura como uma referência de cuidado, de aprendizado e desenvolvimento e, as vezes, também de sofrimento.
Bom… e como funcionam os programas de prevenção?
Primeiramente, eles são divididos em três níveis: universal, seletivo e indicado. Esses níveis referem-se ao grau de risco que o público-alvo do programa apresenta. 
No nível universal, o objetivo é: “Atingir toda a população em um esforço para maximizar a saúde e minimizar o risco de suicídio, removendo as barreiras ao atendimento e aumentando o acesso à ajuda, fortalecendo os processos de proteção, como o apoio social e alterando o ambiente físico.” (WHO, 2014, p. 30). 
Alguns exemplos de intervenções são: garantir o acesso a atendimentos em saúde mental, restringir o acesso aos meios que possam levar ao suicídio (restrição de compras de pesticidas, armas, gases ou farmácos), haver relato responsável por parte da mídia de outros casos de suicídio (sem indicar meios ou motivos para a pessoa ter realizado, por exemplo), propagar programas de conscientização, sensibilização, promoção da saúde e desenvolvimento de habilidades sociais. 
Já no nível da prevenção seletiva, o foco está em grupos vulneráveis “com base em características como idade, sexo, status ocupacional ou história familiar. Embora os indivíduos possam atualmente não expressar comportamentos suicidas, eles podem estar em um nível elevado de risco biológico, psicológico ou socioeconômico.” (WHO, 2014, p. 30). Ou seja, existem grupos que, a partir de dados epidemiológicos, sabemos que apresentam historicamente mais suicídios se comparados com a população geral. Dessa forma, esses programas seletivos focarão em determinados públicos considerados vulneráveis. Alguns exemplos de intervenções, são: o número de telefone do CVV (Centro de Valorização à Vida), intervenções específicas para povos indígenas/tradicionais (temos alguns bons exemplos em países como Nova Zelândia, Austrália, Canadá e EUA), projetos de posvenção (apoio à familiares e amigos de pessoas que cometeram suicídio), além de outros programas que focalizam em populações como as pessoas LGBTQIAP+, os idosos, os imigrantes e refugiados, entre outras populações em maior risco. 
E por fim, a prevenção do tipo indicada tem como público-alvo: “indivíduos vulneráveis específicos dentro da população – por exemplo, aqueles que apresentam sinais precoces de potencial suicida ou que fizeram uma tentativa de suicídio.” (WHO, 2014, p. 30). Como exemplos desse tipo de intervenção, temos: follow-up pós tentativa de suicídio por profissionais de saúde de hospitais que atenderam a crise suicida ou atendimentos para pessoas com sofrimentos mentais agravados em ambulatório. Ou seja, indivíduos que possuem um alto risco de comportamentos suicidas, independente de suas características culturais e sociais.
Para a população adolescente, pesquisas apontam para uma hipótese de que há maior eficácia em intervenções universais pela menor resistência dos jovens em participar de intervenções que incluam todos os estudantes (WASSERMAN et al, 2015). 
Concluindo, o suicídio ainda é um grande tabu da nossa sociedade, entretanto, não falar sobre ele ou não pensar em formas de preveni-lo não fará com que ele desapareça, pelo contrário, fará com que ele se intensifique.
Há dados alarmantes sobre comportamentos suicidas e também estão descritas inúmeras possibilidades de prevenção (como você pode ver nesse texto). Essas estratégias estão sendo testadas e avaliadas, para compreender a eficácia e buscar a melhor forma de prevenção. Para que esse campo de estudo e atuação cresça, é necessária uma mobilização para que tais intervenções sejam colocadas em prática e fortalecidas como políticas públicas.
 Referências
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Prevenção do suicídio: Manual para professores e educadores. 2000.
TAVARES, Marcelo. LORDELLO, Silvia Renata. MONTENEGRO, Beatriz. Estratégias preventivas do suicídio com adolescentes nas escolas. In: MURTA, S. G. et al. Prevenção e promoção em saúde mental: fundamentos, planejamento e Estratégias de intervenção. Novo Hamburgo: Sinopsys. 2015. 
WASSERMAN, Danuta et al. School-based suicide prevention programmes: the SEYLE cluster-randomised, controlled trial. The Lancet, v. 385, n. 9977, p. 1536- 1544, 2015. 
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Suicide rate estimates, crude, 5-year age groups up to 29 years Estimates by country. Acesso em 21 de maio 2020: https://apps.who.int/gho/data/node.main.MHSUICIDE5YEARAGEGROUPS?lang= en 
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Adolescent development. Acesso em 08 de julho de 2020: https://www.who.int/maternal_child_adolescent/topics/adolescence/development
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da violência 2014: homicídios e juventude no Brasil. 2014.

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